Take Me Home
Escrito por Luh Marino | Revisado por Natashia Kitamura
Parte um – I Would
[n/a: Você escolhe se quer ouvir as músicas ao longo da leitura. (:]
Eu sempre fui aquele típico cara normal da escola. O que quase ninguém via, mas que também não passava despercebido. Eu tinha meus amigos – os melhores possíveis – e algumas (ok, talvez várias) garotas que gostavam de mim pelo meu jeito estranho. Ok, a maioria delas só via beleza em mim. Uma beleza que, pra mim, até hoje não existe.
Eu sempre fui aquele típico cara que acha idiota sair pegando todas em uma festa, mas que não reclamava de beijar algumas (ok, talvez várias) quando estava com garotas em um mesmo recinto.
Eu sempre fui aquele típico cara que esconde os sentimentos debaixo de um sorriso sedutor, ou um sorriso simpático, e só deixava algumas (ok, talvez várias) lágrimas caírem, e quase nunca.
E, acima de tudo, eu sempre fui aquele típico cara apaixonado. Não, não por várias. Só por uma.
O nome dela era . E ela era simples, completa, total e pateticamente perfeita. Os cabelos eram naturalmente ruivos, mas ela vivia pintando. Durante todos os anos em que vivi com ela, já vi ela com o cabelo natural, castanho, preto, roxo, loiro, rosa, verde, azul e mais bilhões de combinações que tenho certeza que só dariam e só deram certo com ela. Estudamos na mesma escola desde que eu me entendo por gente. Os olhos eram mais azuis que o céu, que o mar, que os dois juntos. Se chegasse perto, dava pra ver uns pequenos pontinhos verdes e castanhos próximos ao centro. Ela tinha sardinhas pelos dois lados das bochechas, vários pontinhos alaranjados que davam vontade de beijar um por um. Ela era do ‘grupo dos populares’, talvez porque sua irmã mais velha namorava o capitão do time de baseball, e sempre arrastava com eles, o que acabou por torná-la conhecida na escola. Apesar disso, era a típica nerd da sala. Só tirava notas altas, por mais que não gostasse de exibir sua inteligência. E também sempre foi educada e simpática com todo mundo. Dava oi pros seguranças do prédio, passava na secretaria só pra dar um abraço na velha Sra. Howkings, defendia e ajudava os que mais eram zoados em sala de aula e tudo mais.
A partir da oitava série ela passou a ser o sonho de qualquer garoto, e era óbvio que ela não percebia aquilo. Uma das garotas mais cobiçadas do colégio, mas nem percebia que aquele quadril virava cabeças, vários caras parando de prestar atenção nas coversas só pra vê-la passar. Um dia, acho que ela finalmente percebeu isso, e resolveu se deixar levar. Começou a ficar com caras. Chegou a namorar alguns. No primeiro do médio estava namorando firme com um dos rebatedores do time de baseball, Brian. Um idiota, na verdade.
Dava pra ver que ele não estava nem aí pra ela. deveria ter mais chifres que uma manada inteira de cervos. Ela é tão inocente, tão ingênua que não percebia nada do que fazem com ela. O namoro com o rebatedor só fez aumentar ainda mais a popularidade da irmã idiota dela, Margaret. E não percebia absolutamente nada. É claro que o cara demonstrava ciúmes da garota, só pra se fazer de bom namorado, então acho que ele me mataria se soubesse o que eu pensava e sentia pela garota dele.
Depois que eu descobri que o nervosismo que sentia quando via ela era essa coisa horrorosa chamada amor, parece que meu cérebro viu que eu tinha entendido e quis me fazer pensar nela a todo minuto. Eu cheguei a ir mal na escola, minhas notas despencaram, porque eu não parava de pensar nela. Vivia fantasiando sobre uma realidade em que eu era o namorado dela. Sonhava com ela praticamente todos os dias. Era bom, mas ao mesmo tempo era terrível.
E, bom, eu sempre tive certeza de que eu, definitivamente seria um namorado melhor pra ela do que o tal Brian.
Parte dois – Loved You First - Heart Attack
Lá pro meio do segundo ano, ela e Brian terminaram. Eu nunca havia me sentido mais feliz antes. Foi uma coisa maravilhosa! Ela tava solteira, quem sabe não me enxergaria? Oras, era possível, não?
Não, não era.
A garota pareceu entrar em depressão. Eu sabia que ela estava normal, não estava deprimida pelo término, ela nem gostava dele – e isso era óbvio. Ela quase não falava com ninguém, passava a aula quieta e faltou várias vezes. Era bizarro. E, bom, ela passou a me ignorar, por algum motivo desconhecido. Antes ela chegava a dar bom dia quanto me via, agora nem isso. Então, um dia uma das amigas dela resolveu dar uma festa e eu fui convidado.
O mundo seria um lugar bem melhor se eu não tivesse ido.
Na noite da festa, eu resolvi que tentaria alguma coisa com . Cheguei todo cheiroso e já fui atrás de alguma bebida comprada ilegalmente. Não fiquei muito tempo ali na cozinha, porque é desconfortável segurar vela para, tipo, cinco casais ao mesmo tempo. Sai do lugar em direção à sala, onde um DJ tocava alguma música remixada da Madonna e diversas garotas dançavam sensualmente. Algumas já estavam tão bêbadas que aquilo nem poderia ser chamado de dança.
Olhei para todos os lados possíveis e nenhum sinal de . Não era possível que ela não fosse. Tudo bem que ela tava toda triste pelo término do namoro e tal, mas a festa era de uma amiga dela! Resolvi ir pro lado de fora da casa. O quintal da garota era enorme, e vários doidos já se jogavam de roupa e tudo na piscina. Uns iam até o teto da casa pra se jogarem de lá. Andei por ali até que a vi. E, caralho, ela estava perfeita. Tão linda que eu quase tive um treco. Fui até ela. Sentei do lado dela no balanço em que ela estava. Aqueles balanços romantiquinhos de dois lugares, sabe?
Me sentei ali e ela sequer olhou na minha cara, então eu tive que puxar assunto.
- E aí? – Ótimo começo de conversa, , parabéns.
- Oi, . – Pelo menos ela respondeu. – Tudo bem? – Finalmente olhou pra mim.
- Tudo. Não vou fazer a mesma pergunta pra você porque está óbvio que não está tudo bem. – Arqueei uma sobrancelha. Ela soltou um riso fraco e apoiou a cabeça no meu braço, que estava apoiado no encosto do balanço.
