The Little Things Give You Away

Escrito por Júlia Oliveira | Revisado por Júlia

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  Caminhava pela chuva, a cidade nunca estivera tão gelada e cinza. Não que estivesse reparando, mantinha o foco em seus tênis imundos, que pareciam ficar mais e mais sujos a cada passo que dava. Sentia os pingos cortantes da chuva batendo com toda força em seu corpo, pareciam chicotear seu corpo, a dor nem sequer era física: era totalmente psicológica.
  Ouviu os passos levíssimos de atrás de si, sabia que a garota nunca o deixaria sozinho, ainda mais em momentos como aquele. Mas não a queria naquele momento, era boa de mais para alguém como ele.
  Passou a andar mais e mais rápido. e seus um metro e meio nunca o alcançariam, mesmo que corresse. Tudo que tinha de amor, faltava em altura.
  - ! – ouviu sua voz angelical a chamando, ao longe – !
  Queria ignorá-la, continuar caminhando sozinho pela chuva até qualquer lugar onde pudesse ficar sozinho e colocar seus pensamentos no lugar. Talvez assim ela tomasse juízo e voltasse para o quentinho de sua casa, no lugar de ficar ali na chuva, onde ambos sabiam que ela podia pegar uma pneumonia e ficar dias em um hospital.
  - Pelo amor de Deus, ! – ouviu-a protestar com os pés, birrenta. Foi obrigado a parar para encará-la: completamente molhada e aos prantos. Via seus olhos vermelhos de longe, e querendo ou não, a dor que sentia no peito aumentara. chorando era tudo que ele não aguentava.
  Já não lhe bastava todo o peso do mundo nos ombros? Por que ela tinha que chorar? Já não estava dolorido demais.
  - , por favor – sussurrou, sabia que ela escutava. – pare de chorar.
  - Então pare de fugir de mim! – ela bateu o pé no chão, voltando a caminhar até ele. Demorou um pouco até que a mocinha finalmente chegasse a sua frente, completamente encharcada e chorosa. A cena fez com que seu coração pesasse ainda mais, detestava fazer a melhor coisa que tinha acontecido em sua vida chorar.
  - Não estou fugindo de você. – voltou a caminhar, agora lentamente. Ela voltou a segui-lo sem pensar duas vezes.
  - Então por que não para e conversa comigo? – pôs as mãos na cintura, parando para encará-lo e depois voltando a caminhar. A chuva estava tão gelada que podia sentir seus órgãos congelando por debaixo da pele.
  - Estou farto, . – parou de caminhar, ficando de frente para a garota, que tremia de frio. – Está vendo isso aqui? – abriu os braços e deu uma andada para os lados, mostrando o cruel cenário. Há dez minutos os dois estavam muito bem instalados em Knightsbridge, um bairro rico de Londres: como poderiam ter surgido em uma área industrial e abandonada de Detroit? – Isso aqui é o mundo real. – soltou os braços, fazendo com que batessem com a lateral do corpo. – Sabe aquelas coisas lindas que você lê nos livros? Na TV? Nas revistas? – suspirou – Bem, , aqui, tudo aquilo não existe.
   ficou cabisbaixa, apenas ouvindo o que o rapaz queria dizer. Também não tinha nem imaginado o que diria a ele naquele momento, só sentia que não deveria deixá-lo sozinho.
  - No mundo real... – suspirou, a dor em seu peito não havia diminuído nem um pouco – você tem que lutar.– outro suspiro, estava prestes a chorar – Mas se ninguém vai lutar por mim, por que lutarei por alguém? – virou as costas para a menina, tentando esconder as lágrimas que sentia nascer, teimosas. – Você não vai estender a mão para mim, vai?
  A garota bufou, não conseguia acreditar no absurdo que estava ouvindo. No frio, com a chuva molhando cada milímetro de seu corpo mal coberto por aquela jaqueta jeans, como um oceano para todos os lados, doida pra abraçar o rapaz à sua frente e levá-lo de volta pra casa: onde pudessem ver filmes idiotas por toda a madrugada, ainda tinha que ouvir aquele absurdo?
  - Eu não significo nada pra você. – abaixou a cabeça, voltando a chorar em silêncio – Os pequenos detalhes te entregam.
  Fora a vez dele de ficar completamente atônito. Ela era seu tudo, como tinha coragem de dizer algo assim pra ele? Ela era sua vida, sua esperança, seu chão. Se, acordava todos os dias, era para vê-la, nem que fosse por um mínimo segundo. Sentiu seu peito rasgando-se em dois enquanto a via chorando, agora aos soluços.
  Deu três passos vencendo a distancia entre os dois. Fazê-la chorar era uma coisa, vê-la chorar era outra, agora: vê-la chorar, por sua causa, na sua frente e aos soluços era o fim. Tirou o casaco, sabia que estava todo molhado e pesava o dobro que o normal, mas tamparia um pouco da que caía sobre ela.
  O colocou sobre os ombros da garota, que se afastou instantaneamente, dando dois paços para trás. Estava com seu orgulho ferido, além de se sentir a maior idiota do mundo.
