Miss America

Escrito por Giovanna | Revisado por Júlia (Até Capítulo 02) e Mariana

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Capítulo I: Lembranças

  Ninguém realmente sabe quanto tempo eu esperei por isso.
  Apenas ele sabia...
  Em um dia um pouco nublado, enquanto aconteciam os testes para "Miss America", eu perdi tudo que realmente me importava.
   dirigia. Ele me levava para esse maldito teste, um acidente de carro desgraçou minha vida por completo.
  Ele era meu tudo. Eu realmente preferia ter morrido ao invés de ficar sem ele, sabe quando você sente que não tem mais nada para fazer nesse mundo? Então, meu sentimento era mais ou menos esse.
  Sinto que não tenho como explicar uma coisa a alguém que nunca perdeu.
   marido adorado.
  Deixei no tumulo de as rosas brancas e junto o folheto do concurso de Miss America.
  Afastei- me com lagrimas nos olhos, os últimos momentos de ao meu lado não paravam de passar em minha mente. Era uma espécie de flashback maldoso.
  Lembranças. Era tudo que restava de nós dois.
  As vezes pensamos que a saudade foi criada para ferir, mas ao logo do tempo percebemos que ela é só um meio de descobrirmos quando realmente gostamos de alguém.
  Eu estava sangrando. E nunca pararia. Ninguém nunca conseguiria curar meu coração estraçalhado e tirar a culpa dos meus ombros.
  Várias vezes tentei dar cabo da minha vida, tomando remédios, tentando me afogar, até pular de um penhasco já tentei só que quando olhei para baixo daquela altura toda, desmaiei e alguém chamou a ambulância. Nem consegui pular.
  Já fiz terapia, ioga e o tudo mais que uma pessoa pode imaginar, apenas para tentar curar o vazio que se apoderou de minha alma, me levando para escuridão e prendendo- me no vazio dos batimentos fracos do meu coração.
  Acho que nunca vou conseguir acabar com isso. De fato. Vou levar isso para meu tumulo.

  Flashback On
  - Eu realmente estou fazendo papel de boba, é claro que não vou nem ser escolhida para participar.    - Eu quero que você entenda uma coisa. - segurou meu rosto entre as mãos. - Você vai passar e vai ganhar. Mesmo que isso não aconteça, lembre- e, você será sempre minha Miss America .
  Flashback Off

  Eu seria para sempre sua Miss America... Por toda eternidade.
  5 anos se passaram desde a morte dele. Na época, eu tinha 25.
   - Estou fazendo isso por você . - sussurrei batendo com a testa no volante do carro.
  Pisei com força no acelerador, eu tinha um concurso de beleza para ganhar. Não por mim, por mim eu nem me importaria.

  Toda vaidade, capricho e vitalidade foram enterrados com .
  Ele era minha razão de viver.

