Capítulo Quinze
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Apesar de toda a minha irritação, e do humor do %Minho% não está em um dos seus melhores momentos, esperamos juntos os nossos amigos para que pudéssemos discutir o próximo passo.
Esperar... Essa palavra não fazia parte do meu vocabulário, ou até mesmo do meu dia a dia até eu entrar na academia da Ordem, e mesmo eu sendo uma garota pequena na época, eu tinha esse grande imã para problemas, e me lembro de que adorava me aventurar, principalmente na floresta que ficava na parte de trás da casa da minha avó.
Saber esperar foi algo que custou muito tempo, e muita dedicação da minha parte, pois eu sempre fui uma pessoa que fazia as coisas no impulso, e talvez seja por isso que as lembranças amargas dos meus momentos na academia ficaram tão marcadas no meu subconsciente. Lembro como se fosse ontem... Uma das primeiras lições que recebi ao chegar na academia, era responder qual a principal característica de uma caçada, e para ser bem sincera, recordo que falei sobre capturar a presa,
reprovei. Todos riram de mim naquela ocasião, pois apesar de parecer clara as minhas intenções, minha professora explicou que a mais importante dentre elas era saber esperar.
Depois de um tempo, eu questionei minha tutora sobre isso,
“Por que a principal característica de uma caçada é esperar?”, então, com muita paciência, ela me instruiu que, para uma caçada ser bem sucedida, devemos esperar, devemos ser cautelosos e silenciosos, pois só assim a presa não irá nos sentir, não irá duvidar dos nossos atos. Desse jeito podemos seguir com o próximo passo, que é matá-la de forma bem sucedida. Claro que para tudo sair de maneira perfeita, devemos conhecer o nosso oponente, usar a nossa inteligência e força para podermos capturá-lo, é um conjunto de coisas...
Então vocês devem estar se perguntando:
"Ok. Por que ela está falando sobre isso agora?" Porque ao levar em consideração tudo que a minha tutora ensinou durante meus anos de treinamento, podemos claramente ver que o assassino, além de não agir por impulso, tinha escolhido a dedo suas presas. O que eu precisava saber, no entanto, era se as suas vítimas estavam ligadas umas às outras e se sim, o motivo, porque convenhamos, até hoje entender a mente de um assassino nunca foi fácil, e viver de suposições então?
Muito menos.
- Ainda não acredito que aceitei estar aqui. – eu não esperava que esse contato de %Minho% e %Seungmin% fosse animador, pelo contrário, eu tinha uma leve noção de que eles poderiam se brigar aqui mesmo, porém eu precisava deles, e a única coisa que eu podia fazer era rezar para que ambos se comportassem.
- Se você não está feliz, é só ir embora. – eu podia sentir os pelos da minha nuca ouriçados com as poucas palavras de %Minho%.
- Estou aqui por um motivo, e só por isso estou lindando com a sua cara feia.
A expressão corporal do meu primo estava estranha, quase como se ele pudesse se transformar nesse instante.
- Meninos... – os chamo, com cautela. – Vamos falar sobre o que realmente interessa.
- E o que seria? – %Hyunjin% parecia exausto, as bolsas de seus olhos inchadas, e suas olheiras evidentes.
- Eu sei que todos vocês estão cansados, eu também estou, entretanto existem algumas pontas soltas que deixamos para trás e precisamos corrigir. – eu não estava feliz, e aparentemente nem meus amigos estavam, porém não tínhamos outra escolha a não ser planejarmos e começarmos desde o começo.
- Não deveríamos reunir todo mundo? Tipo, trazer %Jisung% e %Christopher% para essa roda de conversa? – %Echo% gesticula.
- Acredito que esse não seja o momento.
Eu não estava excluindo os meninos, pelo contrário, acredito que envolver %Jisung% e %Christopher% no momento não seja necessário.
