Treacherous

Escrito por Lyra M. | Revisado por Debbie

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Parte do Projeto Songfics - 13ª Temporada // Música: Taylor Swift - Treacherous

   saiu do carro assim que o pai estacionou, nervosa. Ela detestava viagens em família, com todas as suas forças, e praguejava mentalmente todos os palavrões que sabia, enquanto ajudava os pais e a irmã a tirarem as malas do carro.
  Havia apenas uma coisa que a fazia aturar as viagens em família e, ironicamente, essa única coisa era também a mesma que a fazia detestá-las. Uma pontadinha de esperança ainda restava no fundo de sua mente, e ela olhou para a casa de praia onde ficariam.
  Um outro carro já estava estacionado ali perto, um Volkswagen Spacefox preto. A garota praguejou baixinho. Tarde demais. Ela ainda torcia para que o carro dos tios tivesse quebrado na estrada, talvez assim ela tivesse um pouco de paz durante as férias. Mas, aparentemente, o destino preferia rir dela do que ajudá-la pelo menos uma vez na vida.
  — Falou alguma coisa, ? — Seu pai perguntou, batendo a mala do carro após tirar a última bolsa.
  — Não, pai, foi impressão sua. — Ela disfarçou rapidamente.
  O homem ia falar mais alguma coisa, mas ao menos dessa vez a sorte sorriu a favor da garota, e uma voz feminina chamou, saindo da casa alguns metros distante:
  — Aí estão vocês! Pensamos que não viriam mais! — A mulher sorriu, aproximando-se enquanto enxugava as mãos no avental preso na cintura.
  — Cintia! — O pai de a cumprimentou, sorrindo. — Você está ótima! Onde está o Dave?
  — Lá dentro, me ajudando com o almoço.
  A mulher já havia se aproximado o suficiente para abraçar o irmão, e agora se virava para cumprimentar a cunhada.
  — ! Você está linda! — Ela disse, segurando o rosto da sobrinha, que forçou um sorriso.
  — Aposto que o também. — Jennifer, mãe de , perguntou, e a garota xingou mentalmente. Ela não esperava que tivesse que encarar a verdade assim, logo de cara. — Ele veio?
  — Veio, claro. Está lá dentro, terminando de guardar as coisas.
  E lá se ia, sua última esperança de paz naquela viagem.
  — ! — Sua irmã, , chamou. Pelo grau de irritação em sua voz, já estava chamando há um bom tempo. — Dá pra acordar e vir me ajudar? Obrigada.
  — Eu não devia, não com essa sua educação. — resmungou de volta.
  Apesar de ser quatro anos mais nova, já era tão geniosa quanto a irmã, que tinha dezesseis anos. Era bastante claro o quanto as duas eram unidas, e sempre defendiam uma a outra, quando preciso, mas isso não significava que não brigassem. Muito pelo contrário, era raro ver as duas se tratando como amigas, por livre e espontânea vontade e em um dia normal.
   desistiu de enrolar mais tempo. Uma hora ou outra teria que encará-lo mesmo, que ao menos fosse em companhia de outra pessoa, para evitar fazer qualquer coisa da qual fosse se arrepender depois. Ela jogou a mochila no ombro, e ajudou a irmã a pegar uma das malas que seu pai havia deixado no chão, e as duas se dirigiram à casa de praia, enquanto os adultos ficaram para trás, conversando.
  Era tradição da família passar ao menos duas semanas das férias na casa de praia, uma vez que Carl morava com a esposa, Jennifer, e as duas filhas em uma cidade diferente da que vivia sua irmã, Cintia, com o marido e o filho. Com exceção das férias, eles só se viam em datas comemorativas, como Natal, formaturas e aniversários. E podiam continuar assim, na opinião de .
  A essa altura, as duas meninas já estavam no segundo andar da casa, e podiam ouvir as vozes adultas no andar de baixo. Provavelmente haviam entrado pouco depois das duas.
  As duas meninas subiram com as malas de roupas, enquanto o pai trouxera as coisas que costumavam usar quando inventavam de “acampar” na praia, como barracas, lanternas e sacos de dormir. Já haviam subido a escada e atravessavam o corredor do segundo andar, procurando o quarto onde ficariam, quando uma das portas se abriu, e um garoto de dezoito anos saiu.