- É que às vezes parecia que ele gostava de mim. Aí ele chega e fala que não aguenta mais um relacionamento baseado em mentiras e termina comigo. Qual o sentido disso? – Seus olhos se encheram de lágrimas.
- E você gostava dele? – Perguntei, torcendo pra que a resposta fosse negativa.
- Não, mas... – Não a deixei terminar.
- Se não gostava dele, porque está toda triste, chorando pelos cantos? Você deveria estar feliz, livre, leve e solta. – Me senti um gay nível extremo falando aquilo, mas ela achou graça, então tudo bem.
- É, talvez você esteja certo. – Ela alargou o sorriso.
Levei minha mão até seu rosto e limpei as poucas lágrimas que haviam caído. Ela olhou pra mim, o sorriso ainda existindo, mas sem os dentes a mostra. Fui chegando mais perto, mais perto e logo minha testa estava colada na dela. Tentei ao máximo deixar minha respiração normal e estava rezando pra que ela não pudesse ouvir meu coração, que estava palpitando dentro do peito. Ela havia fechado os olhos e logo eu encostei nossos lábios em um selinho. Fiquei só naquilo por alguns segundos e logo já estávamos nos beijando de verdade. Minha língua na sua era uma das melhores sensações que eu já havia provado. Explorávamos nossas bocas em um beijo ardente. E tudo estava perfeito, até ela me empurrar delicadamente. Me olhou com um sorriso de desculpas.
- Acho melhor continuarmos sendo só amigos, . – Ela disse. O que?
- Se tivéssemos sido amigos um dia, isso teria feito sentido. – Disse e me levantei, saindo dali 0o mais rápido que pude.
Dois meses desde aquele beijo. Ela me tratava normalmente, e havia voltado a ser a de antes no namoro com Brian. Eu tentava não ser frio com ela, mas às vezes isso era inevitável. Eu gostava dela desde que me entendia por gente e quando consigo beija-la, ela fala pra sermos só amigos? Os boatos – que não eram tão boatos assim – de que havíamos nos beijado correram pela escola, mas em pouco tempo já haviam sido substituídos por outras coisas, como Joel Handsburg que tinha tentado beijar a professora gostosa de geografia, ou Amy Brown e Lucas Davis se agarrando na enfermaria.
Logo ela voltou a namorar. O cara da vez se chamava Mason. Por algum motivo desconhecido, aquele cara nunca gostou de mim, desde que entrou na escola ele faz de tudo pra me deixar irritado. Já até cheguei a pensar que o cara era gay e gostava de mim, mas ao vê-lo entrando de mãos dadas com , tudo que eu quis foi quebrar a cara dele. Ele era um bom namorado, ou não, mas era melhor que o Brian. Ele era todo mimizento, cheio de amorzinho pra lá e pra cá. E, droga, eu que deveria estar sendo mimizento e amorzinho com ela. Pelo menos ele a deixava feliz. Era isso que tinha que importar pra mim, certo?
Pois é, não importava.
Porque eu é quem deveria estar fazendo ela feliz. Eu gostava da garota desde, sei lá, o começo da minha puberdade e aí chega um carinha e rouba ela de mim? A minha maior vontade era chegar em todos que encostavam em com intenções maiores do que só amizade, socar a cara do indivíduo bem socada e gritar um “EU VI PRIMEIRO, BABACA” bem no ouvido dele. Uns mereciam socos em outro lugar, mas deixemos isso pra lá.
Parte três – Over Again
Terceiro ano. Os pais de e Margaret sofreram um acidente de carro. A mãe entrou em coma e não resistiu, falecendo após alguns meses. Isso tudo nas férias. As garotas ficaram arrasadas. As duas estavam tão deprimidas, com olhares vagos e tudo mais que os namorados delas terminaram seus relacionamentos. É, o mimizento. Aquele desgraçado largou no momento que ela mais precisava dele. Margaret era a que mais parecia estar sofrendo. Eu sabia que estava sofrendo tanto quanto ela, mas ela quem estava aguentando as pontas. Ela estava sendo forte não só por ela mesma, mas pela irmã e o pai também. Muitas pessoas que se diziam amigas delas se afastaram. Alguns idiotas chegaram a fazer “brincadeiras” sobre elas serem órfãs, aquele tipo de piada chamada humor negro. Claro, é engraçado. Quando não é com a gente. retrucava algumas, dava risada de outras. Maggie chorava com todas.
E então teve essa outra festa, aniversário do meu melhor amigo, óbvio que eu não iria faltar – apesar de estar praticamente moído. Por algum motivo, eu vinha me sentindo muito cansado nos últimos dias, e meu treino de handball nem estava assim tão puxado. O cara fez um churrasco, mesmo que à noite, e chamou praticamente todos do ensino médio. E eu estava lá, bebendo, dançando e sendo um idiota, quando resolvi sair pra tomar um ar. E eis que vejo encolhida em um canto chorando tudo que ela não tinha chorado antes. Não sei se é muito óbvio, mas eu fui correndo como um louco até ela, me joguei do seu lado e a abracei o mas forte que podia. Ela me olhou por um segundo e praticamente desabou em cima de mim, jogando os braços em volta da minha cintura e me apertando contra ela o máximo que conseguia. Passei minha mão em seus cabelos e tentei falar algumas coisas reconfortantes.
- Shh... Fica calma, . Ela tá bem, foi pra um lugar melhor. – Eu dizia e percebia que ela chorava menos, apesar da intensidade ainda ser a mesma.
- Ela não podia... Não podia ter ido, . Ela não podia ter me – soluços – deixado aqui sozinha, e-eu não sei como... – Levantou a cabeça, olhando pra mim com aqueles olhos perfeitos, agora tão sem vida, sem seu brilho natural e encantador. Passei meus dedos sobre algumas de suas lágrimas e dei um beijo em sua testa.
- Você não está sozinha, tem seus amigos.
- Que amigos? Todos foram embora, . Não querem ter duas deprimidas fracas como amigas. – A olhei indignada.
- Oras, o que eu sou? Eu estou aqui, , não vou te deixar. Sua mãe também não te deixou, ela está olhando por você, por Maggie e por seu pai lá em cima. – Eu disse e ela olhou para o céu, cheio de estrelas. Apontei para a mais brilhante de todas. – Tá vendo aquela ali? – Ela fez que sim com a cabeça. – É a sua mãe. Ela tá brilhando porque sabe que vocês vão sair dessa. Ela tá de olho em vocês.
