Assim que a princesa se transformou em humana, pequenas criaturinhas surgiram saltitando e rodeando a mulher: filhotes de raposas.

  — Olá, pequeninos! — %Nami% cumprimentou se agachando para poder acariciar os pequenos.

  Poucos segundos se passaram até cada um daqueles filhotes se transformarem em crianças com orelhas triangulares e rabos pomposos. Apesar disso, tudo o que Lucien conseguia pensar era roupas.

  A mulher-raposa encarou-o surpresa e então soltou uma gargalhada gostosa.

  — Em Thalassar é fácil conjurar roupas enquanto nos metamorfoseamos — ela explicou. — Em Prythian não?

  Ah, em todos aqueles anos que havia vivido, todos que Lucien havia visto se transformar de animal em humano estavam completamente nus.

  — Oh, bem... Obrigada por avisar, tomarei cuidado para não presenciar esse... momento caso algum dia eu vá visitar suas terras — a princesa murmurou parecendo um pouco desconcertada ao imaginar aquilo.

  — Princesa! Princesa! — As crianças correram na direção da mulher-raposa a rodeando animadamente. — Este é seu koibito? — uma delas perguntou.

  %Nami% riu e então se sentou sem cerimônias no chão, ficando à vontade com os filhotes de kitsunes.

  — Não, crianças, ele é meu parceiro, não namorado — explicou a princesa.

  — Mas mamãe disse que parceiro é igual namorado! — Uma menina de cabelos escuros e orelhas cor de fogo exclamou.

  A soberana riu e então soltou um suspiro. Lucien imaginou que não era fácil — em lugar algum — explicar coisas a filhotes — mesmo que crianças fossem raras no mundo dos feéricos para que ele soubesse de qualquer coisa.

  — Nem sempre um laço de parceria é feito por amor — %Nami% murmurou sorrindo.

  — Mas então? — um dos meninos perguntou.

  — Veja, crianças, para a maioria de vocês, o laço vai ser sim por amor, mas para alguns de nós, como eu, algumas outras coisas precisam ser levadas em conta.

  — Mamãe disse que um laço para a soberana precisa ser forte em muitos sentidos, não só o emocional — outra criança pontuou.

  — E sua mãe está certa — a princesa concordou. — Quando se é necessário proteger e governar uma nação inteira, é preciso tomar cuidado, precisamos saber escolher para o bem de nosso povo.

  Um grande silêncio se fez presente no grupo. Lucien, por sua vez, não estava nada surpreso com aquilo. Embora não tivesse nada a ver com o laço de parceria, em Prythian muitos casamentos eram feitos por conveniência e união de poderes. Ele sabia muito bem disso.

  — Mas e se o melhor para o povo não for o melhor para você, princesa?

  %Nami% encarou a criança que perguntara aquilo de forma pensativa e um tanto surpresa.

  — Não acha que nosso visitante de Prythian pode ser o melhor para mim? — perguntou de forma marota.

  Pela primeira vez em algum tempo, Lucien sentiu uma pequena fisgada no peito ao pensar na possível resposta daquelas crianças sobre ele. Por que estava se importando, pelo Caldeirão?!

  — Eu não conheço o senhor de Prythian para julgar, princesa — a criança enfim respondeu —, mas e se fosse o caso? E se ele não fosse bom para você?

  %Nami% riu parecendo se divertir e então aquele incômodo no peito de Lucien se esvaiu e ele se sentiu leve e aliviado.

  — Uma raposa de nove caudas precisa saber fazer sacrifícios...