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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Arco 1 - A Vilã da Casa Bellerose

Escrita porLiv
Revisada por Lelen

– The Villainess Of The House Bellerose –


Capítulo 11

Tempo estimado de leitura: 24 minutos

— Boa noite, rapazes!
  Cumprimentei os três a minha frente, ainda montada em Lily, e pude ver as suas reverências desajeitadas para Killian. O guarda que os estava acompanhando se retirou ao falar brevemente com Lion e deixamos que sua imagem sumisse completamente para darmos alguns passos em direção às árvores que cercavam a prisão, a fim de termos mais privacidade. Lian pôs as suas mãos na minha cintura e me levantou, me ajudando a descer e eu o agradeci com um sorriso, achando uma graça a sua preocupação comigo. Bati na capa para tirar as folhas e respirei fundo, voltando a atenção para os homens que me observavam com uma feição interrogativa. Desde a nossa conversa dois dias após eu começar a morar no castelo, se passou uma semana até que conseguíssemos de fato ajeitar todos os detalhes para o início da investigação. Com Viviene e Giovanni informados sobre o planejamento, o duque aproveitou a oportunidade e prosseguiu a sua investigação — mencionada na história original —, enviando o seu filho e Lion para o trabalho. Entre afazeres e treinos, nos dividimos nas tarefas e arquitetamos vários esboços, chegando no plano mais eficiente das opções.
  — Então, alguma dúvida?
  Perguntei assim que terminei as explicações; decidimos que os três voltariam ao galpão onde foram empregados, usando a desculpa de que precisaram escapar de alguns oficiais que os perseguiram na multidão no centro. O dinheiro que lhe entregamos é o suficiente para que seus chefes ignorem suas faltas, atraindo uma certa atenção para cima dos homens e, consequentemente, eles receberiam mais trabalhos. Se os acontecimentos da história original se manterem, em três semanas a organização tentaria uma tentativa de sequestro perto da fronteira com o reino vizinho. Como o duque já suspeitava, esse grupo não trabalha somente no norte, mas está se expandindo para outros lugares e isso é preocupante, ainda mais quando sabemos que há nobres que os financiam. Até lá, vai ser o bastante para o trio subir de cargo e colher as informações que precisamos — agora, iríamos escoltá-los para o tal lugar e espionarmos a movimentação.
  Eles negaram a pergunta com a cabeça e subiram nos cavalos disponíveis, todos prontos para seguirem para o galpão. O trajeto foi preenchido pelo som das cavalgadas e não demorou muito para avistarmos o estabelecimento, que tinha a sua localização próxima a saída do centro. Sendo discreta, nas manhãs a loja é conhecida por comprar e vender pedras preciosas e a noite, é uma das sedes da organização, que não atraem olhares curiosos por se passarem por um bar. Afastada dos olhos do público, nos fundos, há uma entrada em uma elevação no chão que dá espaço ao lance de escadas e no final, pode-se achar os participantes com seus cigarros e bebidas. Desfrutando do pânico alheio, os integrantes recebem as ordens e transmitem aos seus subordinados, sempre deixando claro que suas recompensas dependeriam do quanto conseguiriam roubar; para participar dos sequestros, é necessário que prove que é adepto ao cargo — mesmo que os superiores os descartassem sem piedade ao verem que algo deu errado. Basicamente, é ganhar suas confianças e encher seus bolsos de moedas para ser promovido.
  — A partir daqui vocês irão sozinhos. Não se esqueçam que sempre que quiserem se comunicar conosco, é só escrever um bilhete com a frase escolhida e pedir para que um de nossos balconistas nos entregue. — Killian os analisou seriamente, repassando os últimos detalhes.
  — Ninguém suspeitará dos rapazes, que fique claro — Lion continuou. — Os atendentes entregarão as informações necessárias, seja do local de nosso encontro ou do que queremos que vocês procurem.
  — Ah, rapazes! Não esqueçam que a proteção dos três depende se irão ou não nos trair. Espero que possamos manter o nosso acordo — falei despretensiosamente e sorri para eles com a mão estendida.
  — Entendido, chefe. — Lohan, o mais forte entre eles, assentiu com a cabeça.
  A senhorita não ficará desapontada conosco, chefe! — Moose correspondeu o meu aperto, balançando nossas mãos enquanto falava entusiasmado.
  — Chefe? — Killian sussurrou no meu ouvido, um tanto curioso com esse tratamento.
  — Ciúmes?
  Respondi aos risos ao acenar para o trio que se afastava, esperando suas silhuetas sumirem para iniciarmos as nossas espionagens. Nos despedimos brevemente de Lion — que ficaria aguardando com os cavalos — e demos a volta no lugar, parando em um outro bar quase ao lado. A visão é privilegiada e a cerveja é bem gelada, o que ajudou a acalmar a ansiedade que estava me incomodando por um tempo. Entre uma golada e outra, a minha atenção continuava presa nas pessoas que frequentam a organização, e observei alguns rostos conhecidos adentrando o espaço. Anotei mentalmente os nomes dos que eu sabia, os demais eu precisaria olhar os arquivos dos integrantes da nobreza na biblioteca real para adicioná-los a lista.
  — Não me surpreende ver os membros dessa organização. — Levei a caneca aos lábios, sentindo o gosto amargo da bebida. — Quatro deles frequentam a casa Fiore e dois já tentaram casar os seus filhos comigo.
  — Quais? — Lian soltou o copo na mesa, mudando a expressão completamente.
  — Hum, dois estão com garrafas na mão e…
  — Quais quiseram casar os filhos com a senhorita?
  — Ah, os que estão fumando — apontei. — É inacreditável a autoestima desses homens, certo? Eles realmente acharam que eu me casaria com pessoas tão desprezíveis?
  — Realmente. — Bellerose suspirou mais despreocupado e deu vários goles de sua cerveja, pedindo a conta em seguida.
  — Será que alguém ficou inquieto por saber dos meus pedidos de casamento?
  Estalei a língua satisfeita com a sua reação e bebi o restante da cerveja, descendo do banco rapidamente. Puxei a mão de Lian, segurando-a contra a minha bochecha e sorri para ele, sentindo o seu polegar fazer um carinho no local. A intenção inicial era provocar um pouquinho, mas, pega na própria peça, me vi com o coração acelerado ao observar as suas bochechas corarem.
  — Você já sabe a resposta, Bella. — Killian beijou a minha testa gentilmente. — Nosso trabalho por aqui já acabou, vamos para casa?
  Assenti com a cabeça, tendo uma sensação estranha ao ouvir a palavra “casa”. Até encontrarmos Lion, andamos com os dedos entrelaçados e em silêncio, aproveitando a presença unicamente de nós dois.

