A Garota das Borboletas

Escrita porLelen
Revisada por Lelen

9 • Quando há uma exceção e sobre a garota das borboletas

Tempo estimado de leitura: 6 minutos

Shiori encarava os dois potes de vidro que se encontravam lado a lado em sua prateleira de almas ainda presas às suas vidas anteriores e suspirou. Havia anos que aquelas duas lagartas não cediam e permaneciam ali. Ela havia tentado de todas as formas fazer com que elas seguissem em frente, mas as duas almas pareciam infinitamente infelizes para conseguirem esse feito.
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  Naquele instante a ceifadora estava sozinha. Já não tinha mais a companhia de seu jovem amigo Kamui Murakami, e isso havia tempos. Logo depois da morte da mãe, Kamui tentou retornar ao seu dia-a-dia, indo trabalhar e voltando de noite para o chalé na floresta, mas um dia, o homem para quem o menino trabalhava foi confundido com uma pessoa que devia muito dinheiro a alguém importante de outra vila, o que custou a vida de ambos. Foi a primeira vez que Shiori Sasaki chorou ao coletar uma alma.
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  Kamui foi liberto da vida terrena diretamente em forma de borboleta, porém, sua alma não queria ascender aos céus como deveria. Ele ansiava por ficar junto de seu pai e sua mãe que ainda possuíam forma de lagarta.
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  — Você precisa ir, Kamui. Ou coisas ruins podem acontecer — Shiori disse pela décima vez no último dia limite do menino na Terra. — Vá, eu prometo cuidar dos dois até que eles estejam preparados para a próxima fase da vida — disse. — E uma promessa sempre deve ser cumprida. — Ela sorriu um sorriso triste.
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  A alma de Kamui pairou sobre Shiori por alguns instantes.
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  — Sim, eu já disse que prometo — a garota respondeu ao questionamento mudo para humanos, mas completamente compreensível para shinigamis.
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  A borboleta deu um pequeno rodopio e mais uma vez parou antes de finalmente alçar voo.
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  — Adeus, meu amiguinho. — Shiori acenou enquanto via a borboleta roxo-azulada desaparecer no céu.
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  Adeus, garota das borboletas, ela pôde ouvir a despedida ao longe.
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  Décadas se passaram desde que a ceifadora Shiori Sasaki havia encontrado uma amizade entre os humanos, agora estavam no século XXI e sua casinha na floresta havia virado uma bela floricultura conhecida por vender as mais belas flores pelo preço mais amigável da região.
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  Muitas coisas haviam acontecido desde que Kamui Murakami havia ascendido aos céus. A primeira guerra mundial, a segunda guerra, o Japão se tornando uma das maiores potências do mundo. As únicas coisas que permaneciam iguais eram o trabalho de shinigami de Shiori e o estágio de lagarta de Makoto Murakami.
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  Anos e anos se passaram, até mesmo Daisuke Murakami, o marido de Makoto, havia passado para a fase de casulo, mais ou menos há vinte e oito anos atrás, mas a senhora Murakami parecia se recusar a seguir em frente. Shiori podia ouvir o sofrimento daquela alma. Ela estava arrependida por não ter dado todo o amor e carinho que seu filho merecia e não percebia quanto o tempo havia passado.
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  A antiga garota das borboletas ainda encarava o potinho com a lagarta de Makoto que por algum motivo era a única que carregava consigo para quase todos os lugares que ia. Talvez fosse a promessa que fizera a Kamui, mas ela sentia que tinha a obrigação de estar com aquela alma sempre por perto.
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  Shiori estava distraída quando um novo cliente entrou em sua floricultura fazendo a sineta da porta tocar.
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  — Irasshaimase! — exclamou ao casal que entrava. Quando encarou o rapaz ela quase soltou um gritinho de surpresa. Não podia ser!
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  — Ah, olá, senhorita…
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  — Sasaki, Shiori Sasaki.
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  — Olá, senhorita Sasaki, eu estou procurando por uma camélia — o rapaz disse observando ao seu redor.
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  — E de que cor seria? — Shiori conseguiu disfarçar bem sua surpresa.
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  — Branca. — A moça que aparentava ter em torno de vinte e oito anos, respondeu.
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  — Só um momento — Shiori disse indo buscar as flores e logo voltando com um jarro cheio de camélias brancas prontas para serem juntadas em um buquê.
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  — Olha, como são lindas! — a cliente que acompanhava o rapaz exclamou encantada.
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  — Vou levar um buquê — o rapaz informou sorrindo. — Acha que sua mãe vai gostar? — perguntou para a moça.
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  — Vai amar, ainda mais com a surpresinha que estamos para contar — ela respondeu acariciando a barriga que possuía uma leve protuberância.
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  — Aqui está, senhor. — Shiori interrompeu a conversa para entregar o buquê de camélias ao rapaz.
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  — Muito obrigado. — Ele entregou o arranjo para sua companheira e sacou algumas notas da carteira que eram o suficiente para pagar pelas flores.
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  Ele já estava para ir embora quando seu olhar se voltou ao pote de vidro de Makoto que estava no balcão.
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  — Sabe, quando essa borboleta sair do casulo, tenho certeza de que será a mais bela. — Apontou e depois continuou seu caminho.
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  Shiori ergueu a sobrancelha e voltou seu olhar ao pote. Ele já não continha mais uma lagarta triste e solitária, mas sim um casulo recém-formado.
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  A ceifadora não conseguiu refrear um largo sorriso de alegria e também de estupefação. A alma de Kamui Murakami havia voltado à Terra mesmo depois de ter ascendido de volta a papai. Uma exceção raríssima acabara de passar por ela…
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  — Parece que a família toda irá se reunir em breve novamente… — ela murmurou para si mesma enquanto encarava o casulo de Makoto que estava pronta para reencarnar como a criança que se formava no ventre da companheira da alma de Kamui, que por coincidência ou não, possuía a alma de Daisuke.
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  Makoto Murakami renasceria ao lado das duas pessoas que mais a amaram em sua vida anterior.
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Fim

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