  O olhar dele passou rapidamente de surpresa por vê-las ali para um certo quê de malícia ao olhar para .
  — Ah, já chegaram? Não ouvi o carro estacionando. E aí, ? — Ele cumprimentou a mais nova, antes de se virar para a prima mais velha, com um olhar provocador e um sorriso torto que ela se perguntou se a irmão realmente não havia percebido. — E olá, .
  — Oi, . — Ela o cumprimentou, a contragosto.
  — Querem ajuda com as malas? — Ele se ofereceu, erguendo as sobrancelhas. — Posso mostrar o quarto.
   olhou-o ameaçadoramente, ao mesmo tempo em que torcia para não estar corando. A irmã ainda era nova e um bocado lerda para entender indiretas nada inocentes como as que o primo mandava, mas ela certamente perceberia algo se visse a irmã corando de vergonha.
  — Não, obrigada. Nós vimos aqui todos os anos, podemos achar nossos quartos. — Ela respondeu, seca.
  Ele sorriu divertido e saiu da frente delas, indicando o caminho para que passassem, antes de seguir o caminho pelo qual elas vieram, para descer as escadas.
  — Você podia ser mais educada — reclamou, quando achou que o primo já havia ido. — Ele só estava tentando ajudar.
   não respondeu. Em parte, porque sabia que a irmã não estava completamente errada, e em parte porque sabia que, se respondesse, ainda poderia ouvi-las. Elas entraram no quarto que dividiriam com o primo, e arrumaram boa parte das roupas que levaram.
  Quando começaram a tradição de viajar para a casa de praia durante as férias, tanto quanto e se recusaram a dividir quartos com os pais. A casa só possuía dois quartos, porém, e o máximo que poderiam fazer na divisão de cômodos era deixar um dos quartos para os mais novos, e o outro para os adultos. Ninguém ficou muito satisfeito com a escolha, mas foi aceita assim mesmo, e nunca mais mudou.
  Elas desceram alguns bons minutos depois, após arrumar as próprias roupas em um dos quartos, e as dos pais no quarto ao lado. Quando chegaram na cozinha, estava encostado no batente da porta que dava para o exterior da casa, seus pais terminavam de arrumar a mesa para o almoço, e seus tios terminavam de preparar a refeição.
  — Ah, até que enfim. — Jennifer comentou, quando as viu entrar no cômodo. — O almoço já está pronto, já íamos chamar vocês.
  O almoço passou calmo e praticamente em silêncio, apenas com conversas e comentários ocasionais entre os mais velhos. se mantinha alheia a tudo que era dito, e sentia, vez ou outra, o olhar de em si, da mesma forma que o olhava discretamente, de tempos em tempos.
  Algum tempo depois, quando todos já haviam acabado de comer e a louça já havia sido lavada, tentou, discretamente, escapar para o sótão da casa. Provavelmente não havia sido limpo, e estava coberto de poeira, mas ao menos lá teria um pouco de paz, antes que inventassem alguma tarefa para que ela ajudasse. Ela passou no quarto, antes, apenas para pegar seu caderno de desenhos, um lápis e uma borracha.
  Ela acendeu a luz do cômodo. Era fraca, mas ao menos para desenhar serviria. Usando um grande baú como encosto, ela se sentou, respirando fundo e procurando alguma inspiração. Enquanto mantinha os olhos fechados, podia ouvir os passos e o falatório no andar de baixo. , a essa hora, provavelmente estava implorando para que todos fossem para a praia. Com sorte, entenderiam que o sumiço dela era um sinal para que fosse deixada em paz.
  Pouco a pouco, o desenho foi tomando forma, e a garota ia se acalmando. Toda vez que fazia essa viagem em família anual, algo dava errado, ou corria um risco enorme de terminar mal. Sempre pelo mesmo motivo. Mas, por mais que não gostasse dessas férias, não podia negar que o lugar era lindo.
   já havia perdido a noção do tempo que estava lá. Podia ser vinte minutos, ou duas horas. Tudo que ela sabia era que o desenho já estava quase pronto, quando os passos que ela ouvia no andar de baixo se aproximaram gradativamente, e uma sombra se projetou sobre o caderno de desenhos, tampando a luz que ela usava para desenhar.
