Forest on Fire

Escrito por Forlly | Revisado por Mariana

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Chapter I

  Havia um homem ao lado de seu machado e sua lamparina, suas mãos marcadas e com algumas manchas, em consequência da exposição ao vento frio e cortante, contrastavam com seu semblante ranzinza em seu rosto fatigado e lábios secos expondo algumas feridas. Ele fitava com olhos cerrados ao longo da imensa floresta que era a vista dianteira de sua casa. Infinitas árvores sacolejantes de um verde escuro levemente mesclado com tons avermelhados de folhas queimadas pelo intenso frio daquela região. O norte da Europa intensamente frio, ainda possuía enormes e belas florestas, algo que poderia ser muito interessante para um lenhador. A região em que morava ficava no sul do país, tinha um quê de antiquada, porém, era um tanto quanto moderna. Então se levantou dali e começou a se distanciar de sua casa na floresta a caminho para a cidade, ele dava passos vagarosos e evitava olhar para as pessoas na rua, não distribuía bom dias e muito menos sorria para aqueles que ficavam o fitando. Ele simplesmente andava em direção ao açougue da cidade como se ninguém mais ao seu lado existisse. Normalmente seu trajeto pela cidade era o mesmo, saía de sua casa na floresta e caminhava tranquilamente até o açougue de seu velho amigo para comprar seu estoque de vinho, cerveja, destilados e carne para a semana. Algumas vezes ia até o bar se distrair e quando estava sem paciência para a conquista usufruia de prostitutas mais baratas e de falsa atuação.
   - Ei, velho , comecei a pensar que tinha esquecido o caminho para a cidade ou sido comido por algum lobo.
   - Suas graças são sempre um convite para vir para esses lados cada vez menos, meu caro. - disse o homem debochando e escorando-se no balcão.
   - Você é um dos meus melhores clientes, não acabe assim com o meu orçamento, eu preciso comprar presentes de natal para minhas crianças. Mas então, qual o pedido de hoje? - disse colocando um copinho no balcão e o enchendo com alguma bebida barata qualquer.
   - Estou necessitado de duas garrafas de vinho e álcool puro para minha lareira e me veja também um lombo gordo, quero comer feito um porco hoje.
   - Eu invejo essa sua vida de bebida, sexo e carne. Quem me dera não ser mais um pai casado, frustrado e com o avental sujo de sangue. Mas, aqui estáseu pedido, não merece ficar ouvindo minhas lamúrias. - ao ouvir isso, colocou a mão direita sobre o ombro de seu amigo e o fitou profundamente.
   - Cala essa merda de boca e pare de falar asneiras, crie juízo e continue trabalhando e mantendo sua casa como sempre fez, sem essa de se iludir que eu sou o homem mais foda e feliz de todos os tempos. Mas, antes de fechar o bico, me responde que diabos está havendo naquela igreja, estou vendo uma movimentação, gente andando pra lá e pra cá. Jesus voltou pra terra de novo e ninguém me avisou, é? - era um zombador nato e pouco crente nos poderes dos céus.
   - Quando o próprio Jesus Cristo te der um tiro de espingarda bem na sua fuça por essas piadinhas infames, quem sabe você pare de blasfemar, seu bastardo. – o açougueiro por outro lado era extremamente religioso - Bem, deixe-me te informar sobre o que estáacontecendo. Estamos recebendo um novo bispo na cidade, você sabe como são essas pessoas cheias de dinheiro, adoram bajular, ficar com falsidade e mesquinharia para o lado da igreja achando que vão todos para o céu. Eu juro que queria vender carne com vermes pra eles, pendurar carne podre nas portas de ouro deles e vender pratos feitos com os restos mortais de seus cachorros. Está todo mundo lá, fingindo que ama o bispo e se importa com ele. Eu que sou um fiel verdadeiro e dou meu santo dízimo todo mês, não fico fazendo essas porquisses. - era um tanto quanto revoltado com sua posição na cidade, era comerciante e com muito dinheiro, mas por trabalhar o dia inteiro e andar pela rua com um avental branco todo sujo de sangue e fedendo carne, não era respeitado por aqueles que tinham empregos um pouco mais nobres.
   - Não tem capacidade nem pra matar as baratas que rondam essa joça e fica querendo me enganar com essa conversinha mole toda macabra? Mas, você me deixou curioso, há anos não piso meus pés naquela igreja e queria dar uma conferida no que tem novo pelas redondezas. Quem sabe eu até consigo trocar uma palavrinha com o próprio Jesus Cristo, hm?
   - A hora que Jesus Cristo chegar na sua casa e enfiar esse lombo no seu rabo, você vai o respeitar. - não conseguiu evitar uma gargalhada alta perante tal comentário, pegou sua encomenda, a pagou e saiu do açougue ao som dos resmungos de seu amigo.

  Como pouco andava pela cidade, as pessoas ficavam meio chocadas com sua presença por ali, sempre que precisavam dele iam até sua casa no meio da floresta contratar seus serviços. Todos sabiam como encontrá-lo, só não tinham muita coragem para tal. era lenhador já há muitos anos e depois de prestar serviços para as mais ricas famílias da cidade, ficou conhecido pelas redondezas e sempre podia contar com clientes que mantinham sua rotina de bebedeiras e caça pela floresta. Além de lenhador, era um exímio caçador de lobos e no passado conseguiu uns bons trocados vendendo pele.
   Ele chegou em sua casa e logo acendeu seu forno à lenha e sua lareira. Fogo era necessário, mesmo em noites de verão. se despiu e ficou apenas de roupas íntimas andando por sua casa enquanto arrancava as garrafas de vinho dos sacos de papel. Já foi abrindo uma e virando da garrafa mesmo, sem se importar com regras babacas de higiene e etiqueta. O líquido de cor rubra corria por seus lábios carnudos e terminava de escorrer pela barba mal feita, que o deixava com uma expressão mais máscula do que as mulheres daquela cidade podiam resistir. era um homem quieto, concentrado em seu serviço e com um ar de mistério bem intenso, que não permitia que os habitantes dali soubessem muito sobre sua vida. Isso muito interessava as mulheres casadas, que amavam rolar pela folhagem seca de seu quintal com aquele homem de braços fortes e pegada violenta. era sedutor e sabia muito bem o que fazer com criaturas de seios e pernas fartas.
   Depois de sentar em sua mesa, ainda apenas de cueca, ele comia seu lombo bem assado com as próprias mãos e pouco se fodia com o vinho caindo no chão e o deixando manchado, ele não estava com paciência para boas maneiras. Depois de terminar de comer, pegou a água que tinha deixado esquentando em seu fogão à lenha e encheu sua banheira feita por suas próprias mãos com o líquido fervente e ali entrou, sentindo seus músculos definidos relaxarem com a água quente. havia resolvido ir até a igreja e brincar um pouco com o novo bispo, gostava de causar um pouco de desconforto naqueles que entregavam sua vida à Deus. Sua fé no Senhor acabou por enfraquecer com o passar do tempo em sua vida. Conforme o tempo ali na banheira fora passando, as mãos de tinham acabado de ensaboar seu corpo e ele sentiu uma leve presença se manifestando entre suas pernas enquanto o lavava. Uma masturbada descontraída parecia propícia para a hora, isso o deixaria de mais bom humor para voltar para a cidade. Seus dedos foram deixando de lavar seu membro para o acariciá-lo e suas mãos começaram a fazer aquele conhecido e prazeroso movimento de sobe e desce, logo ele pode sentir seu membro pulsando em sua mão, com as veias saltadas e a cabeça entumecida. Ele se contorcia em seu próprio prazer e depois de atingir seu ápice, sentiu-se mais pronto do que nunca para ir à igreja averiguar o novo enviado de Deus.
   - É, meu companheiro, acho que já fomos batizados e agora podemos ir ver Jesus Cristo. - debochou conversando com seu próprio membro e foi em direção ao armário procurar por suas roupas. Vestiu uma calça de tecido grosso preto, calçou seu coturno que ia até a metade de sua canela, o amarrou e por fim, cobriu seu abdome definido pelas suas machadadas incessantes com uma camiseta de algodão de cor branca e uma camisa pesada com uma estampa xadrez preta e vermelha desgastada. Para não fugir de seu habitual traje, colocou seu charmoso chapéu de guaxinim e saiu de sua casa para ir até a igreja.

Quando foi chegando aos arredores da igreja, percebeu uma grande agitação e pessoas falando alto, estavam todos do lado de fora da catedral, o que indicava que a missa já havia acabado. A única catedral dali ficava em uma parte mais alta da cidade, que podia ser acessada por um caminho de pedras que levava até um rochedo bem ao alto, segundo os construtores da igreja, essa localização a colocaria mais perto de Deus. Ao lado de igreja havia uma casinha de abrigo aos pobres e mais ou menos há uns cem metros, encontrava-se um penhasco que dava para o mar violento de águas extremamente geladas. foi aos poucos se aproximando das pessoas que aos poucos começaram a o olhar com curiosidade, muitos os conheciam e outros não faziam ideia de quem era aquele homem, ele tinha alguns amigos por ali, que o conheciam bem o suficiente para saber que ele aparecia quando queria e não dava satisfação do que fazia da sua vida. foi se aproximando e logo pode avistar o homem que sem sombra de dúvidas era o novo bispo que estava causando tanto alvoroço naquela noite.
   Ele não era um homem que gostava de aparecer, ser o centro das atenções, o referencial para todos os olhos. Realmente não era algo o qual ele procurava. Ainda mais naquele lugar, naquela Igreja a qual não frequentava há anos. O lenhador tivera um problema com Deus quando mais novo e apesar de terem recuperado em partes a amizade, ele ainda preferia estar distante. Entretanto, o homem não podia escapar de ser notado por alguns. Quando aparecia na cidade acabava por receber atenção, pois, era um mistério para todos. Eis que um dos importantes da cidade precisava de seus serviços e não perdera a oportunidade de ir até , encontrá-lo não era fácil.
   - Olá. - Theodor estendeu a mão, sorridente e simpático, como sempre.
   - Boa noite, Theodor. Em que posso ajudá-lo?
   - Pois bem, , estou precisando de um de seus serviços lá na minha humilde casa. Você é muito eficiente no que faz, eu admiro isso. - estava precisando de uns trocados, suas economias já estavam no fim e ele precisava de vinho correndo suas veias.
   - Obrigado pelo elogio, você é um homem respeitável e gosto disso, será um prazer trabalhar em sua casa. Mas do que se trata o serviço em si?
   - Minha esposa quer construir um deck na parte de fora de casa e dar uma reformada na parte de madeira de nossa adega e minha filha quer umas prateleiras para o quarto dela. Podemos nos ver na segunda para fazer o orçamento e já iniciar o serviço?
   - Mas é claro, pode esperar por mim, estarei lá. Agradecido.
   - Não há de quê, . - os dois deram um cumprimento de mão e sorriram um para o outro, Theodor voltou para o lado de sua família e amigos, enquanto Fitrzroy dava o último gole em seu conhaque

xx

  Acordei pela manhã com alguns raios de sol indesejáveis atravessando minhas pálpebras fechadas, eu simplesmente odiava acordar depois de uma noite regada a álcool. Minha cabeça sempre ficava mais pesada que o corpo, eu mal podia abrir meus olhos sem sentir uma dor insuportável e uma vontade de dormir pelos próximos mil anos. Porém, eu tinha um compromisso e como há tempos eu não fazia nenhum serviço grande, minha carteira estava meio vazia. Não cogitava em hipótese algum viver sem minhas garrafas de álcool e meus pedaços de carne assada, além disso, minha espingarda de caça estava precisando de uns cuidados. Theodor era um bom homem, conhecido na cidade pela sua boa índole e tinha digamos, um certo glamour por ser de uma das mais famosas famílias da região. A região da Europa que morava ainda vivia os velhos costumes, sem muitas agitações, cidade pequena cheia de fofoqueiros e famílias de tradiçãos. Eu era o único lenhador da região e as famílias se recusavam a comprar móveis em lojas de departamento. Eles davam muito valor para o meu serviço feito à mão, era muito mais classudo e elegante e quem agradecia por esse luxo, era eu.
   Levantei da cama com muito custo e fui direto para o meu banheiro, queria um banho quente com a água queimando a pele, mas, como estava com preguiça de aquecer água para meuu ofuro, aproveitei meu chuveiro. Apesar de morar em uma casa de madeira toda artesanal e com fogão à lenha, eu tinha um chuveiro com água quente e energia elétrica. Afinal era a Europa, certo? Podia ser no sul da Suécia, mas não deixava de ser uma classuda cidade da Europa. Depois de me banhar, coloquei uma roupa qualquer que estava pendurada na minha cadeira e sai de casa. Depois de uma meia hora de caminhada, cheguei na cidade, porém ainda era cedo. Resolvi passar no açougue do meu velho companheiro de guerra, . Ele era um resmungão, infeliz com a vida e seu serviço, mas não teve muita opção quando seu pai morreu e o deixou com dívidas e apenas aquele açougue como herança. Ele se casou, teve filhos, mas não se sentia realizado e eu gostava de alegrar um pouco seus dias.
   - Carl, tem cliente aqui na frente.
   - Você? Tá mais pra visita indesejada. - disse ele, chegando ao balcão e me mandando um dedo do meio.
   - Que falta de educação pra um começo de dia, , dormiu num colchão de espinhos, hein?
   - Eu tentei cara, eu tentei a madrugada inteira, mas ela não quis, simplesmente não quis. Eu não sei mais o que fazer. - ele me puxou pelo braço e grudou em meu colarinho me erguendo levemente do chão - Simplesmente não tem jeito mais.
   - Me solta e explica que porra que tá acontecendo, você tá bêbado uma hora dessas? Tá pior que eu seu vagabundo.
   - Chega mais pertinho, eu não quero que ninguém ouça, mas eu acho que minha mulher está me traindo, ela não faz mais "aquilo" comigo.
   - Ela não trepa mais, é isso? - ele me olhou com uma expressão feia.
   - Fala baixo filho da puta, quer que toda a cidade fique sabendo? Que diabo.
   - Seu paranóico, para de frescura no rabo, quem sabe se você se deitar na cama sem cheiro de sangue de boi, sua mulher abra as pernas.
   - Se retira daqui vai, some da minha frente.
   - Você é uma piada, , minha piada preferida - disse rindo para meu amigo que riu em deboche comigo - Eu tenho um orçamento para ir fazer, dou um pulo aqui depois.
   - Vai com o diabo!
   - Amém. - e sai em caminho para a casa dos .

  Cheguei em frente a residência deles e fiquei por um momento admirando aquele belo pedaço de imóvel que estava na minha frente. Era uma casa muito bela e enorme, de uma decoração impecável. Ela tinha um jardim cheio de plantas, grama verde e uma daquelas fontes em que um anjo jorra água pelo pinto. Toquei a campainha e logo uma velha senhora que deveria ser a governanta veio me atender. Me chamou para adentrar a sala e ainda disse que Theodor logo me receberia. Entrei naquele pedaço de luxúria e fiquei observando os belos móveis e a televisão enorme de mais de 50 polegadas, uma mistura de classicismo com tecnologia. A senhora me serviu um café e eu fiquei andando pela enorme sala em estilo loft enrolando. Logo ouvi alguns passos descendo a escada e ao subir meu olhar encarei um belo par de pernas. Olhei um pouco mais para cima e pude deslumbrar uma distinta mulher que muito provavelmente era a dona da casa. Ah sim, Irina era o nome dela. Me lembrava dela ainda da época em que éramos crianças. Seus seios acompanhavam o movimento do tronco coberto por uma camisa de seda azul mal abotoada. O quadril largo e carnudo era muito bem marcado pela saia preta de cintura alta que terminava não muito acima do meio de suas coxas. Era uma bela visão, mas não era realmente o tipo de mulher que me atraia.
   - Bom dia, senhor , fico feliz que tenha aceitado nosso pedido, é muito difícil arrumar pessoas que ainda façam verdadeiros móveis de madeira e eu preciso de um deck formidável.
   - Primeiramente, pode dispensar o senhor, por favor. Ainda sou um pouco jovem. - nós dois rimos e nos encaramos, aquela mulher estava com um ar safado não muito adequado.
   - Você vai ficar muitos dias trabalhando por aqui, tenho que sair agora, mas, nos veremos com frequência. - ela me encarou com um pouco de perversidade e passou por mim roçando seu quadril - Meu marido logo irá descer. - despediu-se demoradamente e saiu casa à fora
   Não se passaram cinco minutos até Theodor aparecer descendo as escadas, vestido de um modo mais simplório e vindo em minha direção.
   - Hey , ainda bem que veio. Estava com medo que ontem tivesse sido o álcool que o fez aceitar meu serviço.
   - Eu ando precisando de dinheiro Theodor, não rejeitaria um serviço assim por pura graça, meus bolsos andam meio vazios.
   - O preço do vinho andou subindo, hm? - ele zombou.
   - O preço do vinho continua o mesmo. A carne não e nem as mulheres. – prostitutas eram uma prática feita de vez em quando - Umas bocetinhas não eram assim a preço de ouro antes.
   - Ah, mas eu sei como é isso, ah como eu sei. Outro dia andei pelos lados da Rússia para visitar uns sócios e meu amigo, estava mais barato comprar uma casa de ouro do que pagar por uma trepada de qualidade.
   - Valeu a pena o investimento?
   - Eu não poderia responder. – Theodor me olhou sugestivo e sorriu.
   - Sua esposa desconfia dessas coisas? - perguntei curioso.
   - Eu não disse que a trai, só falei do preço da coisa. - nós dois nos olhamos e trocamos um sorriso safado. Apesar da graça, logo nos recompomos e fomos tratar de negócios.
   O dono da residência me levou até o lado de fora da casa e me mostrou onde queria construir o deck, era uma área próxima da cozinha e serviria para receber as visitas nas festas de fim de ano. Depois de ver essa área, partimos para uma parte subterrânea da casa onde ficava a adega. Fiquei em excitação perto de tantas garrafas de vinho muito mais caras e nobres do que as que eu bebia. A culpa nessa história era minha, claro. Quando meu pai se mudou da cidade, por pura teimosia, rejeitei sua ajuda financeira por questão de orgulho e me contentava com o que meu dinheiro podia comprar.
   Também vimos o serviço que ele desejava por ali e finalmente fomos para a última parte do orçamento. Subimos as escadas e caminhamos até o final do corredor, onde ele abriu uma porta branca e adentramos em um cômodo. Logo percebi que o quarto de sua filha, graças a decoração. Fiquei imaginando que uma garotinha de no máximos uns 15 anos deveria dormir ali, aquele casal não parecia ter uma filha mais velha que isso. Nós conversamos um pouco analisando o cômodo, medimos a parede. Fiz um pequeno projeto em desenho para mostrar como tudo mais ou menos ficaria. Finalmente passei meu preço e fechamos o negócio.
   Eu tinha o suficiente para poder ficar bêbado por muitos dias seguidos. Eu e ele demos um aperto de mão para selar o acordo e fomos descendo as escadas conversando algumas trivialidades. Assim que chegamos ao degrau final, escutamos um barulho de porta sendo aberta e meus olhos foram guiados para baixo. Eis que me deparei com uma menina. Porém, não de 15 anos, sim com alguns perigosos anos a mais. O que a mãe pareceu não ter, a filha esbanjava. Encarei seu rostino sorridente e não pude parar de encarar.
   - Olá pai, voltei mais cedo da aula hoje, o professor de álgebra teve um compromisso surpresa.
   - Tudo bem, filha, assim você tem um tempo para descansar. Então esse é o homem que lhe falei que viria até aqui fazer nossos projetos. Ele é , o lenhador. - eu pude analisar aquela garotinha com um pouco mais de atenção e tenho que admitir que ela poderia dar volume nas minhas calças. O jeito doce e distraído de caminhar, a ingenuidade no olhar. A combinação dos detalhes dela me deixaram com a cabeça fraca.
   - Bom dia, senhor , meu pai estava falando muito bem do seu trabalho. Prazer, me chamo . - ela me olhou sorridente e caminhou até mim para apertar minhas mãos. A garota era dona um olhar e comportamento tão angelical que fizeram eu me sentir feito um verdadeiro pecador de merda por cogitar perversidades.
   - Olá , a gente vai se encontrar por aqui nas próximas semanas então queria pedir um favor. Pelo amor de Deus, não me chame de senhor, eu não consigo ser tratado feito velho. - ela e seu pai olharam para mim rindo.
   - Tudo bem, , foi só um sinal de respeito, mas eu prometo lhe tratar como um jovem homem. Bem, se vocês me dão licença, vou até a cozinha comer alguma coisinha. Até mais. - ela saiu saltitante com o fichário em seus braços e foi em direção à cozinha. Não pude deixar de reparar no jeito como seus quadris iam de um lado para o outro.
   Assim que finalizei meu compromisso do dia rumei para açougue, meu velho companheiro precisava de mim para provocá-lo um pouco. era minha rocha, eu o amava demais. Era como um irmão para mim. Meus dias não eram completos sem ele resmungando e me xingando.
   - E aí, cortador de galho, conseguiu o serviço?
   - Sim, meu caro, muita embriaguez para nós, é tudo que eu consigo pensar.
   - Eu aqui levando chifre e você aí, com esse papinho fútil de ficar bêbado. Seja um pouco mais compassivo, por favor, eu estou numa fase difícil e você não está me apoiando.
   - E o que você quer que eu faça? Que eu transe com você ou que eu coma sua mulher pra saber qual que é o problema? - ele me olhou revoltadinho, revirando os olhos.
   - Sinceramente, você é revoltante. Ganharia fácil o nobel de pior amizade da humanidade com kilômetros de vantagem. Só não te corto em pedaços pra vender aqui, porque nem mosca vai querer essa carne podre que você tem.
   - Pra que isso, meu Deus? Por que você faz essas coisas? Sua mulher deve ser a pessoa mais inocente nessa história e você aí, acusando ela sem prova nenhuma.
   - Sem prova nenhuma? O fato dela me recusar já não diz muita coisa?
   - Já parou pra pensar que você fede mais que uma vaca em decomposição, se fosse casado com um urubu, quem sabe a estratégia funcionaria?
   - Cala a boca antes que eu corte sua língua fora. - eu o olhei fazendo biquinho e ele me tacou um guardanapo fedorento, ri daquela merda toda e pedi uma dosesinha de conhaque costumeira.
   - Hein, ficou sabendo da mais nova da cidade?
   - Qual? - perguntei franzindo a sobrancelha.
   - O tal do bispo novo, resolveu mandar todos os padres embora daqui, está recrutando uma nova galera, tem umas carolas bem revoltadas blasfemando por aí.
   - Por qual motivo do diabo você acha que esse tipo de notícia mequetrefe me interessa?
   - Quer saber, vai pra casa do diabo no inferno, seu ridículo.
   - Vai me ofender me chamando de ridículo, é isso mesmo? - eu não podia evitar rir alto daquela mula.
   - É, é isso mesmo, não gostou? Reclama pro Papa, eu estou sem paciência.
   - Eu te amo, , me dá um abraço.
   - Sai de perto de mim, eu te mato, seu zé caralho.
   - Mas sério, essa coisa toda de padre me lembrou duma coisa, preciso fazer um telefonema.
   - O que suas putinhas tem a ver com os padres?
   - Pare de me julgar, vou ligar para um amigo. - me olhou meio confuso, sem atender aquilo tudo.
   Eu tinha um melhor amigo na época da escola, nós éramos completamente grudados e fazia muito tempo que não o via. Quando nos formamos, eu não me lembro muito bem o porquê, ele resolveu ir para um mosteiro virar padre. Senão me engano foi por causa de uma garota que o tinha traído bonito, daquelas que bebem em uma festa e acabam nuas no meio de um monte de caras gozando pra lá e pra cá. Ele tinha ido para a Itália. Na última vez que conversamos, ele me disse que estava no interior do país fazendo alguma coisa que não lembro o que era. Não sabia se estava lá ainda, alguns meses tinham passado e eu precisava mais que tudo falar com ele e chamá-lo de novo para a velha terra. Nem que fosse para tê-lo como padre ao meu lado. Abri minha carteira e saquei uma tira de papel amassada. Em preto estava o nome do padre e seu telefone.
   - Quem é ? - perguntou o açougueiro pegando o papel em mãos.
   - A curiosidade matou o gato, .
   - Babaca!
   - Empresta essa droga de telefone que eu vou ligar para ele, daí você vai entender.
   Peguei o telefone de . A anotação ali feita era do último número que ele havia me passado. Disquei o mesmo e perguntei por . O homem do outro lado da linha me comunicou que ele não se encontrava mais ali, que havia mudado para Roma e estava em treinamento no Vaticano. Para minha surpresa, o mesmo homem me passou o número atual. A brincadeira durou cerca de meia hora e quando eu estava no fim da pacência, escutei aquela voz tão conhecida e amada. pareceu muito animado em falar comigo. Expliquei para ele toda a situação e o mesmo me jurou de pé juntos, que pegaria o próximo voo para a cidade e se apresentaria ao bispo com uma carta de recomendação do próprio vaticano. Eu finalmente teria meu velho de volta à ação comigo, nem que fosse para comer a hóstia.

xx

  E então mais um dia se passou. Acordei ainda cedo para ir para o meu primeiro dia de trabalho. Não era necessário chegar lá às sete da manhã, além de ser desumano, os não eram muito preocupados com essa burocracia chata de que "quem cedo madruga, Deus ajuda" ou algo do tipo.
   Quando cheguei na residência a governanta estava me esperando na porta. A mesma me disse que os donos da casa tinham saído e que a filha estava na escola, mas que tinham deixado uma mesa de café da manhã preparada para mim. Adentrei-me pela cozinha e parecia que um banquete real estava à minha frente. Jarras de suco de laranja, leite, chocolate em pó, bolo, pães e... cerveja. Sim, cerveja. Patrões como esse, nunca mais arranjaria na minha vida. Me sentei à mesa e comecei a beliscar uma coisa aqui e outra ali. Abri a garrafa de cerveja sem cerimônia e quase a tomei em um único gole. Convidei a governanta para se juntar a mim e nós ficamos conversando sobre como a música dos anos 80 era melhor que a atual. Theodor logo chegou para que eu pudesse enfim trabalhar.
   - Aqui estão suas ferramentas, conforme havia me pedido, fique à vontade, a casa é sua.
   Eu tinha um companheiro que era dono de uma F250 que trazia as lenhas já cortadas para mim, normalmente eu já deixava uma determinada quantia de reserva para que não fosse preciso passar dias e noites derrubando árvores. Enquanto isso, me preocupei em organizar as ferramentas e minhas ideias. Precisava traçar um plano mental de como eu iria distribuir a madeira. Ainda era preciso envernizá-las e isso demoraria uns dois dias, ou seja, seria um trabalho meio longo. Eu estava por lá, distraído esperando meu funcionário chegar. Seus atrasos eram costumeiros graças às noites perdidas em boates. Sim, a cidade possuía boates e eu não podia impedí-lo de ir, então, tudo que eu podia fazer era sentar e esperar.
   Eu estava brincando com alguns pregos até sentir uma presença se aproximando. Imaginei que fosse Wilda, a governanta, mas tal fora minha surpresa.
   - Olá senhor , tudo bem? - irrompeu o silêncio sorrindo para mim. Ela vestia uma roupa que definitivamente não era seu uniforme. Estava muito mais para uma camisola de estampa de zebra. Garotinha, não era certo fazer isso com meu cérebro. As mãos para trás e o cabelo preso em um rabo de cavalo me cativaram.
   - Lembra sobre o que eu falei sobre essa história de senhor aí? - ela olhou para mim e sorriu sem jeito.
   - Me desculpe, foi a força do hábito em respeitar as pessoas, meus pais são meio paranoicos comigo.
   - Isso funciona mais com aqueles nobres ricos. Não sou um adolescente, mas também não sou um idoso. Prefiro ser tratado como "você".
   - Desculpa, de verdade, isso não se repete mais, você vai ver.
   - Gostei de ver. - nós trocamos sorrisos e ela olhou meio sem graça para o chão.
   - Wilda me disse que estava na escola. – para evitar contato, virei rosto para o lado e finge que procurava por alguma ferramenta. - Eu até cheguei a descer vestida de uniforme, mas... – corou por um momento como se tivesse aprontado algo –... Meu pai me deixou ficar em casa hoje. Ela era extremamente "lindinha" por mais chulo que isso possa parecer, com traços de menina se misturando com algumas curvas de mulher. era o tipo de garota que despertaria tesão em mim de uma maneira bem fácil, não fosse sua maldita expressão de santidade. Ela me parecia muito angelical e tímida, me sentia meio culpado por querer profaná-la. Nós ficamos conversando um pouco sobre as coisas e aproveitei para perguntar como eram as tais prateleiras que ela queria em seu quarto. Ela me contou que queria mudar a decoração por lá, já que o quarto parecia mais um reduto de uma menininha de 12 anos de idade. Fui obrigado a concordar com tal afirmação. A conversa fluia calmamente, estávamos começando a nos conhecer melhor. Tudo tornou-se menos interessante quando Irina chegou perto de nós e educadamente interrompeu nossa conversa. A mais velha disse que precisava me passar umas instruções e pediu licença para a filha. se levantou tomando cuidado em manter a camisola tampando as partes críticas de seu corpo e se foi. Antes de atravessar a porta da cozinha, deu uma viradinha de leve e me mandou um tchauzinho. Eu apenas ri para ela. Aquela garota não poderia ocupar muito espaço no meu cérebro.
   - Pois então, sobre o que a senhora gostaria de falar? - aquilo cheirava à estratégia de gente safada, mas eu resolvi ver até onde tudo aquilo poderia parar.
   - Eu queria que me acompanhasse até a adega para que possa te contar alguns detalhes e explicar algumas coisas. - eu assenti com a cabeça. Atravessamos a cozinha e chegamos na sala de jantar, que possuía uma escada que levava para a tal parte subterrânea da casa onde se encontrava a adega. Irina foi descendo as escadas vagarosamente. Algumas vezes olhava para trás sorrindo pervertida para mim. Finalmente descemos todos aqueles degraus e me deparei novamente com o paraíso, várias e várias e várias garrafas de vinho ali na minha frente, tão seduzentes e atraentes.
   - Pelo o que percebi, você tem uma paixão por vinhos, .
   - Eu e essas pequenas garrafas cheias do néctar dos deuses temos um forte relacionamento. - ela riu da minha piadinha barata e foi se aproximando. Subiu um pouco seu vestido grudado nas coxas para aumentar o charme.
   - Eu também sou apaixonada por vinhos, principalmente os com sabores amadeirados. - eu não pude evitar um pequeno sorrisinho de deboche, ela simplesmente estava dando em cima de mim sem vergonha alguma. Pobre marido. Cruzei meus braços e me escorei em um barril que estava atrás de mim. Para falar bem a verdade eu não estava muito tentado em ceder aos seus encantos. A filha era realmente quem eu desejava.
   - E afinal, a senhora me trouxe aqui para quê? - ela me fitou com os lábios entre os dentes e se aproximou. As mãos furtivas, as pernas trançando nas minhas.
   - Nenhuma ideia, senhor ? - perguntou, pondo os braços em meu pescoço. Olhei para ela de uma forma que tentava mostrar minha falta de interesse. Mesmo assim a mulher insistiu.
   - Para beber vinho que não foi, estou certo? - ela apenas arqueou a sobrancelha e me olhou profundamente antes de aproximar seus lábios dos meus. Apesar de todo o corpo bem definido, cheio de carnes e da conversinha safada, ela não era exatamente o tipo que conseguia me fazer perder a razão. Eu não a queria. Sentia falta de alguma coisa. A boca dela na minha não surtiu efeito. E foi então, que um barulho vindo da parte de cima a assustou, prontamente me soltou evitando um problema maior.
   - Melhor você se ajeitar primeiro e logo eu subo. - Apenas consenti com a cabeça. Desamassei a camisa enquanto subia as escadas. O primeiro dia de serviço não era o melhor dia para ser pego se atracando com a mulher do patrão.

xx

  Meu pai cumpriu a promessa de me deixar faltar na escola. Eu poderia ficar em casa, morrer de comer sorvete assistindo seriados pela madrugada e dar umas voltas. Há muito tempo não ia até a praia, apenas olhar o mar batendo com violência nas pedras. Pensar na nova decoração do quarto também estava nos planos.
   Estava cansada daquele conto de fadas que parecia o cômodo, eu queria algo mais adulto. Claro que cheio das minhas frescuras, mas com cara de gente adulta e não de pirralha. Procurei algumas coisas na internet e achei tudo que eu mais queria na minha vida. Comecei dizendo para meus pais que só queria novas prateleiras para os meus livros, mas isso era só uma desculpa pra mudar todo o meu quarto. Para isso meu pai tinha contratado o lenhador da cidade, ele cortava sua própria madeira e fazia os móveis todos a mão com seu sócio. O que os deixava muito mais interessantes e bem feitos. Gostei da ideia de poder fazer as coisas do meu jeito.
   A única coisa que meu pai não tinha me contado era que o tal do lenhador não era um homem asqueroso e sujo como eu pensava. Muito pelo contrário, ele era delicioso dentro do clichê camisa xadrez preta e veremlha. A barba por fazer, os braços fortes, os ombros largos e aquela boquinha carnudinha estava me fazendo querer muito mais que meros móveis dele. Mas eu não podia sair sensualizando pela casa, meus pais eram crentes de que eu era uma jovem menininha de 17 anos, exalando inocência. Mesmo sendo quieta e até um pouco ingênua, existia uma menina safadinha dentro de mim. Cansada de ficar no quarto, resolvi descer para comer alguma coisa e me distrair por lá. Na escada encontrei Wilda, a nossa governanta. Ela não sabia que estava em casa e me olhou meio assustada pedindo explicações. Expliquei a situação a ela que logo ficou desesperada pra arrumar meu café da manhã. Wilda era um amor, ela sabia ser muito melhor que a perdida da minha mãe. Prontamente disse que ela não precisava se incomodar, afinal eu conseguia arrumar meu próprio café sozinha. Desci as escadas cantarolando. Ao chegar ao piso inferior fui em direção à cozinha, abri a geladeira e peguei um pote de iogurte e um pedaço de bolo de laranja. Me entupi com aquilo. Era simplesmente meu café da manhã preferido. Então eu olhei para fora e vi o que tal estava lá, sentado com algumas ferramentas na mão. Fiquei analisando aquele homem tão homem. Ele tinha uma coisa que me interessava muito, expressões másculas. O lenhador não tinha aquela cara de moleque preocupado com coisas banais, não, ele era diferente. Muito forte. Possuía um tronco largo que não ficava muito marcado pelo fato de estar com uma camiseta um pouco grande em seu corpo. Ele atiçava minha curiosidade.
   Resolvi ir conversar com ele, não custava tentar. Entretanto, digamos que fora um pouco desastroso. Acabei várias vezes sorrindo feito uma besta olhando para ele sem saber o que dizer. Eu era um verdadeiro fracasso quando queria demonstrar interesse por homens. Depois de um tempo jogando conversa fora, literalmente, minha mãe apareceu e disse que precisava falar com ele.
   Bufei internamente e me levantei pedindo licença. Entrei em casa e fui para sala de televisão. Procurei por algo interessante, nada. Porém, para minha surpresa, minha atenção fora tirada da TV. Vi aqueles dois passando pela sala de jantar e indo em direção à escada que levava até a adega. Aquilo me deixou com as orelhas meio em pé, não sei muito bem dizer a razão, mas eu estava sentindo que eles iam fazer coisas que não deveriam lá embaixo. Minha curiosidade foi maior que o medo deles me verem e eu fui sorrateiramente segui-los. Desci a escada bem devagarinho na ponta dos pés e parei em um lugar estratégico para que eu pudesse observá-los sem que eles me vissem. Eles ficaram um tempo por lá, falando algumas coisas idiotas e nada parecia estar prestes a acontecer. Acabei perdendo a graça, comecei a me sentir uma idiota por achar que eles fariam algo e estava quase subindo de volta. Até que vi minha mãe sensualizando para o lado dele. Minha mãe não prestava, realmente. Ficaram um colado no outro. Me senti extremamente chocada, nunca imaginei minha mãe fazendo aquele tipo de coisa. Uma certa revolta tomou conta de mim. Minha mãe sempre vinha até mim com um papinho de santidade. Ela era ótima em implicar com o fato de eu namorar. Mas, quem diria. Irina não era uma santa. Afinal, ela era casada e. modéstia a parte, meu pai era um baita homem bonitão e charmoso.
   Nessa minha epifania momentânea acabei batendo meu cotovelo no corrimão e fiz um barulho mais alto do que deveria. Os dois interromperam aquela sujeira e olharam para cima. Sai correndo desesperada para que eles não me vissem e subi numa velocidade incrível. Entrei no meu quarto, tranquei a porta e fiquei ofegante na porta. Se eles tivessem me visto, eu estaria bem ferrada.

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  Meu primeiro dia de serviço na casa de Theodor tinha terminado. Estava bem cansado, fazia algum tempo que não tinha que envernizar madeira, bater pregos, cortar madeira e essas coisas. Depois de sair de lá resolvi passar no açougue para tomar umas na Taverna da Coruja com . Um barzinho descolado da cidade. Ele era moderno, porém rústico e muito bem decorado. Como eu havia trabalhado na construção por ali, o pessoal sempre me dava umas cortesias. Então não era de todo ruim beber umas por lá.
   Atravessei a rua e fui me aproximando do açougue até que pude ver uma cena um tanto quanto bizarra. estava sentado na calçada, chorando e limpando as lágrimas com aquele avental nojento todo cheio de sangue. Me aproximei dele e o levantei, ele nem falou nada, só caiu por cima de mim chorando feito criança. Não estava entendendo muito bem toda aquela dramaticidade, mas suspeitei que aquilo significava que sua esposa realmente o estava traindo.
   - Ei, eu vim aqui te chamar pra tomar umas comigo e não é porque você tá aí chorando feito um bebê que eu vou mudar de ideia, ok? Vem comigo.
   - Não, eu perdi a razão de viver. Não quero tomar nada, eu vou me matar. Eu... eu... eu vou enfiar a faca de cortar bife em mim e acabar com essa desgraça.
   - Porra, ! Se comporte feito homem. - ele olhou para mim todo assustado e logo desmanchou a cara de choro. Vi a transformação em seu semblante, logo ele me fitou irritado.
   - Vai à merda, seu pau de bosta.
   - Esse é o que eu conheço. Vem, vamos lá na Coruja, eu te pago um copo de leite enquanto você me conta o que aconteceu.
   Nós fomos caminhando até lá, Carl vomitando toda a história na minha cara. Resolvi deixá-lo falar e falar até que ele desabafasse tudo. Chegamos no local e moça que ficava na recepção logo me reconheceu. Nos cumprimentamos e eu sentei-me à mesa que sempre costumava sentar, uma mais afastada, encostada na parede perto da janela que dava para a rua. Ali eu podia beber, jogar cartas e olhar o movimento. O garçom veio e eu pedi uma cerveja para mim e pediu uma dose de vodka misturada com rum, acho que ele queria realmente morrer.
   - Agora você me conta a merda direito. O que disse lá fora estava confuso demais e não tinha lógica.
   - É o seguinte. Eu estava lá em casa na hora do almoço, sentado no meu sofá, assistindo a ESPN e comendo um franguinho frito bem relaxado. Foi aí que Morgan chegou da escola com as crianças. Eu fui dar um beijo nela e ela simplesmente se esquivou de mim dizendo que precisava conversar. As meninas foram lá na cozinha pegar comida e ela sentou do meu lado. A biscate nem teve a preocupação de enrolar pra me dizer que estava tendo um caso com um finlandês e que não aguentava mais me enganar e mentir. Disse queria se separar de mim, que já tinha conversado com minhas filhas e que elas tinham entendido. Afinal elas têm 14 e 16 anos, ninguém é mais bebê. Ela disse que vai morar com o cara por lá e que as meninas vão junto com ela, mas que sempre virão me visitar. É isso, eu fui chifrado, abandonado e trocado. Perdi minha mulher, vou ficar longe das minhas filhas e vou morrer vendendo carne, fedendo a linguiça e batendo punheta bêbado na minha cama. Tá satisfeito agora? - eu fiquei ligeiramente com dó do . Posteriormente um sentimento de ódio da mulher dele me invadia. O homem era direito, correto, fazia de tudo por elas e amava a mulher mais que tudo. Que puta sacanagem. Ele fazia tudo pela família e aquilo era realmente cretinagem. Mas, sabia o quão forte ele era. Depois da morte do pai e de todo o sofrimento o homem estava ainda mais fortalecido. E no fim das contas ele não podia fazer nada, matar a mulher dele e o amante só piorariam as coisas.
   - Você tem que esfriar a cabeça e deixar isso pra lá, eu sei que você ama a Morgan, mas ela jogou limpo e disse que não quer mais. Deixa ela ir embora, ser feliz e sai do fundo desse buraco fétido que você se encontra e vê se vive um pouco.
   - É, talvez você tenha razão. Tem muita mulher com fogo por aqui.
   - É claro que eu estou certo, ser corno não é tão ruim assim.
   - Vai para o inferno, . Judas do caralho. - era muito prazeroso provocar meu amigo.
   - Relaxa aí, mané, eu também já levei uns chifres, você sabe disso. Eu fiquei puto por muito tempo, mas depois eu me acostumei com a ideia de que a garota era uma vadia filha duma égua e que logo ela morreria de aids e tudo ficou certo.
   Nós ficamos por ali um tempo, falando asneiras e putarias até que eu percebi uma movimentação na porta da taverna. Tinha alguém perguntando por mim e eu olhei curioso. Fora uma surpresa e tanto. Tinha um homem alto e loiro, vestindo uma calça social preta e aquelas camisas pretas de padre com o colarinho branco. Era . Fiquei extremamente feliz vendo aquela cena.
   - Hey . - eu o berrei e o mesmo olhou em minha direção, eu vi um sorriso se abrir em seus lábios. Ele agradeceu a recepcionista pela informação e veio para o meu lado. Me levantei e fui ao se encontro. Nós nos abraçamos e demos aqueles tapões nas costas um dos outros. Pode parecer bem homossexual, mas eu estava muito feliz em ver meu amigo novamente.
   - Caralho, , tem uns 10 anos que eu não te vejo e você tá aí todo garotão.
   - Esse é o poder da palavra de Deus, . - ele disse com a cara toda séria e sentou-se à mesa, mas eu sabia que era só alopração da parte dele, eu ainda não entendia como um fanfarrão como ele tinha virado padre.
   - Então, , esse é meu amigo , da época da escola, ele é padre e como você me disse que o bispo estava recrutando novos padres pra cá, eu resolvi que seria uma boa ele voltar para a Suécia. E , esse é o , meu amigo desde que você foi para a Itália, ele é açougueiro e acabou de levar um pé na bunda da mulher.
   - Nossa, , muito obrigado por me apresentar como um corno fracassado. Ele sempre foi assim filho de uma mãe? - perguntou para o recém chegado .
   - Sempre teve um espírito de porco, mas eu não o levava muito a sério. - nós rimos ali todos juntos e pediu ao garçom uma garrafa de água com gás. Teria que me acostumar com ele não bebendo bebidas alcoólicas, pelo menos não em público.
   - E como foram as coisas lá pela Itália? - perguntei.
   - Depois que a minha namorada maravilhosa fez o favor de me trair com cinco numa festa, eu resolvi ir pra Itália me aproximar de Deus. Desisti dessa vida de mulheres. Como homens não são minha praia, decidi me entregar ao celibato e à vida da masturbação eterna. Entrei para um mosteiro em Roma e logo eu estava lá no Vaticano estudando junto com os arcebispos, conheci o próprio Papa. E por incrível que pareça, foi divertido.
   - Porra, cara, com cinco? Tô começando a me sentir menos mal, pelo menos a minha me traiu com um só, pelo o que eu sei até agora né, vai saber.
   - Viva, nós três já levamos chifres por aqui, então chega de conversa barata, vamos falar de coisa que presta.
   Nós três ficamos, rindo e falando merda. Infelizmente, meu cérebro tinha uma mania idiota de apitar quando a dose de estrogênio e progestora tornava-se maior. Ao prestar um pouco mais atenção percebi que estava no meio de algumas garotas. Diferente de doce e tímida agora, ela me pareceu muito mais adulta. Foi muito interessante vê-la maquiada, bem arrumada, com uma roupa sensual e bem mais, como poderia dizer, "soltinha".
   - Mas já tá olhando as meninas, ? Que desgraça.
   - , não seja recalcado. Ali no meio tá a filha dos , tô trabalhado na casa deles e estou só analisando com um pouco mais de atenção a cria deles, é pecado?
   - Pedofilia é meio que crime, meu amigo. Além de ser pecado. - disse .
   - Agora vão ficar vocês dois contra mim, é isso mesmo?
   - Bem, eu não beijo uma garota faz tanto tempo, que nem posso ficar dando palpite.
   - Sem querer ser muito curioso, quanto tempo mais exatamente? - perguntou .
   - Muito tempo, muito tempo.

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  Ele estava lá e eu precisava fazer algo
   Tomei coragem e me levantei. Respirei fundo esperando aquela faísca que me faria andar até ele. O lenhador estava com mais dois amigos, o que piorava a minha situação. E eis que aquele empurrãozinho que faltava surgiu da parte de Charllie, minha querida amiga fez o favor de me impulsionar para frente com um tapa na bunda. Quase tropecei e cai de boca no chão. Agora não tinha mais jeito, era andar ou andar. Eu fui caminhando até lá sem jeito, percebi que os três estavam me olhando. Não sabia ser exatamente sensual. Até tentei rebolar meus quadris um pouco e empinar meus peitos. Não deu muito certo, o maldito acabava com a minha segurança.
   - Oi e oi amigos do . - disse meio sem jeito e eles deram uma risadinha.
   - E aí, , quer sentar com a gente aqui um pouco? - um dos amigos dele perguntou, eu o conhecia, era , o dono do açougue, ele era um cara gente boa. Suas filhas estudavam na mesma escola que eu.
   - Posso? - perguntei meio tímida. Queria perder aquela cara de besta que eu tinha.
   - É claro que pode, garota, senta aqui. - puxou a cadeira do lado dele para que eu me sentasse.
   Eu pedi um Schweppes Citrus e a gente começou a conversar. Seu outro amigo se chamava . Por um momento me senti tentada por ele, o cara era um gostoso de primeira. Mas tudo bem, meu foco central era realmente o lenhador. Aos poucos seus amigos foram inventando desculpas se para levantar da mesa. Quando foram embora ficamos ali nós dois, um olhando para a cara do outro, sem saber muito bem o que fazer.
   - E então, eu ainda não sei quantos anos você tem.
   - Faz pouco tempo que fiz 17 anos. Pelo menos eu posso sair de casa sem me sentir uma criança perdida na rua.
   - Ah, meus 17 anos! Foi uma boa época da minha vida. - o lenhador deveria ser um homem muito experiente, aquele tipo que já havia feito de tudo, vivido loucuras e mais loucuras. E eu ali, patética e sem graça, era deprimente.
   - Faz tanto tempo assim que você saiu dos 17 anos? - não sabia sua idade e estava curiosa para saber.
   - Tá me chamando de velho, ? - ele olhou para mim meio que malvado. Senti o peso da culpa me atingir.
   - Não, , calma. Não, sério, calma. - fiquei com cara de medo e ele riu de mim - É que sei lá, não é que você seja velho, mas é um cara que já saiu da puberdade há algum tempo, e... você é mais velho e experiente. - eu estava nervosa e me perdendo nas palavras. – Eu gosto dos mais velhos. - completei e só depois de terminar de falar que percebi o quão a frase era cheia de malícia e desnecessária. Não sabia mais o que fazer com a minha cara.
   - Então você gosta dos mais velhos? - eu olhei para ele mordendo os lábios em nervosismo, não sabia muito bem o que responder. Não poderia de forma alguma estragar aquela chance.

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  Não sabia se era ironia divina ou algo do tipo, mas eu só sei que eu e estávamos um do ladinho do outro. Ela naquela situação era uma coisa muito... instigante. A garota parecia mais desenvolta e menos tímida do que eu havia visto antes. Isso não ajudou muito na batalha contra minha consciência. Estava me animando muito rápido e tal coisa era periogosa. Aquela garota poderia ainda ser virgem ou pelo menos inexperiente. Se nós fóssemos além naquela brincadeira os sentimentos poderiam se confundir e eu realmente não queria que a garota acabasse perdida pelo velho lenhador solitário, frio e sem intenção nenhuma para o romance.
   - Homens bem resolvidos eu diria. - Ah, aquela garota estava brincando com a minha cara. - Mas, e então, como é a vida na floresta. Sem os agitos e as facilidades da cidade? - ela pareceu querer desconversar, aliviar a tensão que se instaurara.
   - Sinceramente, as coisas por lá são bem mais calmas e tranquilas. Eu tenho tudo que preciso na minha casa, tenho minhas garrafas de vinho, uma banheira quente e TV a cabo, por incrível que pareça.
   - E você recebe visitas por lá? - ela perguntou meio curiosa demais pro meu gosto.
   - De que tipo de visitas você está falando, senhorita ?
   - Pessoas, oras. - não disse, mas eu sabia que se ratavam de mulheres. É claro que ela estava curiosa para saber sobre essa parte da minha vida. Diaba abusada.
   - E por que a curiosidade? A senhorita não é muito novinha pra ficar falando sobre minhas visitas íntimas? - ela estava meio sem saber o que fazer com as mãos e colocou a sua direita sobre uma das minhas coxas.
   - Não sou mais criança, . - Eu coloquei um dos meus braços em volta do seu pescoço nos aproximando mais. Percebi que ela estava ficando bastante nervosa e eu estava gostando daquilo. Não deveria, iria me culpar por tal fato depois, mas estava gostando.
   - E o que você quer dizer com isso? - me olhou meio envergonhada, ela havia corado instantaneamente, simplesmente não sabia mais o que responder. Sua mão que estava na minha coxa começou a tremer de leve e seus lábios tentavam dizer algo, mas ela não conseguia.
   - Que eu sei de algumas coisas e posso falar sobre algumas coisas. - estava se perdendo no que dizia.
   - Quais coisas? - ela me olhou assustada e apenas sussurrou um “nada” bem fraquinho. Por mais culpado que eu me sentisse em violá-la, acho que meu espírito de lenhador queria desbravar aquela mata.
   - Olha, acho que eu vou voltar pras minhas amigas. Elas estão lá sozinhas e uma delas tem uma história pra me contar. Foi bom te ver, a gente se fala lá em casa, tá? - ela me deu um beijinho molhado no rosto, sorriu meio sem graça e levantou-se da mesa correndo antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. Acho que ela estava meio caidinha por mim e eu queria ensinar coisas a ela, mesmo àquelas que ela já achava que sabia. Eu só precisava me livrar daquele peso enorme na consciência, que nunca, havia me perturbado antes.