Capítulo II: Um Mundo de Chances

  - ! - chamou um homem segurando uma prancheta.
  - Sou eu. - levantei um pouco minha mão.
  -Sua vez. - anunciou ele me conduzindo para uma sala escura onde tinham 5 pessoas sentadas atrás de uma bancada, assim como em programas de talentos. - Sente-se naquela cadeira. - ele apontou uma cadeira que estava no centro com uma forte luz iluminando apenas aquele ponto.
  Caminhei pela escuridão e segui a luz até a cadeira. Pisquei várias vezes para que meus olhos se acostumassem com a claridade.
  - Oi. - dei um meio sorriso e me sentei.
  - Nós estávamos conversando sobre você . Você sabe por que está aqui? - perguntou uma mulher ruiva de óculos.
  - Para ser sincera não. - respondi.
   OFF
  - Bem, nós estávamos vendo suas fotos... E decidimos que você deve passar para a segunda fase. - dessa vez quem falou foi um homem.
  - Eu passei? - perguntou.
  - Sim, nós te achamos bonita o bastante. - a mesma mulher de óculos respondeu. Parecia que o resto das pessoas da bancada eram apenas bonecos, só assenti quando o homem careca ou a mulher ruiva falavam.
  - A segunda fase acontece amanhã as 14:00hrs no teatro. - completou o homem.
  - Obrigada. - tentou sorrir, mas pareceu mais uma carranca.
  - Tente ser mais simpática, ok ? As pessoas não vão votar em uma garota que não sabe sorrir.
  - Sim senhora. - ela sentiu se levantando da cadeira.
  - Pode me chamar de Myrttle. - a mulher ruiva franziu os lábios. - Sente-se, ainda não acabamos.
   olhou para o lado e sentou-se novamente.
  - Quantos anos você tem ? - pela primeira vez a mulher que estava sentada no final da bancada falou.
  Eles sabiam quantos ela tinha. Para escolhe-la, antes todos leram sua ficha.
  - Já cheguei aos 30. - respondeu.
  - Nem parece, está muito bem conservada. Já fez alguma cirurgia plástica? - Myrttle interrompeu.
  - Não, é tudo natural. - deu um pequeno sorriso.
  - Bom, gostamos disso. Já participou desse concurso antes? - perguntou o homem careca.
  - Não senhor. - ela fechou os olhos com força lembrando do acidente.
  - Pode me chamar de Mike, você é competitiva ?
   suspirou. Se ela era competitiva? Talvez um pouco, na medida do possível.
  - Sou, na medida certa. - respondeu com calma.
  - Você parece desligada, está com problemas? - perguntou um outro homem de camisa xadrez.
  - Não, eu não estou com problemas. Sou assim mesmo. - mentiu. Ela estava sempre com problemas. O problema era seu único amigo, e ele estava de volta.
  - Entendo. Sua beleza é diferente. Onde nasceu? - perguntou o mesmo homem.
  - Minha mãe era Irlandesa e meu pai Britânico, mas eu nasci aqui mesmo nos Estados Unidos, Califórnia. - respondeu ela olhando para as unhas pintadas de vermelho.
   - Ah entendi, isso explica seu tom castanho. É diferente, mais bonito que qualquer olho azul ou verde que já vi. - Mike se intrometeu.
  - Obrigada. - respondeu . Há muito tempo ninguém falava de seus olhos, a última pessoa a fazê-lo foi .
  Os olhos de eram de um castanho incrível, realmente lindos, mas refletiam também muita dor.
  Por onde passava, aquela mulher chamava a atenção. Embora não ligasse, ou quisesse ser objeto de desejo.
  - você tem que deixar esse seu jeito introspectivo de lado e ser mais aberta, o público gosta disso. - falou Myrttle.
  - Pode deixar que não vou esquecer. - assentiu.
  - Nos vemos amanhã as 14:00 no teatro, não se atrase. - Mike anotou algo em um papel e olhou para uma distante. Seu corpo estava ali, prestava atenção em tudo que diziam a ela... Só que sua mente vagava longe.
  - Não me atrasarei. - se levantou e acenou para os 5.

  Se estivesse vivo, estaria abraçando , ela não estaria sozinha.
  Ela dirigia rápido para sua casa, não queria ficar mais um minuto fora de seu mundo particular. Para alguns o "mundo particular" era uma coisa feliz, onde você poderia achar sua felicidade e conforto nos momentos mais difíceis. Mas para não, seu mundo particular era apenas um lugar onde ela achava conforto na dor. Os prazeres eram sempre os mesmos e só a deixavam afastada dos problemas temporariamente, porque na verdade ela só estava disfarçando a dor assim como Dorian Gray.
  Ela sabia o que todos diziam sobre ela, diziam que era linda que merecia ser feliz novamente... E toda a merda do clichê desgastado que todos já conhecem.
  Travou as portas do carro e deixou estacionado na calçada. Não queria usar a garagem. Se levasse uma multa...Ótimo, nem ligava mais.
  Tinha uma coleção de multas, as caras e as baratas.
  Para ser sincero, dinheiro não era um problema para . Vinha de uma família rica, seus pais quando faleceram deixaram para uma boa herança, estimada em 500 milhões de dólares.
  Tinha uma boa casa, um carro importado, empregados... Nada faltava para ela.
  Só a felicidade mesmo. Em um estalar de dedos poderia ter quem quisesse, mas ninguém nunca mais a faria sentir do jeito que um dia fez.
  Não tinha irmãos, não tinha mais família, apenas tios interesseiros que estavam sempre ligando para pedir seu dinheiro.
  - Olá senhora, o que quer para o jantar hoje? - perguntou Maria, sua empregada, assim que passou pela porta.
  - O que você me sugere? - perguntou deixando a bolsa em cima do sofá.
  - Poderia ser torta de espinafre?
  - Claro que pode Maria. - apertou de leve o ombro da outra mulher e foi para seu quarto.
  Se olhou no espelho, tinha aparência cansada e olheiras leves envolta dos belíssimos olhos castanhos.
  Todas essas coisas faziam seu corpo parecer mais velho do que realmente era.
  Ela tinha um mundo de chances em suas mãos, só que as deixava escapar por seus dedos a cada batida do seu coração.
  Forte sempre foi, era uma verdadeira guerreira, sensível ela continuava sendo, sua respiração era como uma música para seu coração, agora ele estava mais calmo. Ela precisava de um lugar, precisava de que alguém a levasse para casa.

