Sun Village Resort

Escrito por Maria F. A. | Revisado por Beezus

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Parte do Projeto Sorteio Surpresa - 1ª Temporada // Tema: Serenata

CAPÍTULO UM

  - Ei! Acorda bela adormecida. – E no momento seguinte, senti a cama a baixar, devido ao novo peso adicionado: .
  Eu e somos melhores amigos desde sempre. Na verdade, foi amizade “à primeira troca de olhares”. Somos muito parecidos e temos imensas coisas em comum. Conheço-o como a palma da minha mão. Todas as inseguranças e medos que se escondem atrás do ser cabelo moreno. Todas as emoções e respostas não dadas que expressam-se nos seus olhos claros. Todas as atitudes e “porquês” dentro de si. Poderia enumerar muitas outras coisas que sei sobre o meu melhor amigo, mas isso levaria uma eternidade. Resumindo, eu conheço-o no seu total e foi isso que fez-me apaixonar por ele. Também, não era algo muito difícil de acontecer.
  - , - voltou a chamar-me e em troca, recebeu um par de resmungos. – Já estamos atrasados. – Informou de mansinho, fazendo com que todos os meus pelos se eriçassem, devido ao facto de ter sentido a sua respiração no meu pescoço. – Vamos lá.
   segurou-me nas mãos e obrigou-me a sentar, apesar de continuar de olhos fechados. Depois, levantou-me da cama e suspeito que esteja a levar-me para a casa de banho. Quando sou parada de repente, e antes de sequer pensar em abrir os olhos, sinto algo pressionado sobre os meus lábios.
  Abro, automaticamente, os olhos e deparo-me com um de olhos fechados, a segurar-me no rosto com ambas as mãos. Passados uns segundos, a língua de começa a pressionar, docemente, o meu lábio inferior e foi impossível não sentir a argola que transporta no seu lábio inferior. Acho que está a pedir para eu separar os meus lábios, então, faço o que me pede e separo-os. A mão direita do meu melhor amigo vai para trás do meu pescoço, enquanto a esquerda, desce até à minha cintura, puxando-me mais para ele, desafiando as leis da gravidade.
  Não sei bem o que fazer. Nunca tinha beijado ninguém antes, então, faço como vejo nos filmes e coloco os meus braços ao seu redor. Agora estou, oficialmente, acordada.
  Tão rápido começou, como terminou. Abri os olhos, devagarinho, talvez com algum receio do que é que se seguiria. iria pedir desculpas, estaria arrependido ou diria que eu não sei beijar. Em qualquer uma das infinitas opções de reações, eu não sei se estou preparada para isso.
  - … - Comecei, mas fui interrompida, pelo dono dos olhos claros.
  - Estamos atrasados. – Informou, um pouco confuso e totalmente baralhado, já que não conseguia parar de olhar para todos os lados. – É, nós estamos atrasados… - Disse, mais para ele do que para mim. Como se quisesse entreter-se com outra coisa, para não pensar na maneira mais suave de não me magoar.
  Quando finalmente saiu do quarto, suspirei e abracei o meu corpo. Não estava à espera que me beijasse, nem consigo perceber o porquê disso, mas pelo menos,… sei lá, acho que esperava uma explicação, não um “estamos atrasados”. Porquê que os rapazes são uma espécie tão difícil de se compreender?

