Identidade desconhecida

Escrito por Danna Pucktt | Revisada por Natashia Kitamura

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  O problema... Sou um sentimento, algo que te controla. Comigo, você não é mais você mesmo, você se torna outra coisa. Não pode mais ser chamado de pessoa ou humano. O meu nome? Não pode ser pronunciado. E você não vai querer saber. Por isso, tenho vários apelidos, codinomes e falsos nomes. Apelidos conhecidos, mas entre todos... O mais conhecido e comum para mim é... Vingança.
  Todos têm uma vontade muito grande de que seu inimigo se ferre. Que “vá para o inferno”. Então... É esse o meu propósito, levar as pessoas que você mais odeia... Para o “inferno”. Prepare-se, pois a partir de agora, você não será você mesmo... Jamais.

  Você... Olá. Meu nome é e sou uma mulher com poucos amigos, gosto de me divertir e jamais deixo que algo fútil me abale. Tenho 32 anos e tenho um filho, chamado Gabriel que tem 7 anos. O pai de Gabriel, nunca me abandonou, pelo contrario, ficou tão feliz ao saber que ia ser pai... Bom, agora eu tenho outra noticia... Estou grávida de uma menina... E por isso marquei um jantar, vou contar a meu namorado, Josh, que agora... Ele vai ser chamado de “papai” duas vezes. Ah, antes que você se pergunte como ele não notou que eu estou grávida, sendo que eu já até sei que é uma menina... Eu sou meio gordinha, mas dei uma emagrecida. Bom, a barriga cresceu e eu achei que estava engordando de novo. Mas na verdade era uma gravidez.

Capítulo 1

  ’s Pov
  - Alô? – eu atendi meu telefone um pouco desconfiada, um número desconhecido estava me ligando.
  - Quem fala? – uma voz estranha perguntou... A minha vontade era de falar: “a dona do celular para quem você ligou seu idiota.”. Mas não.
  - Quem deseja?
  - Quem está ai?
  - Com quem você quer falar?
  - Com a .
  - Quem é?
  - Uma pessoa que contem uma informação muito importante.
  - Eu sou a , o que você quer?
  - Só queria avisar... Que tem um homem aqui perto de mim, e ele está beijando uma mulher loira.
  - E o que isso me importa?
  - Não seja grossa... Estou te fazendo um favor.
  - Que favor? Até agora não me falou nada que preste.
  - Bom... Então quem sabe agora essa informação fique mais interessante. O homem que está beijando a loira... Chama-se Josh, e ele tem uma tatuagem no braço esquerdo com o nome Gabriel. – entrei em choque.... Josh, o meu namorado, tem a tatuagem no braço esquerdo com o nome Gabriel.
  - Quem está falando?
  - Alguém...
  - Isso eu já sei. Quem?
  - Você não vai querer saber.
  - Escuta se isso é uma brincadeira...
  - Não é uma brincadeira. – ele me cortou. – Se não acredita... Venha aqui ver.
  - Qual o endereço?
  Ele me passou o endereço da rua, e como eu não sou burra. Levei uma pistola, sei atirar e muito bem, tenho uma mira ótima. Levei a pistola escondida no casaco, e dentro do carro sai até o endereço me dado. Não era muito longe. Como meu filho estava passando uns dias na casa do avô materno... Decidi ver se tudo isso era verdade.
  Cheguei ao local e vi duas pessoas se agarrando em uma rua. Parei um tanto distante do casal. Peguei o celular e o mesmo tocou no momento exato. Era o mesmo número que tinha me ligado anteriormente.
  - O que você quer? – eu perguntei.
  - Simples... Veja com seus próprios olhos o seu namorado beijando outra mulher. Estou te fazendo um favor, já disse.
  - Pare com esses joguinhos, ande. Quem são aqueles dois? – falei chegando mais perto do casal, olhando para os lados para ver se encontrava alguém.
  - Que ótima namorada o Josh encontrou, não é? Não o reconhece nem vendo.
  - Aquele não é o... Josh? – perguntei já próxima do casal.
  Olhei para o telefone e o mesmo numero já não estava ali. Para falar a verdade, nem o registro da ligação estava.
  - ? – Josh virou e perguntou espantado.
  - Josh... Quem é essa? – eu perguntei brava.
  - Hã... Não é nada disso meu amor.
  - Ah não? Josh... Eu vi vocês se agarrando.
  - Amor...
  - Não me chama de amor. – eu disse virando – sabe o seu filho que você tanto ama? O Gabriel? Espero que tenha uma foto dele, pois nunca mais vai ver ele pessoalmente.
  - Não faz isso . . – ele me chamou pelo apelido.
  - Cala a boca. Não pronuncie meu nome nem o meu apelido com essa sua boca suja.
  - Mas...
  - Cala a boca Josh. Fica ai com a sua amiguinha. – eu disse e agora já estava perto do carro – Ah, antes que eu me esqueça. – me virei para ele agora apoiada no carro – eu marquei aquele jantar para contar que eu estou grávida. E é uma menina. Mas essa daqui... – apontei para minha barriga – você não vai ver nem por foto. – eu disse e entrei no carro.
  - ! – ele gritou.
  - Morre Josh, morre. – eu disse e arranquei com o carro.
  De repente me assusto com o toque do celular e vejo que é outra ligação do número desconhecido.
  - Satisfeito? – eu disse com a voz um tanto alterada. Não estava chorando, estava com raiva.
  - Muito! Você quer que ele morra, não é?
  - Como assim?
  - Você sabe muito bem, você disse para ele morrer.
  - Como você sabe?
  - Simples... Eu estava lá.
  - Quem é você?
  - Você não vai querer saber. – ele terminou de dizer e desligou. Fiquei um pouco com medo, ele perguntou se eu queria que o Josh morresse, e bem... Eu quero... Eu acho.

