Capitulo 14 • Como Tudo Realmente Começou
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No alto das colinas que se erguem como sentinelas silenciosas na terra de Elda, residia %Enoque%, homem de fé reta e voz suave, e sua esposa Asdina (a quem os antigos chamavam Azura ou %Edna%), guardiã dos poucos pergaminhos que ainda conservavam a sabedoria dos velhos patriarcas. Ali, entre ventos frios e pastos verdes, viviam também seus dois filhos: %Nâmus%, agora com onze anos, retraído e cuidadoso, e o recém-nascido %Matusalém%, que anunciara seu pranto forte no horizonte de uma aurora lívida.
Desde os primeiros passos da humanidade, as lendas ecoavam nos rochedos daquela montanha. Contava-se que os ancestrais Adão e Eva tinham sido os primeiros a quebrar o juramento divino e a entrar no pecado. Mais tarde, o sangue de Abel tingira a terra quando Caim, tomado pelo ciúme, o derrubou com brutalidade. Enquanto os devotos descendentes de Sete se erguiam buscando a face do Criador, o clã de Caim entregava-se a festas blasfemas e à adoração de demônios nas vielas escuras das cidades baixas. Aqui, nas colinas, morava uma linhagem pura: a de %Enoque%, descendente de Sete, e de Asdina, nascida de uma estirpe que jamais profanara seu altar.
Da união de %Enoque% e Asdina nascera, primeiro, o sereno %Nâmus%. Observador nato, ele preferia a leitura dos rolos sagrados às travessuras dos primos. Quando o menino completou onze invernos, encontrou no alto de uma sebe um pergaminho antigo, escrito em caracteres que mal podia decifrar. E foi nesse dia que, entre suspiros de um vento carregado de promessas, sua mãe anunciou à aldeia: “Nasceu o nosso segundo filho, %Matusalém%”.
%Nâmus% — em sua quietude habitual — aproximou-se da pequena cabana de madeira onde chorava o novo irmão. A luz trêmula de um lampião realçava o rosto enrugado de Asdina, exausta, mas radiante. E ali, ao pé da cama forrada de peles e ervas recolhidas, %Nâmus% se ajoelhou:
— Bem-vindo, meu irmão — sussurrou, estendendo a mão fraterna.
%Matusalém%, ainda envolto em panos, abriu o rosto para a brisa temperada, e um soluço breve soou como nota de tambor.
— Nasceu — disse %Enoque%, com um brilho nos olhos semelhante ao de um profeta.
Horas depois, reunidos no pátio de pedra, pai e filhos contemplavam o céu tingido de rubro. %Nâmus% apontou para uma estrela que surgia antes do alvorecer:
— Ela está mais clara do que nunca, pai. Há algo além das sombras correndo por estas montanhas?
%Enoque% colocou a mão sobre o ombro do primogênito:
— Nosso povo vigia e ora, meu filho. Enquanto houver fé, as trevas não prevalecerão. Mas é verdade: ao longe, parece brotar fumaça escura. Talvez seja uma caravana de mercadores… ou algo mais sinistro.
Nesse instante, %Matusalém%, agora com um ano de idade, soltou um riso vibrante, um contraponto à serenidade do irmão:
— Mercadores! Vão reclamar do frio e pedir vinho quente. Pode deixar —brincou, piscando um olho para %Nâmus%. — Que tal oferecerem um pouco do pão de Asdina?
O tom impetuoso e cativante do bebê arrancou risadas dos presentes, e %Nâmus%, pela primeira vez, permitiu que um sorriso se instalasse em seus lábios. Ao lado da mãe, ele acariciou o que sobrara do pão fresco e guiou o irmão para longe do tumulto:
— Venha cá, %Matusalém%, vou te mostrar onde as ovelhas descansam.
Guiado pelo toque gentil do irmão, o garotinho descobriu o pasto coberto de brumas. Ao primeiro chocalhar de sinos curiosos, o recém-chegado respondeu com um balbucio que lembrava notas de cantiga. %Nâmus%, admirado, pensou que jamais ouvira melodia tão pura.
Mais tarde, na clareira onde erguiam o antigo altar de pedra — uma laje circular cravejada de inscrições em honra a Sete —, %Enoque% acendeu um fogo brando. Em volta, acenderam-se tochas, e homens e mulheres de semblante austero juntaram-se em círculo. Cantaram hinos ancestrais, elevaram preces pelos filhos e vindouras colheitas. Foi o primeiro rito público em que %Matusalém% participou, nos braços firmes da mãe, e %Enoque% dedicou ao mais jovem um voto de gratidão:
— Ó Senhor, que sustentaste meus passos desde o Éden, concede a este teu servo graça e lonjura de dias, para honrar teu nome entre as montanhas e além delas.
