Alter Ego

Escrita porLelen
Revisada por Lelen

Quatro • Encoberta

Tempo estimado de leitura: 9 minutos

  — Tem certeza de que radiação é a única saída? — %Mike% perguntou assim que o doutor Taub anunciou o próximo tratamento a que me submeteriam.
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  — Isso aí, o provável problema da sua esposa é linfoma, esse é o tratamento — Taub murmurou arrumando a cama onde eu estava deitada para empurrá-la pelo corredor até a sala onde se daria o tratamento.
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  — Já descartaram todas as outras possíveis causas? — %Michael% perguntou insistente.
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  — Sim… — Taub respondeu sem dar muita atenção, já me empurrando em meio ao corredor, percebi que Hadley havia ficado para trás, no quarto, perto de %Michael%. Perto demais.
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  Taub e mais alguns enfermeiros me colocaram deitada numa mesa de exames e acima de mim havia um tipo de aparelho, bastante parecido com os de raio-x, deixaram-me deitada lá e logo saíram.
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  — Vou deixá-la aqui por alguns minutos, preciso ver algumas coisas com a equipe, logo estarei de volta, qualquer coisa é só apertar o botão de emergência que deixamos ao seu lado, certo? — Taub murmurou pelo alto-falante, eu apenas assenti sem vontade de uma conversa.
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  Fiquei sozinha por cerca de dez minutos. Eu podia sentir que aquela médica estúpida estava armando alguma coisa, eu podia ver em seus olhos. Uma pessoa persistente pode reconhecer a outra, uma psicopata pode reconhecer todo o resto, e eu reconhecia aquele olhar. Ela estava disposta a falar para %Mike% sobre o caso com Bob, estava disposta a estragar minha vida, meus planos e meu casamento. Eu não deixaria. Não pude evitar um sorriso em meus lábios com o pensamento.
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  — Quando está assistindo “Star Wars”, para que lado você torce? — Ouvi uma voz conhecida soar no alto-falante.
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  — Doutor House, o que faz aqui? — perguntei erguendo a sobrancelha.
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  — Apenas checando o andamento de sua radioterapia. — Ouvi a voz novamente.
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  — Engraçado, me disseram que você nunca visita seus pacientes, no entanto, já me visitou duas vezes.
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  — Gosta de ser consultora administrativa? Estava pensando em trabalhar com isso… Ou talvez ser psicopata, qual dos dois dá maior lucro? — O médico usou seu tom num misto de sarcasmo e interesse.
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  — Tenho certeza que já se decidiu por um dos dois — respondi com um sorriso. — A doutora Hadley brincou que eu me parecia com você — continuei diante do silêncio de House.
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  — Tem certeza de que sabe o que significa “brincar”? — o homem questionou, talvez eu devesse rir, mas não havia graça no que ele dizia.
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  — Então nunca fez nada pensando apenas em si mesmo? Nunca foi egoísta? — O silêncio que se seguiu por um instante depois foi o bastante para eu ter certeza de que tinha sua atenção, de que eu lhe interessava; minha mente, meus pensamentos.
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  — Claro que sou egoísta… Todo mundo é. Nascemos assim — ele por fim me respondeu. — O resto nasce com consciência — concluiu.
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  — O que parece que te deixa muito animado — murmurei um pouco sarcasticamente.
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  — Não é lógico, é humano — ele rebateu.
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  — A consciência é um instinto, você sabe que é irracional. Então por que a seguir? Você entende isso, não é? Por isso vem falar comigo. — Mais uma vez o silêncio foi o bastante para entregar o que o médico estava pensando. Ele concordava. Relutava em aceitar isso, mas concordava.
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  Eu via muitas pessoas agirem de forma julgada errada para conseguirem o que queriam, não havia uma alma que pudesse ser salva ali. Por mais que houvesse consciência para guiá-los, por mais que não fizessem, eles pensavam, eles queriam, eles desejavam; e isso já é o suficiente para torná-los iguais a mim. A diferença, como já havia dito, é que eles tentam se enganar, tentam esconder o que realmente são, egoístas, eu… Simplesmente faço o que for necessário para ter o que quero, não meço esforços e tampouco finjo não querer o que almejo. Os meios não importavam, apenas os fins.
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  O silêncio reinou e então o barulho do som sendo desligado soou. Dr. Gregory House partira.
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  Eu descansava agora já de volta ao meu quarto, a doutora Hadley checava meus medicamentos, quando a porta se abriu e os passos tão conhecidos por mim adentraram o quarto.
