Esta história pertence ao Projeto Songfics
Redes Sociais

--

264 leituras

Seja um
Autor VIP
www.espacocriativo.net/VIP

#002 Temporada

Windows
Lewis Watson




Windows

Escrita por Aria Müller | Revisada por Songfics

« Anterior


I’m not here to startle you
Hell, I only came ‘cause you asked me to
It’s such a shame that we can’t renew
All those feelings that we shared back a month or two

(Eu não estou aqui para assustá-lo
Inferno, eu só vim porque você me pediu
É uma pena que não podemos renovar
Todos aqueles sentimentos que compartilhamos de volta um mês ou dois)

  A garota caminhava com passos apressados até cafeteria, querendo escapar o mais rápido possível do frio. De fato, ela adorava o inverno, mas não suportava passar frio e sabia que aquele era apenas o começo do inverno.
  Assim que entrou no estabelecimento, fechou a porta e observou o lugar, escolhendo uma mesa afastada para se sentar. Ela observou novamente o lugar à procura de alguém, mas ele ainda não estava ali e a cada segundo que passava, ficava mais nervosa ainda. E se ele não aparecesse? E se ela tivesse sido feita de boba? E se tudo estivesse realmente terminado? Recusava-se a pensar isso, entretanto, tinha de enfrentar.
  Olhou para seu celular. 18h57min. Eles tinham combinado de se encontrar às 18h30min, e 27 minutos depois do combinado, ainda não tinha aparecido – e pelo o que ela lembrava-se, ele era perfeitamente pontual. Virou o rosto para o lado e viu alguém correndo para a cafeteria. Ah, tinha que ser .
  Voltou a olhar para baixo, pensando no que falariam. Droga, estava agindo como uma adolescente boba!
  - ! – Alguém a chamou, sentando-se em sua frente.
  - Hm, oi . – Ela respondeu timidamente, não sabendo direito como agir – Tudo bem?
  - Ja, e contigo?
  - Sim, eu acho... – Sussurrou a última parte, torcendo para que ele não tivesse escutado. – Por que se atrasou?
  - O técnico nos liberou tarde, desculpa. – sorriu pesadamente, e pegou o cardápio que estava na mesa. – Já fez o seu pedido?
  - Nein, quis te esperar. Vou querer o de sempre. – Disse observando-o, e logo depois chamou o garçom, fazendo os pedidos.
  Depois disso, apenas ficaram em silêncio. Ela não sabia o que deveria falar e estava em pânico, apenas olhava para baixo e brincava com suas mãos. Odiava quando ficavam em silêncio, o ar parecia tão pesado que tiraria o futuro dela. Ao contrário de , que preferia muito mais o silêncio, que aproveitava para organizar seus pensamentos.
  Nem sempre eles tinham sido assim. Quando estavam juntos – isto é, quando eram um casal -, não importava se estava em silêncio ou na mais intensa conversa, sentiam-se bem, como se estivesse conectados e fossem uma única pessoa. Quem os conhecia diria que tinham a maior química e com certeza eram um casal perfeito. Mas aos poucos – aos olhos dela, tudo fora muito rápido -, foram separando-se e já não eram mais a dupla dinâmica. Para , não existia nada perfeito, mas ela perguntava-se como o perfeito transformou-se em completamente nada. Queria entender, sim, o que havia acontecido com eles e quem sabe reatar o namoro, mas temia mais por , porque não tinha a menor ideia do que ele poderia pensar sobre isso.
   balançou a cabeça, tentando colocar aqueles pensamentos de lado. No momento, queria saber o porquê de querer encontrar-se com ela. Deixou a tensão de lado e tomou coragem para finalmente dizer algo.
  - . – Chamou a atenção dele. – Por que me chamou aqui?
  - Eu... não sei.
  - Tem certeza? Não sabe mesmo? – Perguntou frustrada, não o entendendo.
  Ele desviou o olhar dela, e suas bochechas ficaram levemente avermelhadas. Ela soube que ele realmente não sabia o que fazer, mas droga, não podia ter pensado um pouco antes? Parecia que tudo iria desmoronar em cima dela!
  - .
  .
  Ele já não a chamava assim há algum tempo, e ela perguntava-se o porquê de fazer isso agora – talvez ele quisesse acalmá-la (ou deixa-la mais nervosa ainda) -. era, na verdade, seu primeiro – e verdadeiro - nome, mas achava que combinava mais com ela. Nunca pôde entender o porquê, mas assim que seu nome era chamado pela voz dele, desistia de perguntar. Apenas soava estranhamente bem, e querendo ou não, ela gostava disso.
  - .
  Ela já não o escutava mais. Estava presa em seus pensamentos, em lembranças, estava presa ao passado. Céus, eram tantos sentimentos!