Quando o cântico final ecoou pelas rochas, o ar parecia mais leve, como se o próprio sopro divino houvesse descido até ali. %Nâmus%, contemplando as brasas que se apagavam, murmurou:
— Irmão, sinto que nossa jornada está apenas começando. Algo me diz que não seremos apenas pastores, mas guardiões de uma promessa antiga.
%Matusalém%, já bocejando de sono, encostou a cabecinha no ombro do irmão:
— E quem sabe, Nam, o mundo lá embaixo precise também de um pouco do nosso riso.
Sob aquele céu pontilhado de estrelas antigas, duas crianças adormeceram — uma certa, outra inquieta —, sem saber que, em breve, seriam convocadas para enfrentar as sombras que se erguiam ao sul, nos domínios dos descendentes de Caim. Mas naquele instante, apenas o calor dos corpos reunidos e o perfume de pinho queimado consolavam as incertezas que rondavam a terra de Elda.
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E essa é a historia de Nam, também chamado de %Nâmus%, e %Matusalém%. Ambos foram chamados e escolhidos, mas apenas um seria profeta e sábio e as escolhas mudariam tudo... Eu vi como eles nasceram e cresceram. Enquanto %Nâmus% tinha um jeito tímido e reservado, quieto e um pouco com uma pose arrogante, ou até mesmo um pouco explosivo e conselheiro, %Matusalém% era um garoto sorridente, divertido, que causava charme natural, e risadas alegres onde passavam. Enquanto %Matusalém% recebia presentes e era elogiado, %Nâmus% também era, mas era mais desprezado. E assim nasceu outra filha a %Enoque% e Asdinah. Melca. E depois de Melca, nasceu Barakil. E os dias e meses se passavam, enquanto %Matusalém% era brincalhão e carismático, mas com uma fé insaciável, Nam ou %Nâmus% era mais retraído e reservado.
— Por que você é diferente, %Nâmus%? — perguntou certo dia o pequeno %Matusalém% ao irmão. — Você parece muito quieto. Quase nem dá para notar que é da família — disse com certo desprezo.
— %Matusalém%... — reclamou %Nâmus% sem conseguir pronunciar uma palavra.
Foi ali que %Nâmus% percebeu, era a ovelha negra da família.
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“E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, ² Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram.”
Gênesis 6:2
— Vem, %Nâmus%, vamos brincar — disse %Matusalém%, agora com cinco anos, tentando subir em árvore.
— Não, não vou subir aí — disse %Nâmus%.
O que nenhum dos dois irmãos sabia era que as suas aventuras mal haviam começado...
E viveu %Enoque% sessenta e cinco anos e gerou a %Matusalém%, e %Enoque% andou com Deus depois de ter gerado a %Matusalém%, e serviu ao Senhor, e desprezava os maus caminhos dos homens. E a alma de %Enoque% foi envolvida na instrução do Senhor, no conhecimento e na compreensão, e ele sabiamente se afastou entre os filhos dos homens, e escondia-se deles por muitos dias. E estas são as gerações de %Enoque%, %Nâmus%, %Matusalém%, e Yardukill, três filhos; e suas irmãs eram Melca, Barakill e %Mahmah%.
— Pai, pode me contar mais sobre nossos antepassados? — pediu %Matusalém%, ainda criança, certo dia.
— Claro, quando Deus criou os anjos, criou também Adão e Eva, a sua imagem e semelhança os criou e também criou os anjos. Mas Adão e Eva começaram a pecar contra o Senhor que os criou — disse %Enoque%, começando a contar a história para o filho.
E naquele tempo os filhos dos homens semearam a terra, e pouco de alimento foi produzido, mas ainda assim os filhos dos homens não se converteram dos seus maus caminhos, e eles se rebelaram contra Deus. E cada homem fez para si um Deus e se inclinou a eles. Naqueles dias, Caim, o filho de Adão, morreu e disse Lamech, o descendente de Caim, a suas esposas, Ada e Zilá:
— Matei um homem por me atacar e uma criança por testemunhar, se Caim foi castigado sete vezes eu serei setenta vezes sete. — E assim, a maldade começou a existir no mundo.