- Mas eu queria tanto ela aqui comigo, . Sinto tanta falta do sorriso dela e do jeito que ela me abraçava. Eu não vou conseguir sem ela, eu não sou forte o suficiente pra isso. – Ela voltou a chorar com ainda mais intensidade e eu a abracei de novo, apertando seu rosto contra meu peito.
- Você não é fraca. Só o fato de estar aqui, cuidando da sua irmã e do seu pai já te faz muito, muito forte. Você consegue, , sei que consegue. – E então ficamos em silêncio mais uma vez, ela conseguindo controlar seu choro aos poucos.
Eu queria estar ali por ela pra sempre, ajudá-la a superar seus traumas e seus medos, fazê-la esquecer da dor que eu sei que ela estava sentindo. Queria consertar seu coração despedaçado, beijá-la e fazê-la esquecer de todos os problemas que a rodeavam, porque eu sei que conseguiria fazer aquilo. Eu sabia que ela conseguiria passar por aquilo sozinha, mas também sei que, com alguém ao seu lado, seria muito mais fácil. Eu sabia que ela forçava sorrisos, tentando se mostrar inteira, e eu queria tirar sorrisos verdadeiros dela, fazê-la gargalhar com as minhas piadas mais idiotas e brincar das coisas mais infantis com ela.
Então ela sussurrou no meu ouvido que queria ir pra casa. Perguntei por Maggie e ela disse que estava provavelmente na sala, então me levantei, esticando a mão pra ela e juntei nossas mãos, que se encaixaram perfeitamente, entrando com ela na casa. Não vi nem sinal do aniversariante, mas dar tchau pra ele não era minha prioridade. Achei Maggie sentada no sofá bebericando alguma coisa. foi até ela e chamou-a para ir embora, vindo então com a irmã pra perto de mim.
- Vocês tão de carro? – Perguntei, vendo as duas balançarem a cabeça de modo negativo. Abracei as duas pelos ombros e saímos da casa, recebendo vários sorrisos maliciosos e até uns gritos de “Tá bem, hein ? Duas gatas e irmãs, ainda por cima! Vai ter uma ótima noite pelo jeito!”. Maggie e chegaram a soltar umas risadinhas, enquanto eu revirava os olhos. Apesar de estar apaixonado que nem um idiota, ainda sou homem e não posso negar que seria uma ótima ideia.
Levei as duas pra casa – eu não sou stalker ao ponto de saber onde elas moraram, elas que me falaram – e me chamou pra entrar. Eu aceitei só porque tava quase mijando nas calças. Elas moravam em um apartamento enorme – que coisa clichê, é claro que ela tinha que ser rica! – e, assim que chegamos, Maggie foi dormir, nos desejando uma boa noite. Ela e se abraçaram, sussurrando coisas uma no ouvido da outra enquanto eu me sentia completamente desconfortável. Quando a mais nova foi pro quarto, perguntei a onde era o banheiro e ela apontou, apontando em seguida para a cozinha, dizendo que estaria lá quando eu saísse.
Saí depois de poucos minutos, a mão cheirando a... Morango? Ela um cheiro meio gayzinho, enfim. Fui em direção à cozinha e vi encostada na bancada, de frente pra porta, tomando um chá – já que tinha cheiro de chá – em uma xícara do Pato Donald. Dei uma olhada no cômodo, elas tinham uma puta coleção de xícaras em uma prateleira, dividida por donos. Sr. E Sra. só tinham uma pra cada: pra ele, uma com o desenho de um bigode com um “Mr. ” escrito e, pra ela uma com desenh0 de mancha de batom com um “Mrs. ” escrito. Me perguntei por que eles ainda guardavam aquilo, pra se torturarem todos os dias? Vi que seguiu meu olhar e parou os olhos na xícara.
- Você deve estar se perguntando por que nos torturamos com aquilo todos os dias. – Eu arregalei os olhos enquanto ela voltava a olhar pra mim, um sorriso de canto se formando. – Não nos torturamos, apenas queremos nos lembrar dela todos os dias. Algumas coisas nos fazem sentir como se ela ainda estivesse conosco, inclusive aquela xícara. – Seus olhos voltaram a marejar e eu fui até ela, pegando sua mão e voltando, em direção à sala. Me sentei no sofá com ela do meu lado e a abracei pelos ombros, enquanto ela enterrava seu rosto na curva do meu ombro. Ficamos assim por um tempo e ela voltou a chorar. Novamente os pensamentos sobre querer protegê-la me vieram à mente e então me veio uma música à cabeça. Decidi cantar pra ver se acalmava .
Tears stream down on your face
(Lágrimas caem pelo seu rosto)
When you lose something you cannot replace
(Quando você perde algo que não pode substituir)
Tears stream down on your face
(Lágrimas caem pelo seu rosto)
And I
(E eu)
Tears stream down on your face
(Lágrimas caem pelo seu rosto)
I promise you I will learn from my mistakes
(Eu te prometo que vou aprender com meus erros)
Tears stream down on your face
(Lágrimas caem pelo seu rosto)
And I
(E eu)
Lights will guide you home
(As luzes vão te guiar para casa)
And ignite your bones
(E incendiar seus ossos)
And I will try to fix you
(E eu vou tentar te consertar)
Parte quatro – Kiss You
No final do terceiro ano, eu, e Maggie éramos inseparáveis. Éramos vistos juntos o tempo inteiro e os boatos de que eu saí da festa pra ficar com elas só aumentaram, já que eu não saia do lado delas e vice-versa. Desde a primeira vez em que vi Margaret, achei ela uma patricinha nojenta e esnobe. Quando comecei a andar com ela e conhecê-la melhor, vi que ela era o completo oposto do que eu havia imaginado. Ela era praticamente uma versão feminina de mim. , então, nem se fala. Eu ficava mais apaixonado a cada dia, um completo bobão atrás dela como se ela fosse uma divindade ou alguma coisa assim. Eu ainda saia com meus antigos amigos, é claro. Às vezes me esquecia deles, às vezes me esquecia das garotas. Mas sempre estava, ou com um, ou com outro.