Capítulo III: Lágrimas no Paraiso

  A noite caiu silenciosa e fria para . Estava com tédio demais para ficar em casa então ela se levantou da cama e pegou seu casaco que estava jogado aos seus pés e vestiu-o.
  Pegou as chaves do carro e saiu. Sem direção. Sem rumo.
  Ela foi dirigindo pela cidade iluminada. Não sabia onde ia até ver um bar.
  Aquele não era o tipo de lugar que ela frequentaria normalmente. Mas qual eram os lugares que frequentava normalmente?
  Ela não saia de casa, só saia a noite. Para beber e afogar as magoas.
   pegou a bolsa que já estava no banco do carona, saiu do carro e travou as portas.
  Quando entrou no bar seu primeiro pensamento foi: eu não deveria ter entrado nesse lugar.
  A última vez que ela saiu para beber, quase vomitou a alma e ficou de ressaca por um dia inteiro.
  Por um lado foi bom para . A dor era o único sinal de que ela estava viva. A moça já havia chegado em um ponto tão critico que a tristeza era sua saúde e a felicidade sua doença.
  Qual foi a ultima vez que ela sorriu, um sorriso verdadeiro?
   se sentou em um banco próximo ao balcão e um homem veio logo atende-la.
  — Boa noite, em que posso servi-la? — Ele abriu um sorriso para enquanto a examinava com olhares indiscretos.
  — Eu quero uma caipirinha, por favor.
  — Moça, posso te fazer uma pergunta?
  — Depende.
  — Posso ou não?
  — Faça, só não garanto que terá a resposta. — olhou para seu rosto e percebeu que ele era bonito.
  — Você está procurando companhia? — O homem colocou o copo de caipirinha perto de .
  — Como você se chama? — Perguntou ela.
  — Nathan. — Respondeu ele sorrindo. Talvez tivesse alguma esperança com ela.
  — Pois bem, Nathan, o que você quer realmente?
  — Nada, mas eu posso te fazer companhia se quiser. — Respondeu ele.
  — Você foi muito gentil, mas eu recuso. — Disse ela bebendo um grande gole da bebida. Aquilo ardeu um pouco sua garganta, mas ela não ligou. Já estava acostumada.
  — Se precisar, estou aqui. — O rapaz era convencido mesmo!
achou graça daquilo, só não riu, mas achou.
  Ela nunca se imaginou com outro homem a não ser .
  Como ela poderia deixar outro tocá-la, beijá-la e deitar em sua cama? Nunca.
  Será que se lembraria de se ela o visse no paraiso?
  Ele saberia seu nome? Seguraria sua mão?
   ainda não sabia a resposta, só sabia que tinha que ser forte e continuar, porque não deveria haver lagrimas no paraiso.
  E por enquanto, ela sabia que não pertencia aquele lugar.
  Ela encontraria um novo caminho. Talvez algum dia conseguisse colar os pedaços de si mesma e continuar caminhado.
   sabia que além de alguma porta, havia paz.
  Um dia ela a encontraria. Pois sabia que não havia lagrimas no paraiso.

  O tempo passava rapido e já havia tomado 10 caipirinhas. Era bastante.
  — Quer que eu te leve para casa? — Nathan não desistia mesmo.
  — Não. Eu estou bem. — Respondeu se agarrando ao balcão para levantar.
  — Quantos dedos têm aqui? — Perguntou ele colocando três dedos na frente do rosto de .
  Sua visão estava tão turva que ela não sabia quantos dedos tinham ali.
  — Quatro. — Respondeu.
  — Você errou. — Falou ele e ficou brava.
  — Olha, eu nem te conheço, então me deixe em paz! — Ela saiu andando em direção a porta e caiu em cima de uma cadeira.
  Nathan e outras pessoas vieram ajudá-la.
  — Está vendo? Você não tem condições de dirigir. — Alertou ele.
  — Nathan, eu quero que você me deixe em paz, ouviu? Agora me solte. — Ela puxou o braço que o rapaz segurava e saiu cambaleando do bar.

  O despertador tocou às 10h30min da manhã.
   estremeceu na cama e se levantou no mesmo instante. Sua cabeça doia um pouco e seu corpo também.
  Parecia que seus ossos estavam a ponto de virar pó e seus músculos uma pasta cremosa.
  Ela suspirou e entrou no banheiro com esperança de tomar um banho que fizesse-a sentir-se melhor.
  — Você está ficando velha, . — Ela murmurou para si mesma enquanto começava a se vestir.
  Era verdade. Ela estava começando a ficar velha.
  Quando franzia o cenho já dava para ver a primeira ruga. Sua jornada estava marcada em sua pele.

