Capítulo Nove
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A casa que estávamos era um labirinto sem fim, cada vez que passávamos por uma porta, tinha outra, sem contar os corredores, cada vez que entravamos em um e pensávamos que iriamos conseguir finalmente sair dali, era outro lugar sem saída.
- Espera um pouco. – seguro a mão de %Jisung% para ele parar. – Temos que nos concentrar. – tento recuperar meu fôlego.
- Se concentrar com o quê? – %Jisung% me dá um olhar confuso. – Eu só quero sair daqui. – puxo sua mão e tento fazer com que ele preste atenção em mim.
- A casa pode ter algum feitiço de ilusão. – tento raciocinar.
- A casa é apenas enorme. – ele abre uma porta, e somos levados para o quarto que nós estávamos presos.
- Não, %Jisung%, a casa tem um feitiço de ilusão, já passamos por aqui. – solto um suspiro ao notar que não saiamos do mesmo lugar.
- O que iremos fazer? – ele me pergunta desesperado.
- Espera um pouquinho. – penso rapidamente no que poderia ser feito para quebrar o encantamento. – Segure minha mão e tente imaginar a saída. – não tinha muito que ser feito no momento, apenas isso.
- Tudo bem. – %Jisung% faz o que peço.
- Vamos acabar logo com isso. – a irritação estava tomando conta de mim, então eu definitivamente precisava encontrar a saída antes que saísse por ai xingando todo mundo e querendo a cabeça de alguém.
- E se nós dois nos separássemos? – %Jisung% pergunta ao meu lado.
- Essa não foi a sua melhor ideia. – olho para ele. – Apenas, é claro, que você queira ser morto por alguma coisa, caso contrário, ficaremos juntos. – era obvio que se %Jisung% ficasse sozinho nessa casa ele acabaria morto.
- Desculpe! É que estou desesperado, e geralmente quando isso acontece, eu não consigo pensar direito... – paro por um instante e ponho meu dedo indicador em seus lábios para impedi-lo de falar.
- %Jisung%. – estralo meus dedos. – Você está divagando muito, respire um pouco. – faço a simulação de uma respiração calma com ele.
- Tudo bem. – ele respira profundamente e tenta igualar sua respiração com a minha, porém um estrondo do lado de fora faz dar um salto para trás.
- Merda. – protejo o %Jisung% com meu corpo.
- O que foi isso? – o desespero em sua voz era visível.
- Não tenho ideia, apenas fique atrás de mim. – peço para ele.
- Era eu quem deveria proteger você, não o contrário. – apesar de estar com medo, %Jisung% se expressa e mesmo com a situação não estando muito boa para nós, não consigo evitar em soltar uma risada.
- Temos que agilizar, %Jisung%, eu pensei que, nessa altura do campeonato, andando com %Christopher%, você já estivesse acostumado com os monstros. – balanço minha cabeça.
- Ok. – ele responde, porém permanece paralisado no local.
- Só não sei se devemos ir. – ele comenta.
- Você está duvidando da minha capacidade de defendê-lo? – pergunto e ele encolhe os ombros instantaneamente.
- Não, eu não duvido, mas tenho certeza de que se encontrar alguma coisa que possa nos fazer mal, eu irei desmaiar. – fecho os olhos fortemente, e depois os abro para encarar %Jisung%.
- Confie em mim. – eu peço enquanto o puxo pelas mãos e logo noto um pedaço de uma barra de ferro no chão, pegando por precaução. – Vamos. – caminho lentamente, e deixo todos os meus sentidos livres para que eu pudesse escutar cada detalhe do que estava acontecendo naquela casa. Eu não queria receber um ataque surpresa por estar distraída.
- %Faith%. – %Jisung% puxa a barra da minha blusa.
- O quê? – me viro para encará-lo, irritada.
- O que é aquilo? – ele aponta para uma figura parada no final do corredor.
- Droga. – digo assim que percebo que a figura parada era um índigo. – Não se mecha. – peço para %Jisung%.
- Pode deixar, eu não irei me mexer. – sua voz soa mais fina do que o normal.
- Olha! Eu vim aqui em paz. – levanto minha mão como se fosse me render.
- Eu não quero saber se você veio em paz. – sua voz soa um pouco grotesca. – Eu tenho uma missão, e irei acabar com você. – bufo.
Geralmente eu não gostava de ter que brigar com seres sobrenaturais, ainda mais aqueles que aparentemente eram facilmente manipuláveis, porém, o olhar que o índigo me deu no momento que falou comigo deixou claro suas intenções,
ele me queria morta.
