A Casa do Bosque

Escrita porLelen
Revisada por Lelen

Capítulo 10

Tempo estimado de leitura: 7 minutos

  %Emma% encarava o teto de madeira da sala da cabana de Harry. Era madrugada e ela não conseguira pegar no sono por algum motivo. Sentia-se bastante cansada e os olhos ardiam, mas toda vez que se atrevia a fechar os olhos, algum pensamento mais profundo se agitava em sua mente, fazendo-a despertar contrariada. Turbilhões de pensamentos puxavam uns aos outros em sua cabeça; como deveriam estar seus pais? Ainda deveria haver esperança para Niall? Deveria haver esperança para ela? Eram tantas possibilidades para cada uma das perguntas e seu cérebro parecia fazer questão de especular cada uma das respostas naquela hora da madrugada; mal percebeu o momento em que finalmente caíra no sono.
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  Abriu os olhos de súbito, o coração palpitando e a respiração ofegante por algum motivo. Levou algum tempo para se estabilizar e se localizar, estava tão confusa e os pensamentos tão em desordem… E também havia aquele calor excessivo. Sentou-se lentamente e olhou ao redor. Ainda era noite e a lareira estava acesa, a fonte do calor. Não se lembrava de tê-la acendido, mas apenas deu de ombros e bocejou, talvez Harry o tivesse feito, apesar de ter quase certeza de que no momento em que se deitara o clima estava agradável o bastante para não ser necessário a lareira.
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  %Emma% levantou-se do sofá e caminhou em direção ao fogo, pegou o atiçador e cutucou um pouco a lenha de forma distraída. Havia despertado de uma forma tão repentina que tinha quase certeza de que não voltaria a pegar no sono tão cedo. Brincava com o fogo e prestava atenção ao seu crepitar quando teve a leve impressão de ouvir um sussurro. A primeira vez não deu atenção, deveriam ser seus sentidos ainda tentando despertar, apenas continuou a brincar com o atiçador na lareira. Mais alguns instantes e ouviu algo um pouco mais alto e mais próximo; desta vez deixou o atiçador de lado e ergueu-se lentamente, como se qualquer movimento brusco fosse desfazer o que quer que estivesse acontecendo.
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  — Harry? — ela soltou num sussurro um pouco engasgado pelo medo. Nada de respostas. — Harry, para com isso, já estou assustada o suficiente com tudo o que vem acontecendo — murmurou novamente sem sair do lugar.
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  O silêncio permaneceu e %Em% bufou, tinha certeza de que Harry tentava lhe pregar uma peça, mas ela não cairia naquilo.
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  — Ele nunca dorme.
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  %Emma% ouviu um murmúrio baixo ao pé do ouvido, o que a fez pular de susto e se afastar em direção à lareira.
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  — Quem foi que disse isso?! — exclamou, agachando-se para agarrar o atiçador da lareira para se proteger do que fosse. — É bom desaparecer! — disse segurando sua “arma” com força e olhando ao seu redor. — HARRY! — gritou por ajuda.
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  — Menina tola! — Uma voz alta e grossa soou ao mesmo tempo em que o fogaréu atrás de %Emma% se expandiu em enormes labaredas, quase a pegando.
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  — HARRY! — ela gritou novamente e correu para a porta do que deveria ser o quarto do rapaz. — HARRY, SOCORRO! — Ela bateu na porta com força e desespero.
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  Enquanto gritava e batia, sentiu algo quente transpassar seu corpo e no mesmo instante, pôde-se ouvir o barulho das dobradiças se movendo. A porta estava aberta enfim.
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  %Emma% deu um passo para trás, assustada. Sentia um incômodo arrepio na espinha e, embora soubesse que deveria dar as costas e sair correndo, algo a impulsionava a ir em frente, escancarar a porta e finalmente desvendar o mistério por trás dela. Não havia percebido, mas naqueles poucos segundos de hesitação, ela inconscientemente já estava quase adentrando o cômodo. Sua respiração estava hesitante, tinha medo de respirar e acabar desmaiando ou acabar chamando a atenção de alguma coisa. Quando finalmente abriu a porta, prendeu a respiração. Não havia nada de anormal ali. Apenas Harry. Sentado em uma cadeira com um boneco ventríloquo ao seu lado.
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  O rapaz estava sentado ereto, mas sua cabeça pendia para a frente, como se tivesse pegado no sono daquela maneira.
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  — Harry? — %Emma% chamou insegura.
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  Não recebeu resposta.
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  — Harry, por favor, para de brincar… — ela choramingou dando um passo à frente.
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  No mesmo instante, o rapaz ergueu a cabeça e em sincronia, o boneco ventríloquo também o fez. Harry se levantou da cadeira e esperou.
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  — Não deixe ela escapar! Não deixe ela escapar! — o boneco cantarolou sozinho e o rapaz deslizou uma faca afiada pela manga de sua blusa.
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  %Emma% correu em direção à porta, mas a mesma bateu com estrondo e se trancou.
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  — NÓS NÃO GOSTAMOS DE ENXERIDOS! — o boneco vociferou e Harry disparou na direção de %Em% com a faca empunhada. Ele a prensou contra a porta e encostou lâmina da faca em sua garganta. Os movimentos e expressão do rapaz eram selvagens, desvairados, mas seu olhar era vazio, assustadoramente vazio. — ENXERIDOS DEVEM MORRER! — gritou o boneco. — MATE-A! MATE-A! — ele cantarolou aos berros.
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  — NÃO! — %Emma% pulou do sofá onde estivera deitada. Seu coração disparado parecia querer sair pela boca e era difícil respirar, quase como se tivesse corrido durante aquele tempo todo. Sentou-se e olhou ao redor. A lareira permanecia apagada como quando fora se deitar e tudo estava quieto e escuro como deveria. Olhou para a porta fechada do quarto de Harry. Levantou-se e caminhou lenta e silenciosamente em sua direção. Estava prestes a tocar a maçaneta quando sentiu uma mão lhe tocar o ombro.
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  Soltou um berro de susto e se virou para encarar um Harry de sobrancelha erguida.
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  — Eu só ia perguntar se queria um chá — disse ele apontando a chaleira no fogão.
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  — Você quase me matou de susto! — reclamou. — E como é que fez chá no escuro? — perguntou, indignada.
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  — Acendi uma lanterna enquanto o fazia. Eu tinha acabado de apagar quando você acordou — explicou. — E então, quer o chá? — perguntou novamente.
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  %Emma% assentiu e o rapaz sorriu indo pegar uma xícara para servir sua hóspede que bebericou o líquido respirando ainda um pouco ofegante.
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  — Com o que sonhou? — Harry perguntou curioso. — Você acordou gritando…
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  — Eu sonhei com… — %Em% se deteve. Sentia as memórias se esvaindo de sua mente agora desperta, as imagens de seu pesadelo sendo sugadas por seu inconsciente, estranhamente no mesmo ritmo em que engolia o chá de temperatura perfeita. Não havia sobrado muito agora. — Deixa para lá — ela disse finalmente. — Não consigo me lembrar. — Deu de ombros, lavou sua xícara e voltou para seu sofá.
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Capítulo 10
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