O Natal é Totalmente Nosso

Escrito por Carol V. | Revisado por Natashia Kitamura

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Parte da Promoção de Natal 2014

  Esse, de longe, estava sendo meu pior natal desde que me disseram que a droga do Papai Noel não existia. Natal costumava ser a data que eu mais amava, o silêncio, o cheiro de chocolate quente, a lareira acesa, os filmes repetidos na televisão... Os braços quentes de me envolvendo. Tudo isso não passou de lembranças agora.
  As chamas queimavam em minha frente. A cena que há algum tempo eu achava tão bonita, agora não passava de um simples fogo quente e vazio na lareira. Eu abraçava meus joelhos cobertos pela manta com a mão esquerda, enquanto a direita era ocupada por uma caneca com chocolate. Encarei a mesma e fiz uma careta. Não era possível que até aquilo teria perdido o gosto. Meu telefone vibrou, e sem me dar o trabalho de pegar o mesmo e ler a mensagem, deduzi que seria Savannah pela milionésima vez tentando me convencer a ir até sua casa para comemorarmos o natal juntos. Revirei os olhos. Só de pensar em ficar sentada no sofá segurando vela para ela e Robert eu sentia tédio. Fora isso, comemorar o natal já não tinha sentido para mim. Claro que isso deve parecer um tanto quanto dramático, mas todos os meus momentos especiais com passaram-se no natal, esse costumava ser o nosso dia, até um ano atrás. Pus uma mecha do cabelo castanho para trás e encarei meus pés nus. Senti uma lágrima sorrateira escorrer ao lembrar-me de nossa última conversa.

  Flashback On - December 24, 2013 / 10:55pm

  - COVARDE! - Gritei com todas as forças e com todo o ar que havia nos meus pulmões e o empurrei pelo peitoral. - EU ODEIO VOCÊ! - Gritei novamente. Era mentira, mas era uma mentira que eu contava mais para mim do que para ele.
  - Tente entender… - Ele começou. Mas que palhaçada.
  - Tentar entender? - Disse em uma pergunta óbvia e sarcástica. - O que há mais para entender?
  - Foi sem querer.
  - Foi sem querer? - Repeti o mesmo ato de alguns segundos atrás. - Vai me dizer que você transou sem querer? Forjou o orgasmo também?
  - Eu não quis…
  - COVARDE! - Gritei de novo. - ASSUMA SEUS ATOS, ! VOCÊ NÃO É O REI DO BOM SENSO? PRÍNCIPE DAS VERDADES?
  - Eu estava bêbado. - estremeceu e sentou no sofá.
  - E a bebida te fez esquecer de mim? - Perguntei, queria uma resposta que fosse significativa, e que eu pudesse reconsiderar o seu ato. Mas sabia que não teria. - Te deu amnésia, foi isso?
  - Eu só me dei conta de que havia feito merda quando acordei e vi que não era você.
  - Ela ao menos era parecida comigo? - Eu desejava profundamente que fosse.
  - Não.
  - ENTÃO POR QUE RAIOS VOCÊ SÓ SE DEU CONTA DE QUE ELA NÃO ERA EU NO OUTRO DIA? - Ele se assustou com mais um de meus gritos e se encolheu. - ELA AO MENOS TRANSAVA BEM?
  - Não tanto quanto você. - Ele me lançou um olhar cheio de intenções e se, eu não estivesse muito puta com ele, talvez levasse algo de mim.
  - Se ela não era parecida comigo, não transava tão bem como eu… - Listei. - POR QUE VOCÊ ME TRAIU, PORRA?
  - Calor do momento.
  - Você está brincando com a minha cara?
  - Não. - Será que ele só sabia responder “Não”?
  - Olha, eu aceito tudo. - E realmente aceitava. - Aceito a droga dos seus pais me criticando. Aceito a sua mãe tentando te separar de mim. Aceito você ter que viajar sempre por causa da droga do seu trabalho, eu aceito tudo. Mas se tem uma coisa que eu não aceito, , é traição.
  - O que você está querendo dizer?
  - Acabou, .
  - , não. Me perdoa, eu não quis…
  - Pare de dizer que você não quis, você quis sim. - Ordenei. - Caso contrário, não teria feito.
  Flashback Off

  Sequei as lágrimas que caiam de meus olhos. Encarei a lareira com raiva lembrando-me da cara dele. Eu o odiava tanto. E odiava ainda mais a mim, por ainda assim, ama-lo. Fazia um ano que não nos víamos, exato um ano que eu o havia mandado embora de casa. Pensei se nesse momento, ele estaria pensando em mim, ou se estaria comemorando seu natal com uma outra vagabunda qualquer. Sorri idiotamente para o fogo, lembrando de nossos momentos bons.

