Just Today

Escrito por Adrielle | Revisado por Debbie

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Capítulo Único

  Ela o encarava incrédula, não acreditando no que acabara de ouvir. Como assim, ele queria esquecer que estava casado? Era isso mesmo que ela havia escutado? Mas é claro que sim, ela ainda não estava louca o suficiente para estar escutando de mais. Ele realmente havia lhe dito que queria esquecer que era um homem casado, e com todas as letras. Só faltou soletrar para que a menina entendesse.
  Ele por sua vez só percebeu o que acabara de dizer quando a sala ficou em um silêncio constrangedor e os dois caíram em si. Não era para essas palavras terem saído, ele não queria que essas palavras saíssem de sua boca. Ele a amava e nunca iria esquecer que era um homem casado, mas hoje ele estava bêbado, estava alterado, havia acabado de sair de uma briga por causa de sua mulher e quando chegou em casa a pegou abraçando outro. Ele sabia que esse “outro” era gay, mas estava tomado pelo ciúmes, não queria escutar nenhum dos dois... Não mais.
  - ... – ele tentou.
  - Não, eu entendi. Você quer esquecer que se casou um dia. – ela falou ainda desconcertada. Respirou fundo para conter suas lagrimas, ela não poderia chorar. Não ali.
  - Eu não queria ter lhe dito isso. – ele tentou se aproximar, mas a mulher deu um passo para trás. – Me escuta.
  - Já escutei de mais. – ela suspirou e virou em direção à escada. – Fique tranquilo, levarei menos de 20 minutos para sumir de sua vida.
  Não esperou uma resposta e logo subiu para o quarto dos dois. Ela não queria fazer isso, mas logo pensou que poderia tirar proveito dessa situação para partir. Não que ela quisesse partir, mas o pouparia de sofrer mais tarde, afinal daqui cinco meses ela teria de se despedir dele e dessa vez seria pra sempre. A vida de já estava contada, ela tinha apenas cinco meses de vida e não queria vê-lo sofrer quando esses cinco meses chegassem ao fim, então preferiu usar uma briguinha qualquer para poder partir.

  Pegou sua única mala dentro do guarda-roupas e começou a jogar suas roupas de qualquer jeito na mesma. Ela precisava ser rápida, ela sabia que, se ele caísse na real não a permitira partir, inventaria qualquer desculpa para que ela ficasse, e como uma típica boba apaixonada, ela ficaria. Depois de todas suas roupas já estarem jogadas na mala ela começou a andar pelo quarto a procura de seus outros pertences, tipo: fotos, CDs, escova de dente, fones de ouvidos, carregadores, perfumes, maquiagens, etc.
  Enquanto isso ele ainda estava parado no meio da sala tentando assimilar tudo o que acabara de acontecer. Ainda não estava acreditando que havia dito aquelas coisas para sua garota, ele realmente era um tremendo babaca.
  Quando finalmente caiu em si, subiu as escadas correndo, não importava se seus pulmões estavam falhando, não importava se estava tudo girando por causa da bebida. A única coisa que importava no momento era sua mulher, era ter sua mulher ao seu lado, apenas isso. Entrou no quarto e a viu fechando a mala com lagrimas nos olhos. Seu coração apertou ao ver aquela cena, não estava preparado para isso, mesmo estando bêbado sabia que não era um bom sinal.
  - ... – ele sussurrou enquanto caminhava na direção da garota e a abraçava por trás.
  - Me solta , eu quero ir embora. – ela falou se debatendo contra o peito do rapaz. – Nada que você diga me fará ficar.
  - Por favor. – ele já sentia seus olhos arderem. – Por mim... Por nós.
  - O nosso “nós” acabou no momento em que você declarou que queria esquecer nosso casamento. – ela falou em falso tom de indiferença.
  - Não faça dilúvio em tampinha de xarope, por favor. – ele suplicou. – Eu estava bêbado, quer dizer estou bêbado, e...
  - Bêbados são os que mais falam a verdade, mesmo sem querer. – Ela se soltou de seus braços. – E como você disse. Está bêbado, não ira se lembrar de nada amanhã.
  - Sim, eu me lembrarei. – ele a contrariou lhe tomando novamente para em braços. – Assim que eu acordar e não te ver, eu lembrarei da cagada que eu fiz.
  - Será apenas uma lição pra você. – ela deu de ombros. – , eu tenho que ir, me solta.
  - Não, você não tem. – ele disse fungando.
  - Não torne as coisas mais difíceis do que já estão. – suplicou já sentindo lagrimas teimosas escorrerem por sua face.
  - Fique... – ele beijou seu pescoço.
  - CHEGA. – ela gritou se afastando do rapaz. – UMA HORA OU OUTRA EU TERIA QUE PARTIR. NÃO PELO O QUE VOCÊ ME DISSE, MAS PORQUE EU VOU MORRER . – agora suas lagrimas já escorriam livremente de seu rosto. Não queria lhe contar desse jeito, na verdade não queria lhe contar.
  - Claro. Todos nós vamos morrer algum dia. – ele falou confuso.
  - Eu vou morrer em cinco meses. Cinco meses. – ela respirou fundo. – Adeus .
  A mulher pegou sua única mala, deu um selinho no rapaz, que estava imóvel no meio do quarto, e saiu do mesmo praguejando mentalmente o doutor que havia lhe dado a noticia que estava com leucemia e só teria mais cinco meses de vida. Tudo bem, a culpa não era do médico, mas ele poderia ter escondido, poderia ter a poupado de tantos sofrimentos.
  Ela já estava abrindo a porta da frente para poder sair de vez daquele apartamento, quando sentiu duas mãos tocarem em sua cintura e a virarem rapidamente. Não demorou muito e ela sentiu a respiração descompensada de bater contra seu rosto gélido. Ela não teria como sair dali, estava prensada contra a porta e fazia uma barreira com os braços para ela não poder passar, então se via na obrigação de encarar ele.
  - Até que a morte nos separe. Lembra? – ele perguntou juntando suas testas.
  - Mas... Eu... – ela não tinha o que falar, já estava se sentindo hipnotizada só de ficar encarando aquelas íris verdes que eram os olhos de .
  - Eu sei. Você não quer que eu sofra quando você for. – ele suspirou. – Mas saiba, eu sofrerei bem mais com você partindo agora. – as lagrimas de ambos caiam.
  - Eu ficarei horrível, fraca... Você irá me trocar antes mesmo que vá. – ela disse fechando os olhos e sentindo a respiração dele.
  - Eu jamais te trocarei meu amor. – ele deu um beijo em sua testa. – Se eu não te troquei em oito anos de casados, não é agora que eu irei te trocar.
  - . – ela o repreendeu abrindo os olhos.
  - Mais uma vez você entendeu errado, e eu não vou explicar. – eles riram fraco. – Me deixe cuidar de você durante esses cinco meses. Por favor, seja minha.
  - Eu já sou sua. – ela falou passando a mão por volta do pescoço de seu marido e o beijando. Um beijo calmo, romântico, doce, delicado e sem segundas intenções. Apenas um beijo de um casal apaixonado. – Até que a morte nos separe. – ela sussurrou quando se separaram.

FIM



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