  O pátio estava lotado e fazia questão de amaldiçoar cada pessoa que estivesse ali, por que diabos elas não podiam, sei lá, ficar dentro da escola, em suas salas? No meio daquela multidão, ela não sabia nem para que lado estava indo – não era exagero, mas às vezes ela tinha uma visão horrível e também, ela parecia não se lembrar como era a escola -. Maldita multidão.
   não recordava direito o que tinha acontecido, mas de uma hora para a outra, exatamente quando conseguiu chegar aos corredores da escola, ela caiu. Caiu como um saco de batatas. Ela gritou de raiva, sentindo que naquele momento, se quisesse, poderia matar o primeiro ser humano que aparecesse em sua frente – ah, ela também agradeceu por não haver muitas pessoas dentro da escola, pois seria muito pior, e definitivamente não iria querer isso em seu primeiro dia de aula.
  - Mas que merda, argh! – resmungava, enquanto levantava-se do chão.
  De repente, sentiu um toque estranho em seu corpo e, instintivamente, levou sua mão até aquela área, pronta para dar um tapa.
  Surpreendeu-se ao encontrar uma mão macia, e resolveu olhar na direção do dono dela – que surpreendentemente, era um menino -. Ele parecia envergonhado, e estendeu a mão para a garota.
  - Desculpa, não tinha te visto. – Disse assim que estavam cara a cara.
  - Mais atenção da próxima vez. – Ela o avisou, mas logo completou, com pena da cara de assustado dele. – Mas não foi nada, pode ficar tranquilo.
  O estranho sorriu, e naquele momento prestou mais atenção nas feições do rapaz. Ele era bonito demais para passar despercebido por – sua melhor amiga – e ela nunca tinha o visto ali, então com certeza era novo.
  - Será que você poderia me ajudar a achar minha sala? Sou meio novo aqui, então... – Ele perguntou, confirmando a hipótese dela, que logo sorriu, conduzindo-o pela escola.

  Ao contrário do que pensara as primeiras aulas não foram tão ruins, se é que podiam ser chamadas de “aula” – na maior parte do tempo, os professores ficaram apresentando-se e falando sobre a matéria, enquanto ela apenas rabiscava seu caderno e conversava com . Quando o sinal do intervalo bateu, saíram calmamente, esperando o fervo passar no refeitório. fora achar uma mesa para sentarem, enquanto a outra fora pegar alguma coisa para comer.
   pegou a bolacha que trouxe e começou a comer, esperando pela amiga. Viu que uma pessoa havia parado ao seu lado, e encontrou o novato de antes, encarando-a.
  - Eu posso, hm, sentar aqui? – Perguntou timidamente, e ela se perguntou se ele sempre era tão tímido assim.
  - Claro, à vontade.
  A princípio ele ainda pareceu meio tímido, mas logo começou a falar e mostrava-se ser uma pessoa totalmente diferente – era o que sua mãe dizia, “nunca julgue um livro pela capa” – e logo, e gostaram dele.
  Quando saiu para falar com sei-lá-quem, lembrou-se de que ainda não sabia o nome do garoto.
  - Qual é o seu nome?
  - , e o seu? – Respondeu sorrindo. Ele não se cansa de sorrir?, pensou.
  - , como você deve ter ouvido gritar antes.
  - Ah é! – Riu, e depois continuou. – Mas ela não te chamou de outro nome?
   quis enfiar sua cara num buraco na hora. sabia que ela odiava que a chamassem de seu segundo nome, mas de vez em quando insistia em fazer isso, apenas para irritá-la.
  - – Disse, desviando o olhar.
  - É o seu sobrenome?
  - Nein, é meu nome do meio. – É, todos perguntavam isso, e ela não tinha outra opção senão dizer que seu nome do meio era um nome masculino.
  - É bonito, eu gostei.
  - Obrigada? – Disse incerta, rindo levemente, mas sabia que no fundo, o rapaz estava apenas sendo sincero.
  - Todo mundo te chama de , não é? – Assentiu – Pois a partir de agora, te chamarei de .
  Por algum motivo, ela não ficou brava nem nada. No fundo, ela ficou feliz com isso.
  Ah, aquele garoto era um doce.