  Como não teve interesse algum em almoçar, ela saiu de casa as 13h30min, era um bom horário.
  Foi dirigindo devagar e chegou ao teatro 14h em ponto.
   respirou fundo e desceu do carro. Sabia que na segunda etapa do concurso ela poderia não passar ou passar. Agora não dependia mais dela.
  Apenas a terceira fase dependeria.
  Quando passou pela porta começou a ouvir pessoas falando em tom moderado. Quando andou mais, ali mesmo, no corredor haviam cadeiras que estavam preenchidas por várias outras garotas.
  Isso é muita beleza para um lugar só. Pensou ela.
  — Ei, sente-se aqui. — Uma garota loira com um sorriso enorme fez sinal para que sentasse ao lado dela.
  — Obrigada. — Ela agradeceu.
  — Qual é o seu nome? — Perguntou ela.
  — . E o seu?
  — Sou a Margareth Leigh, mas pode me chamar de Margareth.
  — Prazer em conhecê-la. — sorriu um pouco.
  — Posso te dizer uma coisa? — Margareth gostava de falar.
  — Pode. — Respondeu ela.
  — Você é bonita, só deveria sorrir com mais frequencia.
  — Já me disseram isso. — abaixou a cabeça e riu sem humor algum.
  — Então eu sou a segunda pessoa?
  — Mais ou menos. — Respondeu ela.

  O resto do tempo Margareth Leigh usou para preencher a cabeça de com um falatório que não fazia o menor sentido. A pobre da moça apenas assentiu e falava alguns sims para a outra que não parava de falar.
   agradeceu aos Céus quando uma mulher começou a chamar os nomes das garotas pedindo para elas irem até a sala 2 e se sentarem nas primeiras cadeiras do auditório.

   se sentou na cadeira da ponta e ficou esperando que falassem.
  — Já estão todas aqui? — Perguntou a mulher.
  "Acho que sim." Responderam as garotas.
   logo reconheceu Myrttle, que estava com um microfone no palco.
  — Boa tarde. — Falou ela.
  — Boa tarde. — Responderam as garotas em coro.
  — Eu vou ser o mais breve possível com vocês, então... — ela pausou e o coração de acelerou. — Todas sabem que isso é um concurso de beleza, e que nem todas vão passar, por mais bonitas que sejam. Eu estou com uma lista. — Ela levantou uma prancheta e começaram os comentários no local. — Eu peço que vocês façam silêncio, por favor, isso pode ser breve ou demorado, só depende de vocês.
  O silêncio desconfortável pairava do ar.
  — Então, vai ser assim: as meninas que eu chamar, podem sair. Podem ir embora, pois o sonho de Miss America está acabado. Entendido?
   correu o olhar rapidamente pela sala e viu que algumas garotas já choravam. Borrando, o que parecia, 10 quilos de maquiagem que havia em seus rostos.
  Ao todo, ali havia 50 garotas. Elas já sabiam que 30 delas iriam para casa e só ficariam 20.
  Myrttle começou: — Catherine Jenkins, Eliza Walker... — Quando ela terminou o nome de não havia sido dito, então isso queria dizer que ela estava classificada!
  Começaram os sussurros pela sala e sentiu alguém cutucar seu ombro.
  — Nós passamos. — Margareth Leigh sorriu para ela quando olhou.
  — É. — limitou-se a dizer com um sorriso discreto nos lábios.
  — Meus parabéns as que chegaram até aqui, bem-vindas ao concurso Miss America. — Myrttle terminou com um sorriso.

Capítulo IV: Tudo Tem Um Preço

   estava sentada no chão de sua sala encarando a folha com seu monólogo. As letras não ocupavam nem a metade da folha, era um curto monólogo.
  Na final do concurso as candidatas a Miss deveriam apresentar um talento escolhido por elas. E não sabia cantar, era um desastre na dança.
  A única coisa que lhe restou para apresentar foi um monólogo, que ela gostava muito. Tocava sua alma.

  Quando tinha 16 anos, ela já era uma adolescente bonita, mas não chegava aos pés da mulher que ela havia se tornado.
   nunca havia sido gorda. E nem magra. Tinha o corpo perfeito.
  Era normal, até que um dia sua tia disse para ela a seguinte frase "você tem um futuro brilhante, . Você só não irá muito longe se continuar com esse peso."
  O mundo da moça desabou. Até então ninguém — nunca — havia dito que ela era gorda.
  Então começou a ter problemas, não com a comida. Com as drogas.
  As drogas.
   usou cocaína por três meses e meio, antes de ser internada pela mãe — que por sorte não morreu quando soube que sua única filha usava drogas — em uma clínica de recuperação.