Nas férias, livres de escola, finalmente – a não ser Maggie, que ainda teria que aguentar mais um ano e, pior: sozinha –, planejamos uma viagem. Fomos acampar por quatro dias e foi maravilhoso, a não ser pelas várias picadas de cada bicho estranho... Enfim, eu não parava de pensar no quanto queria pra mim. Quero dizer, aquela garota é um sonho! E eu, boboca, apaixonado por ela desde... Sempre? E ela não me dava uma chance. Até o quarto dia de acampamento.
- ? – Ouvi. Estava do lado de dentro da minha barraca, lendo o finalzinho de um livro. Gritei um “Aqui dentro” para que ela me localizasse e logo ela estava sentada do meu lado.
- Aconteceu alguma coisa? – Perguntei, fechando o livro e me sentando direito. Ela ficou em silêncio por alguns segundos e então disparou a falar.
- Bom, eu ouvi dizer uma vez que demora menos que um segundo pra uma pessoa se apaixonar pela outra, mas eu nunca tinha acreditado de verdade nisso, sabe? Assim, eu acho que você tem que conhecer a pessoa direito, saber como ela é e só então vai se apaixonar por ela. Não que eu esteja apaixonada por você, mas alguma coisa tá se formando dentro de mim, um sentimento muito louco por você. Eu não quero que seja amor, porque não quero me machucar, mas ao mesmo tempo eu quero corresponder o que eu sei que você sente por mim, porque deve ser horrível ser meu melhor amigo, me ver todo dia e não poder fazer o que eu sei que você quer fazer. Então, não sei, você quer... Ficar comigo?
Eu fiquei olhando pra cara dela com a maior expressão de boboca de todos os tempos. Primeiro pela confissão dela de ter alguma coisa em mim que a atrai, segundo pelo fato dela saber que eu gosto dela, e terceiro por ela perguntar se eu quero ficar com ela sabendo que eu gosto dela! A resposta não é óbvia?
- Assim, eu não quero te dar falsas esperanças, sabe? Não quero ficar com você e fazer você pensar que eu te amo ou alguma coisa assim, mas eu acho que... – Ela não terminou de falar porque eu praticamente me joguei em cima dela, juntando nossos lábios.
Foi ainda melhor do que a primeira vez em que nos beijamos. Acho que porque, dessa vez, os dois queriam. Não que na primeira vez não quisesse, só acho que dessa vez ela estava mais disposta a corresponder o beijo. Puxei-a pra mais perto, uma mão em sua cintura e a outra enrolada por entre seus cabelos, enquanto suas mãos estavam no meu rosto. Nossas línguas sedentas uma pela outra procuravam espaço pra se enrolarem, explorando cada cantinho de nossas bocas, e a cada segundo eu queria mais e mais.
Fazia quase dois meses que eu e estávamos saindo. Era a melhor sensação de todos os tempos. Não ficávamos cheios de mimizinho, até porque não estávamos namorando, mas podíamos sair juntos e fazer coisas bestas de casais, tipo ir comprar um sorvete ou dividir um Milk-shake, andar de mãos dadas pelo parque falando coisas idiotas e, principalmente, era ótimo beijá-la em público e mostrar pra todo mundo que ela estava saindo só comigo.
Nos primeiros dias, não quis contar pros outros que a gente estava ficando, não sei por que. Ela não me deu motivos, só disse que queria deixar em segredo. Eu aceitei porque, estando com ela, tudo tava perfeito. Depois de uma semana, mais ou menos, ela decidiu assumir nosso relacionamento estranho, e então podíamos nos engolir, como dizia Maggie, sem termos medo de sermos pego na hora H. O melhor de tudo era que continuávamos melhores amigos acima de tudo. Ela me contava os problemas e eu contava os meus, fazíamos piadas toscas um sobre o outro e nossa amizade estava muito acima do que nossa “ficada”.
Eu não poderia ficar mais feliz.
Parte cinco – She's Not Afraid / Live While We're Young
Era engraçado como não me deixava dizer que a amava. Ela dizia que não queria ouvir, já que não conseguia falar a mesma coisa, não conseguia me corresponder. Eu respondia com um “Ainda”, mas tinha medo que ela nunca sentisse por mim o que eu sentia por ela. Um dia, então, eu entendi toda aquela relutância em me deixar dizer as simples palavrinhas.
- , você tem medo de alguma coisa? – Estávamos na casa dela. Maggie e um de meus amigos, , estavam jogando videogame enquanto eu estava sentado em um dos sofás com deitada no mesmo, a cabeça no meu colo.
- Claro que sim, acho que é impossível existir alguém que não tenha medo de nada. – Ela respondeu, olhando pra mim com aqueles olhos azuis, naquela época já de volta com seu brilho natural.
- E do que você tem medo? – Perguntei, passando a mão levemente por seus cabelos castanhos com mexas cor de rosa.
- De perder quem eu gosto e de me apai... De me machucar gravemente. Assim, de ficar em coma e tal. – Corrigiu rapidamente, se levantando do meu colo. – Vou ao banheiro rapidinho. – Voltou a dizer quando percebeu meu olhar inquisitivo.
Era óbvio o que ela ia falar. tinha medo de se apaixonar, por isso não gostava que eu dissesse que a amava. Eu já havia presenciado vários momentos de coragem dela. Sua aventura favorita era pular de bungee-jump, ela era fissurada por asas-deltas, enfrentava baratas, aranhas e todos esses bichos que mulheres normalmente morrem de medo. Eu achava que não tinha medo de nada, mas ela tinha medo da coisa mais simples que acontece com qualquer ser humano.
Uns dias depois daquilo, confessou que tinha, mesmo, medo de amar alguém que não fosse da família. Eu disse pra ela que não tinha do que ter medo, já que se apaixonar era algo natural.
- Mas eu tenho medo de me machucar, . – Foi o que ela respondeu.
- E se você não se machucar? Na verdade, se machucar é o princípio disso tudo. Você tem que sofrer pra aprender com os erros, . – Rebati, abraçando-a pelos ombros. Ela enfiou a cara no meu pescoço, inspirando fortemente e me arrepiando inteiro.
- Mas eu também não quero machucar você, porque se eu te machucar você vai ficar bravo comigo e eu não quero perder uma amizade como a sua, . É a melhor amizade que eu já tive na vida. – Disse quando tirou seu rosto de onde estava, me olhando no fundo dos olhos. Eu, como um bom idiota/gay/apaixonado que sou, dei um beijo na ponta de seu nariz e disse:
- Você nunca vai me perder. Agora esquece esse medo idiota e aproveita a vida enquanto você não é uma velha raquítica tendo que usar fraldas pra não se mijar toda. – E ouvi o doce som de sua gargalhada, me fazendo rir junto.