Chapter II

  Já era noite e eu e meus pais estávamos nos arrumando para ir até a missa. Nossa cidade era muito religiosa e as missas semanais eram um evento sacro e rigoroso. Como meu pai era filho de uma das mais tradicionais famílias e minha mãe sofria do mesmo mal, não podíamos faltar. Até por uma questão de obrigação, ou ficaríamos mal falados e isso não era bom pros negócios da família. Cidade pequena tem muita língua venenosa e olho mal intencionado pra cuidar da vida alheia. Desci as escadas e meus pais já estavam me esperando na sala e então, nós fomos de mãos dadas saindo de casa. Não era necessário andar de carro tendo em vista que a cidade era pequena, ou seja, as coisas eram todas próximas uma das outras. Sentamos no lugar costumeiro, era como se fosse um ritual sagrado e eu já estava ficando bem cansada daquilo tudo. Nós tínhamos de ir caminhando até nossos lugares dando com a mão para os conhecidos, dando beijinhos nas amigas peruas ricas da minha mãe, sendo cordial com os sócios do meu pai, enfim, era uma grande festival de coisas desnecessárias.
   O bispo adentrou a catedral com seus coroinhas como de costume e assumiu seu lugar no púlpito. Não que eu fosse a garota mais cristã do mundo, mas tinha o costume de me confessar, tomar a hóstia e ir frequentemente à missa. Então eu sempre costumava prestar muita atenção nas palavras do bispo, ele tinha um ótimo discurso e sempre pregava palavras de conforto.
   Diferentemente do de costume o bispo começou a missa com um discurso sobre mudanças, ele disse que nossa catedral estava passando por uma época de transição, que eles estavam purificando o santuário e nos oferecendo um novo tempo de paz e prosperidade. Minha mãe me olhou com uma carinha de curiosidade e pude perceber que todos na igreja estavam alvoroçados com tudo aquilo. Curiosos para saber sobre o que bispo estava falando. Então ele fez sinal para que alguém entrasse. Ok, seria só mais um padre novo na cidade, até perceber que aquela missa seria diferente de todas as outras, quando olhei para o altar. Percebi que o novo padre que rezaria a missa naquela noite não seria qualquer padre, era simplesmente um dos amigos que estavam com na taverna no dia anterior. Eu fiquei branca, transparente e muito incomodada em pensar que por algum momento eu fantasiei perversidades com ele, porque afinal, ele era um homem do Senhor e aquilo tudo não fazia sentido nenhum. Enquanto eu ficava pensando em como tudo parecia confuso, o novo padre da cidade começou a fazer sua apresentação, seu nome era . Ele nos disse que tinha sido indicado pelo Vaticano para vir à nossa cidade. Ele faria o serviço de Deus ali e que o bispo o havia recebido com muito carinho e atenção.
   Nossa cidade iniciaria um novo estilo de comunhão com Jesus Cristo. E eu estava completamente chocada no nome de Jesus, Amém.

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  Já era noite e eu havia passado o dia inteiro pela floresta cortando lenha, meus braços estavam miseravalmente doendo e minhas pernas latejando. A parte triste da história é que meu vinho tinha acabado e aquele filho da puta açougueiro que se diz meu amigo simplesmente resolveu fechar seu comércio por a dor de corno dele ser maior que a coragem de ir trabalhar. Sendo assim, estava sentado em minha poltrona lendo o jornal local e me divertindo ao ler as notícias mais mequetrefes que o homem poderia imprimir em um papel até ter minha atenção tirada por três batidas fortes na porta. Não estava acostumado a receber visitar em minha casa, principalmente no período noturno e não pude evitar em ficar meio com o pé atrás de abrir a porta. Lentamente fechei meu jornal e o coloquei em cima da minha mesa de centro e fui vagarosamente caminhando até a porta para finalmente abrí-la. Dei de cara com , meu velho amigo de batina.
   - A que devo a honra da sua visita sagrada em minha casa? - perguntei fazendo sinal para que ele entrasse.
   - Eu sei que você não é muito fã de visitas na sua casa e principalmente nesses horários, a não ser que sejam mulheres. Mas eu vim te fazer um convite e não aceitarei um não como resposta.
   - E que tipo de convite seria esse? - perguntei o olhando com uma das sobrancelhas arqueadas.
   - Hoje eu rezo minha primeira missa na catedral e eu queria que meu grande amigo , que foi o responsável por minha vinda até aqui estivesse presente. - ele me olhou com uma carinha de cachorro abandonado e eu não pude negar, ele era meu parceiro de velhos tempos, então eu tive que aceitar.
   - E que horas que é o grande evento?
   - Às 9h, ou seja, você tem meia hora pra se arrumar e chegar lá pontualmente. Eu tenho que voltar, pois o bispo ainda precisa conversar comigo, não me desaponte.
   Assenti com cabeça e sorriu satisfeito saindo pela porta com pressa enquanto o vento batia em sua batina branca. Ele era meu amigo e apesar de não ser um visitante assíduo da Igreja não seria um sacrifício assistir a missa do meu mais velho amigo. Fui tomar um banho, procurar alguma vestimenta que não profanaria o santuário e fui finalmente para a missa. Assim que cheguei à cidade, fui rapidamente subindo o morro até chegar à igreja, tinha pedido para que eu não me atrasasse e uma vez na vida eu senti vontade de realmente chegar na hora em um compromisso religioso. Não que eu fosse um herege ou coisa do tipo, só não gostava de todo aquela ostentação e luxúria para entrar em contato com Deus. Se por acaso quisesse, eu poderia procurá-lo dentro da minha própria casa sem ter que ostentar uma batina banhada a ouro. Adentrei a igreja e procurei um banco bem perto da porta e afastado da grande multidão. Uma menininha sorridente veio me entregar um folheto e desejar boa noite. Sorri para ela em resposta e fiquei por ali de pernas cruzadas prestando atenção nas palavras do bispo.
   Finalmente eu vi aquele conhecido penteado adentrando pelo corredor, pude perceber todo mundo fofocando e aquele povo tudo surpreso pelo novo padre, era um tanto quanto bonito demais para de se abster de prazeres carnais. Me surpreendeu saber que ele possuía um discurso tão bem estruturado e parecia uma pessoa tão centrada.
   Eu era o único ali que conhecia o beberrão, apaixonado pelas mulheres e viciado em competições de arco e flecha. Competições que ele abandonou depois que entrou para a igreja por sinal, parece que o papado tem algo contra vícios e coisas do tipo.
   Fiquei por ali durante uma hora e meia, mais ou menos. Por mais estranho que possa parecer eu passei a admirar mais quem sabe usar as palavras bíblicas da maneira correta. De certa forma aquele sermão havia me tocado e eu sentia que seria velado por ele nos próximos dias. pregou sobre as tentações e citou algo dito por Martinho Lutero que eu jamais esqueceria e que me ajudaria a entrar nos eixos em relação as minhas próprias tentações.
   Por fim a missa havia acabado, prolonguei minha estadia na Igreja. Uma pilastra me serviu de apoio enquanto esperava todo o pessoal sair para poder trocar umas palavras com meu padre. Pude ver a família ao longe e fiz questão de desviar o rosto para que não me vissem.
   havia acabado de entrar na lista das minhas tentações mais ferrenhas. Eu deveria evitar que tudo passasse do limite, eu não poderia apenas entrar na vida de uma garotinha e pô-la de ponta cabeça para simplesmente depois sumir pro meio das árvores. Iria simplesmente comê-la por vontade de abusar, chupar, lamber e nada mais. Por mais ofensivo que fosse, era a minha verdade. Homens são assim, podem se apaixonar, mas, antes eles querem simplesmente comer pra sentir o tesão. Para meu azar, isso não era certo. Muito pelo contrário, era cretinagem demais e não seria eu o coroa malvado a quebrar o coração de .
   - Então, consegui converter a ovelha perdida? - me perguntou em sua batina cor de ouro.
   - Não sei como responder essa pergunta cretina, fiquei devidamente tocado.
   - Vai me ironizar dentro de território sagrado mesmo? - ele me fitou com uma cara de desdém.
   - Estou falando sério, bicha. De alguma forma você mudou minha vida, não consigo expressar em palavras o que aconteceu aqui. - aquilo tinha sido uma espécie de crise de loucura, as palavras de Martinho Lutero rondavam minha cabeça sem parar, algo havia acontecido e eu não estava entendendo muito bem – Cara, eu não estou no meu juízo perfeito, preciso de álcool, quer me acompanhar?
   - Infelizmente eu não posso , tenho que dormir cedo hoje para conseguir acordar inteiro amanhã para distribuir o café da manhã dos pobres. Mas, se quiser me procurar pela tarde amanhã, estarei livre.
   - Tudo bem, vou dar uma passada no , tem dias que não falo com ele e aquela criatura deve estar precisando de ajuda e bem, eu também estou precisando jogar conversa fora.
   Nunca imaginei que assistir uma missa inteira pudesse fazer aquilo com uma pessoa, talvez seja esse o motivo das minhas fugas de tais compromissos divinos, era o medo de tudo fazer efeito em mim. Quando sai, senti os olhos de me cravando. Ela estava com os pais e mais uns amigos sentados nos bancos de uma espécie de praça que havia logo antes das escadas da igreja. Eu apenas ignorei, apesar de perceber seu olhar ainda sobre mim. Não sei que diabos aquele pedaço diabólico de garota queria da minha pessoa. Apenas possuía a noção de que simplesmente não poderia correspondê-la. Eu costumava transar sem compromisso nenhum com as mulheres que encontrava pela vida, porém, nenhuma tinha idade para ser minha filha. Nenhuma delas possuía uma inocência tão perturbadora.
   Finalmente cheguei no açougue e lá estava ele, meu amigo em sua típica cara de tédio, com seu avental branco sujo de sangue. Um verdadeiro atentado à salubridade. O coitado estava tão enfiado na lama que pouco se fodia para a vigilância sanitária.
   - Olá, minha carnificina ambulante.
   - Boa noite, pica pau de xadrez.
   - Você é tão divertido, , eu fico assim, estupefato com tanta alegria. Mas, por favor, me veja uma dose generosa de vodka, eu quero esquecer que o mundo real existe.
   - Nem chifrado foi e tá aí todo dolorido com a vida, eu estou quase enfiando meu braço no moedor de carne pra esquecer minha dor. - amava tanto a mulher que eu sentia dores profundas no peito por ele. Era exatamente por isso que eu não queria me envolver. Sofrer novamente não era uma opção.
   - , provocações a parte e pelo tanto que eu gosto de você e considero nossa amizade, sai desse buraco. Sua mulher te traiu? Sim. Sua mulher te deixou com filhos pra criar e te trocou? Sim. Mas esquece, sai dessa, supera. Você pode superar isso, parar de feder fígado de porco e por um sorriso na cara. Viver sem essa tristeza te corroendo por dentro.
   - Eu estou ferido cara. Eu ... eu fui machucado de verdade. Meu orgulho, meu ego, minha alma estão queimando. Nunca esperei que isso fosse acontecer, eu amo tanto aquela mulher que não posso controlar essa merda. - socou forte o balcão e abriu um corte em sua mão. Eu gentilmente joguei a vodka do meu copo na ferida que sangrava levemente fazendo-o gemer com o ardor.
   - Se liga, zé mané, continua vivo e em pé que eu preciso de um lugar confiável pra comprar pernil e vinho.
   - Capitalista mercenário de uma figa. Agora me diga. Por que diabos a bebedeira de vodka em pleno meio de semana?
   - Jesus tocou meu coração, sou uma ovelha convertida agora.
   - Beleza, eu vou ali fechar minhas portas porque o mundo acabou de chegar ao fim pra mim. - eu realmente sabia que seria difícil levar aquele papo à sério.
   - Estou falando sério, me chamou para ir à missa ouvir seu primeiro sermão e de alguma forma, o que ele disse penetrou minha mente e não me deixa em paz.
   - E o que raios o padre gente fina te disse?
   - Ele começou falando sobre as tentações da carne. No começo eu levei só como conversa fiada, mas, depois de um tempo, as coisas começaram a fazer sentido. Ele começou a falar sobre como nós podemos estragar a alma das pessoas quando fazemos canalhisses com elas, como nós putrefazemos nossos próprios corpos com essa trepação desmedida e descontrolada. Falou sobre como nós devemos parar de desejar o perigoso, aquilo que parece errado. A gente se deixa envolver por aquela essência tão gostosa e excitante que beiramos cometer crimes para poder aproveitar.
   - Sim, concordo com cada coisa dita. Minha mulher e eu somos um exemplo de como desejos da carne são ruins. Gostei desse seu , me avise quando ele for pregar de novo.
   - Só que tem uma coisa, tudo isso me pegou de verdade por uma frase que ele citou de Martinho Lutero, conheço o sujeito só por nome, nunca havia escutado alguma de suas palavras.
   - E que porra de citação miraculosa é essa que fez o mais incrédulos dos homens ceder a Jesus?
   - “Não podemos impedir que um pássaro pousasse em nossas cabeças, mas podemos impedi-lo de fazer um ninho.” - É como se Deus fosse uma entidade tão sábia a ponto de não julgar suas criaturas por pensar em coisas pecaminosas, é como se fosse justo o suficiente por não condenar as mentes humanas por ficarem fantasiando obscenidades e coisas perigosas em suas cabeças. Elas até podem pensar, imaginar, fantasiar, só não podem cometê-las. Deus parecia agora um cara gente boa para mim.

  Depois de passar horas e horas jogando conversa fora com e depois de beber o suficiente para ficar com os reflexos meio lentos, fui caminhando para minha casa. Essa era a parte pela qual eu me arrependia de não ir de carro até a cidade. Demoraria mais do que eu desejava para chegar até meu humilde lar no meio da floresta. Fui então me adentrando no caminho já marcado na grama, sentindo o quanto a cabeça de um homem bêbado pode ficar pesada. Fazia um frio do caralho naquele horário pela floresta, mas, tanta vodka no corpo me fazia sentir um calor descomunal. Simplesmente me despi da minha camisa e camiseta. Fui aos poucos e muito lentamente me deslocando e às vezes, me escorando em alguns troncos de árvore. Estava progredindo muito bem, quando escutei um barulho de galho quebrando logo atrás de mim, eu podia estar bêbado e sem muita noção das coisas, só que aquele barulho era real demais para ser apenas alucinação alcoólica.
   Eu não estava com forças na perna, mas como estava desarmado, sem carro e com os reflexos pior que merda, sai correndo e tirei força do fundo da terra pra fazer aquilo. Como conhecia aquele caminho como ninguém não foi assim tão difícil me guiar por ali. Conforme corria era possível sentir que havia uma presença me perseguindo. E por mais bêbado que estivesse eu sabia que aquilo era real. Não fiquei parado esperando pra ver o que iria acontecer, simplesmente continuei correndo e não muitos minutos depois eu vi minha luz da área acesa.
  Foi um alívio tremendo saber que tinha chegado em casa. Mais que rapidamente entrei pela minha porta dos fundos. Peguei meu machado e fiquei a postos caso alguma coisa viesse atrás de mim. Fiquei observando pela janela por um tempo e como nada tinha dado o ar da graça, me relaxei, coloquei o machado de lado e desfivelei o cinto. Sentei no sofá e abri uma porra de uma garrafa de vinho de qualquer jeito e virei aquilo garganta abaixo. Com certeza aquela era a noite mais confusa da minha vida em muitos anos, tudo doía e aquela missa tinha acabado com a minha consciência.
   Sentei em meu sofá, comecei a refletir sobre tudo isso. O vinho escorria pela minha boca deixando tudo uma meleca sem fim. Não fazia importância nenhuma mesmo, não era paranóico com limpeza. As coisas caminhavam bem até que, eu escutei batidas na porta. Por um momento eu ignorei achando que estivesse escutando demais, porém, os barulhos continuaram incessantes na minha porta. Perturbador, eu diria. Levantei do jeito que estava com a garrafa em mãos e fui para a porta, não importava quem fosse, eu iria meter a garrafa na cabeça sem dó.
   Entretanto, quando abri a porcaria da porta, eu tive uma surpresa nunca antes imaginada. Só me dei conta quando estava com a garrafa prestes a bater na cabeça da pessoa sem dó nem piedade.
   - , calma, abaixa isso! Sou eu! - reclamou colocando as mãos sobre cabeça tentando se defender.
   - Que diabos vocês está fazendo aqui, menina?! Uma hora dessas! Tá maluca? Drogada? Bêbada? - De duas uma, ou era artimanha de Deus ou do diabo.
   - Eu… bem... é... eu. Olha, eu te vi na missa e fiquei com vontade de falar com você, mas você me ignorou e daí eu te segui. - ela me falou aquilo com a maior naturalidade do mundo, como se tudo aquilo fosse simples.
   - Então é isso, você se enfia numa porra de uma floresta fechada em plena madrugada e segue um homem que não conhece direito até a casa dele? E se por um acaso seus pais percebem que você não está em casa? E se eu te acerto com essa garrafa na cabeça? E se eu simplesmente pego minha Winchester e meto bala na sua testa? Que tipo de merda se passou na sua cabeça? Não gosto de ser pego de surpreso, vai embora vai, me deixa em paz. - Era muita sacanagem com a minha cara. Eu decido agir com decência, faço um plano para evitar qualquer tipo de filha da putisse e... tapa na minha cara. A menina simplesmente me persegue pela mata e aparece na minha casa como se fosse simplesmente normal e aceitável.
   - Mas , por favor. Me deixa entrar, eu já andei esse caminho todo, você vai me mandar pra casa? - ela me olhou com uma carinha de coitada e inocente, que cortou meu coração fora.
   - Nunca leu a história do João e da Maria? É perigoso demais ir entrando assim na casa de gente que você não conhece.
   - Mas, eu te conheço, . Deixa eu entrar, tá frio aqui fora. - o que eu poderia fazer? O que Jesus faria? Deixaria a menina entrar e puta que pariu, aquilo iria foder com a minha cabeça.
   entrou e foi indo em direção ao sofá, pelo caminho foi observando os detalhes da minha casa, que por sinal, eram bem interessantes. Sentou acanhada, apertando a jaqueta preta de veludo em seu corpo.
   - Frio? Eu te empresto um xale se você quiser.
   - Não precisa, obrigada, eu só estou com resquícios do frio que passei lá fora.

xx

  Estava dentro da casa dele, não tinha caído minha ficha ainda de que eu o havia seguido pela floresta mesmo sabendo que era extremamente perigoso. Criei culhões para bater na porta dele e me oferecer para entrar, realmente não estava me reconhecendo. A em sã consciência não faria isso, mas eu não estava no meu juízo normal. Principalmente depois de ver naquela situação ma-ra-vi-lho-sa. Ele estava com uma calça jeans grudada em suas pernas fortes, com o cinto desfivelado exibindo aquelas entradas tão seduzentes e o tronco desnudo com gotas de vinho escorrendo. Eu só pensava em por a boca ali e ficar bêbada daquele lenhador. Para meu azar ele simplesmente me veio com um sermão digno de pai de família e me mandou embora. Não seria fácil explicar para ele a razão de estar ali.
   - Agora me responda seriamente, quê diabos você está fazendo aqui uma hora dessas? Onde diabos você enfiou seu juízo, no ouvido? - perguntou ele bebendo o resto do vinho e me encarando sério.
   - Eu não sei, eu senti vontade de conversar. - o que mais eu poderia falar paa ele? Aquilo não fazia sentido.
   - Conversar? Eu vou passar sei lá quantos meses trabalhando na sua casa e você simplesmente faz uma burrice dessas sem tamanho por simples vontade de conversar? Você foi estúpida, , estúpida. - as palavras dele realmente me fizeram refletir sobre o ocorrido, eu não deveria estar ali, ele nunca iria querer algo comigo, eu tinha que ir embora.
   - Você não iria entender, eu não vou explicar. Vou embora. - me levantei, não sabia onde enfiar tanta vergonha.
   - Vai embora coisa nenhuma! - me assustei com o berro, voltei a sentar no sofá. Os meus sentidos se perderam por um minuto. - Você não vai voltar praquela floresta até amanhã cedo. Pronto, estou mandando. Vai ficar aqui. - juro que fiquei assustada. A voz era tão alta e grave que qualquer um na cidade poderia ter ouvido.
   - Você está me assustando, homem, você disse que foi estúpido eu vir aqui e agora não quer me deixar ir embora? É isso mesmo?
   - Já foi uma estupidez tremenda me seguir. Você não pensou isso aqui. - fez um sinal com os dedos indicando algo pequeno - Não raciocinou o tamanho da merda que poderia ter dado. E ainda há mais, foi uma total estupidez me seguir, certo. Mas, seria mais ainda ir embora sozinha agora de madrugada, então já que tá aqui, aquieta seu facho.
   Estava ouriçada e perturbada, meu ato fora totalmente incoerente e tanto eu como o lenhador estávamos completamente fora de nós com aquilo tudo.
   - Eu ainda não engoli essa sua historinha barata, mas já que você não quer me contar a verdade, tudo bem. Estou muito cansado, precisando dormir e amanhã eu trabalho. Então eu vou arrumar a cama para você na sala. Preciso ir dormir. - eu não queria dormir, eu queria me aproximar dele. Só não sabia como. Me sentia extasiada demais pra pensar coisas que fizessem sentido.

xx

  A infeliz estava ali, a minha mais atual tentação estava ali. Queria apenas cavar um buraco no chão e me enfiar para não ter que lidar com aquilo. Não sabia o que fazer com ela, o que falar para ela e mal estava entendendo porque tudo aquilo estava acontecendo. Não fazia sentido e era errado, completamente errado.
   - , eu não estou com sono, mas pode ir dormir, eu fico aqui na sala assistindo televisão... se eu puder.
   - Eu não vou te deixar sozinha aqui e simplesmente ir dormir, por favor. Não piore tudo. Meu Deus, eu preciso de vinho. - fui até a cristaleira e peguei mais uma garrafa de vinho, que era a última por sinal, teria que ir ao completar meu estoque novamente no dia seguinte. Não tinha como ficar com aquilo vazio, meu vinho era meu sangue, minha vida.
   - Olha... – dei uma golada na garrafa –... está tarde, está frio e eu estou muito cansado, vamos dormir, por favor. Estou confuso demais para ficar acordado.
   - Você pode me dar um gole de vinho? Me acalma na hora de dormir. – ah, mas que cara de pau. Seu pedido foi tímido e meio sem jeito, não pude evitar um sorrisinho de leve.
   - E você por um acaso tem idade para beber? - perguntei cruzando os braços e a encarando.
   - Por favor, né, é só um golinho pequenininho de vinho, não vai me embebedar.
   - Tudo bem, eu vou pegar uma taça pra você.
   - Não, não precisa. Eu bedo do gargalo mesmo. - ela se aproximou de mim e pegou a garrafa da minha mão. Levou em direção à sua boca. Vi todo o movimento em câmera lenta, fiquei fitando aquela cena com total atenção. Pai Amado! O pássaro dos pensamentos sexuais começou a sobrevoar minha mente, me fazendo pensar o quanto aquela boquinha avermelhada e carnuda ficaria irresistível beijando minhas partes baixas. Ela terminou seu gole e devolveu a garrafa pra mim, limpando a sujeira de vinho que havia ficado em seus lábios com o braço. Ela me olhou e sorriu sem jeito. Me controlei para não agarrá-la pelos cabelos e puxá-la para mim com violência.
   - Podemos dormir agora, ? - perguntei tirando meus sapatos.
   - Eu tenho mesmo que dormir no quarto de hóspedes? E não quero dormir na sala, é muito grande para eu ficar aqui sozinha.
   - Além do quarto de hóspedes e aqui, só há meu quarto. E eu acho que não é muito coerente que durmamos no mesmo cômodo. - eu estava sendo realmente ridículo. Mas, precisava evitar a merda.
   - , não tem ninguém aqui pra ver onde diabos eu vou dormir, se é junto com você ou não.
   - Então façamos assim, você dorme no quarto e eu durmo na sala, tudo bem? - ela me olhou de cara amarrada.
   - Qual parte você não entendeu de que eu não quero dormir sozinha? Que saco, heim.
   - Você está complicando as coisas garota, para de fazer isso.
   - E por quê? Heim? Me responde? - ela estava começando a me tirar toda a razão.
   - Olha - me aproximei mais dela – Não quero fazer coisas que vão gerar problemas e merdas depois, não sou o príncipe de ninguém e nem quero estragar vidas.
   - Eu só queria, sei lá ... eu não sei o que eu quero, eu estou definitivamente confusa.
   - Nem você sabe o que quer garota. Eu tenho idade pra ser seu pai, tenho 40 anos. Não faz o mínimo sentido.
   - Para de ser assim. Me deixa fica perto de você. - Deus realmente queria me testar.
   - Olha aqui, para com isso. Tira essas ideias inconvenientes da cabeça, eu não sou um garotinho apaixonado querendo me perder em aventuras. Sou um homem, uma porra de um homem. Um coroa e lenhador que gosta de se embebedar, não sou um mocinho bom exemplo, entendeu?
   - É por isso que eu sinto tanta vontade de ficar perto de você. É essa sua coisa, esse seu jeito másculo que me tira do eixo. – ela foi caminhando até mim e espalmou as mãos geladas em meu peitoral. Ficou nas pontas dos pés para seus lábios ficarem perto dos meus – Por favor, me deixa ficar perto de você. - terminou a frase mordendo os próprios lábios, mostrando uma expressão tímida de desejo.
   - Escuta, garota, chega. Você não entende as coisas, nem sabe o que está falando. Vamos dormir. - olhei para ela seriamente e pude ver em seus olhos certa agonia por eu não corresponder seu interesse. Se eu queria? Lógico que sim, apenas não podia. Não ali naquele momento.
   Ela saiu dali e sentou-se no sofá. Eu a chamei para o quarto e ela foi me seguindo em silêncio. Ao adentrar o cômodo pedi para que ela deitasse em minha cama. Eu dormiria no chão mesmo, não fazia diferença àquela altura. apenas deitou-se, se cobriu e disse um boa noite sem graça. Não pude fazer mais nada além de respondê-la. Aquilo seria mais difícil do que eu pensava.

Chapter III

  Tinha ido até a casa do , um lenhador que eu não conhecia direito. Eu o segui pela floresta sem pensar na merda que estava fazendo, ou seja, tinha feito algo completamente impulsivo e idiota. Sim, foi idiota. Foi coisa de menininha idiota, mas foi um daqueles momentos de adrenalina da nossa vida em que você olha para si mesmo e pensa: "Eu tenho que fazer isso, é idiota, é estúpido, mas eu tenho que fazer." Depois vão olhar pra você e falar: "Qual é seu problema? Por que você fez isso? Que idiotice! Você é estúpida!" Mas quer saber? Foda-se, eu fui.
   Lindo! Quer saber? Eu fui. Fui com a porra das minhas pernas, com a porra da minha coragem e se não você gostou, beije minha bunda. É isso, eu fui e pronto, então foda-se. Seria uma merda ficar pensando: "Ai meu Deus, por que eu não fui?" e ficar choramingando pela casa. Mas, por outro lado, eu estava me sentindo uma babaca. Tudo deu errado. Sem beijos, sem contato algum. Minha falta de experiência com homens estava fodendo a porra toda. Não era mais uma virgem sonhadora. Já havia feito sexo, transado com alguns garotos. Nada muito promíscuo e totalmente sensual. Foram algumas transas aleatórias, acabei indo para a cama pela primeira vez com um garoto da minha aula de arco e flecha, porém nada que virasse um relacionamento sério. Só que eram apenas alguns míseros garotos, todos com menos de 23 anos de idade. Se me jogassem na frente de um homem, um verdadeiro homem, um macho viril e experiente, eu simplesmente não saberia o que fazer. Assim como aconteceu na casa do lenhador.
   Outra coisa era bem incômoda. Minha família sempre fora católica desde os primórdios de sua existência. Eu cresci com costumes da Igreja e não consegui abandoná-los. Como por exemplo, me confessar. Minha avó era completamente extremista e doente com a igreja. Toda santa vez que eu cometia um "pecado", um fantasma que me perseguia por onde eu fosse falava na minha cabeça o quão suja e pecadora eu havia sido.
   Então eu saia correndo como se o armageddom estivesse acontecendo e ia em direção à igreja. Lá eu jogava todas as merdas em cima do padre. Quando eu saía da Igreja, por mais hipócrita e falso moralista que isso fosse, eu me sentia livre e de consciência limpa para pecar novamente. Se isso fosse necessário para continuar com a minha loucura em relação ao maldito lenhador, eu faria acontecer. Nem que eu tivesse que ir me confessar 80 vezes por dia, eu iria. Para poder tomar meu banho em paz pensando naquelas mãos me masturbando e fodesse-se o fantasma da minha vó. Sendo assim era hora de agir. Coloquei uma roupa respeitosa qualquer e fui em direção à saída de casa. Falei para o meu pai que iria para até a Igreja. Ele concordou com a cabeça e me mandou um beijo que eu logo correspondi. Por fim atravessei a porta.
   Saí de casa pensando em como eu diria todas aquelas coisas confusas para o padre, eu não queria parecer uma vadia louca falando coisas sem sentido. A chance de eu chegar lá e falar “Padre, quero me confessar” e depois disso sair correndo por me sentir idiota demais era muito grande, mas, eu estava decidida a pelo menos tentar. Finalmente cheguei até a igreja, o altar estava iluminado por várias e várias velas acesas, os vitrais estavam reluzentes e havia um padre tocando alguma composição sacra no órgão. Observei tudo muito rápido e fui logo em direção ao confessionário antes que minha coragem saísse correndo de dentro do meu corpo. Quando eu olhei para aquele confessionário todo talhado em madeira negra, com seus detalhes em ouro puro e cortinas púrpura, parecia que eu estava caminhando em direção à algum pedágio para o inferno. Ah raios, por que tinham que ter inventado essas coisas.
   Por fim, abri a cortininha e me acomodei no assento de madeira forrado com alguma espuma bem macia e confortável, não custava nada ter conforto enquanto você falava barbaridades para o padre.
   - Padre, eu tenho que me confessar. – disse quase engasgando com os olhos fechados com força.

xx

  O bispo estava repousando em seus aposentos quando o telefone tocou. Ele prontamente atendeu ao telefone e se assustou, era seu superior, dizendo que havia chegado naquele momento no aeroporto da cidade. Pediu para que ele pessoalmente fosse buscá-lo. O bispo entrou em um leve estado de pânico, não estava preparado para tal coisa. Levantou-se de sua cadeira folheada a ouro e começou a andar de um lado para o outro. Era dia de confissão e ele seria o responsável por ouvir os pecadores naquele dia. Não poderia deixar seus fiéis na mão e em contra partida, não poderia deixar seu superior esperando. Foi então que ele teve uma ideia e saiu de sua sala berrando por , o novo padre da cidade. A partir do momento em que o bispo leu a carta de recomendação do padre, ele passou a ter como seu novo predileto dentro da Igreja.
   - ? ? Preciso falar com você – disse o bispo em alto tom procurando pelo padre. estava conversando com um coroinha no corredor dos oratórios e ouviu o chamado, indo em direção à ele.
   - Oh, graças a Deus você está aí. Tenho uma emergência a resolver, porém hoje é dia de confissão e não poderei atender a população. Você poderia, por favor, fazer isso por mim? – podia ver nos olhos do bispo o desespero e a verdade de suas palavras. Prontamente aceitou seu pedido.
   O bispo saiu rapidamente correndo pelos corredores atordoado e olho rindo, achando graça. Contudo, sentiu-se um pouquinho chateado, pois, sua tarde livre agora tinha se transformado em uma tarde para se ouvir pecados e mais pecados. Um fulano que traiu a mulher e um beltrano que veio a roubar algum dinheiro de algum lugar. Pelo menos seria uma nova aventura e uma fonte de boas histórias para contar enquanto seus amigos bebiam cerveja e ele, um suco talvez. ajeitou seus cabelos loiros no espelho daquela sala e saiu tranquilamente em direção ao corredor que levava ao confessionário. Seus passos eram tranquilos e vagarosos, ele não estava com pressa e nem ao menos ansioso. Finalmente chegou ao lugar que deveria estar, abriu a cortina púrpura do confessionário e se sentou do lado ouvinte daquela redoma de madeira e ficou ali, quietinho e curioso esperando alguém chegar.
   Ele ficou por ali uns dez minutos e sentiu vontade de beber algo. Para sua sorte havia uma garrafa de vinho canônico bem do seu lado, ele riu. era um crítico nesses quesitos da Igreja Católica. Eles repudiavam tantas coisas, porém, sempre davam direito aos homens santos de tomarem vinho. Para ele era algum tipo de jeito esquisito de compensarem os homens de Deus pela sua dispensa do sexo. Claro que vinho nunca serviria para substituir este ato tão carnalmente prazeroso, mas era um jeitinho de deixar a vida desses homens um pouquinho mais divertida. Foi pensando nessas trivialidades gerais e esperando algum filho de Deus aparecer que nosso querido padre foi aos poucos secando sua garrafa de vinho, quando ele estava dando uma golada que deixaria a garrafa pela metade ouviu passos leves e hesitantes se aproximarem. Os olhos dele ficaram atônitos e os ouvidos ouriçados. Ouviu o barulho da pessoa puxando a cortina e se sentando. O padre deixou a garrafa de lado e ficou todo ouvidos para o primeiro pecador da sua tarde.
   - Padre, eu tenho que me confessar. - disse uma voz feminina jovial e meio nervosa. quis rir, mas se controlou para não constranger sua ovelha.
   - E o que você quer confessar, minha jovem? - perguntou ele, cumprindo seu papel e claro, sanando um pouco seu surto de curiosidade.
   - Bem, eu não sei explicar direito e eu não sei o quanto isso é pecado. Mas é que eu ando tendo pensamentos profanos com um homem mais velho e às vezes eu sinto como se Deus estivesse me olhando e me julgando. - ria muito por dentro, aquilo estava muito mais para insegurança adolescente do que para pecado, seria divertido, ele previu.
   - Vocês tiveram algum tipo de relação ou você só está fantasiando tudo isso?
   - Nós apenas conversamos e chegamos perto um do outro, mas nunca nos beijamos nem nada do tipo. E dizer isso me fez perceber como eu sou idiota, mas, padre, eu não sei... essa merda não é certa. - ela havia falado um "palavrão" para um padre e estava gostando cada vez mais daquilo.
   - Minha filha, é mais pecado você falar a palavra merda para um padre do que se masturbar pensando em um homem mais velho. - do outro lado, gelou ouvindo aquilo. Ela não podia acreditar que tinha falado um palavrão em pleno confessionário para um padre. A garota se contorceu por dentro, balbuciou um maldizer e bateu na própria testa em revolta ao seu ato impensado. Ae confissão estava sendo verdadeiramente uma tragédia.
   - Padre... - chamou .
   - Diga, minha querida.
   - Perdão por falar merda, eu só quero poder pensar essas coisinhas normais em paz sem me sentir culpada, entende? Ele é um homem tão viril e másculo. Sei lá, quando vejo já estou pensando essas coisas e então eu vejo a minha avó na minha frente me recriminando e dizendo que vou para o inferno. E o senhor sabe... eu sei que o senhor é padre, mas todo ser humano pensa nessas coisas e... só sei que é tudo muito confuso. - hesitou por um momento e se sentiu obrigado a concordar com a garota, afinal, somos todos animais e criados para procriar. É inevitável que pelo menos pensamentos sexuais nos abordem e rondem nossas mentes.
   - Querida, não se sinta culpada ou não se martirize perante essas coisas, eu não consigo enxergar pecado aqui. Ao não ser que ele seja casado ou...
   - Padre, não! Pelo amor de Deus, ele não é casado, não tem compromisso, é um homem livre. Eu jamais me meteria com um homem casado, jamais, santo Jesus. Nunca na minha vida, nunca padre, nunca. - estava tão desesperada que suas palavras já estavam perdendo todo o sentido.
   - Tudo bem, deixe me entender. Você está aqui para pedir perdão pelos seus pensamentos sexuais com um homem mais velho que você e apenas por isso? Você não roubou, não traiu, não matou e nem nada do tipo?
   - Não, padre, eu posso ter mentido pros meus pais, ter tomados atitudes irresponsáveis. Mas, todas coisinhas bestas do cotidiano. Deus não deve ficar o tempo inteiro nos julgando, porque né... somos humanos no final das contas.
   - Isso mesmo, minha filha, você não precisa vir aqui por causa dessas coisas, entende? São besteiras tão triviais. - se o mentor de o ouvisse falar essas coisas em pleno confessionário, provavelmente tiraria seu título de padre e o proibiria de chegar perto da Igreja. Pois, era inaceitável que as pessoas ficassem alimentando em si tais pensamentos tão pecaminosos e sujos. Porém era diferente, pensava diferente e não faria com que aquela garota se martirizasse e entregasse sua alma ao diabo por tão simples coisas.
   - Eu só queria tirar meu peso da consciência. Sabe, eu pretendo ir até os limites com ele e precisava descarregar isso tudo.
   - Ah, então é isso? Não é que você veio se confessar, você apenas quer livrar sua consciência. Então vem até aqui, me conta tudo isso e eu a faço sentir melhor para você voltar e fazer tudo pior e com mais sujeira. Para depois vir até aqui novamente, me contar tudo de novo e continuar nesse ciclo. Você não se sente um pouco hipócrita? - se retorceu mais uma vez, estava se sentindo a pessoa mais idiota e tapada do mundo por ter ido até o padre falar tanta asneira. Ela sabia, mas que sabia que era hipocrisia e das grandes.
   - Eu sei, eu sei de tudo isso. Sei que isso é pecado, é errado. Deus vai me julgar e eu estou me sentindo péssima e suja e uma menina muito, mas muito pecadora. Só que eu não consigo evitar. Eu preciso fazer isso e preciso de um jeito para aliviar minha alma, pelo amor de Jesus Cristo e Nossa Senhora, padre me ajude.
   - Então esse é o seu jogo? Ficar brincando com Deus, pecando de propósito e depois pedindo perdão pra fazer tudo outra vez como se nada tivesse acontecido? - ficou perplexo com tal coisa, como as pessoas podiam ser tão hipócritas e mesquinhas? Ele sabia, a Igreja os fazia ficar assim. Porém, por um lado ele até admirou aquela garota e sentiu vontade de ajudá-la, afinal ela parecia bem religiosa e em um paradoxo muito confuso.
   - Padre, pelo amor de Jeová, não fale assim. Eu apenas não quero ficar com o pecado me remoendo, mas eu também quero pecar. Não sei o que fazer, é um pedido de socorro!
   - Você tinha que me meter no meio desse seu rolo com Deus? - era até sincero e íntimo demais com as pessoas - Por que você não resolve esse dilema sozinha com ele? Caramba, quer pecar peque, mas não brinque com coisas sérias e divinas.
   - Porque o senhor é o intercessor entre eu e ele, padre, você estudou e se formou para isso. Para nos ajudar a chegar até Deus, para nos aconselhar e não nos abandonar na terra do pecado e... - não sabia mais o que estava falando, aquilo mais parecia uma conversa entre dois mendigos num beco de rua do que uma conversa séria de um confessionário católico. , por um momento se sentiu culpado e sentiu necessidade enfim, de ajudar a garota.
   - Eu entendi o seu ponto. - naquela altura estava realmente perturbado - A questão é a seguinte, nós faremos um pacto. A Igreja Católica dos quatro cantos do mundo me mandaria pela fogueira pelo o que irei dizer agora. Você pode vir sempre conversar comigo sobre isso. Nós dois colocaremos seus atos perante Deus e você poderá ficar em paz sem ouvir a voz da sua avó te culpando por tudo. Podemos combinar assim?
   - Perfeito, padre, simplesmente perfeito. A melhor oferta de todos os tempos. Muito obrigada, de verdade.
   - Filha, não precisa me agradecer. Também não agradeça demais, vamos parar por aqui antes que eu me arrependa. - sim, se ele pensasse por mais 30 segundos iria voltar atrás em suas palavras insanas.
   - Só uma coisinha, padre... - deu uma longa respirada preparando-se para o que viria - Eu pretendo fazer algo hoje, não sei exatamente o quê e nem tem muito a ver com o homem que te disse, mas então, acho que já vou pedir perdão por antecipação. - Deus tivesse piedade.
   - O quê? Isso é sério mesmo? Vou te dar uma mão e você vai me pedir o corpo inteiro e todos os meus bens e a minha alma? - estava tão inconformado com a cara de pau daquela menina, que não era possível expressar.
   - É, padre, é isso. Que seja, eu vou fazer e você vai ter que ouvir, afinal você me prometeu e espero de verdade que a palavra de um padre valha alguma coisa. - já havia se arrependido completamente, só que não voltaria atrás por uma questão que ele não sabia qual era.
   - Criança, vá embora e depois nós conversamos. Deus te abençoe.
   Se aquilo era um procedimento correto e sensato? não sabia, não sabia e muito menos Deus sabia. Mas eles combinaram e assim se seguiria, faria o que viesse até sua mente e iria descarregar tudo em . Os dois em completo segredo de identidades, virariam um o ouvido do outro para que o pecado e a culpa pudessem ser redimidos. saiu do confessionário se sentindo muito mais leve e com a mente borbulhando de coisas erradas para fazer. Seu sorriso de perversidade podia ser visto de longe e sua expressão angelical fora trocada pela cara de uma menina guiada pelo diabo.
   Saiu da igreja direto para a casa de Charlie. Ela chamaria a mesma e suas outras amigas para uma noite diferente e insana, sem ter que se preocupar com o dia de amanhã.

xx

  Já era noite, havia trabalhado o dia inteiro, meus pés doíam, minha coluna doía, meus braços mais que tudo, estavam latejando de dor. Portanto me dei o luxo de tomar um longo banho quente e de ficar perambulando apenas de toalha pela casa enquanto preparava meu assado e tomava minha vida, o meu tão famoso vinho. Uma coisa rondava minha mente mais do que eu queria, .
   Eu não a vi durante todo o dia, nem de manhã, na hora do almoço ou pelo período da tarde. Ela simplesmente não estava lá, por mais idiotia que seja, eu estava ansioso para pelo menos vê-la e ficar a tarando. Tamanha fora minha frustração. Maldito tesão adolescente. Onde diabos aquela menina tinha se enfiado?
   Continuei bebendo meu vinho, ouvindo algumas besteiras idiotas na televisão. Fui preparar meu jantar. Vestia minha deliciosa toalha felpuda e quentinha. A noite era mais uma daquelas normais e cotidianas, sem novidades, agito ou presença de outros humanos ali do meu lado. Foi quando eu estava fritando algumas cebolas e um pouco de bacon que ouvi certas risadas altas vindas de longe. Eu escutei, assimilei, achei aquilo estranho, porém continuei cuidando das minhas cebolas até que elas ficassem douradas o suficiente. As deixei no fogo, fui procurar pela pimenta do reino. As risadas tornaram-se mais altas.
   Eu não gostava de barulhos estranhos na porcaria da minha floresta. Não, eu não a tinha comprado, mas eu a considerava minha. Cresci ali naquela merda. Somente eu e meu querido amigo Nikolai morávamos por ali. Somente eu e ele conhecíamos cada buraco daquela merda. Sempre cuidávamos para que tudo ficasse sobre controle. A última coisa que eu queria naquela hora, eram os malditos adolescentes arruaceiros da cidade enchendo a minha floresta de lixo, com garrafas de bebida e putaria. A porra me irritou de verdade. Alguns gritos escandalosos que surgiam seguidos de risos mais escandalosos ainda fizeram meu sangue ferver. Juro que eu estava tentando ignorar, mas era realmente difícil.
   Resolvi focar na minha cebola que já estava suculenta e pronta para se misturar ao bacon e a um pão caseiro que eu mesmo havia feito. O assado era só pra mais tarde. Desliguei o fogo, coloquei tudo em um prato, me sentei confortavelmente em meu sofá ao lado da minha cerveja. Cortei uma fatia grossa de pão, coloquei a cebola e o bacon ali, os cobri com outra fatia grossa de pão. Quando fui dar minha primeira mordida gritos de pavor e susto ecoaram pela minha sala. Aquela merda já tinha tomado proporções maiores que o necessário. Resolvi fazer alguma coisa. Larguei meu pão de qualquer jeito no chão, fui correndo para a cozinha pegar a porra da minha arma e abri a porta dos fundos. Sai correndo em direção aos gritos que ficavam cada vez mais fortes. Só depois de algum tempo consegui reconhecer as vozes como femininas. Eram vozes jovens.
   Quando, finalmente, cheguei até a fonte dos gritos, eu mal pude acreditar. Eram as amigas de e a própria que estavam ali entre as árvores tomando vodka, comendo algo que eu não consegui reconhecer. Estavam mais altas do que o permitido. Eu queria muito, queria como o inferno que meus olhos estivessem me enganando, porém, infelizmente e malditamente eles não estavam. Eram mesmo aquelas ninfetas do caralho que estavam ali profanando o caralho da minha floresta. Precisei me controlar muito para não meter balas nelas.
   Tive que controlar o surto de ódio ao ouvir outro barulho. Olhei na direção barulho... santo inferno. Não era só um barulho qualquer, era um rosnado. Uma porra de um lobo, ferozmente com os dentes cerrados e olhos diabólicos se aproximando. Os bichos são capazes de sentir as batidas cardíacas dos humanos, eles sentem quando estes estão com medo. Naquela floresta havia a presença de lobos famintos o tempo inteiro, ainda mais naquela época do ano. Eu nunca havia enfrentado problemas com eles pois sabia exatamente como me comportar entre as árvores, mas, aquelas garotas estúpidas não sabiam. Eu não caçava já fazia muito tempo. No começo eu me divertia caçando lobos, utilizando a gordura na minha lareira e a pele para casacos, chapéus e tapetes. Porém, depois de um tempo foi perdendo a graça e eu acabei deixando os pobres lobos em paz. Eis a minha dor, naquela situação, era preferível escolher as garotas. Não que eu não estivesse com vontade de deixá-las ali para serem devoradas, só não era muito sensato deixar isso acontecer. Quando percebi que o lobo iria dar o bote e voar para cima delas que estavam berrando desesperadamente... soltei o gatilho. Não pensei duas vezes.
   O projétil acertou o pescoço do lobo em cheio, o bichinho uivou alto ao cair no chão com o focinho na terra. Ele mal conseguia andar. Me senti desesperadamente culpado, se eu não o sacrificasse logo de vez o pobre ficaria agonizando e sofrendo por dias. Resolvi sacrificá-lo logo de uma vez para permitir que o pobre bicho morresse em paz. Me aproximei mais um pouco e o animal não apresentou nenhum tipo de medo ou avanço sobre mim. Eu vagarosamente me ajoelhei no chão bem próximo a ele e observei aquele olhar de piedade e tristeza. Por incrível que parece aquele lobo parecia entender o porquê de ter levado aquele tiro, parecia pedir para que eu o mandasse para o céu dos lobos. Ele chorava baixinho e arrastava uma das patinhas no chão pedindo logo por misericórdia.
   No auge da minha tristeza por ter atirado no canino, o abracei pelo pescoço e fiz um afago demorado em sua cabeça. Ele recostou o pelo macio no meu corpo e uivou tão alto que meu peito doeu, lágrimas quase rolavam dos meus olhos. Então por fim, nós nos olhamos mais uma vez e num golpe de misericórdia eu disparei o tiro final. O barulho ecoou longe. Não tive estômago para fazê-lo de olhos abertos. Assim que os abri, o bichinho já estava morto.
   Um ódio doente instaurou-se no meu corpo. Era culpa daquelas irresponsáveis mimadas. Me segurei para não pegar cada uma e jogar dentro rio para morrerem congeladas. As vi olhando para mim de uma forma impressionada. Elas estavam atônitas, assustadas e surpresas.
   Bufava olhando para cada uma delas e principalmente para que deveria ter mentido para os pais. Provavelmente tinha dito que iria dormir em alguma amiga e estava ali. Tive que matar a porra de um lobo inocente para salvar a vida elas.
   - Eu deveria ter deixado esse pobre lobo ter comido vocês. - disparei jogando minha arma no chão.
   - , a gente ... - uma das meninas começou a falar e eu a interrompi.
   - Cale a boca, garota. Simplesmente cale a boca. Qual o problema de vocês? Sério, qual é o inferno do problema de vocês? Um bando de criança, de madrugada, fazendo arruaça nesse caralho de floresta sem pensar nenhum pouquinho. Isso aqui é completamente perigoso. Onde vocês enfiaram o juízo, na garrafa de vodka? - quando terminei de proferir tais palavras senti o olhar de pousar forte em mim, mas não importava, ela podia me odiar pro resto da vida, estava muito puto para pensar nessas coisas.
   - , a gente não pensou que isso fosse acontecer, você não pode culpar a gente. - disse, tentando defender as amigas.
   - Ah, vocês não pensaram? Que novidade! É óbvio que vocês não pensaram nadica de nada, pois se tivessem pensando não estariam aqui à uma hora dessas, no horário em que os predadores estão loucos para achar carne fresca. Vocês são um bando de mimadas e burras que não tem nem um pingo de responsabilidade. É verão filhas, os bichos caminham livremente por aqui. Logo vai amanhecer, eles estão famintos e só caçam à noite.
   - Nós não somos mimadas e muito menos burras, . - falou isso em um tom sarcástico e as meninas me olharam com aquela cara "Toma besta!"
   - Claro, com certeza. Vocês são inteligentes pra diabo, dá pra perceber pelo jeito que vocês resolveram passar a noite que inteligência é coisa que não falta nessas cabecinhas.
   - Você não é nosso pai, por que tá achando que pode brigar com a gente? - perguntou toda irritadinha uma das amigas descerebradas.
   - Por que eu estou achando que posso brigar com vocês? Por que estou achando que posso brigar com vocês? Vocês podiam ter morrido e eu fui obrigado a matar um pobre animal sem culpa de nada graças a um bando de menina irresponsável que resolveu vadiar em uma floresta em plena madrugada. - rapaz, eu estava fora do meu corpo. - Sorte a sua que eu não sou seu pai menina. Se fosse, eu já teria lavado essa sua boca com sabão. Vocês não conseguem enxergar o que aconteceu aqui? Sério mesmo? Cada uma podia estar sendo digerida na barriga daquele lobo que eu matei. Não caço lobos há anos, cansei de matar animais inocentes. Agora sou obrigado a fazer algo que não queria por um bando de garotinha imbecil. - talvez eu tenha exagerado no tratamento com elas. Sim, eu tinha exagerado. Jamais seria agressivo daquela maneira com meus filhos. Elas ficaram horrorizadas e furiosas comigo depois disso. Mas eu precisava ter dito aquilo, não era justo, simplesmente não era.
   - A gente não pediu para você nos salvar lenhadorzinho desgraçado, eu vou te... - uma das amebas falava até que a interrompeu.
   - Desculpa, , nós não queríamos causar problemas para você, muito menos o fazer matar um bicho inocente. Perdão, nós estamos indo embora. - ela disse aquilo mal olhando para mim e se levantou, as outras meninas a olharam surpresas e começaram a se levantar para sair dali.
   - Vocês não vão embora sozinhas uma hora dessas nem fodendo. Está tarde pra cassete e vocês estão há quilômetros da cidade. Não tem nenhuma trilha pronta daqui até lá, vocês estão quase em mata fechada. Não vão conseguir chegar na cidade sem se perder e mais merda acontecer. Meu companheiro de floresta vai levar vocês embora em segurança. - elas concordaram com a cabeça e começaram a arrumar suas coisas. mal olhava para mim, estava brava e com vergonha ao mesmo tempo. Dei um assobio que era um tipo de senha entre eu e Nikolai, meu vizinho. Demorou menos de cinco minutos para que ele chegasse e então eu pedi para que ele levasse as meninas embora. Ele aceitou de bom grado, pediu para que elas o acompanhassem. Quando foi a vez de subir tive que me intrometer.
   - , você fica! - falei curto e grosso, ela olhou para mim parecendo não entender direito. Ficou parada na porta da caminhonete me encarando. - Eu disse que você fica, desce e vem pra cá.
   - Mas, ...
   - Eu disse que você fica! Desce e vem até aqui, agora. - ela me olhou tão chocada que não conseguiu nem mais relutar. Desceu vagarosamente andando em minha direção enquanto Nikolai dava partida para sair da floresta. Ela me olhou no fundo dos olhos e deu uma risadinha leve na sequência.
   - O que foi? - perguntei a ela cruzando os braços com as sobrancelhas arqueadas.
   - Por que você está de toalha, ? - tanto coisa tinha acontecido, tudo estava tão confuso que eu acabei esquecendo do detalhe básico: eu estava de toalha.
   - Por que eu estou de toalha? Por quê? Porque eu estava na minha casa, depois de um longo dia de serviço. Fui tomar um banho quente e demorado, sai do banheiro enrolado na toalha e como não iria mais sair de casa fiquei com ela. Afinal de contas, eu posso ficar só de toalha dentro da minha própria casa. Até que claro, umas garotinhas irresponsáveis aparecerem e eu ter que sair às pressas para cuidar delas.
   - Olha, eu já entendi que a gente fez errado, já estou me sentindo muito culpada. Então pode parar de dar lição de moral, por favor? - assumo que eu já tinha falado demais e estava batendo na mesma tecla, mas, eu estava tão irritado que não conseguia parar de falar.
   - Primeiro você me segue até a minha casa escondida de noite e depois se mete na mata fechada sem ter noção nenhuma do caminho de volta, se eu não tivesse aparecido o que vocês fariam?
   - Não sei, mas você apareceu e muito obrigada, ok? Obrigada por salvar a gente, mas chega de sermão. Chega! Sai de casa para esquecer meus pais um pouco. Relaxar a mente e agora fica você se comportando pior que meu pai, mais parecendo um velhote rabugento. - velhote rabugento?
   - Se eu quiser eu falo a noite inteira e o dia inteiro porque você é uma irresponsável completa sem o mínimo senso de realidade. Quantas vezes eu vou ter que falar pra você entender a merda que fez?
   - Eu não preciso de você jogando as coisas na minha cara, mas que inferno! - a infeliz alterou o tom de voz para falar comigo. O sangue ferveu mais ainda, minha vontade era ressuscitar o lobo e deixar o pau torar. - Ah, que ótimo, agora você vai gritar comigo, que ótimo. Levanta o tom de voz pra mim mais uma vez, que eu meto a mão na sua cara sem o mínimo de compaixão. - então ela fez uma cara de indignação. Apontou um dedo trêmulo na minha cara para se impor.
   - Você tá achando que é quem? Quem? - nem pensei. Grudei aquele dedo abusado e a puxei com força para perto do meu corpo. Se aquela garotinha estava achando que ia bancar a rebelde pra cima de mim, ela estava muito enganada.
   - Experimente gritar comigo de novo, pirralha. Tenta, só mais uma vez pra você o que vai acontecer. - nossos corpos estavam quase grudados, nós dois estávamos bufando de raiva um do outro. Ela tentava soltar a mão que eu segurava com força, mas obviamente o movimento era falho. Minha força não tinha comparação com a dela.
  
