Capítulo Dezesseis
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Mesmo de olhos fechados, continuo escutando passos apressados pelos corredores da casa de %Felix%, fazendo com que eu automaticamente ficasse em alerta a tudo que acontecia ao meu redor, sem contar, é claro, a sensação de estar sendo observada, isso faz com que meu sono, que já era péssimo, se esvaísse por completo. Essa situação me faz levantar da cama e vasculhar cada canto do quarto que eu estava, procuro em todos os lugares possíveis alguém escondido, e o fato de não ter encontrado nada me deixa intrigada, pois, os barulhos não vinham apenas dos corredores da casa do meu melhor amigo, estavam dentro do meu quarto também.
Ao ouvir um som agudo vindo por de trás da minha porta, me aproximo dela, logo me abaixando para ver por debaixo da fresta da porta o que poderia ser, e ao pegar um vislumbre de sombra por ela, me levanto num pulo. Minhas mãos tremiam por conta do susto que levei, e seguro aquela maçaneta com força, impedindo seja lá quem for de tentar entrar no meu quarto, me repreendo em seguida por sentir medo, sim... Quero dizer, sou uma caçadora, e não devia sentir medo, porém, esse é um daqueles momentos em que não estou armada, e não sei sobre o hábito noturno das fadas. Sei que isso pode soar estranho, e pode ser uma surpresa para algumas pessoas, mas a academia não tinha muitas informações sobre as fadas, não desde que elas saíram do submundo e se retiraram para as montanhas. Pode até parecer uma piada, mas era real! Eu não sabia muito sobre fadas, e tudo o que eu sabia foi por conta das poucas palavras de %Felix% sobre elas.
Esses barulhos acabam mexendo comigo, tenho que admitir, e o fato de estar em um lugar estranho, conhecendo poucas pessoas, não me ajudava muito. Em suma, desde que entrei na Ordem, fui ensinada a não baixar a guarda, e ficar sempre em alerta ao ambiente desconhecido. Minha mente já estava acostumada com isso, e talvez esse seja um dos motivos de eu nunca conseguir dormir, ou relaxar por completo. Nesse instante, mesmo conhecendo %Felix% por um bom tempo, eu não conseguia deixar meu instinto para lá e mesmo considerando ele como parte da minha família, eu jamais me colocaria em uma posição constrangedora com meus próprios instintos.
Depois de esperar mais um pouco, os barulhos cessam e volto para minha cama, tento um pouco de meditação para relaxar minha mente, pois, daqui a pouco amanheceria, e seria um dia crucial para achar as respostas que eu tanto procurava. Admito que minha falta de sono possa atrapalhar meus planos, mas eu acreditava que daríamos um jeito para descobrir algumas coisas, e quem sabe ter pela primeira vez, uma boa pista sobre quem é o verdadeiro monstro, e assim quem sabe eu possa juntar as peças desse quebra cabeça e acabar com tudo.
Ao me acomodar na cama, sinto minha ferida na barriga um pouco dolorida me deixando extremamente incomodada, visto que, ela já tinha que ter cicatrizado há muito tempo. Talvez esse fosse o lembrete diário de que eu precisava dar um fim nisso tudo, e quem sabe no fim me aposentar, penso que isso não seria uma má ideia, não depois de tudo o que aconteceu comigo nessas últimas semanas, já que chega uma hora que você acaba se sentindo esgotada com tudo que acontece ao seu redor. Claro que eu ainda tinha alguns caminhos a percorrer, e um deles seria os garotos fazerem a ligação, porém, isso era a última opção no momento, eu tinha certeza de que eles esgotariam todas as suas alternativas antes de fazermos algo do gênero, e mesmo que eu me sinta bem em fazê-la, os meninos não tinham tanta certeza disso e eu devia respeitá-los por enquanto. Não posso negar, eu também me repreendia por cogitar essa ideia, mas ela era necessária, assim como talvez fosse a hora de termos reforços, e com isso chamar %Changbin% para nós ajudar, afinal, ele sempre foi a mente do nosso grupo, diferente do que as pessoas costumavam imaginar. Veja bem, eu não queria causar mais problemas para ele, não quando %Echo% e eu saímos da academia sem olhar para trás, até porque diferente de nós, %Changbin% tinha um legado a seguir, e seus pais jamais permitiriam que ele desviasse desse caminho.