  Depois disso ela conheceu , e sua vida parecia um conto de fadas.
  E então veio a era Negra. A pior de sua vida.
  Logo após a morte de , teve problemas novamente.
  Dessa vez com o alcoolismo e a depressão.

  Seu médico receitou um forte tranquilizante para ela, o maldito Valium.
  A moça dormia o dia inteiro. Não conseguia fazer nada, até que um dia decidiu parar de toma-los e continuava até então.
  Mas por via das dúvidas, ela ainda guardava os compridos lá no armário do banheiro. Achava que um dia ainda poderia precisar deles.

  Uma vez, um homem que ela não se recordava o nome disse à ela: "a vida é curta demais para se arrepender de seus feitos. O mundo é seu! Pelo menos por essa temporada. Faça sempre queimar com a chama mais forte. Não tenha medo do que vão dizer sobre você, as pessoas querem ser boas, e sendo boas elas se esquecem dos prazeres."
  Terminando a frase ele entregou a moça um copo de gim, e fizeram com o mesmo um brinde a intoxicação.

   não seguiu nada do que aquele homem disse, muitas pessoas que dão esses concelhos aos outros não acreditam no que dizem.
  Ela não queria se entregar aos prazeres do mundo como fez Dorian Gray, apenas queria agarrar as memórias felizes com as mãos e guarda-las no bolso.
  As pessoas costumam dizer que se guardarmos as coisas no coração não as perdemos, porém não acreditava mais nisso.
  Seu coração estava tão raso que se ela colocasse alguma coisa ali cairia não chão. Então ela preferia guardar no bolso mesmo.

  E, contudo, ela sabia que chegaria sua hora de correr para bem longe, muito longe e achar conforto na dor.
  Essa dor a ajudava a entender o porquê os anos não passavam rapidamente para ela.
  Era uma espécie de castigo — assim ela achava — um jeito de alguém, ou alguma coisa se vingar dela por tudo que já havia feito.

  Ser bonita machucava. Talvez se ela não fosse tão bonita assim, não insistiria para que ela participasse do concurso a cinco anos atrás e nada disso teria acontecido.
  Tudo tinha um preço nessa vida, e sabia disso melhor que ninguém.
  Já havia sentido na pele. Não uma vez, várias vezes.

  Essa moça estava em uma espécie de queda livre.
  A lei da gravidade não a prendia não chão. Ela estava caindo.
  Estava caindo e não havia onde segurar-se.
  Se houvesse alguém... Se alguém a olhasse nos olhos e oferecesse a mão talvez ela aceitasse. aceitaria.
  Ela precisava de ajuda.
  Mas não queria ajuda. Não queria ir ao psicologo, nem psiquiatra.
  Queria ficar longe desse tipo de pessoa que a receitava remédios como se ela fosse louca. não era louca. Ela tinha certeza disso.
  Por mais que o mundo apontasse o dedo para ela e a rotulasse apenas como uma coisa bonita; sabia que era muito mais que isso.

  A maioria das garotas são como Barbies. Apenas beleza e nada na cabeça.
  Com mesmo com a vida conturbada, ela fez uma faculdade.
   era formada em química. Porém nunca exerceu a profissão.
  Era um desperdício.
  Um desperdício de inteligência, vitalidade e o mais importante... Vida.
   estava desperdiçando toda a sua vida. E todos costumam ter apenas uma para viver.
  Ela nunca mais teria 17, nem 22 e muito menos 30.
   jamais poderia correr atrás do tempo perdido. Jamais poderia mudar seu passado e apagar os erros como se sua vida fosse uma revista mangá.

  Era até uma piada de mal gosto dizer uma coisas dessas, mas a vida da moça não passava de um roteiro escrito por um cineasta amador.
  Estava péssimo e a direção também não ajudava.
  Agora só restava apagar as luzes e ver o circo pegar fogo.

   respirou fundo e segurou a folha de papel com mais firmeza.
  Leu apenas uma frase.
  Apenas uma frase descrevia tudo o que ela tinha vontade de fazer.
  "Exumo do meu peito o relógio que era o meu coração."
  Seu coração era um relógio que batia a cada vez mais lento.
  E não esperava a hora de que ele parasse.

Capítulo V: Você Está Feliz?

  Ela fitou-se no espelho e tentou sorrir. Pareceu mais uma carranca mais esculpida.    não estava mais acostumada a sorrir. Era difícil e às vezes doía.
  Era como se os sorrisos, a felicidade não fizessem mais parte dela, o que era verdade.
   amaldiçoava-se por ter ido participar daquele maldito concurso de Miss.
  Agora ela seria obrigada a ser uma fingida. Uma falsa, ser alguém que ela não era.   Antes da morte de , era como um dia de sol. Quente, agradável e que contagiava todos ao seu redor.
  Agora ele não passava de um dia de chuva. Frio, carregado de coisas ruins e instável. Muito instável.
  Ela terminou de vestir o blazer amarelo que contrastava muito bem com seu tom de castanho dos olhos e suspirou.
  Ir para aquele maldito ensaio, não era uma escolha. Era uma... Obrigação. Acho que essa é a palavra correta.