Capítulo 2

  ’s Pov
  Já fazia algum tempo que eu havia me separado de Josh... Ele é um idiota, me traia há anos com a mesma mulher, e o pior é que a mulher é a mesma que trabalha comigo. Graças a esse “probleminha”, achei melhor que Gabriel ficasse com o avô por um tempo. Mas ligava para ele todos os dias. Não iria perder contato com ele nunca. Bem, o avô dele mora para fora, em um rancho. É bonito e tem vários animais e a cadelinha de Gabriel, Milly. Vai fazer bem a ele ficar um tempo lá, afinal... As coisas aqui não estão muito boas.
  Agora eu estava dentro do carro, rumo ao meu trabalho de psicóloga. Lá eu vejo casos que chegam a ser engraçados, e o melhor é que você se envolve com a história das pessoas e esquece seus problemas.
  - Olá senhora Waters. – Juliana, a recepcionista, me cumprimentou.
  - Olá July. – eu a apelidei assim, pois fica menos informal – como está o Robert hoje? – apertei o botão do elevador me lembrando de Robert que é o meu paciente favorito, ele acredita em coisas sobrenaturais, vê se pode?
  - Está bem, está mais calmo hoje.
  - Ah, que bom. – eu disse e entrei no elevador – espero que esteja mesmo. – disse quando o elevador se fechou.
  O elevador parou no andar de cima, onde meu paciente, Robert, ia ser atendido por mim.
  Entrei na sala, o cumprimentei, comecei a fazer as perguntas normais e ele respondia. Até que hoje está calmo mesmo... Eu pensei. Continuei com as perguntas até que tirei a conclusão de que mesmo estando calmo, as respostas dele são as mesmas de semana passada, da retrasada e assim por diante.
  - Ele está progredindo doutora? – um dos enfermeiros que cuidava dele perguntou.
  - Não James, continua sempre respondendo a mesma coisa.
  Ele abaixou a cabeça como se estivesse decepcionado e seguiu para a sala, onde buscaria Robert.
  Sinto meu celular tocar e quando olho era o numero do meu pai.
  - Alô pai. – eu disse sorrindo.
  - Oi meu amor. Só liguei para te contar de um caso incrível. – meu pai também é psicólogo, aposentado, mas pesquisa casos interessantes para ver se eu sou capaz de ser uma boa psicóloga daqui alguns anos.
  - De novo pai? Eu já não disse que não é necessário que você pesquise paciente?
  - Sim e sim. Mas esse é diferente.
  - Você sempre diz a mesma coisa.
  - Mas esse realmente é diferente.
  - Ta bom pai, é ai na sua cidade né?
  - Sim.
  - Estou indo para ai.
  O rancho do meu pai era na cidade vizinha, mas para fora. E a cidade em si era poucas horas de carro, já se você sair daqui da minha cidade, Whorshcit, em direção a casa dele, dá algumas horas a mais.
  Fui em direção ao lugar onde o meu pai me indicou, cheguei na sala onde havia uma mesa, duas cadeiras e um telefone. Também havia um vidro grande como se fosse um quadro negro na parede, o que na verdade era um falso vidro, no outro lado havia uma sala onde te observavam. No caso era eu na sala e meu pai na sala do outro lado do vidro me observando. Não demorou muito e um homem de cadeira de rodas entrou na sala.
  - Olá.
  - Olá, meu nome é Waters e vou lhe fazer algumas perguntas, ok?
  - Ok.
  - Então vamos começar... Qual o seu nome?
  - Jonny.
  - Jonny... Certo. Hã... Na casa onde você morava antes havia quantas janelas?
  - Dez.
  - Dez...
  - Onze se contar a janelinha da porta, mas ela não abria.
  - Ta bom.... Quantos anos você tem?
  - 28.
  - Hpa quanto tempo você é cadeirante?
  - Algumas semanas.
  - Aham... – tudo que ele falava eu ia memorizando e algumas coisas eu anotava – e como foi que você ficou cadeirante?