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  — Você mentiu pra mim. — Ouvi a voz de %Michael% murmurar a minha frente. — Quando disse que ia fazer um curso de paisagismo… Você nunca esteve em um, certo? — Quando abri os olhos para encará-lo, ele parecia magoado — a Dra. Hadley disse que o solo poderia estar envenenado e que você poderia ter mexido com substâncias tóxicas sem saber… — ele murmurou.
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  — Disse isso pra ele? — questionei a médica ao meu lado.
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  — Eu só achei que… — ela começou a dizer baixando o olhar, desviando-se dos meus olhos.
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  — O Bob disse que vocês tiveram um caso… Então era essa a desculpa? Toda quinta você e ele… — %Mike% não conseguia terminar a frase e eu precisava pensar rápido. Mas é claro que Hadley tentaria fazer com que %Michael% descobrisse por si mesmo a traição.
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  O que eu poderia dizer a ele? Pense, %Zoey%, pense!
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  — Sinto muito… — murmurei.
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  — Deus! — %Mike% exclamou passando as mãos pelos cabelos, deixando-os bagunçados.
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  — Sinto muito, mas não pelo que está pensando — completei, vendo-o voltar o olhar para mim.
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  — E então? — perguntou, seu olhar ainda tinha uma ponta de esperança. Eu podia sentir o olhar de Hadley sobre nós.
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  — %Mike%, você sempre falou que eu não tinha tempo para nós, que eu parecia não ligar para o que eu tinha e isso não era verdade. Eu precisava trabalhar para provar a mim mesma que eu era capaz, que eu era útil em alguma coisa. Peguei horas extras no escritório, mas eu não queria te dizer porque sabia que você seria contra, então menti — disse tudo aquilo num jato de forma tão convincente que logo vi o olhar de %Michael% se atenuar. — Você sequer concordava que eu estivesse trabalhando, imaginei que ficaria bravo comigo se contasse sobre as horas a mais que ficava no escritório.
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  — Se eu ligar para o escritório… — %Mike% começou parecendo raivoso, mas eu sabia que ele já estava convencido.
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  — Liga! Liga pro escritório, liga para os meus clientes, liga pra quem você quiser agora mesmo, eu não me importo — disse. Senti o olhar da Dra. Hadley sobre mim, eu sabia bem que ela achava que eu estava me arriscando, que eu havia dado um passo em falso, mas ela não me conhecia…
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  %Michael% suspirou ao me olhar nos olhos.
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  — Eu só quero que saiba da verdade — murmurei por fim. — Você sabe que eu te amo — disse quase num choramingo.
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  O tom da última frase foi crucial. Ele nunca quis me ver chorar, se eu soltasse uma nota aguda demais que indicasse que eu desabaria em pranto ele fazia qualquer coisa para evitar. Foi o bastante para convencê-lo da minha história e da minha fidelidade. %Mike% se aproximou da cama, eu estendi os braços abertos e então ele me abraçou. Pude ver a doutora Hadley observar incrédula a cena. Eu apenas balancei a cabeça negativamente em sua direção. Ah, Hadley, você quebrou os ovos nos quais estava pisando.
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  Pedi para falar com a Dra. Lisa Cuddy, a diretora daquele hospital. Me levaram para a sala de radiação, dei a desculpa de que teria de fazer mais uma sessão de radioterapia a %Mike%, não queria que ele ficasse sabendo de nada.
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  — Demita ela. — Fui direta no meu pedido com Cuddy.
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  — Ela não quebrou nenhuma lei de sigilo no seu caso e tinha motivos para falar sobre isso com seu marido — a diretora do lugar respondeu séria.
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  — Diga isso ao tribunal — murmurei.
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  — Você não vai nos processar a não ser que queira contar a verdade ao seu marido — Dra. Cuddy murmurou num suspiro, eu a irritava. — No entanto a Dra. Hadley ficará fora do restante deste caso…
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  — O quê? — Ouvi o tom de indignação da médica.
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  — … Para o bem dela própria, não fará mais parte do caso — Cuddy continuou lançando um olhar reprovador em direção à Hadley.
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  — Aceito — murmurei. Tê-la longe de me causar problemas era melhor que nada. — Embora eu tenha certeza de que não é para o bem da Dra Hadley que está fazendo isso. Você está irritada com ela por colocar o hospital em risco, só não acha que é uma boa admitir isso na minha frente. Inteligente da sua parte. — Sorri. Cuddy saiu bufando da sala e Hadley ia fazer o mesmo, instantes depois. — Doutora…? — murmurei. Ela se voltou para mim e eu pude constatar o que pensara ter visto, seus olhos estavam marejados. — Vai chorar? — perguntei vendo seu olhar sofredor a me encarar. — Chore algumas lágrimas por mim também — murmurei dando-lhe uma piscadela.
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