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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Arco 1 - A Vilã da Casa Bellerose

Escrita porLiv
Revisada por Lelen

– The Villainess Of The House Bellerose –


Capítulo 5

Tempo estimado de leitura: 13 minutos

A claridade que adentrava o espaço é impiedosa, de modo que me forçava a abrir os olhos com certa dificuldade. Ainda não consegui reconhecer de onde vinham os cochichos, contudo, decidi tentar sentar primeiro na cama para poder apoiar as costas na parede antes de qualquer coisa. O pano úmido caiu no meu colo, provocando um barulho mínimo que nem chamou a atenção dos meus irmãos — que se encontravam muito entretidos com os vidros que aparentavam ser de remédio.
  Analisando brevemente o quarto, reparei que havia um armário próximo a porta, uma mesa de centro e uma cama; as cortinas estavam afastadas da janela e nossas malas se encontravam debaixo delas, todas enfileiradas. O ar fresco dá uma sensação calorosa e, conforme eu relembrava dos últimos acontecimentos, me senti revigorada, como se estivesse pronta para uma próxima batalha. Ter saído da casa Fiore foi uma das melhores coisas que eu já experimentei, e só de saber que é apenas o começo, traz à tona uma mistura de sentimentos, em sua maioria, positivos.
  Um conhecido de Giovanna arrumou uma carruagem para nos trazer a cidade, enquanto uma outra colega de minha amiga cedeu esse cômodo para nossa hospedagem. Quando perguntei a razão de tantos contatos prestativos, Anna simplesmente deu de ombros, informando que eles deviam algo e essa foi a forma deles pagarem. Infelizmente, Giovanna teria que permanecer na casa Fiore até termos uma nova fonte confiável implantada lá dentro, e o que me conforta é saber que a minha melhor amiga não sofreria nenhuma punição; todos acreditavam que nossa relação não passava de empregador/empregado, então, tínhamos essa vantagem.
  Pondo de lado essas questões, levei meu olhar aos gêmeos que quase deixaram o frasco cair no chão. Não pude deixar de sorrir com a cena, achando uma graça o quão empenhados eles estavam para cuidarem de mim. Pigarreei o suficiente para atrair suas curiosidades e, no segundo seguinte, ambos correram na minha direção com seus braços abertos. Subi um de cada vez na cama, abraçando-os apertadamente e recebendo um beijo em cada bochecha dos dois.
  — Irmã, você deveria descansar mais, o médico disse que descanso é inevitável. — Nell sentou na minha frente e segurou minhas mãos.
  — Isso mesmo! Ele disse que Bella tinha que dormir bastante para ficar boa logo. E que tinha que tomar isso aqui. — Retirou o frasco de seu bolso, revelando conter um líquido transparente e nada apetitoso. — Nós demos o remédio direitinho para Bella, você está orgulhosa de nós?
  — É claro que estou! — Apertei suas bochechas, arrancando suas risadas tímidas. — Mas por quanto tempo eu dormi?
  — Hum… 2 dias. — Eles me mostraram os seus dedinhos.
  — Dois dias?! É, definitivamente o meu corpo precisava do descanso, achei que dormir direto desse jeito era algo que só acontecia em mangás…
  — Mangas? — Antonella me questionou, contudo, logo tratou de descer da cama e ir buscar um vestido de mangas compridas para mim. — Se estiver com frio, Giovanna trouxe ontem essa roupa, Bella.
  — Obrigada, Nell. — Achei engraçada a sua confusão. — Bom, a irmã mais velha aqui está bem melhor, o que me dizem de irmos explorar a cidade? Soube de um local que vende bolinhos deliciosos!
  — Bolinhos? — Dava para ver eles babando só de pensarem nos doces.
  — Vamos nos arrumar, meus gatinhos?
  Não demorei muito para fazer seus cabelos, já que pediram tranças — o penteado favorito deles — e felizmente, eu sabia diferentes estilos e alguns truques. Os gêmeos adoravam encarar o espelho por vários minutos após os penteados feitos, pois sempre gostaram de serem parecidos com sua irmã mais velha. Para os pequenos, a figura de Arabella vai além da de irmã; ela é como uma mãe e é a protetora deles, afinal, mamãe nunca conseguiu passar bastante tempo conosco para que eles tivessem sua imagem fixada em suas lembranças. Então, toda a semelhança que compartilhavam os faziam felizes, tendo em vista que Bella é o amor da vida dos dois, e vice-versa.
