A Casa do Bosque

Escrita porLelen
Revisada por Lelen

Capítulo 18

Tempo estimado de leitura: 14 minutos

  #Flashback — memórias de Harry#

  Era um dia comum no vilarejo, crianças corriam com alegria em frente à escola que havia acabado de liberar seus alunos no começo da tarde. Os adolescentes do sétimo ano conversavam em meio a uma rodinha, combinando um encontro na entrada da floresta nos limites da vila.
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  — Às duas horas nos encontramos lá! — um dos garotos na rodinha exclamou e todos os outros, meninos e meninas, concordaram com entusiasmo. — Não se esqueçam de que estamos “indo fazer um trabalho em grupo” — disse.
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  Os moradores mais velhos da vila não gostavam que as crianças — como sempre veriam seus filhos — ficassem brincando muito perto da floresta com medo que os jovens se perdessem, o que acontecia de vez em quando. Havia animais perigosos no meio da mata e ninguém queria arriscar uma perda. Por isso aquele grupo de adolescentes decidiu mentir a seus pais quando fosse hora de sair. A verdade era que eles queriam desvendar os grandes mistérios do bosque que fazia parte de lendas e cantigas que se contavam no povoado. E aquele parecia ser um bom dia para isso.
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  Harry caminhou em direção à sua casa do outro lado da vila, não estava realmente interessado naquela empreitada, mas não queria ser o chato da turma, já bastava a certa discriminação que sofria por ser filho de mãe solteira. Já estava a cerca de três metros longe do grupinho de alunos do sétimo ano quando uma voz fina e empolgada lhe chamou.
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  — Harry! — Era Jenna %Kloss% que corria em sua direção com uma expressão animada.
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  — Olá, Jenn — respondeu sorrindo timidamente.
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  — Você vai? — ela perguntou simplesmente, acenando discretamente em direção à rodinha de alunos que aos poucos se dispersava.
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  Harry ergueu a sobrancelha um tanto surpreso. Jenna e ele eram da mesma turma e ele tinha a sensação de que aquele tipo de aventura não fazia o tipo da garota.
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  — Não sei. Prometi ajudar minha mãe com algumas coisas… — desconversou.
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  — Ah, vamos, Harry! — A garota puxou o braço do rapaz como uma criança pidona. — Vamos, pode ser divertido! — exclamou empolgada.
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  — E desde quando você se interessa por essas coisas, %Kloss%?
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  — Ah, Harry! — ela choramingou, agora parecendo ainda mais uma criança. — Você sabe como a maior parte do tempo eu passo em casa…
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  — Porque está sempre doente. — Ele observou.
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  — Mas hoje eu não estou e quero ir com nossos colegas até o bosque! — Jenna exclamou, logo depois tapando a boca por ter falado um tanto alto. — E eu só vou se você for… — Ela fez bico.
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  Harry encarou a garota e se xingou mentalmente por sempre ceder aos pedidos de Jenna, suspirou de forma cansada e então assentiu.
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  — Ah, Harry, você é demais! — Jenn exclamou saltitando de alegria.
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  — Jenna, o que você está fazendo aí? — Uma voz grossa e autoritária soou às costas dos dois adolescentes. Era Albert %Kloss%, irmão mais velho de Jenna. — Papai mandou você ir direto pra casa, esqueceu? — retrucou lançando um olhar nada amigável a Harry, que desviou o olhar não querendo se encrencar.
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  — Eu já estava indo, Alb. — Jenna soltou um tanto amarga. — Nos vemos depois, Harry — ela quase sussurrou para o amigo que apenas concordou com a cabeça.
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  A verdade era que naquele lugar ninguém gostava muito de Harry e de sua mãe, já que a mulher havia engravidado sem ter se casado e se recusava a dizer quem era o pai da criança. Para os moradores da vila, aquilo era uma afronta. E agora ninguém fazia muita questão de fazer amizade com Harry. Apenas Jenna %Kloss% se aproximara espontaneamente.
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  Os minutos se passaram rapidamente e logo já era hora de ir se encontrar com o pessoal do sétimo ano. Não se incomodara em dizer à mãe para onde iria, já que ela não se importava realmente.
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  Encontrou-se com Jenna no meio do caminho para o bosque e ambos caminharam e conversaram animadamente até chegar aos limites da vila onde um pequeno grupo já havia se formado.
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  — Achei que não viriam! — Jeremy, o mais velho da turma, exclamou cruzando os braços. — Aparentemente só nós vamos entrar. — Apontou para o grupinho. — Os outros ficaram com medo — debochou.
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  — Certo, vamos ou não? — Outro garoto se pronunciou impaciente. — Parece que vai chover. Temos que voltar antes da chuva — disse olhando para o céu que começava a formar nuvens cinzentas.