Olhando para os últimos acontecimentos, eu poderia ser um pouco irresponsável e deixar que as pessoas mais velhas e mais treinadas fizessem o seu serviço, mas eu sabia que se eu permitisse que isso acontecesse, seria à custa de vidas inocentes, e eu não queria correr esse risco. Para nós caçadores, a vida era assim. Tínhamos que entender nossas perdas como um efeito colateral para salvar outras pessoas, e mortes ocorrerem no caminho era completamente normal.
Algo que discordo totalmente, mesmo que nem sempre eu demonstre isso. Em todos os anos que agi como uma caçadora, perdi muitas pessoas, principalmente pessoas da minha própria turma, e mesmo que não nos déssemos bem, eu senti profundamente essa perda. Então eu não compactuo com o lema dos caçadores, e acredito que não devemos tratar nossas perdas como um efeito colateral, afinal, uma vida continua sendo uma vida. Eu só tive que achar um jeito de fazer com que as pessoas ao meu redor, os caçadores, para ser mais específica, nunca percebessem o quanto eu sentia uma perda, e acredito que por sempre estar atuando sobre nunca me importar com as vidas que se esvaiam na minha frente, acabei ficando craque nisso, e não consigo esboçar mais nenhuma reação aos sentimentos de perda, mas ele está lá, escondido em algum lugar.
Não sei ao certo quando peguei no sono, mas começo a me revirar na cama ao sentir algo quente batendo nas minhas pernas, e ao abrir meus olhos, percebo as cortinas do quarto aberta e o sol entrando pelas janelas, noto uma pequena garota parada, próxima a minha cama, com um sorriso enorme nos lábios e se eu não fosse uma pessoa acostumada a ser pega de surpresa, teria gritado imediatamente.
- Senhorita, que bom que acordou. – arregalo levemente meus olhos ao ver a garota se movendo.
- Por que você não mantém a distância? – jogo meus cobertores rapidamente para o lado e me levanto da cama procurando por algo que eu pudesse usar como arma.
- Senhor %Felix% quem me mandou acordá-la e pediu que eu fosse gentil ao fazer isso. – solto uma risada.
- Seria muito gentil da sua parte, se você não ficasse parada de um jeito estranho enquanto espera as pessoas acordarem. – me aproximo do local que tinha deixado minha roupa. – Onde estão minhas coisas? – pergunto.
- Levei para serem lavadas, o cheiro que vocês humanos exalam é muito estranho ao nosso olfato. – respiro profundamente e dou leves batidinhas com meus dedos em minha testa, eu precisava lembrar de ser paciente, afinal, não era todo dia que eles tinham contato com humanos.
- E o que eu irei vestir? – a encaro.
- Sua roupa está no banheiro. – ela aponta para o local que eu deveria me dirigir e vou até lá. Meus instintos gritavam para eu tomar cuidado com a estranha no meu quarto, mas minha vontade por tomar um banho era maior.
Ao entrar no banheiro, percebo que a banheira já estava preparada para o banho, e me dispo rapidamente, entrando na água em sequência. O contato da água morna faz meus pelos do braço se arrepiarem, mas não dou muita atenção para isso. Começo a me saboar lentamente, tomando todo o cuidando quando passo a esponja pela minha ferida, hoje ela estava doendo mais do que o normal, e tento ao máximo não molhar meu cabelo, pois, não queria perder muito tempo secando ele. O cheiro da água era muito agradável, e percebo que eles usaram flor de cerejeira para preparar o banho, por isso levo um bom tempo para fazer minhas coisas, ainda mais quando meu corpo se acostuma com a temperatura da água.