***

  Suspirei pela milésima vez, após ver ao fundo, atrás do balcão. Ainda não falamos desde do acontecimento desta manhã. Olhei em redor, supervisionando a minha área. conseguiu-nos um trabalho de verão num dos melhores e mais conhecidos resorts das Caraíbas, Sun Village Resort Cofresi. O resort em si é perfeito. Branco, decoração suave e clara, muito luminoso, um hall de entrada esplendido e digno de um resort de praia. Tem ótimas piscinas, um acesso maravilhoso ao mar e espetáculos alternados todas as noites. É, talvez, o melhor resort que eu alguma vez já vi.
  Volto a olhar para a piscina, há procura de alguém que precise de ser salvo. Acho que já deu para perceber qual é o meu trabalho e sem sombra de dúvidas, é o melhor trabalho de verão que alguém poderia sonhar e desejar. Sou uma das três nadadoras salvadoras do resort. E , trabalha no bar ao pé da piscina. Mais uma vez, é o melhor trabalho do mundo. Não só por passar grande parte do tempo numa piscina, mas sim por termos acesso ao complexo balneário do Sun Village, um horário cinco estrelas e com um dia de folga, e termos acesso ao open bar, incluindo o restaurante. Nós, basicamente, estamos de férias.
  - Olá! – Saudou Olivia, outra nadadora salvadora.
  - O meu turno já terminou? – Perguntei, surpreendida pela forma como o tempo passou a correr.
  - Não, mas o moreno giro do bar pediu-me para chamar-te. – Respondeu, a apontar com o polegar direito para trás das suas costas. – E se tu não fores, olha que eu vou. – Segui o olhar para onde Olivia apontava e vi a acenar e a chamar-me com os dedos.
  - Ai que estamos tão animadas hoje, não é Olivia? – Perguntei, apontando com a cabeça para um dos empregados de mesa, Enzo, por quem Olivia tem uma enorme queda. – Vê lá se a piada não chega aquele lado. – Brinquei, vendo-a mostrar a língua.
  Voltei a olhar para a Olivia a tempo de vê-la a morder o lábio para Enzo, que também estava a olhar para ela. Gargalhei e ela fez o mesmo. Ele está totalmente na dela.
  - Obrigada por vires-me chamar. – Agradeci, antes de ir ao encontro do .
  - Deves-me uma! – Gritou, apontando-me o indicador e eu fechei a mão e coloquei o polegar para cima em sinal de “ok”.
  Enquanto caminho para o bar, as sensações e imagens de hoje de manhã voltam a aparecer na minha cabeça. Ele chamou-me para falar sobre isso. Provavelmente acha que já pensou e preparou o suficiente numa explicação e quando chegar à hora de a dizer, vai meter os pés pelas mãos e as mãos pelos pés. Vai dizer que foi do momento, e fazer-me prometer de dedo mindinho não contar nada a Anastácia, uma hóspede com quem ele tem andado a sair. E eu pergunto-me outra vez, porquê que tive de o ajudar com ela? Porquê que dei-lhe conselhos, porquê que ajudei-o a escolher as flores, ou até mesmo o perfume! Certo, porque eu não conseguia simplesmente não ajudá-lo.
  Quando chego ao seu pé, sento-me numa das cadeiras do balcão livre.
  - Chamaste-me? – Perguntei, um pouco nervosa. Dei graças a Deus por estar de costas para mim.
  - Sim, - Respondeu – queria que provasses esta bebida que acabei de inventar. – E virou-se, segurando uma bebida azul nas mãos. – Chamei-a de . – Olhei para a bebida e arqueei uma das sobrancelhas.
  - O que é que tu puseste aqui para isto ficar azul? – Perguntei, mas reformulei a pergunta. – Ou melhor, isto é ingerível?
  - Ha, ha ha…! Muito engraçada . – E riu-se ironicamente. – Eu pus todo o meu coração e alma, empenhado a fazer essa fabulosa bebida para a minha adorada, excelentíssima, cara melhor amiga, e tu ainda perguntas se é ingerível? – Perguntou, falsamente ofendido. – Assim magoas os meus sentimentos .
  Peguei na bebida, sem desviar os meus olhos semicerrados, dele, e experimentei-a. Tinha de admitir, isto tem um sabor bem interessante. É doce e simples.
  - Isto é bom. – Confessei, e viu a fazer uma dança idiota que só faz quando as outras pessoas dão-lhe razão.
  - Quem é que tinha razão, quem, quem? – Perguntou, retoricamente, fazendo-me rolar os olhos, sem deixar de sorrir. – Ah pois é.
  - Oh, cala-te lá. – Resmunguei. Voltei a colocar a palhinha na boca e continuava a olhar para ele. – ,… - Comecei, ouvindo-o a soltar um “sim?” – Sobre hoje de manhã…
  - Podemos esquecer o que aconteceu hoje de manhã? – Pediu, a olhar para o que sobrava da bebida azulada. – Isso nunca deveria ter acontecido.
  Outch.
  - E eu realmente não quero que isso estrague a nossa amizade.
  - Claro,… - murmurei, sem conseguir encará-lo.
  Nos minutos seguintes, instalou-se um silêncio, que eu pessoalmente, acho insuportável, mas não me atrevia a terminá-lo. Não sei se seria capaz de dizer alguma coisa, depois de ter dito que se arrepende e pedir para esquecer.
  - Então… realmente gostaste da bebida? – Perguntou novamente, a brincar com a argola que tem no lábio inferior com a língua, em sinal de nervosismo, e eu acenei afirmativamente que sim, com a cabeça. – É que eu… bem,… estava a pensar em oferecer à hoje à noite e tal… - E antes que eu pudesse responder, ele tratou de continuar. – E tu, sabes que eu realmente adoro-te, e és a melhor amiga do mundo, então… será que podias dormir no quarto da Olivia hoje à noite? – Perguntou, fazendo-me encará-lo boquiaberta.
  O quê!?
  Olhei-o incrédula. Quer dizer, ele primeiro beija-me de manhã e depois pede-me para esquecer. Inventa uma bebida e dá-lhe o meu nome e depois diz que vai dar à hoje há noite!? Ah! E ainda pede-me para não ir dormir ao nosso quarto para ele poder ir para a cama com a !? Tu só podes estar a brincar comigo!
  - O quê!? – Gritei, atraindo a atenção das pessoas que estavam mais próximas.
  - Shhh…! – Pediu , ao mesmo tempo que segurava-me pelo braço e arrastava-me para um canto mais afastado. – Também não era preciso reagires assim! É só uma noite e eu prometo que não vamos fazer nada na tua cama. – Ele não acabou de dizer isso.
  - Não era preciso reagir assim!? – Gritei e repreendeu-me com o olhar, para falar mais baixo, mas nesta altura, eu estou pouco me lixando para aquilo que ele está a tentar fazer. – É claro que é preciso reagir assim! Tu beijaste-me de manhã e à noite vais para a cama com outra!? Deves achas que isto é o cabaré ou quê!? Tu não podes simplesmente beijar-me, pedires-me para deixar o quarto para vocês e ainda informares que não vão fazer nada na minha cama!
  - Pensei que tivéssemos combinado esquecer os acontecimentos que ocorreram hoje de manhã !
  - E se eu não quiser esquecer!? – ficou sem fala e os seus olhos transmitiam uma ligeira surpresa à minha afirmação. – Sabias que aquele era o meu primeiro beijo e mesmo assim beijaste-me e agora dizer que vais para a cama com ela!? Vais dizer o quê? Foi impulso!? – Perguntei, com o lábio a tremer. – Era o meu primeiro beijo e tu roubaste-o! Não tinhas o direito de ir lá e tirar-mo, ainda mais se não iria significar nada para ti!
  - ,… - parecia ter voltado à realidade e deu um passo na minha direção, fazendo-me recuar dois.
  - Não. Não te aproximes de mim. – Pedi, levantando as mãos ligeiramente para cima. – Sabes que mais? Podes ficar com o quarto, com a tua cama e vê só, com a minha também, porque eu vou voltar para casa. – Informei, afastando-me dele.
  - , mas estamos a meio do verão! – Disse, - E o teu trabalho?
  - Só vim para aqui para passar mais tempo contigo e isso foi um erro. – Respondi, já com as lágrimas a cair-me pela face. – De todas as pessoas, tu eras a ultima que eu esperava partir-me o coração. – Solucei, passando as costas das mãos sobre as lágrimas, enquanto mordia o lábio inferior. – Eu tenho de ir.