- Entendi que não vai ser da maneira mais fácil. – me preparo para o ataque. – Por favor, fique parado, não se mova de nenhum jeito. – sussurro para %Jisung%, praticamente implorando para que ele não fizesse nenhum movimento.
Os índigos eram seres sobrenaturais perspicazes, com uma força sobre-humana, porém sua visão era um pouco danificada, esse foi o motivo de eu pedir para que %Jisung% ficasse parado e não fizesse nenhum movimento, pois ao ficarmos parados, nós desapareceríamos diante dos olhos dele; contudo, o fato do índigo saber que estou ali dificulta o nosso processo de fuga, e por conta disso resolvo levá-lo para o mais longe possível de %Jisung%. Eu não tinha os materiais necessários para realmente nos defender do índigo, mas queria ser positiva ao pensar que a barra de ferro retardaria o processo dele ir atrás de nós, afinal, para acabar com ele eu precisaria de fogo, e isso eu não tinha no momento.
- O que você vai fazer? – o garoto me olha, preocupado.
- Enquanto eu estiver lutando com o índigo, quero que você corra como se sua vida dependesse disso. – aperto meu aperto no seu pulso para fazer com que ele preste atenção em mim.
- Ok. – ele acena com a cabeça e me sinto mais aliviada.
- Ei, você! – começo a bater com a barra de ferro na parece. – Estou bem aqui. – o provoco e com um longo suspiro eu parto para cima dele com toda a força que eu tinha no momento.
Imediatamente me lembro das inúmeras lições que tive durante meu tempo na academia, eles sempre deixaram bem claro que os índigos eram extremamente fortes, e que não desistiam facilmente das suas presas, então tínhamos que ser mais espertos que eles. Enquanto luto com a criatura, faço um sinal para que %Jisung% começasse a correr. Eu sabia que o índigo não sofreria nenhum dano sério, mesmo se eu tentasse, pois os métodos para acabar com ele eram totalmente diferentes dos recursos que eu tinha no momento. A prata seria uma boa ajuda para causar um pouco de dor no índigo, e por conta disso arranco o colar do meu pescoço, que a propósito tinha o formato de uma lança, e espeto na mão do índigo. Claro que esse gesto não seria o suficiente para pará-lo, porém começo a bater nele com a barra de ferro e consigo desestabiliza-lo, criando um pouco de tempo para a minha fuga.
- Eu achei a saída! – %Jisung% acena para chamar minha atenção enquanto deixava a porta aberta.
- Não faça barulho. – peço desesperadamente e olho para trás para ver se o índigo estava me seguindo.
- Por quê? Você não acabou com ele? – %Jisung% me pergunta e eu nego.
- Apenas posso acabar com ele se eu tiver fogo. – passo pelo garoto e o puxo pelos braços. Eu podia sentir meu lado esquerdo começando a latejar e só podia rezar para que nada tivesse acontecido com a minha ferida.
- Estamos no meio do nada. – solto um suspiro ao observar a cena ao meu redor.
- Meu Deus. – não tinha como nós ficarmos expostos por tanto tempo em um local aberto, não quando tínhamos um índigo ainda vivo dentro daquela casa. Eu conseguia sentir a exaustão tomando conta do meu corpo, e me sentia traída pelos meus próprios sentidos, pois fui treinada a minha vida toda para ser uma caçadora, e de repente tenho errado suscetivamente, sem nenhum acerto até o momento, o que me deixava completamente frustrada.
Eu realmente esperava do fundo do meu coração que alguém estivesse nos procurando, porque, para ser bem sincera, eu tinha medo que a noite caísse e %Jisung% e eu estivesse aqui. Uma coisa sou eu conhecer algumas pessoas do submundo, outra era me deparar com seres sobrenaturais que me odeiam pelo fato de eu ser uma caçadora e verem na vulnerabilidade que eu me encontrava, uma forma de me matar.
Depois de inutilmente caminhar com %Jisung% ao meu lado, ele pede para se sentar, pois estava cansado, e apesar de ele ter ficado bastante tempo desacordado, eu entendia sua posição de reclamar, pois eu também me sentia exausta, ainda mais depois de ter que lidar com um índigo, minha mão estava doendo até agora para ser bem sincera.
- Você está andando um pouco curvada. – %Jisung% me olha.
- Não é nada. – tento desviar nossos olhos.
- É sua barriga? – ele se levanta de repente do chão e se aproxima de mim.
- Claro que não, o ferimento já está ótimo. – puxo uma respiração profunda quando ele coloca a mão no local.
- Mentirosa. – ele tem a audácia de dar um sorriso de lado.