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  — Ok. Vamos nos separar em dois grupos, um vai para a direita e o outro para a esquerda — Jeremy anunciou e todos se separaram formando dois grupos.
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  Jenna ficou ao lado de Harry e agarrou seu braço antes de adentrarem o denso bosque. Começaram a seguir para o lado esquerdo junto com o restante da turma que caminhava cautelosamente entre raízes gigantes e mato.
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  — Não acho que tenha sido uma boa ideia ter vindo… — Harry sussurrou para Jenna enquanto uma brisa suave, porém fria, passou por eles.
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  — Vai ser divertido, Harry! — Jenn exclamou cutucando o braço do garoto de leve. — E o que de mais pode acontecer…?
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  Assim que %Kloss% murmurou, um grito estridente se fez ouvir em algum ponto à direita do bosque.
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  — O que foi isso? — Um dos garotos que ia à frente do grupo perguntou um tanto assustado.
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  — Será que foi o grupo do Jeremy? — uma garota murmurou apreensiva.
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  — CORRAAM! — O grupo ouviu alguém gritar e no desespero, simplesmente correram, sem averiguar quem havia dito aquilo.
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  Harry e Jenna ficaram tão atônitos e confusos que acabaram sendo atropelados pelo grupo de colegas que correram na direção oposta da que estavam seguindo. Jenn foi empurrada bruscamente e ao cair acabou machucando o joelho. Harry correu em sua direção, preocupado.
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  — Estou bem, só ralei um pouco o joelho… — ela murmurou fazendo bico.
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  — Venha, vamos embora daqui. — O garoto ajoelhou-se para ajudar a amiga a se segurar em seu ombro e levantar.
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  Os dois começaram a caminhar na direção em que pensavam ser a saída do bosque, mas mais alguns minutos andando e nada de enxergarem os limites da vila.
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  — Harry…? — Jenna deixou escapar com a voz embargada de medo.
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  — Calma, vamos encontrar a saída. — Ele tentou tranquilizar a garota, mas ele mesmo quase não conseguia manter a calma.
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  Mais alguns minutos se passaram e então o céu escureceu e as gotas de chuva enfim começaram a cair.
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  — Droga! — Harry resmungou olhando ao seu redor para encontrar algum lugar para se abrigarem. — Vamos, Jenn — disse puxando a garota para uma direção qualquer.
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  Os dois caminharam por alguns instantes sob a chuva que aumentava até Harry perceber que Jenna tremia com o frio e o vento. O garoto despiu a camiseta que usava e jogou-a sobre os ombros da menina que o encarou confusa.
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  — Não faz muita diferença, mas talvez ajude a te aquecer. — Ele sorriu voltando a puxar a garota para voltarem a caminhar.
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  — Mas Harry…
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  — Shh. — E os dois continuaram a caminhar.
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  Depois de vários minutos caminhando a esmo, encontraram um pequeno amontoado de galhos e folhas que improvisava uma boa cabana para protegê-los da chuva e do vento por enquanto. Os dois correram para de baixo da “cabaninha” e lá se encolheram tentando recuperar a temperatura corporal.
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  A chuva durou, talvez, pouco mais de uma hora, mas fora o bastante para que os dois se sentissem um tanto doentes. Quando o temporal finalmente parou, ainda era possível sentir o vento frio açoitando corpos desprotegidos.
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  Jenna espirrou e Harry sentiu a garganta coçar. Eles pegariam um belo resfriado se não chegassem logo em casa…
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  Decidiram que naquele momento era melhor permanecerem ali, ao menos estariam protegidos da chuva e do vento da noite. O problema era a fome. Os estômagos dos dois roncavam logo que começou a escurecer para o cair da noite. O que fazer? Ora, estavam num bosque cheio de árvores, em algum lugar deveriam encontrar algo comestível, certo?
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  — Jenn, fique aqui, eu vou procurar algo para que nós possamos comer e passar a noite — murmurou já se posicionando para levantar e sair do pequeno esconderijo.
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  — Não, Harry! — Jenna exclamou com a voz um tanto estranha, já sendo pega pela dor de garganta. — Você sabe o que as pessoas dizem sobre o bosque. Ele prega peças e te engana! Vamos acabar nos perdendo ainda mais! — choramingou.
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  — São só lendas, Jenn. — Harry se aproximou novamente e abraçou a menina que fungou.
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  — Mas…
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  — Eles dizem que eu sou filho de um demônio na vila. Você acredita? — Harry perguntou ficando sério.
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  — É diferente! — Jenna exclamou fazendo bico. — Eu conheço você, você é meu amigo. Mas esse bosque… Esse bosque é estranho, é assustador…
