Ho Ho Hopefully

Escrito por Effy Stanfield | Revisada por Lyra M.

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Capítulo Único

  Seis anos. Esse era o tempo que eu havia esperado por aquele momento e agora que ele estava prestes a acontecer, eu simplesmente não sabia como agir. Só de pensar no fato de que em poucos minutos eu a veria novamente, eu fico eufórico.
  Há seis anos, , minha melhor amiga e grande amor da minha vida, me abandonou e se mudou para Paris para estudar Moda. Não deixou nenhuma despedida ou explicação, somente pegou suas coisas e foi embora.
  Eu estava no meio da primeira turnê mundial da minha banda quando sua mãe me ligou desesperada dizendo que ela havia feito suas malas e partido. Pensei em ir atrás dela, porém meus amigos me convenceram de que talvez ela só precisasse de um pouco de espaço. Um espaço que durou seis longos anos.
  Após aquele dia, não tive mais coragem de passar o Natal em casa. Era seu feriado favorito e por nossas famílias serem vizinhas, consequentemente eram muito próximas – o que acabou nos tornando amigos e, depois, namorados –, e sempre comemoravam a data juntas. Mas sem ela não tinha brilho, não tinha cor, então eu sempre optava por realizar algum show beneficente ou algo do tipo.
  Era primeiro de dezembro, e eu havia acabado de fazer o último show no Brasil da nossa turnê pela América Latina quando soube que ela estava voltando, provocando que a chama de esperança se reacendesse em meu peito.
  Finalmente eu saberia o motivo de ela ter partido, mas, sinceramente, não tinha certeza se estava pronto para aquele reencontro. Foram anos gastos com o maior número de mulheres possíveis para tentar esquecê-la, contudo, foi em vão, pois eu sempre arrumava uma forma de voltar a pensar nela.
  Mal dormi nos últimos dias de tamanha ansiedade. Passei noites em claro imaginando e ensaiando o que dizer e, para completar, por pura empatia, me encarreguei de ir buscá-la no aeroporto. Hoje, vinte e cinco de Dezembro, devido à nevasca que caía em Londres durante semana, o voo de havia sido adiado para esta manhã. A senhora quase enlouqueceu achando que a filha não fosse chegar a tempo para o almoço de Natal, no entanto, felizmente a tranquilizei e me prontifiquei a ir buscá-la. Agora eu me encontro tão inquieto quanto uma formiga, parado frente ao portão de desembarque.
  Em poucos minutos avisto a figura esguia da menina caminhando sorridente em minha direção. Ela veste um sobretudo escuro e uma touca grossa, e seus cabelos estão mais escuros do que eu me lembrava. Ela continua linda, e seu sorriso ainda é encantador.   — Oi, ! — me envolve em um rápido abraço, que retribuo. — Não sabia que você viria!
  — É, bem... Seu irmão teve de ir buscar a namorada em outra cidade, e eu fiquei encarregado de vir buscar você.
  — Ah, muito obrigada! Sei como a cidade deve estar uma loucura hoje! Acho melhor irmos logo, porque se chegarmos atrasados para o famoso almoço de Natal da família , minha mãe me mata!
   ri e eu a acompanho, prontificando-me a carregar o seu carrinho com as malas até o estacionamento. Logo estávamos acomodados dentro do carro, partindo em direção ao nosso bairro. O silêncio paira no interior do veículo, e eu estou em um conflito interno sobre ligar o rádio ou tentar iniciar uma conversa para aliviar o clima.
  — Então... Como estava o Brasil? Ouvi dizer que você acabou de voltar de uma turnê por lá!
  — Caloroso em todos os sentidos. — emito uma risada. — E a França?
  — Fria e bela, assim como a Inglaterra. E banda, como está?
  — Estamos indo bem. Vamos lançar um álbum novo no começo do ano que vem!
  — Isso é ótimo! Fico feliz por vocês!