- Quem deu o direito para você fazer isso? – fecho minhas mãos em punhos.
- Posso não ser o cara que irá proteger você, mas sei quando as pessoas sentem dor. – %Jisung% me dá um olhar de cachorro abandonado, e sou obrigada a desviar os olhos por me sentir um pouco incomoda com isso.
- Não faça isso. – faço uma careta.
- Fazer o quê? – ele se faz de desentendido.
- Essa cara de cachorro abandonado. – gesticulo para o seu rosto.
- Não seja rude quando estou sendo fofo. – %Jisung% se afasta de mim rindo.
- Não acredito que mesmo estando no meio do nada você está querendo flertar. – eu não tinha palavras que descrevessem a tamanha cara de pau que esse garoto tinha; na realidade, ele conseguia atingir duas facetas ao mesmo tempo, enquanto ele era fofo e inteligente, %Jisung% também conseguia ser idiota e inconsequente.
- Alguém falou alguma coisa que sugerisse flerte? – fecho meus olhos com força.
- Não fale comigo. – penso enquanto pressiono minha mão na testa.
- Ainda está sentindo dor? – %Jisung% se aproxima de mim um pouco atrapalhado.
- %Jisung%... – não tenho tempo de falar nada, pois somos interrompidos por um som de buzina. – O quê? – noto uma SUV se aproximando de nós.
- Quem você acha que é? – meu instinto novamente faz com que eu coloque %Jisung% para trás de mim. – Sério, %Faith%? – ele parecia um pouco irritado com esse gesto.
- Cala a boca. – olho seriamente para ele.
- %Faith%. – a porta do carro se abre de repente, e por um segundo eu deixo meu corpo relaxar.
- Qual é o motivo das pessoas estarem aparecendo na minha vida tão de repente agora, sem nenhum aviso? – pergunto irritada.
- Quem é ele? – %Jisung% sussurra no meu ouvido, porém eu o ignoro.
- É assim que você trata seus amigos? – %Minho% se aproxima de mim com um sorriso brincando nos lábios.
- Claro que não. – abro um sorriso automaticamente. – Porém é estranho as pessoas que eu conheço estarem brotando de repente nessa cidade. – explico.
- Na realidade, eu tenho algumas coisas para resolver aqui. – ele suspira e sua fisionomia não parecia uma das melhores no momento. – Venha. – %Minho% abre os braços para que eu fosse até ele.
- Senti sua falta. – o abraço com força, porém solto um pequeno gemido de dor.
- O que aconteceu? – ele me afasta rapidamente e me encara para saber se estava tudo bem comigo.
- Ela está ferida. – %Jisung%, permanência paralisado no local que o deixei há alguns segundos.
- Fique quieto. – falo entredentes.
- Você está ferida, %Faith%? – %Minho% me segura delicadamente. – Vamos embora. – ele inclina a cabeça para o lado e dá um olhar para %Jisung%. – Entre no carro. – sua voz era ligeiramente autoritária.
- Não fale com ele assim, %Minho%. – reclamo.
- Seu novo namorado? – ele solta uma risada ao falar.
- Engraçadinho. – eu me sentia mais aliviada por estar nos braços de %Minho%. – Como você sabia que eu estava aqui? – pergunto por fim.
- Porque eu resolvi ficar na cidade desde que conheço minha amiga e sei que ela adora se meter em confusões quando está longe da academia. – reviro meus olhos ao ouvir a voz de %Hyunjin%.
- Estou falando sério agora. – me afasto um pouco de %Minho% para que pudesse encarar %Hyunjin%, mas não o suficiente para que ele me soltasse, pois eu realmente estava precisando me apoiar em alguém no momento. – Isso tudo está muito estranho. – semicerro meus olhos.
- O que é estranho, %Faith%? – %Hyunjin% pergunta.
- Você continuar aqui tudo bem, eu pedi sua ajuda, porém, de repente %Echo% e %Minho% aparecem sem aviso nenhum. – reflito.
- %Echo% está aqui? – %Hyunjin% parecia um pouco mais animado do que o normal.
- Sim. – balanço minha cabeça confirmando. – Ela apareceu faz alguns dias. – dou de ombros.
- Estarmos aqui para você significa que a amamos. – %Minho% não era uma pessoa que expressa seus sentimentos abertamente, então fico tocada com suas palavras.
- Isso quer dizer que irão me ajudar? – pergunto.
- Depende. – %Hyunjin% fala.
- Depende do quê? – o encaro confusa.
- Se você irá me perdoar pelo que tenho que fazer. – olho para %Minho% em busca de respostas.