Parte seis – Little Things / Nobody Compares
- Mas, olha só, esse aqui me faz ficar gorda! – Ela praticamente berrou, enfiando o vestido na minha cara.
Estávamos nos arrumando para a festa de formatura de Maggie. Eu havia pedido em namoro no meio do ano e ela havia aceitado – imagine só a minha felicidade; eu quis pular que nem uma menininha. Eu já estava praticamente pronto, só faltava colocar o sapato – que não havia colocado até agora pra não sujar a cama de , onde eu estava deitado. Já nem havia escolhido um vestido, ainda, porque a cada um que ela pegava, arranjava um defeito, implicando com todos os vestidos, todos!
- Esse vestido é tão normal quanto os outros, , ele não te deixa nem um pouco gorda. – Disse e recebi um olhar mortal vindo dela. Rolei os olhos. – O que? É verdade, , você está linda.
- Claro que não, olha aqui, esse vestido me faz parecer uma baleia, aquele ali me faz parecer um palito, aquele marca demais, aquele marca de menos, eu não consegui esconder essas sardas idiotas com nenhuma maquiagem e... – Ela não terminou, porque eu me levantei no meio do discurso, fui até ela e a beijei.
- , chega disso. Você fica linda de qualquer jeito, baleia, palito, marcada, não marcada, com um vestido preto ou um laranja fluorescente. – Disse, segurando seu rosto com uma das mãos. A outra estava entrelaçada perfeitamente com a mão livre dela, pois a outra estava no meu peito. – E por que quer cobrir as sardas? Elas são lindas. – Beijei cada bochecha sua. – Você é linda, . E, sendo minha namorada, eu sou o único que tem que te achar linda, e pra mim você é perfeita. – Terminei. Ela me olhava com os olhos brilhando, e logo uma lágrima escorreu pelo olho direito. Limpei com o dedão e beijei sua testa, puxando ela pra mais perto e abraçando-a como se nunca tivesse feito aquilo na vida. Ficamos em silêncio por alguns minutos.
- ? – Ouvi. Fiz um barulho com a garganta pra ela saber que eu estava ouvindo. – Eu amo você. – Ela disse.
Ok, pausa pra vocês entenderem as minhas reações: eu quase engasguei no susto, pois nunca esperara ouvir aquilo dela. Minha mente e pensamentos se embaralharam e meu estômago virou uma festa, porque não havia só borboletas ali, e sim vários outros bichos com asinhas que não paravam de se debater. Meu coração estava como uma escola de samba, e eu tinha certeza que ela podia ouvir meus batimentos de onde estava. Aposto que nossos amigos, no andar de baixo, podiam escutar meus batimentos, de tão altos que eles estavam.
Beijei seus cabelos, passando as mãos por suas costas lentamente.
- Eu também amo você, .
- Você é meio idiota por ter se apaixonado por mim. – Ela disse. Afastei-me o suficiente pra olhá-la confuso. – Você podia ter achado alguém melhor, . – Continuou. Rolei os olhos e a puxei pra perto novamente, sussurrando em seu ouvido:
- Mas eu não quero mais ninguém, porque não existe ninguém melhor que você. Você é única, ninguém se compara a você.
Continuamos daquele jeito, abraçadinhos, até ela decidir qual vestido usar. Assim que se vestiu e eu coloquei meu sapato, fomos para o andar de baixo e finalmente partimos para a formatura de Margaret.
Parte sete – Change My Mind / Irresistible
- Eu não quero ir embora. – Sussurrou no meu ouvido. Estávamos na festa de dezoito anos de Maggie, em um pub qualquer. Eu e estávamos dançando na pista. A festa já havia praticamente acabado, a maioria dos convidados já tinha ido embora, o DJ já não estava mais tocando nenhuma música. E, mesmo assim, eu e nos balançávamos como se alguma música lenta estivesse tocando.
- Nem eu.
- Fica comigo. Vai pra casa comigo. Dorme comigo hoje, . – Ela disse. Eu relutei em responder, porque era começo de Dezembro, e eu sempre viajava pra minha cidade natal nessa época, pra ver meus pais e comemorar o Natal com eles. Eu pretendia ir no dia seguinte, mas parece que tem alguém tentando me fazer ficar.
- Você sabe que eu tenho que ir pra casa, né? – Ela movimentou a cabeça, assentindo. – Então, se sabe que eu tenho que ir...
- Mas eu quero ficar com você hoje. – Ela levantou a cabeça, olhando pra mim, aquele olhar pidão que só ela sabe fazer.
- ... – Comecei a repreendê-la, mas ela grudou seus lábios aos meus. Começamos um beijo calmo, mas logo eu cortei. – , não tente me fazer ficar.
- Você pode ir depois de amanhã, ! Por favor, você nunca fica comigo nessa época do ano, e eu tenho um presente pra você.
- De Natal? – Perguntei, surpreso. Era dia dois, ainda! Ela fez que sim com a cabeça, e eu rolei os olhos. – Isso é golpe baixo. – Me referi ao “você nunca fica comigo nessa época do ano”. Era verdade, porque, como eu já disse, eu sempre viajava pra minha cidade no começo de Dezembro. Não que ela fosse muito longe de Londres, mas meus pais preferiam ficar lá – eu havia alugado um apartamento pra frequentar a universidade.
- Eu só quero ficar um pouco com o meu namorado, não posso? – Perguntou, arqueando uma das sobrancelhas.
- Você é tão manipuladora. – Rebati antes de colar novamente nossos lábios, dessa vez em um beijo mais urgente, apesar de calmo. Era impressionante como, às vezes, eu precisava sentir o gosto de tanto quanto precisava de ar.
No começo, o beijo ainda era lento, mas aos poucos ele foi ficando mais rápido e necessitado, urgente e caloroso, e logo resolveu ir pra casa.
Adivinha pra que.
Parte oito – Truly, Madly, Deeply
Noite de Natal. Havíamos juntado nossas famílias na casa dos meus pais e comemoramos todos juntos. Foi o melhor Natal que eu já tive na vida. Agora eu estava deitado na minha cama, com ao meu lado, abraçada a mim, dormindo profundamente. Eu não conseguia tirar meus olhos dela. Eu não conseguia acreditar que ela era minha.
