Ugly Dunkling

Escrito por Raisa L. | Revisado por Mariana

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  - Okay, , a partir de agora, você vai começar a usar isso. – A mais velha indicou uma mascara branca.
  - Por que, mamãe? Marshall também vai usar?
  - Não, ele é perfeito. Mas você... Você definitivamente precisa ser escondida. Agora me ouça. – A mulher se abaixou, para que pudesse que seus olhos pudessem encarar os castanhos da filha, diferentes dos seus que possuíam uma cor clara, aceitável. – Nunca cogite a possibilidade de tirar a mascara, me ouviu? As pessoas não podem olhar para seu rosto.
   apenas confirmou com a cabeça. Já vira antes crianças da sua idade usar mascaras, os empregados de sua casa também usavam mascaras como aquela, mas ela não podia entender porque teriam que usar, principalmente ela. Uma vez perguntou para seu irmão, dois anos mais velho que ela, o porquê daquilo, “Eles são feios demais para serem vistos.” Fora o que Marshall disse quando Felicity lhes servira café. Agora, aos cinco anos, era obrigada a usar tal objeto, era assim que se sentir triste era?
  - Mamãe, você me acha feia?
  - Não, querida, não é isso. Mas as pessoas poderiam ser muito más com você, não quero que você se machuque.
  Nora Erickson passava a mão nos cabelos da filha, desejava tanto que aquilo tudo fosse diferente, que aquela lei idiota nunca existisse, assim ela poderia cuidar a sua filha. Via tal regra como uma maldição, e que agora ela tinha que sofrer do único temor que tinha, sua filha era feia.
  Nora se lembrava pouco de como tudo começou a acontecer, tinha um pouco mais idade que , a limpeza nas cidades chegavam a ser sangrentas, lembrava de sua mãe se vangloriar da perfeição enquanto nos noticiários eram anunciados as perdas de matrimonio, de direitos, de vida daqueles que não se encaixavam nos padrões de beleza aceitável, não houve revolução, as coisas aconteceram tão as escuras, que quando cresceu já não havia como reclamar. Estavam presos a uma ditadura da beleza.
  Nora abandonou os filhos na biblioteca particular para ter uma conversa com o marido. ainda estava aturdida com a situação, enquanto Marshall vasculhava as prateleiras em busca de algo.
  - Não se preocupe, , tudo vai ficar bem. – Marshall tinha um carinho enorme pela irmã, então não hesitou e puxar um exemplar fino e por em frente a garota. – Aqui.
  - Mars, você sabe que eu ainda não sei ler! – cruzou os braços de uma maneira infantil, o irmão sorriu.
  - Vou contar para você. – Os dois se sentaram um em frente ao outro, Marshall abriu o livro e contou a história de um pequeno pato que era diferente dos outros, por isso era chamado de feio. - O patinho feio, muito tímido, baixou a cabeça e viu a sua imagem espelhada na água. Reparou então que já não era feio e desajeitado, mas que se tinha tornado num esplêndido pássaro branco, num belo cisne branco! E assim ele pode viver feliz para sempre!... É uma história legal, não é? – A garota apenas concordou com a cabeça, ainda maravilhada. - , um dia você vai ser a garota mais bonita de todo o mundo.
  - Você acha?
  - Sim, eu acho, Ugly Ducklikng.


  Dez anos haviam se passado e nada havia mudado. Marshall estava em seu ultimo ano de colégio, enquanto estudava em casa, escondida do pai. Sua mãe havia dado a luz a outro garoto, Edgardd, de quem era babá.