  — Olá, priminha. — Ele disse quando ela olhou para cima, apenas para encontrá-lo sorrindo e olhando-a nos olhos, com o cabelo caindo sobre o rosto.
  — Você sabe muito bem que não sou mais criança para ficar me chamando de “priminha”. — respondeu, com um sorriso desafiador.
  Ele riu baixo, se movendo para ficar de frente para a garota, e então sentando-se no chão.
  — Vamos, me desenhe como uma de suas garotas francesas. — Ele pediu, colocando a mão na testa de forma dramática.
  — Citações de filmes não vão me conquistar, priminho. Achei que tinha desistido há tempos.
  — Alguns hábitos nunca morrem. — Ele comentou. — Como o seu, de me ignorar só quando estamos perto de outras pessoas.
  — E o que você queria que eu fizesse, ?
  — Tudo bem, eu não te culpo. É muito difícil resistir aos impulsos? — Ele provocou, malicioso.
  — Não fui eu quem passou dos limites da primeira vez, lembra? — retrucou, com o mesmo tom de malícia.
  Ele jogou a cabeça para trás, rindo.
  — Essa é a que eu conheço! Mas, de qualquer forma, não vim discutir a relação. Não somos um casal de velhos. — Ele cortou o assunto, balançando a mão. — Estou bancando o mensageiro. Nós vamos para a praia, me pediram para te chamar.
  — Obrigada, mas eu não vou.
  — , qual é. — revirou os olhos. — Você prefere mesmo ficar aqui no sótão desenhando, enquanto podia estar na praia?
  — Nós teremos duas semanas para aproveitar a praia, posso me dar um dia de folga para desenhar. — A garota tentou argumentar.
  Ele ficou quieto, olhando ao redor, como se procurasse um bom argumento em meio às caixas de papelão que lotavam o sótão. Por fim, suspirou cansado e voltou a olhar para a prima.
  — Prometo que não vou fazer nada enquanto estivermos lá. Até porque não sou burro de tentar algo com nossos pais e sua irmã por perto. — Ele prometeu. — Além do mais, você pode levar o caderno de desenho. E, se não for, vai perder a incrível oportunidade de me ver em roupa de banho.
   não pode sufocar uma risada, e também sorriu, ao ver que ela não estava mais séria. O jovem se levantou, estendendo a mão para a prima. Ela considerou as opções por alguns segundos, antes de suspirar cansada, e aceitar a ajuda do mais velho para se levantar.
  — Eu vou. — Ela concordou. — Mas vou levar o caderno de desenho.
  — Sinta-se à vontade. — O jovem retrucou de imediato, indicando com os braços o caminho para que ela passasse.
   se revirava no colchão, sem conseguir dormir. Ela estava exausta, depois das horas de viagem no carro mais cedo, e da tarde que passara na praia, mas, ainda assim, não conseguia pegar no sono. Sem ter como ver as horas, ela não fazia a menor ideia de quanto tempo já fazia que estava ali, só sabia que com certeza havia ido deitar há mais de uma hora.
  Mesmo que tivesse relutado no começo, ela não podia negar que foi uma boa ideia sair de casa. , sua irmã, já tinha 12 anos, mas não deixava de agir como uma criança toda vez que iam até a praia. , por outro lado, preferia fica sossegada lendo um livro à sombra do guarda-sol ou, como fizera hoje, desenhando.
  Ou ao menos ela tentara desenhar, porque toda hora sua atenção era desviada com os pais e tios tentando manter uma conversa ou com os gritinhos de sua irmã enquanto jogava frescobol com . Aparentemente, o jovem sem querer acertara a bolinha na cabeça da prima mais nova. Mais de dez vezes. E sem se dar o trabalho de pedir desculpas, uma vez que estava muito ocupado rindo enquanto ela reclamava.
  Por fim, a garota largou o caderno e o lápis, desistindo de desenhar o que quer que fosse, e não pode evitar o riso vendo justo a irmã, que sempre dizia para ela parar de trocar farpas com , se irritando e sendo irritada pelo primo.
   até tentou passar despercebida por e enquanto se levantava da canga que havia estirado na areia, para sentar-se, e se dirigia até o mar, para um mergulho rápido. Os esforços, porém, foram em vão, uma vez que, bem quando estava saindo da água, os dois apareceram, empurrando-a de volta, e fingindo afogá-la. Ainda que todo o tempo que passaram brincando como crianças e jogando água uns nos outros tivesse passado em paz e estivesse com o humor muito melhor, não podia simplesmente ignorar a preocupação no fundo da mente.