   - Me solta, , agora! - ela esbravejou.
   - Não solto. Sabe por quê? Porque você passou de todos os limites e merece receber uma lição.
   - Vai se foder, ! - a garotinha estava irritada. Seu xingamento saíra com extrema vontade. Suas palavras ecoaram pela floresta. Só pude rir por dentro, era a única coisa que eu poderia fazer. Olhando de longe, aquilo estava sendo ridículo. Mas, ela ali tão vulnerável a mim... Merda, foco, homem.
   - Mas, isso não é coisa que se berre pra alguém mais velho. Seus pais não te deram educação? Agora você vai ser punida por isso, mocinha. - bruscamente a girei e a fiz ficar de costas para mim. Sentia sua respiração pesada, seus peitos subiam e desciam aceleradamente. Acho que eu realmente havia a assustado. Missão cumprida.
   Essa era realmente a intenção. Soltei a mão que segurava e rapidamente a puxei seus cabelos ainda mais para trás. Ela estava com a cabeça apoiada no meu ombro olhando para mim, sua mão apertou meu braço, tentando falhamente se soltar.
   - O que você vai fazer comigo? - ela perguntou entre dentes.
   - Você foi uma garota má e desobediente. Agora eu vou te castigar, . - ela respirou fundo, muito fundo. Soltou um gritinho sufocado quando eu puxei mais ainda seus cabelos e encaixei sua bunda entre minhas pernas. Eu sentia meu corpo tremer. Não deveria ser uma sensação nova para mim uma garota roçando no meu corpo. Mas, aquilo era muito mais profundo do que eu imaginava que seria. respirava fundo, seu coração batia rapidamente e suas pernas vacilavam. Queria puni-la, queria castigá-la por ser tão irresponsável. Sim, eu queria descontar minha raiva nela e fazer coisas absurdas e ao mesmo tempo obscenas.
   Abruptamente eu a virei para minha frente e segurei em seu pescoço com força, A garota me fitava intensamente tentando entender alguma coisa. Sorri maquiavelicamente enquanto seu corpo inteiro tremia por mim. Minha mão que estava em seu pescoço foi descendo pelas suas costas. Os movimentos eram longos e marcantes. A vi fechar os olhos e por fim se entregar. A outra mão livre que tinha foi pousar em sua cintura, grudei ali com força como se fosse arrancar um pedaço fora. A essa altura eu já podia sentir meu membro vibrando entre as calças. Era excitante demais tocar cada parte do corpo e sentir perder os seus sentidos pouco a pouco.
   Cheguei minha boca bem próxima da dela. Soltei o ar em seus lábios enquanto minhas mãos passeavam tranquilamente por suas pernas. Ela parecia desesperada. Não por medo, mas sim pela minha demora em fazer algo realmente direto.
   Meus dedos corriam suas coxas, quando encontravam a quantidade certa de carne, grudavam e puxavam com força como se estivessem famintos por aquilo. Ela gemia bem baixinho em uma tentativa de manter o controle. Agarrei sua bunda sem piedade nenhuma, cada mão judiou de uma nádega dando um tapa forte. Puxei todo aquele pedaço de tesão para mim. Puta merda, que bunda gostosa.
   Perdi quase uma eternidade apertando suas nádegas, estapeando pervertidamente. Depois de tanto me questionar, me vi inerte àquela situação. Que tudo fosse para o inferno. Perdi de vez a vergonha na cara quando finalmente coloquei minhas mãos por dentro de suas roupas. De início ela me olhou surpresa, mas, ao primeiro toque em seu mamilo duro, ela sucumbiu. Ela não conseguia falar, não conseguia manter o corpo firme, apenas conseguia ficar de olhos fechados falando coisas desconexas. A empurrei para uma árvore e a virei novamente com brutalidade. Fiz com que ficasse de costas para mim. Com uma mão a puxei novamente pelos cabelos para trás, a fazendo me encarar. Desci o toque por um de seus seios, passando delicadamente e vagarosamente pela barriga. Quando pousei a mão próxima ao cós do short eu senti seus pelos ouriçados. Seu ventre quente subia e descia pela respiração descompassada.
   Torturei mais um pouco... Ela deveria ter mais um pouquinho de agonia e desespero. Foi isso que eu dei a ela quando rocei meu pau em sua bunda. Finalmente soltou um gemido alto e escancarou seu tesão. A garota escorou-se na árvore com as mãos e instintivamente empinou a bunda rebolando. Eu sorria.
   Minha mão que puxava seus cabelos fez com que encontrasse meu olhar. A porra toda fodeu neste momento. No momento que eu a vi morder os lábios e cerrar os olhos graças à pressão que eu fazia em sua bunda. Para evitar que ela tivesse as mãos livres para se divertir sozinha, as prendi para trás. Tinha domínio total de seu corpo.
   Depois de algum tempo naquela movimentação, minha toalha veio a cair. Fiquei pelado de pau duro no meio da floresta gélida durante a madrugada. Foi divertido, eu confesso. Passei minhas mãos para a calça de e fiz o favor de puxar o zíper para baixo . A despi. Conforme sua carne ficava desnuda eu podia ver a pelugem fina se ouriçar por conta do frio. Ela começou a tremer mais ainda, porém, seu corpo estava quente como nunca.
  Quando sua bunda ficou totalmente exposta, foi como se a perfeição do mundo estivesse na minha frente. Cuidadosamente separei as nádegas e encaixei ali meu pau. Imitei uma movimentação de sobe e desce. Com as mãos apalpando e agarrando seu bumbum eu ia metia entre ele. Porra, eu iria explodir. Na mesma hora que eu sentia que ela estava se empolgando, diminuía o ritmo sentindo em seus gemidos desesperados o quanto ela não aguentava mais tanta provocação.
   - , pelo amor... de... Deus... - suplicou a garota escorrendo a mão pelo seu rosto bagunçando os cabelos.
   - O que você quer, hein? - perguntei provocativo mordendo seu pescoço. Ela se perdeu por completo quase caindo chão abaixo. Eu e a segurei firme para que não desabasse. A virei de frente para mim e a prensei na árvore, deixando nossas partes íntimas coladas. Puxei-a pelo queixo para perto de mim e colei nossas testas suadas. Ela estava perdida procurando por ar, buscando as palavras lá no fundo do peito.
   - Eu... eu... por favor... vai logo... - eu esbocei um sorriso debochado e ao mesmo tempo erótico.
   - Ir logo? Ir logo onde? - eu queria ouvir da boca dela.
   - Ir logo... - seus olhos estavam fechados e sua boca mal abria -... eu não aguento mais...
   - E o que você não aguenta mais, han? - a essa altura meu pau estava latejando de tão duro. Eu nem mais estava aguentando enrolar tudo. Foi quando ela levantou a cabeça e abriu os olhos. Nós dois nos olhamos tão profundamente que chegou a doer na espinha. Meu corpo contorceu e uma espécie de arrepio correu pelas minhas veias.
   - Me fode, porra! - ela finalmente pediu, puxando-me para ela. Eu queria muito fodê-la e meter até o talo, mas ainda não era a hora certa.
   - Sabe, mocinha, você ainda está de castigo, você foi má, não se comportou direito e não merece isso. - ela bufou de ódio. Eu senti a raiva sair pelas suas narinas e inundarem meu rosto. Ela quis me estapear, mas eu não permiti. Grudei a mão no rosto dela, na forma de um tapa de leve. Com um pouco de força, mas ainda de leve.
   - Eu vou te castigar logo de uma vez. - ela ameaçou falar algo quando a segurei pelo pescoço. Só ameaçou, pois sua voz se perdera no momento em que meti um dedo em sua entrada encharcada. Ela gritou. Gritou com ardor e me olhou de olhos arregalados. Meti mais uma vez.
   E logo meti de novo.
   E de novo.
   Até o movimento se acelerar. Ela gemeu alto arranhando minhas costas. Quando seus gemidos estavam extrapolando o limite de barulho permitido a mão que estava em seu pescoço foi para tapar sua boca. A garota olhava com aquela carinha de menina inocente inebriada por sexo, cheia de prazer e libido. Continuei metendo, fui com minha boca para o bico de um de seus peitos.
   Lambi, puxei, mordi. A deixei em um estado de êxtase extremo. Porém, eu já tinha perdido minha força nas pernas. Decidi fazer um favor para nós dois.
   Parei de penetrá-la por menos de um minuto para pô-la com cuidado no chão. Seu corpo se apoiou nas folhas. As pernas se abriram. Eu podia ver seu clítoris vibrando. Ela apertou meus ombros com força, me puxando para si
   - Me rasga no meio! - o que mais eu poderia fazer?
   Me posicionei do ao lado dela. Foram três dedos. Só a olhei diabolicamente antes de enfiar tudo de uma vez. Ela se contorceu e grunhiu. Tive que voltar a tapar sua boca para não corrermos o risco de chamar muita atenção. Meu caralho estava doendo de tão duro, as veias estavam saltadas, apontando para cima como uma arma. Por mais que meu corpo pedisse e eu sentisse vontade de fodê-la ferozemente... eu não o faria.
   Meus dedos estavam completamente molhados, quase dormentes. Quando percebi que ela estava se contorcendo com mais força e que seus olhos quase lacrimejavam, pude prever que o seu orgasmo estava próximo. Delícia.
   O que eu poderia fazer? Diminuir o ritmo.
   Em um segundo eu estava metendo com força total e no outro, meus dedos entravam e saiam de sua bucetinha com muita tranquilidade. Enfiava e ia até o fundo e então voltava vagarosamente até meter com muita paciência de novo. Ela mais uma vez enlouqueceu de raiva. Até tentou me xingar, mas minha mão estava tapando sua boca. começou a rebolar e levantar o quadril desesperadamente na tentativa de acelerar o movimento de novo. Tirei meus dedos dela por completo. Não sei como diabos ela arrumou força para se livrar de mim e sentar o corpo. Estava vermelha, suada, descabelada e revoltada. Passou as mãos pelo rosto, deu um tapa na própria testa e me olhou com aquela expressão de revolta. Eu ri alto.
   - O que você acha que está fazendo, hein? - ela perguntou entre dentes.
   - Eu disse que tinha que te punir, minha linda. - ela levantou a mão para me estapear e mais uma vez, eu fui mais rápido.
   - Desgraçado do inferno! Eu te odeio!
   - Ah, você me odeia? Eu acho que não. - ela tentou abrir a boca para responder, mas eu não deixei. Eu peguei seus cabelos e ela expeliu um ai. Usei-os para a guiar como uma marionete. A coloquei de quatro no chão. Subi por cima dela e sussurrei em seu ouvido: - Vamos ver com seus gemidos, o quanto você me odeia. - antes que pudesse esboçar qualquer resposta eu me ajoelhei atrás dela. Passei minha língua pelo seu clitóris. urrou e enfiou a cabeça no chão. Comecei a chupá-la e lamber seu grelo com vontade. A safada rebolava na minha cara esfregando seu melado em mim. Eu estava delirando com aquilo.
   O orgasmo estava próximo demais. Não demorou muito para que suas reboladas se intensificassem. Era óbvio que ela estava prestes a gozar. Me posicionei com o rosto perto do dela e comecei a meter três dedos novamente. Dessa vez com rapidez e brutalidade. Fazia movimentos circulares, tirando tudo e colocando tudo outra vez. gemia tão deliciosamente, era uma sinfonia extremamente formidável para meus ouvidos.
   Mais alguns e minutos e voilá. Aquela vibração, a contração dos músculos. O ápice do prazer. Parei de meter e me posicionei de joelhos perto de seu rosto. Decidi que eu merecia gozar também.
   Não precisou que eu me masturbasse muito para soltar toda a minha porra no rosto dela. A cereja do bolo. Os dois despencaram ao chão, sem fôlego. Extremamente cansados.
   Eu previ que já deveriam ser entre duas e duas e meia da manhã. A paisagem começara a perder o tom escuro. Alguns raios de sol tímidos apontavam. Saímos logo dali.
   Eu me levantei, coloquei minha toalha caída nos ombros. Segurei minha arma de um jeito qualquer e peguei no colo. Ela ainda estava se recuperando, sua respiração era cansada. Fui caminhando com ela em meus braços até minha casa, que estava a uns cinco ou sete minutos dali. repousava sua cabeça em meus ombros e murmurava algumas coisas que eu não entendia. Como nossos corpos estavam quentes, não estávamos sendo castigados pelo frio da floresta, mas se ficássemos ali por mais algum tempo o resultado não seria bom.
   Como previsto, não muito tempo depois cheguei até minha casa. Caminhei por ela e finalmente cheguei até o meu quarto. Coloquei na cama e me deitei ao lado dela. Nos cobri com cobertas quentinhas de pele e a beijei delicadamente na testa em sinal de boa noite. Seus olhos estavam fechados. A garota simplesmente adormeceu enquanto eu fazia carinho em seus cabelos. O problema agora seria o dia de amanhã.

Chapter IV

  Abri os olhos repentinamente assustada. A claridade me possuiu com força, mas não o suficiente para acordar meu corpo. Eu tinha tantas informações perturbadoras na minha cabeça que seria impossível dormir pelos próximos anos em paz. Quando olhei para o lado, percebi que estava no meu próprio quarto. O que não fazia sentido algum. Tinha sido um sonho? Ou uma porcaria de um pesadelo? Eu não sei, a única coisa que eu sabia é que eu não sabia de nada.
   Tentei relembrar os fatos, buscar lá no fundo da minha mente alguma resposta e... nada. Voltei com força para o travesseiro rezando a Deus para que meu corpo fosse sugado pela cama.
   Foi quando a luz acendeu repentinamente. Como um raio, as loucuras e insanidades que pensei ter sonhado faiscaram na minha cabeça. Todas as coisas foram se passando na velocidade da luz à minha frente. Foi o suficiente para me colapsar.
   Os flashs passavam cortados. Eu e as meninas saindo de casa com uma garrafa de vodka escondida, nós entrando na floresta, nossos risos e gritos, um lobo faminto, um tiro, um homem de toalha. Alguém brigando conosco, uma caminhonete levando as meninas embora e eu... O que havia acontecido comigo? Eu me esforçava para lembrar, mas tudo parecia muito confuso.
   Depois de ficar alguns segundos estática olhando para a parede tudo me invadiu de uma vez. Um homem me fez ficar lá, um homem gritou comigo, um homem disse que iria me castigar, um homem de toalha tocou no meu corpo, um homem dominador que me colocou contra uma árvore e enfiou suas mãos pelo meu corpo. Santo Deus, eu tinha sido estuprada? Que diabos de sonho poderia ter sido? Fechei meus olhos e os cerrei com força tentando me concentrar. Finalmente me lembrei, finalmente a dúvida fora sanada. O maldito homem era .
   Todo o filme se passou na minha cabeça novamente, apenas de toalha matando um lobo para nos proteger, nos xingando de tudo quanto é nome. E aquele homem, aquele lenhador maldito me jogando no chão da floresta entre as folhas, me agarrando, me molestando, enfiando aquelas mãos no meu corpo.
   Jesus Cristo, seria isso possível? Mas o que eu fazia em casa? Quem tinha me posto na minha casa, na minha cama com o meu pijama? Que bosta de cérebro me faz sonhar com uma coisa dessas? Era tudo tão real para ser apenas um sonho, eu não sabia mais o que pensar.
   Resolvi me levantar e enfrentar a realidade. Sentei-me na cama e logo me pus de pé e encarei minha porta. Eu a abri e observei o corredor vazio. A casa estava silenciosa, muito provavelmente meu pai estava trabalhando e minha estava mamãezinha gastando em alguma boutique. Mas, minha atenção fora tirada por algumas risadas vindas do andar debaixo. Deduzi eu que era Wilda e lá embaixo rindo de alguma asneira. Os dois se divertiam muito conversando.
   Desci a escada vagarosamente prestando atenção no que eles diziam, eram trivialidades quaisquer, histórias de família e essas coisas. Por Deus, eu queria muito ficar sozinha com o e encará-lo, eu precisava descobrir e confirmar que toda aquela loucura era só uma invenção da minha cabeça. Finalmente eu vi Wilda sair e ficar sozinho na cozinha bebendo um copo de suco de laranja. Quando ele deus as costas para a porta eu sai correndo em disparada e fiquei parada no batente da porta esperando ele se virar novamente. Quando ele o fez, me encarou por um minuto meio assustado e logo deu um sorrisinho simpático.
  
   - Me diz que foi só um sonho. - falei com os olhos fechados e mãos na cabeça.
   - Do que você está falando, ? Que diabo de sonho? - ele perguntou me olhando completamente assustado.
   - Então nada daquilo aconteceu? Eu, você, nada?
   - Do que raios você tá falando criatura? Aconteceu o quê? - ele foi se aproximando de mim e tirando minhas mãos do meu rosto me fazendo olhá-lo.
   - Nós dois, , que bosta! Só me responde que foi nada. - eu bati no peito dele com força.
   - Caralho, menina. Nada o quê? Deus do céu. Você está bêbada?
   - Ótimo, maravilha. Graças a Deus. - encostei a cabeça no batente da porta rezando uns 30 pai nossos para agradecer. Por mais que eu quisesse aquele homem em cima de mim não fazia sentido as coisas acontecerem daquele jeito.
   - Wilda é a única pessoa normal dessa casa? Sério? - perguntou indo em direção da pia para pegar um copo de água.
   - Ela não tem o DNA da família, acho que isso explica!
   - Tome isso aqui. - disse ele me oferecendo o copo de água, não que aquilo iria me acalmar e apagar minha memória, mas já era um começo – E, afinal, o que diabos você está achando que aconteceu entre nós dois? - Nada, , fique tranquilo, ok?
   - Ok o escambal. Você vem aqui, faz todo esse escândalo por algo que é nada? Sério? - ele estava um pouco indignado e com a curiosidade comendo seu corpo, eu podia sentir. Só que jamais eu contaria algo daquilo para ele.
   - Só tem uma pessoa que pode ficar sabendo disso e eu estou indo contar para ele. - só me virei e sai porta afora. Se eu estava de pijama? Sim, eu estava. Mas era muito cedo e praticamente ninguém estaria na rua, então, problema zero. E se alguém me visse no meio do caminho, tanto fazia. Bom, naquele momento eu só poderia escolher ir para o lugar que eu sabia que haveria alguém para escutar minhas histórias pecadoras, o confessionário. Seria minha segunda vez lá, abrindo a minha alma e derramando o meu espírito pecaminoso, pedindo perdão a Deus por pensar em tanta besteira. Além de tudo, deveria ser pecado ser tão besta como eu. Adentrei correndo e finalmente sentei-me na cadeira dos pecadores. Toquei o sininho ao lado para avisar ao padre que tinha chegado. Não muitos minutos depois eu ouvi o barulho do outro lado denunciando que alguém havia sentado ali.
   - Padre, você reconhece minha voz? - eu tinha que ter certeza que era o mesmo padre de antes, pois nós havíamos combinado de nos ver, mas não em um horário específico, não que eu me lembrasse.
   - Como eu poderia esquecer? É a menina que me meteu no meio dos pensamentos sexuais dela. - vamos admitir, esse padre era divertido e tinha bom humor, sarcástico, mas tinha.
   - Padre, eu tive o pesadelo mais perturbador e real que alguém no planeta poderia ter.
   - Como assim? - perguntou ele meio confuso.
   - Bem, eu sonhei que... - certo eu não poderia contar o sonho em detalhes verdadeiros porque ficaria extremamente óbvio sobre quem eu estaria falando, então eu tive de mentir um pouquinho -... eu sai escondida de casa com as minhas amigas e nós invadimos um lugar proibido. Estávamos em farra até o dono do local aparecer e ter que nos defender de um demônio. - tipo, o quê? Droga ,, que horrível.
   - Um demônio? - perguntou o padre me zombando.
   - Sim, padre, ele se livrou do demônio e logo depois deu uma broca enorme em todas nós.
   - Prossiga, por favor, que eu estou perplexo.
   - Ele realmente estava muito bravo, perturbado e furioso. Foi uma briga horrível.
   - Eu teria feito o mesmo, porque invasão de propriedade particular é crime e ter sonhos como esse deveria ser crime também.
   - Padre, por favor, me escute, isso é importante. - eu pude ouvir ele respirar fundo do outro lado, acho que se ele fosse um cidadão normal, já teria invadido a saleta e me dado uns tabefes na fuça - Depois de dar o sermão em mim e nas meninas, ele deu um jeito delas irem embora. Mas, me fez ficar com ele ali. Foi aí que a loucura começou.
   - Ah, então foi nessa parte que a loucura começou. Entendi, claro. - suas palavras eram pura ironia.
   - Bom, padre, depois delas irem embora e eu fiquei com ele. Sozinha com um estranho em um lugar totalmente vazio e abandonado. O homem ainda continuou a me dar broncas, me falou coisas terríveis que me machucaram. Quando eu tomei coragem para mandá-lo calar a boca o desgraçado me grudou pelos cabelos e disse que iria me punir pelos meus atos e bem... ele acabou fazendo isso realmente, só que de um jeito diferente, sabe? - eu estava com vergonha de contar coisas sexuais para um padre, um homem casto de Deus.
   - Não, minha filha, eu não sei, se eu soubesse você não precisaria vir aqui contar tudo isso para mim, por favor, prossiga.
   - Padre, desculpe-me, mas eu estou morrendo de vergonha de te contar isso.
   - Por favor, jogue essa vergonha fora, porque Deus me perdoe, mas eu estou me corroendo de curiosidade. Você não pode vir aqui e fazer todo esse alarde e simplesmente ir embora sem me contar o que foi que aconteceu, pois, foi algo que realmente te atormentou a ponto de te trazer aqui tão cedo. - devo admitir que ele estava correto em sua lógica.
   - Bom, padre, é que depois de toda essa situação o tal homem estranho me jogou contra a parede e como eu posso dizer isso... ele começou a molestar o meu corpo. Foi completamente estranho e por incrível que pareça... eu gostei. Isso me deixou tão confusa, eu não sei o que fazer.
   - Filha, por incrível que pareça essas coisas acontecem com todos os mortais deste planeta, não fique se recriminando ou se torturando por ter sonhado tal coisa. Os religiosos costumam fazer as pessoas se sentirem totalmente culpadas por coisas assim e existem até os mais doentes que se aproveitam de tais coisas, porém, eu te digo sem medo algum, de certa forma isso é até saudável. O não saudável é fazer isso na vida real do jeito errado, me entende? - as palavras do padre me fizeram refletir por alguns minutos. Conclui que ele estava correto, apesar dos pesares, eu não deveria deixar algo da minha mente doente me atrapalhar. Apenas um detalhe sobressaltou-se, o padre não sabia que o homem do meu sonho estava mais perto de mim do que ele imaginava. Seria completamente difícil e constrangedor trombar todos os dias com pela casa e mais difícil ainda seria controlar meus impulsos de ir até a floresta.

xx

  Depois de um dia fodido de trabalho, eu estava quebrado pra diabo, com dor em tudo quanto é canto do corpo. Queria beber alguma coisa e comer uns pedaços de assado para recuperar minhas forças. Depois de sair da casa da família , resolvi dar uma passadinha no açougue de . Quando me aproximei de lá percebi que estava no balcão trocando umas ideia com e aquilo me deixou feliz, de verdade.
   - Olha só quem tá dando as caras pela ala da pobreza. - como sempre, tinha que destilar seu sarcasmo na minha cara.
   - Te amo, , é sério, eu te amo.
   - Ama igual minha ex-mulher me amava. Se for pra me amar assim não precisa, tá sabendo?
   - Eu fico embasbacado com vocês dois. Não sei quem é mais ranzinza. - comentou, se intrometendo no meio das juras de amor.
   - gosta de fazer um charme, mas ele curte meu chamego que eu sei. - falei dando uma piscadela serelepe para , que me mandou um dedo meio - Mas e aí, meus gatos. Qual é a jogada de hoje?
   - Dar um pulo na Coruja e beber alguma coisa, talvez? Lá me pareceu ser um lugar bem interessante.
   - Ué padre, tá querendo ir pros agitos? Isso é permitido por Jesus? - perguntou infortunando , que deu uma risada cafajeste.
   - Eu não vou com as mulheres para cama e não as beijo, nem as toco, mas eu não sou proibido de olhá-las e imaginar coisas, caspice, macellaio?
   - O quê? - perguntou sem entender porra nenhuma do que o estava falando em italiano.
   - Entende, açougueiro? Macellaio é açougueiro em italiano. Nós tínhamos nosso próprio no Vaticano e como ninguém o chamava pelo nome e sim pela função, acabou ficando na minha cabeça. Mas então, vamos para o bar? Eu tenho uma história interessante para contar.
   Todos nós concordamos e fomos caminhando para a taverna que ficava próxima dali, as pessoas olhavam para com desdém, para mim com indiferença e para o com olhares apaixonados e educados. Aquele infeliz tinha o dom de conquistar as pessoas, ainda não tinha entendido como diabos ele havia desistido da vida de comedor para se tornar um padre. Finalmente nos adentramos no bar e nos sentamos numa mesinha quadrada bem afastada das outras pessoas. Meu humor naquele momento era realmente formidável. Revi depois de tantos anos, recuperei sua tão preciosa amizade e de bônus superava o fato de ter sido largado pela mulher. Minha vida parecia um pouco mais "colorida" digamos assim, era bom ter bons cafajestes chorões por perto.
   - Mas desembuche logo, , qual é a história? Ando precisando saber um pouco mais sobre a vida dos outros. - perguntou dando uma leve golada em sua cerveja.
   - Bom, na verdade eu não sei muito bem se eu devo fazer isso...
   - Ah, pelo amor de Deus, , pra quê falar que tem uma porra de uma história para contar e cinco minutos depois resolver ter crise de consciência? - porra, que bosta.
   - É que existe um código de confiança muito grande dentro do confessionário, eu não posso fazer isso, me desculpem, eu me excedi.
   - Se excedeu é o caralho, agora você vai contar. Não quero saber, se eu tiver que meter um soco na cara de Jesus ou dar um tiro na cabeça do papa eu quero ouvir essa história agora, eu disse, agora! - estava em pé dando de dedo na cara de que o olhava completamente assustado e sem reação. Eu me levantei calmamente e comecei a fazer se acalmar e se sentar novamente.
   - ! Calma, meu amigo, calma, senta aqui. Ele vai contar pra gente, não é mesmo, ? - se sentou fechando os olhos para controlar aquela crise de braveza. Eu gesticulava e balbuciava hiperativamente para que parasse de frescura no rabo e contasse a maldita história.
   - Ok, bando de comadre fofoqueira. Mas, eu preciso que vocês me jurem pela morte de vossos pênis que nunca e jamais essa história sairá deste lugar. Ok?
   - Meu pênis é coisa séria, eu não brincaria com isso e o também não. Então, padre filho de uma boa égua, desembucha.
   - Bom... – respirou fundo e prosseguiu - Semana passada aconteceu um imprevisto com o Bispo e como desde quando eu cheguei aqui ele puxa muito meu saco por eu ter vindo do Vaticano, resolveu pedir para que o substituísse no confessionário. E a questão é que eu não tenho experiência alguma com confissão porque eu nunca fiz isso na vida. Seria a primeira vez de todas e não podia recusar porque ficaria feio pra eu negar, convenhamos. Então eu aceitei e fui pra lá. Fiquei sentadinho bonitinho esperando alguém chegar e acontece que eu fiquei lá um bom tempo esperando e nada. Até que depois de vários minutos, quando eu estava quase dormindo, ouvi alguém entrando e fiquei aflito. – a essa altura meus olhos e o de estavam brilhando – Esperei a criatura começar a falar. Acontece que era a voz de uma menina e eu achei aquilo estranho, porque eu nem imaginava que adolescentes se confessavam. Mas tudo bem. Enfim, ela começou a falar e foi aí que fiquei muito assustado.
   - O que aconteceu? O quê? Fala logo porra!
   - , eu falo quando você calar a boca, ok?
   - Desculpa – respondeu ficando cabisbaixo.
   - Ela começou a falar e eu fui ficando perplexo e indignado. Não estava acreditando que a história era realmente verdade, porque na minha inocência eu imaginava que sei lá... as pessoas iam confessar roubo ou fofoca, mas não esse tipo de coisa e então...
   - O que ela falou? Que ela disse?
   - Puta que pariu, , deixa o homem falar! – acabei me exaltando e gritando com ele, mas caralho, ninguém consegue contar uma história desse jeito.
   - Posso agora, sério? – perguntou .
   - Pode, foi mal, eu só sou meio ansioso – respondeu .
   - Tem certeza? - Vai logo, , desembucha, infeliz.
   - Como eu dizia, me assustei com a confissão dela. Ela estava pedindo perdão por ter pensamento sexuais, é isso. Ela queria saber se Deus perdoa a gente por pensar putaria. A merda é que eu fiz algo terrível depois disso.
   - O quê? Você pegou ela no confessionário? Você pegou a menina? Fez sexo com ela? Não creio, , que safadão...
   - Não, , eu não fiz sexo com ninguém, pelo amor de Deus. Cala a boca, para de falar merda.
   - Poxa, desculpa, só achei que talvez...
   - Não, não tem talvez. Eu sou um cara sério, treinado nas leis de Deus, pelo amor.
   - Desculpa, , eu não quis ofender. – ficou meio triste e amuado. Eu olhei para fazendo uma expressão facial que pedia “poxa, cara, pega leve o nego foi chifrado e abandonado”. era estabanado e ranzinza, mas no fundo era um cara de bom coração.
   - Tudo bem, cara, fica tranquilo. Só deixa eu contar, por favor. – concordou com a cabeça e prosseguiu – Eu deveria pela cartilha católica ter dito à ela que isso era um pecado grave. Que ela deveria parar com essas coisas e tudo mais. Só que eu achei que seria tão hipócrita, porque até eu tenho pensamentos assim. Por isso disse à ela que era normal e que ela poderia se tranquilizar. Daí eu pensei que ela nem fosse voltar mais, sabe? E quando eu menos percebo a menina volta, falando que teve um sonho erótico com um cara mais velho.
   - Uma menina te contando sonhos eróticos, ? Será que ela não está te querendo não? Tem certeza que ela não sabe quem é você? – perguntei eu, curioso.
   - Não, ela não sabe. Tenho certeza que era só confissão mesmo, dava para perceber que ela estava sendo bem sincera e contando a verdade. O problema é se ela aparecer lá mais uma vez. Se isso acontecer, lascou. Eu não sei o que fazer, entendem?
   - Pede para ela não voltar mais. – sugeri.
   - Cala a boca, , ele não pode fazer isso. Ele não pode rejeitar as pessoas, ele é um servo de Deus e Deus não fala para as pessoas pararem de ir até ele. E já imaginou se a menina se revolta e denuncia ele pro Bispo ou pra comissão? Ele tá ferrado.
   - Obrigado, , obrigado por não ser um lenhador sem sentimentos.
   - Por nada.
   - Ah, então os dois vão ficar de complô contra mim? Pois bem então, eu vou embora. Já é tarde mesmo e eu estou com fome. – levantei da mesa, deixando o dinheiro por lá mesmo. Peguei minha blusa e sai. Os dois começaram a rir e pediram para eu ficar, mandei um dedo do meio e caminhei para minha casa. No caminho comecei a pensar na história do , fazia tanto tempo que eu não tinha sonhos eróticos que era engraçado pensar nos adolescentes descarregando os hormônios durante os sonhos. Depois de um tempo, já tinha me adentrado a floresta. Caminhando e pensando na vida percebi alguns sons atrás de mim e, devo admitir, que isso já estava me irritando. Do nada minha floresta, sim, minha floresta, começou a ficar frequentada e agitada demais. Pensei por um momento que poderia ser a , já que ela estava com a mania de aparecer escondida por lá. Mas, apurando um pouco mais a audição percebi que as passadas estavam pesadas demais para ser de uma mulher. Quanto mais de uma menina como ela.
   Comecei a ficar desconfiado de um jeito ruim. Me agachei perto de um tronco tentando sair do campo visão de quem pudesse estar ali e fui bem devagar seguindo caminho até a minha casa. Na escuridão eu vi a reluzência de um par de olhos maldito. Ótimo, alguém estava vigiando a floresta. O motivo eu não sabia e muito menos tinha conhecimento de quem era o vagabundo. Havia apenas uma certeza, a de que o filho de uma puta não sairia ileso, eu descobriria seu plano e acabaria com sua vida se fosse preciso.