  Flashback On - December 24, 2010 - 11:30pm
  - Ei, espera! - disse nervosa. Ele parou os beijos e olhou em meus olhos, esperando que eu continuasse. - Tenho algo a dizer.
  - Fale!
  - É... É... É que... - gaguejei. - Eu sou virgem.
  - Eu sei. - ele disse sorrindo óbvio. Franzi o cenho.
  - Espera aí, como é que voc... - interrompi minha frase ao perceber tudo. Filha da puta. Fechei os olhos e mordi o lábio de raiva.
  - É isso mesmo que você está pensando. A Savannah me contou. - ele disse na maior cara de pau.
  - Pois pode ir avisando seu amiguinho que se ele continuar com a Savannah, vai virar viúvo. Eu vou matar aquela vadia. - disse com tom raivoso. Ele riu fraco.
  O moreno pôs o dedo sobre meu nariz e me encarou como se eu fosse um saboroso prato de doce.
  - Eu só queria dizer que não tenho problema algum com isso. - Agora ele estava sério. Como assim não havia problema, havia problema sim, eu tinha dezessete anos e era virgem. – Sabe, você ser virgem. Estou aqui para resolver seu problema.
  Abri a boca incrédula. Ri fraco e lhe dei um leve tapa no braço.
  - , você é imundo! - ele riu junto a mim. Logo sessou nossas risadas com um beijo quente.
  Flashback Off

  Enxuguei mais uma vez as lágrimas. Eu sentia tantas saudades. Ele era como um remédio para mim. Daqueles que curam qualquer coisa. E eu tinha que admitir, eu precisava dele. Suspirei fundo e me levantei da poltrona, jogando o cobertor para longe. Andei até a cozinha e larguei a caneca ainda cheia sobre a mesa. Olhei-me no reflexo da geladeira. Se Savannah me visse agora, ela não pensaria duas vezes antes de me dizer que eu estou deplorável, e eu não discordava. O moletom velho três vezes maior que meu pequeno corpo caia como se fosse feito para três de mim e a calça de pijama com pequenos ursos desenhados estava amarela de tão usada e velha. Meus cabelos morenos estavam presos num coque sem presilha, e hora ou outra, um cacho escorregava. Virei-me para a sala ao ouvir batidas na porta. Revirei os olhos, estava preparada para ouvir os gritos de Savannah enquanto entrava em minha casa. Mas, ao abrir a porta, minha surpresa fora imensa, arregalei os olhos ao enxerga-lo parado em minha frente, nada nele mudara. Ele estava encharcado, provavelmente por conta da chuva, já que ele morava longe e não tinha carro. Ao me ver, ele sorriu. Fingindo que iria coçar o rosto, passei as costas da mão sobre minha bochecha, tentando disfarçar o choro.
  - Antes de você me por pra fora, pode me escutar? Eu sei que fui o cara mais idiota do mundo, e que eu merecia uma bela surra. Você é tão forte e independente, e eu sou um moleque. Você sempre reclamava quando eu quebrava um copo, ou quando aumentava demais a televisão. Você odiava gatos e eu tinha três. Você gosta de Yorkshires e eu gosto de Terriers. Você tem um fetiche pelo Dougie Poynter, mas sempre disse que não me trocaria por ele. - ele disse entrando em minha casa, pingando água por todo meu adorável carpete. - Você me irritava quando enfiava o seu pé gelado no meio das minhas pernas, e eu sei que te irritava quando deixava a toalha molhada em cima da cama. Você perdia a linha quando eu falava de outras garotas, mas sabia que eu só fazia isso pra deixar você com ciúmes e toda nervosinha já que você fica linda assim. - ele sorriu e deu uma pausa, eu podia sentir as lágrimas caindo e caindo. - Faz exato um ano que você me mandou ir embora e nunca mais te procurar. Hoje é 24 de dezembro, o nosso dia, e eu sinto a sua falta. Mas se você disser que não sente o mesmo, eu prometo que saio por aquela porta - ele disse apontando com o indicador para a mesma. -, e te deixo em paz. Mas antes que você fale qualquer coisa, preciso dizer três palavra. - ele sorriu sem mostrar os dentes. Sorri também, eu sabia quais eram as palavras, e ele sabia que eu sabia. - Eu amo você.
  Sorri uma última vez e o beijei com intensidade, urgência, romance, saudade, paixão, tudo. Eu não me importava se ele estava molhado, se a mãe dele me odiava, se tínhamos diferenças, eu nem mesmo me importava com aquela garota de um ano atrás com quem ele havia me traído. As únicas coisas que importavam no momento, éramos eu e ele. Ouvi o som de um gongo, era meu relógio anunciando a meia noite. separei-me dele, ainda colando nossas testas. Sorri de olhos fechados e abri segundos depois.
  - Feliz Natal, ! - disse o selando. Eu estava errada, na verdade, esse tivera sido o melhor natal da minha vida.



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