Time Capsule

Escrito por LariP | Revisado por Carol

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  “Ai meu Deus, você está mesmo lendo a carta! Das duas, uma: ou sua vida está realmente nos eixos ou está uma verdadeira bosta. E temo que o que te motiva seja a segunda opção... Pois, se bem te conheço, se sua vida estivesse as mil maravilhas, você nem sequer se lembraria dessa caixa fechada... Cápsula do tempo, ainda é assim que chamam? – Está soando tão ridículo pra você lendo quanto para eu escrever na terceira pessoa? E, ainda por cima, não sei por que raios estou tratando-nos como se você fosse alguém sem ser eu mesma. Enfim, não sou boa com a escrita, mas acho que na primeira pessoa ficaria pior, então deixe como está...”.

  - Idiota. – leu o que escrevera, há anos, rindo fraco. Ela estava sentada em sua sala de estar com a caixa, há tantos anos guardada, em cima da mesa de centro.

  “Se bem me conheço, estou rindo da minha cara... Que bom! Pois se minhas apostas estiverem certas, estou precisando disso no momento...”.

  - E está. Não sabe o quanto... – respondeu a si mesma outra vez.

  “E eu tenho certeza que continuo retardada ao ponto de parar de ler para me responder, não é mesmo?...”.

  - Como eu me conheço... – a garota deixou-se rir mais uma vez.

  “Enfim, vamos ao que interessa: que caralho fiz com minha vida desta vez? Ainda falo com minha melhor amiga, ? Ainda permaneço apaixonada por Phillip? Não, melhor! E minha relação com mamãe? Ainda moro com ela? Deixei de odiar meu pai por ter trocado nossa família por uma desclassificada?...”.

  - Não creio! – ela riu consigo mesma. – Como gostei de me responder em voz alta, então: eu realmente fodi com tudo! está brava comigo, nossa amizade não é mais a mesma desde aquilo e eu sou ridiculamente orgulhosa demais para me desculpar... No final da faculdade consegui o que tanto queria: Phill me chamou para sair, namoramos por um tempo, mas no final das contas não deu certo... Estou morando em outra cidade, totalmente afastada de mamãe, mas ligo para ela todos os dias e... E me martirizo todos os dias por ter esperado meu pai morrer pra notar que toda minha raiva era idiotice... – disse chorosa ao relembrar de seu pai no leito de morte, o mesmo com quem nunca pode se desculpar.

  “Esperava não me arrepender de minhas atuais escolhas... Mas me arrependi, não é mesmo? Eu sempre faço isso... Pensei que quando crescesse tomaria as decisões corretamente, mas temo isso não ser verdade...”.

  - Pois é. Antes eu tivesse escutado mais minha mãe. – comentou, novamente, consigo mesma. “Sempre sozinha, por escolha sua... Idiota” imaginou.

  “É certo que irei me arrepender, também, da decisão que tomei agora, mas aqui, no momento que escrevi me pareceu uma boa ideia... Vamos lá, posso confiar em você (isso mesmo, confiar e momento que escrevi me pareceu uma boa ideia... Vamos lá, posso confiar em você (isso mesmo, confiar em mim mesma) para que faça o que te pedir? Sem “e se?” nem porém’s...”.

  - No que eu estava pensando? Que filme assisti antes de resolver fazer essa carta? – praguejou seu eu de dez anos atrás.

  “Agora pare de se xingar, idiota... Certo, ligue para agora. Não quero saber se é tarde, se vocês estão brigadas, se está bêbada... Não me importa suas condições, quero que ligue para ela já! Diga que a ama, que ela sempre será sua melhor amiga. Se vocês estão brigadas, peça desculpa, não importa se está certa ou não. Passe por cima do seu orgulho tolo e desculpe-se com ela. Já. Sério, largue essa folha e pegue a merda do telefone, !...”.