Finalmente, era minha.
Quero dizer, eu passei minha adolescência nutrindo uma paixão louca por essa garota, que nem eu mesmo entendia. Era uma coisa tão forte, tão nova e desconhecida que era quase impossível acreditar que, depois de tantos anos a amando em segredo, ela me correspondia. A garota que eu mais amei na minha vida me amava também. Me amava tanto quanto eu amava ela. Era bizarro!
era como um castelo protegido por muralhas gigantes, que impediam qualquer pessoa de ver o que havia do lado de dentro do terreno. Ela não deixava ninguém se aproximar o suficiente pra conseguir sua confiança, e eu sempre entendi aquilo, pois às vezes me sentia daquele jeito também, como se ninguém merecesse minha confiança, porque eu sabia que alguém a quebraria um dia e destroçaria meu castelo tão bem cuidado. Mas eu deixei todo o meu medo por lado e deixei o portão do castelo arregaçado pra qualquer um entrar, e não havia me arrependido. , no entanto, continuou com os muros fortes. Até que o acidente de carro levou uma parte muito importante dela e ela acabou deixando o muro desmoronar. Acho que eu aproveitei a brecha e me enfiei no castelo, achei a princesa e ajudei-a a reerguer sua proteção. No final daquilo, ela me ofereceu moradia, e agora eu estava ali, observando a princesa descansar depois de tanto tempo sofrendo.
era a melhor parte de mim. Ela me ajudou com tudo que eu precisei, ela me retribuiu a força que eu dei pra ela do melhor jeito possível. , agora, era minha namorada, deitada nua ao meu lado depois de uma noite maravilhosa, e eu aproveitaria aquilo ao máximo. Beijaria cada pedaço do seu corpo enquanto ela ainda me pertencia, a faria a mulher mais feliz da face da Terra enquanto eu ainda tinha esse poder. A amaria como ninguém nunca amou ou vai amar. Porque ela merecia aquilo. Merecia aquilo mais que qualquer outra garota que eu já havia conhecido.
Parte nove – Magic / They Don't Know About Us
Eu havia desistido da faculdade. Um dia eu estava cantando pra antes de dormirmos, e ela me disse que minha voz era boa. Um tempo depois, enquanto tentava cozinhar alguma coisa, estava cantarolando uma música qualquer quando ela surgiu na cozinha.
- Viu aquele programa de audições que lançou esses dias? – Perguntou. Soltei um barulho, assentindo. – Acho que você deveria tentar. Sua voz é linda, . – Continuou, ao mesm0 tempo em que me abraçava por trás e beijava carinhosamente minha nuca.
- Acha mesmo? – Ela confirmou. – Quem sabe, um dia?
- Você se daria bem.
Duas semanas depois lá estava fazendo uma audição pra ver se passava num programa de talentos. E não é que passei? Havia convidado meus amigos para tentarmos juntos e os jurados gostaram de nós. Conseguimos um contrato com a gravadora do criador do programa e eu estava no meu quarto, arrumando minhas malas pra uma pequena turnê no Reino Unido, a fim de divulgar nosso primeiro CD.
A única parte ruim daquilo tudo era fingir que eu não tinha namorada. Nosso agente disse que, como nosso público eram garotas mais jovens, era melhor não expor as namoradas, pois as fãs fariam alvoroços por conta dos ciúmes. aceitou, disse que tudo bem, que ela não se importava. Mas eu me importava! Como assim trocar minha namorada por fãs meio psicóticas? Quero dizer, quem nunca ouviu falar em Justin Bieber? As fãs do cara eram loucas, viviam mandando ameaças de morte para as garotas suspeitas de estarem namorando Justin. Aquilo era medonho, e era óbvio que eu não queria que machucassem , mas também não queria esconder que estava apaixonado.
Depois de um tempo, nosso agente e conseguiram me convencer que estava tudo bem e que, depois que a poeira baixasse um pouco, poderíamos assumir nosso relacionamento. E, bom, estava paciente quando a banda explodiu, e eu tinha certeza que ela esperaria o tempo que fosse para que pudéssemos deixar de esconder nosso amor.
Eu não deveria ter tido tanta certeza assim.
Parte dez – Summer Love
- , você não vê que tudo isso foi um namorico besta? – Ela berrava, apontando o dedo pra minha cara.
A primeira briga séria de um casal é um problema enorme. É horrível, repugnante e faz você se sentir um merda, mesmo que a culpa não seja sua da briga ter começado. E, bom, não foi. disse que não aguentava mais se esconder, mas não queria assumir o relacionamento e, de uma hora pra outra, resolveu terminar comigo.
- Namorico besta? NAMORICO BESTA? – Berrei mais alto que ela. – , eu fui apaixonado por você a minha vida inteira, demorei anos pra fazer você me notar, virei seu melhor amigo pra conseguir confiança o suficiente pra você aceitar me dar UM beijo e você vem me dizer que foi um namorico besta? Pelo amor de Deus, garota, por que isso tudo de repente? Você me aguentou enquanto eu não tinha dinheiro nem pra limpar a bunda e agora que eu sou famoso e posso sustentar trinta de nós você quer terminar comigo? Eu não vou mudar, , eu vou continuar o mesmo!
- Mas as suas fãs...
- EU não ligo pras minhas fãs, por que você tem que ligar? , eu te amo mais que tudo, não vou me deixar abalar por fama e dinheiro!
- , você pode me amar, mas vai achar gente melhor que eu! Olha, eu não sou a única mulher da sua vida, ok? Você vai conhecer outras garotas e vai escolher uma delas pra passar o resto da vida com você, eu não sou ela! Eu não sou a sua garota, , não sou!
- Eu não me importo se você é ou não a mulher da minha vida, eu quero passar o maior tempo possível com você! – Eu já estava cansado daquilo. Estávamos brigando há horas, ela insistia em voltar no mesmo assunto, e eu já estava estressado a ponto de querer jogá-la pela janela. Eu já havia feito e voltado da pequena turnê, e logo na terceira semana já estava explodindo as emoções.
E eu estava quase explodindo ela.
- Desculpa , mas não dá mais! Você vai ficar bem, juro! – Ela veio até mim e me abraçou. – Eu te amo.
- ...