  - Um acidente ruim, eu não gosto de falar.
  - Ok, ok.
  - Hã... O que você vê nessa imagem? – lhe mostrei uma imagem abstrata.
  - Um elefante.
  - Ele é grande?
  - Não. Ele é um elefantinho, é pequeno.
  - Ok. E nessa imagem? – lhe mostrei outro.
  - Uma borboleta.
  - Ok. Você vê um número aqui? – lhe mostrei um papel onde havia várias pedrinhas laranja formando um círculo e dentro, tinha umas pedrinhas verdes formando o número sete.
  - Sim, sete.
  - Ok. E nesse? – lhe mostrei outro papel, mas nesse havia o número oito.
  - Oito.
  - Aham. – eu disse e guardei meu material – bom, é só isso. Vou me retirar Jonny, tchau.
  - Tchau. – ele disse carinhosamente.
  Sai e entrei na sala onde meu pai me observava.
  - O que esse tem de tão interessante? – perguntei sentando-me à mesa a frente do meu pai.
  - Você vai ver. – ele pegou o telefone a sua frente e discou um número.
  De repente ouço um telefone tocar, olho para trás e o telefone tocando era o da sala em que eu estava, onde agora só se encontrava o Jonny. Jonny não atendeu de primeira, esperou que alguém viesse, mas como ninguém veio ele pegou o telefone e levou ao ouvido.
  - Alô? – ele perguntou.
  - Alô, o Adam está? – meu pai perguntou.
  - Não, não tem nenhum Adam aqui.
  - Quem está falando?
  - Aqui é o Jonny.
  - Jonny, você pode chamar o Adam para mim, por favor?
  Assim que meu pai disse essas palavras, Jonny inclinou a cabeça para trás mostrando uma flexibilidade com o pescoço absurda. O pescoço parecia quebrado, e Jonny gritava. Logo ele voltou à forma em que estava sentado anteriormente, mas agora em vez da expressão doce e gentil que seu rosto tinha, agora havia uma expressão séria, quase perturbada.
  - Agora vá de novo. – Meu pai disse e eu obedeci.
  Entrei na sala e sentei-me a frente de Jonny.
  - Olá, meu nome é...
  - Waters. Já sei, já sei. – ele disse como se estivesse impaciente – meu nome é Adam e eu tenho 29 anos.
  - Adam, claro. – eu disse ajeitando minhas coisas na mesa – Hã... Eu vou lhe mostrar umas imagens e...
  - As respostas são borboletas, elefantes, pássaros... Já passamos por isso doutora. Eu já passei por isso.
  - Ta bom. Hã... Você vê um número nesse papel? – lhe amostrei o papel que havia lhe mostrado anteriormente.
  - Não. – ele disse seco.
  - Ta bom, e nesse? – lhe mostrei outro.
  - Também não.
  - Ta, e nesse aqui? – Lhe mostrei um papel onde a olho nu não se vê número algum, só com um tipo de telinha especial na frente.
  - Nove.
  Peguei a telinha e coloquei a frente do papel, mostrando que no mesmo havia o número nove.
  - Ok, hã... Acho que está bom por hoje. – comecei a guardar as minhas coisas.
  - Já posso ir?
  Antes que pudesse responder, eu me viro para ele e o mesmo está de pé.

Capítulo 3

  ’s Pov
  - Você podia ter me contado, não é? – eu perguntei a meu pai.
  Estávamos na frente do lugar onde entrevistei Adam.
  - Não.
  - Podia pelo menos ter me deixado entrevistar Adam primeiro.
  - E que graça teria?
  - Não teve graça alguma. O caso é simples, Adam é o hospedeiro e Jonny é uma personalidade criada por ele.
  - Será que não há algo a mais?
  - Pai... Estou começando a pensar que quem está precisando de uma consulta é o senhor.
  - Não me desrespeite.
  - Ah, estou indo para casa.
  - Ok minha filha. O Gabriel está com saudades heim.
  - Ok pai. Mande beijos para ele.
  - Ta bom. – ele me acenou e sai com o carro em direção a minha cidade.

  - Alguma notícia interessante filha? – meu pai perguntou por telefone.
  - Não pai, por enquanto tudo continua a mesma monotonia de sempre. – falei ajeitando meu café na mesa.
  - Então peço que assim que tiver um tempo, venha aqui ver o Adam.
  - Para quê?
  - Quero que veja algumas coisas. Arquivos que eu consegui.
  - Ta bom pai, o que eu não faço pelo senhor não é?
  - Ótimo, filha! Venha que você não vai se arrepender. Tchau. – ele desligou.
  - Assim espero pai. – disse a mim mesma.
  Tomei meu café, entrei no carro e dei a partida. Hoje não teria nenhuma consulta, então poderia ir tranqüila.

  - Então pai, onde está o Adam? – perguntei notando não estar no mesmo lugar em que atendi Adam pela primeira vez.
  - Na verdade filha... – ele estacionou em frente a um lugar diferente – você não vai entrevistar o Adam hoje.
  - Não?
  - Não. Hoje eu vou te mostrar alguns arquivos interessantes.
  - Que tipos de arquivos?
  - Arquivos que poucos têm acesso. – ele saiu do carro.
  - Bom... Então vamos a esses arquivos, estou ficando curiosa.
  - Ta bom. – ele riu.
  Entramos em um lugar que estava estranho, digamos que estava alem de escuro, parecia abandonado.
  - Olá. – uma mulher bem velha e estranha falou, eu pulei de susto, mas me contive para não xingá-la.
  - Olá. – eu disse e meu pai apenas balançou a cabeça.
  - Venha filha, quero lhe mostrar algo. – ele me guiou até um corredor com vários livros escolares.
  - Para que isso pai?
  - Quero que veja isso. – ele pegou um e colocou na mesa que tinha logo ao final do corredor.
  - O quê? – perguntei sentando ao seu lado.
  Ele começou a folhear o livro e então parou em uma pagina, onde me indicou a foto de um garoto loiro.
  - O que tem ele? – ele me perguntou.
  - Como é que eu vou saber?
  - Veja o nome.
  - Jonny Ferraz. – li em voz alta.
  - Escute isso. – ele pegou um gravador e colocou na mesa, logo depois apertou um botão e começou a voz de Adam a falar. “Meu nome é Jonny Ferraz, tenho 28 anos. Eu morava na cidade de Comesburg, ao lado da cidade Whorshcit. Não sei como vim parar aqui. Não me lembro também do acidente que aconteceu quando eu tinha 27 anos... Bom, não quero falar sobre isso. O nome da minha mãe é Emma Ferraz e eu não sei o nome do meu pai.”
  Comecei a ler o que estava escrito no livro.
  - Nome: Jonny Ferraz. Cidade natal: Comesburg, fronteira com Whorshcit. Filho de: Emma Ferraz. Paraplégico desde os 27 anos. Morto em 21 de setembro de 1986. – li novamente em voz alta.
  - Vê? O Adam tinha somente 8 anos quando Jonny morreu. Como ele sabia da existência de Jonny?
  - Bom, eu não sei como explicar isso, mas... Esse lugar é onde ficam os registros não é? – eu perguntei.
  - Sim.
  - Eu acho que ouvi falar alguma coisa sobre o Jonny, só não sei como.
  Levantei e comecei a procurar o livro de registro do ano de 1986. Achei um livro grosso, pesado e empoeirado com o numero 1986. Pequei e levei até a mesa.
  - O que está procurando? – meu pai perguntou.
  - Respostas. – eu disse somente isso e me concentrei nas pesquisas que eu ia fazendo ao longo das paginas. Achei o registro do dia 21 de setembro de 1986.
  “Foi encontrado um corpo na floresta vizinha da cidade de Comesburg. Aparentemente o rapaz tinha apenas 28 anos e era cadeirante. Ao que tudo indica o rapaz foi sujeito a algum tipo de ritual satânico, teve um símbolo desconhecido desenhado nas costas e a boca cheia de terra.” Em baixo havia uma foto da floresta.
  - Achei.
  - O quê?
  - Ao que me parece, Adam teve algum problema na infância o que levou ele até criar a personalidade Jonny. Jonny morreu em 1986 e o caso de sua morte passou na televisão, jornais e revistas. Adam viu e para fugir de seus problemas criou o Jonny, ou melhor, reproduziu Jonny.
  - Hã? – ele puxou o livro para poder ver o que estava escrito. Depois de ler me olhou com uma cara de “você e sua mania de cortar meu divertimento”.
  - Caso resolvido. – eu disse saindo do local.