  - ‘Tá bom, ‘tá bom! – bufou como uma criança e levantou-se para discar o número que ela tanto conhecia.
  - Alô? – ela estava hesitante, tinha medo da reação da melhor amiga. – , eu sei que é você. O que quer?
  - Erm... Desculpe, te acordei? – perguntou receosa ao morder o lábio inferior.
  - Não. As meninas ainda estão acordadas... Infelizmente. calou-se, esperando que a outra continuasse, explicando o motivo de ter ligado às três da madrugada, mas podia jurar que a amiga tinha sorrido ao falar das filhas. – ?
  - Me desculpe , me desculpe mesmo. Eu fui uma idiota por brigar contigo, sendo que você só queria me ajudar, abrir meus olhos para a furada que havia me metido...
  - Tudo bem , relaxe... Esqueça!
  - Não posso amiga, estou há seis semanas sem falar com você, por infantilidade minha! Eu... Eu sou uma idiota, me desculpe!
  - Você não é idiota ... Não totalmente! – as duas riram. – Sério amiga, está tudo bem. Eu te perdoo.
  - Eu te amo . Sério. Desculpe-me por ser uma péssima amiga, mesmo. Eu te amo de verdade, você sabe, é como uma irmã para mim... Eu... Eu sempre vou estar aqui por você, ok?
  - você abriu aquela caixa?
  - Sim...
  - Amiga! Não sabia que você estava tão mal... Desculpe.
  - Tudo bem – riu sem humor. “Derek? Cuide das meninas, ou melhor, coloque-as para dormir... Estou indo para a casa da foi o que ouviu a amiga dizer. – , não precisa...
  - Claro que precisa! Melhores amigos são pra isso...
  E a ligação teve fim. Quinze minutos depois estavam as duas abraçadas no sofá de .
  - E aí, como você está?
  - Mal – forçou um sorriso.
  - Certo, não podemos fraquejar, não é? Enfim, vamos continuar com essa caixa...

  “E então, Ligou? Se conheço bem minha melhor amiga, ela foi para aí me consolar, não é? Ei , eu te amo amiga!...”.

  - Você era muito retardada, ! – riu enxugando as duas lágrimas que surgiram.
  - Ainda sou! Não mudei tanto assim – as duas riram, novamente.

  “Enfim, aproveite que sua melhor amiga está do seu lado e pegue as fotos na caixa, para terem um momento nostálgico. Só de vocês (e de todos os demais que estiverem nas fotos, né?)...”.

  E assim as duas o fizeram. Riram das fotos de adolescência, todos aqueles períodos de transição, de aceitação, de descobrir quem eram... Fases.
  - Eu não acredito que achava bonito me vestir assim! – comentou.
  - E esse cabelo? – riu ao apontar para si mesma em uma das fotos.

  “Chega né, já está bom! Agora vamos para o que interessa: estou casada com Phillip e com nossos três filhos (dois meninos e uma menina)?...”.

  - Nosso namoro não durou três semestres da faculdade! – riu consigo mesma, como já havia se acostumado.
  - Espera! Você está se respondendo?
  - Não me enche! – riram.

  “Dói, mas acho que estou sozinha... Enfim, se tiver alguém, ligue para ele (se for o caso de um namorado) e diga que adora estar com ele ou vá até ele e beije-lhe os lábios (no caso de ser seu marido) ao dizer que o ama...”.

  - Essa vai ter que deixar para uma próxima, amiga! – zombou e recebeu um soquinho no braço da amiga. – Outch!
  - Posso prosseguir?
  - Claro, meu bem...

  ”Vamos continuar então: ligue para mamãe pela manhã (se estiver lendo de madrugada, como acredito) avisando que vai visitá-la no próximo fim de semana. Não quero saber dos seus compromissos, é a sua mãe. Ela daria a vida por você, então você dará um fim de semana por ela, estamos combinadas? Sim, estamos! E a ferida mais dolorida (pelo menos para mim neste momento, ainda é aí no futuro?)...”.

