Without The Love

Escrito por Marcella Ribeiro | Revisado por Lelen

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Música: Without The Love, por Demi Lovato

  Andava com a cabeça baixa, a chuva fina pouco a incomodando, já que quase não molhava.
  O que a incomodava, é claro, estava longe de ser a chuva, ou o dia feio que fazia, ou até seus sapatos de salto alto apertando seus pés e dificultando seu andar.
  O que incomodava , na verdade, estava um tanto longe dali, e podia ser resumido em uma palavra: .
  Não acreditava que toda aquela paixão de começo de relação já havia chegado ao ponto no qual ela começava a ver não só as qualidades dele, mas todos os defeitos.
  E Céus! Como era difícil aguentá-los quando as coisas que ela antes admirava ou a faziam sorrir, agora haviam se transformado em uma forma medonha de deixá-la sempre pra baixo, empurrando-a com tanta força que fazia sentir-se como se estivesse carregando o peso do mundo nos ombros enquanto tentava levar aquilo adiante.
  Porque a cada erro cometido, parecia passar uma corda em torno do pescoço da namorada, puxando cada vez mais, sufocando-a. Sentia como se ele a empurrasse cada vez mais para o chão, e tinha o leve pressentimento de que, se continuasse com aquilo, nunca mais conseguiria levantar.
   enganava seu coração sem a menor piedade, com aquele seu violão estúpido e voz perfeita, fazendo cada nota soar torturantemente maravilhosa.
  Mas já estava cheia disso. Cheia de perdoar seus erros como se não fossem nada, como se apenas com um olhar ele fizesse algum tipo sútil de mágica e ela se esquecesse de tudo, até de si mesma.
   já estava mais perto agora. O topo de sua cabeça estava começando a ficar realmente molhado, e ela sabia que sua aparência não estaria muito boa quando chegasse, mas isso não era mais importante. O importante era que a cada passo tortuoso que dava com aqueles saltos que agora amaldiçoava por existirem, só a faziam ter mais certeza de sua decisão.
  Enquanto virava uma esquina, lembrava como ele sempre se esforçava tanto pra conseguir tê-la, e depois, com uma facilidade absurda, a deixava ir embora. Por quê?, era o que ela se perguntava, tentando entender a cabeça maluca daquele garoto.
  Era lindo como, cada música de amor que ele tocava, dedicava à ela. Mas isso, claro, momentos antes de roubar o show de volta e deixar claro que nada mudaria. Seria sempre assim. Era uma piada! De muito mau gosto, diga-se de passagem.
  Tudo o que tinha vontade de perguntar era por que ele sempre estava lhe cantando canções de amor, se elas perdiam o valor por não terem o tal amor. Por que, , por quê?
  Por que agiam como um casal apaixonado, quando na verdade eram ela nem sabia o quê mais? Eram agora apenas distantes, instantes, um eco do que um dia foram. Desconhecidos. E pensar que um dia foram tão próximos, tão perfeitos...! Poderiam ter conquistado o mundo juntos, mas não agora. Com certeza, não agora.
   respirou fundo quando parou de frente para a porta do prédio dele, e com apenas alguns segundos de hesitação antes, apertou decidida o número de seu apartamento.
  Não demorou muito para que aquela voz que ela tanto amava respondesse, mandando-a alegremente subir, como se nada tivesse acontecido.
  Como ele podia ser tão confuso assim? já estava de saco cheio daquilo.
  Subiu até o apartamento do namorado, e lá estava ele, com aquela pose perfeita parado em frente à porta, esperando-a como se ela fosse a melhor coisa em sua vida.
  Talvez tivesse sido um dia, não sabia. Mas pra ela, aquilo já estava gasto demais. Não tinha mais jeito.   Reparou rapidamente na aliança no dedo dele, alguns números maiores que a que ela própria usava no dedo anelar, e respirou fundo. Precisava de forças, porque enquanto ele usava aquela aliança como se fosse a melhor armadura do mundo, ela sentia-se vazia com ela, nua, com frio.