  - Alô? – atendi ao telefone, estava um tanto apressada, então nem vi que número era.
  - . – reconheci a voz de cara, era Fernando, meu colega de trabalho.
  - Fala Fê.
  - Como você está?
  - Bem, por quê?
  - Nada. É que ontem você não apareceu aqui.
  - Eu não tinha consulta ontem.
  - Mas você não falta mesmo assim.
  - Ah, bem... Ontem eu fui resolver umas coisas lá na cidade do meu pai.
  - Entendo... – ele tossiu – bom, acho que vou desligar, você está vindo para cá, né?
  - Sim. E... Fê?
  - Sim?
  - Você está bem?
  - Sim... – ele tossiu novamente – por quê?
  - Você está tossindo.
  - Ah, sim. Mas não é nada, deve ser só uma alergia.
  - Ok. Estou chegando.
  - Ótimo. – ele disse e desligou.
  Entrei no local e antes que July me recepcionasse com o seu “olá senhora Waters”, fui surpreendida com alguém me abraçando intensamente.
  - Que bom que chegou. Estava com saudade de falar com você.
  - Fê. – eu ri – não faz nem cinco minutos que nós estávamos conversando pelo telefone.
  - Eu sei, mas eu sinto saudade ok?
  - Ta bom. – eu levantei as mãos em sinal de rendimento e ele me abraçou me levando para o elevador.
  - Olá senhora Waters.
  - Olá July.
  Entrei no elevador conversando com Fernando, sai e fiz meu trabalho. O dia passou normal, passei no mercado antes de ir para casa. Iria comprar algumas coisas que o Gabriel gosta de comer, ele está voltando amanhã.

  - MÃE! – ele gritou assim que eu cheguei no rancho Waters. O rancho do meu pai.
  - Oi filho. – ele me abraçou.
  - Como está a minha irmãzinha?
  - Está bem meu amor.
  - Ah, que bom. – ele beijou minha barriga – oi maninha. Te aguardo com ansiedade heim.
  Eu ri com a cena. Meu filho acariciando e conversando com a sua irmã, que no caso por em quanto está na minha barriga e a cara do meu pai olhando para Gabriel.

  - Chegamos. – eu disse abrindo a porta para Gabriel entrar.
  - Aaaaah. – ele saiu correndo em direção à mesa onde eu havia posto todos os salgadinhos, doces e refrigerante que ele gosta.
  - Não come tudo de uma vez ok?
  - Ok.
  Entrei para o banheiro e tomei um banho. Sai, me vesti e fui para o quarto de Gabriel onde o ajudaria a preparar as coisas para o colégio dele. Hoje é domingo e ele vai para escola amanhã.
  - Tudo pronto. – ele disse assim que eu entrei.
  - Tudo? – eu perguntei desconfiada.
  - Sim.
  - Material?
  - Na mochila.
  - Roupa?
  - Separada.
  - Tênis?
  - Aqui. – ele apontou para os pés da cama onde se encontravam os tênis All Star favorito dele.
  - Janta?
  - Aqui. – ele apontou para a barriga.
  - Hum... – fui até a sua mochila.
  - Ta tudo ai mãe. – ele disse tirando a mochila da minha mão.
  - Deixa eu ver. – peguei de volta.
  Abri a mochila e dentro tinha dois achocolatados, dois salgadinhos e duas barrinhas de chocolate.
  - Eu ia levar de lanche, mãe.
  - Não filho. Leva dinheiro para comprar algo. – peguei dez reais – toma.
  - Mas mãe, lá só tem sanduíche e uns troços saudáveis lá. Eu não quero.
  - Ah, mas se é isso que tem... É o que você vai ter que comer. Não pode levar comida, sabe as regras do colégio.
  - Ta bom. – ele se jogou na cama.