  Tomar conta do irmão de três anos foi a única forma que teve para permanecer na casa. Seu pai ainda não aceitava o fato da filha não ser bonita e a desprezava, falava para os conhecidos que sua filha tinha uma doença muito séria, da qual ela não poderia sair do quarto, “antes uma filha perturbada a uma filha feia.” Tentou expulsar a garota de casa diversas vezes, foi então que a mãe de decidiu, trabalharia para a família em troca de moradia e comida, e assim Albert começou a tratar ela como um de seus empregados, do quais ele tinha total repudia. Marshall a ajudava nos estudos na madrugada, chamava-a carinhosamente de patinho feio, com a esperança de um dia poder ver a irmã novamente sem aquela mascara.
  Mascara da qual nunca tirava na presença de outra pessoa, até mesmo ela não se via sem, tinha medo de encarar o seu reflexo no espelho e se deparar com um monstro. Gostava de se imaginar a mistura perfeita do sorriso do pai, com o nariz fino e delicado da mãe, imaginava ter uma covinha na bochecha, assim com Ed, seus olhos eram a única coisa que via, eram levemente mais escuros que o de Marshall, e eram tão expressivos como os dele. Ela desejava tanto ser bonita como Mars...
  Acabara de colocar Edgard para dormir, e se retirava para a biblioteca, onde hoje iria praticar história com o irmão. Vasculhou os livros e mais uma vez se deparou com o fino livro onde continha o conto que lhe era tão familiar, puxou-o da prateleira e o abriu, podia dizer todas as palavras sem nem precisar abri-lo, mas era tentador ler, aquele livro era a esperança de . Ouviu a porta pesada abrir e correu até se tornar visível, o sorriso oculto pelo objeto branco.
  - Mars, olhe o que eu encontrei! Ah, Mars esse livro era tã...
  As palavras morreram junto com a risada divertida, aquele não era Mars, mesmo aparentando ter a mesma idade, era tão bonito quanto Mars, mesmo que diferente, uma pessoa que ela não deveria ter visto, e o principal, que não poderia ter a visto.
  - Quem é você? – O garoto perguntou, revelando uma voz grave. permaneceu calada. – Vamos, me responda, quem é você? Não fique calada, estou dando uma ordem. Me diga quem é você!
   respirou fundo, ela era uma subordinada a qualquer um que não usasse mascaras, ela tinha que obedecer. Seus olhos estavam encarando o do garoto com tanto temor que não tinha nem capacidade de pronunciar-se.
  - ! O livro estava na minha mochi... – Marshall entrou pela porta e encarou a situação, logo sentiu medo pela irmã. – Mas o que está acontecendo aqui? Duckling, você não deveria estar cuidando de Edgard? Já o pôs na cama? – confirmou com a cabeça, estava acuada demais para se pronunciar. – Me diga, ele assistiu Sherek mais uma vez. – deixou escapar uma leve risada, mas logo se conteve. - Ele nunca consegue chegar ao final sem dormir.
  - Que filme mais antigo! – O garoto se pronunciou. – Minha avó assistia esse filme quando era criança, como há pessoas que gostam daquilo? – e Marshall ficaram calados, os dois tinham Sherek como filme favorito, o que fez Edgard gostar também. – Mas, Marshall, por que essa garota estava lhe chamando de Mars?
  - Patinho feio me chamou de Mars? – Os irmão trocaram olhares parecidos. Desespero.
  - Como é? Você a chama de patinho feio? – O garoto virou-se para Marshall com grande indignação. – Como você pode fazer isso? Cara, pensei que você detestasse tudo isso, mas você chama a garota de patinho feio? Qual o seu problema, Mars? Já não basta ser humilhante andar para lá e para cá com uma mascara e você ainda a chama de tal modo?
  - Calma, , é apenas uma brincadeira que tenho com ela! Ela gosta de ser chamada assim... Por mim, pra deixar claro.
  - Você gosta quando ele a chama assim?
   se aproximou três passos de , ela recuou um, enquanto concordava com a cabeça.
  - Não precisa ter medo de , Duckling, ele é meu melhor amigo, não seria capaz de fazer algo contra você. Ele também não vai contar nosso segredo. Não é, ?