[...]

  — Você entendeu o que ele disse? — Perguntou uma ruiva que estava ao lado de . Assim como ela, a ruiva segurava a barra da sala de dança com firmeza.
  Como se fosse cair.
  — Não. Me desculpe. — Respondeu .
  — Vocês duas estão prestando a atenção? — Perguntou Adrian. O professor de dança que estava encarregado de ensinar as candidatas a Miss America a dançar e ter presença de palco e outras coisas que script>document.write(Amanda) achava desnecessário.
  — Estamos. — Respondeu a ruiva.
  — Então o que eu falei? — Perguntou ele.
  — Não sei. — Respondeu ela.
  — Aposto que sua cabeça está na comida, não é ? — Perguntou Adrian colocando as mãos na cintura. — Eu vou prestar a atenção. — abaixou a cabeça e fechou os olhos. acompanhou seu movimento e viu que a moça chorava.
   era uma moça bonita. Seus cabelos eram de um tom de ruivo alaranjados e parecia ter um oceano dentro dos olhos dela de tão azuis que eram.
  Se o seu corpo fosse uma ilha, deveriam ter vários náufragos querendo se perder ali.

  — Qual é o problema? — Perguntou .
  — Eu sou gorda. Não deveria estar aqui. — Respondeu ela.
  — e , vocês estão atrapalhando. — Falou Adrian parando a música que tocava. Logo começaram o murmúrios das outras garotas concordando com o professor.
  — Você a ofendeu, Adrian. — Comentou .
  — Só estou tentando ajudá-la, , se a continuar com esse peso ela nunca terá a chance de vencer. Não sei nem com ela veio parar aqui.
  Quando Adrian terminou de falar saiu correndo da sala de dança chorando muito.
  — Você é um monstro! — Falou e saiu correndo atrás de .
  Era estranho. Ela nem conhecia essa garota mais sentia o impulso de ajudá-la.
  Ao olhar para , via muitas coisa.

  — ? ? — Chamou baixinho quando entrou no banheiro. O cheiro que estava lá dentro era desagradável.
  — Quem é? — Perguntou ela com a voz chorosa.
  — Sou eu, . — Respondeu e abriu a porta de um dos banheiros. A garota ruiva vomitava. — O que você está fazendo, ?
  — Vá embora, , eu não te conheço! Você não sabe de nada. — fechou a porta na cara de e voltou a chorar.
  — , vamos conversar, forçar vômito não vai fazer você emagrecer a tempo do concurso. Por favor... Vamos conversar. — Pediu ela.
  Era quase uma prece. sentia, ela sentia que precisava de ajuda. Urgente.
  A garota abriu a porta devagar.
  — Por que você está fazendo isso? — Perguntou ela.
  — Porque você precisa de ajuda. Eu não acho que você seja doente, não é isso. Eu sei como é chegar ao fundo do poço, eu já estive lá. E por algum motivo, preciso te ajudar.
   não disse nada, apenas abraçou chorando muito.
  — Vamos sair daqui. — Falou segurando a mão dela.
  As duas foram para uma cafeteria. precisava comer alguma coisa, mas precisava que ficasse em seu estômago.
  — Eu tenho bulimia há dois anos. Minha mãe é a pessoa que mais me incentiva a vomitar. Ela foi Miss America há quarenta anos e quer que eu seja também... Mas eu não sou magra. — olhou triste para o suco. — Então, depois que eu como... Você já sabe.
  — ... Você não pode fazer isso. Precisa procurar ajuda. Sua mãe é louca, ela não pode querer fazer coisa por você. — disse.
  — Mas ela diz para mim que se eu não ganhar esse concurso, ela vai me colocar para fora de casa.
  — Você tem mais alguém da família?
  — Meu pai. Ele mora no Tennessee.
  — Já pensou em ir morar com ele?
  — Já! Milhares de vezes, mas eu amo a minha mãe.
  — Mas ela não te ama. Ela está te destruindo, , você tem que se aceitar do jeito que é. E você é uma garota linda, e não é gorda. — pausou. — Existem mais coisas para serem valorizadas em uma pessoa, seu peso não quer dizer nada. Nada mesmo.
  — Você diz isso porque é magra e perfeita, . — franziu a testa.
  — Ser magra não quer dizer nada, querida. Eu trocaria a minha beleza, a minha magreza, pela felicidade. — sorriu triste. — script>document.write(Louise), eu sou rica, sou magra e sou bonita como as pessoas dizem, mas eu não tenho um pingo sequer de felicidade. Moro em uma casa enorme, somente eu e meus empregados. Gasto a maior parte do meu tempo chorando e frequentando bares para afogar as muitas magoas que tenho. Meus pais morreram, meu marido morreu e eu só tenho um par de tios interesseiros. Minha vida não é legal, não e colorida e eu não sou uma princesa de contos de fadas.
  — Me desculpe, eu não sabia disso. — começou a chorar.
  — Não chore. Guarde suas lágrimas para aqueles que precisam. — segurou a mão da garota. — Está vendo? Com todas as dificuldades, pela vida que você levou, você teve anjos cantando sobre sua cabeça. Você não os viu voando no ar?
  — Não. — riu. — Não os vi.
  — , vou te fazer uma pergunta. Se você me disser "sim" eu te deixo, se você me disser "não", eu te ajudo. — respirou fundo. — Você está feliz, ? Está?
   começou a chorar novamente. Olhou para a mesa de toalha cor de creme e voltou a olhar para os olhos castanhos de .
  — Não. — Respondeu.
  — Você quer mudar? Quer desistir de tudo? — Perguntou a moça.
  — Sim, eu não gosto desse concurso! As pessoas são manipuladas lá dentro. Eles querem a perfeição que poucas podem oferecer.
  — Se você desistir, eu vou continuar e vou fazer isso por nós três. Ok? — Perguntou .
   balançou a cabeça.
  — Nós três?
  — Eu prometi ao meu marido que faria isso por ele. Então agora eu farei por você também. — Respondeu .
  — E você, , está feliz com tudo isso? — Perguntou .
  — Não. — Ela balançou a cabeça e uma lágrima cristalina escapou de seus olhos. — Eu prometi ao meu marido que faria isso por ele.

