Capítulo 15 • O Passado Volta — Parte I
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O sol começava a despontar no horizonte, tingindo o céu de um laranja suave, quando Asdina, uma jovem lavradora, já estava de pé, preparando-se para enfrentar mais um dia de trabalho. Suas mãos, calejadas pelo esforço, eram testemunhas de um esforço diário que ia além do simples cultivo da terra. Ela tinha uma conexão especial com aquele solo, uma relação quase sagrada. Ao seu redor, os campos se estendiam, promissores, esperando para serem lapidados por sua dedicação.
Enquanto Asdina arava a terra, perdida em seus pensamentos, ouvia o canto dos pássaros que começavam a cantarolar sobre a beleza do novo dia. As flores silvestres dançavam ao vento, assim como seus sonhos de um futuro próspero. A jovem sempre teve fé de que as dificuldades que enfrentava seriam recompensadas com abundância e amor.
— Asdina! — chamou uma voz profunda, interrompendo seus devaneios. Era %Enoque%, um homem de presença marcante e olhar sereno, que andava com Deus. Ouvira falar da beleza e da força daquela mulher, mas vê-la em ação era algo que ele não esperava.
— Bom dia, %Enoque%! — respondeu Asdina, um sorriso tímido brotando em seu rosto. — Veio me visitar ou tem negócios a tratar por aqui?
— A visita é apenas para admirá-la, se me permite — disse %Enoque%, aproximando-se. Ele observou a jovem com um olhar que misturava respeito e admiração. — Você é um verdadeiro milagre da natureza, Asdina. O que faz aqui é digno de aplausos.
Asdina riu, um som suave e musical.
— Não sou mais que uma simples lavradora. Apenas faço o que preciso para alimentar minha família.
%Enoque%, agora mais próximo, pôde ver a beleza que emanava dela, não apenas pelo seu aspecto físico, mas pela força que irradiava. Ele se sentia atraído, não apenas por sua beleza, mas pela sabedoria que emanava de suas palavras.
— A simplicidade é uma dádiva, e aqueles que a possuem são ricos em sabedoria — respondeu %Enoque%, com um brilho nos olhos. — Que tal trabalharmos juntos hoje? Posso ajudar com o arado.
Asdina hesitou, mas logo aceitou.
— Claro! Só não se esqueça de que o trabalho é pesado.
As horas passaram rápido, com risos e conversas que flutuavam entre eles como as nuvens no céu. %Enoque% a ajudava a lavrar a terra, e entre o movimento do arado, eles trocavam histórias de vida, cada um revelando mais sobre si mesmo.
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— Se a vida fosse como as areias do mar, se pudéssemos contar como nos sentimos, cada estrela teria uma constelação.
— Oh, Deus, por que meu irmão, %Matusalém% despreza-me? Acaso sou eu tão inferior quanto meu pai %Enoque% — se perguntou %Baraka% entre lágrimas. — Ou tão descuidada quanto os filhos de Caim? E por que justo ele, sendo que já fomos próximos? — dizia %Baraka% sentindo o suor da chuva sobrevir a ela.
Sinais de ventos começaram a vir, e aos poucos %Baraka% sentiu-se ouvida.
Quem vê meu valor
Nesse mundo quem eu sou
Desde cedo aprendi
A me virar
Quem vem me proteger
Me escutar me defender
São respostas que eu cansei de esperar
Os meus pés vão me levar
Vou encontrar o meu
Lugar
Vai ser do meu jeito
Certo ou imperfeito
Vou seguir
Vou partir
Quem vem comigo?
— Por que está triste, %Baraka%? — perguntou %Nâmus%. — É %Matusalém% de novo?
— Ele é complicado — disse %Baraka%.
— Eu entendo, ele acha que o direito de ser mais velho e mais protetor é dele — disse %Nâmus%.
— Não é bem assim, mas pode ser — confessou %Baraka%.
— No fundo ele se importa com você — disse %Nâmus%.
— Se ele realmente se importasse, não me desprezaria — disse %Baraka%.
Pois é, %Baraka%, às vezes Deus tem isso. Às vezes nos sentimos fora da casinha quando somos deixados de lado. Na realidade, o que você busca não é amor nem aceitação, pois já passou dessa fase. Você busca um sentimento complexo que ainda não descobriu, mas vai descobrir em breve.
Enquanto %Baraka% começava a sofrer com o desprezo do próprio irmão, o mesmo, %Matusalém%, vivia sua adolescência com o cargo de ser responsável por sua família pelo seu pai %Enoque%.
E essa é a história de %Matusalém%. Ele era justo e temente a Deus, sim era, mas também era um ser humano, com suas próprias formas de pensar... E às vezes sua forma de pensar não era a mesma dos humanos à sua volta, ele era justo, não perfeito! Bom, mas não capaz de lidar com as inseguranças que tinha por ser um dos primogênitos de %Enoque%.
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— O Senhor é meu pastor e nada me faltará — disse %Matusalém% para si mesmo, enquanto passeava, ainda jovem, pelas ruas da cidade onde morava com a família. Observou uma jovem orando, ela era bonita, mas ele não sabia se devia falar com ela.
E assim, a história começa a avançar para a primeira parte da segunda etapa...