*

  Ao abrir os olhos, percebi que estava em companhia de cinco pessoas: dois pares de gêmeos e da minha empregada, Rin. Sentei na cama e descansei as costas na parede, vendo as crianças trazendo o carrinho com o café da manhã animadas. Caminhei até os sofás e chamei todos para se acomodarem, inclusive Rin, que recusou, mas acabou cedendo ao receber o nosso ultimato.
  — Posso saber o motivo de ter a companhia das quatro crianças mais fofas de todo o reino?
  — Hoje é o dia que a irmã mais velha lutará com a sua inimiga! — Kira socou o ar, sendo imitada pelos três.
  — Isso! Estaremos na primeira fileira para assistirmos a Bella! — Thoni comentou alegremente.
  — Senhorita — a mulher sussurrou —, esse é um dos assuntos mais falados no castelo nos últimos dias. Parece que quem lhe desafiou espalhou o rumor para todos, já garantindo vantagem.
  — Rumor?
  — Sim, que a senhorita não é boa com a espada e que perderia no primeiro round.
  — Certamente, essa notícia é interessante… — Mordisquei o pão doce, me deliciando do suco de frutas vermelhas e do que mais tinha no carrinho. — Obrigada, Rin!
  Uma risada escapou assim que terminei de mastigar, lembrando do que havia acabado de escutar; além das aulas normais de espada, Ethan decidiu me treinar antes e depois de finalizarmos os treinos obrigatórios, de modo que eu ganhasse a habilidade mais rapidamente. Não é como se eu fosse a mestra espadachim, ainda há muito o que aprender, contudo, agora eu conseguia manusear a minha espada sem problemas e o básico para essa luta foi revisado em todas as nossas sessões.
  Estou com um certo nervosismo, não tanto pelo desafio em si, entretanto, isso tudo me faz lembrar de mamãe e me pego pensando no que ela acharia. As limitadas memórias que possuo dela mostram uma mulher extremamente talentosa com a espada; é como se a mulher dançasse em suas lutas, hipnotizando quem quer que a estivesse assistindo. Não sinto pressão em ser como a mesma, tampouco almejo me especializar em espadas — o meu forte sempre será o combate —, mas seria legal saber a sua opinião sobre o meu modo de luta e receber algumas dicas.