Veja bem, além das constantes preocupações que tenho, a lua de sangue é um dos fatores decisivos para eu não chamá-lo aqui, eu precisava que %Christopher% ficasse longe de confusão por alguns dias, pois com a lua de sangue se aproximando, a tendência de seus sentidos ficarem confusos e perigosos seria inevitável, porém a falta de controle era um fator decisivo para acabar com a vida dele pelos próximos anos. Eu sabia muito bem, depois de tanto estudar, que a lua de sangue afetava muito o metabolismo de um lobo, e que eles ficavam completamente irreconhecíveis. Vi de longe o que um lobo bom pode fazer durante a sua falta de controle em uma lua de sangue, e meu maior medo era de %Christopher% cometer uma loucura nessas poucas horas, e que isso pudesse ficar marcado eternamente em sua mente.
Enquanto a %Jisung%, bom... Ele era uma incógnita para mim, porém era uma incógnita que eu queria manter sã e salvo. Ele tinha passado por tanta coisa nas últimas semanas que dar um descanso não só para ele, mas como para %Chan%, era mais do que necessário, por isso minha primeira ação nessa reunião era não chamá-los.
A parte da floresta que estamos é silenciosa, silenciosa demais. E eu começo a ficar um pouco mais atenta com as coisas ao meu redor. O ar gélido da neblina que insistia em aparecer também me dá calafrios, porém acabo não me pronunciando para o restante do grupo, na esperança de que eles pudessem perceber sozinhos, afinal, tínhamos três pessoas do submundo aqui. Eu ando de um lado para o outro, escolhendo com cuidado as palavras que iria usar para contar para os meus amigos que deveríamos começar a nossa investigação do zero novamente. Quando paro de andar, percebo que tenho quatro pessoas me encarando sem entender absolutamente nada, e é meu primo quem resolve quebrar o clima tenso que estava entre nós, ao perguntar o real motivo de eu ter chamado todo mundo para vir até aqui.
- Como todos aqui já sabem, achamos um corpo no escritório do prefeito, e querendo ou não, ele é um caçador. – tento ao máximo não parecer insensível com a questão da morte da garota, ainda mais com meu primo conhecendo ela, porém era inevitável eu agir sem um centelho de frieza enquanto falo.
- Então eu devo matá-lo? – observo %Seungmin% prensar seus lábios.
Queria entender a dor que meu primo estava passando, mas é um pouco difícil para mim, ainda mais não tendo nenhuma ligação com a garota. Eu sempre procurei lidar com frieza na maioria do tempo, porque era algo necessário na vida de um caçador, mas não nego ao falar sobre os sentimentos de incapacidade no passado, quando perdi companheiros. Geralmente tento manter essas emoções trancadas no fundo da minha mente, pois em momentos como esse, em meio a uma caçada, o desespero pode tomar conta e no fim da noite você ser a pessoa morta.
Apesar de tentar entender meu primo, fico em choque com o cenário que nos encontrávamos no momento. %Seungmin% tinha as mãos fechadas em punhos, tentando ao máximo controlar seus sentimentos, e a surpresa toma conta dos meus olhos. Ele não era assim, e eu não podia deixar que seus sentimentos tomassem conta do seu corpo em um momento como esse, não quando ele podia simplesmente dar de costas e ir atrás do prefeito.
Para algumas pessoas, lidar com mortes e eventos trágicos era muito difícil, e levava muito tempo para aceitar os acontecimentos, algo que é totalmente diferente para mim, pois há muito tempo aprendi a lidar com essas situações de maneira fria para que nada pudesse atormentar a minha mente eternamente.
Claro que eu tinha muitas coisas para falar ainda, e eu não podia dar certeza sobre ele ser um assassino, apesar de ser um caçador. Eu não tinha escolha, assim como as pessoas que estavam aqui hoje, porém eu tinha duas opções: a primeira seria a hipótese do prefeito realmente ser o assassino, ao menos dessa garota, e querer iniciar uma guerra entre a Ordem e o submundo, ou, em uma última hipótese, ele seria inocente.
- Não sabemos ao certo se ele a matou... É somente uma suposição... – pela segunda vez em questão de segundos, ao pegar os olhos de %Seungmin% em mim, me sinto desconfortável.
- Então você me fez vir aqui, depois da morte de uma amiga querida, para falar sobre suposições? – meu primo parecia irritado e eu fecho meus olhos ao ver %Minho% se aproximando de %Seungmin% sem hesitar.