Capítulo 4

  ’s Pov
  - Mas o senhor tem certeza que não tem mais? – ouvi uma mulher perguntar ao jornaleiro. Não sei por que mais me chamou a atenção ela.
  - Sim, senhora Ferraz. Eu tenho certeza. – ele disse e ela fez uma expressão ruim, como se estivesse decepcionada. Senhora Ferraz?
  - Então ta bom. Muito obrigada. – ela disse e foi caminhando. Resolvi perguntar se ela era a mãe de Jonny Ferraz.
  - Hã... Senhora? – eu perguntei me aproximando.
  - Sim? – ela virou para me encarar.
  - Hã... A senhora se chama Emma Ferraz?
  - Sim, por quê?
  - Mãe de Jonny Ferraz? – eu perguntei.
  - Sim. Mas, por que o interesse?
  - Hã... A senhora poderia conversar comigo um pouco?
  - Claro. Aceita um café? – ela perguntou apontando para uma padaria que tinha ali perto.
  - Claro. – eu disse e sorri.

  - Bem... O que você gostaria de conversar? – ela perguntou e deu um gole em seu café.
  - Bem... Eu gostaria de saber se a senhora já ouviu falar em personalidade múltipla...
  - Não. Mas por que a pergunta?
  - Bem... Personalidade múltipla é quando alguém, por algum motivo, é levado a criar uma personalidade diferente. No caso às vezes chegam a crer que são reais, como outra pessoa. Por exemplo, eu tenho alguns problemas pessoais, e para fugir dele crio uma personalidade chamada... Rosely.
  - E o que isso tem a ver com o que a senhora perguntar se eu sou mãe de Jonny Ferraz?
  - Bem... Eu sou psicóloga e eu tenho um paciente, o Adam, que criou uma personalidade chamada Jonny Ferraz. E ele chegou a crer que realmente é o Jonny. Eu gostaria que a senhora me ajudasse com ele.
  - Como?
  - Converse com ele e faça-o entender que o Jonny morreu e ele não é o seu filho.
  - E por que eu a ajudaria?
  - A senhora poderia me fazer esse favor...
  - Bom... Eu não tenho nada para fazer até meu ônibus chegar. E ele só chega daqui duas horas. Eu poderia conversar com ele então.
  - Se não for um incomodo eu agradeceria.
  - Não é incomodo algum.
  - Só peço que não se assuste... O Adam consegue ser muito convincente.
  - Minha filha... Eu tive três filhos, os criei, cuidei, dei todo meu amor e carinho, depois eu os vi morrer e os enterrei. Não há nada mais que possa me assustar. – fiquei totalmente sem palavras ao ouvir o que aquela senhora falou. Eu não seria tão forte se perdesse o Gabriel. Nem a minha filha que ainda não nasceu.

  - Bem, vai ser aqui que o Adam vai conversar com a senhora.
  - Onde ele está?
  - Ele está a caminho.
  Não demorou muito e Adam entrou na sala logo a pos se sentou à frente da senhora Ferraz.
  - Adam, essa é a senhora Ferraz.
  - Olá. – ele disse sem mostrar qualquer emoção.
  - Olá – ele disse da mesma forma.
  De repente o telefone toca.
  - Não vai atender? – Adam me pergunta.
  - Ninguém sabe que nem eu nem a senhora Ferraz estamos aqui. Deve ser para você. – eu disse e ele atendeu.
  - Alô? – ele ficou escutando – não, não tem nenhum Jonny aqui. – ele escutou novamente e de repente o telefone caiu de sua mão.
  Ele inclinou a cabeça para trás novamente mostrando uma flexibilidade inacreditável. A senhora Ferraz se assustou um pouco, mas logo voltou ao normal. Logo Jonny “estava presente”.
  - Mamãe? – ele perguntou e a senhora Ferraz me olhou sem entender – mãe, eu estava procurando a senhora.
  - Você não é o meu filho. – ela disse seca.
  - Mãe, sou eu. O Jonny.
  - O meu filho morreu.
  - Não mãe, eu estou aqui. – ele disse e seus olhos se encheram de lagrimas.
  - Eu já disse você não é o meu filho.
  - Mãe... – ela levantou – hã... A senhora guardava minhas roupas nas estantes, como livros. E sempre perguntava “que roupa vai querer ler hoje?”.
  - Meu filho morreu. – ela repetiu.
  - A-a minha cama era de madeira de abate, a senhora dizia que afastava os sonhos ruins. E a senhora sempre me fazia rezar antes de dormir.
  - Eu já disse... – ela se aproximou se apoiando na mesa – meu filho morreu.
  - Mãe... – ele começou a chorar e ela se virou – se eu não fosse seu filho como eu ia saber que a senhora sempre anda com um prego no bolso do casaco? – ele falou e ela parou de andar. Ela tirou lentamente o prego do bolso. Jonny prosseguiu – nós achamos perto da gruta. E a senhora carrega ele desde então.
  - Como... Como você sabe? – ela se sentou novamente.
  - Nós sempre cantávamos juntos. – ele começou a cantar uma musica diferente e ela o acompanhou. Assim que eles terminaram, ele disse – a senhora me disse que essa musica purificava a alma e aproximava de Deus.
  - É... – ela sorriu, mas logo sua expressão mudou para alguém com raiva – mas pelo visto não adiantou. – ela disse e deu um tapa bem forte no rosto de Jonny e saiu.
  Ele começou a chorar e cantarolar uma música.
  - Tanan, tanan, tutu, tutu. Tanan, tanan, tutu, tutu. – eu me lembrei que meu pai havia dito que Jonny cantava esta música quando estava com medo ou triste.