  Mas apenas concordou com a cabeça. Olhava para o fundo dos olhos da garota, mesmo que tão assustados, pareciam tão misteriosos. Ele estava tentado a retirar aquela mascara.
  Nunca foi curioso em relação aos feios, sempre os via como subordinados e intocáveis, era como se um leão quisesse ter contato com um gafanhoto, era estranho, fora do ciclo natural da vida. Sentia uma compaixão por eles, fora praticamente criado por um deles, já que seus pais nunca se preocuparam em serem presentes, mas mesmo assim, Dalilah não fazia mais que sua obrigação, não é verdade? Mas aquela garota, com aqueles olhos, sentia que aquela garota tinha algo de diferente, como Mars conversava com ela, daquela forma doce, de como ela parecia feliz em encontrar Marshall, qual era aquele mistério? Por que era tão tentador querer descobrir? Ele queria muito saber como ela era sem mascara, queria ouvir mais aquela voz, pode parecer estranho, mas teve a impressão de que aquela garota não era desprezível do mesmo modo que os outros.


  Naquela noite não teve nenhuma aula com Marshall, nem nas semanas que se sucederam, só depois de algum tempo conseguiu ter algum tempo livre do irmão.
começou a frequentar a casa com mais frequência, o via a observar por muitas vezes enquanto ela cuidava de Ed, havia noites em que ajudava Marshall nas aulas, certa vez estudaram as revoluções do século XXI, explicava sobre o cenário de guerra entre governo e manifestantes na Ucrânia, que acontecera há pouco mais de meio século, em 2014, era um fato muito interessante, quando as pessoas não abaixavam a cabeça para uma ditadura, era uma época que as pessoas tinham direitos e lutavam por eles.
, mesmo que ainda receosa, tomou para si como um amigo. Começou a admira-lo por se voluntariar a estudar historia com ela, ele era divertido, fazia rir, e mesmo que às vezes ela o pegasse a encarando de forma estranha e misteriosa, começou aos poucos a confiar em .
  Após os estudos daquela madrugada, Mars e ficaram no quarto de , que era no sótão, ouvindo aquelas musicas antigas que ela tanto gostava, os cantores do inicio do século, uma tal de Jessie J, também tinham bandas mais antigas, como uma FooFighters, Marshall gostava desses, tinha até alguns arquivos com essa banda, mas era mais oldscholl, usava um aparelho muito grande, muito cheio de botões, foi o que ela tinha encontrado no sótão antes de fazer ele de quarto.
  Enquanto ouviam uma musica que falava algo como fazer o próprio caminho de volta para casa, aprendendo a voar, Marshall suspirou.
  - Queria ter vivido naquela época... Abriria mão dessa mansão, da vida boa, de qualquer coisa para poder não viver nisso.
  - Mars... Deixe essas lamentações para mim. Já disse! – revirou os olhos. – As pessoas tem ódio gratuito por mim e mesmo assim não reclamo.
  - Eu só não acho justo! Eu gostaria que você fosse feliz.
  - Mas eu sou feliz, quem disse que não? Eu tenho você, tenho Felicity, tenho Ted e mamãe, que mesmo do jeito torto dela consegue me amar.
  - E você tem a mim também. – se pronunciou, um pouco aéreo, mas certo do que ele estava falando. – Sou seu amigo agora.
  - Está vendo, Marshall, o que mais preciso para ser feliz?
  O irmão mais velho de permaneceu quieto. Ainda não se conformava com o fato de sua única irmã não poder viver as mesmas experiências que as garotas da idade dela.
nunca teria uma vida comum, não iria poder se casar, ter filhos, nem mesmo ir ao baile de formatura que a turma dele está organizando. Era triste saber que por ideais distorcidos a sua irmã nunca seria verdadeiramente feliz. Afinal, quem foi o idiota que definiu o que é bonito e o que é feio?
  - Será que eu nunca vou poder ver seu rosto novamente, Duckling?
