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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Arco 1 - A Vilã da Casa Bellerose

Escrita porLiv
Revisada por Lelen

– The Villainess Of The House Bellerose –


Capítulo 3

Tempo estimado de leitura: 18 minutos

Coroação dos cavaleiros do reino de Bellary

Um evento que reúne toda a população, desde os cidadãos comuns até o mais alto escalão do reino, ou seja, um dia em que a honra do país é consagrada por causa de quem o protege. Essa comemoração surgiu com a primeira família real que teve sua vida salva por um casal que não pertencia a nobreza, mas ousou a se aproximar do rei e da rainha a fim de defendê-los da oposição. A majestade, emocionado com tanta braveza, decidiu, então, nomeá-los como os primeiros guerreiros de seu reino, presenteando-os com títulos como agradecimento. Durante os séculos seguintes, um credo surgiu com o nascimento das igrejas e, com a graça divina abençoando os cavaleiros, acreditava-se que todos os descendentes diretos — filhos e filhas — dos soldados mais importantes do Império tinham tanto a força quanto a coragem de seus pais, portanto, os portões para aqueles que quisessem servir, sempre estariam abertos. Não era obrigatório, mas havia um certo peso para carregar por fazer parte de uma dessas famílias.
  Ao todo, a Ordem Dos Cavaleiros Reais possuía vinte famílias que felizmente estavam espalhadas pelos quatro países que demarcavam o mapa de Bellary, mantendo a calma para os seus habitantes. Divididas pelos quatro elementos, cada região tinha sua característica, assim como suas especialidades. Mágica é um dos componentes desse mundo, e os feiticeiros, juntamente dos alquimistas, viajavam entre os países para aprenderem um pouco de todos os elementos para protegerem suas terras da melhor maneira possível. Óbvio que a tranquilidade só é dita da boca para fora, quem é integrante desse grupo seleto da Ordem, sabe que a probabilidade de seus familiares estarem em casa é quase nula, pois estão a dispor do Rei e do reino por vinte e quatro horas. Há algumas exceções, por exemplo: quando uma soldada engravida, ela pode tirar o tempo necessário para sua gravidez, seja apenas os meses da sua gestação ou cinco anos; se um dos soldados ou seus filhos adoecerem, uma licença é concedida; ou, quando se é o duque do país e o treinador dos cavaleiros de sua região.
  Atualmente, o duque é o braço direito do Rei, e quem assume a posição são os descentes diretos dos anteriores, assim como é na Ordem. Existe a possibilidade de um Rei rejeitar o duque e pôr outra pessoa em seu lugar, mas é algo quase inexistente na história de Bellary. A família real e o duque são localizados no norte, onde se tem mais quatro integrantes da Ordem que dominam o fogo. Quente como o inferno, mas com algumas noites frias quanto o rio do sul, o norte era a região mais forte em relação ao combate, recebendo vários candidatos durante as aberturas, que aconteciam trimestralmente. A duquesa da Casa Bellerose, Viviene Bellerose, é a comandante do exército, entretanto, ela só treina os que estão sob os cuidados de seu castelo. Quando há guerras, é ela que comanda todas as tropas do norte que são treinadas pelos outros dois membros da Ordem e fora de seu castelo: Visconde Ariel LeBlanc e Viscondessa Zahara LeBlanc. Há somente dois integrantes que vivem mais nos campos de batalha, sendo um o cavaleiro particular da família real, Theodore Libony; e a outra, Celine Fiore.
  Pensar na minha atual mãe não me causava estranheza, tampouco raiva. Era uma sensação de indiferença, talvez. Para Arabella, a falta dela continuava em seu coração, todavia, sabia que não tinha o que se fazer, por isso, prosseguiu sua vida com suas poucas visitas. Na história original, a autora não forneceu tantas informações a respeito dela, portanto, eu não vou me preocupar com essa questão no momento. Com essas lembranças, minha mente buscava as situações em que Arabella ia sendo vista fazendo as entregas misteriosas de seu pai, que mal sabia que era mandada em seu lugar para que no final, ele a usasse como culpada para se livrar de seus crimes. Por ter recebido uma boa educação, Bella sabia ler e escrever, além de muitas outras coisas que aprendeu antes das agressões iniciarem. Destaquei os eventos que me recordei e fui traçando uma linha para ligar um ao outro, mostrando as suas conexões. Nem todos os detalhes estavam claros, mas, para esse início, tudo o que escrevi era mais que suficiente para garantir a primeira página da minha sobrevivência.