  - Jonny... Você reconhece este local? – eu o levei até o local onde o Jonny real fora assassinado.
  - Não.
  - Olhe em volta e veja se reconhece.
  - Hã... Sim. Eu lembro. Mas está tudo diferente. Ali havia uma cabana... – ele apontou para um ponto da floresta – e estava nevando. – eu olhei em volta, e o cenário de agora era ensolarado e não havia cabana, bem ao contrario do que ele acabara de descrever – e... – ele olhou para o lado – ele ta vindo. – ele disse assustado e abaixou a cabeça.
  - Quem? – eu perguntei.
  - Shh. – ele fez para que eu ficasse quieta.
  - Quem está vindo? – eu perguntou sussurrando.
  - Shh. – ele levantou a cabeça de leve e olhou em volta – o diabo. – eu olho em volta e não vejo nada – me tira daqui, me tira daqui. – ele disse e eu tentei empurrar a cadeira de rodas, mas ela não andava, estava atolada.
  - A cadeira atolou, eu vou ter que pedir ajuda.
  - Não me deixa aqui sozinho, não com ele. – ele disse e quase começou a chorar.
  - Calma. – eu peguei o telefone e vi que não tinha sinal – eu vou tentar achar sinal.
  - Não me deixa.
  - Não. Eu to aqui, to aqui. – eu disse me afastando pouco.
  A alguns metros da cadeira de Jonny encontro sinal e ligo para Elano, o motorista que nos trouxe aqui. Que agora estava na entrada da Floresta, no carro, esperando que nós voltássemos.
  - Elano?
  - Sim? – ele perguntou.
  - A cadeira do Jonny atolou, você pode trazer uma pá?
  - Sim. Estou indo. – ele desligou.
  Voltei-me para Jonny, mas a cadeira estava vazia. Olhei em volta e nada. Chamei Jonny e ele não respondeu. Dei mais uma olhada em volta, mas não havia sinal de vida, muito menos de Jonny.
  Me virei para procurar e levei um susto ao notar que Jonny estava parado a minha frente me olhando com um rosto nada amigável. Ou melhor, Adam.
  - Olá Adam.
  - Quem é Adam? – ele perguntou.
  - Hã... Quem é você?
  - Meu nome é John Melleir. Mas você ainda não me respondeu... Quem é esse Adam, e por que você achou que eu fosse ele?
  - Bem... Adam é um paciente meu.
  - E por que você achou que eu fosse ele?
  De repente avisto Elano se aproximando.
  - Aqui, Elano. – eu o chamei.
  - Olá, Elano. – Adam, ou melhor, John virou-se para Elano.
  - Olá, John.

  - Quem é John Melleir? – perguntei ao meu pai.
  - Ah, já conheceu?
  - Eu perguntei quem é.
  - Ele era um guitarrista de uma banda de rock. Desapareceu há alguns anos.
  - Quantas personalidades o Adam tem?
  - Ah, você vai descobrir. – bufei.
  - Que horas são?
  - 18h37min.
  - Ah, não. Gabriel. – sai correndo, pois lembrei que havia esquecido de buscar Gabriel na escola.

  Cheguei a escola e avistei Gabriel e Adam no campo de futebol conversando.
  - Gabriel! – eu o chamei. E cheguei mais perto – desculpe eu me atrasar.
  - Não foi nada, eu e ele estávamos conversando.
  - Ta bom, vai para o carro Gabriel.
  - Mas mãe...
  - Vai pro carro. – Gabriel correu em direção ao carro – o que você quer com o meu filho?
  - Por que você está falando assim comigo, ?
  - Do que você me chamou?
  - . Você está bem?
  - Quem é você?
  - ! Sou eu, o Fê.

  - O Adam esteve hoje no colégio de Gabriel dizendo ser o Fernando...
  - .
  - Ele não pode estar se passando por outra pessoa viva...
  - .
  - Ele não pode...
  - ! – meu pai chamou minha atenção.
  - O quê?
  - O Fernando morreu hoje. Acabaram de me ligar. Disseram que encontraram ele morto em casa, havia um símbolo não identificado desenhado em suas costas e a boca estava cheia de terra.
  - O quê?

Capítulo 5

  ’s Pov
  Depois da morte de Fernando, eu não entendia mais o que me motivava a continuar tentando ajudar qualquer um dos meus pacientes, ou até mesmo o Adam. Mas algo me motivava e me dava força para continuar. Mesmo que não fosse fácil chegar perto do Adam e ele dizendo ser o Fernando.
  Então, já que eu resolvi continuar a pesquisar sobre Adam, resolvi pesquisar um pouco sobre o John Melleir.
  “É confirmado o desaparecimento de John Melleir, guitarrista da banda Shock. Aparentemente John foi visto pela última vez depois do show, e desde então não apareceu mais.”.
  Eu tentava entender o porquê de tudo isso. O porquê de Adam ter criado Jonny, John e depois Fernando. Não achava motivo algum que levasse ele a criar personalidades tão diferentes. Jonny, um menino calmo, doce e gentil. John, um homem aparentemente arrogante e louco. E Fernando um psicólogo experiente, feliz e centrado.
  Resolvi ir a antiga casa de Adam. Cheguei e não vi nada, apenas o cachorro que estava morrendo de fome. Dei a ração que tinha para ele, e sai andando pela casa. Senti um cheiro ruim e não identificava o que era, resolvi seguir o cheiro. A cada passo que eu dava o cheiro ficava pior e insuportável. Até que eu cheguei ao banheiro, e ao abrir a porta... Deparo com uma imagem que eu não merecia ter presenciado. Eu vi um... Cadáver.