  Mars encarou a irmã e por muito tempo ficaram assim e em completo silencio. Até capturara a aflição que se formou na pergunta, até porque, ver o rosto da garota foi tudo o que ele sempre quis.
  - Mars. Nós já falamos sobre isso. Eu não posso fazer isso, por mais que você me ame, eu não posso arriscar te perder. Não vamos mais discutir esse assunto.
   se levantou e desligou o aparelho que agora tocava outra musica,“Você nasceu para resistir ou ser abusado?” era o que cantor gritava em plenos pulmões, “Alguém está tirando o melhor de você?” não iria saber responder aquilo, ela apenas gostaria de deitar e desejar que essa conversa nunca tivesse acontecido.
  - Garotos, eu estou cansada.
  Marshall foi o primeiro a se levantar. Beijou a palma da mão da irmã e a olhou nos olhos, sussurrou que a amava, fez o mesmo.
   ficou mais alguns segundos esperando que Marshall saísse, só então foi parar em frente a . Todas essas semanas que estiveram juntos, que ela finalmente havia perdido o medo dele, fazia com que a curiosidade dele aumentasse, mas não apenas isso. Um afeto maior do que ele queria que existisse estava se formando. era doce, tão delicada, se esforçava nos estudos, mesmo sabendo que aquilo não a levaria a lugar algum, mesmo usando aquela mascara branca, era tão fácil de saber seus sentimentos. tinha olhos fantásticos, podia demonstrar qualquer tipo de sensação que a expressão poderia mostrar, sempre ouviu a tia dizer que para os avós dela os olhos eram o espelho da alma. então começou a questionar, por que esconder o rosto da mais bela alma que ele já vira?
  - . – se pronunciou, a olhou nos olhos e segurou-lhe as mãos. – Não fique triste pelo que Marshall disse. Ele só quer seu bem.
  - Eu sei, . Obrigada. – Era difícil para ela encara-lo. Desde quando seu estomago embrulhava daquele jeito?
  - Antes de ir, eu quero que você saiba. Você é mais bonita do que qualquer garota que não use isso; o que você é o que te faz tão linda.
   nunca ficou tão feliz em está com o rosto coberto. Só assim não pode ver o quanto suas bochechas ficaram vermelhas.


  - GOOOOOL! – Marshall gritou em plenos pulmões junto a Edgard.
  - Quem é o melhor?
  - Mars!
  - Quem é o melhor?
  - Mars! Mars! Mars!
  Marshall e Ed continuavam a gritar a vitória num jogo de futebol virtual. estava de pé, ao fundo da sala, observava toda a festa dos irmãos com um sorriso oculto, viu fazer birra, arrancar o capacete holográfico e joga-lo no sofá, então se permitiu gargalhar, a risada alta e abafada pela mascara fez com que os três rapazes a olhassem.
  - Mas que palhaçada é essa? – A voz grave do homem de cabelos grisalhos fez com que todo o clima de descontração acabasse. – Posso saber quem ordenou tal interação com meus filhos?
  - Me desculpe, senhor Erickson, a culpa foi minha. – se pôs na frente de , estendendo a mão para o pai dos amigos, que não foi aceito o comprimento. – Eu estava discutindo com Marshall e Ed sobre quem era o mais engraçado. Ordenei que ela risse quando fosse engraçado.
  - , lamento por ter sido educado em casa por aquela qualquer, infelizmente seus pais estão muito ocupados colocando ordem em tudo. Mas na minha casa não quero que meus filhos se misturem com os empregados, eles obedecem nossas ordens, não estão aqui para rirem de nós. Se há algo para rir aqui é sobre o fato de eles serem desprezíveis.