  Ele era lindo, ela não podia negar – e conseguia ficar ainda mais bonito quando abria aquele sorriso que parecia reservar especialmente pra ela.
  Pena, pensou ela, que nem mesmo aquele sorriso adiantasse de alguma coisa agora. Porque toda aquela beleza só contribuía com a dor que ela sentia, e não podia senti-la por mais cinco minutos sem desejar explodir.
  - Isso é só um jogo pra você, não é? – e foi isso. Nada de “oi”, nada de “como você está?”. Porque não estava ali pra ser enganada novamente, estava ali pra obter respostas – Você brinca comigo, com meus sentimentos, como se tudo fosse a droga de um jogo!
  - ... – pareceu surpreso por um momento, mas logo se recuperou. Ele sempre se recuperava. – , amor, do que você tá falando? – soltou uma risada incrédula – Eu nunca brincaria com você!
  Ah, jura?, ela pensou sarcástica, e sentia seu rosto esquentar de indignação.
  - , você pisa na bola o tempo todo, e sabe disso. Às vezes eu acho que se esquece de que eu existo, ou simplesmente finge que eu não estou aqui. E eu tô cansada disso. Cansada de tudo isso – fez um gesto abrangente, indicando os dois. Tinha esgotado sua paciência, seu desejo de fazer aquilo dar certo. E pela primeira vez em meses, sentiu algo que estava quase morto renascer: seu orgulho.
  - ! – agora estava perplexo. Mas é claro que estaria, estava perplexa por ter sido tão clara, tão durona quando estava desmoronando por dentro – Meu amor, é claro que eu não... Não... Não entendo o que você tá falando! Eu não tenho sido bom pra você, é isso?
  - Você tem sido ótimo, ! – ela disse, exasperada – Ótimo consigo mesmo, a única pessoa que importa pra você!
  Ela sentia, do fundo de seu coração, que aquele era o fim. Que era a última nota da canção que eles compartilhavam. A última batida antes que o show terminasse e todos fossem pra casa. Ela iria pra casa. E tudo o que tiveram se transformaria em alguma memória que ela gostaria muito de poder esquecer, de não ter.
  - Ok, olha pra mim – pediu, segurando o rosto de nas suas mãos quentes e que ela tanto gostava -, desculpa se eu tenho sido um idiota, um egoísta, eu juro que vou mudar! – percebeu, em uma fração de segundo, que suas palavras não adiantariam mais. E previu seu próximo passo – Eu... Eu tenho estado preparando uma música nova – e como um raio, sumiu de sua frente, mas logo voltou com seu violão nas mãos –, não tá pronta ainda, mas é sobre nós, sobre o nosso...
  - Não diga amor – ela interrompeu –, porque não há mais amor nenhum aqui!
  - ... Por favor...
  Ela balançou a cabeça, sentindo uma lágrima solitária escorrer por sua bochecha. Aquela não seria a primeira, muito menos a última, mas era a única que estava caindo pelo motivo certo: o fim.
  - Suas músicas de amor não vão mais funcionar comigo, . – disse em voz baixa, controlada.
  - Por que não, ? – ele parecia desolado, e isso quase a fez voltar atrás, mas o brilho do anel que usava a fez voltar a si.
  Levando a mão esquerda até o dedo anelar direito, retirou sem muito esforço a aliança que o namorado lhe dera há meses atrás, e colocou-a na mão dele, como quem dá um presente a alguém.
  - Porque quão boa é uma canção de amor, sem o amor?



Comentários da autora


Não conhecia a música da Demi quando sortearam ela pra mim no projeto Songfics, então confesso que fiquei um pouco desesperada, porque no começo, parecia que seria muito difícil escrever, mas no fim foi até relativamente fácil, o que me deixa com a dúvida de se a fanfic está mesmo boa, porque geralmente quando consigo escrever algo rápido demais, não é um bom sinal haha. Mas espero que gostem!
Link para a música: Without The Love, Demi Lovato.