Chapter V

  Eu estava no calor da minha cama aproveitando um dos únicos dias de folga que eu estava tendo naquele mês. Não só folga do serviço, mas também uma folga para a cabeça. Entendem? Não sabia que horas eram e nem queria saber, eu ficaria semi morto o dia inteiro, bebendo vinho, comendo carne, vendo esportes na televisão e nada muito além disso.
   Sei que o povo na cidade pensava que eu mantinha prostitutas direto na minha casa, mas isso não era verdade. Tinha investido nesse “mercado” poucas vezes na vida e devo admitir que não me dei muito bem no caso. Meu ego é grande demais pra saber que tem uma mulher gemendo meu nome só porque eu a paguei e nada além disso.
   Tudo estava muito bem até ouvir batidas em minha porta. Aquilo ferveu meu sangue. Xinguei mentalmente o infeliz e a mãe dele por estarem me enchendo o saco. Eu não recebia visitas, na verdade, eu odiava visitas. Não admitia gente andando a esmo pela floresta. Levantei puto e fui até a porta ver quem era o bastardo. Quando estava na sala já chegando perto da porta, ouvi a voz do padre safado que eu tinha como melhor amigo.
   - , sou eu. É o , sei que você está aí. – era a segunda vez que o me fazia visitas assim e devo admitir que estava começando a não gostar daquilo.
   - Padre filho de uma égua. – disse em sua cara ao mesmo que abri a porta com brutalidade.
   - Eu sei que você odeia visitas, mas só venho à sua procura quando a situação é realmente importante. Posso entrar? – não havia possibilidade de dizer não para o maldito.
   - Então, me fale logo o que você quer comigo. – se sentou em meu sofá ajeitando sua batina e me olhou com cara de piedade. Eu sabia que coisa boa não estava por vir.
   - Olha, primeiramente eu quero que você não me odeie nem aponte sua arma para mim, é um pedido sério. Sei que você não gosta de socializar, mas eu não tinha pra quem mais pedir. – eu apenas sentei na poltrona ao lado procurando pelo vinho, ele estava longe demais e senti preguiça de buscá-lo para mim – Acontece que o meu ajudante, o rapaz voluntário que está sempre comigo na casa de apoio aos pobres para ajudar a servir às refeições, ficou doente. Terrivelmente doente. Está com uma fortíssima gripe e me deixou desamparado sem ninguém para me auxiliar. , de maneira alguma aquelas pobres criaturas podem ficar sem comida. É caso de vida ou morte, pelo amor de Javé.
   Eu o olhei muito sério. Que diabos de favor era aquele que estava me pedindo? Eu nunca me envolvia em coisas da igreja, não me manifestava socialmente e não gostava de por minha fuça à mostra de todos. Mas, um leve aperto de culpa tomou minha consciência, seria mesquinho demais da minha parte negar tal favor enquanto pessoas estavam passando fome e dependiam daquilo. Cocei a cabeça rapidamente com força e bufei antes de responder algo para ele.
   - , você sabe que eu detesto estar na mira das pessoas desse jeito.
   - , juro pelos céus que eu sei e tentei de todas as formas evitar tal fato, mas acontece que jamais os mais ricos fariam isso. O restante da Igreja não tem tempo para essas coisas, muitos padres ali não se importam nem um pouco com os mendigos. A casa de auxílio só não caiu porque eu consegui que fundos do Vaticano viessem para cá. Eu até pedi ao para que me ajudasse, mas ele estava indo para Helsinqui visitar as filhas, pelo amor de Deus, me socorre. – eu olhei derrotado, seria impossível dizer não, nunca me perdoaria por ser tão egoísta.
   - Espere só enquanto eu visto uma camisa limpa e escovo os dentes. – ele sorriu para mim e ficou em pé com aquela cara de alegre safada que ele tinha. Ainda não conseguia compreender como conseguia manter a vida de abstinência com tanto bom humor.
   Não muito tempo se passou e lá estava eu, com minha cara de idiota, a barba mal feita, a camisa preta e uma toquinha de merendeira, segurando uma concha na mão para servir polenta e carne moída para um bando de homem cheirando pinga e algumas mulheres com um semblante desesperado e suas inocentes crianças. passou muitos anos na Itália e acabou se acostumando com a comida de lá. Ele acabou por trazer um pouco disso pra cá, não era estranho ver os mendigos comendo macarrão.
   Outra coisa “interessante” é que eu não fazia idéia de que existiam tantos sem tetos na cidade, só percebi quantos havia quando vi a enorme fila que se fazia fora da casa. me contou então que as mais altas famílias sempre davam um jeito de afastá-los da cidade, os fazendo dormir mais além da floresta num tipo de cabana na praia. Só de imaginar o frio que deveria fazer naquela merda, eu senti vontade de expulsar os boas vidas de suas mansões e botar os mendigos para morar nelas.
   Quando, finalmente, a última pobre alma se serviu de uma montanha de polenta, carne moída, arroz, salada e um copo de suco de uva eu finalmente pude me livrar da tal toquinha ridícula.
   Precisava descansar meus braços que doíam. Por aquele dia todos estariam bem alimentados e voltariam apenas no próximo dia bem cedo para o café da manhã. A verba que dissera receber do Vaticano deveria ser realmente muito grande, pois o lugar tinha um estoque de montes e montes de alimentos não perecíveis, carnes e mais carnes em um grande e novo freezer. Fora os pães, leites, bolachas, bolos, frutas e verduras. Até eu estava com vontade de começar a comer ali.
   - Ei, , quer um prato de comida? Trabalhou bastante e deve estar com fome. – uma simpática senhora que era voluntária como cozinheira me ofereceu um lindo prato com o mesmo servido aos mendigos. Era uma tentação que eu não poderia negar. O prato estava tão quentinho, cheiroso e apetitoso que eu não poderia renegar. O peguei e sentei-me num banquinho dentro da própria cozinha, logo a mulher me trouxe um copo de suco e voltou aos seus afazeres. Enquanto comia senti uma presença perto de mim e ao olhar vi me olhando rindo.
   - Qual o problema? Não posso comer não, é? – perguntei com a boca vermelha por conta do molho da polenta.
   - É claro que pode, todos que trabalham de voluntários comem por aqui e modéstia a parte, nossa comida é maravilhosa, as mulheres da cozinha realmente sabem o que fazem. – ele comentou, sentando-se ao meu lado.
   - Percebe-se – respondi dando mais uma garfada – Mas, afinal, quem é o tal moleque que te ajuda por aqui? Não me lembro de te ver com ninguém.
   - Ele ainda é jovem, mal completou 20 anos e é quase um santo. Sempre ajudou na Igreja antes mesmo de eu chegar e quando pedi ao bispo uma equipe para a casa de auxílio, ele foi o primeiro indicado. O garoto se chama Manterfos, é filho dos Andersens.
   - Andersens? Os donos da destilaria? Esses merecem meu devido respeito. – apenas me olhou debochado e eu acabei rindo. Terminei de comer o meu delicioso jantar e coloquei o prato em cima de uma mesa. Dei boa noite à todos enquanto saía do local com me acompanhando. Estava decidido a ir para minha casa até poder ver do alto da Igreja uma movimentação estranha em frente ao açougue de .
   - Ei, que diabos é aquela bagunça em frente ao açougue? – perguntei a apontando o local.
   - Mas que estranho, achei que o voltaria apenas em dias e não que aparecia aqui do nada assim desse jeito.
   - Vamos dar um pulo lá, além do mais, eu sinto saudades do meu carnicento.
   Não muito depois estávamos bem perto do açougue e então pude perceber que estava com as filhas, descendo as malas que deveriam ser delas. Como ele conseguiu fazer a ex-mulher deixá-lo vir com elas para a Suécia eu não sei, mas fiquei feliz.
   - Ei meninas, voltaram para a casa do papai? Fico feliz com isso, ele sentiu muito a falta de vocês. – disse olhando para elas que sorriram para mim, a mais nova em um impulso de emoção abraçou o pai como se agradecesse por aquilo.
   - Aquela vaca que eu tive como mulher – falava aos poucos enquanto colocava as malas no chão – Rejeitou as meninas por causa do novo namoradinho, acreditam? Deixou as coitadas ao Deus dará uma semana em casa, sozinhas e sem dinheiro. Quando cheguei lá, as três estavam discutindo e a biscate expulsou as pobrezinhas de casa, estou enfurecido com isso. Quase matei aquela vagabunda, me trair é uma coisa, renegar as minhas filhas é pedir pra levar bala na cabeça. – ele finalmente desceu todas as malas e pediu para que as meninas entrassem para que ele pudesse conversar a sós conosco.
   - Com tudo isso que você diz, eu até me desculpo por não ter acredito em você quando disse que sua mulher te traía. – falei indo até ele e o abraçando, que me retribuiu de boa vontade.
   - , aprenda uma coisa, nunca duvide do sonar de um homem com chifres. – completou se aproximando de nós dois, dividindo aquele belo momento de ternura.
   - Bom, meus garotos, eu os amo, mas tenho que entrar. Preciso aproveitar minhas meninas, ajudá-las com as malas, fazer o jantar e essas coisas de pai. Amanhã como não vou abrir o açougue, vou aproveitar pra passar o dia com elas fazendo compras. – fazia muito tempo que não via tão feliz e entusiasmado. Aquilo me deixava completamente realizado, era bom demais sentir que meu amigo estava finalmente bem.
   - Estou feliz por você, meu carnicentinho delicioso. – eu adorava dar apelidos xulos e fofos pro e, no fundo, eu sabia que ele gostava.
   - ... – ele começou a falar pausadamente e com muita calma.
   -... vai se foder – completou me olhando todo vitorioso. Ri e me preparei pra dar meia volta e ir finalmente para a minha residência, porém, um chamado de me fez voltar a atenção à eles.
   - , você ainda anda armado?
   - Como assim? Pra que você quer saber isso? – não entendi o fundamento da pergunta e fiquei me remoendo tentando entender a razão.
   - Anda ou não, porra?
   - Não, , eu não ando mais armado há muitos anos, não mato mais lobos, não mexo com prostitutas e nem aposto. Quer saber qual foi a última vez que me chuparam também? – me olhou com aquela típica cara de escárnio e apenas olhava a situação se controlando para não rir em alto e bom som.
   - Então eu acho bom você voltar a andar com a arma no corpo, meu amigo. – me olhava sério e um pouco debochado, não estava entendendo onde ele queria chegar.
   - Por que diabos? – perguntei já alterado pela enrolação.
   - Aconteceu alguma coisa? – também perguntou , curioso.
   - Não ficaram sabendo? Achei que todo mundo estivesse sabendo.
   - Sabendo o quê, caralho? Fala logo, , abre a boca, que diabo.
   - Não chame o diabo assim, , ele atende pelo nome. – gostava de fazer essas coisas. Fiquei quieto bufando e olhei intimidador para pedindo por uma explicação rápida.
   - Ei, calma, meu jovem, eu vou falar. É que encontraram um cara estranho rondando a entrada na floresta. Nikolai me viu mais cedo e disse que viu traços de pneu de moto por ali. E ainda me contou que tinha um cheiro estranho na floresta. Não sei como raios ele sentiu um cheio diferente no meio das árvores, mas enfim. É isso, só tome cuidado. Nunca se sabe. – Como é que é? Gente rondando a minha floresta? Sem meu conhecimento? Que porra.
   - Bem que eu percebi alguma coisa estranha ontem. Tinha um filho da puta me sondando quando estava voltando para casa. Puta que pariu! – a situação fúria e ódio. Não suportava aquela idéia, eu não admitia profanação na floresta. Aquela cidade já era uma sujeira imunda e o único lugar que eu não sabia admitir esse tipo de coisa era na floresta, na minha casa, o meu lar. Isso me emputeceu de um jeito que não tinha como transpor em palavras. Porém, em um minuto dentro do meu cérebro, uma faísca se tornou presente. . e sua mania idiota de ir pra floresta quando não devia, de se meter, de me seguir, de ir praquela merda sem pensar e isso me enlouqueceu mais ainda. Eu tinha que evitar qualquer tipo de aproximação dela, eu tinha que proibi-la de passar perto dali. Não conseguia entender os motivos de me preocupar com ela. Mas, eu não andava raciocinando decentemente, eu tinha que fazer alguma coisa.
   - A arma vai voltar pra mim. – falei seco e dei as costas para os meus dois amigos. Ficaram me chamando enquanto me viam dar as costas e sair dali. Pisava duro no chão, com a raiva borbulhando na minha pele e algumas cuspidas sobravam para o asfalto. Sai em rumo à casa dos , eu tinha que fazer alguma coisa, tinha que proteger . Se ela fosse na floresta atrás de mim e algo acontecesse à ela por minha causa, nunca mais nessa vida e em nenhuma outra vida eu iria me perdoar.
   Quando me desliguei de minha caminhada desvairada e perturbada percebi que estava em frente à grande porta de madeira e mármore branco da casa dos . Podia ver pelo vidro fosco da mesma que as luzes da sala estavam ligadas e os donos da mesma estavam ali fazendo uma coisa. Já era noite e minha presença era totalmente duvidável.
   Não importava, eu sentia no fundo das minhas entranhas que deveria fazer alguma coisa. Evitei pensar demais, bati na porta tentando formular em minha mente alguma resposta que não fosse estupidamente estúpida. Não demorou muito para que Wilda me recebesse.
   - ? O que faz aqui à uma hora dessas? – ela perguntou simpática sorrindo ao me ver.
   - Oi Wilda. Boa noite. Como vai? Eu precisava falar com o senhor , ele se encontra?
   - Ele e a senhora saíram para jantar com uns sócios, eu estou aqui com a para não deixá-la sozinha. Quer deixar recado ou é algo que dá pra resolver sem eles por aqui? –Wilda confiava em mim e isso era realmente ótimo. O fato dos mais velhos não estarem em casa era melhor ainda. Seria mais fácil inventar uma desculpa para falar com a sós, sem ninguém para me infernizar.
   - Se você não se importar eu posso entrar? Preciso tirar umas medidas para poder vir pra cá amanhã cedo já com a madeira cortada. – se era uma boa desculpa eu não sei, apenas sei que acabou funcionando, sabe-se Deus porquê.
   - Vai cortar madeira ainda hoje? Você precisa descansar, homem. – falou sorridente permitindo minha entrada.
   - Minhas contas não descansam, Wilda. – foi nesse clima animado que entrei na casa inflamando de agonia. A mulher disse que iria à cozinha comer algo e me permitiu para ficar a vontade. Assim que a vi sumir pelas portas subi a escada correndo. Sem pensar muito corri para o quarto de que estava com a porta aberta. A garota estava sentada em sua escrivaninha digitando em seu notebook. Ela estava distraída e por isso não percebeu minha aproximação. Logo estava escorado no batente de sua porta, com o cenho fechado procurando achar um jeito de quebrar o silêncio. Não foi preciso.
   Pisei forte no chão quebrando sua concentração. Pude ver seu rosto se transformar tranquilo para assustado. Seu semblante se encheu de surpresa e confusão. A garota ficou em pé um pouco afastada me olhando sem entender a situação.
   - ... – passei a mão pelo cabelo pensando em como começar aquela loucura -... eu preciso muito seriamente conversar com você.
   - Você está louco de invadir meu quarto desse jeito? Sem nem mesmo bater ou avisar que chegou? A Wilda te deixou entrar? E como diabos você simplesmente sobe as escadas e sobe pro meu quarto desse jeito? Você está bêbado? – ela me enchia de perguntas e isso só aumentava cada vez mais meu nervosismo. Naquele momento todo o arrependimento do mundo me inundou e eu quase virei as costas e fui embora. Mas, eu tinha que fazer aquilo, tanto por ela quanto por mim mesmo, por mais egoísta que fosse.
   - Eu não estou bêbado, não vim aqui te estuprar e quer saber? Cale a boca antes que eu me arrependa de ter vindo até aqui. – eu deveria aprender a ser menos grosso, mas isso não estava na minha natureza.
   - Não me mande calar a boca dentro da própria casa, ok? – ela foi se aproximando de mim aos poucos com uma postura violenta, levantando aquele dedo abusado para a minha cara. Aquela menina sabia me tirar do sério.
   - Sim, estou mandando você calar a boca dentro do seu próprio quarto. Eu não estaria aqui senão fosse importante, portanto abaixa esse dedo e me escute. – estava bufando e eu não estava muito diferente dela. Agora estávamos um perto do outro e eu via que ela o quanto se controlava para não meter a mão na minha cara. Que não se atrevesse a isso, ou eu seria capaz de lhe meter a mão na fuça também.
   - O que você quer comigo, hein?
   - Vim aqui pra te proibir de por os pés na floresta. – falei seco, ríspido e cheio de autoridade. Ela me respondeu com uma risada sarcástica dando uma volta em si mesma. Depois ficou de frente para mim novamente.
   - É sério que além de invadir meu quarto feito um louco, agora vai me dizer aonde eu devo ir e aonde eu não devo ir? – novamente aquele dedinho abusado estava apontado para o meu nariz. Essa atitude desrespeitosa me tirava seriamente da razão. Grudei em seu dedo o forçando para baixo e ela expressou dor em seus olhos com o movimento brusco.
   - Sim, é isso mesmo. – respondi olhando fixo nos olhos dela que tentou se soltar. Não, mocinha, sou muito mais forte que você. A mantive presa a mim e agora mais perto do meu corpo. A segurei por seus braços e a suspendi no ar para que seu rosto ficasse na mesma altura que o meu, ela me olhava agora assustada e com medo pelo o que eu seria capaz de fazer . De certo modo era ótima sentir aquela sensação de ter domínio sobre a menina. Mas, o foco era outro. Estava fazendo aquilo para manter o controle da situação já que não era muito bom de diálogo.
   - Agora, fique quietinha e me ouça, entendido? – ela balançou a cabeça positivamente e então a coloquei sentada em sua própria cama. Me ajoelhei entre suas pernas. Apoiei meus cotovelos em suas coxas e a encarei seriamente pensando bem no que diria. - , por favor, preste atenção no que eu vou te dizer, é muito importante, ok? – ela assentiu e eu prossegui – Tem um pessoal estranho rondando a floresta pela noite e isso é muito perigoso. Eu moro ali há mais de 10 anos e isso nunca aconteceu antes e eu estou muito, mas muito irritado com isso. Eu não suporto essa ideia e não suporto ter que lidar com isso. – ela me olhava tão concentrada e apreensiva, que cheguei a sentir arrependimento pela minha conduta agressiva – Acontece que você sabe que criou o péssimo costume de se enfiar na floresta, por isso eu vim aqui te pedir encarecidamente para que nunca mais faça isso.
   - Mas, ...
   - Quieta, me escute! – coloquei um dedo em sua boca pedindo para que se calasse – É perigoso, é muito perigoso. Apenas eu e meu amigo que mora ali perto de mim é que conhecemos cada buraco daquela floresta, ela é um labirinto sem volta e cruel, pelo amor de Deus nunca mais vá lá, não há motivos pra isso. – A garota me olhou mordendo os lábios. Não entendi muito bem o que aquilo queria dizer, acabei sendo pego de surpresa. Ela parecia mais solta e menos assustada. Colocou uma de suas mãos em meu cabelo chamando minha atenção para seus lábios.
   - É o único jeito que eu tenho para te ver em paz, por favor.
   - Você não precisa me ver, não precisa estar perto de mim. Isso nem ao menos faz sentido e você sabe o que houve na floresta a última vez que esteve por lá. – eu a vi arregalar os olhos e grudar as mãos com mais força em meus cabelos. Devo admitir que agora era eu o confuso da história.
   - Mas, como assim? Eu... eu... te perguntei e você – ela tremulava em suas palavras -... foi só um sonho.
   - Sonho? Você estava bêbada? Eu matei um lobo, como pode ter sido apenas um sonho? – a garota levou suas mãos ao próprio rosto o tampando e tombando para trás na cama repetindo a palavra “não” descompassadamente. Voltou a sua posição original um pouco depois e falou afobada.
   - Filho de uma égua, eu te perguntei desesperada, te perguntei se havia acontecido algo entre nós e você me disse que não. E agora vem me dizer que não foi um sonho?
   - Afinal do que você está falando? – perguntei me levantando e sentando ao seu lado.
   - Como assim do que eu estou falando?
   - Você teve perda de memória, que diabos você acha que aconteceu? – ela relutou em responder e demonstrou nervosismo em suas palavras.
   - , isso é uma coisa séria, como você pode falar dessa maneira como se fosse completamente normal.
   - Ei, eu não tenho culpa se você e suas amigas resolveram encher a cara de pinga no meio de uma mata fechada em plena madrugada e chamaram a atenção de um lobo.
   - Porra, , e o que veio depois disso? – ela perguntou berrando se levantando da cama, parando à minha frente e agarrando em minha camisa.
   - Você estava bêbada demais para se lembrar, não é mesmo? Depois disso, eu chamei Nikolai para levar as meninas embora e tive que levar você para minha casa no colo, pois você desmaiou e ficou totalmente inconsciente. Te levei para minha casa, te coloquei uma compressa de água fria na testa e de madrugada tive que te trazer de novo para cá com a ajuda da Wilda e te botar na sua cama para que ninguém percebesse o estrago. Wilda inventou uma boa desculpa para os seus pais depois, para cobrir os possíveis furos. – ela me olho incrédula e me puxou para mais perto.
   - Então quer dizer que o resto é só isso? Mas, você tem certeza?
   - Inferno, que porcaria você acha que aconteceu de tão grave? Eu não te estuprei se é isso que está pensando. – seus olhos congelaram nos meus e eu senti um leve sorriso pervertido surgir em seus lábios. Não era possível.
   - Eu devo ter tido uma alucinação pela bebida, é a única explicação.
   - Você está achando que eu te estuprei? – perguntei incrédulo.
   - Não, , até porque eu consenti e isso não é estupro. – eu não podia acreditar que estava ouvindo aquelas palavras, de verdade. Não pude evitar que um sorriso safado brotasse em meus lábios.
   - Como é que é? – perguntei a olhando com um sorriso indigno no rosto, eu ainda não conseguia assimilar.
   - Eu sonhei ou alucinei, não sei ao certo, que nós dois havíamos... você sabe. – ela se embananou um pouco nas palavras e seu rosto acabou avermelhado pela vergonha em falar abertamente sobre o assunto.
   - Você sonhou com nós dois transando? É isso?
   - Não foi exatamente isso... mas foi quase. – estava um tanto quanto nervosa, o sorriso em seu rosto não era de alegria, nem de safadeza, e sim de nervosismo.
   - Então me conte exatamente como foi. – estendi minha mão para ela que a segurou. A sentei em meu colo de lado para mim.
   - Bom... – ela olhava para as próprias mãos cheia de vergonha, pensando na melhor maneira de dizer aquilo – Você disse que eu tinha sido uma menina má e que iria me punir, então nós discutimos e eu fui tentar te bater e você obviamente me impediu. Você grudou nossos corpos e me encostou de costas para você em uma árvore e...
   - E...? – de todas as coisas mais impossíveis que pensei que poderiam acontecer naquela visita inesperada era sem dúvida o fato de que eu nunca sonharia em nenhuma das minhas vidas que poderia acontecer. Estava começando a deixar minha mente pervertida masculina aflorar e o volume no meio das minhas pernas começava a ficar cada vez maior e mais latente.
   - Você começou a roçar seu... seu... é... ah você sabe, em mim. – ela me olhou completamente perdida e cheia de vergonha. Seu lábio superior mordia tão forte o inferior e suas mãos estavam tão perdidas que chegava a ser surreal.
   - Não, , eu não sei. – em um movimento lento, a sentei de frente para mim, erguendo sua cabeça que estava baixa pelo embaraçoso momento. Tirei o cabelo da frente de seus olhos para que pudesse ver seu rosto completamente. – Conta pra mim. – em um movimento instintivo ela arqueou as costas e empinou um pouco o quadril para se encaixar mais confortavelmente em meu colo fazendo com que suas coxas quentes e sua bunda carnuda fizessem pressão em meu pênis.
   - Você está me deixando sem graça.
   - Não precisa ter vergonha de mim, – a encaixei melhor em meu colo ficando com minha boca próxima demais da dela – Pode me contar.
   - Bem, então você me encostou na tal árvore e grudou nos meus cabelos me fazendo olhar para você, me disse o quanto eu tinha sido má e irresponsável e... – pausou por um momento –... e começou a esfregar seu pau na minha bunda. – muitas coisas me deixam excitado nessa vida, e escutar uma menina falando sobre como meu pau roçava no corpo dela estava praticamente no topo da lista. Respirei fundo naquele momento, a puxando mais para mim. já havia deixado a fantasia de seu sonho tomar conta do corpo dela, sentia que poderia fazer o que quisesse com ela que a garota não negaria. Então resolvi brincar mais um pouco.
   - E você gostou do meu pau roçando na sua bunda? – perguntei forçando meu membro em sua bunda a fazendo arfar e fechar os olhos. apenas balançou a cabeça em forma de sim. O descontrole havia chegado. Mas ainda não era o suficiente para mim. Onde eu estava com a cabeça de fazer aquilo bem ali eu não sabia, mas, não estava no meu melhor dia de tomar as decisões certas.
   - Ei, olha pra mim – pedi e prontamente atendeu – Me responde, , você gostou do meu pau... – e forcei mais ainda aquelas nádegas deliciosas em mim - ... roçando na sua bundinha? – ela grudou no meu ombro se deliciando com aquilo e finalmente respondeu.
   - Foi realmente gostoso, eu não posso negar isso – riu - Nunca senti nada igual. – eu não consegui muito mais pensar depois daquilo. Só fui respondendo ao que meu corpo pedia. Comecei a fazer meu quadril descer e subir simulando um movimento leve de penetração em sua bunda ainda coberta pelo pijama. Ela grudou mais o corpo no meu afundando sua cabeça na curva do meu pescoço. Ela também começou seu próprio sobe e desce, não muito tempo depois ela já rebolava com vontade em mim. Eu estava fora de controle. Resolvi deixar a coisa um pouco mais intensa. A chamei pelo nome e ela me olhou com uma expressão de prazer impagável. Pedi para que ela continuasse me contando o que havia acontecido, iria repetir o passo a passo e transformar aquilo em a mais pura verdade.
   - Você tirou minha calça e... agarrou a minha bunda... e começou a meter no meio dela... – santo Deus, eu já estava saindo do meu corpo.
   - Foi gostoso, hã? – perguntei a puxando pelos cabelos forçando nosso contato visual novamente – Conta pra mim se foi gostoso.
   - Foi... – respondeu grudando suas unhas em meu pescoço deixando sua rebolada gostosa no meu colo cada vez mais forte -... eu queria sentir você dentro de mim de qualquer jeito. Mas, daí eu pedi pra você ir mais forte e você ficou enrolando e me forçando a pedir o que eu queria.
   - E o que você queria, ? O quê? – perguntei me deitando na cama. A puxei junto comigo fazendo com que agora fosse sua boceta que ficasse por cima do meu volume já desesperadamente grande.
   - Que você me fodesse. – ouvir aquilo foi como uma descarga de adrenalina direto no cérebro, meu caralho pulsou em desespero. Eu fechei os olhos, transtornado e quase fiz uma besteira sem tamanho, mas ainda não podia tomar medidas mais drásticas.
   - E o que eu fiz? – perguntei encerrando os movimentos a encarando em êxtase.
   - Você enfiou os dedos em mim me fazendo gritar de tão gostoso que estava. – eu só a empurrei e ela quase caiu sentada no chão. Levantei rapidamente da cama a puxando para cima e a empurrei para a parede mais perto. Ela me olhou apontando para a porta, mas, eu simplesmente ignorei aquele pedido idiota e a prensei ali. Tampei sua boca com uma das mãos para que não falasse mais nada e com a outra fui procurando as cegas pelo elástico do seu pijama para tirá-lo de vez.
   - Agora você só me escuta – finalmente achei o elástico e enfiei minha outra mão por dentro da calça sentindo sua calcinha molhada, aquilo era o paraíso em forma de umidade. Puxei sua calcinha de lado com os dedos e comecei a estimular seu clitóris bem lentamente vendo-a fechar os olhos – Já que você sonhou tanto com isso e ficou com tanta vontade, eu só vou parar com isso até você gozar. – ela me olhou uma última vez até fechar os olhos novamente e contrair os dedos das mãos quando meu primeiro dedo entrou em si sem ao menos avisar. Fiquei com ele estacionado dentro dela sentindo-o ficar completamente encharcado. Tirei-o de uma vez e enfiei tudo de novo. era apertada, então apenas um dedo já era capaz de provocar gemidos que tentavam escapar de sua boca. Não demorou muitos segundos para que minha paciência acabasse e eu começasse a enfiar pra valer, meu dedo entrava e saía em um ritmo frenético e descompassado. Hora enfiando tudo, hora pela metade.
   Comecei a perceber que aquilo já estava ficando insuficiente pelo desespero com que ela procurava que eu metesse mais fundo tentando controlar tudo com o quadril. Então eu parei e resolvi brincar mais um pouco.
   - Você quer mais? – ela respondeu fracamente um sim que saiu pelas frestas dos meus dedos. Então eu abaixei sua calça e calcinha e afastei um pouco mais suas pernas para que pudesse fazer aquilo com mais eficiência. Posicionei dois dedos em sua boceta que já estava inchada e escorrendo. Fode-la foi inevitável, com os dedos, é claro.
   Novamente tentou gritar, mas não permiti. Fui metendo cada vez mais forte, sentindo seu corpo se contorcer em minhas mãos e seu quadril rebolar em meus dedos pedindo sempre mais e mais.
   Resolvi soltar sua boca e ela respirou fundo se controlando para que os gemidos altos fossem evitados para não chamarmos a atenção que não poderia ser chamada. Coloquei um dos dedos da outra mão em sua boca pedindo para que ela os molhasse. A danadinha lambeu meus dedos desajeitada, os lubrificando para eu que me divertisse em seu clitóris. Em um movimento rápido a fiz sentar na escrivaninha que estava ao nosso lado com as pernas o mais abertas possíveis.
   Pude ver sua entrada contraindo me deixando louco para fodê-la. Não agora, campeão. Não era o certo e eu não iria fazê-lo naquele momento. Voltei meus dedos para dentro dela e com outro lambido por ela mesma fui ao seu clitóris completamente rígido. A vi quase engasgar tamanha a sensação de prazer que proporcionava, os movimentos se alternavam, ia metendo e a masturbando. Ela rebolava, se contorcia, gemia e tampou a própria boca para que os gritos de excitação não fossem ecoados pelo bairro inteiro.
   Quanto mais eu a via em desespero mais forte e rápido ficavam meus movimentos. Meus pobre dedos que a fodiam começaram a doer e resolvi descansá-los. Então a mão que metia nela foi para o pescoço a fazendo me encarar profundamente. A masturbava intensamente e rapidamente. Com tudo isso meu pau doía, latejava, quase explodia dentro das minhas calças.
   Tive roçá-lo sem sua coxa para me dar um pouco de satisfação. A garota deu um gemido mais alto e uma arqueada bruta em cima do móvel, quase esgoelando tamanho o tesão sentido. Apertei mais minha mão no pescoço quase arrancando-lhe o ar e continuei a masturba-la para que gozasse logo. Eu não estava aguentando mais segurar e me deixei gozar na roupa mesmo. Arfei jogando a cabeça para trás sentindo meu gozo quente inundar minha boxer e molhar a frente inteira da minha calça.
   Depois de me recuperar em alguns segundos, aproximei meu rosto mais próximo do dela e comecei a provoca-la.
   - Goza pra mim, vai – pedi mordendo seu lábio. Com a mão quase sucumbindo em uma cãibra tentei estimular seu grelho o mais rápido que podia. Certeiro. Não demorou muito mais que algumas reboladas e contorcionismos para que ela se derramasse em meus dedos fechando os olhos com força. Perdeu o apoio do corpo caindo deitada na escrivaninha. Soltei seu pescoço permitindo que ela respirasse o máximo possível. Ela suava e eu quase não sentia meus dedos. Quando pôde, me olhou sorrindo e eu retribui o mesmo a puxando para meu colo.
   A coloquei deitada em sua cama para que voltasse ao normal. Aos poucos seus sentidos foram voltando e ela se sentou procurando por mim, fiquei perto dela que me abraçou e depois me olhou fazendo um carinho em minha barba.
   - Você está bem? – perguntei um pouco preocupado e ela respondeu com um sim fraco.
   - Bom, acho que meu recado está dado e seu sonho realizado – ela sorriu e eu também – Agora é sério e eu te peço, não vá a floresta e não me procure, é o melhor pra você e isso não pode se repetir. – ela me olhou confusa e o desesperou voltou ao seus olhos. Por mais prazeroso que aquilo fosse, eu não podia repetir. Era demais pra minha cabeça, era um crime e um absurdo. Ela tentou me impedir enquanto eu saia, mas sua força estava escassa. A beijei na testa em forma de carinho e sai do quarto encostando a porta. Eu teria que provar pra mim mesmo que era capaz de me segurar e garantir a sua segurança. E claro, achar o filho da puta que estava invadindo aquela porra de floresta que era minha e de mais ninguém.

Chapter VI

  A batina de pura seda da cor bege escorria pelo chão daquele corredor. As paredes de puro ouro, enfeitadas pelas mais belas pinturas que o mundo teve o prazer de conhecer lá estavam, aumentando o poder e o valor daquele local. As colunas imponentes e o teto celestial eram sua paisagem. Sua mitra estava pendurada em sua mão, caminhava por ali tranquilamente.
   Sabia muito bem para qual lugar deveria ir e de que assunto trataria. Virou o corredor que dava caminho para a sala que era seu destino e desceu alguns degraus atingindo um nível mais baixo. E lá estava a porta pela qual deveria passar, imponente de uma madeira escura, folheada a ouro e com grandes alças de metal enferrujado.
   Se aproximou da mesma dando três batidas fortes e pausadas, deu um passo para trás e se afastou esperando. Pouco demorou para que o dono daquele cômodo o atendesse e percebendo quem era, sorriu. O saudou com cumprimentos em latim e permitiu que o outro entrasse. Sua mesa de mármore branco estava cheia de livros e documentos, alguns antigos e outros recentes. A jarra de ferro estava repleta de vinho santo e uma taça de cristal ao lado continha água mineral. Sua enorme prateleira de livros que ocupava quase que todas as paredes do local estava bagunçada em partes e arrumada em outras. Pediu para que o outro se sentasse na cadeira à frente da porta, forrada de veludo nobre cor escarlate. Deu a volta na mesa e sentou em sua bela cadeira Luis XVI decorada com folhas de prata, bronze e betume da judéia. A assento revestido por um tecido nobre de cor dourada reluzia com a luz do enorme candelabro de ouro que ostentava seu teto. Ambos se olharam, um pedindo por respostas e outro esperando para respondê-las.
   - O Justice for Saint Mary me procurou. - disse o jovem de cabelos negros e voz grave.
   - E o que eles têm para nós desta vez? - indagou o mais velho, um importante e muito, mas, muitíssimo importante cardeal.
   - Parece-me que há mãos procurando por nossos velhos pertences. - o cardeal corou de raiva por um minuto e sua expressão de preocupação não poderia ser escondida.
   - Como? Eles sabem quem são? Da onde vêm? O que querem?
   - Eles não souberam me informar. - confessou, com o suor do nervosismo tomando suas têmporas. - Apenas descobriram que há alguém pagando por isso, mas não sabem quem efetuará o serviço. Os nomes do "submundo" não os conhecem e nem sabem de seu paradeiro. - o mais velho bufou e tomou um longo gole de seu vinho benzido pelo espírito santo.
   - Eu não quero saber se o "submundo" os conhece ou não, quero nomes, quero uma solução, quero um basta. Os pagamos muito, muitíssimo bem para que não deixem essas coisas passar.
   - Sinto muito, Vossa Santidade. Irei trabalhar para que tal problema se resolva o mais rápido possível. Agora se me permite, o que conseguimos em relação ao outro assunto? – o cardeal respirou fundo, tomando um pouco da água ao seu lado. Soltou um leve suspiro antes de responder.
   - Já tenho um homem para o serviço, ele não imagina do que se trata, só recebeu ordens distorcidas para realizar algumas tarefas. Não temos certeza de onde estão localizados os nossos pertences tão antigos, pois o Justice for Saint Mary, apenas o guarda e não nos concede seu paradeiro. Porém, estou resolvendo isso, para que consigamos agir por suas costas. Medidas já foram tomadas, apenas precisamos de paciência.
   - Mas, Vossa Santidade, se o Justice for Saint Mary descobrir que estamos agindo por mãos próprias, podemos sofrer sérias consequências, eles são extremamente perigosos.
   - Perigosos? - riu, em desprezo. - Perigosos somos nós, somos nós. Fazemos todos caírem aos nossos pés e conseguimos apagar todas nossas gigantescas falhas. Fazendo tal coisa, apenas estamos nos protegendo como sempre fizemos. Ninguém neste mundo, conseguirá ter poder contra nós. Aquiete-se, tudo dará certo. - o mais jovem silenciou-se por um momento, acatando as palavras do cardeal, que agora, estava muito mais tranquilo.
   - E o padre? O que faremos? Ele não é de nossa confiança.
   - Sim, meu jovem, eu o sei. - suas mãos agora procuravam por seus óculos de leitura. Os colocou procurando por alguns papéis timbrados sobre a mesa e ao encontrar o de seu desejo, o entregou ao jovem. - A ida do mesmo para lá fora um equívoco brutal, porém, irremediável. Entretanto, já tenho planos para o próprio. Tome este envelope e faça com que chegue em suas mãos o mais rápido possível. - o jovem pegou o envelope e analisou sua textura. Sua cor era de um bege amarelado e o papel era alguma versão mais cara que o vergê. O selo vermelho do Vaticano estava lá e o remetente era o mais novo padre da Escandinávia.

xx

  Três batidas na porta. se despertou de sua leitura do jornal e olhou para a mesma, parado lá estava um serviçal da igreja com um leve sorriso no rosto. "Bom dia. Correspondência." disse ele simpático. pediu que o mesmo deixasse o envelope sobre a poltrona no canto e lhe ofereceu alguns biscoitos de maizena cobertos com açúcar cristalizado. O rapaz agradeceu e pegou três em sua mão, parecia estar com fome.
   lhe perguntou se estava com fome e o mesmo respondeu positivamente. Então o padre o instruiu à ir até a cozinha e conversar com Hagard, o cozinheiro. O rapaz agradeceu colocando um dos biscoitos na mão e partiu porta à fora.
   , sorriu. Ficou mais alguns minutos lendo seu jornal e acabou se esquecendo da correspondência. Depois de tomar um gole de seu chá e comer mais alguns biscoitos levantou-se indo até a poltrona e olhou fixamente para o envelope. Lá estava o timbre do Vaticano, que o mesmo conhecia tão bem. Seus olhos se acenderam em curiosidade e o mesmo parecia intrigado. O papa sempre lhe mandava cartas, uma vez por mês, todo dia 15. Era dia 23, já havia recebido a carta do Papa daquele mês e retornado alguns dias depois, pelos cálculos, o mesmo ainda não deveria ter lido.
   Outros assuntos chegavam por e-mail, sim, a cidade era pequena e simples, mas havia internet por aqueles cantos. O que raios estaria aquela carta fazendo ali?
   Abrir. só descobriria ao abrir. Não muito depois e o selo vermelho estava num canto de sua mesa e o envelope aberto. O papel de cor envelhecida e textura rígida estava escrito em uma masculina grafia. O preto e alguns burrões sutis indicavam que a mesma havia sido escrita com tinteiro. estranhou. Não conhecia aquela letra e ficou mais uma vez, intrigado. Caminhou pela sala procurando sua cadeira e sentou-se finalmente lendo a carta. Nela não havia nenhum tipo de identificação, timbre ou selo, apenas a escrita.

  Vaticano, Itália.

"É com imenso prazer que lhe escrevo tal carta. É de nosso saber que estás realizando um serviço explêndido em sua nova cidade. Ficamos felizes em sabê-lo, a Suécia precisa de mais fé católica, temos que nos fortificar neste mar de protestantismo e falsas crenças. Sendo assim, desta forma, caro , eu, como portador do cargo que tenho, sendo Cardeal e muito ligado ao Cardeal Secretário de Estado, portador dos princípios católicos e defensor da Virgem Maria, lhe rogo que em suas próximas missas, leve à congregação uma mensagem mais pesada e incisiva. Quero lhe pedir, meu querido padre, que pregue sofre o calor e poder dos grandes mártires de nossa Igreja. De como morreram em nome de nossa causa e eliminaram os perigos que causavam à nossa Santidade. Leve esta mensagem à eles, os irradie com esse calor, com o calor da justiça e da verdade. Também pedi ao bispo que contribuísse com tal, creio que ele lhe cobrará isso e também se prontificará a lutar por nossa causa.
   Um cordial abraço e desejos de uma boa semana. Que Deus nos abençoe e que a Virgem Maria esteja em nossa proteção."
   Cardeal Armand Marion.

  O padre releu o nome do destinatário várias vezes. Uma, duas, três... dez. "Cardeal Armand, como? Por quê?", ele pensou. Mas não poderia haver uma resposta sensata para aquilo. Cardeal Armand era um inimigo camuflado no vaticano. Sempre olhara com uma expressão desconfiada e sabia fazer seus "infernos" para que o sueco tivesse problemas por lá, por isso, não fazia sentido algum aquela carta.
   Sua dúvida vagava entre falar ou não com o bispo sobre aquilo, mas, não houve muito tempo para pensar. Novamente bateram à sua porta e logo ele pôde ver o solidéu púrpura do Bispo. O olhar de felicidade do mesmo surgiu ao permitir que entrasse.
   - Recebera as boas-novas, ? Nós precisamos conversar. Permita-me sentar, temos coisas a tratar.

xx

  Eram quase quatro horas da tarde e eu não havia feito nada o dia inteiro. Depois de ter ido até a casa de e feito aquela tamanha besteira, estava recuperando minha vergonha cara. O que eu havia feito era muito grave, deveria de todas as formas ter evitado. Minha culpa só não era maior pelo fato de saber que também possuía o mesmo desejo. A garota tinha me dado todos os sinais possíveis de que também queria aquilo. Afinal, o que poderia ter feito de tão errado?
   Tudo! Essa era a resposta, estava tudo errado. A libertinagem com e os infiltrados na floresta. Aquilo não saía da minha cabeça, não poderia sair. Nunca havia acontecido nada do tipo, nunca. Estranhos naquela cidade eram tão raros como ouro. Meu faro de caçador dizia que nada cheirava bem, algum tipo de tramóia cretina estava rolando pelas redondezas e era minha obrigação descobrir. Os olhos não viam, os ouvidos não ouviam, mas eu, , iria lidar com aquilo feito homem.
   Depois de mexer com minha não muito habitual "faxina", se é que eu podia chamar aquilo de faxina, o tédio se instalou em meu corpo. Não tinha porra nenhuma para fazer então, resolvi que seria uma boa hora para cortar madeira. Peguei meu machado que ficava pendurado em cima da lareira e fui para meu quintal, brincar um pouco. Havia muita madeira rústica, árvores ainda com casca, folhas e pequenos galhos.
   Tirei todas as folhas verdes e as coloquei em um barril de metal onde deixava as folhas para secarem e separei os galhos menores os amontando num canto. Usava-os para fogueiras e coisas do gênero. Depois de deixar tudo no devido jeito, posicionei um tronco enorme à minha frente. Apoiei meu cortuno na base e machadei. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes. E novamente e novamente e novamente. Meus músculos do braço vibravam, minha testa começava a suar e eu não sabia viver sem tal sensação. Nada melhor que usar meu machado na madeira para me tranquilizar.
   Quando o cansaço me pegou e aquele tronco já estava todo despedaçado à minha frente, fui procurar por água. A garganta estava seca implorando por líquido. Ao virar de costas encontrei um parado com aquele sorrisinho que só ele tinha.
   - Virou rotina o padre mais cobiçado da cidade visitar meu humilde lar? - perguntei, colocando o machado com cuidado em cima de minha mesa, tirando minha camisa.
   - Eu gosto daqui, . É calmo, tranquilo, tem um bom vento e eu posso tomar um pouco de vinho sem ser julgado. Me convide para entrar.
   - Você é um cretininho, Padre . - sorri sarcástico e o mesmo tomou minha frente entrando pela portas do fundo. Entrei logo atrás dele, abrindo a torneira e enchendo um copo de água para me saciar. Bebi uns quatro copos até recuperar o fôlego para falar.
   - Quer vinho? - perguntei, já sabendo a resposta.
   - Se você não se importar... - fui até minha adega pegando uma garrafa e duas taças. Logo estávamos servidos do rubro líquido do amor.
   - Mas falando sério agora, . - colocou sua taça em cima da mesa da cozinha, puxando uma cadeira para se sentar. - Aconteceu algo muito estranho na Igreja hoje e eu tinha que lhe contar.
   - Manda bala.
   - Estava na minha sala pela manhã, quando o rapaz que entrega nossa correspondência me trouxe uma carta. Mas não era uma carta qualquer, era uma carta do vaticano. E eu estranhei totalmente aquilo. O Papa sempre me manda uma carta, que chega todo dia 15 e hoje é dia 23, certo? Não poderia ser outra carta dele. Então eu a abri e a li. E a carta estava assinada nada mais, nada menos que pelo meu principal "calo" no vaticano, Cardeal Armand. Uma peste dos infernos em forma de velho. - fiquei um pouco confuso, sem entender muita coisa.
   - E o que dizia a carta?
   - Bem, a carta me saudava de uma forma exagerada e eu diria até falsa. E a mensagem? É ridícula e não faz sentido nenhum, nenhum, , nenhum. Lá ele falava o quanto é importante nós preservamos e pregarmos a fé católica na Suécia, por termos tão poucos fiéis aqui e então ele me fez um pedido. E aqui mora a pior parte. Ele me pediu para fazer uma missa glorificando os mártires da Igreja Católica. Ele me pediu para falar para o povo que vai às missas o quanto esses homens foram importantes por morrerem e matarem em nome da Igreja. Isso é ridículo, , é bestial, é insano. Eu não posso fazer isso, mas... não tenho escolha. E ainda tem mais uma coisa, ele também mandou uma carta ao bispo, falando a mesma coisa só que de maneira mais "suave". O bispo veio até mim todo feliz e empolgado com a missa de hoje.
   - Que diabos é isso, , não faz sentido algum. O cara te foder lá e mandar carta? Você não questionou com o bispo?
   - Não, eu não posso questionar essas coisas. Aprendi que na Igreja você deve guardar tais coisas para você e apenas observar o que lhe parece estranho. O máximo que combinei com ele fora que, ele pregasse sobre os martíres e eu finalizasse a missa com a hóstia e essas coisas. Não vou falar isso para o povo ouvir, eu me recuso. Morrer e matar pela Igreja? Que diabo é isso?
   Morrer e matar pela Igreja. Aquilo ficou martelando na minha cabeça, não podia ter ligação.
   - E você acha que essa carta tem algo a ver com os estranhos rondando nossa região?
   - Eu não sei o que pensar. - parecia derrotado. - É muita maluquice isso chegar às minhas mãos nesse momento, com essa mensagem tão forte logo após isso. Por isso vim até aqui. Sei que odeia a Igreja e que eu já te pedi na marra que fosse à missa, mas hoje é diferente. Preciso de você lá pra ser o meu terceiro e quarto olho, preciso que preste atenção nas pessoas e na igreja, preciso saber se isso é um sinal ou alguma artimanha. - eu não podia negar isso, podia? Afinal, era um grandíssimo amigo pedindo uma ajuda e por outro lado, eu teria chance de entender a merda que estava acontecendo.
   - Você sabe que não te diria não. É óbvio que aceito e fico feliz que confie em mim para isso. Posso pedir ao que também preste atenção nas coisas? Ele conhece o pessoal e sempre tem alguém indo até lá contar fofocas.
   - É claro que pode, sinta-se à vontade. Confio em vocês e acho que somos os únicos que podemos entender essa porcaria. - sorrimos um para outro, assim como quando éramos crianças, quando estávamos prestes a aprontar alguma coisa que não devíamos. Seria mais que divertido do que eu esperava.

xx

  Faltavam alguns minutos para missa começar pontualmente às 19 horas e 30 minutos. estava comigo ao lado de fora da Igreja conversando algumas asneiras, seria bom de descontrair por algum tempo.
   - Estou me sentindo um agente infiltrado, agora só falta a parte das gostosas na minha cama. - falou, com seu tom hiperativo e engraçado.
   - , depois que sua mulher foi embora você nunca mais comeu ninguém? - ele me olhou atravessado, com as narinas indicando raiva, mas, rapidamente seu semblante mudou de forma mostrando um açougueiro triste e frustrado.
   - Não há muitas mulheres por aqui, , e desde os tempos da escola eu namorei a mesma mulher e nunca mais tive outra em minha vida, não é tão fácil quanto parece. - ver meu amigo daquela forma era muito desprazeroso, me doía no peito de verdade. Eu daria um jeito naquilo, porém, depois da missa de hoje.
   - Relaxe, meu bom pedaço de costela, seu amigo vai te ajudar. - dei uma piscadela irreverente e ele apenas me respondeu com um olhar desafiador.
   - Eu duvido, , está devidamente desafiado.
   - Oh, você está me desafiando? Me dê três dias pra ter uma mulher gemendo na tua cama, babe. - ele apenas riu e me chamou para entrar, o sino indicava que a missa iria começar.
   Nós nos sentamos ao fundo, na última fileira, dali seria mais fácil visualizar todo o movimento. Para que nós dois não nos distraíssimos eu me sentei à esquerda e ele no último banco da direita, desta forma, nosso plano de visão seria maior. Os burburinhos das pessoas conversando se cessou quando os coroinhas adentraram ao local e sentaram-se em seus lugares, logo atrás vieram e o bispo. Podia-se ouvir como sempre as pessoas dizendo sobre como era bonito, jovem e querido.
   Assim que o mais absoluto silêncio reinou o bispo posicionou-se atrás do altar e colocou algumas folhas sobre o mesmo, todas as pessoas também pegaram seus panfletos e iniciaram suas rezas. Respondiam ao bispo quando era hora e todo o cerimonial de uma missa. Quase uma hora se passou com toda aquela "ladainha" e nada de interessante acontecia. Eu estava sonolento e abrindo a boca com frequência, porém, quando o bispo proferiu pela última vez "o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" e as pessoas se preparavam para o fim da missa ele lhes chamou atenção para algo especial. Finalmente, a hora da ação.
   Foi então que ele começou a disparar todo o discurso que tirou a paz de naquela manhã, falando sobre como a força da Igreja Católica precisava aumentar e que principalmente na Suécia, um país de maioria protestante, o catolicismo precisava de cada vez mais fiéis dispostos a lutar por ele e fazer o mesmo crescer. Exaltou mártires como São Cosme, São Damião e tantos outros que morreram e mataram em nome da Igreja. As pessoas se empolgavam, dava para ver a animação que tomava conta dos fiéis naquele momento.
   Meus ouvidos e olhos estavam atentos e os de também pareciam estar. O bispo continuava seu discurso, dizendo que os membros daquela igreja deveriam se fazer ouvir. Deveriam levar o catolicismo consigo onde quer que fossem e deveriam não poupar esforços para isso, mesmo que tivessem de agir de maneira errônea. Foi então que eu senti alguém há poucos metros de minhas costas. Não queria ter que olhar para trás e perder a visão da minha dianteira. Fiz um sinal para que olhasse. Rapidamente ele direcionou sua cabeça para minha traseira e olhou para mim novamente. Seus balbuciar dizia "é um coroinha".
   Meu cérebro exitou, o que diabos um coroinha fazia ali, naquele momento? Ele deveria estar juntamente com os outros ao lado de . Ao olhar impulsivamente para trás, percebi que não havia mais ninguém ali. Isso não podia ser normal, não podia ser coincidência. Me levantei do banco e sinalizei para que sairia. Ele confirmou e buscou o olhar de , que ao me ver em pé lançou os olhos à porta. Ele havia percebido o mesmo que nós e sendo assim, eu sai.

xx

   estava sentada, quieta e calma ao lado de seus pais. A missa parecia estar ao fim e a mesma já se preparava para levantar, segurou a fofura de sua saia e levemente girou seu corpo para trás. Então, lá no fundo da igreja, na última fileira ela o viu. Os cabelos penteados para trás, o olhar cerrado e os botões da camisa social preta que deixavam os pêlos do torso de levemente à mostra. Ela se sentiu arrepiar, por que ele estava indo à igreja com tanta frequência? Louise sentiu sua alma sair de seu corpo e ir ao lado de sentir sua pele.
   Porém, seus pensamentos foram encerrados quando a mesma ouviu a voz do bispo pedindo atenção.
   Ele começou a proferir um digno discurso de santa inquisição, moldado aos parâmetros medievais, glorificando os santos mártires da Igreja Católica. Ela não parecia entender muito bem aquilo, mas os mais velhos se empolgavam a escutar nomes que ela nunca havia ouvido. Não demorou para muito para a atenção dela se esvair, assim seus olhos voltaram a procurar pelo homem e os mesmos o viram de costas saindo pela porta.
   Seu peito se retraiu e ela se sentiu mais fraca. Queria gritar para ele voltar, mas não podia. O que fazer naquele momento? Suas pernas queriam se levantar, ela queria correr atrás dele, mas, como?
   "Mãe, preciso ir ao banheiro"
   Não esperou seus pais a repreenderem, apenas levantou-se, andou o mais rápido que pode pelo corredor vendo logo mais à frente. Ela o iria seguir, mesmo que estivesse o desobedecendo e fosse punida mais tarde.

xx

  Me escondi atrás de uma das pilastras da escadaria da igreja e observei o coroinha. Ele estava com sua batina puxada, para acelerar seu passo. Caminhava rapidamente, tentando não ser notado. A cidade estava vazia naquele momento, já era noite e praticamente todos estavam na missa. Era o momento perfeito para agir. Espreitei mais meus olhos tentando enxergá-lo quando a luminosidade já não era o suficiente para ver com clareza, mas, ainda pude vê-lo indo para a trilha que levava a floresta. "Filho de uma puta", pensei.
   Infelizmente estava sem meu rifle, ou uma arma, ou um canivete sequer, mas mesmo assim, não seria um moleque que me faria ter medo. Como conhecia cada entrada da floresta, peguei um atalho próximo ao açougue do . Comecei a correr para chegar à sua frente no caminho principal da mata. Fiquei escondido atrás de uma árvore menor esperando que ele passasse, não demorou muito para que seus passos sem coordenação se aproximassem e continuassem pelo caminho. Eu fui o seguindo entre as árvores, quando finalmente chegamos no fim da trilha. Ali havia uma pequena clareira que abria em vários trechos pequenos de terra, o resto era tudo mata fechada.
   No primeiro trecho, havia árvores marcadas por corte de machado, era a trilha da minha casa. Assim que mudei para o local e não o conhecia, fiz as marcas para não me perder. Logo à frente, num minúsculo corredor de árvores menores ficava a "entrada" da mata fechada, do perigo iminente da floresta. Era se enfiando por meio dali que se chegava na casa de Nikolai, o único que dividia a floresta comigo. Não muito mais velho que eu, de cabelos grisalhos e excelente humor.
   O moleque exitou, pensou por alguns minutos e tirou sua batina, amarrando-a na cabeça. Esperto, pensei. Se entrasse ali vestido daquele jeito ele ficaria preso no primeiro galho. O mesmo ficou apenas de cueca, meias e sapatos. Quebrou uns galhos à sua frente e foi se enfiando no meio das árvores. Por que diabos ele iria para a casa de Nikolai? Não havia nada ali além da casa dele. Assim que o vi se perder entre as árvores, peguei o rumo da minha casa, sabia muito bem como chegar lá antes dele.
   Menos de cinco minutos correndo, minha camisa estava suada, meu coturno cheio de terra e meu cabelo todo bagunçado. Fiquei à espreita antes da casa de meu companheiro e fiquei esperando o coroinha chegar. Eu ainda não tinha visto seu rosto, não sabia se o conhecia ou não, mas de qualquer forma, ele era um suspeito.
   A criatura finalmente apareceu. Seus braços sangravam, seu abdômem magrelo estava todo arranhado e uma de suas canelas estava quase rasgada sangrando muito. Não pude evitar rir, afinal, essas pessoas achavam que podiam se enfiar na floresta e sair bem.
   Ele ficou um tempo parado à espreita, suas mãos tremiam e ele parecia estar meio perdido, com o olhar disconexo. Desamarrou a batina da cabeça e a virou do avesso procurando por algo. Então o vi tirar um punhal brilhante de lá, o mesmo reluzia com o reflexo da lua. Ele tomou a coragem que lhe faltava e riu em escárnio antes de correr em direção a porta. Nesse momento sai correndo da onde estava e fui em sua direção, com meus passos longos não foi difícil alcançá-lo, o grudei pela boca com uma mão e com a outra busquei seu pulso. O garoto perdeu o equilíbrio do punhal e o derrubou. Assobiei, do modo característico para me comunicar com o Nikolai e em poucos segundos, lá estava ele de cueca e descalço, com um charuto na boca, segurando uma espingarda.
   - Não atire, Nikolai, eu preciso saber o que o mocinho aqui quer e o motivo de estar aqui.
   - Você quem manda, . - Nikolai veio em nossa direção, tirando seu charuto da boca.
   - Ora, ora, veja se não é um cordeirinho de cristo vindo aqui pra me matar. - Nikolai pegou seu charuto, tragou, soltou uma baforada no garoto e jogou as cinzas em seu cabelo loiro.
   - Eu não vou falar nada, seu porco imundo. - o adolescente, soltou um cuspe na cara de Nikolai, que apenas ria da situação.
   Eu iria levá-lo para dentro, amarrá-lo talvez e obrigá-lo a falar. Porém, alguns passos me tiraram a atenção. Me virei ainda segurando o moleque. Foi aí que vi uma saia rodada cheia de frufus. Os braços cruzados dela pressionavam os seios que apareciam de leve em sua blusa verde. Nesse deslize, o moleque escapou e a mesma soltou um grito. O bastardo tentou correr em direção à ela para fazer algo que eu não entendi muito bem. < SCRIPT>document.write(Louise) ficou em choque parada, com as mãos levantadas. Tentei correr, mas não fora mais rápido que o tiro de Nikolai. O projétil atingiu as costas do moleque o fazendo cair no chão.
   - Porra! - berrei chutando tudo que estava à minha frente.
   - Calma, não acertei nenhuma parte vital, o moleque está vivo. Pegue a menina que eu o trago pra dentro.
   Olhei para Louise e lá estava ela, com o semblante assustado e desesperado. Não queria ter que berrar, gritar ou até bater na cara dela, mas era impossível ficar calmo. Por que me desobedecer, por quê? A puxei pelo o braço e pedi que ficasse muda, até que nós dois pudéssemos conversar a sós.