  - .
  Ela acordou de seu devaneio com a chamando e olhando-a preocupado, e até um pouco bravo.
  - Desculpa, . Me distraí um pouco. – Ela disse, temendo qual seria o assunto da conversa.
  - Tudo bem, eu entendo. – Suspirou cansado.
  - Ei, por que não conversamos logo? Sei que você tá cansado e provavelmente querendo muito ir pra casa, então se formos rápidos, você poderá chegar mais cedo em casa. – propôs, preocupada com ele.
   demorou um tempo para responder, mas assim que o fez, já começaram a acertar tudo.
  - Ok. – Deu uma pausa – Abby quer que voltemos.
  Ao racionar o que tinha escutado, quase engasgou. Como é que é? Abby queria mesmo que eles voltassem a namorar?
  - Huh? Você tem certeza?
  - Ela não para de falar sobre isso, você não tem noção do quão irritante é. “Ah, mas vocês eram um casal tão bonito!", "- ainda não morreu", " e você só estão querendo novas aventuras, mas logo perceberão que pertencem um ao outro.” – Ele disse, imitando a voz da irmã – Abby é minha irmã e eu a amo, mas juro por tudo que eu não aguento mais isso.
  - Eu... Eu realmente não sei o que dizer. Desculpa. – Ela desviou o olhar para a rua – Mas resolvemos dar um tempo, por sua escolha, e depois, ambos concordamos em terminar.
  - Eu sei disso – ele respondeu sério – Mas até minha mãe fica falando “Ah, que saudades da , você sabe como ela está, filho?”. É impossível elas pararem!
   sabia que nada daquilo era sua culpa, mas não podia evitar sentir-se um pouco culpada. E ao perceber o que queria dizer, ficou com raiva dele.
  - Você não pode falar para elas pararem, por favor, ? – Pediu, como quem não queria nada.
  Ah, agora tinha certeza do que ele queria.
  - Por favor, não tente jogar a culpa em mim, . Já somos bem crescidinhos e podemos muito bem cuidar de nossos problemas. Eu não vou fazer isso. Não vou – repetiu a última parte mais para si, como se tivesse ter certeza - Por mais duro que seja admitir, ainda te amo, sim, mas não vou me rebaixar a tal nível. Eu gosto mesmo de você, e tivemos que terminar, por mais você sabe que compartilhamos muito além do que sentimentos. Abby e sua mãe podem continuar falando sobre isso o quanto quiserem, talvez até fazerem sua cabeça, mas se você quiser falar comigo, bitte, que seja sobre algo realmente importante.
  - Eu não quero que você faça isso! – Ele exclamou, como se tentasse a convencer de algo.
  - Se quiser que voltemos a namorar, ótimo. Mas que seja porque você quer, e não por outros. – Confessou e mexeu em sua bolsa, pegando um dinheiro e colocando-o em cima da mesa. – Desculpa estar te incomodando, , mas só vim porque pediu. Até a próxima.
  A mulher levantou-se e saiu da cafeteria, voltando a andar apressadamente pelas ruas. Conforme caminhava, apertava seus braços contra seu corpo, na tentativa de aquecer-se mais rápido – e até mesmo distrair-se.
  Não muito tempo depois, chegou ao hotel em que estava hospedada. Não era muito longe da cafeteria, mas ela insistiu em fazer um caminho maior para voltar, querendo esfriar um pouco a cabeça - não conhecia Wolfsburg tão bem, mas o suficiente para não se perder completamente.
  Entrou em seu quarto e preparou a banheira, afinal, precisava relaxar depois do encontro que tivera. Maldito .
  Justo quando ela estava começando a seguir em frente, ele resolveu aparecer e complicar tudo novamente. não entendia o porquê disso. Ele sempre fora tão autossuficiente, poucas eram as coisas que ele precisava de ajuda. Por que diabos ele fez isso?, pensava.