Ao sair do meu quarto, percebo que muitas pessoas viviam junto na casa de %Felix%, não sei se eles trabalhavam para ele, ou apenas estavam ali, preenchendo os quartos vazios daquela enorme casa. Ainda acho engraçado o fato de fadas não terem asas, pois, eu acreditava que %Felix% apenas a escondia para não chamar a atenção das pessoas ao seu redor, então no meu imaginário, quando eu conhecesse sua casa, eu veria fadas voando por aí, exibindo suas asas.
Dando uma última olhada para os corredores, solto um lamento por não poder explorar a área como imaginava que faria um dia, e isso me deixa um pouco triste. Eu sempre tive planos para esse momento, o momento que eu conhecesse as terras que %Felix% vivia, porém, infelizmente o momento não era propício para exploração.
- Precisa de ajuda? – dou um pulo e olho pra trás, apenas para pegar pequenos olhos de raposa me encarando.
- Acredito que você não possa me ajudar. – a raposa parecia fofa, mas automaticamente lembro que não devemos confiar neles.
- Seus amigos já tomaram o café da manhã, gostaria de se juntar a mim? – seus olhos pareciam brilhar e desvio rapidamente, isso era típico das raposas, olhos fofos para pegar as pessoas desprevenidas.
- Não estou com muita fome. – tento sair de perto dele, porém, ele me impede.
- Sei que a fama das raposas não é uma das melhores, mas acredite, eu realmente sou confiável. – o jeito que o garoto falava também era doce, e apenas com uma olhada você poderia se apaixonar por ele.
- Qual é seu nome, raposa?
- %Jeongin%. – o sorriso empolgado dele quase faz com que eu esqueça o que iria falar.
- Não sei o que você está fazendo aqui, ou como as fadas aceitaram você, então tudo o que eu peço é que enquanto eu estiver aqui, não tente ser legal comigo, eu não confio em você. – aos poucos o enorme sorriso que a raposa tinha em seus lábios, some e eu me sinto levemente culpada.
- Sinto muito, não sabia que minha presença incomodava a senhora. – ao vê-lo de cabeça baixa, meu coração se partiu um pouco.
- %Jeongin%, não me leve a mal, mas é que eu não confio em pessoas estranhas. – sorrio.
- Principalmente em raposas, certo? – balanço minha cabeça positivamente.
- Desculpe, mas as histórias que conheço... – ele levanta a mão me interrompendo.
- Infelizmente pessoas boas como eu devem pagar o pato de algumas raposas que escolheram o lado ruim da história. – dou um sorriso meio sem graça para ele, pois, era exatamente isso que acontecia.
- A fama de vocês com os lobos também não é a das melhores. – eu não queria deixa-lo ainda mais para baixo, mas eu tinha que ser sincera.
- Entendo. – ele fica mudo rapidamente.
- Quem sabe um dia você possa provar ser uma boa raposa. – tento reconforta-lo. – Até que esse dia chegue, por favor, não fique muito próximo. – eu odiava ter que partir o coração das pessoas, mas até que %Jeongin% se provasse ser uma boa pessoa, seria muito melhor manter certa distância dele.
Como meus amigos já tinham tomado café da manhã me sento sozinha para comer, sim eu tinha mentido ao falar que não estava com fome. Na realidade era engraçado ter comida humana no lugar, eu mal consigo imaginar o que as fadas realmente comem, e posso parecer ser uma amiga ruim, mas a realidade era que %Felix% não se sentia muito bem falando sobre sua vida de fada, e está tudo bem. Eu entendia o medo que ele tinha de anotarmos coisas sobre o cotidiano das fadas para no fim entregar para outros caçadores. E ele estava certo em não confiar plenamente na gente. Hoje em dia, nunca se sabe em quem você pode confiar de olhos fechados, porque quando menos se espera, você pode ser apunhalado pelas costas.