Chapter VII

  Lá estavam eles, , e Nikolai com o coroinha que agora vestia sua batina. Estava sentado em uma cadeira próxima à pia de Nikolai, sem amarras, porém com os dois homens quase grudados em si. Sua expressão era fechada, o tom de voz totalmente ríspido. Em uma das perguntas chegou cuspir na cara de , que emputecido lhe desferiu um soco no nariz do mesmo, que logo após o bruto golpe começou a sangrar insistentemente.
   - Moleque, abre essa boca, antes que eu seja obrigado a quebrar cada osso do seu corpo. – proferiu irritadíssimo e frustrado. Apesar de parecer estar puto em consequência do moleque, sua maior raiva era estar ali, no meio daquilo.
   - Estou apenas fazendo o serviço do Senhor. Deus me mandou aqui, vocês são servos do diabo, não vou responder nada ao satanás.
   - Serviço do Senhor? Deus te mandou pro meio da floresta, em plena noite, pra se enfiar em mata fechada pra enfrentar um homem armado? Seu Deus está meio burro, molequote. – dessa vez disse Nikolai, que agora estava vestido. Não era de bom grado ficar de cueca na frente das visitas. O menino irou-se e tentou atingir Nikolai com socos descoordenados e prontamente o impediu o socando no rosto novamente. Ele estava tremendo de raiva por dentro, os cabelos estavam molhados de suor e nem mesmo o frio da floresta fazia que suas costas parassem de transpirar. Sem paciência, grudou o coroinha pela batina e aproximou as testas de ambos. Ele respirava e bufava na cara moleque sem nem ao menos se preocupar se aquilo o irritaria mais ou não.
   - É melhor você começar a falar. - falou entre dentes, as narinas inflamadas como as de um dragão. olhava a cena com um pouco de distância, não sabia mais que horas eram e não sabia direito onde estava. Seus pais também rondavam sua mente, talvez eles perguntassem para Charllote - sua melhor amiga - onde estava e a mesma respondesse que iriam dormir juntas, era esse o combinado para situações assim. Porém, mesmo perante aquelas dúvidas e ao bizarro fato à sua frente o que mais lhe gastava sinapse era ele, . Os músculos retraídos pela raiva, as expressões másculas em puro furor, os olhos cheios de violência, camisa suada, uma leve tira da boxer preta que aparecia quando ele se movia e os lábios secos que minuto a minuto eram molhados por sua língua.
   Ela queria mandar tudo mundo calar a boca e ir ali, ao lado dele, sentar em seu colo e beijá-lo. Mas, por mais que fosse inconsequente e irresponsável, jamais faria algo do tipo naquele momento. Nikolai e conversavam em voz baixa entre si enquanto o garoto estava ali, de olhos fechados rezando uma Ave Maria. Por mais que os dois pensassem não sabiam como agir e a última opção seria machucá-lo mais do que já estava.
   - Nikolai, eu não faço ideia da razão do frangote estar aqui, só sei que tudo está muito estranho e eu não estou suportando. - desabafou ao pé do ouvido de Nikolai.
   - Irmão, eu não sei por que esse garoto está aqui. Nunca o vi na vida e você sabe muito bem que tem gente nessa cidade que nem sabe da minha existência. Essa merda está errada. Não gosto quando pessoas agem sem que eu entenda. O infeliz deve ter algo a ver com a ronda que andam fazendo. - quando terminaram de se falar ouviram passos tímidos caminhando para perto deles. Era , calmamente se aproximando do menino.
   - Garoto, você fala com Deus? - ela perguntou timidamente.
   - Ele fala comigo, me pede coisas, me dá missões. Sou guiado pelo espírito e a Virgem Maria me protege. O diabo está solto, menina, vá embora daqui, eles são o demônio e eu vim purificá-los. - aquela conversa espiritual estava fazendo com que os neurônios de entrassem em uma combustão agonizante.
   - , não se mete. Sai daqui. - falou áspero e rígido tirando um sorriso sem graça da menina que se afastou.
   - Garoto, fica de pé. - pediu, mas a resistência do menino era mesma. - Eu falei para ficar pé, filho de uma puta! - o garoto novamente cuspiu na cara de que viu sua paciência enfim atingir um limite negativo. Ele agiu drasticamente. Chutou a cadeira que o coroinha estava sentado fazendo o mesmo cair de um modo desengonçado. Antes mesmo que ele atingisse o chão as mãos fortes e ágeis do lenhador o puxaram para cima. Bateu as costas do mesmo na parede mais próxima. O garoto não resmungava de dor e nem ao menos demonstrava fraqueza, seus olhos fechados continuavam a rezar. Isso ia pouco a pouco transformando em uma fera indomável.
   - Porra, , calma. Solta o moleque, ele não vai falar. - Nikolai pediu calmamente e com uma voz serena, se aproximando de , que mais parecia um rinoceronte faminto grudado no rapaz. Ele somente soltou o dito cujo de qualquer jeito quase indo ao chão novamente. O lenhador coçava a testa e bagunçava o cabelo perdido e desorientado.
   - Estou com sede. - proferiu o menino ficando próximo da mesa da cozinha.
   - Dá água pra peste, Nikolai, se eu me aproximar dele, o mato. - precisava acalmar sua respiração, o oxigênio entrava por seu pulmão quase tão rápido quanto a luz. Seu sangue fervia, ele podia sentir as veias borbulhando em ódio. Falta de controle, essa era uma das situações que faziam o lenhador perder todo seu senso e raciocínio.
   Nikolai foi até seu armário e pegou um copo. Em passos vagarosos foi até a pia abrindo sua torneira e ali segurou o copo até que a água o enchesse, sem transbordar. Deu o copo ao garoto que foi com muita calma bebeu o líquido até o copo por fim, ficar vazio. Ali mesmo sentado com o copo entre suas mãos o mesmo rezava baixinho. Seu balbuciar era audível e irritava todos à sua volta, já não era mais possível suportar aquilo.
   Quando Nikolai deu suas costas para o mesmo para dizer algo a eles ouviram um barulho, ao olharem puderam ver o rosto do garoto banhado em sangue proveniente de um corte profundo em sua fronte. Seu corpo ia aos poucos tremendo pelo sangue que seu corpo perdia e sua batina alva ia se mesclando ao tom de seu líquido vermelho aos poucos atingindo a cor escarlate. Antes que qualquer um pudesse interferir um dos cacos de vidro daquele maldito copo furou sua jugular.
   Seus olhos estavam agora abertos e as mãos estendidas para cima como se abrisse seu corpo para que sua alma de mártir pudesse sair de seu corpo. se afastou em um choque assustada, totalmente irado apenas visualizou a cena amaldiçoando a alma do moleque, que a mesma fosse queimar para sempre no inferno. O sangue jorrava de sua garganta, pintando tudo em volta de um macabro tom de vermelho escuro.
   - ESTOU CUMPRINDO MINHA MISSÃO PAI, SOU TEU MÁRTIR SANTA IGREJA. PORQUE TEU É O REINO, O PODER E A GLÓRIA, PARA SEMPRE. AMÉM. - quando o amém fora pronunciado finalmente sua garganta estava rasgada e o seu corpo balançava de um lado para outro lançando sangue para o chão, parede, pia, mesa e outros objetos. ficou atordoada fechando os olhos e com o choro preso em sua garganta. xingou a mãe de todos os seres do planeta e voou ao corpo do menino. Nikolai apenas fez com que se afastasse e fechou os olhos do menino que ainda estavam abertos. Ele havia morrido e seu segredo havia ido para o céu ou para o inferno, junto com sua alma. Merda, gritou .
   - Porra, Nikolai, porra. Eu... pelo amor de Deus, se vira com esse corpo.
   - Calma, meu lenhador, eu resolvo tudo. Temos coisas pra conversar, mas não agora. - Nikolai olhou para sutilmente e logo após para que estava transpassado de fúria. Ele havia entendido o recado, teria que levá-la embora.
   Além de um mistério grotesco e mal resolvido, um corpo morto cheio de sangue na sua frente, havia aquela criatura ali. Vestida como um unicórnio, com aquela carinha de anjo corrompido esperando por uns tapas. O inferno pessoal de , o mais perturbador. .
   Ele apenas a olhou e apontou a porta com os olhos, a mesma deu um aceno tímido para Nikolai que lhe deu um tchau sorridente. Ela saiu pela porta com logo atrás. Antes de finalmente sair o homem bateu continência para Nikolai que o olhou safado, fazendo o mesmo lhe lançar um dedo do meio. Já no lado de fora, olhava para o céu observando as estrelas que ficavam bem mais visíveis ali. a pegou pelo braço e foram caminhando trilha a fora. Quando pensou que os dois iriam para a casa dele se espantou ao perceber que caminhavam em direção à cidade.
   Finalmente estavam próximos da entrada da cidade, fazia muito frio e o vento gelado das árvores fez com que cruzasse os braços para tentar esquentar seu corpo. Não era época de frio absoluto, ainda estavam no meio do verão do sul sueco, que apesar de não ser muito quente, permitia sair de casa sem fortes agasalhos.
   Ali estavam parados, um afastado do outro desviando o olhar esperando que um deles abrissem a boca para proferir algo cabível. estava com a mente completamente confusa e em brasa, pensando em todas aquelas coisas e ficando mais perturbado a cada rajada de vento que sentia. Ele não queria se envolver, queria apenas ignorar todo aquele enorme problema que ocorria sem explicação, porém, não podia. A floresta era sua responsabilidade, a vida de era uma preocupação e era um maldito demônio que não o abandonava.
   - , não quero ser estúpido com você, mais do que já fui. – falou pausadamente de olhos fechados se controlando para não gritar. – Mas eu te implorei e pedi muito diretamente que não fizesse mais isso de me perseguir. E você viu o que aconteceu? Viu o que poderia ter acontecido? Você poderia ter morrido, se machucado muito feio. – finalmente abriu os olhos e a olhou ali, tímida, envergonhada, com os olhos levemente marejados e tremendo.
   - Eu, só não consigo... – ela sentia vontade de chorar. Por que era tão perigoso ficar perto de ? O que ele tinha que a fazia simplesmente entrar em estado vegetativo e esquecer sua responsabilidade? Ela nunca havia entrado naquela maldita floresta e nunca havia pensado em mentir tanto para seus pais e entrar em tantas encrencas por causa de um estranho. Ele era um estranho e ela queria conhecê-lo. Queria ser íntima dele e não sabia ao menos a razão de tudo aquilo.
   - Como não consegue, ? – se aproximou a olhando, sua diferença de altura para a dela era considerável então se abaixou, ficando de joelhos para que pudesse olhá-la mais face a face. – Nós não somos nada um do outro, você nunca tinha me visto na vida. Eu só sou um lenhador, um homem na meia idade que corta madeira para ganhar a vida. E agora, no meio de tudo isso tem uma história maluca e doente acontecendo. Algo que nem eu e muito menos você pode entender. E eu te quero longe de tudo isso, quero que você viva tranquila e em paz, que tenha sua vida de princesa e não se suje com essas coisas. Por favor, me escute. – sua voz era carregada de desespero, por mais que quisesse batê-la ele não poderia.
   - Não adianta você pedir para que eu não te persiga mais ou não faça mais essas coisas, eu não sei me controlar, quando eu vejo, já foi.
   - Você vai ter que começar a se controlar e medir seus atos e isso não é um aviso ou um conselho, é uma porra de uma ordem. Não me faça ser grosso com você.
   - Eu não vou parar de fazer isso, você não manda em mim. – ela queria que enxergasse que não era só uma menininha dependente e inocente. Ela podia ser independente e dona de seus atos e faria de tudo para estar perto dele.
   - Se aparecer sem me avisar nessa porra de floresta de novo, eu juro que te arrebento. – disse ele a grudando pelos ombros, mas, por mais que quisesse lhe por de castigo, a vontade de agarrar a menina pelos cabelos e beijar sua boca era maior que a raiva.
   - Eu não me importo se você me arrebentar. – ela olhava séria para ele, seus olhos faiscavam em adrenalina e excitação, não a proibiria de fazer o que queria.
   - Garota, se eu te der um soco na cara, você cai e não levanta nunca mais. – o lenhador estava nervoso, sua camisa estava pequena para o tamanho aperto em seu corpo. Sua biologia agia com total eficiência, o coração bombeando sangue, a sinapse acelerada, o pulmão expulsando o gás carbônico de seu corpo, os hormônios o ouriçando e o suor insistente que não para de sair por sua pele.
   - Você não tem coragem de fazer isso comigo. – ela afirmou dura e confiante, afinal isso não passava de uma dura e perfeita verdade. se levantou e deu uma meia volta ficando de costas para ela. Caralho, ele pensava, que porra de efeito dos infernos essa menina tinha sobre ele? E por qual razão? Qual raios era a lógica disso?
   - E como você sabe que não? Hein? Você não me conhece, não sabe do que sou capaz. Você me viu bater na cara daquele moleque e sabe muito bem que eu poderia matá-lo sem dificuldade nenhuma. Pare de achar que pode sair fazendo o que quer, entendeu? Já matei um lobo por sua causa, já tive que ajudar a Wilda a mentir pros seus pais, tive que salvar sua vida hoje, que porra, hein?
   - Você fez tudo isso porque se preocupa comigo e não porque foi obrigado. – riu em escárnio e nervosismo. Seus músculos fortes e imponentes estavam vibrando, a barba mal feita coçava seu rosto e sua boca quase sangrava tamanha era força com qual a mordia.
   - Vai embora daqui agora, some da minha frente e me esquece, . Me esquece, simplesmente finge que não existo. – seus olhos estavam agora fechados, ele precisava se afastar dela e não conseguia ao menos olhá-la, precisa lutar contra seus domínios e não se entregar a ela.
   - Eu não vou embora e você pode fazer o que quiser comigo. – se ajoelhou no chão com a cabeça baixa, ela não sairia dali nem ao menos se lhe enchesse de pancada, ela queria que ele encostasse nela e que a chama que lhe corroía a alma pudesse se alastrar ainda mais. deu alguns passos a frente ficando de frente para ela.
   - Levanta daí, pelo amor de Deus. Vai embora, não tem nada aqui pra você.
   - Não. – falou relutante olhando para cima. – Eu já vi um garoto morrer hoje, se suicidar, não é você que vai me botar medo.
   - Ah, eu não consigo te botar medo, é isso? – perguntou cruzando os braços. aproximou seu rosto das pernas fortes e grossas dele, grudando em seus jeans para que pudesse erguer um pouco a coluna. Agora suas mãos caminhavam pela coxa dele e sua respiração bem na altura do zíper de fez com que ele arfasse pesadamente. Não, não e não. Ele não poderia em hipótese alguma imaginar ou ao menos cogitar aquela hipótese.
   - Sai. – ele ordenou bravo e rispidamente, levantando o olhar da menina ao puxá-la pelo queixo. Porém, ela continuou ali, roçando sua boca nas pernas dele.
   - Não, eu não vou sair daqui. Eu quero... – os dedos com as unhas pintadas de lilás da menina agora corriam pelo zíper dele, ela não era a mais experiente naquele negócio de fazer sexo oral em um homem, mas que mal haveria aprender com ?
   - Você não quer nada, levanta e vai embora. – ele a grudou pelos cabelos em uma última tentativa de se livrar daquela tentação. “Você pode deixar o passarinho sobrevoar sua cabeça, mas não pode deixá-lo fazer o ninho.
   mordeu os lábios instintivamente, nunca havia sentido tanto tesão em apenas sentir alguém lhe tocando com força e a puxando daquela maneira. Mais do que nunca agora ela sabia que queria ali naquele momento, naquela hora sugar de tudo que podia.
   - ... Me pune, me usa, eu quero que você faça isso ... – ele sentiu seu estômago revirar e o sangue ir saindo com pressa de suas veias superiores e correr desesperadamente para sua parte baixa: seu pênis. Ele já endurecia ao cogitar aquela hipótese maluca.
   - Você ao menos sabe fazer isso? – perguntou nervoso, quase desistindo de resistir.
   - Não, mas eu quero que você me ensine. – Boom! , agora, depois de ouvir aquilo não podia mais negar, não podia mais resistir. Ele queria que o chupasse, com vontade, com volúpia. Ele precisava daquilo, era questão de vida. Suas mãos baixaram-se para o rosto de , ali ele fez um carinho quase paternal e passou os dedos pelos lábios. Ela o olhou esperando por um sinal que a permitisse agir.
   - Faça o que você quer fazer comigo. – ele permitiu. ainda o olhava, sentindo o toque em sua boca. Tomou um dos dedos de para si o lambendo antes de chupá-lo, ainda encarando com entusiasmo. O homem surtou, podia sentir seu pau queimando. Suas coxas retraíam e sua cabeça pegava fogo. Seria uma honra ensiná-la a fazer aquilo.
   - Abre meu zíper. – pediu com a voz mais grave que o normal.
   As mãos trêmulas de foram para o zíper dele, fazendo tudo muito devagar com medo de errar em algum momento. Pouco a pouco, seus dedos foram abrindo o zíper do homem, até finalmente o mesmo deixar a calça mais solta no corpo dele e deixar evidente sobre a boxer o volume do tesão dele.
   desceu a calça dele, deixando-a na altura dos joelhos. Ela olhava para o membro de maravilhada, queria pegá-lo, lambê-lo, fazer-lhe carinho e mimá-lo. Estava louca para pô-lo para fora, mas sentia uma pontada de medo, podia ver mesmo sobre a roupa íntima dele que aquele seria o maior pênis que havia visto na vida, robusto e tão suculento.
   Suas mãos vagarosamente percorriam a extensão do membro de ainda coberto, quase o matando. A porra da respiração dele falhava e cada vez sentia seu caralho se endurecer e quase entrar em colapso. E continuava ali, o pegando e sentindo-o vibrar em sua mão. Ela sorriu ao se dar conta de que aquelas sensações que sentia no corpo de aconteciam por sua causa. De um jeito fofo e sexual, ela se sentia importante e querida.
   - Eu posso ... lamber? – perguntou o olhando temendo ouvir um “não” da parte dele, o que era uma tamanha besteira, ele nunca a negaria aquilo.
   - Você deve! – ele exclamou forte, deixando uma cada vez mais empolgada. Cuidadosamente a língua da garota foi lambendo a superfície dura de , os espasmos que pensou não poderem ficar mais fortes, ficaram. Ele não aguentaria mais tanta provocação e demorar por muito tempo mais, porém, precisava sentir tudo aquilo até o limite de sua sanidade.
   foi gostando cada vez mais daquilo, suas mãos grudaram nas coxas dele e sua boca agora brincava de morder e lamber o volume. Quando sentiu a cabeça do mesmo, um arrepio correu sua espinha, era tão voluptuosa e estava tão rígida, deveria ser muito bom sentir o gosto dela, pensou. Enquanto se descobria e descobria o quão prazeroso poderia sentir em sua boca o pau de um homem, descobria o quão agoniante e desesperador poderia ser aguentar tanto estímulo provocativo. Ele queria se controlar para não ser grosso ou bruto com ela, mas não conseguia mais se conter.
   - , coloca ele pra fora e chupa pelo amor de Deus. – pediu entre dentes, apertando as próprias mãos contra suas pernas. Ele precisava sentir a boca carnudinha de sugar seu membro, ele queria ver sua cara inocente se preencher com a porra dele, precisava daquilo.
   Timidamente e vagarosamente foi descendo a boxer preta de , não foi preciso muito para que o volume saltasse para fora firme e reto apontando para o rosto de que estava totalmente maravilhada. Ela sorriu abobada, era tão grosso e tão vermelho.
   - Meu Deus. – disse mordendo os lábios, com uma expressão facial tão natural de susto por ver “aquilo tudo” em sua frente. olhou para ela que procurava um jeito certo de segurar seu pênis, mas não o encontrava. Ele sorriu de leve, com o convencimento estampado no rosto, sabia que tinha um caralho e tanto. – É tão... grande. Por onde eu começo?
   - Por onde quer começar? – ele perguntou fazendo carinho nos cabelos dela.
   - Aqui por baixo ou aqui por cima, não sei, estou perdida.- não era algum tipo de piada, ela realmente estava perdida.
   - Começa aqui por baixo e vai brincando com ele... – então lambeu os testículos de enquanto sua mão brincava de encontrar a extensão do lenhador, que quase caiu no chão tamanha fraqueza sentia em suas pernas; aos poucos foi perdendo o medo e se aventurando cada vez mais por ali, ela o masturbava e sugava as bolas dele com vontade. Um tempo depois e quase tendo um ataque de excitação a puxou pelos cabelos a fazendo olhar para cima. Sua boca estava vermelha, os lábios molhados e seus olhos tinham aquela malícia que o fazia perder sua culpa em abusá-la.
   - Agora coloca ele inteiro na boca... – instintivamente lambeu a cabeça que ela achava tão vermelha e atrativa. Queria sentir o gosto dela, saber qual era sua textura e isso fez com que a grudasse mais pelos cabelos grunhindo como um animal. Depois de beijar a glande dele e desfrutar de sua curiosidade com muita paciência, ela foi colocando-o na boca, engolindo pouco a pouco, do jeito que conseguia. Ela podia senti-lo cada vez mais próximo de sua garganta; ela queria sentir até o máximo onde poderia ir.
   apenas se contorcia em tanto prazer, cada toque da menina era um gemido a mais, cada vez mais seu pau latejava. Ele a puxou pelos cabelos novamente fazendo com que o encarasse, ele queria Vê-la com a boca cheia por seu pau. Aquela imagem merecia uma moldura em puro ouro e cristais, o rostinho inocente e delicado preenchido por um enorme cassete duro, pulsante, cheio de veias corrompendo os lábios rosados e cheios de carne.
   Com um pouco de brutalidade que já brotava em si, foi a guiando pelos cabelos para que o engolisse e soltasse, engolisse e soltasse e assim por diante. As mãos dela foram para a base para ganhar apoio e logo o chupava com vontade, os cabelos iam e voltavam em seu rosto e seu rebolado ia imitando os movimentos de sua boca. Finalmente o chupava do jeito que ela queria, rápido e firme. Os braços de estavam contraídos assim como praticamente todos os músculos do corpo, ele sentia que poderia morrer quando o olhava assanhada, o chupando.
   Mas, por mais que aquilo estivesse maravilhoso e sensacional, não era o suficiente.
   a puxou para cima do jeito que conseguiu e se assustou achando que poderia ter feito algo errado.
   - Eu fiz alguma coisa? – perguntou assustada e envergonhada.
   - Calma. - ele disse a grudando pelo rosto e se aproximando dela – Você fez tudo certo, estava delicioso, mas... eu preciso de mais que isso. – a segurava com força pelo queixo, queria sentir todo seu corpo e a grudar pra sempre em si. Com violência a puxou para um beijo, um beijo louco e perdido em perversão.
   Oh sim, que delícia era enfiar a língua naquela boca e levá-la de um lado para o outro, morder aqueles lábios e grudar naquela cintura. impulsivo foi chutando os sapatos, tirando a calça do jeito que dava para não perder o equilíbrio. Quando se viu livre, subiu a saia da menina sem parar de beijá-la e a agarrou forçando seu membro totalmente ainda duro na calcinha dela.
   já se desmanchava em umidade. Estava totalmente molhada, mais que em qualquer dia da sua vida. Os mamilos estavam duros, sua testa suada e seu desespero crescendo cada vez. E o lenhador estava perdido, não sabia o que fazer primeiro, se a beijava, se apertava as nádegas dela, se enfiava a mão em sua calcinha, não conseguia raciocinar direito.
   Foi ali a empurrando para árvore e a fez bater com as costas na mesma. desajeitadamente foi procurando os botões da camisa de , ela queria enfim vê-lo nu de verdade, não em sonho. Quando sua mão atingiu o primeiro botão, o lenhador a tirou dali prendendo as mãos da menina. Ele abaixou a saia dela mostrando a calcinha branca que usava e as pernas roliças que queria sentir rebolando em si.
   não era de falar, de se expressar, ele apenas conseguia sentir e fazê-la sentir e naquela altura do campeonato mal era capaz de se segurar para finalmente meter nela.
   - Deixa eu te ver sem camisa. – pediu manhosa, fazendo um adorável biquinho.
   - E por que você quer me ver sem camisa? – ele perguntou roçando a barba no pescoço dela com os lábios bem próximos ao seu ouvido.
   - Eu eu quero ver seus músculos.
   - Você nem sabe se eu tenho músculos ou não. – ele ainda se roçava nela, tanto em cima quanto embaixo tentando a deixar perdida e provocada.
   - Eu sei que tem, deixa eu ver... – a mão serelepe de correu para as partes dele que sorriu surpreso ao sentir aqueles dedos passearem por seu pau.
   então levou as mãos dela para sua camisa e pouco a pouco a menina abriu os botões da mesma finalmente vendo a sua frente o resultado de muitos anos cortando madeira. Um tronco largo, forte, bem definido e tão gostoso. A garota nem ao menos conseguiu falar algo, apenas ficou ali boba e boquiaberta olhando para ele de cima a baixo. novamente a puxou pelo queixo fazendo com que o olhasse, mordia os lábios em sinal de gostar do que via.
   - Agora eu preciso tirar sua roupa também... – dizia enquanto a mão dele ia para a blusa dela, puxá-la para cima. Os peitos de mal se aguentavam no soutien roxo de listras cinzas que usava. Com maestria, fez aquela peça cair nas folhas em que pisavam. Sem pedir ou avisar, a grudou pela cintura e foi para seus peitos, os agarrando e mordiscando. Como era bom sentir aquele gosto, aquela dureza, aqueles dois seios suculentos em sua boca e mãos.
   gemia, de olhos fechados, mas sempre a fazia olhar para ele, queria ver o quanto a excitava. Os dois não aguentavam mais, eles precisavam terminar aquilo de uma vez. Uma das mãos de tentou ir ao membro de mais uma vez e ele não deixou, se ela abusasse ali ele logo gozaria e isso não estava nos planos, não antes dela.
   - Fala pra mim, você me quer dentro de você? – perguntou com a boca agora pertíssimo da dela, o pau rígido, o coração desesperado e ideia de meter ali quase o matando.
   - É claro que eu quero. – ela respondeu com a voz falha.
   - Então pede. – as mãos de corriam pelo rosto dela, a boca a mordia em seu pescoço e seios, perdido no que fazia. - Pede pra eu te foder, pra eu meter em você até você gritar gozando pra mim. – os dois já estavam fora do corpo, necessitando até o fundo de suas almas que o sexo enfim acontecesse. não conseguia montar a frase, ela queria pedir, queria falar, mas seu corpo não obedecia. - Anda, pede pra mim, eu não vou te comer até você pedir. – finalmente se olharam antes que ela enfim pedisse. Os olhos faiscando, a perversidade e libido no ar os envolvendo naquela noite.
   - ... – balbuciou fraca.
   - Pede, , pede ...
   - Me fode até eu não aguentar mais ...
   Ele não falou, não espero, não fez nada. Apenas puxou a calcinha dela do jeito que conseguiu, ergueu uma das pernas de e colocou dois dedos na boca pedindo que os molhasse. Então ele foi até a entrada dela, lubrificou por ali e encostou a cabeça a provocando em seu clitóris. Ele sabia que não podia meter de uma vez, mas estava totalmente tentado.
   Ela gemia, pedia, implorava com o corpo para que ele metesse de uma vez. E finalmente sem mais aguentar um segundo, ele entrou. Ela gritou e ele tapou a boca dela como da outra vez e foi aos poucos forçando seu pênis dentro dela, não muito depois ele finalmente havia entrado por inteiro.
   - Está machucando? – ele perguntou e a garota apenas acenou negativamente. E mesmo que estivesse, queria sentir aquele pau enorme a fodendo como se não houvesse amanhã.
   O lenhador saiu e entrou novamente, devagar, aumentando aos poucos, gemia alto, também e os dois se perdiam. Cansado da posição que estavam resolveu levar as coisas para o chão. Sem romantismo ou sutileza, ele a jogou ali, deitada. E sem paciência já se jogou por cima dela, sem pedir licença ou avisar, apenas foi por cima da menina metendo tudo que podia. Ela gritou, ela continuava gritando, desesperada e tão excitada.
   A grossura dele a preenchia, ela podia sentir tudo tão intensamente que queria o lenhador ali dentro de si para sempre. Os dois estavam acabados, extremamente cansados e esgotados.

Come with me, in to the trees. We lay on the grass and let the hours pass.

  - Mais? – ele perguntou mordendo o lábio da menina. Ela não conseguia responder, mal podia balançar a cabeça indicando um sim. Ele a puxou para cima a grudando pelo pescoço e aumentou a velocidade do sexo. era forte, tinha um enorme condicionamento físico e pernas de aço, não era nada difícil ficar naquela posição e forçar o máximo que podia.
   Porém, ele queria mais posições, queria comê-la de todas as maneiras possíveis. Então a pegou em seus braços invertendo as posições. Como sabia que ela não teria forças para subir e descer nele, a abraçou erguendo o corpo dela e indo com seu quadril e a fodendo com brutalidade e destreza.
   - Geme pra mim, , geme. - Gemer era a única coisa que ela conseguia fazer.

Take my hand, come back to land. Where everything is ours, from a few hours.
   Let me see you stripped

  O homem tirou força da onde não mais tinha e ao sentir que aumentava os gemidos e intensidade dos puxões e arranhões nele, decidiu intensificar tudo e a foder mais ainda. Forçou o olhar dos dois, grudando as testas vendo uma vermelha, suada, descabelada e tão deliciosa à sua frente, gemendo o nome dele e se alargando em seu pau.
   - Goza, , goza. Vamos, goza pra mim. – não conseguia gemer mais tamanha era sua fraqueza, a segurou pelo pescoço a olhando sem pudor algum e foi para seu clitóris intensificar mais ainda aquilo. Ela enlouqueceu, rebolou como pode e não muito depois sentiu o gozo vindo.
   - Vai, , vai ... isso, vai. Me faz gozar. – não precisou muito mais que ouvir aquilo para que se superasse e com maestria a fizesse gozar. tremeu e se jogou nela, que grudada em seu corpo continuou metendo e estimulando seu grelho, o que a fez gemer mais e gritar mais, completamente arrombada.
   Com seu pênis quase pegando fogo e os músculos pedindo descanso sentiu seu gozo sair, inundando uma fraca e trêmula com sua porra quente. Ele uivou se jogando para baixo levando a menina para si. Ele gritou um “Porra” desesperado e ardente. Pôde ver sorrir fraca. Se havia tido uma trepada épica em sua vida, seria aquela. Por mais inexperiente que fosse a menina, nada superava seu pudor sendo perdido. Ele a acariciou nos cabelos e quase sem força nenhuma se levantou com ela em seu colo. A fez ficar em pé por um instante pegando as roupas no chão e novamente a pegou no colo voltando para floresta para que fossem dormir.

Jerusalém – 1096

  Os homens e suas pesadas armaduras de Cavaleiros Templário estavam dentro de um templo cristão na cidade símbolo do cristianismo. Suas mãos estavam carregadas de pratarias e outros objetos de ouro pesadíssimos, cristais e pedras preciosas. Levariam tudo isso ao Vaticano e matariam quem fosse preciso no caminho.
   No ombro de um dos cavaleiros estava um enorme baú, talhado em madeira e com um enorme cadeado dourado em sua abertura. No topo havia um crucifixo banhado em ouro branco e alguns dizeres escritos em hebraico na cor vermelha. Pelo peso que tinha, os homens deduziram que haveria muitas moedas de ouro dentro do mesmo, um tesouro de valor inestimável. A Igreja ficaria muito feliz em ter toda aquela preciosidade em suas mãos.

Chapter VIII

  Um senhor conversava com seu colega das ruas enquanto esperava na fila do café da manhã dos pobres. O assunto era sobre algo vago, algum tipo de artimanha para que o tempo passasse mais rápido e pudessem chegar logo na parte boa daquela manhã. Todos ansiavam ganhar algumas fatias de pão, leite ou suco, queijo, bolos e mais algum outro alimento saboroso que o bom padre fazia questão de servir. Se o vaticano e a Igreja tinham dinheiro e ouro de sobra, fazia questão de gastá-lo da melhor maneira possível.
   E lá estava , usando sua calça social preta e uma camisa branca. Conversava animadamente com as pessoas e as cozinheiras. Seu sorriso simpático estava sempre à mostra enquanto uma toquinha enfeitava seu cabelo.
   O serviço naquela manhã estava mais corrido. Ele se sentia meio perdido pela quantidade de pessoas que ali estavam. Naquele dia não contava com ajuda de outros. Havia ninguém para ajudá-lo. “Onde diabos estava Manterfos?” pensou ele colocando leite na caneca para uma criança loira de lindos olhos verdes e sorriso torto. Ele costumava ser seu ajudante todos os dias para servir as refeições e agora fazia dias e mais dias que o seu único ajudante não aparecia.
   O mais estranho é que ele não costumava fazer essas coisas, estava sempre presente e caso não pudesse ir até a casa em algum dia, sempre avisava com mais antecedência que o necessário. Isso perturbava a mente de de certo modo, com tantas coisas estranhas acontecendo esse tipo de comportamento peculiar de Manterfos o preocupava.
   Foi então enquanto o Padre cortava os pães que viu a cabelereira castanha de Manterfos adentrar a pequena porta. Ele sorriu, sentia falta de seu companheiro.
   - Padre . – disse sorrindo procurando por uma toquinha para por nos cabelos.
   - Manterfos, o que houve? Você nunca some sem me avisar!
   - Perdão, padre, tive uma viagem um treinamento de emergência no Vaticano. – O radar do padre apitou.
   - Treinamento de emergência? - era muito suspeito.
   - Sim Padre, o bispo não te avisou? – Manterfos continuava em seu tom inocente. decidiu silenciar-se para não levantar faíscas desnecessárias naquele momento.
   - Avisou sim. – mentiu – Eu acabei de me esquecendo. Mas, será que poderia me cobrir aqui até terminar? Preciso sair para resolver uns problemas.
   - Claro, Padre , pode ir em paz que eu cuido das coisas por aqui.

   saiu dali, descendo o morro da Igreja e caminhou até o açougue. Lá se encontraria para irem à casa de ter uma séria conversa. Conforme andava muitas pessoas paravam o padre pedindo por benção ou para dar um saudoso bom dia. Simpático como era sorria para todos conversando sempre animadoramente e dando a devida atenção. Alguns segundos depois estava na frente do açougue, notou que o mesmo estava fechado e estava do lado de fora do mesmo vestindo um jeans, camisa de manga comprida preta e coturno da mesma cor. Os cabelos mal penteados e molhados caiam bem em sua expressão rude, porém, benévola.
   - Bom dia, . – disse se aproximando do companheiro dando um aperto de mão.
   - Bom dia, padre mais popular de toda a Suécia, vamos?
   - Mais popular de toda a Suécia? Não seja exagerado, , o catolicismo nem é popular nesse país. – o que era verdade e muito verdade. Poderíamos dizer que quase 90% do país era todo protestante, a coisa mais difícil era encontrar padres e uma missa para se frequentar.
   - Mas, nessa cidade perdida no pecado é, então, por favor, não discuta. Ok? – apenas concordou rindo da impaciência de . Ambos foram caminhando para chegar até a floresta. A mesma possuía várias entradas, porém, apenas uma era aberta e segura o suficiente para as pessoas “normais” da cidade. e Nikolai eram os únicos que conheciam a floresta de “cabo a rabo”. Sendo assim foram contornando a margem da floresta até chegarem próximos a subida do morro que dava para a Igreja, viraram à esquerda e enfim chegaram na pequena clareira que ia se adentrando até a floresta. Seguiram o caminho já conhecido e caminharam por 20 minutos até avistarem a varanda de .
   Subiram a pequena escada que dava acesso à porta e deu três fortes batidas na porta – o que era uma espécie de código entre eles – e não muito depois e uma de suas camisas xadrez estavam ali os chamando para entrar.
   - Já vou avisando que não tenho café, apenas vinho e cerveja. – Falou sendo seguido pelos amigos.
   - Vinho pra mim e acho que cerveja para o , certo?
   - Certíssimo, padre.
   serviu os amigos e nesse meio tempo Nikolai apareceu entrando pela porta da cozinha carregando consigo uma adaga enorme e brilhante.
   - Caralho, Nikolai, pra que andar com essa porra de adaga? – um assustado e inconformado perguntou retirando o enorme objeto cortante da mão do amigo.
   - Tem muita gente querendo me matar nessa cidade, se precaver nunca é demais. – Nikolai também sentou-se à mesa puxando uma garrafa de cerveja para si.
   - Bem, afinal, por que motivos estamos todos juntos aqui? – indagou preenchendo sua taça com mais vinho.
   - Nikolai disse que tinha coisas para nos contar, então resolvi reunir todo mundo aqui. Então, meu querido Nikolai, já pode começar a falar. – o sueco mais velho respirou fundo e começou a contar-lhes.
   - Eu nasci aqui mesmo nessa cidade há 53 anos, meus pais eram de Estocolmo e se mudaram para cá assim que minha mãe engravidou. Eles queriam um recanto de paz e de preferência católico, pois essa era a religião da minha família e ser católico em um mar de protestantes não é uma boa coisa. Os dois conseguiram asilo aqui mesmo e alugaram uma mansão daquelas próximas ao morro e foi ali que nasci. Quando completei 16 anos e estava com alguns amigos na missa minha mãe veio até mim para me dizer que meu pai voltaria para Estocolmo para resolver negócios e nós ficaríamos ali por mais um tempo. Eis que um belo dia alguns anos depois disso, um grupo radical de protestantes invadiu a cidade ateando fogo na Igreja. Tocaram o terror por aqui ameaçando a todos nós senão abandonássemos a fé católica. – Nikolai parou por um minuto. Seu semblante era triste e sofrido. Parecia se lembrar de tempos terríveis. - Minha mãe, aterrorizada, ligou para o meu pai e pediu ajuda. Mal sabia eu como meu pai poderia nos ajudar. – Nikolai deu uma pausa bebendo um pouco de sua cerveja.
   - E como ele poderia ajudar a cidade? – perguntou um muito curioso.
   - Como éramos poucos católicos, todos entre nós nos conhecíamos e éramos bem unidos. Dentre esse número de católicos alguns mantinham contato com outros da mesma religião pela Europa. Foi então nessa época que eu conheci um grupo chamado Justice for Saint Mary.
   - Justice for Saint Mary? – desta vez questionou. – Eu já ouvi esse nome no Vaticano, mas, sempre era tratado como alguma lenda, ficção. Não é como se existisse de verdade.
   - Pois é, padre, esse grupo é um dos segredos mais perturbadores do Vaticano. Foi formado no século V logo quando Carlos Magno tomou o poder do Império Romano e a hegemonia católica começou a surgir em nosso continente. Foram eles por trás da santa Inquisição, porém, o grupo acabou se desmanchando no século XII, pois a Igreja se iludiu achando que não seriam mais necessários. Porém, quando Henrique VIII trouxe todos aqueles problemas para a Igreja quando quis desesperamente se separar de Catarina de Aragão para casar-se com Ana Bolena e criou a Igreja Anglicana, o Vaticano sentiu que precisava voltar em peso com o Justice. Assim ele foi crescendo nas sombras e atingiu seu ápice na contra-reforma de Lutero e Calvino. Países como Alemanha e a própria Suécia que optaram pelo protestantismo foram constantemente atacados por eles. E eis que nessa ocasião que contei quem livrou nossa cidade dos ataques protestantes foram os próprios do Justice for Saint Mary.
   - E onde diabos esses caras ficam e o que isso tem a ver com a gente? – questionou impaciente.
   - , calma, você vai ver que no fim tudo faz sentido. – Nikolai deu uma piscadela sarcástica em , que bufou. - Meu pai conhecia um dos integrantes do grupo, um dos cabeças por sinal, e prometeu a ele que conseguiria recrutar novas pessoas para o grupo se nos ajudassem. E eles ajudaram, fizeram um cerco na cidade, mataram gente e expulsaram os protestantes daqui. Desde então o catolicismo foi ficando mais forte por aqui. Pessoas das cidades vizinhas vinham para cá e o número de fiéis cresceu muito. E então meu pai teve que cumprir a promessa, ele recrutou quase 50 novos membros e no meio deles, estava eu.
   - Você? Você entrou pro Justice for Saint Marry? Eu não acredito. – os olhos de brilhavam, para ele o grupo era apenas uma lenda e agora estava ao lado de um integrante.
   - Sim, padre, eu entrei. E em pouco tempo graças à minha dedicação eu estava no meio dos mais poderosos. Descobri que o grupo era mais que uma proteção do catolicismo. Eles eram, e ainda são, uma espécia de FBI do Vaticano. Eles têm posse de todos os tesouros do vaticano e a proteção dos mesmos é reponsabilidade deles. Eles investigam, agem, matam em nome da Igreja Católica e da Virgem Maria. São uns loucos fanáticos que recebem ótimos salários. Foi aí que me deram meu serviço mais importante, eu seria o protetor chefe de um dos “xodós” da Igreja.
   - Xodó? A porra da Igreja tem alguns pertences que são considerados xodós? Que bela merda. – comentou o lenhador.
   - A coisa é um pouco pior do que parece. Esse “xodó” chegou na mão da Igreja no século XVI quando infiltrados católicos na Inglaterra entraram em contatos com os mais altos secretários de Henrique e compraram informações valiosíssimas contra a coroa Ingles que havia ficado com alguns documentos católicos no país por causa da rainha Catarina de Aragão. Essa porcaria veio cair na minha mão para que eu fosse o responsável por guardá-lo. A responsabilidade era toda do grupo de guardar esses objetos e deixar o paradeiro dos mesmos só entre o grupo, sem que o Vaticano tivesse conhecimento. Isso era e é uma das principais regras. Mas, em um fatídico dia uma coisa perturbadora aconteceu e eu acabei fazendo uma merda enorme.
   - O que aconteceu? O que você fez? Ai, eu ‘tô nervoso. – escutava a história com tanto furor, que parecia assistir um filme.
   - Por estar em um patamar mais alto eu comecei a saber de coisas e... essas coisas não eram nada interessantes. – Nikolai respirou fundo como se a mera lembrança o desestabilisasse. - Descobri inúmeras crueldades feitas pela igreja católica, mentiras, tiranias e absurdos que não merecem ser citados. E eu me revoltei. Nessa altura meus pais já não estavam mais entre nós e eu não devia satisfação a eles no grupo e sendo assim, depois de me desapontar e ficar alguns meses em dúvida eu decidi largar o grupo. Mas, um membro não pode simplesmente sair do grupo, você sabe demais e não pode ficar livre do nada, normalmente integrantes só saem depois de mortos. Ou seja, eu tive que fugir. Aí é que entra a merda.
   - Pois prossiga, que eu vou morrer senão não souber logo o final da história. – o padre parecia se alimentar do furor do passado de Nikolai.
   - Fiquei tão puto depois de descobrir que a igreja estava envolvida com uma pedofilia desgraçada na Itália que eu roubei o tesouro e trouxe ele comigo.
   Todos ficaram perplexos por um minuto, sem entender tentando raciocinar em suas cabeças o tamanho daquela encrenca.
   - Você roubou um tesouro de posse católica da mão de um grupo religioso extremista e assassino? – perguntou com um sorriso de satisfação enorme nos lábios. Nikolai sorriu nervoso.
   - Sim, eu roubei e eles vieram atrás de mim. Porém não sabiam da floresta, não sabiam que meus pais tinham uma casa aqui no meio e que eu tinha me mudado pra cá. Ficaram que nem uns loucos me procurando e não tinham sinal e a porra do tesouro estava no meu sofá. Eu precisava me livrar dele, um deles até conseguiu chegar aqui, mas eu o matei. Então eu tive uma ideia pra me livrar da porcaria do tesouro. Eu era conhecido de um cara que cometeu alguns crimes pesados e estava jurado de morte por uma facção criminosa. Ele estava aqui em uma espécie de “condicional” e morreria em menos de três dias. Então eu fui até ele e contei o ocorrido e nós combinamos que ele iria pegar o tesouro e iria enterrá-lo em alguma parte da floresta.
   - E no fim das contas, o que aconteceu?
   - Bem, o que aconteceu, meu querido padre, é que o sujeito enterrou o tesouro sabe-se Deus onde e morreu dois dias após isso. Resumindo, a merda do tesouro está enterrado por aqui em algum lugar e o fato do coroinha ter ido até minha casa me fez pensar que o Justice for Saint Mary resolveu se lembrar de mim.
   Por um momento todos ficaram calados pensando. Era muita informação para um dia só, ou até, para um ano só. Ainda havia algumas pontas soltas, algumas coisas que não conseguiam compreender. O que diabos era esse tesouro? O que isso tinha a ver com o coroinha e a morte?
   - Nikolai, agora eu preciso que você pense e recupere um nome em sua memória: Cardeal Armand Marion. – era o mais, como podemos dizer, o mais inquieto. Por fazer parte da igreja e saber de algumas coisas o seu cérebro trabalhava numa sequência louca de sinapses tentando conflitar suas informações.
   - Cardeal Armand... esse nome não me é estranho, mas, eu não consigo ligar o rosto à pessoa.
   - Tem algum nome que você consegue pensar? Se lembra de alguém, da fisionomia de alguém? – o padre estava inquieto, chegou a abrir suas abotoaduras e seu cabelo caía suado em sua testa.
   - Eu me lembro que o Cardeal que sempre falava conosco era chamado de Luís e ele sempre estava conosco nas reuniões sagradas, nas missas. A batina dele era bem pesada e dourada. Ele tinha um sotaque francês muito carregado. Sabe, essas missas eram rituais complexos e os sermões sempre eram sobre mártires da Igreja e assuntos macabros. O Cardeal ficava sentado em uma cadeira enorme folheada à ouro, usando uma coroa de ouro puro que parecia um sol. – Nikolai estava meio nervoso, lembrava como podia do que sabia, entretanto, sua memória tinha se tornado vaga com o caminhar dos anos.
   - Sol? Quem diabos usa uma coroa de sol na cabeça? Que coisa brega. – disse levantando-se para pegar mais uma cerveja.
   - Eu posso não ser o mais inteligente por aqui, mas se alguém usa um sol na cabeça numa situação dessas é pra mostrar imponência, pra mostrar que está brilhando acima dos outros. – proferiu chamando a atenção dos demais.
   - Faz sentido, , ele era o Cardeal supremo, todos o reverenciavam como se fosse um rei. – quando Nikolai disse a palavra “rei” saltou da cadeira ficando em pé como se tivesse tido a ideia mais brilhante do século.
   - Isso, isso mesmo, ele se comportava como um rei e qual rei tinha como símbolo o sol? – perguntou para os outros esperando por uma resposta.
   - Luís XIV da França, Luís XIV da França era o rei sol. – respondeu a pergunta soltando um sorriso enorme ao perceber que acompanhava o raciocínio do padre.
   - E se ele era o rei sol, o rei Luis XIV da França e ainda mais, se ele tinha um sotaque francês é porque o mesmo tem um sentimento patriota por ele, sendo assim nós podemos dizer que ele é francês. E o único Cardeal de extrema influência no Vaticano, que sempre esteve por dentro e por cima de qualquer assunto e fazia questão de desmentir qualquer rumor sobre o Justice, era ele, o maldito Cardeal Armand Marion. Maldito seja esse filho de uma boa puta.
   - Ei, se acalma padre, o senhor não pode sair falando palavrões assim. – falou fazendo biquinho para o amigo.
   - Vai tomar no cu, cortador de graveto. – lançou o padre sentando-se de volta à mesa.
   - E o que te fez pensar no nome desse Cardeal? – questionou Nikolai direcionando-se para .
   - Ele é o meu maior desafeto dentro do Vaticano, o velho é uma peste, uma múmia maldita que está no Vaticano há anos e anos manipulando tudo que ele pode. Ele costuma criar discípulos, é como se fizesse uma lavagem cerebral no pessoal por lá. E eu, bem eu sou do meio do contra e nunca fui com a cara dele, o que fez com que ele criasse ódio por mim tentando sempre me prejudicar. E essa semana uma maldita carta dele chegou para mim, uma carta falsa e nojenta me pedindo para fazer uma missa falando sobre os mártires da Igreja. Ele adora essa conversa de mártir, de induzir gente a matar pela igreja. Tenho certeza que foi isso que acendeu a mente do coroinha que veio parar na sua casa.
   - Afinal, só eu aqui ainda estou me perguntando o que diabos o Justice for Saint Mary, o Cardeal, o tesouro e o coroinha tem a ver um com o outro? – perguntou um já nervoso e totalmente impaciente com aquela conversa confusa.
   - Bom, eu conheço um pouco mais da Igreja antes do vir pra cá do que vocês. – falou olhando para e Nikolai. – Acontece que o bispo daqui foi chutado para que o novo bispo viesse, todo mundo ficou em choque com isso porque todos amavam o bispo. E o novo bispo chegou mandando todos os padres embora e trazendo um bando de órfão que nunca ninguém viu na vida pra ser coroinha. Se tudo isso que o Nikolai disse é verdade, pode ser que o tal Justice tenha trazido pessoas já treinadas ou já estimuladas pra cá por causa desse maldito tesouro.
   - Tudo isso que você disse faz extremo sentido, . – concordou Nikolai.
   - Tá, vamos assumir que foi isso mesmo. Por que o maldito coroinha iria saber onde procurar o Nikolai e que deveria procurar justo pelo Nikolai? – perguntou mais uma vez o inquieto lenhador.
   - Eu não sei, , é difícil pensar nisso. Se foi realmente o maldito grupo que mandou todo esse povo pra cá, já deve ter sido com a intenção de caçar o Nikolai. – era o mais preocupado, começava a pensar em possibilidades que o enojavam.
   - E por que agora? E por que depois de tantos anos? Porra, faz quase 20 anos que eu sumi com esse tesouro, nunca ninguém me achou ou veio atrás de mim, por que agora? – Nikolai deu um soco na mesa, derrubando sua garrafa de cerveja no chão fazendo uma pequena poça do líquido no chão.
   - Ei, velho maldito, cuidado com meu chão. – resmungou se levantando para pegar um pano.
   - E se eles acharam o Nikolai por causa de você, ? – indagou sensato e firme no que falava.
   - Por minha causa?
   - Sim. Você veio para cá porque o te ligou e o Papa mandou uma carta de recomendação de última hora. Então isso quer dizer que você vir para cá não estava no plano deles. Então o Cardeal te manda uma carta tentando te comprar e alguém de dentro da Igreja começa a te perseguir e te vigiar e percebe que você veio até a floresta. Não seria muito difícil depois disso achar a casa do Nikolai. – passou a mão nervoso pelos cabelos, estava certo e ele não conseguia acreditar nisso.
   - Nossa, meu açougueiro, pra um bundão cortador de carne você está muito espertinho hoje. – zombou dando um beslicão em sua bochecha.
   - Cala boca, castor de araque, ou eu meto essa garrafa nessa coisa peluda que você chama de bunda. – deu um peteleco no amigo voltando à sua cadeira com um sorrisinho escarnicento nos lábios.
   - Que tudo isso que vocês disseram seja verdade, por que se lembraram do tesouro agora? – perguntou mais uma vez.
   - Não dá pra saber, esses caras do Justice são uns doidos, nós vamos ter que ficar ligados em tudo agora e pensar muito bem antes de dar um passo nessa cidade. Se tudo isso é verdade, tem gente nos vigiando e isso não é nada bom. – Nikolai afirmou, levantando-se, pegou seu casaco e sua adaga preparando-se para sair.
   - Eu vou para casa contactar umas pessoas, vocês pensem em algo para se protegerem, a gente conversa uma outra hora. – eles se despediram e os três amigos ficaram se olhando.
   - Afinal, o coroinha que morreu, será que se suicidou exatamente para proteger a missão? – questionou .
   - Provavelmente. Merda! Eu odeio não saber das coisas que acontecem aqui. – resmungou o lenhador.
   - Olha, agora eu vou ter que tomar muito cuidado na Igreja e evitar que nos encontremos aqui na floresta. , você que conhece bastante gente e conversa com todo mundo tente se informar. Eu vou tentar achar o maldito infiltrado que anda me vigiando e você, , prepara a espingarda, porque vai rolar tiro nessa merda. – também se levantou, ele precisava voltar para a Igreja pois já havia saído há muito tempo de lá.
   - Deixa comigo, , ninguém vai mexer e atentar contra a vida dos meus amigos. – falou também se levantando sendo seguido por . Eles foram caminhando em direção à porta conversando agora sobre besteiras quaisquers até verem uma menina descabelada e com uma enorme cara de sono sair do quarto do .
   - Mas que caralho? – perguntou olhando para , que vestia uma camiseta branca de que era dez vezes maior que ela. O lenhador respirou fundo, coçando a própria cabeça em nervosismo.
   - Essa é a . – respondeu tentando evitar o contato ocular com os amigos.
   - Sim, , a gente sabe quem é. , filha de um dos homens mais ricos da cidade e uma criança. Que lindo da sua parte. – completou o olhando em indignação.
   - Vocês me acordaram, estavam falando alto demais. – reclamou ela bocejando.
   - Desculpa, , nós já estamos indo embora. Não queríamos incomodar. – respondeu ironizando deixando um muito incomodado.
   - Agora tudo faz sentido. – proferiu arregalando os olhos ao cair na risada.
   - O que faz sentido? – indagou extremamente bravo no momento.
   - Depois eu te conto, se vier ao caso, é sigilo da Igreja. Passar bem, companheiro, e vê se põe juízo nessa cabeça. – saiu abrindo a porta, deu um tapa safado no ombro do lenhador que lhe mandou um dedo do meio e o açougueiro também saiu por afora.
   - Vem cá, , vamos comer alguma coisa. E você precisa voltar pra casa urgentemente, já passou da hora do almoço. – a garota foi andando em passos lentos para a cozinha sendo guiada por , que devia uma boa explicação para os amigos que ele deixaria para mais tarde, para bem mais tarde.
   - Meus pais acham que eu estou na casa da Charllie, não tem problema.
   - E como diabos eles sabem? – respondeu caçando as coisas na geladeira.
   - Celular, , é um meio de comunicação muito usado pelas pessoas, você deveria ter um.
   - Não, obrigado. Não gosto de conversar pelo telefone. – ele serviu a mesa com alguns biscoitos, meio bolo de nozes e um refrigerante.
   - Deixa eu aproveitar para tomar refrigerante que em casa meus pais ficam me regulando.
   - Aproveita mesmo, porque isso de você tomar café da manhã aqui e dormir aqui não vai acontecer todo dia. – se opoiou em seu balcão cheio de nervosismo e meio perturbado, sabia que estava se enfiando em um buraco fundo tanto com a menina tanto com os problemas da floresta.
   - Tem como a gente conversar sobre isso depois? – ela perguntou manhosa, com a boca suja de creme branco. a encarou com a expressão brava e ela fez biquinho tentando convencê-lo.
   - Tenho que por minhas ideias no lugar, você não tem noção de como as coisas são complicadas nessa vida. E outra, vou pedir demissão da sua casa. – ela o olhou assustada, sua boca abria e apenas um som de resmungo saía dela.
   - Como assim, pedir demissão? Você está bêbado?
   - Só estou sendo coerente. Você ainda precisa aprender o que é isso.