  - Você não faz ideia do quanto... – sussurrou ao deixar algumas lágrimas descerem pelo seu rosto. Vendo isso, a abraçou, reconfortando-a.

  “O que vou escrever agora estou fazendo com muito custo, acredite. Mas tenho a impressão de que você está aí me achando uma idiota aqui por pensar assim... Estou certa? Enfim... Perdoe o papai, creio que ele se martiriza o suficiente. Diga que o ama, pois é verdade. Fale que ele é nosso herói...”.

  - Eu queria, mas é tarde demais – disse em meio às lágrimas.
  - Não é tarde demais amiga, ele está ouvindo, seu pai está sempre com você. Não se lembra? Ele prometeu... – sorriu singelamente ao lembrar-se do que foi dito, há anos, elo pai.
  - Eu te amo pai, aonde quer que o senhor esteja, quero que saiba que sempre te amei e... Você sempre foi minha inspiração, por mais que tenha errado algumas vezes... Você é meu herói papai... – proferiu baixo as palavras, como que fosse apenas para seu pai ouvi-las.
  - Quando for visitar sua mãe, dê uma passada no cemitério para vê-lo... – sugeriu , fazendo a amiga concordar.

  “É só isso. Quero dizer-lhe que foi muito bom para eu ser quem sou até agora... Não, espera! E o ? Não acredito! Esqueci-me completamente dele, que péssimo. Ele era nosso melhor amigo... Ainda é? Não sei, acho que com ele a situação é ainda pior que poderia ser com a ... Aposto que nem o número dele mais você tem... É uma pena, ele é um ótimo amigo...”.

  - Retardada... – disse baixo.
  - O que disse?
  - Nada , continua...

  “Agora sim: é só isso... Beijo , cuida da gente aí viu? Se mantém forte, tem muita gente que amamos pra você cuidar, por favor.”.

  - Você escrevia bem...
  - Pois é – sorriu ao dobrar a carta.
  - Continua assim?
  - Não faço a mínima ideia...
  - Por que não seguiu carreira? – insistiu.
  - Pois sou idiota – finalizou o tema.
  Antes de colocar o papel de volta na caixa, percebeu, ao fundo da mesma, um envelope que elas não haviam mexido.
  - , o que é?
  - Não sei , não me lembro de ter colocado isso aí. – optou por abrir o mesmo. Neste, continha uma carta escrita à mão.

  “Fresno, 17 de Novembro de 2003.

  Oi , quanto tempo!

  Quando você chegou para mim dizendo “farei uma cápsula do tempo e irei escrever algo para ela” te achei mais maluca que o normal, mas confesso ter acabado gostando da ideia. Gostei tanto que resolvi fazer eu uma carta para ela, da moda antiga, com caneta, à mão... Não sei por que, mas acho que no futuro, quando você abrir sua cápsula, nós não iremos mais nos falar. Não me entenda mal, a última coisa que eu queria na minha vida era que você se esquecesse de mim, ou que nós parássemos de nos falar, mas eu apenas sinto isso. É estranho.
  Enfim, pensei que esta seria a melhor maneira de te dizer, mas agora – aqui, no meio da carta – estou vendo, tamanha é minha idiotice, que – talvez – você nunca vá abrir a tão planejada Cápsula do Tempo, ou, quando abrisse, fosse tarde demais... Tomara que não seja.
  Você deve estar intrigada e eu também já estou enrolando demais, né? Vou logo ao ponto: sempre fui louco por você. Sim, isso mesmo, você não leu errado, não está delirando ou algo do tipo... Seu melhor amigo paspalhão era apaixonado por você no colegial. E olhe, eu não queria te assustar nem nada, mas acho que ainda sou aí no futuro.
  Não olha pra carta desse jeito , eu ‘to falando sério! Na verdade desde que descobri o que é amor (lê-se: quando meus pais sentaram-se comigo praquela conversa “de gente grande” aos treze anos) eu vi que estava amando você. E eu não sou bom, nem com a escrita, nem com me declarar, sendo assim os dois juntos deve ter saído um lixo... Desculpe-me por isso.
  Eu realmente espero não ser tarde demais ... Do fundo do coração. Quer saber, me decidi! No verso da carta vou te deixar um número de celular, número esse que eu nunca, absolutamente nunca na vida vou me desfazer. Sendo assim, se você estiver lendo, por favor, me ligue pra dizer algo, sei lá, que eu sou idiota, que você sente o mesmo, que não sente, mas está a fim de tentar, que está com saudade e quer me ver... Ou simplesmente devo esquecer essa ideia e finalmente me desfazer desse telefone.