- O que você tem que fazer? – pergunto.
- Seu tio matou um dos meus. – de repente, como um estralo na minha mente, todas as peças se juntam, então esse era o motivo de %Seungmin% estar na cidade, ele veio para proteger meu tio.
- %Minho%, você não pode entrar em uma guerra com os lobos. – cruzo meus braços.
- O conselho decidiu. – fecho meus olhos e os massageio.
- Foi em noite de lua cheia? – pergunto ao encara-lo novamente.
- Sim. – %Minho% confirma.
- Você sabe como muitos lobos são instáveis em lua cheia. – eu não queria dar uma desculpa pelos atos do meu tio, na realidade, eu só não queria que as coisas se complicassem ainda mais no submundo.
- Os lobos são instáveis em luas cheias? – %Jisung% se pronuncia, e só assim me lembro de que ele estava conosco.
- Sim. – %Minho%, %Hyunjin% e eu falamos juntos.
- %Christopher% nunca demonstrou nenhuma instabilidade. – o garoto parecia ligeiramente confuso.
- Ele está falando daquele lobo que estava com você? – %Hyunjin% me pergunta e eu balanço minha cabeça.
- Espera ai. – %Minho% se afasta de mim e me olho nos olhos. – Você estava com um lobo? – ele parecia não acreditar nas palavras de %Hyunjin%, e me encarava como se buscasse a resposta oposta.
- Sim. – baixo minha cabeça.
- %Faith%. – %Minho% segura meus braços delicadamente. – Você precisa tomar cuidado. – ele me pede.
- Não é como se o cara fosse fazer mal para ela, na realidade, ele tem um controle perfeito. – %Hyunjin% defende %Christopher%.
- Isso é verdade, ele nunca fez mal para ninguém. – %Jisung% sai em defesa do amigo.
- Não importa, lobos conseguem ser instáveis. – %Minho% não parecia feliz. – Não dê nenhuma brecha para que você seja ferida. – ele me conduz até o carro.
- Isso é por causa do meu tio? – pergunto.
- Em parte. – %Minho% suspira e pede para que os outros entrem no carro.
- Depois conversaremos sobre isso. – ele tenta encerrar o assunto.
- Depois de você acabar com meu tio? – falo lentamente.
- Conversamos depois. – ele dá partida no carro e nos tira daquele local.
- Foi você quem me localizou? – me viro um pouco para encarar %Hyunjin%.
- O que você acha? – ele sorri para mim. – Quando soube que você tinha desaparecido, eu sabia que precisava estar aqui e encontrar você, apenas demorou mais do que o normal. – %Hyunjin% dá de ombros.
- Talvez enquanto estivéssemos dentro da casa, nós não podíamos ser localizados. – reflito.
- Como assim? – %Hyunjin% apoia sua cabeça no banco e me encara.
- A casa estava com um feitiço de ilusão, ficamos dando voltas e mais voltas até encontrar uma saída. – explico.
- Você claramente continua se pondo em risco. – observo %Minho% apertando o volante com mais força e afago seu braço.
- Eu sempre me coloquei em risco. – solto uma risadinha. – Enfim, deve ser por isso que você não estava nos encontrando. – termino de falar.
- E então apareceu aquele monstro horrível na nossa frente e piorou todo o cenário. – o carro freia de repente e eu tenho %Minho% e %Hyunjin% encarando %Jisung%.
- O que você quer dizer com isso? – %Hyunjin% pergunta e eu olho para %Jisung% como se quisesse arrancar sua cabeça no momento.
- Eu não sei o que era aquilo, mas era algo asqueroso demais. – seu corpo treme com a lembrança,
patético. - O que era, %Faith%? – agora tenho os dois me olhando seriamente.
- Um índigo. – faço uma careta.
- Você o matou? – %Minho% me pergunta.
- Não. – balanço minha cabeça.
- E você resolveu falar isso apenas agora? – %Hyunjin% estava brabo.
- Desculpa? – encolho meus ombros.
- Será que devemos voltar? – %Hyunjin% me ignora e olha para %Minho%.
- Acredito que seja tarde demais para fazermos alguma coisa. – ouço um suspiro vindo do meu amigo. – Teremos que ter cuidado redobrado a partir de agora. – %Minho% fala.
- Por que teríamos que ter? – %Jisung% parecia meio perdido na conversa.
- Porque índigos geralmente caçam suas presas até serem mortas. – %Hyunjin% explica.
- Vocês estão brincando, certo? – o medo na voz de %Jisung% era visível novamente.
- Eu jamais brincaria com uma coisa dessas. – %Minho% dá partida no carro.