  Albert não ficou para ouvir toda a raiva que seu discurso causou em , ele cerrou os punhos e ficou encarando o vão da porta, agora vazio, sua vontade era de ir atrás daquele senhor e falar muitas verdade que ele precisava ouvir, quem sabe um contato mais físico pudesse ajudar a Albert Erickson entender que era um ser humano e que ela tem que ser respeitada como qualquer outro. Mas sua vontade de uma atitude mais bruta se esvaiu ao ouvir a voz de Edgard tão próxima dele. Virou-se e viu o garotinho abraçado a , que acareava-lhe a cabeça.
  - Não chore,. Não gosto de te ver triste. O papai fala isso porque ele não te conhece.
  - Está tudo bem, Ed. Por que você não vai jogar agora? – Marshall puxou o irmão para o sofá e lhe deu o capacete holográfico. – Já, já venho jogar com você, ok?
  Edgard não se manifestou mais, sabia que não iria adiantar argumentar, era apenas uma criança. As crianças foram a maior evolução do passar dos anos, eles processavam as coisas mais rápidas, entendiam com mais facilidade, eram bem evoluídos intelectualmente se for comparados aos pais quando tinham aquela idade. Por sua vez elas eram subestimadas. Exemplo de Edgard. Ed sabia mais do que aparentava, observava tudo, as conversas de Mars com quando ele fingia estar dormindo enquanto eles assistiam Sherek antes de dormir, Ed também ouvia as brigas do pais, uma ou duas vezes viu a mãe falar para o pai que merecia mais que aquilo, que ela era filha deles. Ed sabia que era sua irmã mais velha, a amava como tal, mas também sabia que se ficasse calado e não comentasse sobre o que ouvia teria para sempre do seu lado. Era arriscado demais saber demais quando você é uma criança.
  Ao colocar o capacete holográfico e um mundo colorido surgir diante de seus olhos Ed lembrou-se de que mesmo que não te escutem ser criança ainda é a melhor opção.
  Enquanto Ed jogava, Mars observava acalentar sua irmã. Assistia atento ao quanto aquilo poderia ser perigoso. Mars sempre fora amigo de , talvez por terem tanto em comum, ambos tinham uma ligação forte com os mascarados, mesmo que fosse um pouco mais autoritário. Os dois trabalhavam juntos em protestos e projetos, ambos queriam cursar advocacia, talvez assim poderiam encontrar uma maneira de ajudar todas aquelas pessoas que foram julgadas por outros. Havia outra coisa os dois estavam compartilhando há alguns meses, um amor por . Marshall temia todo o tratamento especial que dava a , eles estavam cada vez mais próximos, ele cada vez mais carinhoso, ela cada vez mais encantada. Mars notava o que estava surgindo e aquilo era perigoso, caso o que Marshall estava pensando viesse a acontecer, ele teria que estar preparado para proteger sua irmã. Ele se via na obrigação de não deixar que aquilo continuasse, não poderia suportar a irmã ter seu coração quebrado, ele mal conseguia digerir o fato da irmã ter que usar aquela insanidade de mascara.
  Foi por isso que Mars pediu para conversar com antes que ele partisse naquela noite. Fez questão de caminhar por aqueles jardins enormes de sua casa para que sua conversa não fosse ouvida por ninguém. Parou em frente de e o encarou.
  - Eu sei o que você está fazendo, . E eu tenho que dizer que não estou gostando nada disso, ou de como isso pode acabar.
  - Desculpe, Mars, não sei do que eu está falando.
  - Estou falando da , ! – Marshall se concentrava muito para não gritar com o amigo. – Você está exagerando! Primeiro você pede para ajuda-la com os estudos, depois vocês ficam amigos, então você começa a fazer de tudo para que ela se sinta bem, então começa a fazer passeios noturnos as escondidas, e ela ri de tudo que você faz, ela fica feliz quando você chega... Até presentinhos você está dando para ela! – Marshall já não conseguia mais ficar parado, suas mãos gesticulavam, seu tom de voz já não era mais tão controlado, sua paciência não era mais a mesma. – , você é meu melhor amigo. Mas é minha irmã! Eu não posso simplesmente ver que você está prestes a machuca-la e ficar calado.