  PS: Eu sempre estarei aqui por você.”

  - Uau! – disse.
  - Mas... Mas como assim?
  - Ah, pelo amor de Deus , você não sabia? Nunca desconfiou?
  - O que? – a fitou confusa, com as sobrancelhas erguidas.
  - Argh!
  - Eu sou uma idiota! Grande, enorme!
  - Realmente...
  - !
  - Ué amiga, é verdade, tenho que te dizer... Você não é mais uma adolescente de 17 anos com a vida toda pela frente... Já se passaram dez anos, você tem que se resolver...
  - Acha que eu deveria ligar? – mordeu o lábio aflita, algo que sempre fazia em momentos de tensão.
  - Se eu acho que deve ligar? Ele tem um celular apenas para você ligar para ele, há dez anos... Já deveria ter ligado !

  - Alô? – ela falou e não ouviu retorno, apenas alguém respirando do outro lado da linha. – É... É a .
  - Eu sei , esse número é exclusivamente para você, achei que tivesse entendido – ele riu. – Então quer dizer que você abriu a cápsula?
  - Sim – ela responde envergonhada. – Por onde tem andado?
  - Ah, agora estou morando em Los Angeles... E você?
  - Eu também! – ela estava sorridente, até se lembrar do motivo da ligação. – Eu, eu não fazia ideia !
  - Pois é – ele riu novamente ao dizer. Ela podia jurar que ele mexia nos cabelos da nuca neste momento. – Então...
  - Então... – disseram juntos e riram em seguida, visivelmente desconfortáveis. – Desculpe, pode dizer.
  - Não, por favor! Diga você...
  - Eu... Eu g-gostaria de... – pigarreou e respirou fundo antes de prosseguir: - Eu gostaria de te ver, .
  - Ah... – ele disse baixo.
  - Mas, mas se você não puder, ou estiver comprometido tudo bem... O que eu estou falando? – ela se repreende e ele ri.
  - Não , tudo bem.
  - Ai meu Deus! Você tem alguém, não tem? É claro que tem... Ai como sou idiota! Quero dizer, me desculpe!
  - Ligue para agora. Não quero saber se é tarde, se vocês estão brigadas, se está bêbada... Não me importa suas condições, quero que ligue para ela já! Diga que a ama, que ela sempre será sua melhor amiga. Se vocês estão brigadas, peça desculpa, não importa se está certa ou não. Passe por cima do seu orgulho tolo e desculpe-se com ela. Já. Sério, largue essa folha e pegue a merda do telefone, !...”.