  Porque, assim como não podia ignorar a preocupação, também não podia ignorar a pequena parte do seu cérebro que registrava todas as pequenas ações de , reparando em todos os detalhes do que ele fazia. Ela tentou espantar esses pensamentos para longe, mas não conseguiu. Como todas as outras vezes, desde que ela tinha treze anos e tudo aquilo começara.
   esfregou os olhos, deitada na cama. Como as coisas podiam ter se complicado tanto em apenas três anos? Não era tanto tempo assim. Ela sempre tivera uma relação relativamente boa com , e agora toda vez que se viam em reuniões familiares era a mesma coisa: uma hora nada parecia ter mudado, para depois brigarem como se fossem gato e rato. É claro que ela sabia muito bem que ambos só brigavam para tentar se afastar um do outro, mas nunca dava certo. No final, sempre se atraiam, como polos diferentes de um ímã.
  Ela ouviu o rangido de madeira do outro lado do quarto e, por reflexo, fechou os olhos. Pouco depois, o som baixo e abafado de passos veio daquela direção, se aproximando dela, para então passar direto e seguir até a porta. O barulho da maçaneta teria passado despercebido por qualquer um que estivesse dormindo, mas ela foi capaz de ouvi-lo. esperou o som indicando que a porta havia se fechado de novo, contou alguns segundos e então sentou-se no colchão. Ela olhou em volta, apertando os olhos e tentando enxergar quem havia levantado. parecia em sono profundo, mas a cama de estava vazia.
  A jovem franziu a testa, estranhando a situação. tinha sono pesado, não costumava se levantar durante a noite. Ela considerou as opções por um momento, e foi se amaldiçoando por ser tão curiosa que afastou as cobertas para se levantar. Pé ante pé e fazendo o mínimo de barulho possível, ela girou a maçaneta, saindo do quarto em completo silêncio.
  Ela olhou os dois lados do corredor, mas não havia sinal do primo. A porta do banheiro estava encostada, mas a luz apagada indicava que não havia ninguém lá. se aproximou da escada, tentando perceber algum movimento no andar de baixo, e ouviu o bater da porta da sala.
   estava louco, com certeza. Por que motivo ele sairia de casa no meio da madrugada? tinha pleno conhecimento de que o primo não era sonâmbulo. A garota praguejou mentalmente por ser tão curiosa, e desceu as escadas, apressando o passo ligeiramente para chegar na varanda a tempo de ver onde o garoto estava indo.
  Ele já estava alguns metros afastado da casa, descendo o pequeno declive que levava à praia propriamente dita. Apenas o facho de luz de uma lanterna iluminava o caminho que ele seguia, andando calmamente. acelerou o passo mais um pouco, passando para uma quase corrida, até alcançá-lo.
  — ! ! — Ela chamou, irritada. — O que pensa que está fazendo?
  O jovem não a respondeu, apenas passou a caminhar mais devagar até que a prima chegasse perto o suficiente.
  — Se vai vir comigo, talvez queira isso. — Ele comentou despreocupadamente, estendendo para a menina outra lanterna.
   sentiu a raiva queimar dentro dela. Ele sabia que ela o seguiria desde o momento
em que saíra do quarto? Ela aceitou a lanterna, de má vontade, antes de voltar a falar:
  — Você não respondeu minha pergunta.
  — Qual pergunta? — Ele perguntou, com as sobrancelhas arqueadas e um ar de desentendido, assim que ela chegou ao lado dele.
  — Por que você sempre foge de tudo? — Ela perguntou, frustrada, antes de explicar como quem fala com uma criança de dois anos que descumpriu uma regra: — Por que raios você saiu de casa no meio da madrugada?
  — Preciso caminhar um pouco. — respondeu, como se fosse simples. — E um momento… Eu fujo de tudo?
  Ele parou de caminhar, parecendo indignado. também parou de andar, alguns passos depois, e virou-se para o primo, desafiando-o com o olhar. O silêncio era absoluto na praia, e a única iluminação vinha da lua e das duas lanternas que os dois seguravam.