- Não, esquece ok? Foi só um casinho, você vai achar alguém melhor e que te mereça, porque eu sou uma idiota, mas você vai superar, e eu vou superar e nós vamos ficar bem.
- Fica aqui.
- Não, .
- Fica comigo! – Eu estava quase me jogando no chão e pedindo de joelhos pra que ela ficasse. Como assim vou ficar bem? Óbvio que não vou ficar bem sem ela!
- , não! Desculpa, meu amor. – Meu amor. Ela nunca havia me chamado de meu amor.
E eu sentia que nunca mais chamaria.
Parte onze – C'mon C'mon / Rock Me
O tempo foi passando e, infelizmente, eu tive que deixar meu amor de lado e me dedicar à carreira. Não era tão difícil, porque o meu trabalho era o melhor de todos. Ser cantor nunca foi um sonho ou algo assim, mas quando a One Direction (minha banda) se formou, eu só conseguia pensar no quanto era bom fazer algo que gostamos e ainda sermos pagos por isso. Quando eu subia em um palco, esquecia de tudo, e, por incrível que pareça, esquecia até de .
Não vi mais depois da nossa briga. Ainda via Maggie porque ela namorava , um dos caras da minha banda. Achei estranho que ela não namorasse , porque eles eram inseparáveis, mas tudo bem. Um dia, depois de um show, Maggie estava nos esperando no camarim. Ficamos jogando conversa fora e, antes de ir embora com , Maggie chegou mais perto de mim e disse que sentia muito. Eu perguntei por que.
- Você não soube? Ah, , eu sinto tanto! – Ela me abraçou meio desajeitadamente, já que estava de pé e eu estava sentado no sofazinho do camarim.
- Pelo que, Margaret?
- foi pra Austrália. Recebeu uma proposta de emprego impossível de ser negada e foi. – Meu queixo caiu. Quase abriu uma cratera no chão. Maggie me olhou com pena e me abraçou mais forte. – Eu tentei impedi-la, mas ela disse que seria o melhor pra ela, não só profissionalmente, mas também porque ela queria clarear a mente e se afastar das coisas que a faziam mal.
Eu a fazia mal? Nossa cidade a fazia mal? Quero dizer, Londres é meio poluída, mesmo, mas...
Ela fugiu de mim. fugiu de mim. A garota por quem eu estava perdidamente apaixonada resolveu acabar com o nosso relacionamento e quando eu estava ficando livre de shows, pensando em ir atrás dela, me chega uma bomba em forma de notícia falando que ela tinha ido pro outro lado do mundo. Bem legal isso.
Alguns meses depois, era aniversário de Maggie. Seria aqui e, obviamente, estaria presente. Eu tentaria falar com ela. Cheguei à festa, que estava sendo em um Buffett, e já fui me sentar com os caras da banda em uma mesa. Em pouco tempo Maggie veio falar conosco, agradecer a presença, etc., e então arrastou para conhecer as pessoas. Ficamos ali jogando papo fora por volta de uma hora, mas eu estava cansado de ficar sentado e fui dar uma volta. Aproveitei e belisquei alguns petiscos servidos em uma mesa grande, mas ainda não estava com fome o suficiente pra fazer um prato cheio.
Andei por entre as pessoas que dançavam na pista e fui ao banheiro. Depois, voltando pra mesa, notei certa aglomeração em um canto do Buffett. Olhei pra lá tentando enxergar algo, mas não enxerguei nada. Dei de ombros e voltei pra mesa, recebendo de a bombástica notícia que a aglomeração era por causa de , que havia chego. Quase dei um berro, me levantando e praticamente correndo até o lugar, as pessoas se dissipando aos poucos depois de falar com . Quando finalmente cheguei ao lugar – porque minha mesa era do outro lado do salão –, todos já haviam saído e só restavam , Maggie e . Os últimos me viram – não me viu porque estava de costas pra mim, apreciando os enfeites da mesa do bolo – e saíram pra me dar mais privacidade com .
- Eu achei esse aqui o mais fofo de todos! – Apontou pra um enfeite que era uma miniatura de Maggie, em cima do bolo. – É a sua cara! É de biscuit?
- Não faço ideia. – Ela se assustou, já que não tinha me visto ali, dando um pulinho. Olhou pra mim meio estranho, mas logo estava com um sorriso doce nos lábios. O meu sorriso. – Oi, .
- Olá, ! – Exclamou alegre. A criatura foge de mim, estilhaça meu coraçãozinho e ainda vem toda feliz pra cima de mim? Que audácia!
Não que eu ligue.
- Como vai? – Perguntou educada. Dei de ombros, querendo agarrá-la ali mesmo, mas não era a hora certa.
- Na medida do possível. Ser cantor é fantástico. Mas me falta algo. – Olhei no fundo dos olhos dela, tentando imitar aqueles caras de filmes românticos que fazem as garotas caírem por eles só de olhar nos olhos da mulher.
tremeu um pouco e chegou a gaguejar quando falou, depois de engolir a seco.
- Ah, é mesmo? E o que... O que te falta, ? – Perguntou apreensiva. A resposta era óbvia.
- Me falta você, ué. Podemos conversar em algum lugar mais privado? – A última frase foi sussurrada em seu ouvido. se arrepiou e eu fiquei feliz ao saber que ainda tinha aquele efeito sobre ela. Assentiu levemente com a cabeça e eu peguei sua mão, prestes a levá-la para o lado de fora do Buffett, mas uma música lenta começou a tocar. Olhei pra ela.
- Dança comigo? – Perguntei. Seria uma boa oportunidade não só pra abraçá-la, mas também pra conversar com ela. Ela fez uma careta.
- Não sei, ... – A interrompi.
- Vem logo. – Aproveitando que ainda estava segurando sua mão, arrastei-a até a pista de dança, colocando minhas mãos em suas cinturas quando chegamos lá. Apesar de ter rolado os olhos, ela tinha um sorrisinho de canto se formando nos lábios. Passou os braços pelo meu pescoço e apoiou a cabeça no meu ombro. Puxei-a pra mais perto e abracei-a de volta, apertando sua cintura com meus braços.
Ficamos daquele jeito, apenas nos balançando ao ritmo da música, por alguns minutos. Mas eu não aguentava mais aquele silêncio. Cheguei mais perto de seu ouvido e sussurrei:
- Como vai a vida na Austrália sem mim, ? – Tentei ser o mais sedutor possível, apesar de nunca ter tido essa habilidade de sedução.