Conforme %Matusalém% crescia, %Enoque% se tornou importante perante os filhos dos homens. E %Enoque% começou a andar com Deus, e a converter a alma dos filhos dos homens. E Deus estava com %Enoque% e sua família. E naqueles dias, os filhos dos homens fizeram deuses para si e se inclinaram a eles e saquearam e roubaram uns aos outros, assim praticando a maldade. E conforme semeavam a terra, apenas agrolho se tinha. Pois eles eram maus. Mas %Enoque% ensinava seus filhos a andar com Deus. E %Enoque% andou com Deus e o buscou em todos os seus caminhos.
— E este é o motivo pelo qual escolhi %Matusalém% — disse Deus.
Entre muitos chamados, poucos foram escolhidos. %Matusalém% apesar de seu jeito brincalhão, era uma criança justa. Perfeita em toda sua geração. Nunca se esquecendo do Deus que o criou na terra.
— Aqui, %Matusalém% — disse Melca enquanto brincava com os irmãos no acampamento da terra de Canaã.
— O que você achou? — perguntou o pequeno Eliaquim.
— Achei um baú, parece cheio de coisas antigas — disse Melca.
— O que está escrito nele? — perguntou %Mahmah% curiosa.
— Aqui diz o baú secreto de Labuda — disse %Nâmus% olhando as letras borradas.
— Labuda era uma das filhas de Adão e Eva, conhecida por sua sabedoria, nosso pai me contou sobre ela — disse %Matusalém% começando a contar a história de Labuda.
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Naqueles dias os filhos dos homens tinham começado a pecar contra Deus, e a transgredir os mandamentos que Ele havia ordenado a Adão, para serem fecundos e se multiplicassem na terra. E alguns dos filhos dos homens forçavam suas esposas para beber um composto que as tornavam estéreis, a fim de que elas pudessem manter suas formas e a sua beleza não desaparecesse. E quando os filhos dos homens forçaram suas esposas para beber, elas bebiam com eles. E as mulheres estéreis eram abomináveis aos olhos de seus maridos, e as tinham como viúvas enquanto seus maridos viviam, pois só atentavam para as férteis.
E foi assim que o mundo começou a mudar. Mas %Matusalém% crescia seguindo as instruções de Deus, sempre buscando Ele através de seu pai, %Enoque%, e sua mãe, Asdina. E foi naqueles dias que Adão, filho de Deus, morreu. E Eva o enterrou na terra de Elda. E Deus, naqueles dias, disse a %Enoque%, pai de %Matusalém%:
— Levanta-te, sai da tua casa e do lugar onde tu estás escondido e aparece para os filhos dos homens, para que possas ensinar-lhes o caminho em que eles devem andar e as obras que devem realizar para entrarem nos caminhos de Deus.
E assim fez %Enoque%. Ele apareceu aos filhos dos homens, pregando acerca do Deus que o criou e algumas almas foram convertidas. E disse %Enoque% aos filhos dos homens:
— Onde está o homem que deseja conhecer os caminhos do Senhor e as boas obras? Venha a %Enoque%.
E os filhos dos homens vieram a %Enoque% pedindo-lhe conselhos e lhe buscando sempre que possível. E todos os filhos dos homens que desejavam isso, juntaram-se a %Enoque%, e %Enoque% reinou sobre os filhos dos homens de acordo com a palavra do Senhor, e eles vieram e curvaram-se para ele e ouviram a sua palavra.
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“E houve batalha no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão; e batalhavam o dragão e os seus anjos, 8 mas não prevaleceram; nem mais o seu lugar se achou nos céus. 9 E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o diabo e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele.”
Ap 9
E esses anjos caídos se tonaram demônios.
“¹E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, ² viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram.”
Gênesis 6:2 - Gênesis 6:1
E cada anjo caído tomou para si uma mulher dentre as quais eles escolheram.
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Era uma manhã ensolarada quando %Matusalém%, com seus cabelos desgrenhados pelo vento e um sorriso travesso, avistou Adinah, ou %Edna%, pela primeira vez. Ela estava sentada à sombra de uma grande árvore, tecendo flores silvestres em uma guirlanda colorida. Ele não pôde evitar se aproximar, sua curiosidade aguçada e seu espírito brincalhão o impulsionando.
— Oi! — ele chamou, com um brilho nos olhos. — Você parece uma deusa entre flores. Posso me juntar a você?
Adinah olhou para cima, surpresa com a audácia do jovem.
— E quem você pensa que é para interromper o meu trabalho com tanta ousadia? — perguntou, com um sorriso que desafiava a sua bravura.