You know, I kept everything that reminds me of us
It sounds weird but your picture’s still hung
I’ve tried getting distract by other stuff
But that’s not enough

(Você sabe, eu guardei tudo o que me faz lembrar de nós
Parece estranho, mas sua foto ainda está pendurada
Eu tentei ficar distraído com outras coisas
Mas isso não é suficiente)

  Alguns dias haviam passado e já estava de volta à Gelsenkirchen, tentando fazer com que sua vida voltasse ao normal. Depois do encontro com , não havia mais conversado com ele, embora às vezes se segurasse para não ligar para ele e contar alguma coisa. Eles costumavam compartilhar a maior parte de suas vidas, mas agora não mais – e por mais que doesse admitir, sentia muita, muita falta disso.
  Não era à toa que ela ainda guardava algumas coisas que costumavam dividir. Aliás, continuava morando no apartamento que era deles. Depois da separação, decidiu deixá-lo para , já que, tecnicamente, não precisaria mais dele.
   estava pensando nisso quando se lembrou de que e Margot tinham combinado com ela de encontrar-se em seu apartamento. Deu uma espiada no relógio e viu que já era quase 19h30min. Droga, elas chegariam logo e não tinha arrumado o apartamento, nem sequer verificado se tinha comida suficiente na cozinha.
  Levantou-se do sofá e foi correndo arrumar a bagunça que havia feito durante aquela semana, vez ou outra tropeçando em alguma coisa no chão. Não tinha muito o que arrumar, mas ela costumava ser perfeccionista em relação à limpeza – já quanto a organização, nem tanto.
  Assim que terminou de arrumar, tomou um rápido banho. Quando viu que havia terminado o que precisava fazer, pegou seu celular e viu a hora. 19h59min. As meninas já devem estar vindo. E elas realmente estavam. No grupo que elas tinham, falara que estava indo buscar Margot e logo chegariam, então já devia ir preparando o que elas fariam.
  Ao ler a última parte, a mulher ficou indignada. Como assim ela teria que preparar a programação da noite? Pelo o que ela lembrava, não era o que tinham combinado. Mas mesmo assim, depois de muito pensar, viu que se fizesse isso, teria uma vantagem: não lavaria a louça que iriam sujar. E nem guardaria – porque, bem, ela as obrigaria a fazer isso. Ela sabia que por mais que tivesse recém enviado a mensagem, elas ainda demorariam um pouquinho para chegar – não entendia o porquê de elas resolverem se arrumar apenas na hora que supostamente deveriam estar saindo de casa.
  Foi até a cozinha e mexendo nos armários, começou a pensar no que poderia fazer - era uma boa cozinheira, mas nunca sabia o que fazer, e isso a deixava irritada, fazendo com que algumas vezes (que ainda eram raras) ela desistisse.
  Ao pegar uma forma de cupcake, teve uma ideia genial (ao menos para ela): faria um bolo – daqueles mais simples, porém gostosos – e, pediria uma pizza. Cardápio simples, mas para ela, que não tinha muito tempo, parecia maravilhoso.