  Arrumei suas capas e o capuz, repetindo o processo em mim, exceto pelo cabelo. Meus fios estão totalmente desiguais, entretanto, os penteei e fiz também uma trança na lateral — não que tenha ficado o penteado mais bonito –, e partimos para aproveitar o início da tarde na cidade.
  O centro é uma das partes mais cheias da região norte, tendo seu mercado ao ar livre como a maior das atrações; as ruas são de pedras e as calçadas já possuem uma estrutura mais lisa, e em todas as esquinas tinham pelo menos algum tipo de árvore envolta com grama e uma pequena grade para protegê-las.
  Desde que o rei atual decidiu investir nos mercadores viajantes, os cidadãos possuem acesso a inúmeras iguarias com bons preços e há sempre novidades a cada quinzena, provocando um enorme encontro de clientes. Por ser um espaço mais comercial, a maioria das moradias são dos donos dos bares, de pensões e lojas, facilitando aos mesmos o acesso aos seus negócios. Os nobres viviam minimamente meia hora de distância do lugar, em suas enormes casas e castelos, transformando qualquer ida ao centro um importante passeio. Com suas agendas lotadas, não é difícil de entender o motivo que os animam em suas folgas, e é como se fosse uma visita ao parque de diversões ou ao aquário na minha vida passada — um evento que não é frequente, mas é algo que se torna grandioso.
  Enquanto eu esperava meus irmãos comerem animadamente seus sanduíches feitos pela dona da pensão, decidi perguntar a uma moça onde eu encontraria algumas guloseimas, sendo informada que provavelmente teria um vendedor próximo a ponte com doces de outras regiões. Como agradecimento, comprei um kit de broches vermelhos — com desconto — e voltei para a mesa onde os gêmeos terminavam suas refeições e coloquei a joia neles. Não é só por ser um presente bonito, mas, se na pior das hipóteses um deles se perder, isso ajudaria a achá-los bem mais rápido. Segurei suas mãos firmemente e os guiei para fora da multidão que se aglomerava, indo em busca do tão elogiado vendedor de bolos e tortas.
  — O caminho é consideravelmente curto, ela disse. É perto da ponte, ela disse. — Imitei a voz da moça, rolando os olhos levemente irritada. Sei que não posso culpá-la inteiramente pela minha falta de conhecimento da cidade, entretanto, após andar por vinte minutos e muito mal avistar uma ponte, é complicado. — Já é a terceira direita que viramos e nenhum sinal do rapaz…
  — Irmã, olha! — Thoni apontou para uma pessoa pronta para ir embora.
  — Pequenos gatinhos, rápido, subam! — Abri meus braços e os peguei no colo. — Temos que alcançar aquele moço custe o que custar! Por favor, comecem a chamá-lo.
  Em meio a gritos e passos velozes, alcançamos o famoso vendedor que nos recebeu aos risos e falando que demos sorte, pois ele teria que ir para outra cidade mais tarde. Conversamos um pouco e descobri que seu nome é Olívio, tem vinte e três anos e viaja pelas regiões para estudar confeitaria e juntar dinheiro para abrir seu negócio por aqui. Hoje é o seu último dia no norte, tendo aproveitado a quinzena para vender seus doces e iniciar a fazer seu nome popular entre os moradores. Nos despedimos com o combinado de no próximo festival nos encontrarmos, com a finalidade de eu e meus irmãos experimentarmos as novas tortas de sua autoria. O homem presenteou os pequenos com mais bolos do que realmente compramos, alegando que iriam estragar se ninguém comesse até amanhã. Agradeci mais de uma vez, agachando em seguida para ficar na altura dos gêmeos e abri a embalagem, os deixando provar as coberturas enquanto não íamos para a pensão.
  A parte que paramos é mais afastada e vazia do centro e, consequentemente, silenciosa com alguns bancos espalhados e a ponte finalmente sendo avistada, que deve ser uma das passagens para a casa de algum nobre. Aproveitamos por alguns minutos a brisa fresca, logo nos preparando para ir embora antes do horário de escurecer, que já está bem perto. Ajeitei nossas roupas e dividi as embalagens de bolos que ganhamos de modo que eu conseguisse dar a mão para eles.