  Assinto com a cabeça e não pronunciamos mais nenhuma palavra. Ligo o rádio e, ironicamente, está tocando uma música de Natal que foi gravada uns anos atrás pela minha banda, fazendo com que ambos soltemos risadas.
  Pouco tempo depois, estamos parados frente à porta da residência da família , tocando a campainha. A senhora nos atende já se jogando nos braços da filha, aos prantos e lhe dizendo o quanto sentiu a sua falta. Seu pai ri da cena, mas também tem lágrimas nos olhos. é recebida por todos com abraços apertados e frases como: “você cresceu!” ou “Nossa, como está bonita!”, enquanto eu apenas observo o episódio de longe.
  Deixo as malas de em seu quarto, enquanto ela ajuda sua mãe na arrumação a mesa para o almoço. Entrar naquele cômodo de novo depois de tanto tempo me deixa nostálgico, ainda existem fotos nossas coladas no mural da parede.
  Em poucos minutos estamos todos sentados à mesa – não sei se propositalmente, mas meu lugar era ao lado de –, ao passo que a senhora e minha mãe servem os pratos.
  — Como vai a banda, rapazes? — O senhor pergunta.
  Olho para Jared, meu companheiro de palco e filho mais velho da família , que me olha de volta e dá de ombros, passando a responsabilidade para mim.
  — Estamos ótimos! Entraremos em turnê novamente em breve, para a divulgação do álbum que lançaremos no início do ano que vem.
  — Ter filho famoso dá nisso! Nunca está em casa e precisa de uma data especial para visitar a família! — minha mãe reclama, exalando indignação e arrancando risadas de todos à mesa. Sempre tão dramática.
  — Pelo menos você só tem um filho que vive longe! — a senhora rebate.
  De repente o silêncio se instala na mesa, fazendo com que uma atmosfera estanha paire no cômodo.
  — Hora de abrir os crackers! — tia Mary sugere e lhe agradeço mentalmente por finalmente quebrar a tensão.
  Cada um segura na extremidade de seu cracker, compartilhando a outra com quem está ao seu lado e criando uma grande corrente. Todos puxam a ponta do objeto ao mesmo tempo, causando um estouro e fazendo com que o seu conteúdo caia sobre a mesa.
  Em um impulso involuntário, alcanço a coroa de papel de , desdobro e posiciono sobre sua cabeça, como costumava fazer há anos atrás.
  Todos sentados à mesa param para admirar a cena; minha mãe nos olha como se fossemos o casal do ano, o que me deixa um tanto quanto constrangido.
  — Obrigada. — sussurra e sorri, retribuo o sorriso e assinto com a cabeça, retornando minha atenção para meu próprio brinde e vestindo minha coroa.
  Voltamos a comer em silêncio, sem mais perguntas ou situações constrangedoras, até a senhora anunciar que estava na hora da sobremesa e ir buscar o tão esperado pudim de Natal – que eu particularmente odeio, porém sempre adorou. A mulher caminha em direção à mesa com o doce em mãos, enquanto todos entoam a tradicional canção natalina.
  Após a sobremesa, distribui os presentes que comprou e explica o motivo de cada um. Pensei que não fosse ganhar nada, contudo, acabo recebendo um perfume francês caro e um suéter. Ela afirma que, por eu ser uma figura pública, devo estar sempre com boa aparência Me sinto mal por não ter nada para lhe dar, não sabia se ainda conhecia seus gostos, então resolvi que seria melhor não me arriscar. apenas sorri e diz que não tem problema, o importante é a minha presença ali.
  Em seguida, trocamos os presentes que ainda restam e as famílias se reunem na sala para assistir à maratona de Doctor Who e, posteriormente, ao tão aguardado pronunciamento da rainha Elizabeth.
  Dou uma desculpa, dizendo que estou me sentindo cansado e não vou ficar para o jantar. Minha mãe quase me mata com o olhar, porém eu prefiro isso a ter de passar por mais momentos constrangedores.
  Sigo para minha casa para pensar um pouco, pego meu violão e, incrivelmente, tive boa inspiração para compor.

