When I Saw You At Christmas

Escrito por Vittória | Revisado por Lelen

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Parte da Promoção de Natal 2014

Flashback - Três anos atrás

  Na estrada de Boston à Los Angeles você pode aprender muita coisa, inclusive a não confiar o futuro da banda com os outros dois integrantes quando eles são namorados e um trai o outro e resolvem se separar dias antes da Batalha das Bandas, principalmente, quando eles deixam a vocalista – ou seja, você - quase sem nenhum dinheiro largada em frente à placa de bem-vindo à Califórnia. “Minha sorte é ter dormido nas últimas seis horas” Pasadena anunciou a si mesma vistoriando a mochila procurando o que podia ajudá-la a sobreviver mais dois dias fora de casa, na areia do chão se juntaram um exemplar do seu livro preferido, um lápis de olho, um caderno, uma quantidade contada de roupas para a estadia e uma carteira com o ingresso da batalha das bandas. Olhou até o par de botas que usava e as abençoou naquele momento, o trajeto durou cerca de meia hora com a garota cantando no caminho, pois estava com certo medo de ser roubada naquelas ruas pouco movimentas. Não devia passar de oito horas quando as calçadas começavam a ser tomadas pelos trabalhadores locais e os pés da garota já não aguentavam muito mais do que cinco minutos. Checou o dinheiro guardado dentro da capa do celular totalizado R$ 30,55 pensando no café da manhã. Como estava no centro, o preço deveria ser mais acessível. Sua blusa e calça jeans, grudadas ao corpo por causa do suor, quase a impediram de entrar no shopping localizado no outro lado da rua. se jogou no banco em frente à porta automática enquanto muitas meninas se amontoavam na praça de eventos.
  - O que estão fazendo ali? – perguntou a um loiro na fila do quiosque do McDonald’s
  - Estão fazendo um teste para as ajudantes do papai Noel. É um emprego bom, paga por hora e começa hoje – falou com a atendente e pegou um refrigerante – Só estão aceitando pouca gente, daqui a pouco encerra.
  Jogou a mochila nas costas e o garoto a interrompeu:
  - O seu celular ficou no banco. – ele foi correndo para entregar-lhe o aparelho quando acabou tingindo a roupa de de laranja fanta.
  A temperatura de seu corpo havia baixado com o curto tempo de exposição ao ar-condicionado, contudo não estava preparado para um líquido recém-saído do freezer. Ela tomou o celular da mão daquele maluco, deixou-o se desculpando sozinho até encontrar um banheiro para trocar de roupa. Passou correndo até a praça de eventos e uma mulher baixinha a abordou por ter pedido a vaga de ajudante cujo as entrevistas já tinham acabado. Xingou-se mentalmente, aquele garoto miserável com sotaque idiota de estrangeiro, filho da mãe dos infernos. Educadamente perguntou quais vagas ainda estavam abertas, tentando controlar a respiração sem perseguir aquele estúpido e soltar os cachorros pra cima dele.
  - Agora são as audições de coristas.
  - Então a senhora pode colocar meu nome na lista.
  - Não é necessário, como paga por dia quase nenhuma pessoa se inscreveu. Pode entrar.
  Ou esse emprego pagava tão mal que ninguém quis ou era o dia de sorte de . Um senhor com toda pose de investidor de sucesso girou sua cadeira assim que a garota entrou e começou um interrogatório sobre por que queria o emprego de Natal. Como ela estava precisando, simplesmente inventou uma história doida de uma prima cantora que tinha solos na noite de natal e como os seus agudos a impressionavam. Quando perguntou sobre sua voz, deixara a modéstia de lado e falara que todos elogiavam seu vibrato. Cantara um pedaço de Let’s Snow e acabara contratada.
  - Já vi que foi contratada – declarou o loiro.
  - Seu ridículo, você me fez perder uma vaga!
  - E ganhar outra, te conheço do – o garoto sorriu – Eu sabia que tinha vaga pra corista e que Pasadena precisava de emprego. Sou .
   , ela conhecia esse nome! Ele era o amigo de , guitarrista de sua atual ex-banda, que ia lhe emprestar o baixo para que pudesse tocar no concurso.
  - Parece que você precisa de uma banda. E eu preciso de uma cantora para o Batalha das Bandas.
Flashback OFF