*

  As lutas teriam início na parte da tarde, então a minha manhã estava livre até eu descobrir que a duquesa já tinha outros planos para mim. A encontrei em seu escritório e, para a minha surpresa, nossas roupas combinavam e antes que eu falasse algo, recebemos a visita do restante das famílias, os seis devidamente combinando com nós duas.
  — O que está havendo? — indaguei ao olhá-los com certa suspeita.
  — Queríamos apoiá-la e nada melhor que mostrarmos discretamente para quem torcemos. — O duque deu uma piscadela, recebendo a confirmação dos demais.
  — Arabella — Viviene se aproximou e juntou nossas mãos —, gostaríamos de dizer que, independente do resultado, apoiaremos a senhorita. Queremos que aproveite o máximo dessa experiência, e caso não se sinta confortável em participar, não nos importamos se desistir — só percebi que eu estava chorando ao ser abraçada por todos. Tentei controlar o choro — sendo uma tentativa falha por sentir o calor deles nesse abraço —, me permitindo a aproveitar esse ato de carinho.
  — Agradeço imensamente por tudo o que fizeram e estão fazendo por mim e pelos meus irmãos. — Limpei as lágrimas com o lenço que Lian me entregou. — É por isso que não posso cogitar desistir ou perder. Afinal, mesmo que indiretamente, eu estou representando o castelo Bellerose, não é?
  Sorri confiante e eles me acompanharam; descobri também que os planos da manhã eram passar um tempo em família, o que nos levou à enorme estufa com diversas mudas de plantas e a uma mesa com chá e chocolate nos esperando.