Faço tudo o que tenho que fazer devagar, pois, eu queria aproveitar o ambiente de paz que o local transmitia para então poder fazer o meu trabalho do dia.
- Ainda comendo? – %Felix% entra na sala que eu estava, rindo.
- Não posso? – resmungo de boca cheia.
- Claro que pode, mas temos que tentar localizar o transmorfo. – pisco meus olhos e empurro meu prato para frente.
- Se isso não dar certo, iremos ter que fazer a ligação, não é mesmo? – pergunto.
- Sim, %Faith%. – %Felix% cruza seus braços, e encaro seu rosto, suas sardas hoje mais evidentes.
- O que estamos esperando então? – me levanto rapidamente da cadeira.
- Você só pode estar brincando comigo. – era muito difícil tirar a paciência de %Felix%, então apenas sorrio e dou de ombros.
- Desculpe! Força do hábito. – ergo minhas mãos para cima.
- Vamos para a sala, todo mundo está lá. – %Felix% começa a me guiar para a sala, e assim que entramos percebo todos os meus amigos ali, incluindo %Jeongin%.
- O que ele está fazendo aqui? – pelo tom da minha voz, era perceptível que eu não estava feliz em ver aquela criatura.
- %Faith%... – %Hyunjin% é o primeiro a me repreender.
- Não me venha com %Faith%. – o imito. – Ele não faz parte do grupo, por que ele está aqui? – espero que alguém seja sensato e me responda.
- Ele fica. – %Felix% engrossa sua voz. – Vamos dar continuidade, ou você prefere ir para casa? – eu nunca tinha visto %Felix% dessa maneira.
- Ok, mas se ele trapacear, a culpa será de vocês. – encaro cada um deles, principalmente meu primo por estar compactuando com isso.
- Quanto de sangue humano você precisa? – %Echo% se aproxima.
- O necessário. – %Felix% entrega uma faca para nós, e eu a passo pela palma da minha mão, forçando o sangue sair em sequência e cair em um cálice.
- Espero que não tenha que fazer isso novamente. – me aproximo de %Hyunjin% e ele cura aquela ferida da minha mão, fazendo o mesmo com %Echo%.
- Se afastem. – ele e %Felix% pedem.
- Tomara que dê certo. – %Echo% sussurra ao meu lado, e me afasto o suficiente de %Felix% e %Hyunjin%, me aproximando de Minho e %Seungmin%.
Observo como os dois trabalham em sua magia lentamente. Sempre achei muito bonita a maneira que os dois conseguem se conectar e conectar sua magia, tudo parecia se tornar único, apenas porque os dois estavam juntos. A luz que irradia daquela magia era dourada como ouro, e podíamos sentir os dois mundos se colidindo, o dos bruxos e fadas, mas não de uma maneira ruim, longe disso. Tudo o que eu conseguia sentir em meio a essa onda de energia, era a paz que os dois transmitiam, era quase como se cada palavra ecoada naquela sala, fosse música aos meus ouvidos, e isso valia cada minuto do meu tempo.
- Então...? – depois de um tempo, os meninos param de fazer magia.
- Não conseguimos localizar nenhum transmorfo. – %Hyunjin% parecia decepcionado.
- Então isso significa que pode não ser um transmorfo? – eu estava começando a me sentir um pouco chateada com toda a situação e prestes a deixar os adultos cuidarem disso, sim, eu estava pensando em jogar a bandeira.
- Eu senti vestígios de magia negra. – ouço Minho soltando um palavrão ao meu lado.
- O que isso significa? – apesar de o meu primo ser um lobo e ter contato com o submundo, acho muito difícil de ele ter escutado falar sobre magia negra.
- Que o pior pode estar acontecendo. – %Echo% responde séria.
- Se existe vestígios de magia negra... – as palavras somem da minha boca.