  Em mais ou menos meia hora, conseguiu fazer o tal bolo e quando estava colocando a massa na forma, a campainha tocou. Sabendo que eram e Margot que estavam lá, não preocupou-se em atende-las logo, terminou de espalhar a massa e colocou a forma no forno.
  Ao abrir a porta, foi abraçada pelas amigas. Ah, como sentia falta dessas reuniões!
  - Ei , acho que já dá de largar, né? – disse rindo e fingindo estar brava, deu um leve tapa nela.
  - Minha casa, minhas regras, liebe. – Respondeu brincando. – Senti falta de vocês.
  - A última vez que nos vimos foi há dois dias, mas tudo bem, é o Fenômeno . – Margot também brincou, e assim foram se ajeitando na sala.
  Apesar de ter um sofá bem espaçoso lá, optaram por ficarem no chão, juntas e rodeadas de almofadas, travesseiros e cobertas. Como nos velhos tempos, a dona da casa pensou e sorriu, feliz.
  Após uma pequena discussão sobre qual filme assistiriam, acabaram decidindo por Truque de Mestre – apesar de já ter visto mil vezes e amado, as outras sequer tinham visto o trailer, então demorou um pouquinho para convencê-las -, O Primeiro Amor e Sociedade dos Poetas Mortos. Já que não trabalhariam no final de semana, iriam aproveitar para madrugar – exatamente como quando eram jovens, e mal sabiam do futuro que teriam.
  Pediram duas pizzas e as devoraram logo nos dois primeiros filmes, e no último, já estavam morrendo de sono – não é à toa que já estava dormindo desajeitadamente ao lado de -, mas a anfitrião permanecia mais acordada do que nunca. Sociedade dos Poetas Mortos era um de seus filmes favoritos e droga, como ela chorava assistindo-o!
  Quando namorava , eles sempre tinham uma noite de cinema, e inúmeras vezes ela pedia para assistir aquele filme, e ele sempre aceitava, consolando-a no final. Ela bem que tentou não pensar mais nisso, mas ao olhar pela sala, viu alguns retratos de que ainda guardava.
  Dois retratos deles no Brasil – um, numa das praias do Campo Bahia, e outro, no Maracanã, logo depois de conquistarem a Copa do Mundo 2014 -, um de com Moon e Olga – as gatas que tinham – e novamente, eles juntos, mas dessa vez em frente à Torre Eiffel.
   riu, sozinha. Ela era tola por ainda ter fotos deles, juntos – e até mesmo de sozinho -, depois de terminarem? Não tinha esperança de que de uma hora para a outra ele aparecesse na porta de seu apartamento e implorasse para voltarem e tudo. Definitivamente não. Mas as memórias eram mais fortes e de alguma forma, conseguiam controlar .
  Ela tentou fazer de tudo para se distrair e ver se conseguia fazer alguma mudança. Não tinha adiantado muito, mas já era um ótimo começo olhar para as fotos e não ligar para .
  Depois de pensar exaustivamente sobre sua vida nos últimos meses, caiu no sono.

