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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Arco 1 - A Vilã da Casa Bellerose

Escrita porLiv
Revisada por Lelen

– The Villainess Of The House Bellerose –


Capítulo 2

Tempo estimado de leitura: 9 minutos

Apertei mais uma vez minhas bochechas e belisquei meu braço, vendo que a dor que eu sentia parecia ser real até demais. Procurei por mais provas que comprovassem que eu havia mudado de corpo, mas só o reflexo no espelho por si próprio dizia a verdade. Os sinais em seu rosto — que na história ela escondia com maquiagem — estavam a mostra e não tinha erro: esse corpo é o da Arabella! Se ainda há possibilidade de ser um sonho, uma hora acordarei, entretanto, preciso saber o que fazer agora. Afinal, não é todo dia que se ganha uma segunda chance! Uma chance com suas certas vantagens, então, a partir de hoje começarei a viver da melhor maneira.
  Até a página dois, claro.
  Suspirei pesadamente e comecei a andar de um lado para o outro; o que mais me incomodava era não saber em qual parte da história eu estava, e esse era um fator decisivo para qualquer plano que eu decidisse seguir. Se meu chute estiver certo, logo a empregada, Giovanna, abrirá a porta enquanto os demais estão dormindo. Em uma das visitas que a mãe de Arabella fez, ela trouxe uma jovem da mesma idade que sua filha, a apresentando como sua nova e exclusiva empregada. Giovanna vinha de uma família de pessoas comuns do Sul, e uma das características de seu povo era o cabelo cacheado em um tom de azul pastel, me fazendo lembrar de um algodão-doce. Celine Fiore a achou escondida durante uma de suas batalhas e perguntou se ela gostaria de retornar à casa Fiore consigo, para se tornar a empregada de sua filha mais velha. A mulher explicou para a jovem que não conseguia passar tempo suficiente com sua primogênita e, com isso, sempre quis que ela estivesse rodeada de pessoas de sua idade, para que pudesse levar uma vida mais tranquila com a sua ausência. Quando se conheceram, Giovanna percebeu prontamente que Arabella Fiore sofria silenciosamente e que seu pai era o causador de toda a dor. Foi nesse momento que a nova empregada, consumida por raiva, pegou nas mãos de menina à sua frente e jurou que faria o que estivesse ao seu alcance para ajudá-la. Ter a presença de uma nova figura ao seu lado foi um dos motivos que fez com que Arabella levasse seus dias um pouco mais leves. Assim como era sua melhor amiga, Anna também cuidava de seus irmãos, os protegendo de sua babá sempre que podia, pois a mulher gostava de punir os menores por qualquer razão. Particularmente, a amizade das duas sempre foi muito verdadeira, e eu gosto tanto de como a personagem da Giovanna foi construída. Infelizmente, não sei tanto sobre o seu passado, mas sei que se eu tiver que confiar em alguém, será nela.
  — Bella? — A porta rangeu ao ser aberta, me dando a visão de uma Anna com a sua feição irritadiça que eu tanto adorava ler.
  Desde o início, a empregada nunca tratou Arabella como se pisasse em ovos, sempre deixou claro que a trataria com todo amor e honra, que era o que ela merecia, a fazendo se sentir bem. E também nunca abriu mão de mostrar sua insatisfação e raiva com o jeito que sua amiga vivia, consequentemente, eu sabia que só por seu olhar, ela estava prestes a amaldiçoar o marquês da Casa Fiore.
  Meu atual pai.
  — Você está tremendo! Rápido, me deixe pôr esse casaco na senhorita. — Meu corpo foi envolto por um cobertor seguidamente.
  — Obrigada, Anna. — Vê-la tão perto era como se fosse um sonho, às vezes imaginava como deveria ser ter uma amiga, e não só isso, Giovanna é tão bonita quanto no manhwa!
  — Tem alguma coisa no meu rosto, senhorita? — Franziu a testa, me fazendo soltar o ar.
  — Não, Anna. — Eu queria dizer que ela é linda e que quase pintei meu cabelo de azul por sua causa, contudo, agora não é o momento, infelizmente.
  — Todos estão dormindo, podemos seguir para o seu quarto. Preparei seu banho com a água na temperatura ambiente, conforme a senhorita for se lavando, adicionarei a água quente para aquecer o seu corpo. Dessa forma, evitamos que você se resfrie, Bella. — Apenas assenti, achando uma graça a forma como ela ainda tratava Arabella, misturando algumas formalidades com a casualidade.
  O trajeto para os meus “novos” aposentos foi silencioso, entretanto, ao passar por perto do escritório que estava entreaberto, pude ouvir vozes distantes e risadas, o que me causou um certo desconforto. Os ambientes da casa são iluminados pelo luar, e a arquitetura que chamava minha atenção durante a leitura, agora, não me encantava tanto. Continua com sua beleza e toques únicos, mas se eu já achava que era um local centralizador de tristeza na minha vida passada, no momento, vivenciando apenas uma hora nesse novo corpo, a certeza é clara como cristal: aqui não resta uma partícula de felicidade para Arabella Fiore. Nem uma única raspa. Senti um certo alívio ao entrar na banheira redonda de madeira, que ao contrário de onde eu estava, dava a sensação de que eu recebia um abraço reconfortante. Giovanna penteava gentilmente meu cabelo, alternando em lavar minhas costas com cuidado, e eu apertei minhas pernas contra meus seios, mordiscando o lábio inferior para evitar que as lágrimas rolassem.