Você pode imaginar quem era o macho da nossa relação.
Um arrepio percorreu a coluna de e eu soube que eu ainda surtia certos efeitos nela. Ela suspirou – o que, dessa vez, causou arrepios em mim, porque sua respiração pegou em meu pescoço, um dos meus maiores pontos fracos. Levantou a cabeça e olhou nos meus olhos.
- Sinceramente? Tá uma droga. – Ela riu pelo nariz, voltando a encostar a cabeça no meu ombro.
- Então volta pra cá e vamos ficar juntos. – Sugeri, olhando pra ela pelo canto de olho.
- Eu não sei, ... – Ela suspirou, novamente me fazendo arrepiar. Me afastei dela o suficiente para ver seu rosto direito.
- Ah, qual é? Eu sinto sua falta, você sente a minha e não quer voltar? , você é uma pessoa muito estranha! – Bufei com tudo aquilo. Garota cabeça dura, viu?! – Qual o problema de admitir que ainda tá apaixonada por mim? Achei que tivesse superado esse medo.
- Cala a boca! – Ela disse rindo.
Ai, como eu amava a risada dela.
- Vai, eu quero que você volte comigo e faça o que quiser comigo, vai! – Implorei, arrastando as palavras. Ela riu mais alto.
- E por que eu deveria voltar com você?
Parte doze – Still The One
- Porque eu ainda te amo! – Quase gritei; aquilo não era óbvio? – , você ainda é a garota dos meus sonhos, é em você que eu penso o dia todo, é pra você que eu dedico as músicas, é de você que eu lembro quando ouço Fix You... Você ainda é o amor da minha vida, garota. – Eu fui abaixando o tom de voz, chegando mais perto dela.
Seus olhos marejavam quando eu terminei. Ela me olhou e se jogou em mim, me abraçando forte, me puxando pra perto dela com aqueles bracinhos finos.
- Eu amo você, . – Ela sussurrou no meu ouvido, como se fosse um segredo de estado. Abracei-a mais forte, querendo fundir meu corpo ao dela.
- Eu também amo você, .
Parte treze – Back For You
- Obrigado, pessoal! – gritou, acenando, e as fãs berraram um pouco mais alto. – Vocês foram incríveis hoje, podem ter certeza que voltaremos rápido! – Terminou.
Cada um de nós agradeceu ao público de Waterford, na Irlanda. secou a nuca e jogou a toalha ao público, que fez uma muvuca pra agarrarem o pedaço de pano usado. Fiz uma careta com aquilo e saí do palco, pegando mais uma garrafa d’água. e falavam de como o pessoal estava animado, enquanto e travavam uma guerra de dedões. Corri por entre os corredores do lugar até chegar ao camarim. Quando abri a porta, recebi um abraço de urso, e não precisei olhar pra saber quem era. Seu perfume era característico.
- , eu estou todo suado! – Disse, tentando afastá-la. Mas ela só me agarrou mais ainda, me puxando pra dentro do camarim, já que estávamos tapando a entrada.
- Eu não ligo, ! – Ela disse, me soltando um pouco e beijando-me profundamente.
Era quase inacreditável que depois do aniversário de Maggie, há quase seis anos atrás, eu e não nos separamos mais. Ela me aceitou de volta, eu a perdoei por ter fugido de mim. Ela voltou da Austrália e compramos um apartamento simples em Londres, onde nós dois cabíamos. Praticamente não nos separávamos, tentando compensar os quase dois anos que passamos longe um do outro. estava a cada dia mais perfeita, e não brigava comigo por causa da carreira. A maioria das fãs não só aceitava, mas também amava , elas diziam que ela era uma versão feminina de mim. Acho que ela ficou confiante com isso, então nunca mais brigamos por aquele motivo tosco. Claro que ainda brigávamos por outras coisas, o que é um casal sem brigas? Mas sempre nos reconciliávamos depois.
Dei oi pra Maggie, que estava super animada, pulando por aí e falando sem parar que o show foi muito bom, mesmo que ela quisesse voltar pra casa logo. No momento em que ela falava pela décima quarta vez, entrou e a calou com um beijo. Eles começaram com aquela fofurice aguda deles, dizendo que era o último show da turnê e que logo voltariam pra casa e poderiam exalar seu amor na terra natal. Rolei os olhos com um sorriso na boca e olhei pra , que sorria pra mim.
Abaixei-me até ficar da altura de sua barriga e beijei o local acima de seu umbigo. Abracei-a ali mesmo e ela pousou as mãos em meus cabelos, fazendo um cafuné gostoso. Eu não podia acreditar que teria um filho! Há alguns meses eu havia pedido em casamento, e ela havia aceitado. Você pode imaginar como comemoramos, não? Dois meses depois, assim que cheguei da gravadora, encontrei sentada no nosso sofá, com um aparelhozinho na mão. Perguntei o que havia acontecido e ela soltou de uma vez:
- Estou grávida, .
Eu paralisei ali mesmo e depois comecei a surtar. Eu não estava pronto pra ter um filho, eu era novo demais praquilo, mas eu estava tão feliz que pouco me importava. disse que estava com medo da minha reação, achou que eu fosse ficar bravo. Compramos, então, uma casa um pouco mais afastada do centro de Londres, com mais espaço para o nosso pequeno – ou pequena – poder brincar, se divertir e fazer essas coisas de bebês. Eu não queria que tivesse vindo nessa turnê, porque podia acontecer algo com ela ou o bebê, mas ela me batia toda vez que eu falava isso e dizia que eu estava paranoico e que ia ficar tudo bem.
Eu não podia estar mais feliz. Eu era rico e tinha uma carreira incrível, com os melhores amigos do mundo, além da namorada – opa, noiva – mais perfeita do mundo. Eu sabia que não podia pedir mais nada, porque eu já tinha tudo que um cara podia pedir na vida. Uma casa linda, com uma família linda e uma mulher grávida linda que me esperava toda vez que eu saía em turnê. Me esperava na nossa casa linda, e quando eu chegava, ela estava linda, usando suas roupas lindas que caiam como luva em sua barriga linda.
Era ótimo sair em turnê com a consciência de que eu podia sair de casa tranquilo, porque iria me esperar.
Ela sempre me esperava.
Porque sabia que eu sempre voltaria pra ela.