*

  As arquibancadas estavam repletas dos alunos das três turmas e de alguns empregados, e os que iam “batalhar” durante a tarde se encontravam na primeira fileira, aguardando o momento de serem chamados. Alguns espectadores se abanam com seus leques, querendo se livrar do calor que não dava trégua e todos conversam animadamente sobre suas expectativas para o treino conjunto. Antes de me sentar ao lado dos meus colegas, troquei olhares com Ash e recebi um aceno com a cabeça. Nosso instrutor se vestiu a caráter por mais que não pretendesse participar, mas caso alguma luta saísse do controle, ele conseguiria entrar no meio sem se preocupar de rasgar suas roupas do dia a dia — servindo também como juiz das partidas. Ethan me esperava ansiosamente de pé, logo desejando que tudo ocorresse bem assim que parei a sua frente. O rapaz se despediu e o vi indo para o seu lugar perto de seu melhor amigo, se unindo com as crianças e mandando vários acenos para mim.
  — Ei, perceberam que os Bellerose estão com roupas combinando? — Uma das competidoras comentou.
  — Sim! Essa família é tão elegante!
  — Mas… não são as mesmas cores do uniforme da Arabella? — Reparei em seus olhares curiosos em cima de mim.
  — Agora que você comentou…
  — As lutas vão começar!
  Salva pelo anúncio, fingi não escutar os seus cochichos e tratei de focar somente na competição, independente de sentir as bochechas vermelhas por terem reparado em nossas roupas. Ash repassou as regras e anunciou os nomes de quem abriria a tarde, dando o start assim que os competidores trocaram apertos de mão.
  O tempo foi passando e o brilho no meu olhar continuou, eu sempre gostei de assistir a todos os tipos de luta e poder assistir as diversas técnicas que eu conhecia sendo usadas assim, tão de pertinho, era o máximo. Não demorou para que um grupo entrasse no meu campo de visão e me fizesse revirar os olhos, invadindo o campo de treinamento sem serem formalmente chamados. Molly Price e sua trupe estavam convictos de sua vitória, distribuindo sorrisos triunfantes para os espectadores, e isso se devia a um motivo: o seu irmão mais velho é um dos prodígios do exército do norte, e Molly parecia seguir os seus passos, sempre elogiada mesmo que estivesse na turma iniciante. E por falar no rapaz, ele não parava de me encarar fixamente do seu assento, e eu simplesmente ignorei, voltando a atenção para a outra:
  — Pronta para perder?
  — Eu não assumiria uma vitória tão facilmente assim, senhorita Price.
  Observei a minha adversária e caminhei para o centro, sentindo a adrenalina surgindo gradativamente e o meu corpo começava a borbulhar não só de irritação, mas também, de raiva; o meu problema principal em não perder não é somente por ser considerada a “representante” dos Bellerose, é pela garota em questão que foi uma das que ajudaram a tornar a vida de Bella nos eventos sociais um inferno, espalhando os falsos rumores apenas pelo prazer de ser maldosa.
  Molly é a típica mean girl, mimada e que tem o seu ego massageado por seus amigos inseparáveis — farinhas do mesmo saco. Ela é filha de um casal de nobres e possui uma certa influência com as meninas da nossa idade, trazendo todas para o seu lado e as moldando como bem entender, sem ligar para as consequências de seus atos. O menor erro que alguma amiga sua cometesse era suficiente para Price abandonar e humilhá-la na frente dos convidados, além de usar o medo de suas amizades para mantê-las em sua teia. Arabella, em sua única aparição em um evento, obteve vários comentários sobre sua beleza e educação, o que fez com que Molly ficasse indignada por não ser o tópico mais comentado da festividade. Aproveitando a onda de rumores que apareceram logo depois, a garota inventou outros boatos em relação a Bella, insinuando que ela era vulgar e não tinha modos, que tinha dormido com diversos homens e que a perseguia sem motivos. Arabella não era somente a vilã, mas sim uma stalker e prostituta, como foi chamada por todo o reino; as pessoas não ligavam se era verdade ou não, o importante para elas é o quanto conseguiam destruir o status de alguém por menor que fosse, criando um espetáculo maior do que desejavam.
  Molly Price é uma dessas pessoas.
  E se tem uma coisa que eu aprendi é a colocar esse tipo em seu devido lugar.
  — Cumprimentos feitos e não se esqueçam: truques são permitidos portanto que não ponha a segurança do outro em risco; qualquer uso de armas sem ser a espada resultará na sua desclassificação e punição, entendidas? Ótimo, que a luta comece!