  Todo mundo se veste muito bem no Natal, escolhe a roupa dias antes ou até compra uma nova, mas nunca fiz isso, afinal, há apenas meus pais e eu no meu Natal. A nossa festa é vermos os especiais na televisão da sala enquanto esperamos dar meia-noite para abrir os presentes, ceiar e dormir. Não é tão ruim quando parece, principalmente porque ficamos muito tempo comendo e às vezes vamos até as casas de uns vizinhos para uma rápida passada. Esse ano vai ser a mesma coisa, só que a mesa não vai estar posta tão cedo, já que os meus pais resolveram visitar o Grand Canion essa época e me deixaram sozinha por uns três dias com a vigilância da diretora do meu colégio, que mora a duas casas da minha, acabando com toda e qualquer expectativa de ser uma adolescente irresponsável fazendo uma festança numa residência vazia. James Hastings mora no outro lado da cidade e passou uns dias dormindo lá para me ajudar com um assunto do colégio, a maldita química orgânica, gerando vários comentários nos corredores do Yaston High School comprovando que a senhora Hastings não estava preocupada em informar o que acontecia comigo não apenas para os meus pais e sim, para todos os alunos.
  Eu estava sozinha e entediada, com todas as matérias praticamente prontas para as provas, nem estudar precisava. Eram onze da noite, muita coisa já tinha fechado e nem aberto de manhã, então pensei em ligar para os meus amigos, até lembrar que os Hastings faziam o Natal mais tradicional possível com parentes e agregados de todos os lugares do país juntos, e que Anna tinha viajado a fim de encontrar o seu namorado, Sean, na Califórnia. Não podia mais dormir, pois foi o que fiz nas últimas quatro horas - sou praticamente uma múmia quando se trata de sono - o meu celular tinha descarregado e os filmes na estante já tinham sido assistidos tantas vezes que podia encená-los de pronto. Respirei fundo, coloquei o meu cartão de memória no som e me joguei no sofá. O telefone começou a tocar, mas custei a levantar e ele acabou caindo na secretária eletrônica com um recado da Dana:
  - , liguei para dizer que as indústrias NomeDaIndustria mandaram um lote dos produtos deles pra nós, todos estão comentando sobre ser os jogos que encalharam, contudo, ainda estão novos e bons pra serem distribuídos para as crianças, como você vai passar a noite com os seus pais, resolvi avisar. Feliz Natal! - no final, o bipe soou.
  - Feliz Natal, Dana - respondi a secretária eletrônica.
  Após vários minutos com 30 Seconds to Mars, McFly, Backstreet Boys e Nickelback no rádio, decidi que ia fazer alguma coisa para comer mesmo com a ceia encomendada, não conseguiria ficar de pé para esperar a comida até meia-noite. No caminho da cozinha fui interrompida pelo telefone tocando novamente, estou ficando popular.
  - ? - reconheci a voz da minha mãe do outro lado da ligação
  - Mãe, você não devia estar no avião agora? – estranhei.
  - Exatamente, é sobre isso o assunto. O voo foi cancelado por um problema com motor e só vamos conseguir chegar ai por volta das quatro e vinte da manhã. - Notei um tom de desapontamento em sua voz - Desculpa por não poder passar o Natal com você.
  - Tudo bem.
  - Pega a ceia na padaria, acho que a essa hora está pronta e pode comer agora, porque do jeito que você é morta de fome deve estar revirando a cozinha. Feliz Natal, filha.
  - Feliz natal, mãe.
  Mudança de planos, o brigadeiro estava suspenso por um tempo, agora precisava pegar a ceia. Troquei a roupa colocando uma calça jeans e um casaco por cima de uma regata alongada. Ao abrir a porta dei de cara com Kylie, dono da padaria, me informando que já iam fechar e que eu tinha que buscar às sete e meia. Coloquei as caixas em cima da mesa, menos a menor porque ia levar comigo no trajeto até o orfanato. O ponto de ônibus estava vazio como era de se esperar, assim como o transporte demorado; observei o relógio da casa próxima, dali indicava nove horas, fiz uns cálculos mentais e notei que ainda chegaria a tempo de separar os brinquedos. Ao entrar no ônibus meu medo de morrer se tornou real, o motorista parecia não conhecer as leis de trânsito, nem o freio. O bairro era residencial e estava muito animado, as famílias se espalhavam nas varandas, vizinhos conversando porta a porta e a iluminação cegando qualquer um que fixasse o olhar nela.