  Era por volta das duas da manhã quando decidi sair da minha bolha e levantar da cama para me alimentar alguma coisa. Ao passar frente à janela do meu quarto, avisto sentada no grande sofá abaixo da sua, com uma taça de vinho em mãos. Automaticamente o sentimento de nostalgia me atinge. Eu ainda lembro claramente de todas as vezes que fugimos no meio da noite para o quarto um do outro, quando crianças e depois na adolescência, para conversar ou somente passar algum tempo juntos. Nossas janelas são de frente uma para a outra, e como em nossa vizinhança as casas são pequenas e muito próximas, apenas uma cerca nos separa.
  Ponho o suéter que ela havia me dado mais cedo e abro minha janela vagarosamente, chamando sua atenção. A garota sorri para mim e eu sorrio de volta.
  — Não está um pouco frio para ficar aí? — questiono.
  — Estou esperando o Papai Noel vir trazer o meu presente. — a garota dá de ombros.
  — Não ganhou o que queria?
  — Ainda não.
  — É, nem eu. — suspiro.
   ergue sua taça em minha direção, como se me oferecesse; faço gesto para que ela espere e passo minha perna sobre o parapeito da fenestra de meu quarto e pulo para o dela, sentando-me ao seu lado e apanhando o copo de sua mão.
  — É incrível como tudo continua exatamente como me recordo. Lembro daqueles anõezinhos horrorosos de minha mãe na frente da casa, e de como eu insistia todos os dias para medirmos nossas alturas ali — ela aponta para os traços ao lado da porta. —, para me certificar de que nunca ficaríamos como eles, mesmo você me dizendo que só é possível crescer. — a garota ri, fazendo-me acompanhá-la. — Lembro daquele balanço torto naquela árvore esquisita no quintal dos fundos, do qual já caí diversas vezes e perdi alguns dentes.
   mais parece estar pensando alto do que realmente conversando comigo, e não ouso interrompê-la. Depois de todos aqueles anos sem a sua presença, eu quero ouvir sua voz, quero saber o que ela tem para dizer e, acima de tudo, suas justificativas.
  — Lembro principalmente da primeira vez que você me fez pular essa janela. Eu estava aterrorizada, mas você me transmitiu segurança e me manteve tranquila. Mas sabe do que eu mais sinto falta? Mais do que minha casa, minha família, o lugar onde cresci? — balanço a cabeça, negando. — Meu melhor amigo!
  Sua resposta foi como um soco no peito; sinto o ar me faltar nos pulmões e respiro fundo, sentindo a brisa gélida entrar por minhas narinas. Encaro com olhos surpresos a menina à minha frente, que tem sua face enfeitada por um sorriso triste. Abro a boca para lhe responder, porém nada concreto sai dela.
  — Não sei por que estou dizendo tudo isso, você provavelmente me odeia!
  — Eu não te odeio. — respondo prontamente. — Quer dizer, eu passei alguns meses te odiando depois que você foi embora por puro egoísmo.
  — Egoísmo? Você acha que eu fui embora por isso? — ri, exalando indignação.
  — E pelo o que mais seria? Sei que não foi só pela Universidade, existem vários cursos de Moda tão bons ou até melhores que o de Paris por aqui! — respondo, exasperado.
  — Você quer mesmo saber o porquê de eu ter ido embora, ?
  — Sim. É tudo que eu mais quero há seis anos.
  — Eu engravidei, ok? — ela praticamente berra em minha cara.
  Fito seu rosto, totalmente sem reação. Ela estava grávida de mim?Eu tinha um filho?
  — Descobri a gravidez assim que você saiu para a tour. Eu fiquei apavorada!
  — E por que não me avisou? Eu poderia ter te apoiado!
  — Era exatamente esse o problema! Eu sabia que no momento que eu lhe contasse, você desistiria de tudo e viria o mais rápido possível me encontrar, e isso não seria justo com você, com a banda e com os fãs! Eu tinha dezoito anos, não estava pensando direito! Recebi a carta da faculdade e optei pelo mais fácil: fugir.
  Fico em silêncio por alguns instantes, tentando absorver toda aquela informação.
  — Nós temos um filho? — questiono, ainda desacreditado. — Onde está? Por que você n–
  — Não, não temos. — volta a encher a taça, saboreando o líquido. — Eu o perdi dois meses depois. Já havia começado a comprar roupinhas e tudo. Acredite, você foi a primeira pessoa para quem pensei ligar, mas decidi que seria totalmente inconveniente você receber uma ligação minha no meio da noite dizendo: “Ei, acabei de perder o bebê cuja existência você nunca soube e, aliás, foi o motivo pelo qual eu fugi!” — ri como se toda a situação fosse extremamente engraçada. — Não desejava para ninguém a dor que eu estava sentindo, era como se uma parte de mim tivesse sido arrancada e um buraco ficasse no lugar. Eu passei pelo inferno. Fiquei meses trancafiada em casa, chorando incessantemente. Entrei em depressão e até tentei me matar, se não fosse pelas minhas colegas de quarto, eu teria conseguido.
  Ouvir tudo aquilo faz minha garganta secar e meu coração apertar. Uma enorme vontade de abraçá-la como eu fazia quando éramos mais novos me atingiu, mas não o fiz; quero lhe dar seu espaço.