CAPÍTULO DOIS

  Fazem duas semanas desde que me fui embora das Caraíbas e regressei a casa. Confesso que ainda tive a esperança que fosse impedir-me de entrar no avião, mas quando cheguei ao solo americano, a realidade atingiu-me toda de uma vez. Ele não me ligou, tão pouco mandou-me uma mensagem e eu fiz o mesmo. Agora encontro-me no meio do meu quarto, sentada no chão, a ver fotos nossas enquanto assisto ao filme do Romeo e Julieta. Adoro a história shakespeariana. Aquilo é amor verdadeiro.
  Pergunto-me se algum dia poderei viver algo assim. E com isto, voltei a lembrar-me de e fiquei de novo com vontade de chorar. Não era para as nossas férias terem terminado dessa forma. Era para nos divertirmos à grande e curtirmos o verão juntos… Volto a encarar a televisão e o filme está naquela parte da declaração de amor à janela. É a minha cena preferida. Ao ver Romeo a declarar-se a Julieta, fez-me começar de vez a chorar e esconder a cara com as mãos.
  O amor não deveria ser tão complicado. Nós deveríamos apaixonar-nos pelas pessoas certas, encontrar a nossa alma gémea e viver um feliz para sempre, como contam os livros. Porquê que tinha de ser assim?
  Oiço um barulhinho atrás de mim e levanto a cabeça, alarmada. Oiço-o outra vez e viro-me para a janela. É de lá que vem o barulho. Limpo as restantes lágrimas, já que a curiosidade tomou a minha vontade de chorar, e levanto-me. À medida que vou aproximando-me da janela, apercebo-me que tem alguém no telhado. Uma melodia acústica começa, e eu automaticamente reconheço a música.
  Abro a janela e olho para fora, até focalizar-me numa figura conhecida.
  - …? - Murmurei alto o suficiente para fazê-lo olhar para mim.
  - Eu sei que deveria ter-te impedido de entrares no avião. Jesus! Eu nem devia ter-te deixado sair do quarto, em primeiro lugar! Devia ter-te abraçado e impedido de teres a possibilidade de fazer as malas e só soltava-te quando tivesses adormecido de cansaço. Nunca deveria ter-te beijado de manhã e pedido para não ires dormir ao quarto. Eu deveria era ter-te beijado de manhã e adormecer contigo nessa mesma noite, porque é isso que as pessoas apaixonadas fazem. Eu realmente lamento imenso, não ter percebido mais cedo os meus e os teus sentimentos. Sou horrível com isto do amor, nunca faço nada certo. Nunca digo o que quero realmente dizer e só faço borrada quando falo. Estes dias sem ti, fizeram-me perceber que a minha vida não é a mesma sem ti. Sem o teu cheiro, ou o teu sorriso. – E suspirou, antes de voltar a olhar para a viola que estava no seu colo. – Espero não ter chegado tarde de mais.