I'm sleeping with a pillow, under lamplight
Freezing cold, 'cause you always liked the windows opened wide
Just so you know, I'll be here when you make it home

(Eu estou dormindo com um travesseiro sob lamparina
Frio congelante, porque você sempre gostou das janelas abertas
Só para você saber, eu vou estar aqui quando você chegar em casa)

  Aquela tinha sido uma das raras vezes em que não havia dormido em seu quarto, com Olga, encolhida na cama que parecia ser maior do que o necessário – talvez pelo fato de tê-la comprado, e ele ter o costume de achar que tudo era muito pequeno.
   e Margot ainda ficaram para o almoço no outro dia, e quando foram embora, não sabia o que fazer. Estava no mais puro tédio, e por mais que amasse filmes, não os aguentava mais. Ela não podia evitar pensar em . Eles sempre achavam alguma atividade para fazer, mesmo que fosse a mais sem graça – e até divertiam-se inventando algumas.
  Suspirou, xingando-se por pensar tanto no passado. Ela tentava seguir em frente, mas de uma forma ou de outra, algo a levava para o passado, fazendo seu peito ficar levemente apertado e imaginar o quão desastroso seria seu futuro.
   sabia que precisava saber a lidar com o término de um relacionamento, mas não tinha a mínima noção de como alcançar tal feito.
  Ela tentou entrar num curso de culinária. Iria lá toda terça e quinta de noite. Era divertido, tinha até feito alguns amigos e conseguia manter-se distraída, mas uma noite, não aguentou. Eles tinham que fazer um schnitzel e estava tudo bem, até ela terminar de faze-lo e olhá-lo. Droga, ele parece tão bonito e saboroso!, pensou. adoraria, é uma das comidas favoritas dele.
  - Quem é ? – Natasha, uma amiga que tinha conhecido lá, perguntou, curiosa.
  - Huh? – estava desatenta, e por isso não havia conseguido entender direito.
  - Você disse que um tal de adoraria esse schnitzel, quem é ele?
  Foi quando percebeu que não só havia pensado isso, como também falado em voz alta, ganhando a atenção de Natasha.
  - É meu, hm... Ex-namorado? – Respondeu, querendo se esconder de tanta vergonha.
  A partir daquele momento, decidiu que não queria mais fazer o curso, pois sabia que alguma hora, faria algo pior, começaria a chorar e olhariam para ela com pena, e com certeza não queria aquilo.
  Quando soube do acontecimento, foi até a casa da amiga, indignada e preocupada com .
  Ao abrir a porta, sabia que teria que escutar um sermão e, provavelmente, também ganharia um beliscão como forma de castigo. estava com a sua postura impecável de sempre, e quase desistiu de dar a bronca, mas seguiu fortemente com sua ideia. É para o bem dela, pensou.
   sentou-se no sofá e quando sua amiga voltou, trazendo duas xícaras de chá para elas, começou a falar calmamente com . A princípio, falou tudo o que já sabia – que ela devia seguir em frente, parar de pensar em e no passado, e principalmente, esvaziar a mente e tirar férias (porque ela realmente precisava) e blá blá blá – e terminou com um discurso de encorajamento. prestava atenção no que ela falava, e apesar de achar que ela, , devia fazer isso sozinha e sem ninguém a atrapalhando ou dando palpites, estava mais do que agradecida por ver que realmente preocupava-se com ela, e estaria disposta a fazer de tudo para ajudá-la.
  Quando foi embora, já era passado da meia noite. tomou um rápido banho e foi para seu quarto, onde ficou olhando a rua pela janela. Estava tudo sereno, e pequenos flocos de neve caiam, indicando que o inverno já estava ali.
   foi para sua cama e Olga a seguiu, se aconchegando em cima sua barriga. lembrou-se de que era a primeira vez que nevava, fez um pedido.
  Ela então olhou na direção da janela, vendo que tinha a deixado aberta. Deu um pequeno sorriso, lembrando que costumava deixar a janela assim – e novamente amaldiçoou-se por pensar nisso. Talvez queira voltar algum dia.

I’ll call you up at like 3am, again
Just to make sure you know that I don’t mind waiting,
Although the call will end up with us both saying
That we both hate this

(Eu vou te chamar às 3 da manhã, de novo
Só para ter certeza que você sabe que eu não me importo de esperar
Embora a chamada vá terminar com nós dois dizendo
Que ambos odiamos isso)

I’m not sleeping too well, now I’m sleeping alone
And all you have to do is pick up the phone
And I’ll come running to your aid but I’m sure you know
This won’t help us grow

(Eu não estou dormindo muito bem, agora que estou dormindo sozinho
E tudo que você tem que fazer é pegar o telefone
E eu virei correndo em seu auxílio, mas tenho certeza que você sabe
Isso não vai nos ajudar a crescer)

