A Garota das Borboletas

Escrita porLelen
Revisada por Lelen

4 • Quando a garota das borboletas começa a falar

Tempo estimado de leitura: 5 minutos

Depois de passar a metade da tarde ajudando em algumas tarefas de Shiori, Kamui percebeu o quanto ainda era fraco para conseguir convencer algum aldeão de sua vila a emprega-lo. Ele estava cansado só em ajudar a carregar alguns tantos de terra até um ponto da clareira por algumas poucas horas, imaginava se conseguiria carregar coisas mais pesadas pela vila por um dia inteiro.
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  — Muito obrigada, Kamui-kun — a garota estranha da floresta murmurou entregando um lenço de algodão branco e limpo para o menino que agradeceu e limpou o suor de seu rosto. — Vamos tomar um chá, acho que merecemos descansar. — E dizendo isso, saiu andando em direção ao seu chalé.
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  Kamui correu para acompanhar a garota e quando entrou na casinha, o cheiro de chá quente invadiu suas narinas. Ele não sabia como ou quando Shiori havia preparado a bebida, já que pelo que havia visto, ela não tinha parado de trabalhar por um único segundo sequer. Será que ele havia cochilado por alguns instantes ou algo do tipo?
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  — Sente-se, Kamui. — A garota sorriu servindo o chá em duas xícaras de porcelana sem alças. — Você deve estar com muita fome, me desculpe, mas tenho apenas senbeis para lhe oferecer hoje — murmurou apontando o prato com vários dos biscoitinhos de arroz.
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  O menino agradeceu e se sentou à mesa.
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  — O chá ainda está muito quente, talvez você queira fazer algumas perguntas enquanto espera que esfrie — a garota murmurou casualmente enquanto observava algumas borboletas que voavam ao seu redor.
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  Kamui teria sido capaz de engasgar com a própria saliva se não estivesse com tanta sede. Ela havia mesmo dito aquilo?
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  — Será que eu posso beber um pouco d’água, Shiori-san? — perguntou enquanto sua respiração voltava ao normal.
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  — É claro. — Ela sorriu em resposta apontando para um balde de água no canto da cozinha.
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  Kamui pegou uma xícara que se encontrava perto do balde e a encheu de água limpa e fresca. Após saciar sua sede, correu de volta para o lugar onde estivera sentado antes.
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  — Eu posso mesmo perguntar algumas coisas? — o menino perguntou ansioso, o que fez a garota à sua frente rir.
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  — Sim, eu só não prometo responder.
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  O menino sentiu seu ânimo murchar. Ele tinha tantas perguntas que poderia fazer, mas não havia nenhuma garantia de que as respostas viriam. Mesmo assim, ele decidiu começar.
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  — Por que você mora aqui, no meio da floresta?
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  Shiori brincava com uma das borboletas enquanto respondia.
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  — Eu gosto de pessoas, mas pessoas não costumam gostar muito de mim.
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  — E por que elas não gostam de você?
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  A garota parou de encarar as borboletas e voltou seu olhar para o pequeno menino curioso.
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  — Porque sou diferente delas. — Sorriu.
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  Kamui pensou naquelas palavras e em todos os sentidos que a frase poderia ter. Claro que Shiori parecia estranha usando calças como um menino, mas nada que realmente pudesse ser considerado um problema; ela estaria se referindo a um diferente diferente?
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  Ele decidiu deixar aquela questão para mais tarde.
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  — Onde estão seus pais? — perguntou. A garota não era muito mais velha do que ele. Já não era uma criança, claro, mas ainda era jovem e aparentemente morava sozinha no meio de uma floresta.
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  — Meu pai está muito ocupado trabalhando — Shiori disse voltando a se entreter com as borboletas. — E eu fico aqui para ajudá-lo em algumas coisas.
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  O menino assentiu sentindo algo como empatia. Ele também ficava em casa enquanto sua mãe ia trabalhar e, quando podia, fazia as tarefas domésticas por ela. Ele a amava muito, mas às vezes sentia que sua mãe o odiava, talvez por ele não ser maior e mais forte para poder levar dinheiro para casa?
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  — Você é um bom menino, Kamui-kun. — A garota sorriu o encarando novamente, como se pudesse ler seus pensamentos.
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  Será que ela pode mesmo saber o que estou pensando? Se perguntou.
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  — Talvez eu possa… — ela murmurou e o menino levou um pequeno susto.
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  — Quem é a senhorita, Shiori-san? — perguntou intrigado.
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  — Acho que já podemos tomar nossos chás. — Ela o interrompeu ignorando completamente sua última pergunta. — Melhor beber antes que esfrie demais.
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  E foi assim que as chances de continuar perguntando sobre várias coisas para a garota das borboletas terminou. Com chá e biscoitinhos de arroz.
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