  - ... – protestou, ainda tentando colocar o casaco sobre os ombros da garota, geralmente, chamá-la pelo apelido a amolecia. Dessa vez não deu certo, apenas a fez dar mais paços, aumentando a distancia entre os dois. – Quer parar de fugir?
  - Não, , quem esta fugindo não é eu. – suspirou, secando as lágrimas, como se elas não fossem nascer todas de novo. – É você. – soltou outro suspiro – Desista do seu coração quebrado e deixe os erros passarem. – abaixou a cabeça novamente, encarando os tênis e o chão quebrado. – Porque o amor que você perdeu, - ela soltou um suspiro, era tão difícil confessar pra si mesma que ele não a amava da maneira que ela o amava. – Não valeu o que custou. E na hora certa, você será grato por isso ter passado. – deu de ombros, ainda encarando o chão. – Mas sabe, . – soltou um meio sorriso, talvez se conformando com o fato – Talvez seu amor nunca acabe. – riu, debochada – Mas se você precisar de uma amiga: há um lugar aqui, junto de mim. – deu de ombros, ainda o encarando.
  Ele estava completamente sem palavras e confuso. Havia desistido do tal “amor” assim que terminara com Kellsey Ann, uma puta que tinha usado-o como um brinquedo.
  - Não há amor o suficiente pra mim. – disse, finalmente conseguindo largar o casaco sobre os ombros de , que se apertou a ele: aspirando todo o odor amadeirado do rapaz. – E não há ninguém pra me dá-lo.
   soltou outro risinho em deboche.
  - Tudo que você sempre quis foi alguém que realmente olhasse pra você. – suspirou – E seis pés de baixo de água, eu faço. – apertou-se ainda mais no casaco.
  Aquela era uma revelação e tanto. teve que encarar a garota, que parecia ainda menor dentro daquele casaco gigantesco, soltou um gemido por não saber o que fazer, nem muito menos dizer.
  - Eu não amo mais aquela louca – soltou, chamando, finalmente, a atenção de para seus olhos marejados. – amar aquele lixo não faz mais sentido desde que te conheci.
  Os dois suspiraram. Era a mais pura verdade que Kellsey Ann fora o maior absurdo e o maior erro que cometera na vida, mas ter conhecido também fora o maior presente. Na verdade, se parasse para refletir: descobriria que o que sentiu por Kellsey Ann não era amor, havia aprendido a amar com , essa sim, era uma menina digna de ser amada, não só digna, mas como merecedora.
  Amava-a, disso tinha certeza.
  - Sou um idiota, fodido e nunca faço nada certo. - soltou um suspiro, olhando para o céu cinzento. – Mas se eu não fosse – aproximou-se da garota, que não afastou-se, apenas deixou com que o rapaz lhe acariciasse a bochecha direita. – eu estaria, neste exato momento: te abraçando debaixo das cobertas, quentinhas. – os dois sorriram involuntariamente, era uma ideia muito boa – Talvez você fizesse aquele chocolate quente que só você faz, e eu te amaria. – sorriu, segurando o rosto da garota delicadamente com as duas mãos – Nunca deixaria que alguém a magoasse, e nem muito menos faria algum mal a você.
  Seria uma ótima pedida. A garota não pode conter o sorriso.
  - Mas sou um imbecil. – suspirou – E eu faria tudo errado. – deixou outras lágrimas caíssem por seu rosto.
  - . – ela sorriu, agora colocando a mão direita no ombro do rapaz – Você tornaria as coisas erradas em certas – sorriu, acariciando-lhe as bochechas. Era tão bonito que chegava a doer. – Tudo faria mais sentido.
  - Não posso correr o risco de te magoar.
  - Eu quero correr esse risco. – corrigiu, esticando-se na ponta dos pés para poder ficar mais perto do rosto do rapaz – Se isso significa ser amada por você...
  - Mas você já é. – resmungou, completamente atônito. Que menina teimosa, ele a amava!
  - Então eu quero que você corra esse risco comigo, . – olhou em seus olhos azuis, nervosa. – Preciso de você comigo.
  Ele soltou um suspiro pesado. Teve vontade de rir, era tão perfeita que assustava. Escutou seu coração, aquelas vozes angelicais: Elas o guiavam de volta para casa. Sorriu antes de tomar coragem o suficiente pra colar seus lábios nos de . Encaixavam-se de forma tão perfeita que era assustador, quase sobrenatural a forma perfeita que suas línguas bailavam tão próximas uma da outra. O dor no peito já nem sentia mais, só sentia seu coração pulando feito um louco.
  Não haveria mais erros, as barreiras estavam caindo.



Comentários da autora


Bem, se você é fã de Linkin Park já sabe o que eu vou dizer: a fic é a junção de quatro das minhas músicas prediletas dos caras: The Little Things Give You Away, The Messenger, Roads Untraveled e Robot Boy. Eu as citei durante TODA a fic. Eu só queria provar pra Amanda - é sua má, pra você mesmo dorgada que não quer me ajudar com a sinopse. (Mentira, você me deu Memory Lane, te amo <3 UEHEUHEUEH') - que Linkin Park é uma banda romântica, você só tem que olhar pelo ângulo certo. Escutem as músicas que elas são perfeitas! Foi meio difícil escolher uma só, então eu peguei as quatro! ;D