%Hyunjin% me encara, perguntando silenciosamente se ele deveria fazer alguma coisa por conta da aproximação de %Minho% e eu aceno negativamente com a cabeça. Apesar de parecer perigoso, %Minho% não faria nada contra meu primo, no mínimo ele tinha se aproximado para que %Seungmin% soubesse que ele estava de olho nele, e ao ver expressão do meu melhor amigo, era isso mesmo que ele estava fazendo.
- Precisamos falar sobre isso, ele realmente pode ser um assassino, mas ele seria o assassino que estamos atrás? – questiono todo mundo.
- Independente de ele ser ou não, é nosso dever punir ele. – meu primo estava mais aborrecido do que o normal. – Nós do submundo sabemos como a Ordem funciona, e se mesmo ele estando aposentando, ele caçar, a Ordem irá fazer questão de esconder isso de todos. – solto um suspiro.
- Você tem razão... – começo a falar. – Porém devemos investigar com cuidado, a Ordem é esperta, eles estão por todos os lados nessa cidade, se você der um passo em falso, será sua morte. – eu tinha ficado realmente surpresa em encontrar tantos caçadores aposentados nessa cidade depois de invadir a base de dados da Ordem, porém, as incertezas constantes estavam me incomodando, pois em nenhum momento foi definido quem era o assassino, o que ele era realmente, tudo foi apenas suposições da minha parte e dos outros.
No começo eu tinha certeza de que Eleanor poderia realmente ser a verdadeira culpada das mortes que estavam acontecendo, porém essa nova pista sobre o prefeito e termos encontrado um corpo em seu escritório me deixou muito confusa e mudou tudo. Era quase como se a pessoa que estivesse movendo as peças desse jogo de xadrez estivesse prestes a dar seu xeque-mate, e nós, que estamos tentando acabar com tudo isso, prestes a sermos eliminados.
- Então o que você sugere? – %Echo% me pergunta depois de um longo silêncio.
- Realmente passou pela minha cabeça que podemos estar lidando com um transmorfo... – minha voz vai sumindo conforme termino de falar.
- Você... Você tem certeza? – se para mim já estava sendo difícil de acreditar que pudéssemos estar lidando com um transformo, imagina para %Hyunjin%, que teve grandes problemas com um.
Por muito tempo eu ouvi histórias sobre transmorfos, tanto no submundo, como na Ordem, e tudo o que eu ouvi nesses anos foi muito assustador, pois não temos um norte, não sabemos se estamos lidando com nossos amigos, nossos familiares, ou se estamos, no fim, lidando com um transmorfo.
Detectar um transmorfo é muito difícil, e isso se dá pelo fato de a Ordem ter matado muitos deles quando minha avó sucedeu ao cargo de diretora. É claro que muitos conseguiram fugir, e até então estavam quietos, sem nenhuma movimentação aparente.
- Acredito que o que %Faith% esteja dizendo é verdade. – %Minho% se pronuncia depois de um tempo.
- Isso que dizer que, se estamos lidando com um transmorfo, estamos trabalhando de olhos vendados. – faço que sim com a cabeça.
- Estamos perdidos. – é a vez do meu primo se pronunciar.
- Acho que iremos precisar de reforços... – meus olhos caem diretamente em %Hyunjin%. – Você consegue trazer %Felix% com você? – pergunto.
- Por que você e eu não vamos até ele?
- Assim? Tão de repente? – fico surpresa com sua proposta. – Acha que ele não irá se incomodar se eu invadir seu reino? – pergunto.
- Não é invasão se você estiver visitando seu amigo. – sorrio com sua resposta.
- Vamos agora? – eu não me importava muito com o horário.
- Você realmente quer ir até ele? – %Hyunjin% me questiona novamente.
- Abra o portal, desse jeito eu posso conversar com ele pessoalmente. – eu sabia que ficar abrindo portais exigia muito da energia de %Hyunjin%, porém, se %Felix% permitisse, poderíamos ficar no seu reino por uma noite.
- Vocês irão junto? – ele olha para nossos amigos.