  - Eu não vou machuca-la, Marshall. – disse sério, mais sério do que Marshall jamais tinha visto na vida. – Machucar sua irmã é a ultima coisa que eu quero na vida. Você não entende? Você acha que só você se importa com ela? se tornou importante para mim, Marshall, tanto quanto ela é para você. Não estou fazendo nada que possa prejudica-la, eu só quero ajudar, quero que ela possa se sentir parte de algo, quero que ela faça parte de algo comigo!
  - Então me diz, . Me diz como você vai fazer depois? Você vai se formar, vai para a faculdade, você vai sumir da vida dela, vai encontrar uma garota, vai se apaixonar por ela. E aí, ? Como você vai fazer de parte de algo? Vai fazer meu pai dar ela para você, para ela ser sua subordinada? Vamos encarar os fatos, , você não pode fazer de algo que ela não é!
  - Marshall. Se você não quer lutar para que sua irmã seja o que ela merece ser, eu vou. Vou fazer de tudo! Eu enfrento seu pai, enfrento os meus pais, enfrento o mundo se for preciso. Vou esgotar minhas forças, não vou abandoná-la como seus pais a abandonaram! – deixou seus ombros relaxarem, ele tinha tal ideia na cabeça por um tempo, ver o que o senhor Erickson fez com reforçou ainda mais aquela ideia. – Não suporto ver as pessoas a machucarem, Marshall, não suporto não poder encarar seu rosto, ver o sorriso dela, eu sonho com o dia de ver o rosto de todas as noites. Não suporto mais idealizar! Preciso agir!
  - não é uma missão, . – Marshall agora parecia tão cansado e triste com a situação quanto , ele podia até sentir a dor das palavras do melhor amigo.
  - Eu não a vejo como uma missão, é a pessoa que eu mais amo no mundo, Mars! – As palavras saíram tão fáceis e ao mesmo tempo tão sofridas que demorou a ter perceber que estava desabafando. – Eu estou completamente apaixonado por ela.


  Observavam o céu, não sabia a partir de que momento, mas estava com a mão direita entrelaçada na esquerda de e aquilo a aquecia. Eles estavam tão próximos ultimamente, era incrível como ele a fazia sentir, eram gestos que não eram comuns para ela, um afeto nunca mais visto e nutrido.
sentia que perto de toda a tristeza que passou na vida diminuíssem até desaparecer, a forma que ele a olhava, como se pudesse ver através daquela mascara, como se visse através dela...
a fazia sentir uma pessoa que jamais pensara que fosse, ele a fazia se sentir linda!
  Eles começaram a trocar carícias inocentes também, palavras doces, era tão difícil não amar . Mas ao mesmo tempo em que ela o amava ainda mais tinha que reprimir seus sentimentos, era um amor impossível, estava destinada a viver sozinha, sem nenhuma possibilidade de se relacionar, era lei, mascarados não poderiam procriar, a raça humana deveria ser limpa. E mesmo que pudesse, ela nunca poderia estar com , eles eram diferentes, eles não nasceram para serem um do outro. Doía em saber disso, doía tanto que seus olhos marejaram no exato momento em que se encararam, ela desviou sua mão da de e imprimiu uma expressão de exclamação, para ele tudo estava tão perfeito até aquele momento, o que havia de errado? examinou o perfil da garota, era em momentos como aqueles que via algo além dos olhos de , de perfil, com os cabelos atrás da orelha ele podia ver a orelha, e o inicio da tempora, era o máximo que conseguia, e aquilo o torturava aos poucos. Já haviam conversado sobre ele achar que ela não precisaria daquela mascara, e já discutiram pelo medo da garota das consequências de que aquilo poderia causar, então encontrava a chance de mostrar para ela que nada mudaria, ele ainda estaria ali para ela. Naquele dia, em especial, se via necessário em falar aquilo para . O baile de formatura estava se aproximando, e quanto mais ele pensava naquilo, mais ele queria a companhia da , mas que para isso acontecesse ele iria precisar insistir, e ser tão honesto como jamais fora na vida. Afinal, ele precisaria ter um bom argumento.