   acordou de madrugada, suando. Tinha sonhado que e ela passaram as férias numa cabana e ao voltar para casa, ele era assassinado. Não podia negar que estava assustada, e preocupou-se em saber como ele estava. Quando levantou-se, Olga aproveitou e foi para debaixo das cobertas, procurando o local mais quente.
   andou pelo quarto, procurando seu celular, e assim que o achou, voltou para a cama. Começou a mexer no dispositivo, até que se viu stalkeando . Ao perceber o que estava fazendo, saiu imediatamente da página e começou a falar com Olga, contando sobre seu sonho.
  - Mas sabe, Olga, acho que não chamaria isso de sonho. Está mais para um pesadelo. – Constatou, fazendo carinho na gata. – Nem sei porque sonhei isso, qualquer que seja a razão também não me importa. Você também tem pesadelos? Ou sonhos?
  O olhar de estava perdido e novamente procurou a janela, novamente encontrando-a aberta. E sem pensar direito, ligou para .
  - Boa noite... ? – Ele disse, sonolento e estranhando a ligação.
  - Oi .
  Tudo o que era possível ouvir era a respiração de ambos.
   estava nervosa, sem saber o que fazer.
  , por outro lado, parecia apreensivo, querendo saber o que queria falar com ele.
  - Como você ‘tá, ?
  - Hm, bem, eu acho. – Respondeu quase sussurrando, sentindo seu coração bater acelerado ao perceber que tinha sido chamada de . – E você?
  - Também.
  - Como está indo em Wolfsburg?
  - Ótimo, mas... – Deu uma pausa, procurando as palavras certas. – Não sei se fiz a decisão certa ao vir para cá.
  Se havia algo que tinha certeza, era de que podia desabafar quando quisesse com , pois ela era uma ótima ouvinte – e companheira – e faria de tudo para ajudá-lo. também tinha noção disso, e pelo mesmo motivo, resolveu ajudar o rapaz.
  - Por quê? Tem algo te incomodando?
  - Eu sinto falta de Gelsenkirchen, dos meus amigos do Schalke, da minha turma. Esses motivos não são muito válidos, mas droga, sinto tanta falta da minha família. Aqui, eu me adaptei, mas não tenho tanta base. Tudo o que tenho tá em Gelsenkirchen.
  Enquanto falava, o imaginava dizendo que sentia saudades dela, deles dois juntos, embora sua parte racional dissesse para ela parar de ser trouxa e encerrar a chamada.
  Entretanto, ela continuou falando com ele, sobre diversas coisas – desde a faculdade de Artes Plásticas que fazia, até Bob, o cachorro que havia adotado. sentia-se meio culpado por estar fazer isso, era como se usasse para esquecer a insatisfação que tinha em Wolfsburg. E não foi à toa que ele ficou chocado com o que falou.
  - Você sabe que sempre vou estar aqui, né? Não me importo de esperar. Se precisar de mim, sabe onde me encontrar.
   ficou com raiva, raiva de si mesmo. Não queria dar esperanças a , mas parecia que era o que estava fazendo no momento.
  Ele realmente gostava dela, mas sentia que agora queria ficar sozinho. Sem namoros, casamentos ou ficantes. Ele queria um pouco de paz para si mesmo.
  - Sim.
  Não
, era o que ele realmente queria dizer.
  - Desculpa, , mas você sabe que não iremos voltar.
  - Tudo bem – Ela sussurrou, concordando. – Mas podemos continuar nos falando, você não acha?
   concordou e embora parecesse que eles novamente estavam bem, tudo deslizou de repente, e terminaram falando, aos berros, que odiavam um ao outro, e mais ainda, a situação em que se encontravam.
   ficou chorando, encolhida. Em duas horas de conversa, eles conseguem se acertar e logo depois, estavam gritando, acusando-se de tudo o que podiam usar contra o outro.
  Realmente, pensou , o casal perfeito.

  Durante a semana que passou, não conseguia dormir direito novamente. Acordava no meio da noite com pesadelos ou simplesmente porque não conseguia dormir. Aliás, dormir também estava se tornando uma tarefa complicada para ela, já que o silêncio parecia assombrá-la desde o dia em que brigara com .
  Ah, ela sentia falta de compartilhar sua vida com alguém, embora também gostasse de ser livre e fazer o que quisesse – e às vezes, queria bater em si mesma, por não conseguir se decidir sobre o que queria fazer da vida; continuar sofrendo ou seguir em frente e fingir que nada tinha acontecido? Mas o que de fato queria era sumir e começar tudo do zero, como se nunca tivesse existido.
  Seu coração dizia que ela devia conversar urgentemente com e tentar fazer as pazes – novamente -, mas sua mente insistia que nada disso valeria a pena, pois nas últimas vezes que se falaram, foi um completo desastre – e a penúltima também, já que ele havia sido um completo idiota na cafeteria.
  Ele podia ligar para ela, chama-la para conversar e ela iria, como um cachorrinho hipnotizado – era duro para ela admitir, mas era a verdade. tinha certeza que não faria isso, pois apenas a quebraria mais – e a ele também – e não os ajudaria nada.
  Quase nove anos juntos para ver tudo virar em absolutamente nada. E desse nada, eles teriam que tirar alguma lição.