- Por que não? Você sabe que eu adoro viajar dessa maneira. – %Echo% corre e para ao lado de %Hyunjin% e enlaça seus braços nele.
- Mais alguém? – ele pergunta.
- Todos nos iremos. – %Minho% puxa %Seungmin% pela mão e eu arregalo meus olhos com essa atitude.
Não demora muito para %Hyunjin% abrir o portal que nos levaria para o reino de %Felix% e, como sempre, ele não decepcionou. O ritual para a abertura do portal era intenso e cheio de palavras em uma língua totalmente desconhecida para mim. Ao fechar os olhos, sinto toda a energia fluindo ao nosso redor e acabo me segurando com mais força em %Minho%, pois, para humanos como eu e %Echo%, a energia que fluía era muito forte, e se não tomássemos cuidado, iriamos acabar sendo levadas para fora do círculo.
Apesar de se tratar de um portal, nem sempre o caminho seguido nele é fácil, e aparentemente ao caminhar para dentro dele eu sinto isso. Não sei bem se é pelo fato de irmos para um lugar totalmente distante, habitado apenas por fadas e algumas raposas, ou porque minha energia não esteja completa, porém, o que posso dizer nesse momento, é que à medida que vamos nos aproximando do final do portal para chegarmos às terras das fadas, eu vou me sentindo mais fadigada e com um leve aperto no peito.
- Estão todos bem? – é a primeira coisa que ouço %Hyunjin% falar, no entanto, eu estava longe de estar bem. Meu estômago doía, meus ouvidos estavam entupidos, e parecia que minhas pernas estavam bambas demais, então eu estava o oposto de bem no momento.
- Acho que eu preciso de um minuto para me recompor. – me agacho e fico assim por alguns minutos.
Eu precisava organizar minha mente e tomar controle do meu corpo novamente, porém, ao encarar a paisagem na minha frente, fico sem fôlego.
Sendo bem realista, eu nunca estive aqui. Eu sabia sobre o reino das fadas apenas pelo que %Hyunjin% e %Minho% contavam, ou até mesmo pelo que %Felix% me contou, porém, estar presencialmente aqui nunca ocorreu de fato, e agora eu estava chocada com a imensidão que o reino dele tinha.
O lugar não era como eu pensava, longe disso. Era melhor.
Muito melhor. O reino também não tinha nada haver com o que víamos nos contos de fadas, pelo contrário, era um local comum, com casas comuns e com pessoas passeando por lá normalmente.
Claro que eu não podia ver muito da onde estávamos, afinal, %Hyunjin% escolheu um lugar mais afastado para abrir seu portal, não que isso fosse impedir deles saberem que estávamos aqui, até porque fadas são muito perceptíveis, e eu tenho quase certeza de que nesse momento, %Felix% já estava sabendo sobre os intrusos em seu reino.
- Já se recompôs? Ou precisa de mais algum tempo? – %Minho% se agacha ao meu lado para conferir se eu estava bem.
- Acho que podemos ir. – ofereço um sorriso para ele, mesmo sabendo que eu não estava completamente bem.
Na realidade, essa não era a minha primeira vez utilizando um portal, e fiquei surpresa ao sentir os efeitos colaterais de estar nele. Minha respiração ainda estava entrecortada, e apesar de falar para %Minho% que eu podia continuar, eu menti.
Minhas pernas ainda estavam um pouco bambas quando me apoio em %Minho%, e sinto uma leve tontura. Eu sabia que ele não estava tendo nenhum esforço para me manter em pé, mas mesmo assim eu o agradeço silenciosamente por sempre estar cuidando tão bem de mim.
O caminho que estávamos seguindo não era fácil, e eu tinha que tomar muito cuidado para não tropeçar em uma pedra e machucar meu pé. A atenção nesse momento era fundamental e apesar de me sentir um pouco lenta, minha mente estava a todo vapor.
Claro que, mesmo diante a tanta dificuldade, eu não podia deixar de contemplar a paisagem do pequeno vale das fadas, que apesar de ter casas comuns, continuava encantador.
