Talvez

Escrito por Mama B. | Revisado por Lelen

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Música: Stranger, por Secondhand Serenade

  Capitulo único.
  Ela estava no canto do quarto, toda encolhida, com medo do que estava por vir. Virou-se para mim e ficou me olhando, seus olhos a ponto de chorar. Enquanto ela me olhava eu sentia uma conexão, algo me dizia que ela precisava de ajuda. virou seu rosto na direção oposta, não fiz nenhum barulho para recuperar sua atenção, fiquei apenas admirando o quão linda era. Levantei da poltrona, fui até ela, mas a cada passo que eu dava me aproximando dela, ela se encolhia mais.
  - Um dia você vai entender , vai entender porque eu te sequestrei. - eu disse limpando as lágrimas do rosto da garota.
  - Eu nunca vou entender, não há o que entender, você é estranho, você é perigoso. - ela me respondeu olhando para a parede.
  - Você é meu anjo - me levantei. Falei baixo o suficiente para ela não ouvir - faça meu sonho se tornar realidade essa noite.

  Eu só sonhava em ser amado, sentir carinho por alguém, só queria deixar de ser o abandonado que eu era. Eu nunca tinha visto ela pessoalmente antes de sequestrá-la, apenas por fotos, no entanto não estava com medo de "conhecê-la", uma voz em minha mente me dizia que ela veria o certo através do que eu era. Vi minha vida passar diante dos meus olhos, mas nada me impediu de tirar ela de sua casa e nos isolar em uma cabana no meio de um bosque.
  Voltei a me sentar na poltrona, peguei um caderno e comecei a escrever, compor musicas era meu hobbie. Eu nem podia chamar isso de compor musicas, elas não tinham ritmo, eram só grupos de estrofes com alguns versos. Talvez estavam mais para poema do que musica. Eu olhava para buscando inspiração, quando nossos olhos se cruzaram, aquela conexão me deu tudo que precisava para começar a escrever meus "poemas".

  - O que está fazendo? - ela perguntou engatinhando para onde pudesse me ver melhor.
  - Escrevendo. Gosto de escrever... Poemas.
  - Sobre o que é seu poema?
  - Sobre você... Sobre nós na verdade. Você quer ouvir o que tenho até agora?
  - Quero. - respondeu com a voz falha.
  - Você me chama de estranho, você diz que eu sou perigoso
  mas todos esses pensamentos estão deixando você esta noite
  eu estou quebrado, abandonado
  você é um anjo
  faça todos meus sonhos virarem realidade esta noite.

  - É lindo. Eu gostei.

  Já em pé, pegou o violão que estava em cima da mesa e tocou uma melodia calma, cantou a estrofe que eu tinha composto e depois olhou para mim esperando a aprovação. Apenas sorri, olhando-a sorrir pela primeira vez.

  - Sua beleza parece tão distante – continuei - eu teria que escrever milhares de musicas
  para te fazer entender como você é bonita
  eu sei que não posso fazer você ficar...

  Repetiu a mesma melodia e cantou a nova parte. Se aproximou de mim e me abraçou. Seu corpo estava frio, suas bochechas praticamente congeladas entrando em contato com a minha pele. Eu, meio sem jeito, retribui o abraço e senti ela sorrir com o queixo apoiado em meu ombro. Pela primeira vez em anos, eu senti algum carinho por mim.

  - Eu só quero ir para casa, por favor.
  - Eu não posso te levar. Entenda isso.

  Ela se soltou de mim e voltou para o seu canto. Eu ouvia ela chorar baixo, mas meu coração de pedra não quis acreditar que seu choro era real e me ordenou continuar sentado. Adormeci com o caderno de letras em meu colo. Quando acordei, olhei para o canto onde ficava ela estava atirada no chão. Caminhei lentamente para não fazer barulho e não acordá-la. Parei ao seu lado, até então, eu não tinha percebido que meu caderno tinha sumido. Ela não estava dormindo, estava morta. Seu sangue escorria pelo corte no pulso, derramando algumas gotas no carpete branco e outras poucas caiam sobre a folha da musica que ela compôs a melodia.
  Abaixei no chão para pegar o meu caderno, em baixo do que eu já tinha escrito, tinha uma parte nova escrita por . "Eu gostaria de te dar meu ultimo suspiro para te fazer entender como você é bonita, entenda como você é bonita"

  Eu a chacoalhava em uma tentativa idiota de lhe fazer acordar, não entrava em minha cabeça que ela estaria morta e não adormecida. Eu não acreditava no que estava vendo. Cantei a musica que tínhamos composto para ela, como uma canção de ninar.
  Talvez tivesse sido melhor se eu a tivesse deixado ir quando me pediu, talvez ela ainda estaria viva, longe de mim, mas a salvo. Se não tivesse pensado somente em mim, se não tivesse sido tão egoísta, ela estaria em sua casa, talvez pensando no quão tolo eu era, ou o quão ridículo eu fui por escrever uma musica para uma estranha, para uma menina que eu apenas sabia o nome. Talvez ela pensaria em voltar, em me ver, talvez ela apenas quisesse voltar para casa justamente para ficar longe de mim, o estranho perigoso. Talvez...



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