Chapter IX

  Meu quarto parecia o lugar mais solitário e terrível do mundo. Nenhum lugar do planeta onde eu não pudesse estar sendo beijada ou acariciada por fazia sentido. Eu queria aquele homem, eu desejava cada pedaço da existência dele. Era doente e sem sentido, eu sabia. Porém, aquela necessidade maluca me fazia ser a adolescente mais irresponsável do país. Irresponsabilidade que causava meus sumiços e por causa desses pequenos sumiços e desculpas mal dadas, meus pais me colocaram de castigo e dessa vez, nem Wilda poderia me ajudar.
   Eu simplesmente queria pular a janela e ir para a floresta. Queria me enfiar no meio daquelas árvores, me cortar naqueles galhos e invadir a casa do maldito lenhador gostoso. Entretanto, agora eu sentia medo. Sentia medo de ser perseguida, de ser atacada, de entrar em um fogo cruzado e acabar me machucando; e bem, , apesar de tudo, não parecia muito feliz com a minha presença ali. Eu não sabia o que sentia por ele, mas, sabia que precisava dele perto de mim, que o queria de um jeito doído e maluco. E o que ele sentia? Tesão e mais nada? Ele só estava me comendo porque eu era carne fresca e aquilo o deixava de pau duro. Essa era verdade, ele queria me proteger para se livrar da culpa de algo acontecer a mim e ele ser o responsável.
   Era bem idiota da minha parte achar que ele poderia, “gostar de mim”. Mas, era um homem, uma delícia de homem. O problema veio depois que transamos na floresta. Oh Céus, eu nunca tinha sido tão fodida como eu fui naquele dia. Nunca tinha sentido um pênis me rasgar daquele jeito. E eu queria mais, eu queria gemer mais e pedir que ele fodesse cada vez mais. Só que entre isso e caminhar até a casa dele, estava meu castigo. A porra do meu castigo, dado pela porra da minha mãe.
   Minha mãe sempre fora uma mulher de baixa índole para não dizer mais. Não apenas por ter ficado com , não foi o primeiro homem que ela levou para a adega para agarrar e muito menos o segundo ou o terceiro. Desde pequena eu a via trair meu pai, com vários homens. Desde o carteiro até o irmão do próprio. E a mula idiota que eu chamava de pai nunca enxergava ou fingia não enxergar. Meu pai era um cego apaixonado e dava a ela tudo que ela merecia e não merecia. E para se redimir ou fingir que era uma mulher de índole sua tática era por uma coleira em mim, me tratar como uma garotinha idiota, inocente e frígida.
   Estava eu de castigo, maldizendo minha mãe enquanto ouvia H.I.M, talvez a voz do Ville Valo pudesse me acalmar. Pensamento errado, pois ouvir Join me In Death ou Poison Girl não fazia o mínimo bem naquele momento. Resolvi me distrair, procurar algo para ver, ler, alguém para conversar. Horas se passaram e nada daquilo realmente conseguia me fazer parar de pensar em e seus músculos. Vi o dia virar noite e minha agonia só aumentar. Foi então que meus ouvidos entregaram que havia gente subindo as escadas, eu ouvia a voz do meu pai e de mais um homem... mais um homem. Era ele, eu tinha certeza que era, ele estava ali falando com o meu pai, mas, falando o quê?
   Só nesse momento eu me lembrei do fato dele ter dito que iria se demitir. Eu não levei aquela merda à sério em nenhum momento até saber que ele estava ali. Merda, , você precisa de dinheiro, eu preciso de móveis novos e preciso rebolar no seu pau. Filho de uma puta!
   Fui para a porta e fiquei ali, escondida e amuada tentando ouvir algo. Para minha sorte as vozes dos dois eram graves e mais altas que o necessário. Pude ouvir bem a conversa, cada parte dela. Meu pai perguntando a razão, dizendo que passava por problemas pessoais, meu pai oferecendo ajuda, dizendo que agradecia porém, que não precisava de ajuda, meu pai combinando um valor, aceitando-o, meu pai dizendo até logo e indo embora.
   Eu senti meus olhos lacrimejarem, dei as costas para a porta apesar de querer sair correndo escada abaixo atrás dele. Só que eu não podia mais fazer aquilo, não podia mais ser a menina inconsequente que ultrapassava as barreiras do bom senso para conseguir o que queria. Era minha lição, aprender a respeitar limites.
   Corri para a janela e o vi sair, passar pela fonte e caminhar para a descida. tinha os olhos cerrados, os punhos fechados e uma expressão de raiva. Ele falava sozinho algo impossível de deduzir, os cabelos dele estavam molhados e penteados para trás, a camisa xadrez preta estava dobrada até os cotovelos e eu podia ver um pequeno pedaço da cueca branca enquanto ele se movimentava.
   Minha vontade era gritar para que ele voltasse, gritar para que me esperasse. Eu iria pular a janela e correr para ele, implorar para que ficasse ali comigo e que me beijasse até nossos lábios sangrarem. E apesar da vontade que me consumia, eu não podia. Não mais, não de novo. E eu senti o salgado das lágrimas nos meus lábios secos, eu sentia a tristeza e o desespero tomar conta do meu corpo e fazer o sentimento de impotência circular pelas minhas veias. Eu queria aquele lenhador, eu precisava dele e teria que ficar sem. Não era justo, não era.
   O que eu mais almejava naquele momento era alguém para conversar. Precisava desabafar com alguém, contar tudo aquilo, extrapolar e por fora os meus sentimentos. E foi então que eu decidi para onde iria. Apenas coloquei uma calça jeans e um agasalho e abri a porta do meu quarto pisando com força no chão. Disse ao meu pai que estava indo me confessar, ele nem ao menos discordou, sorriu para mim e me deu um beijo na testa pedindo para que não demorasse. Minha mãe não estava em casa – como sempre – e eu simplesmente atravessei a porta como um foguete em direção à igreja.
  

xx

  Era quase noite, o bispo estava de viagem, tinha ido para Finlândia visitar uns parentes distantes que não via há muito tempo e eu tinha ficado com a responsabilidade abrir e fechar a igreja. Não que eu não gostasse do bispo, mas era realmente bom e libertador ficar por ali sem ninguém para controlar o que eu fazia. Sempre era possível beber vinho no meu quarto e tocar música não-sacra no enorme órgão que tínhamos. Estava me sentindo um verdadeiro músico quando consegui tocar sem erros Toccata et Fugue de Bach, o que seria algo impossível de se fazer se o bispo estivesse pelas redondezas. Era um grande sacrilégio para um padre ouvir, tocar e admirar música protestante.
   Estava sentado no banco forrado de veludo mostarda quando ouvi passos se aproximando, era dia de confissão e por mais que a noite estivesse caindo sempre havia algum “atrasado” procurando pelo perdão dos pecados. Fechei minha partitura e procurei pela pessoa, demorei a encontrar, pois a mesma se ajoelhou no altar com o cabelo tampando o rosto. Era uma garota e eu sabia muito bem seu nome, . Eu podia a ver balbuciar de olhos fechados, não sabia muito bem do que ela poderia estar pedindo perdão, talvez fosse por furnicar com .
   - ? – ela me olhou assustada e um leve sorriso envergonhado se formou em seu rosto. – Veio se confessar?
   - Sim, padre. Eu só não esperava encontra-lo por aqui. – ela estava muito sem graça, era possível sentir em sua voz, acho que o constrangimento por ter nos encontrado na casa do era grande. E eu reconheci sua voz e o jeitinho tímido de falar, era a mesma menina que vinha me pedir conselhos por sentir desejo sexual por um homem mais velho. As peças se encaixavam perfeitamente.
   - Eu sou o padre que escuta as confissões, acho que é um pouco tarde demais para se sentir envergonhada, .
   - Você sabe meu nome? Sabe quem eu sou? – ela realmente estava espantada.
   - Todos na cidade conhecem você e seu pai, seria impossível não saber quem é você, principalmente depois de te encontrar na casa do . – não era minha intenção a envergonhar mais ainda, porém, a verdade precisava ser dita.
   - Então quer dizer que foi você, o melhor amigo do , que escutou toda aquela minha ladainha ridícula e suja? Deus me leva agora. – a garota se sentou no banco mais próximo escondendo o rosto entre as mãos e eu, só consegui rir me divertindo com aquilo. Ela sentia todas aquelas coisas, mas, se culpava por todas elas. A sociedade assim o faz, todos têm desejos carnais correndo em suas veias e os escondem sob mantas de perfeição e falsidade para parecerem pessoas normais.
   Fui vagarosamente me aproximando dela e sentei ao seu lado, o que eu menos queria naquele momento era perturbá-la e a fazer sair correndo, mais que um padre, eu era um homem de Deus. Não um cardeal mesquinho e hipócrita, eu era um homem bom com o real intuito de ajudar as ovelhas perdidas e os filhos pródigos do Senhor.
   - Minha querida, eu sou um padre, eu fiz um juramento perante o papa de que nunca e jamais contaria segredos que uma pessoa me contasse em confissão. Meu papel aqui não é te julgar, é te ajudar e se você veio até aqui em uma hora dessas é porque está com perturbações em sua cabeça. – meu tratamento com ela era terno, eu realmente queria ajudar aquela garota a se entender e compreender as coisas complicadas que sua cabeça confabulava.
   - Você e o são melhores amigos, é claro que uma hora ou outra todas as coisas que eu disse à você vão chegar aos ouvidos dele. – ela parecia muito angustiada, como se aqueles pensamentos e sentimentos machucassem sua jovem mente.
   - , antes de ser um homem comum e amigo daquele lenhador, eu sou um servo de Deus, que fez juramentos e foi investido como tal. Não sou mais um adolescente que não controla os próprios hormônios, creia em mim quando eu digo que nunca contarei à ele o que nós conversamos e conversaremos. Confie em mim, posso ser um bom amigo.
   - Pode mesmo? Eu preciso desabafar com alguém e minhas amigas não me entenderiam.
   - E por que elas não te entenderiam?
   - Eu conheço minhas amigas, principalmente a Charlie. Eles vão falar que eu sou boba e não deveria me culpar por transar com ele e querer mais. Só que o é um homem bem mais velho que eu, que odeia gente no pé dele e atrapalhando sua rotina. Ele mora enfiado na floresta, odeia que qualquer um vá lá sem avisar e não parece estar nem um pouco interessado em manter algum tipo de relação, muito menos com uma pirralha sem experiência como eu. – era possível sentir verdade em tudo que ela dizia, a agonia da garota começava a e me contagiar.
   - E você consegue me dizer o que é que sente por ele? Eu conheço o homem, posso te ajudar.
   - Eu não sei explicar muito bem, padre. Não é um sentimento como amor ou paixão, mas, é uma porcaria de uma necessidade estranha. Eu nunca tinha o visto na vida e de repente eu percebi que meu corpo começou a se acender quando o via. Eu sempre fiquei com meninos da minha idade ou um pouco mais velhos, só que quando eu o vi pela primeira vez, com aquele porte físico imenso, cheio de músculos e barbado, fiquei completamente atraída. Até aí tudo bem, atração física por um homem, nada anormal. O problema é que eu comecei a cometer erros idiotas pra chamar a atenção dele, eu queria que ele me notasse, queria chamar a atenção. Mas eu só sou uma menina, uma adolescente besta. Então comecei a apelar fora do normal para que ele me notasse e quando nós finalmente nos beijamos e trocamos carícias mais pesadas a coisa ficou pior. Nunca tinha sido tocada daquela maneira, foi muito intenso, muito excitante e depois de provar uma vez, eu não consigo ficar sem. E me desculpe por falar assim, sei que você é padre e não se fala dentro da igreja sobre sexo.
   - Não se preocupe, comigo você pode falar sobre sexo que eu não irei te julgar, eu já fui adolescente e sei como as coisas funcionam. Nós temos impulsos muito confusos e uma coisa boba é capaz de acender um fogo descomunal em nossos corpos. E me perdoe a revolta, mas o puto do não me contou nada sobre isso. O infeliz escondeu tudo. – eu simplesmente queria soca-lo por esconder uma coisa dessas.
   - Mas era meio óbvio, não? Ele deve ter vergonha de contar para os amigos que fez sexo com uma pirralha inexperiente e boboca. – era até engraçado o jeito que ela falava de si mesma, ela se inferiorizava de um jeito inseguro, ainda não era uma mulher formada e não conseguia se gostar. Típico adolescente.
   - Eu não acho que seja por isso na verdade.
   - E por que mais seria? Qual o mérito em falar que transou com uma coisa sem graça feito eu? Quando ele poderia transar com qualquer mulher bonitona e gostosa e muito mais interessante que eu?
   - Eu acho que ele escondeu por medo de ser julgado por mim e pelo açougueiro. Porque sim, nós iríamos escorraçá-lo por levar uma menina como você para cama. Mas quando eu digo isso não estou te chamando de feia ou desinteressante, estou dizendo que você é realmente uma adolescente muito bonita e interessante, só que realmente jovem demais pra um homem como ele. Pode ter certeza que foi por isso.
   - Como você pode ter tanta certeza? – ela parecia realmente muito interessada em entender como a mente do homem mais confuso e misterioso da Suécia funcionava.
   - Eu conheço o amigo que tenho, temos uma amizade longa e forte desde os cinco anos de idade. O pai de morava em Estocolmo e quando sua esposa morreu de uma grave pneumonia ele se mudou para cá, para a casa do avô de que ficava próximo de onde hoje é sua casa. Eu morava vizinho do velho Krasic, o avô de e de Tatiana, sua avó. Nós nos conhecemos naquela época e seu avô nos levava para pescar e caçar na floresta, aos finais de semana ficávamos na casa de caça de Krasic, que por sinal, é a casa onde mora atualmente. Eu cresci com ele e sei muito bem o gosto dele por mulheres. Ele nunca foi mulherengo, por mais que as meninas se jogassem em cima dele. era muito seletivo e só ficava com aquelas que passavam em seu pequeno padrão de qualidade, sempre fora assim. Então se ele ficou com você, te protegeu e te levou para casa dele, o que é muito raro, é porque ele realmente se interessou. – escutava minhas palavras com a maior atenção do mundo, parecia uma mentira tamanha saber detalhes da vida de que era um verdadeiro cofre trancado à senha e sete cadeados. Eu sabia que ele me mataria por contar isso a ela, mas isso seria um problema para cuidar mais tarde.
   - Então quer dizer que o teve mãe e pai e uma família normal? E o que aconteceu com eles? E por que ele é tão fechado?
   - teve a família mais normal do mundo, daquelas que comemoram o natal com ceias tradicionais e que cantam parabéns em todos os aniversários. Seus avós morreram de velhice e seu pai, depois de muito tempo cuidando dos pais por aqui voltou para Estocolmo, pois casou-se com uma outra mulher. Uma ótima mulher por sinal, os dois ainda estão vivos e moram por lá, os visita na época de natal todos os anos. Sei que parece impossível, mas ele faz isso. – estava achando a conversa muito divertida, sempre que possível era interessante destruir a muralha e mostrar para os outros que ele era um homem muito normal e que amava a família e se preocupava com a mesma. Ele só procurava se fechar e parecer ranzinza por puro orgulho e pose.
   - Eu nunca poderia imaginar uma coisa dessas, pelo menos não do que eu conheço. – sorria, sorria muito. Sei que ela estava doida para vê-lo e jogar tudo isso na cara dele.
   - Poucos nesse país e nesse mundo conhecem o lenhador xarope como eu conheço. Acho que só eu, Carl e seu pai realmente conhecem sua verdadeira personalidade. Ele é bem fechado e misterioso porque é um zé mané que gosta de parecer independente e sozinho. Nunca foi de querer dar satisfação para os outros, mas era um verdadeiro filhinho do papai. E por conhecer muito bem aquele homem que você tanto admira é que eu vou te dar um conselho. – seus olhos se arregalaram para mim, ela queria muito, mas muito mesmo escutar o que eu tinha para dizer. E já que estava decidido a agir sobre ele por suas costas, resolvi fazer um serviço completo.
   - Escute bem e preste atenção nisso que vou lhe falar agora. odeia ter coisas fáceis, ele gosta do desafio, ele gosta de caçar. Uma presa fácil não o satisfaz, ele prefere que ela seja difícil e se torne algo complicado de se conquistar. Então faça um esforço e se afaste dele. Suma, desapareça, não dê recado e simplesmente finja que ele não exista. Eu conheço o homem, ele não vai suportar e vai vir atrás de você.
   - Mas e se eu fugir e ele nunca mais se lembrar de mim? E se isso for uma péssima ideia e nós dois nunca mais nos encontrarmos? Eu não quero de jeito nenhum que isso aconteça.
   - Confie em mim, eu o conheço demais e sei que isso pode funcionar. E ainda há mais uma coisa que pode deixar o homem maluco e acelerar esse processo.
   - O quê? – a curiosidade brilhava em seus olhinhos surpresos e cheios de esperança.
   - Saia com outro rapaz. – era simples e certeiro.
   - O quê?! – se sobressaltou, falando alto e ficando em pé de frente para mim, a ideia realmente parecia bem idiota e infantil, mas era realmente muito eficiente.
   - Saia com outro rapaz, ele precisa ver que você não vai ficar sentada esperando a boa vontade dele, mude os ares, sei que o jovem não vai ser capaz de te provocar os mesmos arrepios que ele, mas é bom uma mudança de ares. – ela sorria nervosa, muito nervosa. Parecia gostar da ideia e parecia sentir um medo estranho de executá-la.
   - Eu quero, padre, eu quero chamar a atenção dele e até sair com outro cara, mas quem? Eu já fiquei com todos os meninos que me interessam de verdade nessa cidade. Sem querer parecer promíscua, é claro.
   - Não fique se preocupando com o que eu irei pensar, sou um padre bem liberal como você pôde perceber. E eu acho que posso te ajudar com isso. – sim, eu estava realmente me envolvendo demais na história e estava realmente empolgado com aquele plano.
   - Quem, padre? Fale logo antes que eu resolva mudar de ideia.
   - Manterfos? O conhece? Ele é um coroinha e eu sou seu tutor nas coisas da igreja. Ele é um rapaz de uma boa família e muito bonito, vive cheio de pretendentes. – quando citei o nome de Manterfos ela abriu um largo e interessado sorriso. Provavelmente conhecia-o e havia gostado da sugestão.
   - Sim, eu o conheço. Já o vi na missa e algumas vezes na escola, ele é mais velho que eu e... ele é realmente bonito. Minhas amigas vivem jogando charme pra ele, acho que pode ser legal. Só não sei como eu poderia me aproximar dele.
   - Ele sempre está comigo pela manhã e vai à Taverna nos finais de semana. Você e suas amigas poderiam combinar de ir para lá, você se arruma, faz essas coisas de mulher e eu dou um jeito de aparecer por lá e sentir vontade de matar o moleque, o que me diz? – se ela não aceitasse, eu iria ser o padre mais frustrado do planeta Terra.
   - Você não vai se meter em confusão por isso? - a garota mordia os lábios e suas mãos inquietas entregavam o seu nervosismo. Quem não se empolga com essas brincadeirinhas bobas e fúteis?
   - Não se preocupe comigo, se preocupe em seduzir o garoto. Você é muito bonita, , tenho certeza que ele vai cair na sua. – eu sempre parecia um velho ridículo tentando ser descolado falando daquela maneira.
   - Tudo bem então, eu topo esse plano maluco. Espero de verdade que dê certo, estou confiando em você. Eu preciso parar no meio das pernas do de novo. – ela percebeu a “besteirinha” que tinha falado e prontamente tampou a boca.
   - Tente se controlar, ok? Eu sou gente boa e liberal, mas, também não preciso saber de detalhes. Se ele vier me contar algo, eu finjo que não sei de nada e vou evitar detalhes, ok?
   - Certo, combinado. Eu acho que está tarde demais e irei para casa, meu pai já deve estar preocupado. E muito obrigada, padre, muito obrigada mesmo. Eu não sei o que eu faria se você não estivesse disposto a me ajudar. Como eu posso te agradecer?
   - Primeiro, me chamo , e não de padre, portanto me chame pelo nome. E você não precisa me agradecer, já é um prêmio e tanto confabular contra , é a realização pessoal de uma antiga vingança.
   - Vingança?
   - Sim, vingança. Mas isso é história pra outro dia, pode ir embora. Realmente é tarde, eu vou te acompanhar até sua casa. – era um verdadeiro filho da puta quando queria e eu não iria me esquecer jamais de quando eu inocentemente cai na armadilha dele. Dei uns pegas em uma coroa “papa-anjo” que era mãe de um dos meus amigos e o lenhador safado fez questão de me fotografar em momentos meio tensos com a mulher no carro dela e depois mostrar as fotos pro nossos amigos. O garoto nunca mais olhou na minha cara, o marido da coroa quase me matou e a coroa nunca mais me deu mole, foi realmente algo frustrante.

xx

  Certo, aquela parecia a ideia mais estúpida de todos os tempos, porém, eu não tinha muitas escolhas e seria muita burrice da minha parte ignorar os conselhos e a ajuda de um amigo tão próximo de . Se ele tinha me proposto aquilo e me oferecido ajuda é porque realmente acreditava que podia dar certo. Seria interessante me arriscar, iria dar um pouco de adrenalina na minha vida confusa e eu poderia me distrair um pouco e focar minha mente em outro homem, mesmo que temporariamente.
   Cheguei em casa e meu pai estava assistindo algum filme do Dolph Lundgren na televisão, ele era o ator mais famoso e bem sucedido da Suécia e eu realmente gostava do cara, além de ser sueco, competente e bom ator, era um loiro super gostoso e atraente, mesmo beirando os 60 anos.
   - Estava preocupado, filha. Já são quase 10 horas da noite e você não aparecia. Sabe que não implico que saia, mas, é preciso cuidado mesmo com a cidade sendo pequena.
   - Eu sei, papai, me desculpe. A confissão demorou um pouco mais que o esperado, mas o padre me deu uma carona até aqui, não precisa se preocupar. – sentei ao lado do meu pai no sofá e ele me abraçou passando um braço pelas minhas costas. Eu amava meu pai, era o ser que eu mais amava no mundo. Infinitamente mais que a minha mãe, ele era bom, não era mesquinho, era humilde. Suas palavras eram verdadeiras e ele não era pilantra. Eram raros os momentos que nós tínhamos a sós daquele jeito, para fazer nossas besteiras de pai e filha que minha mãe tanto implicava.
   Meu maior sonho era que meu pai descobrisse as traições dela e mandasse a filha da puta embora.
   - Pra onde a mãe foi? Eu simplesmente chego em casa e ela não está, nem parece que tem filha. – perguntei, tentando por lenha na fogueira.
   - Ela foi viajar com as amigas peruas para fazer compras na Alemanha, conhece sua mãe, sabe que ela vai e volta quando bem entende. – ele parecia muito tranquilo e eu sentia vontade de abrir a cabeça dele e mexer uns fiozinhos para que ele caísse na realidade.
   - Você ainda fica bancando esses luxos dela? Ela nem se dá o trabalho de arrumar um emprego. – sim, estava bem emburrada e fazendo intriga, mas eu não me importava.
   - Isso é ciúmes? Ahn?
   - Não é ciúmes, pai, é injustiça. E eu não suporto injustiça. Você sempre trabalhou, deu duro, cuidou dos negócios do vovô e o que ela faz? Gasta tudo e me põe de castigo.
   - Eu já te tirei do seu castigo, . Senão não teria saído de casa, então não abuse. E outra, sua mãe também é filha de pais ricos, ela gasta a herança dela. Eu nunca impliquei, não me importo, tenho dinheiro para bancar o luxo das duas sem me preocupar, quero ver minhas meninas felizes. – minha vontade era berrar ‘para de ser burro, pai, ela te trai, ela abre as pernas pra qualquer macho meter, abre o olho e larga ela.’ Só que a maldita parecia ter mel na buceta.
   - Você parece que não vê a realidade, pai. – eu não podia falar mais que isso, só cruzei os braços e fiquei com a cara amarrada.
   - Ei, olha aqui para mim. – me sentei de lado olhando para ele. Não consigo descrever a sensação de felicidade que eu sentia ao ver os olhos cheios de amor do meu pai. – Eu sei o que você quer dizer. Eu sei que você pensa que eu não sei, mas eu sei. Eu sei de tudo que sua mãe faz e já fez. Eu sei que ela me trai, me traiu e vai continuar me traindo. – ele falou aquilo numa simplicidade tão enorme, que meu queixou caiu no chão.
   - Como assim você sabe e nunca fez nada? – eu estava realmente chocada e passada.
   - Nós temos um casamento de negócios milionários, jamais seria um divórcio tranquilo e sossegado. Envolveria mil advogados, milhões de euros e muita dor de cabeça; eu então decidi não me incomodar. Eu amo a sua mãe, mas com o tempo eu percebi que ela não presta e não vai mudar. Então ela me trai, vive a vida do jeito que ela quer e eu, bem, não sou nenhum santo. Já trai sua mãe algumas vezes, não posso negar. Entenda que isso é uma coisa complicada e que essa bomba não pode estourar assim do nada. Nós dois somos felizes do jeito que estamos, dormimos juntos e temos uma vida sexual ativa. Escapamos quando podemos e queremos e, além disso, e mais que isso, eu tenho você. Não suportaria me separar e perder essa vida que eu tenho com a minha menina, minha menina que deveria viver sua vida de princesa e esquecer os problemas dos pais. – meu pai sorria, ele não estava sendo falso. Ele realmente falava a verdade naquilo tudo e eu, por mais que aquilo fosse confuso e até nojento, me sentia melhor por ele parecer realmente bem.
   - Bom, quem sou eu pra falar alguma coisa, né? Se você está bem e se sente feliz, é isso aí. Agora me desculpa, vou pro meu quarto porque isso foi um pouco demais pra minha cabeça. – meu pai sorriu e deu um beijo estalado na minha testa. Subi as escadas indo pro meu quarto.
   Depois de tomar um banho e por pijamas, estava deitada na cama com o notebook no colo. Ouvia Heartkiller do H.I.M pela milésima vez enquanto stalkeava as patricinhas da escola e conversava com Charlie no chat, ela e suas histórias idiotas que ninguém queria saber de verdade. Foi então que eu me lembrei da conversa com , se eu tinha aceitado seguir aquele conselho doente, que fizesse direito.
   Abri a barra de busca do Facebook e procurei por Manterfos. O primeiro perfil que apareceu na tela era de uma menina loira sem graça, com uma foto bem sem vergonha de perfil. Fazendo biquinho de batom rosa vestindo um decote imenso. Ridículo.
   Fui descendo até finalmente achar o maldito coroinha e não pude evitar abrir um sorriso bem cheio de perversidade. Lá estava o tal Manterfos, com uma foto bem tentadora no perfil. Os cabelos castanhos mal penteados, os olhos verdes brilhando, a boca semi-carnuda bem vermelha e um sorriso mal intencionado. Tentei ver suas outras fotos, mas só algumas aleatórias estavam liberadas. Criei coragem e o adicionei, se eu iria me jogar pra cima dele mesmo, era bom começar logo e nada melhor que um convite discreto de amizade no Facebook.
   Mandei uma mensagem com um simples smile e fiquei aguardando ele me adicionar, mas, já era tarde e eu estava sono. Resolvi me deitar e esperar o dia que viria, estava cheia de ideias na cabeça e precisava de roupas novas para sair no sábado. Tudo, por causa do maldito lenhador.

Chapter X

   Point of View
  

   Oito horas da noite. Sexta feira. Estava fechando a porcaria do açougue, meu avental estava com um cheiro insuportável de peixe. Um homem abençoado apareceu quase na hora de fechar pedindo por 20 quilos de bacalhau. Foi um milagre ter tudo isso no estoque, quase não acreditei nessa benção. Pelo menos a venda me rendeu um bom, aliás, um excelente dinheiro, excelente ao ponto de me deixar um pouco menos ranzinza.
   Se eu dissesse que estava feliz com a minha vida, seria um pouco calunioso da minha parte. Aliás, seria exageradamente calunioso da minha parte. Fui corneado, largado, chutado e abandonado. Era obrigado a cheirar carniça o dia inteiro, se eu andasse na rua daquele jeito, era perigoso algum abutre pousar no meu ombro e comer meus olhos. A única alegria realmente verdadeira que eu tinha eram minhas meninas. Mas elas estavam passando uns dias na casa da minha mãe, ou seja, lá estava eu sozinho naquela enorme casa.
   O açougue era herança do meu pai e a casa nos fundos também. Uma bela, enorme e confortável casa, devo dizer. O açougue rendia bastante, era um dos únicos da região que vendia carne vermelha, algo raro e caro em nosso país. Em qualquer país gelado, na verdade. E claro, eu tinha as amizades mais erradas do mundo. Um lenhador safado e um padre herege. Mas eu amava aqueles dois vagabundos, eram eles que me tiravam da tristeza crônica. vivia dizendo que eu precisava arrumar uma nova namorada, mas eu estava querendo distância das mulheres.
   Naquele momento em específico, toda mulher que chegasse perto de mim não prestava e tinha a mesma índole de merda da minha ex-esposa. Porém, eu era homem no final das contas. Sentia fogo e estava começando a pensar que eu tinha que “meter”. Foi isso que me disse e confirmou.
   Só que pensar em usar uma mulher simplesmente para “meter” me doía na alma. Isso não seria problema aos 22 anos. Tudo mudou com a paternidade, depois que eu me tornei pai, tal pensamento se tornou completamente perturbador. Se algum homem nesse mundo pensava em apenas “meter” nas minhas filhas, eu já o desejava morto no meu triturador de carne.
   E como eu poderia, como um bom pai, querer meter na filha de alguém sendo que não aceitava a ideia de que fizessem isso com as minhas? Pois é, mal tinha 45 anos e essa maldita crise de consciência me rondava todo santo dia. Eu não deveria estar preocupado em encontrar outras parceiras, eu era casado, deveria ter a maldita mulher que amava na cama comigo todos os dias.
   Era engraçado, contar a história da traição tinha se tornado cómico. Eu me sentia tão corno e tão idiota, que era impossível evitar rir da minha desgraça. Mas, até quando eu viveria infeliz apenas sendo um bom pai e um homem trabalhador? Eu deveria ter o direito de viver. De beber. De ser feliz. E de meter. Meter bem gostoso em alguma gostosa, foder a desgraçada até ela gozar clamando por Deus. Entretanto, toda vez que eu pensava nisso, logo vinha meu cérebro me fazer se arrepender. Eu me sentia sujo e vagabundo.
   Ora, , faça alguma coisa, saia dessa fossa sem fundo e sem remédio que você se enfiou. Sua mulher está de quatro para outro, ela te enganou e ri nas suas costas. Vai, meu filho. Reage. Honra o pinto que você tem no meio das pernas e faça algo que não seja chorar e se lamuriar.
   E foi assim que eu dei um destino diferente para minha noite que parecia perdida. Tomei um bom banho quente, fiz a barba e coloquei uma cueca máscula e bonita. Passei uma boa loção corporal, ajeitei meus cabelos com uma pomada gay que tinha ganhado de presente no natal passado. Vesti-me com jeans preto, camiseta branca de algodão de manga longa, casaco chumbo não muito pesado, pois era verão e o clima não estava em frio extremo. Coturnos pretos e um bonito cinto. Finalmente , o açougueiro fedorento estava cheiroso, bem arrumado e pronto para transar.

xx

  - ? É você ou algum modelo da Hugo Boss invadiu seu corpo? – parecia surpreso e um sorrisinho sacana tomou conta dos lábios dele.
   - Resolvi sair da fossa, pelo menos por hoje. – entrei e avistei sentado no sofá mexendo com o controle remoto. - As donzelas já estavam reunidas por aqui e nem me avisaram? Assim eu fico magoado.
   - Dei um pulo aqui para chamar o bonitão para dar uma volta e eu juro que nós íamos passar no açougue. E eo! Gostei do novo visual, se eu fosse uma mulher, estaria me molhando por você. Palavra de padre e padre não mente. – eu sabia que os dois estavam me zombando, mas finalmente eu me sentia atraente.
   - buzinou tanto na minha cabeça que eu tinha que me arrumar e procurar por mulheres, que aproveitei a saída das meninas e decidi que hoje seria o dia.
   - Esse é o meu . – me abraçou pelos ombros e fez um sinal comemorativo. – Quer saber, estou com um puta orgulho de você, finalmente resolveu acatar meus conselhos. É assim que eu gosto, pode preparar seu instrumento que hoje ele vai trabalhar pesado.
   - Será que vocês podem parar de falar em pinto um pouco? Eu sou padre, mas eu gosto de falar e ouvir sobre vaginas.
   - Eu não acredito que desde que virou padre nunca tenha dado uma escapadinha. – comentei, sentando ao lado dele.
   - Eu nunca neguei isso, caro .
   - O mais santo aqui sou eu se vocês querem saber. – ah, conta outra .
   - Santo? Isso é sério? Você tá pegando uma menina que tem idade pra ser sua filha, homem. Por Deus, tenha vergonha. – contestou e ele estava completamente correto.
   - E todo mundo sabe que você não curte novinhas, sempre foi de ficar com mulheres da sua idade. Ainda não entendi que bicho te mordeu.
   - , esse bicho vai morder suas bolas se você não calar a boca. Esqueçam isso, parem de me questionar. Minha mãe já morreu e meu pai é um velho, não preciso de vocês me dando bronca. Obrigado.
   - Ele irritadinho é tão divertido, não é, ? – apenas riu.
   - Só por que penteou o cabelo e lavou a cara, acha que pode me aloprar, carniça?
   - Recalque mandou um beijo. Mas, afinal, vamos beber ou não? – perguntei me levantando, fui até a porta e a abri apontando para fora.
   - Taverna? Por conta do ? Hm?
   - Por que por minha conta, pica-pau?
   - Porque você está fabuloso e vai comemorar pagando pelo menos uma dose pra cada.
   - Pra mim pode ser uma Coca-Cola, é mais barato que vodka.
   - Tudo bem, uma Cola para o padre e uma vodka para o lenhador. Vamos enfim?
   - Podem ir indo, só vou pegar meu chapéu de guaxinim. – não sei porque amava tanto aquele chapéu, mas, até que ele era fofinho.
   Depois daquela já costumeira caminhada pela trilha da floresta, chegamos à cidade e lá estávamos nós, as três criaturas bestiais caminhando tranquilamente para a Taverna da Coruja. Seria bom beber, falar merda e putaria. Rir e descontrair daquela vida monótona que eu tinha. Se realmente desse certo, poderia se transformar em um hábito, não? Eu poderia contratar uma babá se fosse o caso.
   Quando entramos um dos garçons já deu um jeito de liberar a mesa que gostávamos de nos sentar. A mesa do fundo, mais escondida e reservada que permitia ter uma visão geral do local. Dali podíamos ver quem chegava, quem saia, o que faziam, o que bebiam, o que falavam. Era bom pra poder futucar a vida alheia.
   - Duas doses de vodcas e uma Coca-Cola para o padre, por favor. – pedi ao garçom que prontamente anotou o pedido.
   - Uma porção de fritas também. Estou morrendo de fome. – acrescentou o padre.
   - Padre pode comer fritura? - Fitzroy já estava bêbado? - Que raios de pergunta é essa, ? Me dê uma fundamentação plausível para essa sua conclusão pífia. - atingiu um tom rebelde de indignação e eu realmente gostava de como nossas conversas poderiam atingir níveis memoráveis de retardamento mental.
   - Bom, eu não entendo muito de igreja, mas uma vez minha vó me falou que tem uns lances de o corpo ser "templo do espírito santo" e não sei o quê. E ela ficava regulando o óleo do meu avô, porque ela dizia que era suicídio e essas conversas e enfim. Só imaginei que talvez, a igreja proibisse esse tipo de coisa. - existem muitas coisas engraçadas no mundo, uma delas é quando perde o dom de falar e se embola com as palavras como naquele momento.
   - Olhando deste jeito, você não está exatamente errado. Nós devemos zelar pelo nosso corpo, para a Igreja Católica a gula é um pecado capital e tudo mais. Mas, , tem uma coisa que você precisa aprender sobre a religião católica. As leis de Deus e as leis do Vaticano só valem para quem está sem vestir batinas. Entende? Eles cobram dos fiéis, das ovelhas, dos carneirinhos como alguns padres chamam as pessoas, mas, eles mesmos não cumprem as regras. Pedofilia, suborno, lavagem de dinheiro, chacinas, egoísmo. Dentre todas essas coisas, acho que comer babata frita é a menos pior delas. Consegue me compreender? - o padre proferiu tudo isso e eu e o lenhador paramos um templo para refletir. Religião pode ser uma questão muito séria se analisarmos coisas como essas. E todas as religiões possuem suas sujeiras, porque na Terra elas são comandadas por humanos.
   - Por isso minha mãe sempre me ensinou que quando vamos a Igreja, por mais que o padre ou o pastor sejam pessoas importantes e estudadas, é só a Deus que devemos realmente adorar. Pois homens são todos falhos, pecadores e possuem maldade por natureza. Em um momento ou outro vão vacilar, alguns mais outros menos, mas, em geral apenas Deus deve ser o centro.
   - Exatamente, . Sábias palavras. Portanto, , faça o favor de não implicar com as minhas batatas fritas e nem com a quantidade de sal que eu colocarei nelas, porque meus exames de colesterol e diabetes estão em perfeito estado. Afinal, você sai por aí comendo menor de idade e ninguém aqui falou nada sobre isso. - esse padre manjava das putaria.
   - Ah, por que vocês não vão tomar no cu de vocês? - já passou a mão na recém chegada dose de vodka e desceu um gole sem dó.
   - Vocês? Eu por acaso falei alguma coisa? Apesar de achar que isso que você está fazendo é uma loucura danada. Porque convenhamos, a menina além de pirralha é filha de gente aristocrata, só que mesmo assim eu fiquei quieto. Então nem vem me mandar tomar no cu.
   - Olha, aconteceu e eu não posso voltar no passado pra mudar isso, ok? Se vocês não sabem eu tenho mais de 18 anos há um tempinho já e não devo satisfações do que eu faço pra mamãe e pro papai. Será que dá pra mudar de assunto? Hm? - as fritas do padre chegaram assim que resolvemos falar sobre aquele assuntinho complicado envolvendo Nikolai.
   - Alguma novidade do Vaticano, ? - perguntei, roubando uma batatinha dele.
   - Vejam bem... - deu uma pausa e prosseguiu -... isso vai ser mais difícil do que eu pensava. Os meus contatos do Vaticano não estão mais lá e eu descobri que o Cardeal Armand está fazendo muitas reuniões secretas com gente de que não é de confiança. E eu também descobri que tem gente muito perigosa chegando na cidade quando o Bispo voltar para conversar comigo.
   - Conversar com você, que diabos teriam para conversar com você? - indagou confuso e bem, eu podia ser um açougueiro fedido e mal humorado às vezes, mas meu cérebro funcionava bem nessas horas.
   - Seguindo o raciocínio daquela última conversa que tivemos com o Nikolai, talvez estejam querendo conversar com você para tentar arrancar coisas e te manter por perto. Porque se eles sabem que o tesouro está aqui e que você veio para cá na hora errada interferindo nos planos deles, é melhor que não sejam inimigos.
   - , , . Meu , meu orgulho. É muita esperteza desperdiçada moendo carne. - sabia ser chato e desnecessário quando queria, lenhador chato dos infernos.
   - É lógica, castor inútil. E querem saber mais? Eu tenho uma suspeita.
   - Suspeita? Que tipo de suspeita? - pensando em momentos aleatório sobre o assunto me surgiu a ideia de que a Igreja não soubesse que o tesouro estava sumido.
   - Simples, . Acompanhem comigo. Nikolai nos disse que esses tesouros que o tal Justice guarda ficam em locais os quais a Vaticano não sabem quais são. A última coisa que sabem é que esse tesouro veio para cá, mas, talvez eles não saibam que Nikolai o roubou e o enfiou na floresta. Porque pensem só, o tipo de guerra que teriam se o Vaticano soubesse de uma falha do tamanho dessas.
   - E o que exatamente você quer sugerir com isso? - modéstia a parte, vestido bem daquele jeito e com a autoestima lá nos céus, eu estava me sentindo incrivelmente atraente falando daquela maneira.
   - Eu quero sugerir, padre, que o Vaticano acha que esse tesouro está na aqui na nossa igreja e que você é o impasse que eles têm para chegar nesse tesouro. O problema é que o Justice for Saint Mary sabe que isso não é verdade e eles precisam achar isso antes que o tal Armand apareça por aqui. Ou seja, o Vaticano tem quer morto e o Justice precisa de você vivo. - e o Nobel de conspiração vai para , o açougueiro mais genial e gostoso da Suécia. Sim, eu estava impossível naquele dia.
   - Depois dessa eu preciso de outra Coca-Cola, bem gelada e com limão.
   - E eu de outra vodka. - chamamos o garçom e logo os pedidos estavam em nossas mãos.
   Nós estávamos bebendo e tagarelando tranquilamente. O assunto era qualquer bestagem aleatória que fazia rir como uma criança bêbada e fechava os olhos para gargalhar. Foi então quanto o “cortador de pau” mudou sua expressão drasticamente. Eu forcei os olhos para verificar se era realmente isso ou resultado da bebedeira. Mas não, estava agora com a testa avermelhada e enrugada. Os olhos estavam queimando como um novilho na brasa. A boca estava semi aberta, lábios trepidantes e dentes rangendo. Ele iria quebrar o copo cheio de vodka a qualquer momento com a força dos dedos. Que bicho tinha mordido aquele homem?
   - , você ‘tá bem? - questionei.
   - Sim. - respondeu firme e seco.
   - Tem certeza? Não é o que parece. O que aconteceu? - dessa vez fora o padre.
   - Nada. - tomou o resto de vodka num gole só e bateu o copo com tanta força na mesa que foi um milagre cacos não voarem por todos os lados.
   - Certeza?
   - Nada. Já disse que… - fechou os olhos, entrelaçou suas mãos e estalou as falanges ao jogar os dedos cruzados de um lado para o outro. Naquele movimento quando homens quando estão se preparando para cair no soco. -… nada.
   Não acreditei naquilo e olhei para trás. E claro, aquele era o motivo. , estava sorrindo extrovertidamente na companhia de Manterfos, um dos melhores coroinhas da igreja. As mãos dele corriam pela cintura da menina que o fitava encantada. Touché. Estavam mexendo com a menina de .
   Ele respirava tão fundo que eu sentia que poderia sugar todo o oxigênio do lugar. Era bonitinho vê-lo com ciúmes.
   - Mas é claro, ciúmes. Veja só, , está apaixonado. - era bom em provocar quando queria.
   - Cala a boca padre do diabo. Antes que eu estoure seus miolos com a minha espingarda. - Chamou o garçom e pediu. Não mais uma dose de vodka, nem duas, nem ao menos três. Uma garrafa inteira. - Vai curar a dor de cotovelo enchendo a cara? Que digno. - quando olhei novamente, os dois adolescentes tinham acabado de se beijar.
   - Não me questione ou eu enfio essa vodka pelo seu cu e faço sair pela boca. Entendido? - apenas pisquei para ele com cara de mulher safada.
   - , me diz uma coisa. Você ainda quer meter?
   - O quê? Tá maluco, lenhador? Isso é jeito de perguntar?
   - Quer meter e gozar ou não? - certo, eu queria.
   - Sim. Por quê?
   - Então você vai meter, alguém tem que sair feliz daqui hoje.
   - E eu posso saber em quem? Hm? Vai tirar um nomezinho do seu chapéu mágico de guachinim?
   - Se você soubesse, , não iria ficar tão desconfiado. – certo, depois de toda a minha produção e minha falta de paciência, a única coisa que eu não queria era brincar de adivinhação.
   - Abre a boca e fala, capeta. Não fica fazendo joguinho.
   - Seja paciente, meu menino, seja paciente. – eu estava sem sexo há meses, não sabia o que era sentir cheiro de mulher e querem saber? Não tinha uma trepada digna há anos, pedir paciência era o cúmulo da sacanagem.

xx

  Estava completamente nervosa. Eu tinha um encontro e eu não sabia direito o que era isso. Normalmente você conhece alguém e então conversam, rola aquele papo por alguns dias até surgir a oportunidade de saírem para se conhecerem melhor. Foi assim com Manterfos, depois de adicioná-lo no Facebook nós nos vimos no chat por alguns dias, falamos coisas aleatórias até que tudo ficou mais “quente”. Ele lançou até um “sempre te achei muito linda, mas sabe como é, você é filha de Theodor e Iriana , isso dificulta as coisas, sabia?”.
   Ah sim, claro. Eu era filha de Theodor e Irina , os tradicionais aristocratas. Sim, eu amava minha vida, não tinha razão para reclamar. Não era nenhuma revoltada bêbada por ter pais ricos que não davam atenção como algumas meninas que possuem tudo que querem, mas sempre arrumam uma desculpa para ser a rebelde sem causa. Acontece que meus pais já vieram de berços de ouro e eu só continuei a linhagem. Todos na cidade os respeitavam muito e nesse pacote acontecia de todos terem um certo medinho de usufruir de mim. Medinho o qual nem parecia conhecer.
   Maldito lenhador. Tinha resolvido dar um tempo dele, de pensar nele. Ele havia pedido demissão e não parecia muito preocupado comigo, por que insistir em pensar nele? Eu agora sairia com Manterfos. Iria dar uns pegas nele e curtir um pouco alguém que não fosse tão mais velho, mais complicado e ... experiente. Merda, foco .
   Seduzir Manterfos era o objetivo da noite. Por isso tinha mais roupa jogada na minha cama do que dentro do guarda roupa. Saia? Vestido? Jeans apertado? Salto? Batom vermelho ou nude? Malditas dúvidas femininas do capeta. Refletindo melhor, nós iríamos à taverna, sendo assim, salto não combinava muito e nem roupas com muita cara de balada. Shorts destroyed preto, crop top vermelho e um coturno? Parecia sensual e confortável.
   Sem meninas para me acompanhar hoje, eu iria sozinha até lá e o encontraria no horário combinado. Eu me sentia nervosa e sem saber muito o que fazer, mas, como Manterfos era da minha idade as coisas pareciam menos complexas. Dei um beijo no meu pai que estava no sofá com uns amigos e sai dizendo que não voltaria tarde. Se minha mãe estivesse ali já encheria meu saco por causa da roupa, ainda bem que não estava.
   Quando tinha praticamente descido todo o morro avistei três homens altos e viris andando lado a lado rindo e falando alto. É claro que eu não precisava pensar muito para saber quem era. , e . ? Que diabos tinha acontecido com o ?
   Fui me aproximando devagar para eles não me verem e por mais que eu estivesse tarando a bunda do eu ainda estava embasbacada com o . O que tinha dado no açougueiro? Ele foi parar no Esquadrão da Moda ou algo do gênero? Bem, o que tinha feito eu não sabia, só sabia que tinha dado muito certo. Ele estava extremamente atraente.
   Quando os moços entraram e foram para sua mesa eu respire fundo, encarnei o espírito da coragem e fui para a porta. A mulher que recepcionava os clientes me cumprimentou muito simpaticamente e disse que "meu companheiro já me esperava." Olhe para frente e pude vê-lo lá, sorrindo para mim e me chamando. Se segura , fica calma.
   Eu já sentia algo queimar nas minhas coxas, Manterfos era jovem, mas muito bonito. Ele tinha uma expressão safada, ao contrário de que tinha uma cara mais fechada e expressão mais bruta. Os lábios de Manterfos transpareciam perversidade. Eu sentia que seus olhos traçavam meu corpo inteiro e que por baixo daqueles cabelos castanhos a mente dele já podia construir um belo cenário onde eu estava ajoelhada o chupando enquanto ele agarrava meus cabelos. Um comportamento bem suspeito para um coroinha.
   - Por um minuto eu achei que você não fosse vir e eu iria ficar muito chateado. - Manterfos segurava o copo de bebida na altura do seu nariz, os olhos faiscavam e seus lábios pareciam dançar flamenco enquanto ele me falava aquilo com muita malícia.
   - E por que eu não viria? Sou uma pessoa de palavra, se eu combinei está combinado. - me sentei de frente para ele.
   - Então você é boa em cumprir promessas? Gosto disso, pessoa de palavra. E aí, o que quer beber? É por minha conta hoje. - pedi uma simples Ice e continuamos ali, ele trocando palavras maliciosas e eu tentando não me derreter pela cadeira.
   - Agora você podia me contar melhor essa história, ã? De como resolveu me adicionar do nada, falar comigo e nós acabarmos aqui, saindo juntos. Estou realmente interessado em saber. - ai, merda. Eu jamais poderia contar a razão exata daquilo. Era incabível contar que fora o mentor daquilo, eu teria que improvisar e de preferência, improvisar de um jeito sexy.
   - Você sabe que eu vou direto pra missa e eu sempre te vi por lá. Sempre ouvi as meninas da escola falando de você. Bom, eu resolvi ver se eu tinha uma chance, já que você mesmo disse que era complicado vir falar comigo, decidi encurtar o caminho. Fiz mal? - nossa , como você é péssima em ser sexy.
   - Mal? Não seja boba, . Eu sei que você é esperta. – Manterfos parecia cada vez mais próximo, cada vez mais safado. Ele não me olhava mais nos olhos, falava fitando minha boca. Eu sentia que ele estava morrendo de vontade de me agarrar e eu estava nervosa. estava ali, ele iria ver. E eu tinha medo. Era muito chocante ficar com alguém na frente dele, era mais que chocante, era insano. Por outro lado, eu tinha que fazer por uma questão de honra. Se ele não quer mais nada comigo por que eu deveria viver em torno dele? Quando acordei de meus pensamentos idiotas, o coroinha sem vergonha estava sentado do meu lado. Colocou sua mão com muita sutileza na minha coxa esquerda e começou a alisar minha pele. Ele percebeu meu arrepio quase instantâneo e riu.
   - Tá gostando do carinho? – a boca dele estava próxima demais do meu ouvido. Aquele moleque deveria ter visto muito filme pornô na vida para ter tanta experiência em falar daquele jeito. Sua voz vibrava no meu corpo, eu estava queimando de vontade de atacar a boca dele.
   - Do carinho, da sua voz no meu ouvido, dos arrepios na espinha. Mas, só tem um probleminha. – eu sabia ser safadinha também. Eu já trepei na floresta, beijar em local público era o de menos.
   - Probleminha? Qual? – puta que pariu. Que delícia de voz ele tinha, que malícia excitante. Toda vez que eu conversava com ele pelo chat, eu tinha impressão que estava imaginando coisas. Que ele jamais teria coragem de me agarrar ou de ser direto ao ponto, ele era um coroinha, um menino da igreja. Deveria ser muito comportado e quieto, na sua. Mas, depois de alguns dias eu pude ver que não. Manterfos gostava de uma conversa suja, de uma piadinha dúbia, de um assunto provocante. E ele sabia ser mais provocante ainda pessoalmente, mais gostoso. Óbvio que ele não tinha os músculos de , aquela pegada forte e bruta. O jeito másculo e viril, mas o garoto era bom. Ele sabia o que falar e como falar.
   - Sua boca fica mais interessante me beijando, sabia? – eu tive que morder os lábios, não era lá muito experiente em provocar e essas coisas, mas eu tinha que tentar. Eu tinha que conseguir deixar Manterfos fora de si.
   - Ah é? – a mão que só alisava minhas coxas agora grudou na minha carne. Eu arfei fechando os olhos com ele me apertando daquele jeito. Eu poderia sentir que todo mundo estava vendo que nós dois estávamos quase transando em cima da mesa, porém naquela altura eu já tinha ligado o foda-se pra vergonha. – Isso é porque você não sentiu minha língua aqui no meio ainda. – levemente a mão correu por cima do meu shorts e acariciou minha virilha. Eu soltei um leve gemido e ele pareceu gostar daquilo.
   - Mas já está gemendo? Eu mal encostei em você, . Isso me faz pensar ... – a outra mão dele foi pra minha cintura e me virou, lá estávamos nós frente a frente, nariz com nariz e com as línguas coçando para se atracar. - ... como será que você vai reagir quando eu estiver no meio da suas pernas? Só de pensar ...
   - Você fica duro? – eu coloquei a mão na ereção dele por cima do Jeans. Sim, eu fui abusada, atrevida e mal encarada e coloquei a mão ali. Eu queria sentir, saber como era. Nãoo era enorme. Mediano talvez, não tão grosso... mas era gostoso de pegar. E eu gostei de sentir aquilo, duro feito pedra na minha mão. Certo, não era o , mas estava ótimo. Era menor, mais humilde e o dono não iria me dar um orgasmo daqueles, mas estava ótimo mesmo assim. Ele não falou mais nada, só me puxou de vez e me beijou. Ah, porra de beijo. Eu estava pegando tanto fogo que mal sabia onde enfiar a língua. Era pornográfico. Grudei em seus cabelos da nuca, ele me apertava na cintura e nossas bocas se engoliam.
   - Ei calma, acho que é proibido sexo explícito por aqui. – eu soltei sua boca, porque eu sabia que se continuasse aquilo não daria certo.
   - Que pena, estava louco pra usar essa mesa. – nós dois rimos. Foi engraçado olhar para ele, todo suado e descabelado. Os lábios vermelhos, molhados e inchados. E então eu olhei para trás e vi e sozinhos. não estava mais ali, será que ele tinha visto? Será que ele tinha ido embora por minha causa? Merda, um sentimento idiota de culpa estava crescendo no meu peito.
   Manterfos pagou a conta, nós saímos e ele me acompanhou até em casa. Na hora de nos despedirmos ele me lascou outro beijo, tão delicioso quanto o primeiro. Ele me fez prometer de todas as maneiras possíveis que iria na casa dele no dia seguinte, para nós podermos brincar mais intimamente. Eu queria transar com ele, seria legal provar carne nova.
   Subi para o meu quarto, troquei de roupa e tirei a maquiagem. Fui dar uma última olhada na janela quando vi o que não queria. Lá embaixo eu podia ver com uma mulher ruiva à tira colo. Mas que merda? Ele conseguiu tirar uma biscate do bolso tão rápido assim?

xx

  - Como diabos você chega na cidade e nem me avisa? Vontade de meter a mão na sua cara. – eu mal podia acreditar no que meus olhos estavam vendo. Ana Vaisen, a bailarina mais cretina do universo estava de volta e nem ao menos tinha me mandado um recado por sinal de fumaça.
   - Ei, eu tenho uma vida, certo? Tive que resolver coisas, ficar com a família. E cá estou, revendo e fazendo companhia para o lenhador mais sedutor desse país.
   - Pode parar de puxar meu saco, ok? Eu conheço seu tom de cinismo. – Ana era bailarina, mas não respeitava o estereótipo. Sem frescuras, sem feminices demais. Preferia um coturno à um salto de 15 centímetros. Preferia beber cerveja comigo à fofocar com mulheres. Ela era incrível demais pra ser verdade.
   - Pare, esse cu doce não combina com seu tipo. E quer saber, vai demorar mais quanto tempo pra você me chamar para ir até sua toca sagrada?
   - Se você finalmente for me mostrar onde termina essa sua tatuagem da cintura, a gente pode negociar. – eu morria de curiosidade de saber onde a merda da gueixa de pele morena, cabelos negros e roupa azul clara que ela tinha tatuado há tantos anos iria parar. Aquilo não fazia bem para a minha sanidade.
   - Vamos indo pra lá que depois da terceira cerveja eu penso.
   - É assim que eu gosto.