- Isso quer dizer que se um transmorfo e um bruxo corrompido estiverem juntos... – escuto Minho engolir em seco antes de voltar a falar. – Será impossível encontra-lo.
- E isso quer dizer que as mortes irão continuar acontecendo. – sinto minha mente pesar. – %Hyunjin%? – eu não tinha outra escolha, se não fazer aquilo que todos ao meu redor temiam. – Vamos fazer a ligação.
- %Faith%. – Minho segura minha mão. – Você prometeu. – eu odiava ter que quebrar uma promessa, mas dessa vez eu não tinha escolha.
- Desculpa. – tento dar um sorriso para ele.
- Não se preocupe. %Faith% já fez isso outras vezes. – %Echo% tenta tranquilizar Minho, e a agradeço mentalmente.
- Acho que é a hora. – %Felix% aponta para uma poltrona.
- Eu confio minha vida a vocês. – tento descontrair o ambiente.
- Preciso que você fique confortável. – ele me ajuda a me acomodar na poltrona e %Hyunjin% para na minha frente.
- Você sabe que não tem mais volta, certo? – %Hyunjin% parecia um pouco aflito.
- Como assim não tem mais volta? – meu primo arregala os olhos, fazendo com que ele parecesse um filhotinho de cachorro.
- Não escute o que ele diz. – abano minha mão.
- %Faith%... – sua voz era cautelosa, mas vejo que ele para de falar depois de levar um cutucão de %Echo%.
- Confie em %Faith% e nos meninos, %Seungmin%. – percebo que %Echo% encarava meu primo com um olhar intimidador.
- Se algo acontecer com ela, vocês serão os responsáveis. – %Seungmin% cruza os braços e volta a ficar calado, e tenho que admitir que me sinto atingida pela recente preocupação dele.
- Tudo ficara bem, não precisa se preocupar. – pisco meu olho para ele. – Podemos? – chamo a atenção de todos.
- Você se lembra do quão doloroso é fazer a ligação? – %Felix% se agacha na minha frente, baixando o tom de sua voz para que apenas eu pudesse ouvir.
- Eu não me importo com a dor. – minhas mãos estavam suadas, e passo elas pela minha calça na tentativa de secá-las.
- Então vamos nos preparar. – ele tenta sorrir para mim, mas eu sabia o quão difícil isso seria para ele também. – %Hyunjin%... – eu podia sentir certa tensão no ar, o que me deixava ligeiramente desconfortável.
Aquela tinha sido a minha escolha, acessar minhas memórias perdidas, era a melhor alternativa para tentar descobrir quem estava por de trás de tudo que vinha acontecendo na cidade que eu vivia. Eu não precisava da autorização de ninguém para fazer isso, apenas da colaboração de %Felix% e %Hyunjin%.
- Minho? – além de %Felix% e %Hyunjin%, eu precisaria de Minho ao meu lado para que o mesmo pudesse me guiar durante a escuridão.
- Eu continuo sendo contra. – No fundo, eu sabia que a maior preocupação dele, era eu me perder durante a transição, porém, nada que ele fosse falar iria me fazer mudar de ideia.
- Todos preparados? – me aconchego ainda mais na poltrona que estava, e logo sinto as mãos frias de %Hyunjin%, sem aviso, sobre a minha cabeça.
No exato momento que %Felix% e %Hyunjin% começam a recitar palavras antigas de suas línguas de origem, começo a sentir um leve formigamento pelo meu corpo, fazendo com que eu segure fortemente a mão de Minho. Tomo uma longa respiração e começo a me preparar para a dor agonizante que viria em seguida. O início que transcendia o meu mundo, para o mundo da minha mente, parecia ser um verdadeiro inferno. A dor na minha cabeça era agonizante e por um momento sinto como se meu corpo e minha mente não fossem aguentar tanta pressão. Involuntariamente, meu corpo vai para frente, quase como se eu não tivesse mais controle sobre ele, e então, tudo fica preto, silencioso.