- Quem são vocês, e o que vocês fazem aqui? – ouço uma voz irritada romper a escuridão da noite e paro de andar imediatamente quando somos cercados por fadas vestidas em armaduras e apontando espadas em nossa direção.
- Somos amigos de %Felix%. – %Hyunjin% ergue as mãos e fala com a maior calma do mundo.
Era estranho estar em uma posição como essa. Geralmente eu era a pessoa que abordava os outros, e não o contrário.
- %Hyunjin%? – %Felix% sai por detrás dos seus guardas.
Antes que ele pudesse falar alguma coisa para %Hyunjin%, me afasto de %Minho% e começo a falar, pois a última coisa que eu queria, era que %Felix% e %Hyunjin% brigassem.
- Fui eu quem pedi para ele me trazer aqui imediatamente.
- O que aconteceu com você? – %Felix% me encara da cabeça aos pés e solta alguns resmungos em sua língua de fada.
- Talvez a travessia tenha sido um pouco difícil dessa vez. – eu ainda podia sentir minha energia sendo drenada.
- É porque você não foi feita para esse mundo. – ele continua resmungando.
- Bom... – olho para trás, apenas para ver %Echo% na mesma situação que eu. – Talvez você tenha razão. – sorrio.
- Isso não é bom. – %Felix% fala algumas coisas para os seus guardas e logo inclina a cabeça para seguirmos ele.
Não tenho como negar, a descida foi muito difícil para mim, e parecia que minha respiração ficava pior a cada minuto. E eu tenho que admitir, nenhum treinamento foi o suficiente para eu aguentar toda a dor que estava sentindo no momento. E acredito que %Minho% sabia que eu estava tendo dificuldades, pois ele me pegou no colo e continuou me carregando até chegarmos à casa de %Felix%.
Ao ter a primeira visão da casa dele, fico surpresa, lembro que eu imaginei mil coisas sobre seu estilo de vida, ainda mais para um príncipe, porém, para a minha surpresa, %Felix% vivia em uma casa relativamente grande, mas não em um castelo.
- Eu gostaria de saber o que seria tão importante que fez vocês virem até aqui sem avisar. – a primeira oportunidade que tem, %Felix% olha diretamente para mim e me questiona.
- O assunto realmente é urgente. – solto um suspiro ao me sentar no sofá.
- Pode começar a me contar sobre esse assunto agorinha, a comida logo será servida, então aguente mais um pouco. - ao mencionar comida, meu estômago automaticamente ronca.
- Acredito que os meninos já devem ter passado para você sobre os recentes acontecimentos. Certo? – pergunto na esperança de não ter que falar sobre os últimos acontecimentos.
- Sim. – com o canto dos olhos observo uma movimentação constante das pessoas que trabalhavam para %Felix%, organizando tudo na sala ao lado, porém não me deixo prender por isso e volto minha atenção para o assunto que realmente importava.
- Ótimo... Então, para resumir tudo, acredito que estamos lidando com um transmorfo. – despejo tudo em cima dele, sem avisos.
- Um transmorfo? – %Felix% não parecia muito feliz com as minhas palavras.
- %Faith% tem razão... – eu não tinha ouvido meu primo soltar um piu durante todo o trajeto que fizemos, e ao falar, ele acaba chamando a atenção de %Felix%.
- E quem seria você? – ele olha diretamente para o meu primo.
- %Seungmin%, um lobo e primo de %Faith%. – %Seungmin% me surpreende ao se apresentar para %Felix% de uma maneira leve e descontraída.
- Interessante... – meu amigo parecia estar avaliando %Seungmin% atentamente. – Depois voltamos para as apresentações. – ouço uma risada de %Felix%. – E você... – ele aponta para mim. – O que a leva crer que estamos lidando com um transmorfo? – me pergunta.
- Na minha vida, eu nunca demorei tanto para solucionar um caso. – começo a explicar. – E apesar de algumas mortes serem similares, as últimas acabaram não sendo. Admito que depois de estudar, observei que o padrão utilizado pelo assassino estava diferente. Eu tive acesso às fotos do primeiro corpo que foi encontrado, e os ferimentos que a pessoa apresentava eram completamente diferentes dos dois últimos corpos achados. O primeiro tinha ferimentos que poderiam muito bem ter sido causado por humanos, porém os últimos apresentavam ferimentos que poderiam ser causados por um lobo, assim como por um vampiro.