Chapter XI

  Há três horas o sol havia nascido e raiava tímido na cidade. Três homens de batina e sorrisos animados caminhavam em encontro da igreja, um deles mais simpático e sorridente era o Bispo da cidade, Edrik. O outro possuía um carregado sotaque francês que se analisado com cuidado poderia entregar a falsidade do que dizia, era Cardeal Armand Marion. E por último, o mais jovem de todos, o mais quieto e sigiloso de todos, Giorgio Chiellini.
   Chiellini era italiano da Sicília e desde pequeno fora educado catolicamente com os ensinamentos do Papa e da Virgem Maria. Sua família desde muitas gerações passadas faziam parte da alta patente de um grupo extremista da Igreja Católica, o Justice for Saint Mary. Era sua fé na mãe de Jesus que os mantinham vivos no meio da máfia siciliana e do forte tráfico de cocaína ou qualquer outro mal que pudesse afligir a porção de terra banhada pelo Mar Mediterrâneo.
   Quando viu o filho atingir a maior idade sua mãe finalmente encorporou a coragem necessária para dar adeus ao seu menino e mandá-lo para o Vaticano. Lá fora instruído e iniciado com todas as pompas no Justice. Pouco tempo de ordem fora o suficiente para que se destacasse dentre os vários jovens que lá estavam e isso fora mais que o suficiente para chamar a atenção do Cardeal mais poderoso, Armand.
   Armand Marion era francês de Marseille e ao contrário de Chiellini nasceu em uma família cética de filósofos humanistas. Os pais preferiam acreditar na racionalidade humana que na metafísica do carrasco que consideravam ser Deus. Entretanto Armand não se sentia completo no meio daqueles pensamentos racionais que pregavam a essência humana sobre tudo. Ele sentia que o mundo era regido por uma força, que sua vida era comandada por um poder maior e imcompreensível. Ele sentia em sua vida a ação do onipresente e do onipotente. Foi quando, pela primeira vez aos 13 anos foi até uma catedral e assistiu à sua primeira missa.
   Ali ele se percebeu um humano que necessitava da graça de Deus. Foi o dia em que renasceu e que pode sentir em sua pele a magnitude da Bíblia, dos Santos e do sacrifício no Calvário. A partir daquele dia passou a ir em todas as missas que conseguia, escondeu isso de sua família até o último momento. Foi então após dois anos de segredo, que seu pai o descobriu.
   Armand não apanhou e nem ao menos sofrera algum tipo de agressão física, seus pais eram contra esse tipo de represália. Acharam outro jeito de pô-lo na linha, que o afetou severamente. O adolescente era obrigado a blasfemar e desvalorizar a existência divina. Estava proibido de rezar e de ler da bíblia. Seus pais enfiavam Nietzsche goela abaixo. Armand se sentia morrer naquela situação, não era a vida que queria levar. Ele necessitava da trindade agindo em seu ser.
   Foi quando fugiu de casa e começou a dormir na igreja, o padre dali praticamente o adotou, lhe deu uma cama, comida e uma oportunidade de estudar o catecismo. Algum tempo depois em uma visita feita pelo vaticano o jovem Armand foi descoberto por um dos chefes do Justice for Saint Mary que se comoveu com a história do pobre garoto. Ele fora levado para o vaticano e apresentado à Ordem. No dia em que fora iniciado descobriu a razão da sua vida. A partir daquele momento passou a correr em seu sangue o desejo de acabar com todos que se pusessem frente ao poder de Jesus e sua mãe. Foi assim que nasceu o monstro Armand Marion.
   O bispo não conhecia essas histórias e muito menos o real motivo daquela visita. Nem ao menos poderia imaginar em seus mais profundos sonhos que a lenda de um grupo extremista assassino pudesse ser verdade. Armand era um dos maiores carniceiros daquele grupo, entretanto, sua história frustrante com a família o fez crer que era algo que não era.
   Nas reuniões do grupo, após ter atingido o patamar da ordem, exigia culto para si próprio. Essa atitude era totalmente contrária aos verdadeiros ensinos do Justice que preservavam o direito ao culto apenas a Deus, seu Filho e a Mãe dele. Nenhum humano deveria receber as graças que eram merecidas apenas pelo Pai celestial. Porém, Armand não pensava assim. Ele se sentia o Deus Sol do Vaticano e em cada reunião seu ego se inflava mais e mais. Se sentia um deus na terra. Marion havia se tornado um déspota esclarecido da idade contemporânea e isso levantou a ira dos mais preservadores.
   Dentre eles estava a família de Chiellini e o próprio. Foi quando a ordem se dividiu em dois lados invisíveis, ninguém realmente via a separação, mas sabiam que ela existia. Todo esse problema se intensificou quando Armand recebeu notícias de que um dos mais valiosos tesouros do Vaticano estava correndo perigo. O mesmo tesouro roubado por Nikolai e perdido na floresta. Um tesouro que para Armand estava guardado e seguro nas mãos do Justice. O que não era verdade e Chiellini sabia disso, era por isso que estava ali junto com o Cardeal, para recuperarem o tesouro.
   Armand olhou ao longe e viu a grande fila que se formava ao redor de uma pequena casa. A fila era formada pelos pobres que todos os dias se serviam das refeições que , Manterfos e outros os serviam. Chamada vulgarmente de “casa dos pobres”, era a mesma que livrava várias pessoas de morrerem de fome todos os dias. Ao contrário do que se possa imaginar, Marion não detestava pobres. Pelo contrário, era o homem do Vaticano que mais lutava pelos direitos dos mais abastados. Se até mesmo Deus, o todo poderoso, tinha afeto, misericórdia e benevolência pelas ovelhas injustiçadas, por que ele não teria? Se queria ser um espelho de Jesus na terra, amar os pobres e ajudá-los era primordial.
  
   - Edrik, aquela fila que vemos daqui é de algo especial?
   - Ali é a Casa dos Pobres, todos os dias servimos a eles três refeições. Mas não refeições miseráveis e de má qualidade. Eles comem extremamente bem, todos os dias servimos cardápios muito bem elaborados e variados com alimentos de primeira qualidade. Tudo isso seria impossível se não tivesse vindo para cá, foi ele quem conseguiu melhorar em cem por cento a qualidade do local. - Edrik sorria muito satisfeito, tinha aprendido com o passar dos meses a ter muito respeito e admiração pelo jovem . Armand ao ouvir aquilo sentiu um nó amarrar-se em sua garganta. No fundo de sua alma ele queria matar e estraçalhar pela intromissão no meio do seu plano, porém, se ele era uma boa alma capaz de se preocupar com os pobres e dar-lhes boa comida e atenção, talvez tivesse de rever o que estava planejando.
   - Seria possível irmos até lá? - abriu em um sorriso e seu carregado sotaque fez com que o bispo também risse.
   - Claro que sim, me acompanhem. - Armand foi logo atrás do bispo e Chielline, ainda confuso com aquele pedido foi finalmente seguindo os dois. Ele não estava entendendo bem o que o Cardeal estava fazendo e seu papel ali era seguir cada passo do mesmo para que permanecesse vivo até o tesouro ser recuperado.
   Dentro da casa trabalhando duro estavam e Manterfos conversando animadoramente sobre como as geleias estavam frescas e saborosas. Com o tempo os dois tinham se tornado quase confidentes, por este motivo, o mais jovem acabou contando ao padre sobre sua saída com . teve de disfarçar para não entregar que aquilo tinha sido um plano de sua autoria. Era engraçado ver os dois adolescentes saindo juntos enquanto estava se remoendo em sua casa sem saber o que fazer.
   - E vocês pretendem se encontrar novamente?
   - Creio que sim padre, eu imaginei que ela seria mais arredia ou até mesmo mais, como eu posso dizer, frescurenta. Mas a verdade é que eu realmente gostei de ficar com ela. - Manterfos até mesmo sorria meio abobalhado, a ideia de ter saído com a garota tinha sido boa. A menina, ao contrário do que pensava, parecia ser boa quando se tratava de carícias mais quentes.
   - E vocês foram até o final da coisa? - Manterfos olhou para o padre em espanto, com um olhar que informava que o mesmo estava chocado e assustado com o teor da pergunta.
   - Padre, o senhor não acha que esse tipo de pergunta é desnecessária uma hora dessas e ainda mais vindo de um homem do Senhor para um coroinha? - abriu uma gargalhada gostosa e dissimulada. Ele não entendia porque todas as pessoas tinham que ter esse pensamento de que padres eram seres assexuados que jamais poderiam falar sobre sexo.
   - Manterfos, não seja idiota. Eu posso estar em celibato e você pode ser coroinha, mas não somos eunucos. Todas as pessoas no mundo fazem sexo, em pleno século XXI é bem ridículo da sua parte você me olhar com essa cara por conta de uma pergunta assim.
   - Ah, eu não quero expor a intimidade da menina desse jeito. - Manterfos estava no fundo envergonhado, ele sabia que não tinham transado e até mesmo sentiu que esperava um pouco mais dele. Era um pouco constrangedor tratar o assunto daquele jeito.
   - Eu sou um padre, tudo que se conta para mim é em sistema de confissão e eu jamais conto algo para alguém. - na verdade estava se remoendo para saber o que havia acontecido, para poder infernizar o amigo lenhador posteriormente.
   - Bom, eu diria que nós paramos nas preliminares. Podemos acabar com o assunto por aqui? - o coroinha estava mais vermelho que a geléia de morango que passava nas torradas.
   - Tudo bem, meu jovem, não quero fazer você desmaiar de vergonha. - continuava rindo, aquela ideia estava rendendo mais diversão do que podia ter imaginado. Porém, nem todo dia nasce para que nós possamos sorrir por muito tempo. Quando os olhos do padre foram para a porta a sensação de espanto antes nos olhos de Manterfos estava nos seus.
   - Que porra é essa? - soltou baixinho, mas mesmo assim audível para Manterfos.
   - Padre? Você está bem? - Manterfos questionou e olhou para a porta, lá estava um conhecido de pouco tempo, da última vez que havia ido para o Vaticano. Armand Marion.
   - O que esse diabo de batina está fazendo aqui?
   - Como assim diabo? Ele não é o cardeal Armand? O homem me tratou muito bem quando fui ao vaticano. - Manterfos fazia parte do grupo de coroinhas que havia ido ao vaticano receber palestras, lá Armand havia feito varias pregações sobre a importância da santidade, de como eles eram importantes na luta contra os inimigos do catolicismo e sobre como os santos mártires eram importantes nessa batalha.
   - Ah sim, me deixe adivinhar, ele falou para você como nós devemos morrer e matar pela igreja, estou certo? - Manterfos piscou algumas vezes tentando entender.
   - Você também foi até lá? - o cérebro do garoto estava confuso, algo em sua mente dizia que as peças não se encaixavam.
   - Manterfos, vá embora daqui. Me encontre na igreja após o almoço, eu preciso conversar sério com você. - se lembrou do coroinha suicida e de seu discurso perturbado, agora ele começava a imaginar o porquê do jovem menino ter feito o que fez. Talvez Armand fosse a chave para isso e Manterfos era o único que poderia ajudá-lo a descobrir.
   - Ir embora? Mas a fila não está nem na metade.
   - Vá embora, não discuta comigo, não agora. Vá logo e me encontre na igreja após o almoço, é uma ordem. - o garoto tirou sua touquinha e saiu pelos fundos, a confusão estava rondando sua sinapse. Ele gostava tanto de Armand como de , mas não entendia a razão pela qual eles não se gostavam. E que mal havia nos discursos de Armand? Por qual motivo parecia nervoso?
   acompanhou o garoto sair e após isso voltou sua atenção para os três homens recém chegados. Todas as pessoas que estavam na fila os reverenciaram e Armand parecia tão carinhoso com os mesmos que o padre mal pode acreditar. Da onde tinha saído tanta bondade? Armand Marion era um monstro sanguinário e falso, como estava sendo capaz de fingir-se de santo?
   - , meu querido. É muito bom te ver. - Edrik, o bispo, foi para perto de e o abraçou, verdadeiramente.
   - Edrik, que surpresa. Achei que fosse avisar quando iria chegar e também, não esperava visitas. - retribuiu o abraço e tentou de todas as formas esconder sua desconfiança.
   - São bons amigos, você deve inclusive conhecê-los. - o bispo sorria como uma criança ganhando presentes no natal, mal sabia de que sua companhia era demoníaca.
   - Claro, Cardeal Armand e Giorgio Chiellini. São velhos conhecidos do Vaticano.
   - Armand, Chiellini, venham até aqui. Este é o , o melhor padre que poderia ter chegado na nossa cidade. - ao ouvir o nome do padre, Armand deixou um sorriso sarcástico e sujo sair por seus lábios. Chiellini não expressava nada, o homem estava preocupado e tentando não transparecer isso.
   - Padre , é um prazer revê-lo. Achei que fosse responder a carta que lhe mandei, fiquei triste em saber que não reservou um tempo para mim. - as palavras do cardeal caíam como veneno de cobra nos pés de .
   - Ah, perdão por decepcioná-lo. Sei que o bispo respondeu a carta com todos os cumprimentos possíveis, eu ando ocupado com essa casa e mais afazeres da igreja.
   - Sim, claro. A obra do Senhor em primeiro lugar sempre. Estás certíssimo, padre. Mas bem, agora precisamos ir aos nossos aposentos. Estou muito cansado e Chiellini também, nós nos vemos depois, . - apenas concordou com a cabeça evitando muito contato, Chiellini o disse um tchau quase inaudível e os dois sairam sendo seguidos pelo bispo. queimava por dentro, sabia que aquela visita deveria estar ocultando um plano maligno banhado em sangue. Ele precisava descobrir o que era e antes de ir até seus amigos, teria uma conversa séria e decisiva com o coroinha.

xx

  A cerveja estava deliciosamente gelada, trincando e até queimando minha garganta. Existiam muitas sensações que eu gostava na vida, entre elas estava poder ficar apenas de cueca no meu sofá juntamente com uma heineken. Eu me sentia mais macho fazendo esse tipo de coisa, era bom pra testosterona ficar calibrada. Mas uma coisa que eu havia aprendido na vida é que o maldito lenhador não tinha o direito de ter paz na sua casa. Depois da vinda de eu comecei a receber mais visitas que o necessário.
   Minha paz acabou quando eu ouvi batidas na porta. Era um negócio do diabo mesmo, não conseguia ficar mais que algumas horas em santa paz na minha privacidade. As pessoas simplesmente chegavam sem avisar e ficavam lá, batucando minha porta como se fosse uma bateria. Esse era um dos motivos pelo qual eu escolhi morar na casa da floresta ao invés na casa da cidade. Meu avô pediu para que eu escolhesse entra uma delas e não foi difícil me decidir pela residência mais afastada. A casa da cidade era quase uma mansão, mas, mesmo assim eu preferi pela vida entre as árvores. Receber visitas sempre foi algo que me incomodou, imaginei que morar por ali evitaria isso. E na verdade evitou por um bom tempo, até agora.
   Levantei com toda a preguiça do universo. Coloquei a garrafa verde em cima da mesa de centro e fui em passos vagarosos até a porta. Rodei a maçaneta e já esperava poder enfiar a mão na cara de por vir com alguma conversa complicada uma hora delas. Ah, mas qual fora minha surpresa. Era o tornado Ana Vaisen.
   - Que jeito sugestivo de receber suas visitas. - ela me mediu de cima à baixo e nem se poupou de disfarçar o fato de ter ficado alguns segundos olhando para minhas partes baixas.
   - Achei que fosse o padre, se soubesse que era você nem teria aberto a porta. - o que era verdade, ela podia ser minha amiga de velhos tempos, porém isso, não lhe dava o direito e nem a moral de vir sem avisar.
   - Ora, o que isso, lenhador? Nem vai me convidar para entrar. Eu trouxe vinho. - seu sorriso carregava mais animação que o permitido por lei.
   - É o que andam dizendo na bolsa de valores? Que eu me vendo por uma garrafa de vinho? Esperava pelo menos um amendoim de acompanhamento.
   - Vamos, , pare com o show de charme e me deixe entrar de uma vez. - sua voz agora parecia um pouco mais irritada, a mulher odiava ser contrariada.
   - Me diga o porquê. Purifique minha mente em relação a essa sua visita inesperada.
   - Tá frio, você está apenas de cueca tomando um vento bem gelado nessas coxas brancas e eu resolvi fazer uma surpresa para um velho amigo, qual o crime? - dei espaço para Ana passar e ela rapidamente adentrou-se. Sentou com toda a folga no mundo no meu sofá e meteu os coturnos cheios de terra na minha poltrona.
   - Crime de violação à privacidade de um lenhador muito, muito mal humorado. - Ana apenas ria, ela sabia o quanto eu odiava aquele tipo de coisa, era mais que óbvio que tinha feito tudo aquilo por pirraça. - E com sua permissão, vou me vestir, não é educado ficar de cueca do lado das visitas.
   Ela ficou por ali enquanto eu colocava um pedaço de pano quentinho para cobrir minhas vergonhas. Ana tinha mudado todo o curso da minha noite, o que não era tão ruim no final das contas, estava começando a ter ideias.
   - Agora me conte, o que diabos andou fazendo da vida? Faz anos que não vem para cá e quando vem nem faz questão de avisar. - as taças estavam cheias e eu me sentia mais confortável daquele jeito.
   - Fiz várias apresentações de sucesso com a companhia de balé por toda a Europa. Nos últimos seis meses nós tivemos ensaiando para um grande show na Rússia, no Teatro Bolshoi. Mas aconteceu um pequeno inconveniente. O bailarino principal quebrou a perna em um acidente e enquanto não fazem novas audições para um substituto a altura, estamos de folga. Por isso, vim para cá. E não diga que não te avisei, aqui estou e até trouxe vinho para você. - Ana estava, como eu posso dizer, um pouco fora do comum. Ela normalmente me tratava como se fosse um irmão mais velho e tinha um comportamento mais descontraído comigo. Dessa vez eu sentia seus olhares mais intensos e as palavras mais provocantes, aquilo estava me incomodando.
   - Eu nunca consegui levar a sério que você realmente iria ganhar a vida como bailarina, seu tipo é mais pr, jogadora de Rugby ou algo menos fofo e saltitante.
   - Ora , assim você me ofende. Eu também tenho minha feminilidade, é só você prestar um pouco de atenção que vai perceber. - Ana deu um longo gole em sua taça e deixou algumas gotas de vinho descerem pelo seu decote, que só naquele momento eu notei que era um pouco maior que o recomendado. Que diabos aquele mulher estava pensando?
   - Você pra mim é como se fosse o irmão que eu não tive, não tem essa de “eu também tenho minha feminilidade”, pelo menos não pra mim. - imitei sua voz repetindo a frase que havia dito e um sorriso ao mesmo tempo escarnicento e nervoso tomou-lhe o rosto.
   - Sabe o que é mais interessante em tudo isso, ? - seu corpo foi pouco a pouco avançando no sofá e se aproximando de mim, os olhos vidrados no meu e a voz cada vez mais insinuava que ela estava planejando maldades.
   - Me diga, por favor. Eu quero saber o que é interessante, aliás, o que é mais interessante em tudo isso. - me joguei para frente apoiando meus cotovelos nos joelhos esperançosamente esperando que ela me respondesse sem se jogar em mim.
   - Você está errado sobre mim. - foi rápido, pareceu um relâmpago e fui pego de surpresa como se levasse um tiro. Nem consegui piscar os olhos e a mulher já estava em cima de mim enfiando as mãos no meu peitoral e passando a língua nos meus lábios. Tentei me levantar e pelo jeito torto que ela estava sentada no meu colo, caímos em cheio no sofá. Vaisen caiu por cima de mim, suas pernas em cada lado do meu corpo e seu rebolado começando a ganhar forma enquanto a maldita teimava em meter a boca no meu pescoço. Eu comecei a fazer força para levantar, porém pelo jeito que havia caído estava difícil tomar o equilíbrio de novo.
   - Ana, mas que merda. Sai de cima de mim. - ela achou que meu pedido tinha sido manha e continuou ali, como se eu apenas estivesse me fazendo de difícil. O tempo todo fui fugindo de suas investidas e das tentativas de beijo. A maldita virilha dela se arrastando sobre meu zíper estava começando a dar merda. Depois de alguns minutos naquela agonia de querer me levantar sem sucesso, Ana mudou sua posição se jogando mais para cima procurando em desespero pela minha boca. Foi aí que aproveitei a oportunidade a joguei pro lado com toda a força que tive. Ela praticamente voou pelo outro lado da sala e caiu de cara no chão. Levantei frustrado e confuso, tentando entender o que tinha acontecido.
   - Filho da puta, eu podia ter quebrado meus dentes. - se levantou sem jeito, com a mão na cabeça e uma cara de verdadeira dor.
   - Porra, eu pedi pra sair de cima de mim. Não era brincadeira, que diabos deu em você? - Vaisen se sentou no sofá e a expressão da derrota estava em seu rosto.
   - Ah, qual é, . Somos adultos, achei que a gente podia se divertir um pouquinho.
   - Se divertir um pouquinho? Você me conhece, sabe como sou chato e ranzinza. Então você vem até a minha casa sem avisar, invade a privacidade, tenta me comprar com uma porra de vinho, quebra todos os meus protocolos e quer falar em diversão? Vai pro inferno com essa carência. - eu estava bravo, estava puto. Tudo que eu queria para minha noite era paz e sossego e não uma maluca tentando me estuprar.
   - Foi mal, ok? Só pensei que pudesse ser uma boa ideia, achei que talvez pudesse dar certo. Não sabia que tinha atingido esse nível de puritanismo. - o sarcasmo corria por suas palavras.
   - Não é puritanismo, Ana. Eu só não sou obrigado a beijar uma mulher só porque ela se jogou pra cima de mim. Você é minha amiga, sua infeliz. A gente cresceu junto, eu não sinto atração por você e você sempre disse que nunca sentiu nada por mim, porra. Não vem com essa uma altura dessa da vida. - eu podia ser safado, mas não era do tipo tarado que atacava as amigas.
   - Olha, o balé me consome. Eu não tenho um namorado há séculos. Não tenho encontros e mal consigo um sexo casual, só queria sei lá, me divertir um pouco. Curtir a vida, não pensei que fosse má ideia.
   - Mas foi uma péssima ideia. Se queria curtir e transar era só me avisar. - sim, eu tinha tido uma ideia.
   - Te avisar? E o que você faria a respeito?
   - Espere e veja. - sai da sala e caminhei até o meu quarto. Encostado em um enorme aparador estava uma porcaria de telefone que eu mal usava, aliás, eu não tinha costume de ligar para ninguém e o sinal de celular era péssimo lá no meio. Porém, quando precisava o tal telefone estava ali para me ajudar.
   - falando, quem gostaria?
   - E aí, meu gato, é seu nego. - viadagem era sempre um prazer nas conversas com .
   - Que você quer comigo uma hora dessas, lenhador de araque? - Eu quero que você tome um banho, coloque uma cueca bonita, passe um perfume, arrume o cabelo, se vista bem e venha para cá. Sem me questionar, sem um pio.
   - Mas que raios? , eu sou seu amigo e cara, eu te amo. Mas não é hoje que eu quero transar com você.
   - Não é comigo, é com outra pessoa.
   - Outra pessoa? Que conversa errada é essa?
   - Vai ficar me enchendo o saco ou vai fazer o que falei? Pelo amor, sou teu parceiro, não iria te por em encrenca.
   - Bem, isso é verdade. Mas esse papo continua estranho.
   - Vem logo ou eu vou até aí te buscar de cinta.
   - Tudo bem, tudo bem. Meia hora eu estou aí.
   - Esse é meu garoto, até depois.
   - Até.

  Acompanhem meu raciocínio. Ana queria sexo. também queria sexo. Por que não juntar os dois para um bem comum? Os dois já tinham se conhecido no passado, apesar de não ser tão amigo de Ana quanto eu, mas por seu meu melhor amigo na época acabávamos sempre saindo juntos. Foi então em que um dia resolveu me contar que achava Vaisen muito interessante e queria que eu desse um jeito de arrumar umas bitocas pra ele. Eu até tentei, mas a Ana daquela época não curtia sair beijando meninos. Ela havia recém ganhado uma guitarra, estava enchendo o cu de cachaça em bares com a sua banda e ela não ligava para homens e muito menos para o coitado do filho do açougueiro.
   Porém, os tempos tinham mudado e o infeliz do atual açougueiro tirou coragem do meio da bunda para se arrumar e voltar a ser um galanteador. Se aparecesse em casa com o mesmo estirpe da noite em que saímos, seria fácil fazer com que o furação Ana o agarrasse sem dificuldades. Demorei um pouco mais de tempo no quarto mexendo em algumas coisas e quando voltei para a sala a garrafa de vinho estava vazia.
   - Achei que iria me deixar aqui sozinha pro resto da noite. Posso saber o que você está aprontando?
   - Não, não pode. Espere e veja. - sentei em minha poltrona, liguei a televisão e passei a ignorar as baboseiras que ela falava. Até que então a porta anunciou que minha encomenda havia chegado.
   - Você chamou alguém para vir aqui? É um garoto de programa? - sim, ela realmente pareceu se empolgar com a ideia. Não a respondi e fui até a porta receber .
   - Não, é um velho amigo. É com prazer que lhe apresento . Acho que vocês lembram um do outro. - entrou todo confuso e desajustado, mas o infeliz estava muito bem arrumado.
   - ? O filho do açougueiro? É você? - eu pude sentir que Ana estava perplexa, quem não estaria?
   - Sim, senhora bailarina masculinizada que tinha uma banda de rock e não se importava com os sentimentso dos outros, sou eu mesmo. Mas agora eu sou o açougueiro. - além de gostoso tinha a língua afiada, esse era o meu .
   - Tenho que dizer que jamais esperaria que você se tornasse em algo tão… glamuroso.
   - Eu também não. Mas, depois de ser traído pela minha esposa e ver minha vida caminhar para um buraco de fracasso, resolvi tomar providências. E , uma cerveja, sim?
   - É pra já chefe. - fui para a cozinha procurar por cervejas e alguns petiscos. Porém, quando voltei minutos depois os dois já estavam no sofá se agarrando. já estava sem casaco e com a camisa sendo arrancada ferozmente por Ana que conseguia naquele momento demonstrar como uma mulher mal comida pode ficar desesperada.
   - Oh! Vejo que os jovens já estão muito bem acomodados. A cerveja está aqui e eu vou dar uma volta por aí, porque sexo explícito entre vocês não é algo que eu queira ver por hoje. - apenas peguei uma jaqueta mais quente no cabideiro esperando por uma resposta, mas nem isso foram capaz de me dar. Só pude rir e sair da casa.

xx

  Já era um tanto tarde da noite, não era madrugada ainda, mas já passava da meia noite. Tudo aconteceu de uma maneira a qual meu cérebro estava confuso para entender. Ao sair de casa eu ainda não me sentia realmente segura sobre o que estava fazendo, Manterfos no fim das contas era um moleque estranho e aquela busca falsa pela minha “libertação sexual” na verdade era só um jeito subentendido de pirracear e tentar tirá-lo da minha cabeça.
   Talvez, poderia ter acontecido melhor. Fui até a casa do coroinha, estávamos sozinhos por lá, os pais estavam viajando para um lugar o qual eu não quis saber. O garoto fora mais atencioso do que eu esperava, mas eu sentia no seu jeito de falar e em suas mãos quando ele me tocava, que havia um nervosismo presente. Aquilo me incomodou de certa forma, já bastava meu nervosismo, não queria ter que lidar com a ansiedade de mais uma pessoa.
   No final das contas, não transamos, as preliminares foram o suficiente para a noite. Eu pude sentir o calor coçando o meio das minhas pernas, sua língua molhada no meu pescoço e as mãos ardentes nos meus peitos conseguiram me fazer suspirar e gemer levemente. Porém, o tempo inteiro eu ficava com um placar mental que o comparava com e, o inevitável ocorreu, ele perdeu em praticamente tudo. Apenas não perdeu no item carinho e no item atenção. Eu sabia que Manterfos não estava apaixonado por mim e por mais que a parte sexual não tivesse sido sensacional, eu pude senti-lo se preocupando comigo. Tendo um cuidado afetivo que não era capaz de mostrar.
   Fiquei vagueando com esses pensamentos no caminho para casa. Seria um caminho costumeiro e normal, mas a vida brinca com as nossas. Quando cheguei ao pé da ladeira vi algo que realmente não esperava, uma pessoa descendo por ela. Era ele, podia julgar pela camisa xadrez. . Tentei fugir, tampar o rosto, olhar para o chão e sumir, mas ele foi mais rápido e chegou até mim com aquela cara séria e expressão de homem das cavernas.
   - Não tínhamos conversado sobre você não andar pelas redondezas de madrugada? - sabia me tirar do controle quando agia como se fosse meu tutor.
   - Desculpe, “pai”, eu não sabia que devia satisfações para você. E, além disso, mal passou da meia noite, não está tão tarde assim.
   - Não importa se passou pouco ou muito da meia noite, é noite, escuro, perigoso. Achei que tinha deixado claro que não queria você à solta uma hora dessas. - ele me encarava intensamente, em um tom tão autoritário que chegava a ser cômico. Da onde diabos ele tinha tirado que possuía direito para aquilo?
   - Ei, por que a preocupação? Eu sei me virar, tenho pai e mãe e também tenho direito de ir vir não importa se de manhã ou se de noite, então, não se preocupe. - tentei seguir meu caminho, mas ele me segurou pelo braço. Eu poderia gritar e acusá-lo de abusar de mim, mas, combinemos que não seria algo muito correto.
   - Eu não posso ficar de pajem 24 horas por dia no seu pé para evitar que alguma merda aconteça com você, criança. Se surgir outro lobo ou outro coroinha assassino, não vai poder contar comigo. - era interessante saber que ele se preocupava. Eu não conseguia entender muito bem o que aquilo significava, mas, mesmo assim, era bom de se sentir.
   - , obrigada pela preocupação, mas eu estava na casa de Manterfos e já estou chegando na minha casa. Não vai acontecer nada. - ao terminar de falar eu senti uma mudança drástica em seu humor. Os olhos cerraram e aquela boca judiada pelo vento se franziu em raiva.
   - Ah, mas é claro. Estava na casa do namoradinho. Por que eu deveria me meter, não é mesmo? Você é adulta, sabe o que faz da vida, perdão pela intromissão. - eu queria rir, deitar no chão e rir. Um homem daquele tamanho, daquela idade, daquele porte, se comportando como um menino de 14 anos.
   - Ciúmes é o sentimento da vez?
   - Não é ciúmes. É um fato e contra fatos não há argumentos.
   - Não é o que está parecendo, .
   - Mas é a realidade, certo? Além do mais, , aquele molecote não é pra você. É só um garoto bobo que se acha incrivelmente sensacional porque as meninas da escola caem por ele, porque as mães delas querem que ele case com as filhas porque é um coroinha. Agora, o que esse menino sabe da vida? Nada. Isso mesmo, nada. Nada sobre uma mulher e como cuidá-la, como tratá-la e é claro, como seduzi-la e satisfazê-la. - certo, eu estava entendendo o jogo, ele estava me mostrando que ele era melhor que Manterfos e que poderia me dar tudo aquilo.
   - Ele pode aprender. Nós podemos aprender, podemos aprender juntos. – o vadio me olhou com piedade.
   - Certo, aprendam juntos. Não faz diferença. Boa noite para você. - aquilo congelou a minha respiração. Não queria que ele fosse embora e demonstrasse tanta indiferença.
   - E por quê? - perguntei, perdida procurando um modo de chamar atenção.
   - E por que o quê? - seus braços se cruzaram e ele me mirava de longe. Fui me aproximando e estava novamente frente a frente com ele.
   - E por que me dizer isso? Se não faz diferença, por que dizer?
   - Você quer chamar atenção e eu não quero que quebre a cara por querer chamar minha atenção.
   - Como é que é? - certo, eu não conseguia respirar na aquela altura da coisa. Como ele sabia? Como ele havia sentido que era exatamente isso que eu estava fazendo?
   - Você quer me mostrar que não precisa de mim, que consegue me superar. Tudo bem, eu entendo. Só quero que veja que não é com um moleque que você vai conseguir.
   - E que diferença isso faz pra você? - eu estava tão atingida, que raciocinar era impossível.
   - Nenhuma, . A diferença vai fazer pra você, porque sinceramente, você sabe que não vai me esquecer ficando com o moleque, vai é ficar lembrando e pensando sobre como eu sou melhor que ele. - fechei meus olhos para recuperar o ar, aquilo deveria ser um sonho ruim, uma alucinação do capeta. Por quê? No momento em que estava me libertando, seguindo em frente, ele aparece. Quando estava esquecendo a obsessão idiota que sentia borbulhar minha vagina, ele me diz tudo isso, não era justo.
   - Então deixa que eu me viro com isso, ok? Não se doa por mim, vai lá pra sua ruiva e me deixe. - não era a intenção demonstrar ciúmes, mas, eu não estava raciocinando.
   - A ruiva? - ele riu, nunca vi o homem rir com tanta vontade como naquele momento. - Pelo amor de Deus, você não sabe a besteira que está falando.
   - E possa saber a razão? Você parecia bem à vontade com ela ontem à noite.
   - Estava me espionando, , que coisa feia. - ótimo, ele tinha roubado o controle da situação das minhas mãos, parabéns, . Fiquei extremamente irritada, queria sumir para a minha casa e me enterrar embaixo das cobertas.
   - Chega dessa conversa, não quero saber. Boa noite. - dei dois passos para frente e freei, era ele me segurando.
   - Volta! - foi só o que disse, me deixando de frente para ele na marra.
   - Que caralho você quer? - estava com medo de perguntar e ao mesmo tempo morrendo de curiosidade para saber.
   - Te mostrar que o moleque beija horrivelmente mal e que a ruiva não é o que você está pensando. - dois centímetros mais e a língua dele iria lamber meus lábios e me fazer gozar ali mesmo.
   - … - alertei nervosa e com medo, não sabia exatamente medo do que eu sentia, mas ele estava ali me fazendo pensar que aquilo seria uma tremenda burrice. -… no meio da rua …
   - Anda sozinha pela rua de madrugada, vai beber vodka com as amigas no meio da floresta em plena madrugada, mas tem medo de beijar um homem na rua. Você tem que rever o princípio da palavra coragem. - ele estava me mantendo presa me segurando pelos ombros, por Deus, eu iria morrer.
   - Não fale como se fosse a mesma coisa, ok? Afinal, a sua namoradinha não vai gostar disso. - sorriu tão safado que eu fiquei com vontade de fotografar aquilo e pendurar na minha parede.
   - Você cismou com a moça, heim? Já parou pra pensar na razão pela qual eu estou aqui uma hora dessas ao invés de estar em casa?
   - E eu deveria? A vida é tuda, não sou como você que tenta controlar a minha.
   - Nem está com curiosidade para saber? Porque eu poderia muito bem te contar. - ah, maldição de homem.
   - Então me diga, já que é tão importante pra você.
   - A ruiva se chama Ana, ela foi até a minha casa e tentou me agarrar… - eu não iria deixar ele terminar aquela conversinha mole, se ele estava querendo se gabar pra cima de mim iria cair do cavalo. Não era obrigada a aguentar esse tipo de desaforo.
   - Eu não quero saber, ok? Não quero saber em como vocês se beijaram e em como ela ficou excitada com você pegando em tudo quanto é carne dela. Me poupe disso, sim? - eu tentei me soltar e consegui, prossegui andando e já estava preparada para ele me puxar de volta. Só que isso não aconteceu, já havia caminhado um bom tanto e ninguém ainda tinha me impedido de continuar. Olhei para trás e lá estava ele parado rindo, rindo da minha cara como se eu fosse o ser mais patético do universo.
   - Quer me enganar que você realmente vai embora e vai me deixar pra trás? - ele falou ao longe e é claro que ele estava certo. Eu queria que ele me impedisse, me tacasse no chão e me fodesse até eu quebrar o quadril. Meu Deus, eu deveria parar de ser tão previsível. Tinha que fazer algo para ele ver que eu não era uma cadelinha sem personalidade.
   - … Vai se foder! - eu precisava de coragem e eu juntei toda a que tinha e mandei o mesmo ir se foder com a maior vontade do universo. Ele tinha que ir se foder por achar que controlava a minha vida, por achar que era o centro do meu universo, por me manipular como uma marionete barata, por pensar que tinha poder sobre mim. Ir se foder por ter aparecido na minha casa, por ter me dado o melhor orgasmo da minha vida, por ter me deixado tão excitada, por ser tão gostoso e musculoso. Tudo naquele momento era motivo para ele ir se foder, se foder grandemente, totalmente e para sempre.
   - , não faça eu perder a paciência. - estávamos demasiadamente longe, mas mesmo assim era possível ouvir perfeitamente o que dizíamos. Estava de frente para ele e comecei a andar de ré, ele por sua vez começou a vir na minha direção e eu acelerei o passo. Se o infeliz queria me beijar, ele teria que batalhar por isso.
   Já estava na entrada da minha casa, passei pelo portão de ferro que estava aberto e fiquei ali parada próximo ao jardim da minha mãe. Pensei com toda a certeza do universo que ele não teria culhões para entrar no meu quintal, porém, a petulância do era compatível com o tamanho do seu pau, muito grande.
   - É muito charme pra pouco autocontrole, .
   - Vai se foder de novo, ok? Você tá invadindo a minha casa. - a única coisa que o via fazer com mais força era rir da minha cara.
   - Vai se foder você, pirralha. - como ele tinha coragem? Que audácia, cada vez mais eu queria meter a mão naquele rosto másculo e lindo.
   - Quer saber? Some da minha casa e vai lá comer a sua namorada. - paciência tinha limite e a minha já tinha estourado o tal e se tacado de cima da ponte.
   - A minha namorada está infelizmente ocupada no momento. - não sei a razão pela qual ele ria tanto, não dava para levar a sério o que ele falava. - E eu já dei um bom trato nela hoje, sabia?
   - Vai tomar no seu cu, lenhador do caralho. Enfia o que você fez com ela no seu rabo gordo, eu não quero saber. Quero que suma da minha casa! - o nervosismo tomou conta de mim, não era justo. Eu não queria saber, eu não precisava saber. Ele tinha o direito de foder quem quisesse, mas não tinha o direito de jogar minha cara e esfregar isso pra mim para se vangloriar.
   - Foda-se o que você quer, eu mando aqui. - o tal sorriso sumiu e a expressão dura e bruta voltou a reinar em seu rosto. Os olhos cerrados e a boca franzida, os músculos contraídos e a voz sussurada em um tom muito grave. O lenhador sem paciência e grosso estava de volta. pegou a distância que havia entre nós e mandou para longe. As mãos pesadas e enormes estavam agora na minha nunca me forçando a olhar para ele. Eu comecei a tremer de desespero, não sabia o que estava sentindo. - Tudo que eu fiz com ela, eu vou fazer com você. Se ela gozou uma vez, você vai gozar duas. Se ela se contorceu de prazer, você vai ter um enfarte de tanto gemer. Agora cala a boca que você já me enrolou demais.
   Eu até tentei falar algo, mas não deu tempo. meteu os lábios no meus, eu demorei para conseguir pensar para abrir a boca. Ele se pressionou contra mim e nós caímos na grama. O peso dele em cima do meu corpo seria incômodo se eu não estivesse tão extasiada. As mãos dele foram apertar toda minha cintura, me puxando sempre para mais perto. As minhas correram para unhar as costas dele, o que não foi possível, pois o tecido da jaqueta era grosso. Arranquei aquela porcaria do jeito que deu e fiz o favor de abrir alguns botões da camisa. Agora fora minha vez de procurá-lo para o beijo e ele prontamente respondeu. Me enfiei naquele mar de tesão que era beijar o maldito. E santo Deus que habita as santas alturas do céu, era um prazer imensurável passar a mão por aquele peitoral definido e levemente cheio de pelos. Sentir os músculos dele se contraindo enquanto me beijava já me fazia molhar a calcinha.
   sentiu minha empolgação e enfiou a mão direito por baixo da minha blusa, grudando sutiã e peitos numa pegada só. A outra foi brincar com a minha coxa tentando grudar o que ele podia por cima da calça jeans. Estava um frio do caralho naquele momento, o vento estava cortando as partes do meu corpo que ficavam sem pano, mas o lenhador não parecia se incomodar com isso. Ele parecia bem quente, tão quente que arrancou a camisa e jogou longe ficando apenas de jeans e botinas. Ele levantou um pouco o tronco e eu pude ver suas entradas pélvicas e o começo dos pelos púbicos brincando na barra da cueca azul. Aquilo era demais pra mim, eu queria aquele homem metendo.
   - Pelo amor de Deus, homem, eu preciso de mais que isso.
   - Por que a pressa? - a pergunta fora seca assim como sua voz, ele queria como sempre judiar de mim e me fazer sair completamente da razão. arrancou a minha blusa também e eu quase congelei, minha barriga estava trincando de frio, o que não durou muito tempo. Quando a tentação ali presente abaixou meu bojo direito e lambeu meu mamilo fora como se tivessem ateado fogo no meu cabelo, eu queimei. Foi tudo muito rápido. Um beijo desnorteante, ele mordendo meus mamilos, minha calça caindo fora, eu tirando seu cinto, minhas mãos apertando o pau duro por cima da boxer e quando eu vi, estávamos pelados, na porra do jardim da minha mãe. - Você foi má, . Não se comportou direito, por isso hoje você não vai ganhar o direito do meu pau te rasgando. - oh, merda.
   Eu ia reclamar, mas ele não deixou. Tapou minha boca e eu só entendi a razão daquilo quando senti a língua dele passando por toda a extensão da minha entrada. Arqueie todo o meu corpo, meu nariz procurou por todo o ar do universo naquele momento. ficou ali um tempo, passando a língua para cima e para baixo, fazendo minha boceta ficar mais e mais molhadinha. Quando ele sentiu que era o suficiente, foi com a boca e mordiscou o meu clitóris me fazendo babar na sua mão, tamanho desespero. Não foi muito demorado até que eu sentisse a agilidade da sua língua me chupando.
   Puta que pariu, é assim que se faz, aprende, Manterfos, é útil para a vida um homem.
   Quanto mais ele me chupava, mais eu sentia que estava perto de gozar. E de olhar aquela bunda gostosa apontada para cima e a barba dele toda se molhando com o meu caldinho, eu ficava mais perturbada. No momento em que achei que não seria possível sentir mais prazer, ele abriu um espaço para meter um dedo em mim. Foi rápido, certeiro e objetivo. A língua dele se tornou mais e um dedo foi somado à minha vagina. Foi assim que eu gozei.
   Tentei gritar, mas a mão dele estava ali me proibindo de fazer isso, ainda bem. Depois de um tempinho ali ele me largou e eu fui me levantar, mas ele não deixou. Me puxou para cima e me colocou de joelhos sentada bem em cima do seu rosto. , começou a me chupar pela segunda vez. A formigação voltou mais rápido, a sensação orgásmica tomando conta do meu corpo de novo. Eu me sentia contrair, tremer e finalmente eu gemi alto. ouviu e meteu um tapa na minha bunda com toda força me repreendendo, eu não podia gemer, seria capaz de acordar meus pais. Com as mãos livres ele começou a apertar minhas nádegas com força e a meter tapas deliciosos nela. A língua viril dele continuou trabalhando, lambendo e chupando.
   Depois de me deixar com a bunda toda dolorida, a deixou quieta um pouquinho e levou as mesmas para minha bocetinha. Abriu meus grandes lábios e passou uma lambida vagarosa ali engolindo todo o excesso de caldo, seu rosto estava todo brilhando tamanha a minha umidade. Então, ele puxou a capinha do meu clitóris e com movimentos rápidos de língua foi lambendo meu grelinho até eu gozar de novo. Tive que morder meu pulso para não gritar e ele não parou, não parou por um segundo.
   - SCRIPT>document.write(Fitzroy), pelo amor, eu não aguento mais.
   - Aguenta sim, fica quieta. - ele me soltou e eu cai sentada sem saber o que fazer, do jeito que estava ele veio e começou a me masturbar. Eu fui olhar para suas mãos em contato com a minha boceta, mas ele não deixou, me grudou pelo pescoço e me fez olhar fundo em seus olhos. Ele estava derramando excitação, completamente enlouquecido. - Sabe o que vai acontecer? Você vai gozar de novo e quando você for dormir vai ficar lembrando de mim até cair no sono. O maldito coroinha vai ser uma sombra de fracasso para sempre na sua vida. - eu poderia ter respondido, mas não consegui pensar. A masturbação foi precisa, meu clitóris já ardia naquele momento de tanto atrito e eu começava a sentir um pouco de dor. Dor que acabou passando quando uma mísera quantidade de gozo começou a escorrer na grama. Então ele me soltou, me beijou na testa como de costume e se levantou. Vestiu sua calça e pegou o resto das suas roupas e sumiu noite afora.