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  — Mas antes de ser seu amigo, você não achava que eu era filho de um demônio?
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  — Eu não sei, Harry… Pra mim, você sempre foi… O Harry…
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  — Então veja esse bosque só como um bosque, Jenn. — Ele riu se levantando novamente.
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  — Mas Harry…
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  — Eu volto logo, Jenna. Fique aqui — ele disse e logo se afastou.
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  Harry caminhou por vários minutos procurando por vestígios de frutas no chão, mas até aquele instante não havia achado nada. Não seria possível que dentre centenas de árvores não houvesse uma que desse frutos comestíveis!
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  O garoto caminhou por mais alguns minutos e então a noite finalmente se fez presente tornando ainda mais difícil enxergar para onde caminhava. Ele tropeçou em uma raiz protuberante e acabou caindo de frente a um arbusto. Amoras! Harry pôde constatar pelo cheiro. Enfim, algo para comer!
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  Depois de comer algumas amoras, apanhou um bocado e enfiou nos bolsos da calça o máximo que conseguiu para poder dividir com Jenna. Já fazia o caminho que pensou ser o de volta quando ouviu um grito agudo vindo da direção contrária. Ele correu. O grito só poderia ter vindo de Jenna.
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  Harry correu o máximo que suas pernas permitiram, os músculos queimavam pelo esforço, mas ele tinha de chegar até sua Jenn. Quando seus pulmões já reclamavam pelo cansaço, ele finalmente viu a silhueta desacordada da amiga encostada no tronco de uma árvore. Harry correu em sua direção.
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  — Jenna? Jenna! — chamou dando leves tapinhas no rosto pálido da garota. — Jenna, o que houve? — perguntou quando pareceu que a menina havia recobrado parte da consciência.
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  — Harry…? — murmurou um pouco confusa.
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  — Sou eu, Jenn, o que houve? Eu pedi para você esperar!
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  — Mas eu esperei… — Jenna disse num sussurro, lutando contra a inconsciência. — Esperei por dias, mas você não voltou… — ela choramingou. — Então vim atrás de você…
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  — Tudo bem, tudo bem, estou aqui agora — disse ignorando a conta errônea de passagem de tempo da amiga. — Veja, encontrei amoras. Coma um pouco. — Pegou as frutinhas de seu bolso e direcionou algumas à boca de Jenna que parecia fraca demais até mesmo para mastigar.
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  Harry recostou-se ao lado da garota e a abraçou para tentar aquece-la um pouco mais. Ela tremia e parecia estar febril. Por várias vezes ele tentou carregar Jenna para um lugar mais protegido do frio, mas ele também se encontrava fraco demais para tanto. Então ele decidiu apenas continuar ao seu lado, faria qualquer coisa para mantê-la viva.
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  Mais uma noite chegou e com ela uma chuva fraca, mas constante. Os dois amigos estavam doentes e fracos, mas ainda tentavam lutar pela vida. Nos primeiros raios de sol da manhã, Jenna despertou com a sensação de que alguém a havia chamado, mas poderia ser apenas um sonho?
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  — Jenna! Onde você está? Jenna! — Não, era a voz de Albert, seu irmão!
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  Ela tentou gritar, mas sua voz não saía, então simplesmente fechou os olhos e começou a rezar para que seu irmão achasse o caminho até onde estava.
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  Passou longos instantes daquela forma até sentir alguém puxa-la para um abraço apertado e quente.
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  — Ah, Jenna! — Albert exclamou enquanto apertava a irmã caçula contra seu peito. — Nunca mais faça isso! — exclamou com lágrimas de alívio nos olhos. — PESSOAL, ENCONTREI! — gritou, e logo vários homens surgiram ao redor dos dois irmãos.
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  — Graças a Deus! — um senhor exclamou fazendo o sinal da cruz e uma breve oração.
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  — Vamos embora, vai cair uma tempestade novamente. — Outro homem se pronunciou se encolhendo com o vento frio.
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  — E o que fazemos com ele? — o senhor perguntou apontando para um garoto desacordado perto de onde Jenna estava.
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  — Esse diabinho… — outro senhor se pronunciou com certa raiva. — Deixem-no aí. Não tem ninguém para sentir falta — disse amargamente.
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  Os outros homens apenas concordaram e começaram a fazer o caminho de volta para casa.
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  “Não! Não o deixem!” Jenna queria gritar, mas seu corpo estava fraco demais para obedecer suas vontades. Tudo o que conseguiu foi encarar o rosto de seu melhor amigo ficando para trás.
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Capítulo 18
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