- Por isso um transmorfo? – %Felix% me questiona.
- Levei muito tempo para pensar nisso, e me sinto um pouco idiota por esse não ter sido meu primeiro pensamento. – eu ainda me sentia irritada comigo mesma por todo o furo que não solucionei.
- Até eu não iria imaginar que a pessoa poderia ser um transmorfo. – %Echo% parecia estar um pouco melhor do que eu no momento. – Todos nós sabemos que eles foram praticamente extintos na guerra contra a Ordem e que talvez esse tenha sido o único momento de união que tivemos dos nossos povos. – ela faz aspas no ar.
- Você está certa, porém o que me deixa intrigado é como deixamos um transformo passar despercebido. – %Felix% parecia pensativo.
- Eu não estava na cidade quando os assassinatos aconteceram, porém minha avó acreditava ser obra de uma raposa. – faço uma careta ao ouvir as palavras do meu primo, e tento puxar na minha mente algum momento que minha avó pudesse ter falado sobre isso, e falho miseravelmente.
- Raposas são traiçoeiras, porém elas não seriam burras o suficiente para matar daquele jeito. – %Felix% tinha razão e o encaro pela primeira vez, acreditando em suas palavras.
Infelizmente, raposas tinham uma reputação de serem traiçoeiras, e por esse motivo ninguém costumava acreditar nelas, contudo, de todos os seres sobrenaturais que eu conheci, nunca precisei matar uma raposa.
- Mas elas não costumam matar humanos. – %Minho% faz uma observação. – Até aonde eu me lembro, as raposas estão tentando ser mais pacíficas. – elas eram um povo mais selvagem e poucos interagiam com os humanos.
- Elas são um pouco traiçoeiras. – %Seungmin% resmunga.
- Acho que elas são incompreendidas. – a voz de %Echo% soa no ambiente.
Não é de hoje que lobos e raposas não se dão muito bem. Normalmente por ser um porte menor do que os lobos, as raposas se mantêm afastadas, e não é novidade para ninguém que suas presas são pequenos roedores. Enquanto as raposas vivem em um número pequeno, os lobos vivem em matilhas e são caçadores excelentes.
- Então vamos supor que estamos lidando com um transmorfo? O que vocês pretendem fazer? – %Felix% pergunta.
- É ai que você entra. – eu já estava começando a me sentir bem melhor.
- O que eu poderia fazer? – ele me encara um pouco desconfiado.
- Temos duas opções – ergo o meu dedo indicador para cima e faço a contagem – Você e %Hyunjin% poderiam tentar localizar o transmorfo, ou... – levanto meu dedo médio para cima. – Podemos tentar entrar na minha mente, e assim talvez eu possa ver a imagem da pessoa que me feriu na floresta naquele dia. – eu não sabia ao certo se ele iria compactuar com a minha ideia, não depois de eu quase ter ficado trancada na minha própria mente por conta de um erro meu.
- Não acho a sua segunda opção uma boa ideia. – resmungo ao ouvir suas palavras.
- Eu também não acho, porém talvez essa seja a nossa única escolha. – %Minho% que estava ao meu lado olha diretamente para %Hyunjin%. – Não me olhe assim, %Minho%, eu também não acho seguro ela fazer isso, entretanto, não temos escolha, e se o transmorfo tiver um bruxo ao seu lado...
Meu amigo não termina suas palavras, não era necessário. Todos nós sabíamos o que acontecia se um transmorfo tivesse um bruxo ao seu lado. E isso era o que me deixava ainda mais incomodada, pois nem %Hyunjin% e muito menos %Felix% poderiam nos ajudar, a não ser se acessassem minha mente.
- Eu realmente não tenho medo das consequências, e sei que se eu tiver vocês dois para me guiar durante o processo de memória, eu voltarei. – explico.