  Estiquei meus braços e os alonguei, massageando a nuca levemente. Minha cabeça doía por conta dos acontecimentos recentes e, infelizmente, o meu corpo ainda estava dolorido. Depois do banho, me vestir olhando os hematomas é a pior parte, ao mesmo tempo que causa uma tristeza, a raiva aparece e faz com que eu trema completamente. Suspirei pesadamente e decidi abrir a janela do meu quarto, que tinha as cortinas presas uma de cada lado, com seus laços verdes. O ar fresco da manhã logo seria preenchido por uma onda de calor, e de acordo com Anna, ela tinha preparado roupas leves e uma bebida gelada para nossa saída matinal.
  — Senhorita. — Ouvi três batidas na porta.
  — Entre. — Sentei na beirada da cama, enrolando uma mecha do cabelo no dedo.
  — Gostaria de anunciar dois convidados importantes para o seu café da manhã, se me permite. — Assenti um tanto curiosa. Giovanna abriu a porta e entrou com uma cesta de piquenique em seu braço, sendo acompanhada por duas figuras pequenas.
  — Bom dia, irmã!
  Pisquei os olhos três vezes antes de confirmar que eu estou adiante das crianças mais fofas desse reino: Antonella e Anthoni Fiore, os irmãos gêmeos mais novos da Arabella. Enquanto meu cabelo é vermelho, os seus são castanhos e o que temos em comum são os sinais no rosto e os olhos dourados. Quem visse nós três juntos, diriam que somos família de longe e isso me conforta. Enquanto, durante sua vida, Arabella cresceu com seu pai falando que ela não é sua filha, que provavelmente sua mãe o traiu, e ver que felizmente seus irmãos eram semelhantes a si é um alívio.
  Abri os braços e inclinei o tronco para baixo, vendo ambos correndo na minha direção e me abraçando. Peguei meus irmãos no colo, tendo que respirar fundo, já que ainda não possuía tanta força. Sorri para eles e recebi um beijo em cada bochecha, e logo começaram a contar o que sonharam e o que haviam preparado para o nosso café da manhã. Na casa Fiore, nunca faltou nada, mas para mim e pros mais novos, parecia que faltava tudo. Dinheiro não era problema, afinal, mamãe é uma das participantes da Ordem e por mais que não faça questão de um título, acabou ganhando um por insistência do meu pai. Todos achavam que a nossa família era perfeita e nem tinha como culpá-los pelo achismo, Perci Fiore sabia como mascarar sua maldade e ganância, sendo a definição de lobo em pele de cordeiro. Com o próprio patriarca odiando os filhos, os empregados seguiam a mesma linha, tratando-nos com desdém e agindo como se fossem mais nobres. Tanto Arabella quanto eu não gostava de usar o seu status para se sentir superior aos outros, mas, com certas pessoas, reparei que era mais que necessário. Nós tínhamos um título e o direito de usá-lo, então, com todo o meu agradecimento ao rei, irei usufruir do que foi me dado sem reclamar.
  — Pronto, o penteado da minha irmã mais linda está perfeito! — Terminei de prender o seu coque trançado. — Agora, como meu irmão mais lindo quer o seu cabelo? — O coloquei na cadeira, passando a escova por suas madeixas.
  — Quero um coque também, Bella! — exclamou animado, juntando as mãos como se pedisse um grande favor.
  — Tudo bem, como quiser, vossa alteza. — Como Akira, quando eu cuidava de Yuri, ele me pedia para fazer os mesmos penteados que eu usava, o que me deu experiência como uma cabeleireira amadora.
  — Entre — respondi a quem batia na porta.
  — O marquês Fiore está solicitando a sua presença em seu escritório. — Uma empregada surgiu, com sua feição de poucos amigos.
  — Diga ao marquês que espere, quando eu terminar o cabelo de Anthoni, o encontrarei — comentei sem dar muita importância, voltando a atenção ao pequeno.
  — Como? — A escutei perguntar incrédula. — Ele disse que é para você ir imediatamente! Que falta de respeito! — sussurrou irritadiça. A mulher é uma das mais velhas e que trabalha desde o nascimento dos gêmeos na casa, tendo a sua posição como a chefe das empregadas concedida após meu pai perceber o quão severa ela agia comigo, que na época tinha doze anos. Sua reação, no entanto, não me causou surpresa; tampouco raiva.
  — Oh! — Caminhei para a porta calmamente, mantendo o contato visual com a outra — comunique ao marquês Perci Fiore que sua filha, Arabella Fiore, futura marquesa, se atrasará em alguns minutos. — Aproximei meus lábios de sua orelha. — Agoravocê ouviu? Se sim, pode se retirar.
  — Entregarei a sua mensagem ao marquês, como desejar, senhorita. — Seu corpo enrijeceu e é maravilhoso ver o seu rosto em choque, como se tivesse recebido um balde de água fria. Por fim, assim que finalizou sua resposta, fechei a porta, mas ainda tive o gostinho de vê-la fazendo o trajeto para o escritório sem pestanejar.