*

  Por mais estranho que seja eu ter me conformado com essa nova vida, não é como se eu tivesse uma outra possibilidade, afinal, encarar a realidade da maneira mais crua e cruel é algo que tanto eu quanto Arabella já nos conformamos desde cedo. Ao ser abandonada por meus pais, meu avô cuidou de mim e antes de eu completar a maioridade, ele veio a falecer por causa de sua doença. Como a única família que me restou tinha partido, decidi me mudar com o dinheiro que havia guardado para mim, encontrando Yoko e Yuri em um dia chuvoso e sem esperanças. Mesmo que soe dramático, as lembranças tão dolorosas do passado iam de pedacinho em pedacinho sendo substituídas pelas que essa avó e seu neto puderam me proporcionar, e no meio disso, eu consegui entrar na faculdade e em um emprego. Consequentemente, comecei a enxergar novas oportunidades ainda com dificuldade, porém, eu sabia que eu tinha que seguir em frente.
  O grupo que eu fazia parte na faculdade era sempre aberto a conversar sobre qualquer coisa, independente de vocês serem amigos. Era como escrever em um diário: pessoas que eram confiáveis até para alguém que não confiava em ninguém facilmente. Não os considerava como amigos, também por não saber como uma amizade verdadeira funcionava muito bem, todavia, se eu tivesse sido rodeada por indivíduos que nem eles na minha adolescência, talvez o peso teria sido mais fácil de carregar. Quando estava em um período bastante complicado, uma colega disse que nessas horas, tentava se distrair lendo mangás, manhwas, manhuas e novels, e me indicou vários títulos e algumas séries. Com o tempo livre entre os estudos e trabalho, pesquisei a lista que havia anotado, e logo me vi em um novo mundo onde eu esquecia um pouco dos problemas e realmente me distraía. A Vilã Da Casa Bellerose foi a minha primeira leitura e eu fiquei simplesmente viciada na história. Toda semana eu checava a nova atualização, chorava e sorria com as personagens e me divertia nos fóruns de comentários sobre os capítulos, enchendo esses últimos meses da minha vida com uma montanha-russa de emoções. Mas, sendo sincera, a Arabella me fascinou na sua primeira aparição, desde a sua personalidade quanto a sua vontade de viver, ainda que estivesse à beira da morte. Acompanhar toda a sua trajetória me fez lembrar de fases da minha vida que eu sofria igualmente a ela, em situações um tanto diferentes. Abandono, traição, abuso físico e psicológico e, a cereja do bolo: parentes de merda.
  A empatia que eu tinha por Bella é a mesma que eu tentava ao máximo ter por mim, e do mesmo jeito como meu avô, Yoko e Yuri me ajudaram, Giovanna e seus irmãos a acolhiam e a amavam. Ter pessoas que cuidam de você não faz tudo desaparecer, contudo, auxiliam nos dias difíceis e eu sou muito grata por quem cuidou da Akira.
  Ainda não é a hora de dizer adeus à minha eu do passado, mas, quando o dia chegar, eu quero ter protegido a Arabella e sua família, e a vingar até a última gota de sangue que foi tirado de si.
  É uma promessa.
  — Senhorita — Anna chamou a minha atenção, me tirando do transe. — Não sei se você está com raiva, triste ou feliz… talvez os três? — Ela me olhou curiosa. — O que está pensando?
  — Me desculpe pela preocupação causada. — Vesti uma camisola longa. — Giovanna, quando será a próxima coroação dos cavalheiros do Império?
  — Daqui quatro meses, Bella.
  — Interessante — sussurrei. — E respondendo a dúvida da senhorita — a vi torcer o nariz por falar como ela –, sim, estou com raiva. Mas, isso fará bem para os meus planos futuros, não é?
  — Como desejar, senhorita.
  — Anna — encontrei seu reflexo junto ao meu —, você gostaria de planejar um baile comigo?
  O seu sorriso malicioso foi resposta suficiente para saber que a minha mais nova melhor amiga está a bordo no meu barco.
  Quatro meses.
  Quatro meses para eu destruir o marquês Fiore e toda a sua tripulação. Um por um, como peças de dominó prestes a serem empurradas e finalmente ter uma vida livre e tranquila.

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