  - ... Posso te perguntar algo?
  - Você já está perguntando, .
  - Você que ir ao baile comigo?
  Ele não queria perder tempo com discursões bobas, ele precisava descarregar aquilo. O silencio que se formou logo aquela pergunta foi tão sofrido quanto todos esses dias ansiando pela visão do rosto de , pela vontade de provar seu beijos, pela ideia de prova-la.
  - , eu não suporto viver com a ideia de que o meu maior desejo seja impossível, é torturante ter que conviver com o fato de não poder ter você na minha vida como eu desejo que seja. Eu quero que você seja minha, , quero poder amar você, e não venha dizer que isso nunca poderá acontecer, você tem tanto direito de viver sua vida quanto todas essas garotas que pensam que são bonitas só por não estarem usando uma máscara. Você pode me ter, , nós podemos viver juntos, podemos mudar tudo... A não ser que... – então suspirou, sabia que poderia não estar falando algo coerente, mas ele soltava tudo que estava preso durante meses, estava tão desesperado que só então percebeu, com dor, que poderia não se sentir da mesma forma. – A não ser que você não me ame.
  - É lógico que amo! – disse sem hesitar, ainda processava tudo o que disse, mas ela não poderia deixar que ele duvidasse do seu amor. – Amo com todas as minhas forças. Mas, , nunca irão aceitar uma mascarada no baile, nunca vão aceitar que uma pessoa como eu possa ser feliz! Eu não posso fazer com que você sofra por um problema que não é seu.
  - Está na hora de você parar de se esconder, . – se levantou, limpando a grama da calça. – Se permita. Eu não vou deixar que nada de mal aconteça a você, não me perdoaria se deixasse... Eu estarei te esperando no baile, sexta a noite. Espero que você esteja tão pronta quanto eu para lutar pelo nosso amor.


  Edgard reclamou muito de os últimos dias, ela sempre pareceu estar nas nuvens, até perdeu jogando Candyland, e era ótima naquele jogo. Ed aceitou os pedidos de desculpas de nos dois primeiros dias, então ela desistiu de tentar e começou a aproveitar a vitória. Afinal, ganhar era tão melhor do que ficar em segundo sempre... Marshall também notou a ausência de , nem só dela, mas de também, chegou a pensar que os dois haviam brigado, já que se recusava em ir até a casa dos Erickson, mas ele descartou a ideia quando o melhor amigo disse que sua irmã precisava de espaço, o que era um argumento aceito, já que Marshall começou a ter uma espécie ciúmes por estar dividindo sua irmãzinha.
  Sexta havia chegado e inventou qualquer desculpa para Edgar e ficou o dia todo no quarto, assim poderia pensar ainda mais. Ela passou toda a semana no eu disse, no que ela sentia, no que ela precisava. Havia uma lei, aqueles que se atreverem a aparecer em público sem a mascara poderia receber pena de morte. Vale a pena morrer por amor? E todas as vezes que se perguntava sobre isso, mais ela tinha certeza que o que não vale a pena é viver sem amor. Por isso ela estava em seu quarto, o vestido que pegou emprestado do closet da mãe quando ninguém estava vendo, estava levemente maior, mas os saltos que serviram perfeitamente, fizeram com que toda diferença acabasse, teve que andar um pouco de um lado para o outro para poder se acostumar, e a cada passo se perguntava como a mãe conseguia passar todos os dias em cima daquilo.
  Quando as horas foram se aproximando ela se posicionou em frente ao espelho, os olhos assustados, o coração tão acelerado que pensou na possibilidade de algum ataque cardíaco, as mão suadas foram até o material branco que cobria sua face, fechou os olhos e o tirou com cuidado, respirou tão fundo que ficou ofegante logo após, então tomou a liberdade de voltar a enxergar, pela primeira vez depois de tantos anos, Erickson, se redescobriu.


