Lovesick

Escrito por Any | Revisado por Any

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  Eu posso ouvir o som do seu choro. É angustiante. Seus soluços são feitos basicamente de medo. Medo. Ela teme por mim. Pela minha vida. Eu queria poder dizer para ela que estou bem. Que estou aqui. Eu tento dizer isso, mas por algum motivo minha boca não consegue processar o comando do meu cérebro. O comando que ordena que ela se abra e pronuncie as palavras: -Está tudo bem, mamãe. Eu te amo -.
  Queria poder sorrir e contar a ela a grande novidade. Sei que ela ficaria tão feliz quanto eu. Mas por algum motivo...
  Algum motivo.
  Para mim, é difícil lembrar exatamente como isso aconteceu. Lembro que era de noite, estava chovendo e eu estava com pressa. Pressa demais. Lembro que me inclinei para pegar meu celular dentro da bolsa para poder ligar para e avisá-lo que estava a caminho para lhe contar a grande novidade.
  Foi quando tudo aconteceu.
  Depois disso, não me lembro de nada.
  Não sei o que aconteceu, nem como vim parar aqui. Não sei que dia é hoje, nem que horas são. Tudo o que sei são as coisas que ouvi. Isso é tudo o que posso fazer desde que cheguei aqui.
  Ouvir.
  Assim como estou ouvindo minha mãe chorar, ouvi dois médicos conversando sobre o meu estado. Um deles acha que sairei do coma logo, o outro teme que seja um pouco mais grave que isso. Nenhum deles comentou nada sobre o meu bebê e isso é o que me preocupa.
  Se ao menos soubesse...
  .
  Desde que acordei, não ouvi sua voz nem senti sua presença. Aliás, ele foi o único que ainda não esteve aqui, mas logo vai chegar. Sei disso. Enquanto não chega, eu vou esperar. Não é como se eu tivesse mesmo outra escolha.
  - Com licença, Sra. . - ouço a voz gentil de uma mulher e deduzo que seja uma das enfermeiras - O horário de visitas acabou.
  Ouço o barulho da minha mãe se levantando da cadeira. Ela deixa o cômodo fungando, mas sem dizer uma palavra. A enfermeira ainda permanece, mexe em algo de metal, aperta um botão que faz um barulho esquisito, afofa meu travesseiro e deixa o quarto alguns minutos depois, fechando a porta com um ruído.
  Quando volta a ser horário de visitas, o cômodo no qual estou instalada está lotado. Estão presentes meus pais, meu irmão, minha melhor amiga e, meu coração se aperta ao perceber, . Eu sabia que ele viria.
  Minha mãe e estão chorando baixo, posso ouvi-las soluçando e resmungando coisas que não sou capaz de entender. Queria poder dizer a elas que parem, que não chorem por mim. Não por mim. Não me agrada ser a razão do sofrimento das pessoas que mais amo.
  Alguém se aproxima e toca minha mão. É uma mão grande e quente. É uma mão conhecida. É a mão dele.
  , nem ninguém, fala nada por um tempo. Ele só fica acariciando a minha mão e eu tenho vontade de chorar. É claro que na minha posição, isso não é exatamente possível. Então eu também só fico ali, aproveitando seu toque, sua presença.
  Não sei quanto tempo se passa até que pede, em uma voz baixa e quase sem vida, que lhe deixem ficar um pouco a sós comigo. Minha mãe reluta um pouco em ir, argumentando que não vai deixar sua garotinha e mesmo em tais condições, acho graça que eu tenha 21 anos de idade e ela ainda me chame de garotinha. Mas meu pai e meu irmão, como sempre, são firmes e a carregam para fora do quarto dizendo que ele é meu noivo, também está arrasado e quer um tempo comigo.
  Por fim, ouço a porta se fechar e o silêncio se estabelecer.
  Agora, somos só eu e ele. E ainda não soltou a minha mão, o que me faz sentir segura.
  - , eu... - Tento falar, em vão. Como em todas as outras tentativas.
  - ... Está sendo tudo tão difícil pra mim. Eu não aguento mais te ver assim, isso me mata aos poucos, você está me matando aos poucos. Esses dois meses estão sendo os mais difíceis de toda a minha vida. E saber que de algum jeito, você está assim por culpa minha, apenas e completamente minha. Seu eu não tivesse ido trabalhar naquele dia, você não precisaria ir atrás de mim pra contar sobre sua gravidez. Não, eu estaria do seu lado festejando, pois teríamos um mini ou uma mini nas nossas vidas. Mas agora... - ele suspira - estou sem você e estamos sem o nosso bebê. Eu preciso tanto de você amor, você não tem ideia do que é ficar em casa sem você, sabendo que você está aqui e não no nosso quarto me esperando pra poder dormir. Saber que vou dormir e acordar sem você do meu lado, saber que você pode nunca acordar... - sinto uma lágrima quente cair sobre minha mão.
   está chorando, eu nunca o vi chorar, ele nunca chora, sempre brincava dizendo que ele era um homem de ferro e ele sempre dizia que nunca houve um motivo pra ele chorar. E agora saber que o motivo dessa vez era eu e sou incapaz de poder ajudá-lo, apoiá-lo. Como eu queria tê-lo pra mim, como eu queria vê-lo feliz. Como eu queria poder ter esperado ele chegar a nossa casa pra poder lhe contar a notícia. Se eu tivesse esperado, eu não estaria aqui e sem o meu bebê, o nosso bebê. Ele não estaria sem mim e eu não estaria sem ele.
  Seis meses, eu estaria grávida de seis meses...
  - - - escuto a porta se abrir e meu irmão, , chamá-lo.
  - Hm - - sussurra, largando minha mão.
  - Desculpe cara, mas a enfermeira mandou avisar que o horário de visitas acabou.
  - Diga a ela que me dê cinco minutos pra me despedir e já saio.
  - Tudo bem. Vamos te esperar lá fora. - conclui saindo do quarto.
  Novamente, estamos a sós. Por pouco tempo, mas estamos. E sei que ele voltará pra me ver.
   volta a acariciar minha mão e beija minha testa.
  - Eu volto amanhã, prometo. Nunca te deixarei sozinha, nunca. Eu... Eu te amo minha vida. Você está é a mulher dia mais linda, de qualquer jeito. - e ele vai embora.
  Minha vontade é de sorrir e mandá-lo esperar, poder falar que também o amo e que vou dar a volta por cima, não vou deixá-lo, pois o amo demais pra isso. Mas não digo nada. Sou incapaz de fazer alguma coisa, apenas posso escutar. Segundo , nos últimos dois meses é a única coisa que faço.