%Matusalém% riu, percebendo que ela não seria fácil de conquistar.
— Sou %Matusalém%, filho de %Enoque%, e venho em missão de paz. Não vim para roubar suas flores, mas talvez você possa me ensinar a fazer uma guirlanda tão bonita quanto a sua.
A jovem arqueou uma sobrancelha, sua curiosidade despertada.
— %Matusalém%, é? Seu pai é conhecido como um homem sábio. O que você aprendeu com ele que pode ser útil a mim na arte de fazer guirlandas?
— Ah, bem — começou %Matusalém%, tentando lembrar dos ensinamentos de %Enoque% —, meu pai sempre diz que a beleza está nos detalhes e que a paciência é a chave para criar algo especial. Ele ensinava que, assim como uma guirlanda, a vida é feita de momentos que devemos entrelaçar com cuidado.
Adinah observou %Matusalém% com mais interesse agora.
— Você realmente acredita que a vida é como uma guirlanda?
— Com certeza — respondeu ele, seu tom mais sério agora. — Cada flor representa um momento, uma experiência. Algumas são bonitas, outras podem ser espinhosas, mas é a combinação delas que traz à tona a verdadeira beleza da vida.
A jovem assentiu, intrigada.
— E o que você faz quando as flores murcham ou os espinhos aparecem?
— Ah — disse %Matusalém%, com um brilho travesso nos olhos —, talvez o segredo esteja em saber quando deixar ir e quando lutar para que algo cresça novamente. Meu pai sempre diz que a misericórdia de Deus nos dá novas chances. Devemos aprender a perdoar e nos perdoar também.
Adinah sorriu, admirando a profundidade do jovem.
— Talvez você seja mais do que apenas um rosto bonito e ousado. Vamos então, %Matusalém%, mostre-me como você entrelaça suas ideias com as flores. Quem sabe, assim, podemos criar algo bonito juntos.
E assim, sob a luz suave do sol, %Matusalém% e Adinah começaram sua jornada de aprendizado mútuo. Conversas fluíam entre risadas e reflexões profundas, tecendo não apenas guirlandas de flores, mas também os laços de uma amizade que prometia ser profunda e duradoura. Com cada diálogo, eles descobriam não apenas o significado da beleza externa, mas também a essência que reside no coração de cada um.
— Deus diz que um dia haverá um dilúvio que devastará toda a humanidade e só sobreviverão aqueles que são tementes a Deus — disse %Enoque% aos filhos.
— Mas por que Deus vai destruir o mundo? — perguntou Melca.
— Porque o mundo vai se tornar mau, não vê como o mundo é hoje? — disse %Matusalém% a irmã.
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Naqueles dias, os filhos dos homens se desviaram do Senhor, eles se corromperam na terra, roubaram e saquearam uns aos outros, e rebelaram-se contra Deus e eles transgredindo, se corromperam em seus caminhos, e não quisera mais ouvir a voz de %Matusalém%, mas rebelaram-se contra ele. E cada homem fez um Deus para si e se inclinou a eles. E Nam ou %Nâmus% naqueles dias, assim como seu irmão %Matusalém%, tinha uma grande fé em Deus, mas um dia, alguns anjos lhe apareceram e lhe disseram:
— Vê, que coisa, seus irmãos te desprezam.
E Nam ficou com aquilo na cabeça.
Conforme cresciam %Matusalém% e seus irmãos brincavam uns com outros, mas a faísca da separação sempre ficava. E cada homem fez o seu deus e se inclinaram para eles, e os filhos dos homens abandonaram o Senhor todos os dias de %Enoque% e seus filhos, e a ira do Senhor se acendeu em conta das suas obras e abominações que eles fizeram na terra.
E o Senhor fez com que as águas do rio Gihon transbordassem, e Ele os destruiu e os consumiu, e Ele destruiu a terceira parte da terra, e não obstante isso, os filhos dos homens não se converteram dos seus maus caminhos, e suas mãos estavam ainda estendidas para fazer mal aos olhos do Senhor. E naqueles dias não se conseguia nem semear nem colher na terra, e não havia comida para os filhos dos homens e a fome era muito grande naquela época. E foi quando os homens continuaram a se rebelar e transgredir contra Deus, corrompendo-se em seus caminhos, que a terra também se corrompeu por completo.
Acaso isso não está escrito no livro de Jasher. *******
E %Matusalém% crescia e buscava a Deus, sempre respeitando o pai.