*

  — Solicitou a minha presença? — Fiquei em pé ao lado do par de poltronas acolchoadas, analisando todo o espaço até onde minha visão periférica permitia.
  A sala, em um tom de verde pastel, é bem preenchida, tendo uma mesa de madeira com pastas e mais pastas organizadas por letra alfabética, além de ter dois aparadores — um de cada lado — e com espelhos acima. A iluminação não é ruim: há duas grandes janelas que permitem a entrada da luz solar, e o lustre no meio do teto fazia o seu trabalho ao anoitecer. Os detalhes restantes se dividiam em esculturas, quadros, medalhas — provavelmente de mamãe — e um tapete liso marrom que ocupava o centro do espaço.
  — Soube que foi rude com a empregada chefe — a julgar pelo seu tom, o que o incomodava não é responderem seus serventes, e sim, ter que ouvir reclamações por culpa de sua filha –, mas como estou com pressa, serei breve e não punirei a minha tão adorada Arabella. Entregue esse envelope ao dono do bordel do centro durante sua ida para a cidade. — Seu sarcasmo me deu uma leve ânsia. Passei minhas mãos no meu vestido longo rosa, ajeitando-o brevemente antes de encarar o homem novamente. — É uma ordem, caso a sua capacidade de entendimento tenha deteriorado. Avise que preciso de uma resposta em três dias.
  — Como desejar, marquês. Mas… se me permite — ele me olhou de relance, com certo desinteresse –, o que tem dentro desse envelope? — touché.
  Pela primeira vez nesta manhã, o outro depositou sua atenção a mim, trazendo também o desgosto que sempre o acompanhava ao ver seus filhos, principalmente, eu. Dessa vez, veio ao meu encontro, segurando meu maxilar e o apertando fortemente, de forma que fosse difícil se desvencilhar:
  — Quem lhe deu a permissão para questionar o meu trabalho?
  — Perdão, marquês, não foi a minha intenção irritá-lo. — As palavras saíam com dificuldade, entretanto, é o cenário ideal para o próximo passo. — Arabella entende a razão da punição, todavia, será que os convidados entenderão?
  — Quais convidados?
  — Os mercadores do sul. Os trouxe aqui como a boa e educada filha que o senhor criou. — Rapidamente seus dedos soltaram o meu rosto e recompôs sua postura, adotando uma pose firme e tratou de sorrir ao ver o casal entrando em seu escritório. — Oh, antes de ir, gostaria de levar os meus irmãos para a cidade — retribuí a falsidade em forma de sorriso e recebi uma pequena bolsa com moedas, logo sendo dispensada.
  Pai de merda
  Massageei meu maxilar e segui até a fachada da casa, encontrando Giovanna à minha espera com os gêmeos já sentados na carruagem.