  - ‘Tá bom, ‘tá bom! – bufou como uma criança e levantou-se para discar o número que ela tanto conhecia.
  - Alô? – ela estava hesitante, tinha medo da reação da melhor amiga. – , eu sei que é você. O que quer?
  - Erm... Desculpe, te acordei? – perguntou receosa ao morder o lábio inferior.
  - Não. As meninas ainda estão acordadas... Infelizmente. calou-se, esperando que a outra continuasse, explicando o motivo de ter ligado às três da madrugada, mas podia jurar que a amiga tinha sorrido ao falar das filhas. – ?
  - Me desculpe , me desculpe mesmo. Eu fui uma idiota por brigar contigo, sendo que você só queria me ajudar, abrir meus olhos para a furada que havia me metido...
  - Tudo bem , relaxe... Esqueça!
  - Não posso amiga, estou há seis semanas sem falar com você, por infantilidade minha! Eu... Eu sou uma idiota, me desculpe!
  - Você não é idiota ... Não totalmente! – as duas riram. – Sério amiga, está tudo bem. Eu te perdoo.
  - Eu te amo . Sério. Desculpe-me por ser uma péssima amiga, mesmo. Eu te amo de verdade, você sabe, é como uma irmã para mim... Eu... Eu sempre vou estar aqui por você, ok?
  - você abriu aquela caixa?
  - Sim...
  - Amiga! Não sabia que você estava tão mal... Desculpe.
  - Tudo bem – riu sem humor. “Derek? Cuide das meninas, ou melhor, coloque-as para dormir... Estou indo para a casa da foi o que ouviu a amiga dizer. – , não precisa...
  - Claro que precisa! Melhores amigos são pra isso...
  E a ligação teve fim. Quinze minutos depois estavam as duas abraçadas no sofá de .
  - E aí, como você está?
  - Mal – forçou um sorriso.
  - Certo, não podemos fraquejar, não é? Enfim, vamos continuar com essa caixa...

  “E então, Ligou? Se conheço bem minha melhor amiga, ela foi para aí me consolar, não é? Ei , eu te amo amiga!...”.

  - Você era muito retardada, ! – riu enxugando as duas lágrimas que surgiram.
  - Ainda sou! Não mudei tanto assim – as duas riram, novamente.

  “Enfim, aproveite que sua melhor amiga está do seu lado e pegue as fotos na caixa, para terem um momento nostálgico. Só de vocês (e de todos os demais que estiverem nas fotos, né?)...”.

  E assim as duas o fizeram. Riram das fotos de adolescência, todos aqueles períodos de transição, de aceitação, de descobrir quem eram... Fases.
  - Eu não acredito que achava bonito me vestir assim! – comentou.
  - E esse cabelo? – riu ao apontar para si mesma em uma das fotos.

  “Chega né, já está bom! Agora vamos para o que interessa: estou casada com Phillip e com nossos três filhos (dois meninos e uma menina)?...”.

  - Nosso namoro não durou três semestres da faculdade! – riu consigo mesma, como já havia se acostumado.
  - Espera! Você está se respondendo?
  - Não me enche! – riram.

  “Dói, mas acho que estou sozinha... Enfim, se tiver alguém, ligue para ele (se for o caso de um namorado) e diga que adora estar com ele ou vá até ele e beije-lhe os lábios (no caso de ser seu marido) ao dizer que o ama...”.

  - Essa vai ter que deixar para uma próxima, amiga! – zombou e recebeu um soquinho no braço da amiga. – Outch!
  - Posso prosseguir?
  - Claro, meu bem...

  ”Vamos continuar então: ligue para mamãe pela manhã (se estiver lendo de madrugada, como acredito) avisando que vai visitá-la no próximo fim de semana. Não quero saber dos seus compromissos, é a sua mãe. Ela daria a vida por você, então você dará um fim de semana por ela, estamos combinadas? Sim, estamos! E a ferida mais dolorida (pelo menos para mim neste momento, ainda é aí no futuro?)...”.

  - Você não faz ideia do quanto... – sussurrou ao deixar algumas lágrimas descerem pelo seu rosto. Vendo isso, a abraçou, reconfortando-a.

  “O que vou escrever agora estou fazendo com muito custo, acredite. Mas tenho a impressão de que você está aí me achando uma idiota aqui por pensar assim... Estou certa? Enfim... Perdoe o papai, creio que ele se martiriza o suficiente. Diga que o ama, pois é verdade. Fale que ele é nosso herói...”.