  Posicionei a espada perfeitamente e firmei o meu polegar, apontando a mira para Molly e permaneci um pouco afastada, estudando o seu próximo passo. Com ideias semelhantes, ficamos na expectativa de quem se moveria primeiro, ambas com as pontas das espadas cruzadas e pude sentir a inquietação dos espectadores em cima de nós. Sua feição se tornou irritadiça ao entender que eu continuaria imóvel, então, no próximo segundo, a garota veio em minha direção e tentou me golpear. Mostrando que não levaria a competição amigavelmente, Price balançava sua longa espada desnecessariamente, apenas me dando a vantagem de prosseguir com o nosso distanciamento. Pelas lâminas serem grandes, os ataques podem ser feitos de onde estou e às vezes tenho que inclinar o meu corpo, voltando a posição inicial em seguida. Molly sabe manusear a sua arma e não facilita, entretanto, o fato de parecer querer me esfaquear a todo segundo está começando a me incomodar; é como se o seu objetivo fosse unicamente me tirar de jogo, sem se importar se eu saísse com vida ou não desse campo, visto que os seus ataques vinham diretamente no meu pescoço e barriga — além de querer que eu girasse com seus golpes na lateral, para provavelmente atingir as minhas costas. Respirei fundo, não permitindo que o meu sangue fervesse mais do que já estava, e reparei que ela não desistiria de seu modus operandi, o que me fez lembrar de um dos conselhos de Ethan:
  “Uma das formas de vencer é trazer o seu adversário para o seu domínio, envolvendo ele na sua dança: o faça acreditar que está no controle e o golpeie com a sua própria ilusão.”
  O som das lâminas é audível pelo perímetro e nenhum dos presentes ousava abrir suas bocas, fosse para torcer ou vaiar. A tensão estava sendo literalmente cortada pelas nossas espadas, e agindo de acordo com o meu querido professor particular — eu podia imaginar a sua reação no momento — dei-lhe vantagem sobre mim, fazendo da garota a minha presa nesse baile a dois. Continuei com o ritmo da luta desse modo: esquivando com um tanto de dificuldade de certos ataques e contra-atacando sempre que via a abertura. A plateia recuperou o seu espírito esportivo, gritando os seus pulmões para fora em sinal de entretenimento e isso me deu um gás a mais, sem ligar se torciam por mim ou não. A vi correr com o intuito de diminuir a nossa distância e fui ao seu encontro, bloqueando a sua espada que está na altura de nossas cabeças e apontada para baixo. Com a sua tentativa de afastar a minha lâmina, seu corpo foi para frente, me dando a abertura para pôr a minha mão em seu braço e chutei a sua perna, finalizando com uma rasteira no seu calcanhar. Molly perdeu totalmente o equilíbrio e foi de encontro ao chão, perdendo a sua espada na queda; não havia dúvidas que os berros animados dos Bellerose são para a minha vitória, e logo observei a ausência das crianças e de Rin da arquibancada, me perguntando onde eles tinham ido. Antes que eu pudesse receber as congratulações dos meus colegas e dos demais, alguém gritou o meu nome preocupadamente e quando me virei, nem me surpreendi com a cena.
  — Escolha errada. — Segurei o seu punho com a adaga, a forçando soltar a pequena arma. — Assuma com dignidade que a senhorita perdeu o nossoamigável duelo e saia do campo de maneira honesta.
  — Molly Price! — Ash parou atrás de mim, com a sua feição séria e de poucos amigos. — Pensei que havia sido claro quando avisei as regras, mas, entendo que seja difícil para certas pessoas manterem os valores que são ensinados no castelo Bellerose. A senhorita receberá uma suspensão de todas as atividades por duas semanas, além de avaliarmos se a manteremos em sua posição atual.
  — Isso não é justo! — A garota revidou.
  — Pensasse antes de agir, Molly. — Outra figura apareceu, revelando ser o seu irmão. — Senhorita Arabella, peço desculpas em nome da minha irmã e te parabenizo pela excelente competição.
  — Não há necessidade de se curvar, Sir Raphael. Quem precisa se desculpar é a senhorita Molly, caso contrário, dispenso o seu pedido e agradeço pelos parabéns.
  Dei as costas para os três e andei para os bancos, sendo interceptada pelas quatro crianças eufóricas que me abraçaram e me congratularam animadamente. Rin sorriu brevemente e me elogiou, entregando uma toalha para que eu secasse o meu rosto e eles deram espaço para Giovanni e Viviene falarem comigo, visivelmente orgulhosos.
  — Arabella — a duquesa segurou minha mão carinhosamente —, a senhorita foi esplêndida! O seu potencial é tão grande!
  — Ao assisti-la, a imagem de Celine veio a minha mente — Giovanni ponderou. — Os seus estilos são parecidos e, ainda assim, conseguem ser diferentes e únicos.
  — Muitíssimo obrigada, vossas altezas. — Os reverenciei.
  — Por favor, pare com a formalidade. — Viviene abanou a mão em negação, rindo com o meu ato. — Se quiser se divertir com os seus colegas, sinta-se à vontade. Podemos comemorar a sua vitória outro dia. Killian e Ethan estarão à sua espera assim que a senhorita terminar de se arrumar, tudo bem?
  Sem chance de opinar, me despedi das crianças que ficaram com o casal e fui acompanhada por Rin para o meu quarto, a fim de tomar um banho refrescante e me aprontar para a “comemoração”.