  — Bom, acho que está tudo certo! Mal posso esperar para o jantar… — Quando eles iam me segurar, uma criança se chocou contra minhas pernas, cambaleando para trás. — Ei, está tudo bem?
  — Por favor, nos ajude! T-em uns homens atrás da gente, e a minha i-irmã. — A criança mal conseguia respirar por causa dos soluços. — Por favor, m-moça…
  — Está tudo bem, meu bem, tenta respirar fundo. — Passei a mão em seus cabelos gentilmente, tentando acalmá-lo. — Onde está a sua irmã?
  — N-naquela rua. — Apontou.
  — Você pode nos levar até ela? — O menino assentiu, me puxando pela capa com sua mão trêmula. Nell e Thoni ficaram ao meu lado, também segurando no pedaço de pano um tanto aflitos — não de medo pela gente, mas sim pelas crianças que estavam em perigo.
  A rua em questão é sem saída e estreita, com poucas janelas — todas fechadas — e sacos de lixo na lateral das portas de saída dos estabelecimentos. Por ser uma área mais abandonada, de acordo com Olívio, poucas pessoas apareciam e quando surgiam, eram à noite por conta dos bares e bordéis. Para duas crianças bem-vestidas pararem aqui, provavelmente se perderam ou foram trazidas contra sua vontade, e a julgar pela situação, os dois são nobres e que podem estar sendo sequestrados.
  Na história original, há citações de crimes envolvendo o sumiço de crianças, sendo solucionados pelo duque ao longo da narrativa. Existe um grupo que sequestra os filhos dos nobres e pedem recompensas altíssimas, além de saquearem os comércios dos vilarejos da região. Se me recordo bem, eles recebem uma espécie de “patrocínio” de próprios integrantes da nobreza que tinham títulos que não serviam de muito, todavia, ainda era um título — mesmo se fosse comprado.
  Para se obter um título por menor que fosse, há três opções: o rei te dá um em forma de agradecimento; a família herdou de seus antepassados; você paga ou aplica um golpe em quem você deseja ter o título. Excluindo os participantes da Ordem que em sua maioria ocupam as duas primeiras opções, a terceira, com um documento assinado pelos envolvidos e o dinheiro entregue, é a forma como alguns perseguem o seu tão sonhado status; contanto que não apresente perigo ao reino, é permitido que haja essas trocas e compras. Resumidamente, esse grupo e os nobres trabalham em conjunto para lucrarem em cima do desespero dos mais novos e de suas famílias, sem arrependimentos.
  O meu sangue começou a borbulhar, fazendo com que meu corpo fique inquieto e causando ainda mais irritação do que eu já sentia. Percebi uma silhueta pequena segurando uma espada apontada para os homens que riam da cena, esperando uma brecha para sair daquele lugar. A única ideia que veio foi de jogar o meu broche na direção deles, chamando suas atenções por ter batido em uma das lixeiras. A menina conseguiu usar a distração ao seu favor, mas se ela não for rápida o suficiente, eles a pegariam de novo.
  — Escutem — virei para as crianças —, fiquem atrás dessas caixas e se virem algum soldado, o chamem. Nell e Thoni, cuidem do amiguinho, tudo bem? E pode ficar tranquilo, a irmã mais velha aqui vai trazer a sua irmã de volta! — Sorri para os três e corri para a rua, sendo atingida pela menina que segurou nas minhas pernas, ficando atrás de mim. — Ei — fique na sua altura e sussurrei —, nas caixas, seu irmão está lá junto com os meus. Assim que eu der o sinal, você corre, tudo bem?
  Não esperava que ela acreditasse facilmente, mas nós duas vimos brevemente o menino dando um aceno e se escondendo novamente, já que os gêmeos não o deixaria sair dali nem se implorasse. Ela assentiu e, por alguns segundos, me questionei de onde os conhecia: olhos azuis, cabelos brancos e roupas em vermelho e preto.
  — É melhor sair do caminho se não quiser se machucar, senhorita — um dos homens anunciou, sorrindo triunfantemente.
  — E se eu não sair?
  — Não teremos outra opção a não ser te matar! — outro respondeu em um tom debochado, me fazendo revirar os olhos.
  — Oh, bem que os rapazes poderiam tentar — ponderei, vendo que seria três contra uma —, mas... eu decidi que não morreria mais uma vez. Pelo menos,não hoje.

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