Eu gostava de olhar para ti
E dizer-te que és uma luz
Que me acende à noite, me guia de dia e seduz

  Sentei-me no parapeito da janela, com as pernas para o lado de fora e encostei a cabeça na parede ao lado.

Eu gostava de ser como tu
Não ter asas e poder voar,
Ter o céu como fundo
Ir ao fim do mundo e voltar.

  Foi inevitável não sorrir com o significado daquelas palavras. Quando eramos pequenos, costumava dizer que eu tinha sido feita para voar, mas estava presa na minha própria liberdade. Nunca consegui perceber direito o porquê dele dizer aquilo, mas agora, faz sentido. Eu tenho medo de arriscar.

Eu, não sei o que me aconteceu
Foi feitiço, o que é que me deu?
Pra gostar tanto assim de alguém,
Como tu…!

  Tapei a boca com as duas mãos, para não soltar soluções e estragar com a serenata. Tudo o que ele está a dizer, é aquilo que eu sempre sonhei que me dissessem. Não consigo desviar o olhar e a atenção, tanto de , como da música.

O primeiro impulso é sempre o mais justo.
É mais verdadeiro
E o primeiro susto dá voltas e voltas
Na volta redonda de um beijo profundo

   agora olhava para mim e pousou a viola no chão, abrindo os braços para cima, como se fosse abraçar-me.
  - Salta Julieta! – Exclamou, a estender os braços para mim.
  Soltei uma gargalhada e fiz o que me pediu, e saltei para os seus braços. Claro que só saltei porque foi um salto de meio metro, caso fosse maior, eu iria descer as escadas e abrir a porta principal.
  Mal os nossos corpos colidiram, apertou-me pelo tronco, enquanto eu apertava-o pelo pescoço. Novamente, estávamos a desafiar as leis da gravidade, porque era impossível estarmos tão próximos fisicamente, parecia que se nos aproximássemos mais um milímetro, iriamos fundir um no outro.
  - Desculpa só ter percebido agora que amo-te. – Sussurrou, colocando-me no chão, para poder segurar-me no rosto, com ambas as mãos. – E eu não quero que te esqueças do teu segundo beijo.
  - Huh? – Pela primeira vez naquela noite, pronunciei-me.
  - Já te tinha beijado, - Explicou e começou a ficar corado. – Estavas a dormir. Estavas tão leve, tão,… angelical, que seria crime não te beijar naquela hora. Talvez seja por isso que beijei-te outra vez. Estavas quase adormecida, tão entregue, tão segura,… não consegui voltar a resistir. Os teus lábios chamavam por mim. – Confessou, envergonhado.
  Coloquei-me de bicos de pés, envolvi-o nos meus braços e beijei-o. Um beijo que foi retribuído por .
  - Com que então, uma serenata…? – Perguntei, com um sorriso enorme, e beijou-me o nariz.
  - Eu sei que tu és fã dessas coisas shakespearianas. – E piscou o olho, antes de voltar a juntar os nossos lábios para recomeçar um novo beijo. – Romeo e Julieta sempre foi o teu filme preferido.

FIM!



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