*

  Ao terminar de me vestir, a noite já caía no norte e as estrelas ocupavam os seus lugares no céu limpo. Desci o lance de escadas segurando nas laterais do meu vestido, recebendo cumprimentos breves dos empregados que mantinham a ordem no castelo. Assim que pus meus pés no caminho de pedras rodeado pela grama recém-cortada, senti o vento contra o meu corpo e levei minhas mãos cobertas pela luva rendada a puxarem as aberturas do meu casaco para se juntarem. Passei os dedos pelo colar, gostando da sensação do presente do meu até então admirador secreto; após a competição, Rin me informou que eu havia ganhado uma caixa misteriosa e que devíamos averiguar ao chegarmos nos meus aposentos. Quando a abrimos, ficamos boquiabertas ao ver o conteúdo: um longo vestido vermelho com todos os seus acompanhamentos combinando entre si. As colorações variavam entre o vermelho e preto, com exceção das joias — todas douradas — e o salto fino possui um brilho diferente dos que já vi anteriormente. Não sei se a comemoração seria como imaginei, com alguns colegas em um bar próximo e bebidas até o amanhecer, entretanto, tenho a sensação de que estou indo para um dos melhores restaurantes do reino com o príncipe herdeiro. Alheia em meus pensamentos, minha atenção voltou completamente para o presente ao enxergar com clareza o rapaz na minha frente, mais especificamente, Killian Bellerose. O seu cabelo estava semipreso, com uma trança na lateral e por debaixo da sua capa, ele vestia uma camisa social branca e uma calça preta. Comecei a correr em sua direção, pulando em seus braços assim que o rapaz me percebeu.
  — Parabéns por ter ganhado a competição, Bella! — Lian apertou as suas mãos em volta das minhas costas. — Peço perdão por ter saído antes de te cumprimentar, eu e Ethan queríamos te surpreender com a comemoração.
  — Vejo que ele está atrasado? — Segurei o seu rosto e aproximei o meu, tocando os nossos narizes. — Mereço uma recompensa por ter ganhado, não?
  — Quantas desejar, meu sol. — Ele beijou o meu queixo, sussurrando em seguida. — Não há palavras para descrever o quão bela você está. Espero que tenha gostado domeu presente.
  — Hum… Por que não demonstra de outro jeito, Lian?
  Uma de suas mãos que apoiavam as minhas costas deslizou lentamente até o meu quadril, apertando a região para garantir que eu não caísse. Passei o meu dedo no seu lábio inferior, imaginando como seria o seu gosto quando nossas línguas se tocassem. Nossos rostos estavam próximos o suficiente para eu sentir a sua respiração contra a minha; o seu olhar demonstrava o quão sedento ele estava por mim, e tenho certeza que o meu transmite o mesmo desejo desde o dia que nos conhecemos: ser capaz de experimentar o seu sabor até que eu ficasse completamente bêbada. Sua boca avermelhada clamava por mim, vindo ao encontro dos meus lábios umedecidos assim que puxei o seu cabelo e murmurei satisfeita com a sua reação. Mas, antes que pudéssemos selar nossas vontades, escutamos nossos nomes sendo chamados aos gritos por Lion, que tinha um envelope em seus braços. Suspiramos com pesar, soltando risos abafados pelo timing ruim e aguardamos que o mordomo viesse para mais perto. Quando folheei as papeladas, um sorriso maligno brotou em meu rosto, trazendo uma adrenalina que eu não imaginava que chegaria tão cedo.
  É, usar aquele trio para o trabalho não parece ter sido uma escolha ruim no final.

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