  O orfanato era um prédio baixo com uma fachada reformada que frequento desde que o colégio organizou um passeio para vermos a desigualdade social na cidade quando eu tinha doze anos e resolvi ajudar. Como só era boa no vôlei e meus amigos eram monitores, ficava sem fazer nada, então continuei ocupando o meu tempo com o voluntariado. Um caminhão das Indústrias NomeDaIndustria já estava descarregando, joguei a caixa das poucas rabanadas no lixo e anunciei para minha supervisora que podia ajudar a carregar as caixas.
  - Então , você leva essas caixas pro quinto andar onde estão embalando e pode ajudar a escolher qual presente vai para quem já que conhece as crianças tão bem. - Ela passou uma caixa de papelão pesada para minhas mãos e foi empilhando mais algumas - O vai levar também, pode segui-la.
  - Pode vir. - respondi sem ao menos ver o rosto do garoto, só consegui ver seu dedo tocando o botão do elevador que insistia em apagar.
  - Você só precisa segurar por mais tempo, elevador velho é assim. Relaxa, ele não quebrou em todos os anos que estou aqui.
  A porta foi rangendo e abriu para nós entrarmos. Havia um cheiro bom de terra molhada que foi se esvaindo quando entramos. E de repente, as luzes piscaram e restou apenas uma pequena luz mais escura de emergência. Depois de reclamações em uníssono, larguei as caixas de lado e me sentei no chão.
  - Que boca de praga! - se eu tinha qualquer suspeita sobre quem era aquele garoto, havia sido confirmada agora.
  - Cala boca, !
   tirou o boné depois de eu tê-lo chamado assim. Colocou as caixas ao meu lado e se sentou também.
  Revirei os olhos, essa ele tinha desenterrado. tinha mudado muito desde que cantei com ele na Batalha das Bandas, a idade o reivindicou, havia crescido, ganhado músculos. Observei a plaquinha na sua camisa xadrez, ele trabalhava agora nas indústrias NomeDaIndustria. O garoto mexia no celular, tentando fazer uma ligação e apertava furioso a tela. Coitado, parece que não moramos na mesma cidade em que sinal bom é coisa rara. Passou a mão nos seus cabelos cacheados o colocando todo para trás como quando fica irritado.
  - Tem alguém te esperando?
  - Não.
  Mesmo nos termos conhecido apenas pra ser sua cantora substituta, nós tínhamos virado muito amigos, principalmente quando veio passar as férias em Boston. Trocamos cartas por um ano e já sabíamos toda a história da vida um do outro até que as cartas começaram a voltar. Ele não havia mudado o comportamento de família, pelo menos. Ao ter ido morar com sua tia Charlie aos treze anos, havia descoberto muita coisa sobre sua família, uma parte dela que vivia tentando derrubar uns aos outros e nas reuniões, quando resolvia se pronunciar, falava apenas a verdade como lhe foi ensinado e isso irritava muita gente porque ele não apenas reproduzia, era crítico e falava tudo com muita personalidade. Depois disso, não se sentia bem em ficar com todos os parentes num mesmo lugar sendo forçado a conviver sem poder expressar sua indignação com a falta de caráter deles.
  - O que você está fazendo aqui na cidade?
  - A Charlie se mudou pra cá há uns dois meses.
  - E por qual motivo você não falou comigo?
  - Porque eu estava guardando dinheiro pra comprar um baixo pra você?
  - Eu já tenho um baixo, gênio!
  - Mas tá precisando de um novo, tirando que não posso pedir pra que uma garota cante na minha banda sem nenhum presentinho.
  Soltei uma risada.
  - Esse é o seu desejo de Natal?
   assentiu e perguntou de volta:
  - Qual é o seu? – olhando o relógio – Já é meia-noite, então, feliz natal.
  - O meu é sair daqui porque estou morrendo e fico feliz em poder atender o seu. Feliz Natal, .



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