  — Agora eu sei que precisava passar por isso sozinha. Desde que nós éramos crianças, nunca tive minha própria identidade; era sempre e . Nós crescemos juntos, sonhamos juntos; eu era tão dependente da nossa relação, e isso não era saudável, sabe? Eu precisava desse tempo, precisava me descobrir. Hoje eu sei quem sou, sei o que quero, e pude investir no meu futuro. Sabia que, se voltasse para cá, isso não seria possível. Sabia também que caso tivéssemos qualquer contato, no instante em que eu ouvisse a sua voz, desmoronaria e desistiria na hora. Mas não houve um segundo sequer que eu não tenha pensado em você. Tudo o que aconteceu fez com que eu amadurecesse, me tornasse mais forte, destemida e determinada, porém sei que para me sentir totalmente realizada, preciso do seu perdão.
  — , eu...
  — Vou entender se você não quiser, só achei que valia a pena.
  — Eu já te perdoei há anos. Claro que fiquei magoado e te odiei por um tempo, o que me rendeu ótimas músicas. — rio, sendo acompanhado pela garota.
  — É, eu sei. Fui a um show da banda uns anos atrás, mas não tive coragem de me mostrar. Sempre acreditei no talento de vocês, merecem todo o sucesso que conseguiram.
  — Seu irmão Jared vai ficar chateado ao saber que você foi a um show e não falou com ele.
  — Ele vai sobreviver. — rimos novamente e balanço a cabeça em concordância.
  O silêncio se instala entre nós, contudo, não é constrangedor ou algo do tipo. É reconfortante, como se tudo finalmente estivesse resolvido. Ela tem um jeito de fazer tudo ficar bem. Volto minha atenção para a taça de vinho, degustando seu conteúdo.
  — Eu tentei te esquecer, juro que tentei, mas nunca consegui te tirar da minha cabeça. Estive com tantas mulheres durante esses anos, de diversos nomes, nacionalidades, estilos, cores de cabelo, porém você era a única que permanecia em meus pensamentos. E eu me odiava por isso, porque eu tinha tudo que eu queria, tinha dinheiro, tinha fama, minha banda tinha o reconhecimento que sonhávamos, mas nunca era suficiente.
  — Você parecia bastante feliz no instagram com a vida que levava.
  — A internet sempre nos faz parecer mais felizes do que realmente somos. — aponto. — Agora que finalmente sei o verdadeiro motivo de você ter ido embora, tudo que vivi parece ser tão superficial e insignificante...
  — Não se sinta mal por mim. O que vivi me fez crescer de uma maneira que nunca imaginei. Mesmo se eu pudesse voltar no tempo, não o faria. Há males que vêm para o bem. Fico feliz que não guarde mágoas de mim.
  — E como eu ficaria? Você foi minha melhor amiga e meu primeiro e grande amor, não posso simplesmente apagar isso. Eu entendo seus motivos, e não a julgo por isso. Acho que tudo está esclarecido entre nós. Amigos de novo? — lhe estendo a mão.
  A garota emite uma risada alta é divertida, causando meu semblante confuso.
  — Não esperei seis anos e passei quatro horas com a bunda sentada em um avião, do qual morro de medo, para nós sermos apenas amigos.
  — O que voc–
  Antes que eu fosse capaz de terminar a frase, os lábios de estão sobre os meus. Recupero-me do choque e seguro seu rosto entre minhas mãos, aprofundando o beijo. Eu havia esperado tanto tempo por aquilo que nem conseguia expressar a tamanha felicidade que sentia aquele momento. Nossas bocas pareciam ainda conhecer perfeitamente uma a outra, mantendo o ritmo intenso e duradouro.
  Alguns instantes depois, nos separamos em busca de ar, contudo, mantemos nossas testas unidas. Permaneço com os olhos cerrados, pois não quero correr o risco de abri-los e descobrir que tudo não passava de um sonho.
  — Recebi uma proposta para abrir uma marca de roupas e pensei: “Que lugar melhor para fazer isso senão minha cidade natal?”
  Em um sobressalto, encaro-a assustado, sem saber como reagir.
  — Então isso quer dizer que...
  — Eu voltei para ficar. Para sempre.
  A alegria que sinto nesse momento é tanta que não pude me conter em voltar a unir nossos lábios em um beijo eufórico. Minha língua explora seu gosto doce, como se fosse a última coisa que provaria na vida. Parece que eu voltei no tempo e sou um adolescente apaixonado de novo. Ela me faz sentir vivo por dentro.
  — Merda, quem colocou esse visco aqui? — brinco, apontando para o galho da planta preso à janela e provoco uma risada em . — Eu esperei tanto por isso, . Sem você minha vida não está completa.
  — Vamos deixar algo claro aqui: você não precisa de mim para ser completo, voltaremos a ser e como antes, porém sem toda aquela dependência, ok? Seremos felizes quando estivermos juntos ou não. — balanço a cabeça em concordância e sorri, dando-me um longo selinho. — Feliz Natal, . Eu te amo.
  — Feliz Natal, . Eu também te amo!
  Abraço seu corpo de lado e nos postamos a observar as estrelas e a neve caindo, como costumávamos fazer quando crianças. Uma luz brilhante transpassa o céu, bem parecida com uma estrela cadente. fica maravilhada, seus olhos brilham em uma mistura perfeita entre verde e azul, como as luzes natalinas, e ela diz para eu fazer um pedido. Apenas fecho os olhos e sorrio, sabendo que tinha tudo precisava e pedindo para, seja lá quem fosse que controlasse o nosso destino, fizesse com que, nos próximos anos, nós estivéssemos ali, exatamente onde deveríamos estar.

FIM



Comentários da autora


  Então... Eu queria muito escrever uma história clichê de Natal e esse especial me veio a calhar! hahaha. Fiz uma mistura doida entre The Maine e McFly e espero de coração que minha amiga secreta tenha gostado, apesar de não conhecê-la muito bem e não saber quais são os seus gostos. Feliz Natal!