Capítulo IV: Nunca Diga Adeus

  Dia vinte e três de novembro de 2011.
  Era esse o dia em que aconteceria o final do concurso de Miss America, ao vivo no Nokia Theatre em Los Angeles.
   não se sentia nem um pouco animada, a viajem de algumas horas de sua cidade para L.A havia cansado-a um pouco.
  Ela olhava pela janela do quarto do hotel a rua, era agitada e cheia de vida.
  Por um momento, ela desejou ter toda essa vida dentro dela.
  Há uma semana, havia ido para casa de seu pai.
  Por sorte ele aceitou a garota, na verdade, nem havia feito muita coisa, apenas convencido o homem a deixar a filha ir morar com ele.
  E agora estava tudo bem com ela, havia começado um tratamento para a bulimia e ficaria bem. Assim esperava .
  Tudo começaria às 19 horas, não estava ansiosa e muito menos nervosa, apenas queria que aquilo acabasse logo.

  Fingir ser alguém que não era, cansava, era chato e ela, infelizmente não tinha vocação para isso.
  Seu vestido estava estendido em cima da cama, acompanhado das sandalias.
  Era tudo muito simples, simples e bonito. Assim como a própria moça.
  Algumas horas depois, quando faltavam apenas duas horas para o começo do concurso, vestia uma roupa normal.
  Seu vestido estava em um cabide embaixo de uma capa, junto com algumas outras coisas que precisaria.
  Para ela, aquilo não passava de uma palhaçada que era necessária apenas para que se sentisse melhor, porque ainda sentia-se culpada pela morte de .
  Trinta minutos depois ela desceu para o saguão do hotel e na entrada encontrou o carro que a levaria para o Nokia Theatre.
  Quando chegou no local, as outras garotas que participavam do concurso estavam super nervosas, animadas e muitas outras coisas.