  (Talvez a lição de fosse a realização de que era uma droga se apaixonar. Ou que ela devia ficar sozinha o resto de sua vida. Ou que ela fosse viciada em amar, em querer o maldito .
  Mas o que ela aprendeu foi que não é preciso de alguém para ser completamente feliz. No começo, você vai achar que sua vida é péssima e nada vale mais à pena. Depois, verá o quão errada você estava e tentará mudar a situação – o que vai demorar, mas não quer dizer não vá acontecer. Eventualmente, algumas recaídas acontecerão, e não há nada que possa evita-las, mas fique tranquila, porque faz parte da superação. No final, você vai voltar a ser o que era antes – ou até mudar, para melhor – e perceberá que finalmente está curada.)

I'm sleeping with a pillow, under lamplight
Freezing cold, 'cause you always liked the windows opened wide
Just so you know, I'll be here when you make it home

(Eu estou dormindo com um travesseiro sob lamparina
Frio congelante, porque você sempre gostou das janelas abertas
Só para você saber, eu vou estar aqui quando você chegar em casa)

  Pela primeira vez em muito tempo, podia dizer que estava realmente bem. Sem ex-namorados causando insônia e problemas, ela estava aproveitando a vida – mais que isso, estava descobrindo como viver.
   estava no shopping, esperando e Margot para assistirem a sessão especial de filmes antigos. Sentada num banco em frente a uma loja de roupas, ela estava distraída com seu celular quando alguém sentou ao seu lado e a cutucou, timidamente.
  - .

   estava na praça, já cansada de esperar por – elas haviam marcado de se encontrar às 16h, mas parecia que a mais velha não sabia o que significava “hora marcada” -, ela decidiu dar uma volta pela rua e ir para casa, já que já havia esperado mais de trinta minutos pela amiga.
  Começou a andar e lembrou-se que na esquina tinha um shopping recém inaugurado, então aproveitou para conhecer o local. Vagava pelas lojas, sempre olhando uma coisa ou outra que chamasse sua atenção. Achou uma loja de joias e entrou nela, curiosa.
  Ao ver a seção dos colares, foi direto para lá – céus, como ela amava colares! Se pudesse, compraria (quase) todos! – e deixou-se entreter por eles. A cada um que via, seus olhos brilhavam mais ainda, achando tudo aquilo um verdadeiro paraíso.
  Estava tão distraída que não percebeu alguém a chamando, mas logo virou para descobrir quem era.
  - .
  - , o que devo a honra da sua presença? – Ela perguntou, sorrindo.
  - Nada, eu acho. – Deu de ombros e também sorriu. – Está livre agora?
  - Ja, me abandou. Por quê?
  - Você gostaria de, hm, ir tomar um sorvete? – Disse meio nervoso, o que fez acha-lo ainda mais fofo.
  - Não gostaria. Eu amaria.
  - Ufa, achei que não ia aceitar.
  - Talvez, - Tentou fazer mistério. – Mas como poderia resistir a um todo fofo e envergonhado me pedindo isso? Não tem como.
  Ok, eu estou flertando???, ela pensava, querendo mais do que nunca enfiar-se num buraco e fingir que nunca existiu.
  - Obrigado? – E ele ficou ainda mais fofo, oh céus!
  - Depois podemos ir ao cinema, que tal?
  - Eu adoraria.
  Sorriram um para o outro. estava assustada, pois bem, era a primeira vez que saía de verdade com um menino – se era o que poderia ser chamado de encontro -. , por outro lado, estava mais que feliz, estava radiante! Era como se ele tivesse ganhando na loteria, ou algo ainda maior.
   estava sentindo as famosas borboletas em seu estômago.

Fim

  Nota: Oi gente, tudo bom? Espero que tenham gostado da história, pois a Claire é uma personagem MUITO especial pra mim (e o Julian também é meu amorzinho, então né AUHEUAHUSHAU) e fico muito feliz em compartilha-la com vocês. Eu deixei o final bem em aberto, e sinto que foi a melhor coisa que fiz. Foi ótimo escrever Windows, e MUITO obrigada por lerem <3
  Nota da beta: Apenas um comunicado para esclarecer que as palavras em alemão, como “ja” e “nein”, que foram usadas na história, não são erros de digitação.