Ao perceber o silêncio, me apavoro. Eu me encontrava exatamente onde estive da última vez, no breu da minha mente, sem ninguém ao meu lado pronto para me guiar. Não sei ao certo como eu tinha parado aqui novamente, o inicio do meu fim, e tento manter minha respiração controlada para não entrar em pânico, apesar de me sentir apavorada. Não ter ninguém para me guiar quando a ligação era feita, poderia ser muito perigoso, pois, eu poderia ficar presa na minha mente eternamente.
Quando digo que ficar no limbo, entre a transição do meu eu consciente, para o estado de pré-sono, é perigoso, se dá pelo fato de que ao ficarmos muito tempo nesse estado, podemos realmente morrer, isso tudo por conta da magia que é usada em um ser humano, que no caso sou eu.
Caminhar pela escuridão a procura de uma saída não parecia uma opção muito viável, e meu instinto me pedia para ficar onde eu estava, pois, Minho daria um jeito de me encontrar. Confesso que chamei algumas vezes por ele, com medo do próprio ter se perdido na minha mente e estar trancado em alguma memória, porém, mesmo o chamando, minhas tentativas acabam sendo falhas, e aceito que estava trancada naquele breu.
Lembro que dá última vez levei cerca de um dia para acordar, sem saber aonde eu estava, e com os meninos apavorados, pensando que eu tinha morrido. Dessa vez espero que seja diferente, que eu não leve um dia para conseguir sair da armadilha que era minha mente.
- Ai está você... – ouço uma voz, mas não consigo identificar o dono dela e novamente, uma sensação nada boa toma conta do meu corpo, e me sinto amedrontada, era quase como se alguma coisa ruim pudesse acontecer a qualquer momento.
- Minho? – mesmo tendo quase certeza de não ser meu amigo, pergunto. Afinal minha mente pode muito bem distorcer as coisas.
- Não... – a voz soa arrastada demais, e meus pelos da nuca se arrepiam. – Mas talvez eu possa ajudá-la a sair daqui.
- Não, obrigada. – a recusa faz com que um vento leve chegue até mim. – Como isso é possível? – sussurro, tentando entender o motivo de eu estar tendo essas sensações repentinamente dentro da minha mente.
- Que tal eu contar um segredo? – eu não podia ver a pessoa, mas podia senti-la perto de mim.
- Por que não o vejo? Você é apenas a escuridão? – pergunto, confusa.
- Tola. – ouço uma gargalhada. – Não entendeu ainda? – fecho meus olhos e tento manter minha respiração calma. – Sua ligação não deu certo, nesse momento, seus amigos estão aflitos tentando achar uma solução para trazê-la de volta.
- Como? – não tinha como a ligação dar errado, não quando eu estava no breu do meu subconsciente.
- Você pode não ter percebido, mas somos ligados um ao outro. – uma mão fria toca meu braço, e me viro rapidamente para tentar pegar um vislumbre de seu rosto, mas não sou rápida o suficiente.
- Não tem como isso acontecer. – começo a correr e as imagens que vem na minha mente são como um déjà vu. – O que você é? – quando percebo estar sendo perseguida pela voz que falava comigo, corro ainda mais.
- Seu maior pesadelo. – paro de repente, e sinto algo tocando na minha testa.
Quando acordo, eu não estava mais no meu subconsciente.
N/a: Oii meus amores, depois de um longo tempo, estou aqui novamente. Essa atualização demorou mais tempo do que eu imaginei e depois de passar por um bloqueio criativo enorme, que inclusive estou lutando todos os dias para superar, consegui escrever esse capítulo.
Ele era um capítulo que eu podia ter mandando há semanas, mas acabei apagando tudo e escrevendo novamente umas três vezes. Então se puderem me falar o que acharam dele irei agradecer imensamente.