  No salão tocava uma música alta de alguma banda da atualidade da qual não se importava muito. Estava muito aliviado por Marshall estar animado, logo ele quase não percebia sua ansiedade. Ele dançava com Sierra e estava muito feliz por finalmente beijá-la, nisso o invejava, Marshall estava apaixonado por uma garota que não era obrigada a cobrir o rosto e nem poderia ser morta. estava se sentido tão egoísta por sugerir que arriscasse a vida apenas por um desejo bobo de ver seu rosto, mas ao mesmo tempo ele se questionava se era apenas um capricho, ele sabia que não era só isso, eles precisavam lutar para que tudo desse certo, ele não iria deixar que nada acontecesse com sua , estava determinado a qualquer coisa para que ela não sofresse nenhuma consequência, afinal, ele a amava.
  Só restava saber se ela iria vir...
  Algumas horas se passaram, o ponche acabara de ser batizdo e muito dos adolescentes que estavam lá vá começavam a se animar de uma mais ousada, mas continuava na mesa angustia da hora que chegou, só que agora estava ainda mais melancólico, não apareceria, ela não o amava o suficiente, ou talvez estava apenas com medo, o motivo saberia no dia seguinte, só queria ir para casa agora.
  Chamou Marshall que se juntou ao amigo para que pudesse se despedir, foi então que perceberam uma movimentação diferente no salão, os olhares estava direcionados a uma única menina, os traços dos rostos eram delicados, o olhar marcante, uma maquiagem tão leve que para os garotos ela não usava nenhum, e isso realmente não importava. Ela mantinha os olhos na multidão, parecia procurar alguém, estava tão tímida por receber aqueles olhares que dava para perceber em seus olhos que ela estava prestes a fugir dali. Ela era tão bonita quanto aquelas garotas do salão, a considerava ainda mais, ouviu Sierra comentar com Marshall sobre a beleza incomum e admirável da garota, mas não restava muito interessado a participar daquela conversa, aquela bela garota parecia familiar, tão familiar que estava fazendo seu coração pulsar ainda mais rápido. Seus olhos se encontraram com os dela e então soube, era ela. Seus sorrisos foram sincronizados, ele caminhou até a garota, tão ansioso que estava se segurando para não correr. Quando finalmente estavam próximos o suficiente suas mãos se tocaram.
  - Você veio.
  - Não iria desistir de nós.
  O sorriso dela era tão lindo, ela era tão linda.
não pode conter tocar o rosto de quando seu rosto se aproximava dela. Primeiro seus lábios tocaram a testa, depois a bochecha esquerda e enfim, em um carinho delicado suas bocas se uniram como esperaram todos esse tempo, aquele momento pareceu tão certo que não poderia ser errado, eles queriam viver aquilo para sempre.
  - ?
  O casal se separou e os irmãos se encararam, Marshall parecia assustado, apreensivo, feliz... Era a sua irmã, ali na sua frente e ele estava sem ação.
  Sentiu os braços finos abraçar sua cintura e então ele gargalhou com euforia, retribuiu o abraço da irmã a girando no ar, fazendo com que ela gargalhasse com a mesma intensidade. Voltaram a se encarar, as mãos de Marshall sobre os ombros de .
  - Então... O Patinho feio se transformou em um belo príncipe!
   riu, jogando a cabeça para trás, ela não iria morrer, também não iria precisar usar aquela mascara nunca mais. Sentiu-se ser puxada, sentiu uma mão firme em sua cintura, sentiu um beijo na bochecha, sentiu borboletas no estomago, como não poderia se sentir feliz?
  - E o nosso felizes para sempre está apenas começando.
   não poderia estar mais certo.

FIM



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