  — Sim, você. — reafirmou, irritada. — É você quem fica me provocando e depois se esquiva antes de assumir qualquer coisa.
  — Com “qualquer coisa” você quer dizer um relacionamento? — desdenhou. — Porque se for, espero que você tenha alguma ideia de como chegar para nossos pais e dizer “pai, mãe, sei que nós somos primos, mas estamos namorando”.
  Ele esperou uma resposta, com a sobrancelha arqueada, mas a garota continuou em silêncio, sem saber o que dizer.
  — Se não fosse por isso, poderíamos ter algo mais? — Ela perguntou, por fim, com um fio de esperança na voz baixa.
  — Eu poderia considerar a ideia, se você não fosse tão inconstante. — a cortou. — Você foge de mim sempre que tem alguém por perto, mas quando estamos fora dos olhares dos outros, é uma pessoa completamente diferente.
  — E como você espera que eu aja? Respondendo suas provocações na frente dos nossos pais? — Ela perguntou, de forma retórica. — A melhor coisa que eu poderia fazer seria fugir de você.
  — Uma pena que você não consegue, não é, priminha? — Ele provocou, sorrindo e se aproximando dela. — Se conseguisse, não teria me seguido até aqui.
  — Você fala como se pudesse me controlar. — observou, com um sorriso sarcástico.
   se aproximou mais, até estar perigosamente perto.
  — É porque eu posso.
  E, antes que a garota pudesse empurrá-lo, ele a beijou, e ela sentiu como se perdesse todo o controle e noção de realidade. As mãos foram parar no pescoço dele, puxando-o para mais perto, enquanto ele a segurava firmemente pela cintura.
  Meu Deus, como sentira falta dele. Jamais admitiria em voz alta, mas não podia negar para si mesma que, em momentos como aquele, em que ambos falavam apenas com as mãos, ela faria tudo que pedisse.
  Os dois se separaram depois do que pareceu uma eternidade, mas poderiam ter ficado ali por horas.
  — Como eu disse. — Ele repetiu, um pouco ofegante depois do longo beijo. — Você não resiste a mim. E, se quer saber, nem eu resisto a você. Não é como se fosse uma escolha.
  — Soa mais simples quando você fala.
  — Mas é simples. Nós quem complicamos. — Ele respondeu, sorrindo.
  — Nós complicamos porque é perigoso, . — tentou argumentar.
  — E a viagem não vale a pena? — O garoto retrucou, com um sorriso torto, roçando o nariz no dela.
  Ela riu baixo. Touché. Antes que pudesse dizer alguma coisa, porém, colocou o dedo sobre os lábios dela, pedindo silêncio, e se afastou rapidamente. Pouco depois, entendeu o porquê. Há alguns metros de distância, na direção da casa, outro faixo de luz se aproximava, até que entrou no campo de visão dos dois adolescentes, com uma expressão que misturava sono e curiosidade.
  — O que vocês estão fazendo aqui? São quase três horas da manhã! — Ela perguntou. estava prestes a dar a mesma desculpa que dera para ela alguns minutos atrás, mas o garoto respondeu mais rápido:
  — A desceu para beber água, ouviu um barulho estranho aqui fora e me chamou para ver o que era.
  — Acharam alguma coisa? — perguntou, com medo.
  — Não. — respondeu, despreocupadamente. — Deve ter sido só algum bicho, nada demais. Já estávamos voltando.
   não conseguia acreditar. Como a irmã havia acreditado numa desculpa tão esfarrapada quanto aquela? Ela já havia virado de costas para voltar para a casa, e também já começava a andar, mas continuava parada no mesmo lugar, sorrindo para si mesma.
  — Vai ficar aí? — perguntou, com uma sobrancelha arqueada, ao ver a prima alguns passos atrás.
  — Não. — Ela respondeu, vagamente. — Não, já estou indo.
  Talvez agora ela pudesse dormir em paz, sabendo que talvez valesse a pena continuar com o relacionamento às escondidas com o primo. E, mesmo que não valesse, depois ela pensaria naquilo. No momento, tudo em que ela conseguia pensar era no nome de , e na certeza de que quanto mais aquilo fosse imprudente, mais ela gostaria. Foi com isso em mente que ela o seguiu para casa, sabendo que, ao menos daquela vez, as férias poderiam seguir sem nenhum imprevisto.

FIM



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