  O som das sirenes era ensurdecedor. Os policias pareciam formigas. Entravam uns e logo saiam, assim continuou um entra e sai da casa. Peritos e policias se confundiam em meio aquela fuzarca. Os vizinhos não entendiam o porquê de todo aquele movimento. Mas mesmo assim não questionavam. Depois de mais ou menos 2h, eu então consegui descobrir de quem era o corpo. Era de John Melleir.
  - Por que a senhora veio aqui?
  - O meu paciente morava aqui e bom... Eu resolvi vir aqui para entender quais eram os seus problemas.
  O policial se manteve calado e me deu as costas. Fiquei tentando entender o porquê de um cadáver estar naquele estado dentro da banheira, na casa de Adam. Uma espécie de símbolo estava desenhada nas costas do cadáver e a boca tomada por terra. Adam não me parece alguém de boa fé, mas também não me parece um assassino. Com tudo aquilo acontecendo, resolvi deixar Gabriel na casa de uma amiga minha. Michele.

  - Tem certeza ?
  - Sim Michele. Eu vou tentar resolver esses problemas e depois eu busco o Gabriel.
  - Ok.
  - Tchau mãe. – Gabriel me abraçou.
  - Tchau filho. – dei um abraço nele e sai.

  Sai em direção à casa de uns curandeiros, que me indicaram para descobrir que tipo de símbolo era aquele. Cheguei lá e um homem ficou me encarando em quanto eu explicava o que eu queria. Mas ele somente me encarava, não pronunciava nenhuma palavra ou produzia algum som.
  - Deixe-me ver. – uma senhora se aproximou. Uma garota loira pegou o desenho da minha mão e olhou – não é um símbolo qualquer.
  - Como a senhora faz isso? – eu perguntei ao notar que ela disse isso, como se tivesse visto pelos olhos da garota, pois ela nem ao menos chegou perto do desenho.
  - Você não vai querer saber o que isso significa. Não acredita.
  Ela me deu as costas e eu discretamente a segui. Ela entrou em uma espécie de tenda e começou a pronunciar algumas palavras. Comecei a espioná-la. Eu não conseguia entender que palavras eram aquelas, mas eu sabia que não era em nosso idioma. Ela parecia que ia fazer uma cirurgia em um homem que estava deitado a sua frente. Ele não parava de gritar então ela tapou seu nariz e colocou sua boca na dele. Do nada o homem parou de se mexer, seus gritos calaram-se e seus olhos ficaram abertos, mas não se mexiam. Como se estivesse morto. Ela soprou dentro de uma vasilha que continha o mesmo símbolo que eu queria saber o que era. Ela pegou algum tipo de faca, perfurou o abdômen do homem, enfiou a mão pelo local do corte que ela fez. E retirou algo de dentro do homem que eu não consegui identificar, pois fiquei com nojo e fechei os olhos. Ela costurou o abdômen do homem, depois inspirou o ar de dentro da vasilha que estava com o símbolo, e fez a mesma coisa anterior. Colocou sua boca na boca do homem após tapar seu nariz. O Homem voltou a gritar, mas agora estava mais calmo. Seus olhos voltaram a se mexer assim como seu corpo.
  - Agora você acredita? – a senhora perguntou olhando para o local de onde eu espionava.
  - Sim. – eu disse.

  Fui a um homem, um historiador do local. Ele vivera no local onde hoje é a cabana da senhora onde eu fui. Ele e o pai haviam feito um vídeo, contando o que acontecera no local.
  Uma doença se alastrou pela região, e todos iam até a senhora, esta que eu fui, para se curar. Só que alguns não aceitavam seus métodos, até chegar um homem, dizendo que eles só precisavam acreditar em Deus, e tudo ia melhorar. Todos deram as costas a senhora e foram até esse homem, que usava as filhas como modelos de saúde. Elas eram garotas saudáveis e bonitas. Perfeitas aos olhos de quem visse. Mas mesmo todos acreditando em Deus, continuavam morrendo. Até que um dia encontraram as meninas filhas do homem, mortas na cabana onde moravam. Revoltada, a senhora leva o homem até a floresta. Retira sua alma e sopra no vento, retirando de seu corpo, em vez de coloca-la em um recipiente, como a vasilha que ela usava. Enche a boca do homem de terra, para que a alma não retornasse ao corpo. Desde então todos dizem que a alma do homem tomou a forma de um sentimento. E desde então controla as pessoas. E se você é escolhida, ele só deixará seu corpo quando seus dias acabarem. E que quando ele está em seu corpo, ele vai atrás das pessoas que tem raiva, ódio no coração. E procura a pessoa por quem aquela primeira pessoa sente o ódio. O Fazendo sofrer da maneira mais horrível, e depois roubando sua alma.
  Então comecei a juntar os fatos. Adam foi tomado por esse sentimento, e agora ele esta cometendo todos esses assassinatos. Preciso avisar meu pai.