*

  A beleza da região norte de Bellary é incomparável com o restante das outras três; mesmo sendo abraçada pelas ondas de calor, sua vegetação é tão vívida quanto o seu céu limpo agregando ventos frescos para auxiliar no combate contra o clima quente. Infelizmente, Arabella e seus irmãos tiveram poucas visitas ao mundo externo, então essa viagem está sendo como se fosse a primeira para esse corpo e para mim. Tenho noção da estrutura de alguns lugares por causa da história, todavia, ver pessoalmente está em um nível totalmente diferente. Não pude deixar de ficar tão maravilhada quanto os pequenos, e admirá-los dá uma sensação de alegria genuína. Lembrar que duas crianças de seis anos são maltratadas e precisam estar sob ordens de uma babá que os menosprezava e que perderam parte de suas infâncias tentando sobreviver, aprendendo primeiro a ter medo do que amor, fazia o meu sangue ferver. Ver o quanto os três sofreram me fere profundamente e não há nada no mundo que parará a minha ira quando eu pôr a mão no marquês e em seus cúmplices, fazendo-os pagar por todos os seus crimes, até a última gota.
  Para isso, com a ajuda de Anna, decidi dividir a manhã e a tarde em três momentos, tendo o primeiro partilhado com a ida ao escritório de Perci. Por mais que quisesse me vingar, eu precisava manter a minha imagem como a Arabella fazia, caso contrário, levantaria muitas suspeitas indesejadas. Claro, responder os empregados e o marquês causaria certos confrontos, entretanto, nada tão alarmante que eles começassem a vigiar meus passos. A mudança seria gradativa e deliciosa, afinal, a vingança é um prato que se come bem frio.
  Não foi difícil criar um plano em pouco tempo; os detalhes não estavam 100% definidos, no entanto, uma das etapas principais já estava em movimentação e eu possuo uma noção do que quero realizar até o momento do plot original chegar. Se Perci Fiore se acha inteligente, eu me aproveitarei de seu ego inflado para usar a sua falta de atenção ao meu favor. Iniciando com esse tão importante envelope, que mal sabe ele o erro — ou deveria dizer acerto? — que foi ter entregado nas minhas mãos.
  Na nossa primeira parada, adentramos um alfaiate não tão famoso, mas que tinha roupas tão boas quanto das alfaiatarias mais famosas do centro e com um preço acessível. Um verdadeiro achado e que eu só conhecia por ter lido no manhwa, o que me deu uma certa vantagem.
  — Sejam bem-vindos! — Uma mulher alta e de cabelos curtos nos cumprimentou sorridente.
  — Gostaria de ver novas peças para as crianças, de preferência, confortáveis.
  — E para a senhorita?
  — Mostre-me sua nova coleção para soldadas — solicitei com entusiasmo.
  — E vestidos, por favor — Giovanna completou, recebendo meu olhar reprovador.
  A loja é espaçosa, tendo suas laterais preenchidas por inúmeros cabides cheios de diferentes tipos de vestimentas. Separados por estação e funções, fomos apresentados a outros dois funcionários que cuidaram de nossas exigências, e no final, comprei três peças para cada, além de uma para a minha amiga, depois de muita reclamação por sua parte. Por estar vazia, não demoramos e tivemos uma boa experiência, já que eu não queria expor meus irmãos aos comentários do grande público do centro. Não tinha tantos rumores sobre mim espalhados ainda, os que Giovanna me contou eram os sem muita importância e é claro que Perci Fiore não deixaria sua imagem ser manchada. O homem só ligava para algo quando isso ferisse o seu ego, portanto, mesmo sendo um abusador que se beneficiava do dinheiro de mamãe e de seu título, impediria qualquer fofoca que contassem sobre a casa.
  No plot original, quando decidiu usar sua filha como alvo para se livrar das acusações, ele que deu a largada nas falácias sobre Arabella, tornando a vida dela um inferno. Agora, como parte do plano, não pretendo estar sob os olhos da nobreza e da população, precisava ser low profile até ter uma popularidade e relevância dentre esses grupos. E, a fim de proteger os gêmeos de todas as pessoas ruins, no momento, é necessário não fazer alarde de suas presenças. Quero que eles consigam aproveitar suas saídas da melhor maneira, podendo ser crianças à vontade, sem medo de serem repreendidas ou apanharem sem motivo.
  Sua segurança é a minha prioridade.
  A segunda parada é em uma confeitaria, perto de onde o alfaiate se localizava. Na história original, a heroína conhece o estabelecimento durante sua viagem para o norte, quando é chamada para o seu primeiro encontro com o futuro duque. Após o noivado, ela fez questão de pedir ao dono que fizesse parte de seu buffet de casamento, ajudando o comércio a ganhar notoriedade.
  — Podem escolher até quatro pedaços, tudo bem? — Me agachei, alcançando suas alturas.
  — T-tem certeza? — Anthoni perguntou quase que babando em cima da vitrine. Assenti e apertei levemente suas bochechas, escolhendo também um pedaço de torta para mim.
  O dono parece se divertir com a alegria dos gêmeos, dando provas de diferentes doces para eles com animação. Entreguei a embalagem com as guloseimas para Anna e ela guardou na nossa cesta de piquenique, que será utilizada na última parada. Nosso almoço é em uma área um pouco mais povoada, mas nada que comprometeria os meus objetivos e atrapalharia a brincadeira dos meus irmãos.
  O parque possui um lago raso no seu centro, sendo seguro caso quisessem molhar seus pés na água. Estendemos uma toalha na grama, tendo Giovanna distribuído os sanduíches e as bebidas para nós, e logo iniciamos nossa refeição. Depois de descansarem, Nell e Thoni pegaram seus brinquedos e minha amiga tirou da cesta o necessário para iniciarmos as primeiras transcrições. Com cuidado, abri o selo do envelope e tive acesso às informações ao grande projeto ilegal que o marquês estava planejando. Sorri com o conteúdo; definitivamente, sua falta de atenção o faria pagar um preço tão alto quanto a sua burrice.

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