  Não sei quanto tempo se passou, mas sei que sempre prometia voltar e sempre voltava. Assim como todos os meus amigos e familiares. A cada dia eu me sentia um pouco melhor, porém, nada capaz de mudar meu caso. Isso era angustiante, ouvia, apenas ouvia todos me contando o que os médicos diziam e o quanto eles sabiam (queriam) que eu acordasse. E a cada dia, sinto que me esqueci de alguma coisa, mas eu não consigo nem lembrar o que era. E não consigo relacionar com nada do que lembro.

  Os dias passam, não sei se estou assim há meses ou até anos. Não conheço muitas pessoas que me visitam, são vozes estranhas, diferentes, irreconhecíveis. Hoje uma nova voz, uma nova pessoa veio falar comigo, diz ser meu irmão, diz se chamar e disse-me também que eu o chamo de , mas eu nunca tive um irmão. Sempre fui filha única, pelo que eu lembre.

  Hoje, como um novo dia, recebi novas visitas, pelo menos eu nunca ouvi essas vozes. Não conheço ninguém. Uma diz chamar-se e fala com um moço chamado , que também não conheço, pedindo pra ele se acalmar, pois tudo vai dar certo no final. Ao seu lado está o rapaz do outro dia que disse ser meu irmão, , e dessa vez com mais duas pessoas, um homem e uma mulher mais velha. Ambos chorando, por quem - Por mim - Mas por que desconhecidos chorariam por mim - Aliás, por que eles estão aqui se eu nem os conheço -

  - Sra. - - escuto a voz de um homem aparentando ter uns 55 anos. Deve ser um dos médicos. - Poderia falar com a senhora lá fora, por favor -
  - Se não se importar Dr. Vagner, prefiro que conversemos aqui no quarto. Não queremos mais perde-la de vista nem por um minuto. - a senhora responde recebendo alguns sussurros concordando.
  - Gostaria de comentar com os senhores o motivo de termos trocado sua filha de quarto. - ele para por um segundo. - O quadro da Senhorita está superando as expectativas de todos os médicos do hospital. Hoje cedo ela acordou depois de quase um ano em estado de coma e achamos ter sido uma grande melhora pelo grau do acidente que ela sofreu. Chegamos à conclusão de que ela não tem necessidade de continuar na ala da UTI do hospital. Ela acordou em melhor estado do que poderíamos imaginar, porém está com algumas lesões cerebrais como perda de...

  - Quem são vocês?

  

Fim!



Comentários da autora


Nota da autora: Certo, primeira fanfic postada & finalizada. Eu espero que vocês gostem, e comentem! Me digam o que acharam, sim?
Xx, Any