  - Eu queria, mas é tarde demais – disse em meio às lágrimas.
  - Não é tarde demais amiga, ele está ouvindo, seu pai está sempre com você. Não se lembra? Ele prometeu... – sorriu singelamente ao lembrar-se do que foi dito, há anos, elo pai.
  - Eu te amo pai, aonde quer que o senhor esteja, quero que saiba que sempre te amei e... Você sempre foi minha inspiração, por mais que tenha errado algumas vezes... Você é meu herói papai... – proferiu baixo as palavras, como que fosse apenas para seu pai ouvi-las.
  - Quando for visitar sua mãe, dê uma passada no cemitério para vê-lo... – sugeriu , fazendo a amiga concordar.

  “É só isso. Quero dizer-lhe que foi muito bom para eu ser quem sou até agora... Não, espera! E o ? Não acredito! Esqueci-me completamente dele, que péssimo. Ele era nosso melhor amigo... Ainda é? Não sei, acho que com ele a situação é ainda pior que poderia ser com a ... Aposto que nem o número dele mais você tem... É uma pena, ele é um ótimo amigo...”.

  - Retardada... – disse baixo.
  - O que disse?
  - Nada , continua...

  “Agora sim: é só isso... Beijo , cuida da gente aí viu? Se mantém forte, tem muita gente que amamos pra você cuidar, por favor.”.

  - Você escrevia bem...
  - Pois é – sorriu ao dobrar a carta.
  - Continua assim?
  - Não faço a mínima ideia...
  - Por que não seguiu carreira? – insistiu.
  - Pois sou idiota – finalizou o tema.
  Antes de colocar o papel de volta na caixa, percebeu, ao fundo da mesma, um envelope que elas não haviam mexido.
  - , o que é?
  - Não sei , não me lembro de ter colocado isso aí. – optou por abrir o mesmo. Neste, continha uma carta escrita à mão.

“Fresno, 17 de Novembro de 2003.

  Oi , quanto tempo!

  Quando você chegou para mim dizendo “farei uma cápsula do tempo e irei escrever algo para ela” te achei mais maluca que o normal, mas confesso ter acabado gostando da ideia. Gostei tanto que resolvi fazer eu uma carta para ela, da moda antiga, com caneta, à mão... Não sei por que, mas acho que no futuro, quando você abrir sua cápsula, nós não iremos mais nos falar. Não me entenda mal, a última coisa que eu queria na minha vida era que você se esquecesse de mim, ou que nós parássemos de nos falar, mas eu apenas sinto isso. É estranho.
  Enfim, pensei que esta seria a melhor maneira de te dizer, mas agora – aqui, no meio da carta – estou vendo, tamanha é minha idiotice, que – talvez – você nunca vá abrir a tão planejada Cápsula do Tempo, ou, quando abrisse, fosse tarde demais... Tomara que não seja.
  Você deve estar intrigada e eu também já estou enrolando demais, né? Vou logo ao ponto: sempre fui louco por você. Sim, isso mesmo, você não leu errado, não está delirando ou algo do tipo... Seu melhor amigo paspalhão era apaixonado por você no colegial. E olhe, eu não queria te assustar nem nada, mas acho que ainda sou aí no futuro.
  Não olha pra carta desse jeito , eu ‘to falando sério! Na verdade desde que descobri o que é amor (lê-se: quando meus pais sentaram-se comigo praquela conversa “de gente grande” aos treze anos) eu vi que estava amando você. E eu não sou bom, nem com a escrita, nem com me declarar, sendo assim os dois juntos deve ter saído um lixo... Desculpe-me por isso.
  Eu realmente espero não ser tarde demais ... Do fundo do coração. Quer saber, me decidi! No verso da carta vou te deixar um número de celular, número esse que eu nunca, absolutamente nunca na vida vou me desfazer. Sendo assim, se você estiver lendo, por favor, me ligue pra dizer algo, sei lá, que eu sou idiota, que você sente o mesmo, que não sente, mas está a fim de tentar, que está com saudade e quer me ver... Ou simplesmente devo esquecer essa ideia e finalmente me desfazer desse telefone.