O caminho para uma fada e um bruxo entrar na sua mente nunca foi fácil, e arrisco dizer que era um pouco doloroso, porém era algo que eu devia fazer naquele momento, independente da dor que sentisse, pois se tratava das minhas memórias, e elas sempre foram importantes para mim.
Não tinha sido tão ruim na última vez que fizemos isso, porém foi o necessário para atormentar os pensamentos dos meninos por dias. Eu ainda me lembro como se fosse ontem, eu estava desesperada para recuperar as memórias que eu mesma apaguei quando utilizei o pó da amnésia, que pedi para eles fazerem a ligação comigo novamente, porém, diferente do que eu havia imaginado, tudo começou a dar errado no momento em que me perdi nas minhas próprias lembranças e quase que os meninos não conseguiram me trazer de volta.
- É isso que me dá mais medo... Você não ter medo é um problema, e todos nós sabemos disso. – o encaro por alguns minutos e pondero sobre suas palavras.
Era visível que eu não tivesse medo de determinadas coisas, até porque eu tinha sido criada para não temer absolutamente nada.
- Sei que parece desconfortável para vocês, mas já vimos essa história antes. – me refiro ao transformo. – E não podemos deixar que ele continue agindo dessa forma. – eu tinha medo do que poderia acontecer com as pessoas que eu amava se o transmorfo realmente estivesse trabalhando com um bruxo.
- Vocês acham que conseguem localizar o transmorfo? – %Echo% pergunta.
- Talvez? – %Felix% parecia um pouco indeciso.
- O que você precisa para localizá-lo? – eu não me lembrava de como bruxos e fadas costumavam localizar as pessoas.
- Precisamos de sangue humano. – solto uma risada de repente.
- Isso nós temos em abundância. – aponto para %Echo% e eu. – Quando podemos fazer?
Talvez pudesse parecer um pouco insensível da minha parte, porém eu contava com os meninos para pegar o transmorfo; e perder tempo não era algo que eu realmente esperava.
- Descanse, amanhã podemos fazer isso. – %Felix% dá a palavra final.
Suas palavras batem nos meus ouvidos, e dou o meu melhor para não retrucar. Queria pedir para que não fizéssemos rodeios e fossemos adiante para tentar localizar o transformo, porém %Felix% tinha razão em me pedir para descansar, afinal, eu podia sentir minha energia se esvaindo aos poucos. Nunca pensei que estar em um lugar do submundo pudesse me prejudicar de alguma maneira, mas fico surpresa em ver o que estava acontecendo com o meu corpo ao entrar em contato com o mundo das fadas e me sinto triste por isso, pois essa era uma oportunidade única para ver de perto um lugar tão rico e infelizmente eu não tinha a chance de aproveitar esse momento, e mesmo parecendo um pouco controverso da minha parte, eu queria dar uma voltar por ai e explorar o mundo das fadas, mesmo que rapidamente.
Depois que comemos, %Felix% me leva para um dos quartos e fecha a porta, me deixando sozinha novamente. A casa era imensa, e por um momento me pergunto se %Felix% não tinha pedido para %Hyunjin% utilizar um feitiço para aumentar o tamanho do local, pois o lugar era inacreditável e era quase impossível andar por ali e não se perder.
Percebendo que eu não tinha muito que fazer, eu vou diretamente para a cama e me jogo ali, um pouco irritada e sensível.
Mesmo depois de comer, muito mais do que o normal, tenho que admitir, meu humor ainda não estava num dos melhores momentos, e quando eu ficava irritada, era nítido que ninguém deveria mexer comigo, por isso eu fecho meus olhos e me forço a dormir, mesmo sabendo que não seria uma noite fácil, e querem saber por quê? Bem, porque eu não consigo dormir muito bem em lugares estranhos, tudo culpa da minha mente, que fica ligada demais e que acaba atrapalhando o pouco tempo que tenho para ter um bom sono.
N/A: Olá meus amores, tudo bem? Essa atualização demorou mais do que o normal para sair, e um dos motivos foi eu ter tido um bloqueio criativo enorme que só consegui superar algumas semanas atrás. Espero que vocês gostem dessa atualização e em breve estarei mandando o próximo capitulo.