  Hora da apresentação
   ouvia gritos, muitos gritos de uma plateia animada.
  Faltava apenas o desfile das candidatas a Miss em seus trajes de gala.
   já estava cansada desse "põe-roupa-tira-roupa". Era chato, cansativo. Ela queria ir para casa.
  Nenhuma das garotas falava com ela desde que entrou no camarim.
  Já havia colocado e vestido e agora começava a fazer a maquiagem.
  Tentou deixar as coisas mais simples possíveis, apenas um batom vermelho e bastante mascara de cílios. Ah, talvez um pouco de blush.
  Ok, ok, já era o suficiente para ela.
  Quando saiu da frente do espelho olhou para o rosto das moças e viu que elas pareciam uma experiência que deu errado.
  Havia tanta, mas tanta maquiagem em seus rostos que elas pareciam bonecas de cera.
  O verdadeiro retrato de futilidade.
  Arrumaram-nas em fila por ordem alfabetica.
   estava em seu devido lugar esperando por sua hora de desfilar.
  Faltavam apenas duas garotas em sua frente, logo chegaria sua vez e ela seria obrigada a encarar aqueles flashs. E também teria que sorrir, sorrir como se estivesse feliz.
  Chamaram por seu nome e ela entrou naquele palco imenso, acenava e sorria o mais naturalmente o possível.
  E constatou que não era tão dificil assim parecer feliz quando quilos de maquiagem escondiam sua verdadeira identidade.
  Posou para fotos e voltou para trás do palco, junto com as outras.
  Ela teve tempo apenas de tomar um copo d'água e logo chamaram todas de volta ao palco, seria anunciada a vencedora.
  As fotos eram incessantes e os gritos a deixavam meio surda.
  Já que o concurso estava aberto ao público.
  — Eu quero agradecer a todas as meninas que se inscreveram saibam que todas vocês são vencedoras... — O apresentador segurava o envelope. — Mas, infelizmente, temos apenas uma ganhadora e ela é...
  O coração de começou a bater mais forte, as palmas se suas mãos começavam a suar.
  — A vencedora é... Senhorita !
   não esperava por aquilo, era realmente um surpresa.
  Várias pessoas vieram abraçá-la, como se aquilo não passasse de pura falsidade.
  Quando foi receber a faixa e a coroa, ela percebeu que chorava.
  Depois de milhões de fotos e do ultimo desfile da campeã, estava dentro do carro. Voltava para seu hotel.

  No dia seguinte, ela iria para uma entrevista em um programa de TV que ela não se interessou em perguntar.
  Já tinha outros planos.
  Abriu a porta do quarto e entrou. Não se incomodou em trancá-la.
  Foi até o banheiro e olhou-se no espelho, arrancou a faixa de Miss e jogou-a no chão.
  Aquela não era ela, estava errado! Havia muitas coisas erradas ali.
   não aguentava mais sentir-se naquela prisão de seus sentimentos, não queria mais sentir-se sozinha.
  Lágrimas desceram por sua face, estava tudo feito. Ela havia ganhado o concurso, por ela, e .
   esperava que ela estivesse realmente bem.
  Ela abriu a gaveta do armario do banheiro e pegou de lá uma lâmina que reluzia contra a luz.
  Olhou fascinada para aquele brilho. Queria experimentá-lo.
  Encostou-se na parede e deslizou a lâmina por seus pulsos delicados, o sangue escarlate desceu por seus braços e escorreu manchando o preto do vestido discretamente.
  Não havia volta. Já estava feito.
  — Espero me juntar a você, . — Murmurou e deixou que suas pernas cedessem.
  Ela caiu no chão, deixou ser empurrada para a escuridão. Não queria lutar, não queria viver.
  Será que em toda sua vida alguém havia dado-a alguma coisa para aliviar a dor?
  Como o licor em uma garrafa, nós havíamos visto-a ir embora.
  E por um lado, todos a conheciam, mas não sabiam os lugares escuros que ela havia andado.
  Mas ela nunca diria adeus, sempre seria a Miss America.
  Nós a vimos sorrir, a vimos chorar, mas nada é para sempre, não é, Miss America?
  E todas aquelas fotos? Retratavam toda a sua beleza, mas a maquiagem nunca escondeu a dor em seus olhos.
  E mais uma vez, a maquiagem nunca escondeu a dor nos seus olhos. Todos viam lágrimas embaixo daqueles sorrisos forçados.
  Talvez algum dia, o que provavelmente aconteceria, ela seria o motivo de muitas canções.
  Uma trágica história. Mas, todos sabemos, cada um escolhe como viver, às vezes como terminar também.
  E ela escolheu assim. A pequena Miss America escolheu assim.
  Devia haver mais uma voz cantando no paraíso aquela noite.
  E realmente, merecia um minuto de silêncio.
  Ninguém sabia o que se passava em sua mente, mas sabíamos que era o suficiente para nos fazer chorar.
  Não se preocupe, querida Miss America…
  Algum dia veremos... De um jeito ou de outro, todos nós sabemos que você viverá para sempre.



Comentários da autora


Essas são minhas primeiras e ultimas palavras a vocês nessa fic.
Muito obrigada aqueles que acompanharam e deixaram comentários fofos aqui embaixo.
Gostaria de agradecer a cada uma de vocês, obrigada mesmo.
Obrigada também a minha beta fofa e linda, a Mari. Muito obrigada pela paciência, se não fosse você eu não sei o que seria da minha fic.
Bom, acho que é isso.
Feliz Natal e um ótimo fim de ano, até algum dia desses ai.
Xoxo.