  PS: Eu sempre estarei aqui por você.”

  - Uau! – disse.
  - Mas... Mas como assim?
  - Ah, pelo amor de Deus , você não sabia? Nunca desconfiou?
  - O que? – a fitou confusa, com as sobrancelhas erguidas.
  - Argh!
  - Eu sou uma idiota! Grande, enorme!
  - Realmente...
  - !
  - Ué amiga, é verdade, tenho que te dizer... Você não é mais uma adolescente de 17 anos com a vida toda pela frente... Já se passaram dez anos, você tem que se resolver...
  - Acha que eu deveria ligar? – mordeu o lábio aflita, algo que sempre fazia em momentos de tensão.
  - Se eu acho que deve ligar? Ele tem um celular apenas para você ligar para ele, há dez anos... Já deveria ter ligado !

  - Alô? – ela falou e não ouviu retorno, apenas alguém respirando do outro lado da linha. – É... É a .
  - Eu sei , esse número é exclusivamente para você, achei que tivesse entendido – ele riu. – Então quer dizer que você abriu a cápsula?
  - Sim – ela responde envergonhada. – Por onde tem andado?
  - Ah, agora estou morando em Los Angeles... E você?
  - Eu também! – ela estava sorridente, até se lembrar do motivo da ligação. – Eu, eu não fazia ideia !
  - Pois é – ele riu novamente ao dizer. Ela podia jurar que ele mexia nos cabelos da nuca neste momento. – Então...
  - Então... – disseram juntos e riram em seguida, visivelmente desconfortáveis. – Desculpe, pode dizer.
  - Não, por favor! Diga você...
  - Eu... Eu g-gostaria de... – pigarreou e respirou fundo antes de prosseguir: - Eu gostaria de te ver, .
  - Ah... – ele disse baixo.
  - Mas, mas se você não puder, ou estiver comprometido tudo bem... O que eu estou falando? – ela se repreende e ele ri.
  - Não , tudo bem.
  - Ai meu Deus! Você tem alguém, não tem? É claro que tem... Ai como sou idiota! Quero dizer, me desculpe!
  - , calma... !
  - Desculpa , sério mesmo... Eu vou – ela iria dizer “desligar”, mas ouviu do seu lado dizer para ela não desistir, que não tinha nada a perder. – É o seguinte : se você quiser me ver ainda, sei lá – pigarreou novamente. – Me encontre amanhã no Walt Disney Concert Hall, lembra? A gente sempre quis vir aqui – ela sorriu ao lembrar. – Eu, mesmo morando aqui, nunca fui lá... Então, desculpa! Se quiser me ver, aparece lá amanhã às três da tarde... Se você puder né, não sei... É feriado, poxa! – forçou um risinho “pra descontrair”, como ela diria se fosse perguntada. – Enfim, eu não vou te perturbar mais tá... Nunca mais – disse a última frase mais para si mesma.
  E ela desligou, não esperou resposta. Estava nervosa demais, e amedrontada, para escutar algo dito por ele.

  No dia seguinte, como se não tivesse sido vergonha suficiente ter ligado para ele, ela foi ao Concert Hall e o esperou totalmente aflita.
  - Ele não virá idiota – ela disse ao tirar o suéter. Virou-se para ir embora, desolada e conformada ao mesmo tempo.
  - Oi – disse com um sorriso estampado no rosto.
  - Oi.



Comentários da autora
 Olá, esta é mais uma fic minha enviada para o site. Comecei a escrevê-la num momento depressivo meu, mas não a finalizei. Estava revendo meus textos hoje e a achei aqui, pensei em terminá-la e aqui está! Espero que gostem e que tomem como reflexão, pois eu tomei. Cuide-se e comente! xx