  - . – meu pai liga para mim.
  - Sim pai?
  - O que você descobriu?
  - Eu descobri... – fui interrompida por uma tosse de meu pai. – Pai o senhor esta tossindo?
  - Sim, mas não é nada.
  - Como não é nada?
  - Não, não é nada meu bem. Eu só estou com uma coceira nas costas e... – ele parou de falar – tem algo nas minhas costas.
  - O quê?
  - Parece que tem algo diferente em minhas costas. – ouço um barulho.
  - Que barulho foi esse pai?
  - Ah, o Adam está aqui em casa.
  - Pai, sai daí.
  - Por quê?
  - Pai, só sai daí. – ele começou a tossir – pai? Pai? – ele já não respondia mais. De repente ouço um grito de agonia.
  Disco o número do prédio onde meu pai mora. Quem atende é a recepcionista.
  - Alô? – ela pergunta.
  - Jane, aqui é a ...
  - Oi , como você...
  - Jane! Não da para conversar. Vai no quarto do meu pai. Tira ele de lá. Ele não pode ficar lá. Tira ele, por favor. – disse quase chorando.
  - Ok, . Já estou subindo. – ela desligou.

  Passou algum tempo e recebo a ligação de Jane novamente. Só que desta vez do apartamento de meu pai. Ela estava chorando.
  - O que foi Jane?
  - ... Ele... Eu não sei o que a-aconteceu... Eu só cheguei a-aqui... E ele já... Já estava assim. – ela disse em meio aos soluços.
  - Quem? O que houve?
  - O seu pai... Ele ta morto. E a boca está cheia de terra.
  - Não. – eu disse chorando – tem... Mais alguém... Ai no... Apartamento? – perguntei também em meio aos meus soluços.
  - Não.
  - Ta, ta bom. – eu disse me recuperando.

  - . – era Michele no telefone – estou levando o Gabriel no hospital.
  - Por... Por quê?
  - Ele está com uma alergia muito estanha nas costas e esta tossindo muito.
  - Essa não... Hã... Michele... – entrei no carro – não leva ele para o hospital...
  - Como não? Ele tem que ser internado, essa alergia não é normal.
  - Eu sei, mas eu conheço uma senhora que pode curar ele.
  - Eu não acredito nesse tipo de coisa . E já estou saindo daqui... – ela parou de falar.
  - O que foi?
  - Aquele seu paciente esta aqui. O que você me falou.
  - O Adam?
  - Sim. – ela disse.
  - Sai daí Michele.
  - Ta. – ouvi alguns passos e ouvi Adam dizer “Gabriel, meu neto, vem comigo” – , ele esta parecendo o seu pai. – ela disse com medo na voz.
  - Eu sei, mas não deixa ele pegar o Gabriel.
  - Eu sei... – ela parou de falar um pouco – ... – ela começou a sussurrar – ele entrou aqui em casa, eu não sei como, e eu estou escondida no banheiro.
  - Ta. – ouço um soluço de Gabriel, que provavelmente estava chorando – Gabriel? – eu perguntei e ouvi-o pegando o celular.
  - Mamãe, tem um homem que ta dizendo ser o meu avô aqui. E ele ta tentando me pegar.
  - Ok filho. Não sai daí.
  De repente ouço barulhos, ouço Adam gritando “Gabriel, preciso que venha comigo, tem um homem que esta vindo. Não temos tempo, venha com o vovô”.
  - Mãe, eu to com medo. – Gabriel diz e eu começo a me desesperar.
  De repente ouço um estrondo muito forte.
  - O que aconteceu?
  - Mãe, a tia Michele foi segurar a porta e o homem a quebrou, a tia ta caída e não ta cordada.
  Ouço Adam dizer “vem meu netinho, precisamos sair daqui”.
  - Coloca o telefone no viva voz Gabriel. – ele colocou e eu gritei – ADAM! MANDA O JONNY ATENDER ESSA DROGA DESSE TELEFONE! – ouço um barulho e Gabriel chorar mais.
  - Mãe o homem caiu. – ouço outro barulho – a tia acordou. – Michele pega o celular.
  - Onde é essa mulher ?

  - É aqui. – eu gritei para que ela ouvisse. Estávamos em carros diferentes.
  Peguei Gabriel e comecei a andar para a cabana. Michele ficou no carro. Levei meu filho até a senhora que disse que ele não pode ser salvo, alguém deseja a morte dele.
  - Mas ele é só uma criança. – eu disse indignada.
  - O destino dele já foi traçado. – ela disse isso e a filha dela começou a gritar. Vejo Adam pelo lado de fora da cabana e saio correndo com Gabriel.
  Chego onde estavam nossos carros e estava morta. Vejo Adam se aproximar, tento pegar as chaves, mas não dá. Começo a correr pela floresta com Gabriel. De repente caímos e ficamos escondidos ali mesmo. Adam passa pelo lado e não nos ve. Começo a correr para o lado oposto ao que Adam foi. Gabriel começa a tossir e eu paro, de repente começa a sair terra de sua boca. Sinto alguém me segurar e sou arremessada para longe. Vejo Adam se aproximar de meu filho e tirar sua alma. Adam cai desacordado e depois de segundos me olha com um olhas de medo.
  - Mamãe? – ele fala com a voz parecida com a de Gabriel.
  - Sim?
  - A senhora ta machucada.
  - Não foi nada. Vem aqui. – eu abro os braços, ele levanta e me abraça.
  Começo a chorar, pensando no que tenho que fazer, mas infelizmente não tem outra solução. Começo a enforcar Adam com os braços, ele se debate, mas não dura muito. Depois de alguns segundos um vento forte passa pelo local. Eu me arrasto até o corpo de Gabriel e começo a chorar. De repente o sinto mexer a mão.
  - Filho? Filho. – eu o abraço forte. Não conseguia acreditar, consegui meu filho de volta. Mas infelizmente estava errada. Ele começa a cantar.
  - Tanan, tanan, tutu, tutu. Tanan, tanan, tutu, tutu...



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