Chapter XII

  Andar pela cidade e sentir um pouco daquele ar, como eu posso dizer, mais "moderno" fazia bem de vez em quando. Ressaltando que, bem, de vez em quando. Havia me acostumado com as árvores, o verde rompendo o horizonte e o barulho harmonioso do vento sacudindo a minha janela. Nikolai era um ótimo vizinho, os animais deixavam pegadas em meu pseudo quintal e a solidão, a minha querida solidão, me fazia um bom homem feliz com minhas gordices e meu vinho. Estava pra surgir no mundo algo que me satisfizesse mais que comer carne bebendo vinho.
   Morava há tanto tempo na floresta que havia esquecido como era morar entre tijolos e cimento, fazia anos e mais anos que a casa de caça de meu avô havia se tornado meu lar. A casa dos meus pais ficara intacta assim como deixada da última vez. Um enorme sobrado construído em madeira e pedra, a decoração era rústica, o fogão da cozinha ilhado e a lareira enorme. As frigideiras de bronze da minha mãe reluziam penduradas sobre o fogão. Meu quarto no sótão era um sonho infantil que eu carreguei até o último dia vivendo ali. Então meu pai arrumou uma nova namorada, meu avô faleceu. Eu fiquei e meu pai resolveu arejar novos ares na capital com sua nova esposa, uma ótima mulher por sinal.
   Os anos foram passando e ali, no meio das árvores eu construí minha fortaleza. Continuei minha fervorosa amizade com quando já não estava mais na cidade. Vi o açougueiro se casar, ser pai pela primeira e pela segunda vez. Ele amava as filhas, eram seu tesouro, seu bem mais precioso. Tudo para ele se resumia à sua amada mulher e suas princesas. O homem trabalhava duro todo santo dia e foi sujo de sangue, fedendo a peixe e com o cabelo bagunçado que ele deu às suas três meninas tudo que elas podiam desejar. Porém, sua esposa não estava satisfeita. Foi quando ela sumiu no mundo o deixando sem ele e suas filhas.
   Algum tempo depois e as meninas estavam de volta e o papai extremamente feliz sorridente. Suas filhas tinham um porto seguro novamente. Isso até Ana chegar. Isso até eu ser o cupido dos dois. Isso até ele colocar a moça de quatro no meu sofá e mandar ver. Isso antes deles gozarem no meu tapete e capotarem por lá.
   As meninas precisavam comer, serem levadas à escola e eu tive que me levantar logo cedo para incorporar o "tio ". Quando cheguei na porta da casa dos e toquei a campainha não precisou mais que dois minutos para Katrine, a caçula de 14 anos, abrir a porta e me recepcionar. Logo atrás estava Elaonora, a mais velha de 16 anos, tentando entender o ocorrido.
   - Nosso pai está bem? Ele saiu apressado ontem dizendo que você tinha ligado e era urgente. - Katrine me perguntou, a esperteza em seu tom de voz e os olhos irônicos entregavam que ela sabia que o pai havia aprontado.
   - Seu pai está mais que bem, mas não pode vir até aqui, então o tio vai levá-las para tomar café fora e até a escola, vamos? - eu não iria contar em detalhes o ocorrido, mas também não iria mentir.
   - Fala sério, , ele arrumou uma namorada, não é isso? - Eleanora estava com uma expressão de tédio engraçada.
   - Nem adianta querer inventar alguma desculpa furada. Papai não iria sair de casa todo arrumado e perfumado uma hora daquelas por nada. - ok, aquelas duas tampinhas estavam me deixando constrangido.
   - E se for uma nova namorada, vocês vão brigar com ele? - cruzei os braços e esperei por uma torrente de ódio.
   - Até parece, né? Não sei porque ele ficou tanto tempo sozinho. Nossa mãe merecia ter levados muitos e muitos chifres e ele merece ser feliz. Afinal, onde vamos comer? - eu estava incrédulo, não esperava aquela resposta tão... positiva. Pelo menos, uma coisa a menos para me preocupar.
   - Já que é assim, onde querem comer?
   - Queremos panquecas. - respondeu Eleanora pelas duas.
   - Panquecas. Eu gosto de panquecas, panquecas são legais. Então, vamos comer panquecas.

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  Depois do café da manhã, das conversas constrangedoras e as meninas me pondo contra a parede para lhes contar as aventuras do pai, finalmente consegui deixá-las no portão da escola. Elas eram realmente garotas adoráveis, dificilmente eu teria filhos, mas, percebendo o quão divertidos poderiam ser, talvez, não fosse tão ruim tê-los.
   - Tio, , posso pedir um favor? - Katrine, grudou em meu braço e me encarou manhosa.
   - Claro, pode falar.
   - Alguns meninos da minha sala andam me perturbando e eu queria que alguém desse uma lição neles. - seu sorriso sem graça e ao mesmo tempo esperançoso me fez querer dar uns tabefes nos moleques.
   - Seu pai não presta pra fazer essas coisas, não é? - era mole demais para dar bronca em alguns moleques arteiros.
   - Sim, ele é muito bonzinho e acha que os meninos não merecem. Mas eu acho que merecem sim. Você faria isso, por favor? - teria como negar?
   Eleanora foi caminhando em direção a sua sala e eu entrei pelos portões da escola segurando as mãos de Katrine. Eu havia estudado ali e tudo estava extremamente diferente. Onde antes era um pátio aberto e com algumas árvores agora era um pátio coberto e sem natureza. O antigo palco de madeira agora era de concreto e possuia um ar bem mais moderno. A cantina vendia trocentas porcarias que não existiam na minha época, senti um misto de nostalgia com estranheza e por um momento me vi velho demais. Katrine me guiava entre os alunos, passamos por um corredor e chegamos a outro pátio onde meninos e meninas que aparentavam ter sua idade estavam perambulando e fuçando em seus celulares.
   - São aqueles infelizes ali. - ela apontou discretamente para cinco garotos. Eram magros demais, masculinizados de menos.
   - Pode ir pra sala, pequena. Ou pode assistir daqui se quiser, já sei o que fazer. - ela sorriu abertamente e me abraçou desengonçada.
   Caminhei tranquilamente com as mãos no bolso e uma expressão descontraída até chegar nos garotos. Eles não pareceram perceber minha chegada, estavam mais preocupados vendo um vídeo banal no celular.
   - Ei, rapazes. - engrossei um pouco além do normal minha voz para chamar-lhes a atenção.
   - Que foi, tio? - um deles usava um boné multicolorido e as calças do rapaz me parece caída demais, podia ver a marca da cueca aparecendo.
   - O tio tem um recado pra vocês. - cruzei os braços e olhei para trás, Katrine me olhava apreensiva.
   - Fala logo o que é, coroa. A gente tá ocupado. - eu ri, em puro deboche e desprezo. Me aproximei mais um pouco deles e tomei o celular da mão do único de cabelo castanho entre eles.
   - Eu disse que tenho um recado e quero que prestem atenção em mim. - suas caras me olhavam nada satisfeitos. - Estão vendo aquela garota ali? - apontei para Katrine que acenou dando um tchauzinho. - Ela é filha do meu melhor amigo e eu sou quase um tio para ela. Acontece que ela me disse que vocês andam a perturbando e eu não gosto que perturbem minha sobrinha. Então, vocês poderiam, por favor, a deixar em paz? - assim que terminei os molequotes começaram a rir na minha cara como se eu tivesse contado a piada mais engraçada do universo.
   - A gente não tem medo de você, ok? Nem vamos deixar ela quieta, ninguém mandou a garota ser filha de um açougueiro. - coloquei minha mão no ombro do mesmo garoto do boné multicolorido e apertei seu pseudo trapézio com um pouco mais de força. Ele me olhou um tanto assustado e eu penetrei fundo meu olhar naqueles olhos cor de mel.
   - O açougueiro tem um arsenal imenso de facas e saber destrinchar um corpo como ninguém. E esse coroa aqui manuseia muito bem um machado, se bem que, com esse físico que vocês possuem, seria completamente fácil acabar com vossas racinhas só com uma mão. Então, acho que vocês vão sim deixar Katrine em paz. Estamos entendidos? - tentei parecer o menos assassino possível, não queria a polícia na minha porta.
   - Ei, ei cara. Não precisa violência, a gente entendeu o recado.
   - Ótimo, assim espero que não tenhamos que conversar nunca mais. - preparei-me para sair e dei as costas a eles, até que um me chamou.
   - O celular, cara.
   - Ah, o celular. Podem ir buscar na diretoria. - sorri brevemente e continuei caminhando escutando os xingamentos abafados pelo medo. Encontrei Katrine que sorria de uma orelha à outra. Levei-a até sua sala e fui procurar pela diretoria. Com cinco minutos de uma boa de conversa a convenci da mal índoles dos jovens rapazes e arrumei um bocado de trabalho para eles.
   Saí da sala e fui caminhando vagarosamente pelos corredores tentando recobrar algumas lembranças dali, mas estava tudo tão diferente que eu não conseguia sentir que aquela escola uma vez tinha sido praticamente o meu lar. Resolvi então dar uma volta pelo segundo andar, subi as escadas com muita paciência e me deparei em um corredor com uma aparência ainda mais moderna. Logo a minha frente um laboratório de informática gigantesco estava ocupado por trocentos computadores. Alunos mais velhos circulavam por ali, pude deduzir que era o ensino médio, pela falta de uniformes mais rigorosos, digamos assim.
   Vários alunos estavam andando por ali, ainda não havia dado o horário das aulas começarem e eles pareciam bem à vontade. Não demorou muito tempo para que chamar atenção, não seria difícil perceber um homem do meu tamanho no meio de um monte de adolescentes. Os garotos me ignoravam, já as garotas... Elas cochichavam entre si, olhavam para mim e sorriam sem graça. Acho que em suas cabecinhas inocentes pensavam que eu não estava percebendo nada, mas sim, eu estava sentindo o cheiro de estrogênio adolescente fervilhando por ali. Acenei para uma delas que não soube disfarçar o olhar e a garota respondeu o aceno mordendo os lábios. Céus, o que andava acontecendo com a juventude? Na minha época as coisas não eram assim, ou talvez fossem. Tanto faz.
   Fui me esgueirando por ali procurando por algo que não havia perdido. Nada me parecia interessante até olhar ao longe, no fim do corredor. Foi lá que eu a vi. A calça de cor preta da escola disfarçava um pouco da abundância de suas nádegas, mas eu ainda podia ver a marca de sua calcinha na mesma, um pedaço da barriga e seus peitos empinados marcados na camiseta de algodão. Parabéns, , você está se comportando feito um tarado pedófilo em uma escola, é tudo que sua mãe esperava do filho quando ele se tornasse adulto.
   Tentei tirar as merdas da cabeça e sair dali o mais rápido possível, encarei o chão e olhei novamente para frente e bem, a paisagem havia mudado um pouco. estava sozinha me encarando fixamente como se eu fosse uma assombração ou algo assim. Por um instante eu congelei. Diabo de menina que me fazia ficar feito um moleque retardado. Me escorei na parede e esperei pelo o que poderia acontecer, já estava ali mesmo, já me sentia sedento por conversar com ela de qualquer jeito. Por que não aproveitar a viagem?
   Aos pouquinhos e em passos covardes ela veio, seu olhar parecia encontrar a qualquer momento algum superior que pudesse puni-la e tirá-la dali. Virei o corredor e procurei por um lugar um pouco mais escondido. Por um momento senti medo que ela desistisse e sumisse, porém, logo mais ela estava li na minha frente.
   - Que porra você está fazendo aqui, homem? - seus olhos estavam agoniados, de uma forma que dizia que ela me queria ali, mas não queria ao mesmo tempo.
   - Vim trazer as filhas do para a escola e uma coisa levou a outra. - respondi tranquilamente encarando o quão inocente ela parecia naquele uniforme sem um pingo de maquiagem.
   - As filhas do ? Virou babá?
   - Ele teve uns probleminhas e eu como bom amigo resolvi lhe ajudar.
   - Ah sim. - virou os olhos para o chão, o assunto havia morrido e estamos vivendo um daqueles momentos constrangedores de silêncio.
   - E você, por que está aqui? - seus olhos me miraram julgando-me pela minha pergunta idiota.
   - Por que você acha? Por que eu estaria na escola, ? Perdeu a capacidade de pensar? - tive que rir, minha pergunta tinha sido mal interpretada.
   - Não quis questionar o porquê de você estar na escola e sim o porquê de estar aqui, junto comigo. - travou por um segundo.
   - Sinceridade? Eu não sei. - sua respiração atingiu um ritmo longo, compassado, demorado. - E você, por que subiu até aqui?
   - Quis matar a saudade, estudava por aqui com e há muito tempo atrás.
   - Ah, claro. - o assunto foi morrendo lentamente, por mais estranho que fosse, estava com tédio. parecia bem incomodada e eu não sabia muito bem como me portar.
   - Que horas começam suas aulas? - foi a primeira pergunta não idiota que me veio à mente.
   - Daqui uns 20 minutos. - respondeu seca, mexendo em seus cabelos. No movimento um pedaço de seu pescoço ficou à mostra e prestando atenção pude ver uma leve mancha um pouco mais escura que a pele de seu pescoço. A mesma estava coberta com maquiagem, mas mesmo assim, não estava cem por cento disfarçada. Comecei a sorrir, talvez houvesse uma chance da conversa ficar divertida.
   - Está com um chupão, dona? - minha pergunta saiu cheia de perversidade, a diversão estava finalmente começando. Ela sorriu afetada desviando o olhar.
   - Fiquei com um cara meio sem noção das coisas. - me respondeu, de olhos fechados meio que, constrangida.
   - Ah, é? Ele é meio fora da realidade? - assumo que eu estava começando a ficar afetado.
   - Ele acha que manda em mim, que me domina e que pode me usar a hora que bem tiver vontade, mesmo tendo uma namorada. - finalmente ela me encarava e senti em sua última frase um bocadinho de rancor.
   - Que cara mala, heim? Achar que te domina só porque você geme e goza com bastante vontade na mão dele. Realmente, fora da realidade.
   - Sem joguinhos, ok? Nunca disse que você não era bom. Só estou sem saco pra ficar bancando a amante de um cara que não se importa comigo. - eu sentia que, desde o momento que encasquetou que Ana era minha namorada, seu modo de agir tinha mudado.
   - Eu precisaria ter uma namorada para você ser minha amante.
   - O quê? Você tá louco? Bebeu vodka no café da manhã? - eu a abracei, sei lá porque raios. Ela estava tão fofa e meiga nervosinha e revoltadinha daquela maneira que eu não controlei meu impulso de abraçá-la.
   - Eu não estou louco e é melhor você parar de pensar nisso um pouco antes que você fique louca, . - estava meio arredia, seu corpo pulsava em tensão.
   - Nós estamos no meio de um corredor, . Qualquer um pode passar por aqui, ver esse absurdo e daí nós estamos fodidos.
   - Ninguém vai ver nada, ninguém vai passar por aqui e, ... - a chamei e ela me olhou curiosa -... se for pra você ficar fodida, quem vai te foder sou eu. - todos os dias eu andava pensando em quão maravilhoso e delicioso seria escorregar meu pau por ela e meter até o fim do universo, mas algo ainda não me permitia fazer aquilo. Ainda me sentia um corruptor, um vagabundo, um pecador por possuí-la.
   - Ah, e daí você vai me fazer gozar como eu nunca gozei antes, vai beijar minha testa e sumir no mundo como você sempre faz? - sua expressão de derrota era bem visível, por um momento me senti incrivelmente mal por deixá-la sempre a minha mercê. Mas precisava ficar claro que nós não iríamos namorar, nos casar e viver felizes para sempre. Eu não entendia muito bem que tipo de coisa era aquilo que nós tínhamos, romance não era meu forte. Só sabia que de alguma forma estranha eu precisava dela. Só sabia que eu queria dar a ela o maior prazer possível para um ser humano, só sabia que eu queria a fazer gozar quantas vezes fossem necessárias para seu sistema nervoso travar.
   - E o que você espera que eu faça, hã? - nem ela mesmo sabia me responder.
   - Não sei, , eu não sei de porra nenhuma. - finalmente seus braços se soltaram em meu corpo me abraçando de verdade, quase que em um pedido de socorro. Eu não sabia que diabos fazer, não era um cavalheiro, um príncipe ou um romancista.
   - Eu também não sei, só sei o que eu posso fazer agora. - se aquilo já não tinha conserto mesmo, que fodesse de uma vez.
   - O que, ? - sua voz derrotada entregava que talvez já tivesse desistido de entender as coisas.
   - Judiar mais um pouco de você. - ela tentou falar e até fugir, porém minha força extremamente maior que a sua a segurou, a prendeu ali. Nós nos encaramos em uma santa intensidade.
   - Quer saber? Que vá tudo pro inferno. - disse baixinho, fora quase inaudível para mim e enquanto eu tentava assimilar o que aquilo poderia dizer, ela já havia esticado seus pés, cruzado os braços no meu pescoço e chocado sua boca contra a minha. A língua de ficou um tempo lambendo meus lábios, até eu me tocá-lo para abri-los. – Vai, , acaba comigo e não se preocupe com o depois. - com ordens tão incisivas como desobedecer?
   Alcei seu corpo sobre o meu e ela se suspendeu do chão com as pernas cruzadas em meu tronco. Apoiei minhas mãos em sua bunda a subindo mais um pouco procurando o equilíbrio. Aquele com certeza era o beijo mais desincronizado e não harmonioso do planeta. Os dois estavam perdidos tentando se ajeitar, tentando não se desmontar no chão. Dei um giro invertendo nossos corpos e a pressionei na parede com força, ela deu um leve gemido de dor com o impacto que foi abafado pela minha boca a grudando mais uma vez.
   - Isso é pra você aprender a não esconder as marcas que deixo em você. - passei a língua por seu pescoço e mordi a área arroxeada mais uma vez. suspirou fundo se controlando para não fazer mais barulho que o permitido. - E é bom você ficar bem quietinha, se abrir a boca pra gemer eu te largo aqui e vou embora. - vi a garota prendendo o ar depois que disse aquilo, claro que não a deixaria, mas a fantasia só aumentava com essas ameaças.
   Larguei seu pescoço e procurei-a para outro beijo, dessa vez mais compassado e menos desesperado. Foi então que a hora em que aquilo não era mais o suficiente chegou, eu precisava de mais, ela precisa de mais e nós queríamos mais. Prendi seus braços em meus ombros e comecei a carregá-la pelo corredor, fiz um esforço descomunal para não cair ao chão com os arrepios e falta de controle que sentia com roçando sua virilha na minha e com suas lambidas insistentes em meu pescoço.
   Avistei uma porta à minha esquerda, pelo rápido olhar que dei percebi que era um banheiro dos professores. O local estava quieto e vazio, deveriam estar em suas salas tomando café, ali parecia um bom local. Fiz um sacrifício enorme para abrir a porta com uma única mão. Um pouco depois e a porta estava trancada, sentada na pia me puxando pelos cabelos e eu começando a ensaiar umas metidas no meio das pernas dela.
   - Você tem dez minutos para me fazer gozar. – avisou com a voz incrivelmente falha.
   - Está duvidando da minha capacidade, mocinha? – passei minhas mãos por seus cabelos os enrolando entre meus dedos fazendo com que olhasse para mim.
   - Não, só estou te avisando. – seu sorriso tinha a quantidade exata de escárnio para me deixar extremamente provocado.
   - Conseguiria te fazer gozar em menos de sete minutos usando meus dedos, em menos de quatro usando minha língua. Só que há um jeito melhor de nós aproveitarmos esse tempo. - Queria fodê-la, ah mas eu queria vará-la até o talo. Mas ainda me sentia sujo e perturbado, não sabia muito bem como proceder. Foder ou não foder? Eis a questão.
   - Vai fazer o que estou pensando? – suas mãos foram calmamente indo até meu zíper, tensionei o músculo das coxas com fervor enquanto ela descia o mesmo. Acabei por sentir a musculatura do meu corpo inteiro retrair quando seus dedos passearam pelo tecido branco da minha cueca.
   - Não sei. Quer tentar me convencer? – lá estava eu, um homem do meu porte, do meu tamanho com medo de meter a vara. Em que época da minha vida eu tinha ficado tão tapado? Ter um amigo padre estava mutilando minha sanidade.
   - Você tem menos de sete minutos, . – meu cinto já estava desfivelado e ela desceu com um pouco de pressa minha calça deixando-me apenas de cueca. A vi mordendo os lábios, jogando as ancas para frente pedindo por aquilo. Fiquei parado, pensando; pensando exatamente no que eu iria fazer e como eu iria fazer. Os sete minutos deveriam ser bem aproveitados, tinha que ser esperto para manter a promessa feita mais cedo, judiar dela. – E o tempo está correndo, daqui a pouco você vai ter menos de cinco. – nesse momento ela já não estava tão mais segura que eu fosse fazer algo, já sentia uma pontadinha de insegurança nas palavras de .
   Continuei cerca de mais um minuto ali, simplesmente parado com a calça no joelho, com meu pênis ereto apontando para frente como uma espingarda mirando seu inimigo. até perdeu o sentido do que fazer, mal encostava em mim naquele momento, via o medo em seus olhos. Ela ameaçou se levantar, alçou seu quadril para cima para sair dali e então eu a grudei. Coloquei minhas mãos em sua cintura e a empurrei contra a parede. Seus olhos saltaram e por um momento ela se assustou até se entregar novamente. Fui extremamente rápido em tirar sua calça o necessário o suficiente para poder fazer o que queria.
   - Eu lá tenho cara de que não sabe o que está fazendo? – uma de minhas mãos foi para o seu queixo, o puxei com força para chegar bem próximo do meu e mirei fundo seus olhos. – Só abre essa boca pra gemer, . – ela tentou falar algo, mas parou logo após eu olhá-la com uma reprovação iminente. Livrei minhas mãos e fui com uma delas para sua calcinha, uma pequena peça de renda roxa. Puxei uma das laterais e abri espaço suficiente para expor sua entrada. Os pelos que se acumulavam acima de seu clitóris estavam arrepiados e levemente úmidos, eles pediam para roçar no meu pau.- Vai ser aqui, agora, e nem vou tirar sua calcinha. – ela foi falar algo, mas emudeceu-se assim que meu membro entrou de uma vez em si. Eu então eu meti, sem dó, rápido e desesperado. iria gritar e por isso tapei sua boca. Por mais que eu quisesse ouvir sua voz manhosa e sedenta gemendo e chamando por mim, não seria uma boa ideia. Se quisesse isso tinha que levá-la para casa em outro dia. – Fica quietinha, vai. – ela fez que sim com a cabeça e se entregou a mim. Segurei seu corpo e dei mais impulso para a próxima estocada. O atrito entre meu pau e sua bocetinha encharcada estavam me deixando enlouquecido, eu queria encher a cara dela com a minha porra, tirar uma foto e pendurar na minha parede. Segurei em cada uma das coxas, enfiei a mão com toda a minha força e diminui o espaço entre nós. Ela me olhava desesperada e minhas metidas ficaram ainda mais severas. Ela não conseguia se controlar, não podia evitar os sons de tesão que saíam da sua boca. Aquilo só me dava vontade de comê-la com total brutalidade. Nós não tínhamos tempo para muita coisa mais, o sinal iria tocar, todos iriam para sala e ela tinha que estar lá. Abruptamente parei com a meteção e ela pediu para que eu “por favor” não parasse.
   - Shi, quietinha! – ela me olhava apreensiva e obviamente, não a deixaria ali quase morrendo de ataque cardíaco sem gozar. Me curvei um pouco até conseguir por minha língua naquela delícia de boceta. Foi quando ela se arqueou desengonçada e mordeu meu ombro que eu percebi que havia gozado, o líquido quente escorrendo pela minha barba não negava.
   - Agora que você está gozadinha pode assistir a aula tranquilamente. A gente se vê. – com o tradicional beijo na testa eu a deixei ali, respirando descompassadamente e toda suada. Guardei meu pau, fechei a calça e sai.

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  Narração em Terceira Pessoa
   O padre se encontrava em súbito desespero, não podia acreditar nas palavras que acabara de ouvir. Seu pomo de adão subiu e descia conforme sua inconformidade palpitava.
   - Você realmente tem certeza disso, Manterfos? – se ajoelhou perante o garoto. Sua fronte cheia de suor encostou-se na do menino que tremia levemente em nervosismo.
   - Padre, juro por nosso bom Senhor que estou te dizendo a verdade. E você está me deixando nervoso com esse interrogatório. – segurou com carinho as bochechas de seu querido ajudante, ele realmente tinha grande apreço pelo garoto e sentia ferver em seu corpo o ódio que mantinha por Armand.
   - Manterfos, você consegue entender a gravidade do que me disse? Consegue perceber o quão perigoso isso é? Consegue perceber a sujeira que o Cardel Armand fez com você e todos aqueles garotos? Você consegue? – Manterfos engoliu em seco compreendendo o que o padre lhe falava. Ele estava certo e um sentimento gigante de impotência o tomou naquele momento, se sentiu um cordeiro demente por deixar tais sermões tomarem espaço em seu peito.
   - Perdão, , eu não imaginava que fosse tão grave. Mas nós estávamos dentro do Vaticano, recebendo sermões de um Cardeal, como poderia desconfiar? – apertou ainda mais suas mãos no rosto do garoto, ele sentia pena e compaixão.
   - Manterfos, não é porque estamos dentro de uma Igreja que estamos livres de coisas ruins. Tudo é corruptível, até mesmos os anjos foram corrompidos no Céu. Esse homem lhes incitou a matar por uma causa mentirosa, ele plantou a uma semente banhada a sangue em seus corações. O que nos diz o quinto mandamento, Manterfos? Me diga, em voz alta.
   - Não matarás. – Manterfos respondeu cabisbaixo e derrotado.
   - Exatamente, não matarás. Deus nos aconselhou a não matar, pois devemos amar nosso próximo. Isso não quer dizer que devemos amar em verdadeiro amor até aqueles que nos fazem mal. Isso quer dizer que nós, em nossa fraca humanidade, devemos deixar que o sentimento de vingança saia de nossas mentes pois a vingança a Deus pertence. Deus não quer nossas mãos sujas de sangue, mesmo dos que não são inocentes. Vocês são criaturas que estão aqui para servir, fazer o bem e não trazer a discórdia. Você são coroinhas, meu querido Manterfos, pequenas almas lutando pelo bem. Não são mártires de uma causa medieval.
   - Padre. – o garoto deixou sua aflição se transformar em lágrimas, ele chorava tão verdadeiramente que ao ver aquilo, sentiu como se punhais atravessassem suas córneas. – Deus será capaz de me perdoar? Ele vai me perdoar por sentir vontade de matar em nome dele? – deixou-se inundar pela emoção e logo chorava junto com seu ajudante, eles se abraçaram e naquele gesto Manterfos se sentiu perdoado.
   - Ele perdoa a todos nós, Manterfos. Não importa o dia, o local, como e bem porquê, quando pedimos perdão verdadeiramente ele simplesmente nos perdoa. E agora, que entenda. Armand é um perigo ambulante, o homem é um demônino de saia clériga e você não pode deixá-lo saber dessa conversa e de que mudou seu pensamento, certo? Precisamos manter segredo. – o garoto concordou com a cabeça e limpou seu rosto úmido.
   - Quando foi que me tornei tão cego, padre? Deveria ter percebido que aquela conversa de matar e morrer pela Igreja era doente.
   - Não se culpe, seu erro foi confiar em alguém que realmente deveria ser confiável. Você sabe que um coroinha morreu nessa história, não?
   - Sim, eu fiquei sabendo e deveria ter desconfiado que tudo aquilo era merda saindo da boca do francês. Só não entendi o motivo pelo qual ele morreu, o corpo foi encontrado na floresta. Nunca vi sentido para isso.
   - Isso é algo que você ainda não é capaz de entender. – Seria melhor evitar jogar tanta informação no pobre garoto.
   - E outra coisa que agora me parece confusa, por que Armand fez isso conosco? Por que ele quer que nós matemos em nome da Igreja?
   - Alguém tirou dele algo que o pertencia e agora ele está usando de todas as artimanhas, sendo elas sujas ou não para recuperar isso. E não se preocupe com isso agora, tenho tudo sobe controle. Agora, tire essa tristeza do seu olhar e vá dar uma volta. E outra coisa, como andam as coisas com ? – não poderia perder a oportunidade de aprontar um pouco.
   - Nós não nos vemos há uns dias, acho que ela já enjoou de mim. – o sorriso que Manterfos soltou parecia um pouco afetado. pelo outro lado, sabia muito bem o que havia acontecido.
   - Acha que ela arrumou outro?
   - Não sei, padre. Também não me importa muito, ela é bonita e interessante, mas nada além disso para mim. – levantou-se e deu as mãos para que o garoto também o fizessem, o padre então abraçou o jovem pelo ombro e ambos saíram da saleta desviando o assunto para algo mais informal.

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   Point of View
   Eram em momentos como aquele que eu voltava a ter quatro anos de idade. Ia bailando pelos corredores do mercado procurando por gordices em potencial, um novo chocolate, um bolo diferente, alguma nova bebida e coisas que na verdade eram só comidas fúteis, não algo realmente necessário para a sobrevivência.
   - , você sabe que essas batatas depois de fritas vão todas pro seu quadril, né? – meu pai adorava encher meu saco, de vez em quando ainda rolava o lance de me chantagear com a salada para poder comer sobremesa.
   - Pai, essa conversinha não cola mais. – coloquei vários pacotes de batata congelada em palitos no carrinho, não estava me importando com meu quadril.
   - Ok, você venceu. Vamos lá pegar minha cerveja para irmos logo para o caixa. Já faz quase uma hora que estamos aqui, não faz sentido demorar tanto tempo no mercado. – ele foi guiando o carrinho e eu procurando algo mais que pudesse jogar lá dentro.
   Meu pai olhava a prateleira de cervejas comparando preços e procurando por novas marcas. Um dos prazeres do meu velho se resumia a ligar a TV na ESPN, acender um cigarro e esquecer de tudo enquanto bebia sua cerveja. Minha mãe nem ao menos se dava ao trabalho de chegar perto dele naqueles momentos, ela sabia que não tinha chances competindo com os jogos de Ice Hockey.
   Meu tédio já consumia minha musculatura, aquela era uma parte triste das compras. Algumas vezes meu pai demorava meia hora escolhendo a porra da cerveja para no final das contas, levar a de sempre. Retirei meu celular do bolso e resolvi colocar os fones de ouvido para abstrair um pouco. Fiquei por ali distraída cantolarando a música e acabei não percebendo que meu pai conversava com alguém. Resolvi ignorar, quando sua risada grave ficou mais alta que o volume da música procurei por ele para entender o ocorrido. Ah, aquilo só podia ser alguma brincadeira maquiavélica, algum tipo de zoeira demoníaca. Meu pai estava conversando, rindo e se arreganhando para a ruiva dos infernos. Os dois conversavam como se conhecessem há muito tempo e tivessem uma certa intimidade.
   Nunca desejei tanto como naquele momento ter o poder de matar as pessoas com o olhar, em um universo paralelo bem naquele instante, meus olhos adquiriam uma coloração esverdeada como a do absinto e eu olhava fixamente para Ana. Aos poucos seu corpo começaria a derreter como plástico colocado no fogo e ela se transformaria em uma meleca preta e fedida no chão. Eu pegaria meu pai pelo braço e nós iríamos embora como se nada tivesse acontecido.
   Entretanto, no mundo real as coisas eram mais frustrantes. Eles ainda estavam ali conversando como velhos e bons amigos. Não ouvi meu pai me chamando, mas vi suas mãos fazendo sinal para que eu me aproximasse. Respirei fundo e retirei meus fones, não poderia ser rebelde ou mal educada, meu pai não suportava esse tipo de comportamento, ainda mais quando a pessoa em sua concepção não tinha nos feito nada de mal. Afinal, ela realmente não tinha me feito mal algum, ela era a mais inocente na história. Pensando bem, ela que deveria me odiar por usufruir da carne de seu namorado e não o contrário.
   - , você se lembra dela? – meu pai me perguntou e por alguns segundos travei uma batalha com minha mente para não cometer uma besteira.
   - Não pai, realmente não consigo me lembrar. – a ruiva me olhava com ternura e carinho, da onde diabos ela poderia me conhecer?
   - Meu Deus, . Você está divininamente linda, que incrível. – papai se encheu de orgulho naquele momento me puxando para um abraço sem jeito. – Sempre soube que seria um espetáculo de mulher, parabéns. – ela sorria de verdade para mim e suas palavras não continham um pingo de falsidade. Merda, eu estava me sentindo terrível, o sentimento de ódio se transformou em culpa.
   - A gente se conhece? – perguntei tentando entender aquela confusão.
   - Ana era sua professora de balé, . Lembra, quando você era pequeninha ia para a escola de balé quase todos os dias, você amava vestir seu tutu e as sapatilhas. – ah, mas... que inferno. O balé, eu lembro que amava ir ao balé e, além disso, lembro que a professora de balé era meu espelho para o futuro. Eu queria ser linda como ela, ter a leveza dos movimentos dela. Que merda. Dante, seu filho da puta, pode enfiar sua divina comédia no cu, eu odeio essas ironias do destino.
   - Você era definitivamente a melhor aluna, mesmo pequena demonstrava muita força de vontade, é uma pena que não tenha continuado. – eu quase sucumbi ali, Ana me abraçou. Um abraço cheio de amor, me senti em volta em um monte de algodão doce cheio de brilho. Ela parecia um unicórnio fofinho e rosa beijando minha testa, juro por Deus que quando sorriu para mim eu enxerguei uma princesa de cabelos vermelhos. Maldito lenhador do capeta, cretino e sujo. Eu queria pegar Ana, ir até a floresta e contar tudo. Nós poderíamos amarrar o infeliz em uma árvore e açoitá-lo até a morte.
   - Você era minha diva na época. – tive de assumir, meu corpo gritava para que eu contasse aquilo, era a verdade, não era? Eu não podia deixar aquilo acontecer entre nós, o não podia simplesmente por o pinto para fora e acabar com a minha infância. Ele não tinha esse direito.
   - Ah, que coisa mais fofa. É lindo ouvir isso, ainda mais vindo de você. – acabei me contagiando por aqueles sorrisos da Ana, os dentes dela eram tão alinhados. – Mas, me perdoem agora, tenho que ir pra fila logo, tenho que algumas coisas para cuidar. Foi um prazer revê-los. – nos despedimos e meu pai voltou para as cervejas. Fechei meus olhos e me escorei em uma pilastra que havia ali. Sentia vontade de cavar um buraco e me enfiar dentro, aquilo não era justo nem comigo nem com ela.
   - Vamos, , preciso passar no açougue pra comprar carne e peixe. – acompanhei meu pai e fomos para a fila, finalmente.

XX

  Nada de interessante na televisão, mesmo com mais de 100 canais naquela porcaria, nada estava realmente me agradando. Desisti e deixei no E! Entertainment, se fosse pra distrair a cabeça que fossem com futilidades. Meu pai e mãe saíram para visitar amigos que estavam na cidade, mais tarde viriam para casa comer algo que eu ainda não sabia ao certo o queria.
   Depois de sairmos do mercado, meu pai foi até o encomendar umas coisas, combinaram que levaria tudo até nossa casa e prepararia o prato para o jantar, gostava de quando meu pai fazia isso, realmente entendia de carnes. Ele era um bom homem, todo mundo na cidade sabia disso e depois dos boatos do fim súbito e cruel de seu casamento, eu passei a admirá-lo mais. Um homem que sozinho comandava um negócio, criava as filhas e sempre era cordial com todos e por mais que alguns aristocratas malditos fizessem pouco caso do seu avental sujo de sangue e fedendo a peixe, ainda assim, ele me parecia um bom exemplo. Diferente daquele lenhador, musculoso, mas perverso. Pauzudo, mas cretino. Gostoso, mas sujo.
   Em poucos minutos eu acabei descobrindo que o meu exemplo feminino durante a infância era a namorada dele, que eu estava odiando a mulher que era minha aspiração para o futuro. Ah, eu amava as aulas de balé. Adorava subir na ponta dos pés e acompanhar o ritmo da música. Eu me sentia uma princesa, uma garotinha especial que poderia com glitter e tule conquistar sua fama em um palco. Esse tempo acabou passando, depois de um período eu abandonei o balé e fui procurar outras atividades. Fiz natação, violino, arco e flecha e outras coisas, mas mantive a imagem da professora de balé comigo, ainda a achava uma das mais belas mulheres que mais vi. Certo, eu me sentia um lixo.
   Então a campainha tocou, era . Abri a porta para ele que sorria com o braço cheio de pacotes, uma tábua de madeira e uma faca enorme com a lâmina protegida por uma borracha preta. Nos cumprimentamos e eu o acompanhei até a cozinha que ele conhecia extremamente bem. Jogou todas as coisas pela bancada de mármore e as organizou. Ele trazia de tudo, desde os temperos até a bebida, era um açougueiro de luxo.
   - Como vão as meninas? – perguntei tentando puxar assunto para distrair as ideias.
   - Ah, eles estão ótimas. – era lindo ver o sorriso que ele abria ao falar nas filhas. – Claro que elas aprontam e conseguem me irritar algumas vezes por dia, mas nada que um “Papai, me desculpe” não resolva. – o cheiro de peixe inundou a cozinha quando ele abriu o embrulho, senti uma leve vontade de vomitar.
   - Esse cheiro é horrível, . – minha cara de nojo o fiz rir com vontade.
   - Eu nem sinto mais, perfume e peixe pra mim tem o mesmo cheiro. As meninas vivem me enchendo o saco dizendo que nunca vou arrumar uma namorada desse jeito, talvez elas estejam certas. – o cheiro aliviou um pouco quando ele espremeu limão nos peixes.
   - Elas não se importam com isso? Por causa da mãe e tudo mais?
   - Pelo contrário. – sua expressão tornou-se um pouco afetada. – Elas perceberam que a mãe delas realmente não presta e resolveram me induzir a arrumar uma nova garota. Vivem tentando me enfiar goela abaixo de alguma mãe das coleguinhas.
   - Poxa, , talvez elas estejam certas, é ruim ficar sozinho. E aquele dia no bar você estava muito bem arrumado, desculpa, mas quase não te reconheci. – me lembro que no dia que fiquei com Manterfos na taverna, estava realmente gostoso, por um momento eu pensei como seria ficar com ele.
   - Obrigado, . E por incrível que pareça, depois daquele dia as coisas melhoraram. – agora tinha um pouco de vergonha no olhar.
   - Hmm, seu danadinho. Pode me contar, você me deixou curiosa, adoro romances.
   - , isso é estranho. – ri com vontade, ele ficava tão fofo com aquele tamanho todo e morrendo de vergonha.
   - Vai, vai, me conta. – levantei a comecei a cutucá-lo, ele abandonou a faca em cima da bancada e me olhou derrotado.
   - Segredo?
   - Eu juro. – bati continência e ele finalmente se sentiu mais confiante.
   - Não sei se você vai se lembrar dela, mas sempre teve uma menina que me deixava louco na escola, mas ela não me dava muita moral. Então ela apareceu por aqui esses dias, mexeu os pauzinhos e a gente acabou ... fazendo coisas. É a Ana, acho que ela era sua professora de balé, a Ana. Se lembra dela? – quase morri engasgada com meu próprio ar. Como poderia uma coisa dessas acontecer? Como estava tendo um caso com a namorada do ? Ele me disse com todas as letras que estavam namorando. estava traindo o amigo? Mas que porra era essa?
   - A Ana, tem certeza?
   - Oras, claro que eu tenho, . fez nosso reencontro e foi bem interessante. – me controlei para não quebrar tudo dentro de casa, eu estava ficando louca. Algo me dizia que alguém estava mentindo nessa história e não o pobre , eu sentia verdade nele. estava fodido na minha mão.

Chapter XIII

  O desespero pairava a cidade. A tragédia era o novo hino do local. Deus pareceu esquecer-se daquela cantinho da Suécia naquela manhã. Quando os primeiros engasgaram, o padre se assustou. Quando os primeiros cuspiram sangue, o padre clamou pelo Senhor em transtorno. Quando os primeiros agonizaram, o padre saiu correndo pedindo por socorro. Quando os primeros morreram, o padre praticamente morrera junto.
   O caos alastrou-se. Mas, aqueles pobres seres de alma e dinheiro não tinham a quem deixar. Eram sozinhos, sem família ou expectativa. Seu único clamor ao amanhecer era que pudessem subir a colina e ir desfrutar das refeições de . A Suécia era um país rico, mas, por brigas religiosas alguns católicos perderam suas posses e acabaram ali. Acabaram no único reduto do Vaticano naquele gélido país.
   Assim que chegou e modificou suas vidas, elas pareciam ter alcançado um pedaço do céu. Pedaço do céu o qual iriam ter agora, seus corpos estavam jogados ao chão. O sangue que cuspiram ao beber o leite lhes pintou a pele, porém, sua alma santa e pura subia aos céus para o encontro do pai celestial. Infelizmente o paraíso era apenas para os mortos.

Para os vivos, o inferno subia à terra.

  Há 40 anos eu morava ali e há 40 anos eu ainda achava irritantemente perturbador o sol nascer às 3 da manhã no verão. Por uma falha acabei deixando uma fresta na janela que permitiu a entrada de luz cedo demais. Quando olhei no relógio e me dei conta que ainda eram 5 da manhã eu quis matar alguém, odiava acordar cedo.
   Joguei os ovos na frigideira e fui procurar por vinho. Sei que o normal seria beber leite, chá ou até mesmo um suco, mas eu preferia tomar vinho, principalmente nos momentos de mau humor. O vinho me aquecia, embora estivéssemos no verão e o verão ao sul fosse o mais quente do país graças à corrente do Golfo. As gemas foram lambuzadas com sal e embrulhadas com pão. Por mais simples que fosse, se eu precisasse apenas comer pão com ovo até o fim dos tempos não seria de todo ruim, apesar de não conseguir viver sem carne.
   O sol estava um pouco mais forte naquele dia, a paisagem do lado de fora era mais amarelada com alguns tons de vermelho. Eu sentia falta da neve, gostava de olhar pela janela da cozinha e ver meu quintal todo coberto pela cor branca. Meu sanduíche estava pela metade quando mãos grosseiras martelaram minha porta. Olhei no relógio em cima da geladeira e ele me dizia que mal havia passado das 7 horas da manhã, mas que diabos?
   Muitas coisas tinham mudado nos últimos tempos. Eu com meus bem vividos 40 anos estava envolvido com uma garotinha de 17. estava de volta à cidade, assim como Ana, e era o mais novo corno separado do momento. Além do fato de eu receber mais visitas do que estava acostumado. Aquilo não era comum, pessoas batendo à minha porta com tanta frequência era realmente algo fora da rotina.
   Deixei o sanduíche de ovo jogado em cima do prato e limpei minhas mãos na camiseta preta que tinha sido meu pijama naquela noite. A porra da mão não parava de bater na porta freneticamente. De repente, quando ainda estava cruzando a porta da cozinha reconheci a voz de desesperada, alta e atordoada. Corri até a porta, envolto por aquele clima trágico e ao abrir a mesma vi meu amigo padre de uma maneira que nunca me passou pela cabeça poder ser real.
   Seus olhos mal pareciam verdes naquele mar vermelho que tomava conta de seus glóbulos oculares. As mãos que outrora batiam na madeira de entrada da minha casa tremiam como o chão no romper de um terremoto. Não há como descrever a situação dele senão dizer que estava tomado pelo pânico, sua alma estava fodida. Em um momento inesperado o padre se jogou nos meus braços chorando. Não sabia o que fazer, como reagir. Nenhum manual humano tinha instruções para aquela situação.
   Com minha força que mal havia acordado o coloquei para dentro de casa fechando a porta. não se desgrudava de mim. As lágrimas dele molhavam meu ombro e seus soluços me arrepiavam por inteiro. Eu mal possuía fôlego para perguntar o que havia acontecido, para entender qual o motivo daquele desespero.
   - , senta aqui, se acalma, tenta me explicar. – o coloquei sentado em meu sofá e o padre mal se movera. Ele parecia querer entrar em posição fetal.
   - Eu... eu... eu não consigo. – eu já tinha visto chorar. Chorar de dor, pela namorada, por futebol e até mesmo de rir. Mas daquela maneira, com aquela intensidade, jamais. Me ajoelhei na frente dele e o fiz olhar para mim. Meus olhos marejaram, eu devo admitir. Ele estava sofrendo e ver meu amigo sofrer daquela maneira não era suportável para o meu ser. Por mais babaca filho da puta que eu fosse, eu era um ser humano com carinho e amor rondando meu peito.
   - Respira fundo. Não sei o quê raios houve, mas não adianta deixar o pânico alastrar no seu corpo. Eu sou amigo, eu sou seu irmão, eu vou te ajudar. – segurou minhas mãos e as mesmas começaram a tremer no ritmo das dele. Ele não tinha toque ou firmeza em seus gestos. Agora era eu quem queria acabar em posição fetal.
   fechou os olhos. Talvez ele estive rezando, orando, clamando piedade. Eu estava bufando, socando minha própria perna em nervosismo, aquele clima de mistério iria me matar a qualquer minuto.
   - A casa dos pobres. – soltou, ainda de olhos fechados. Eu ia interrompê-lo, mas ele levantou a mão me impedindo. – A casa dos pobres foi invadida. As pessoas morreram, quem foi comer lá hoje morreu. Elas cuspiram sangue depois de beber o leite. Crianças caíram duras no chão sujas de sangue. Eu não pude fazer nada, nada. – o golpe foi fundo no meu estômago. Pessoas morreram? Sangue? Foi uma chacina?
   - Alguém assassinou os pobres? Como assim? – perguntei em vão, meu amigo ainda de olhos fechados parecia querer sumir da realidade. – ! – berrei o sacudindo. Ele pareceu finalmente acordar. Os olhos que choravam de tristeza agora pareciam inundados de raiva.
   - Assassinato, . – se pôs de pé andando pela sala. – Foi aquele maldito Armand. Eu sei que foi, envenenaram a porra do leite. Sei que fizeram isso, não sei como, quando e nem com o quê. Mas enveneneram o caralho do leite dos meus pobres. Eu amava aquela gente, eles eram parte de mim. Sangue do meu sangue e eles os tiraram de mim. Não foram todos que morreram, assim que os primeiros caíram ninguém mais bebeu ou comeu algo. Mas nada podia ser feito, em minutos todos estavam mortos e sujos de sangue no chão. – não deu pausa entre as palavras, ele falava e falava e falava e eu resolvi deixá-lo falar, o garoto precisava desabafar. – E quer saber a maior? Eu estava lá jogado no chão totalmente perdido e desesperado. As cozinhas estavam chorando, Manterfos saiu correndo pra pedir ajuda e os outros que estavam lá mal conseguiam se mexer tamanho o pânico. Então o bispo chegou acompanhado de Armand. Depois de muito trabalho, de tirar os corpos de lá, de chegar os bombeiros, a polícia e o diabo à 4 o bispo me chamou para uma reunião. Ele não estava normal, seu tom de voz era diferente. – ele deu uma pausa para soltar um sorriso escanercido. – Armand jogou minhoca na cabeça dele, o bispo estava meio inerte. Ele disse que Armand o instruiu a me suspender da minha missão por uma semana. Que faria mal para mim ficar ali, que eu precisava de paz e sossego por alguns dias. Ele me tocou da igreja, disse que era o melhor pra mim, mas não. Esse não é o melhor pra mim, é o melhor praquele cardeal maldito. Armand deve estar morrendo de medo de que eu consiga provas contra ele e por isso ele me afastou, para deixar o caminho livro. Devo admitir, o cara é realmente brilhante.
   - É assim que eu gosto de você, puto e falante. Mas vai com calma que você me deixou tonto falando tanta coisa sem dar espaço pra respirar. – pela primeira vez naquele momento conturbado ele riu.
   - , enveneneram o leite daquela merda eu estou muito puto. E pra ajudar me tiraram de lá, não posso nem ao menos passar perto da igreja. E pra ajudar mais ainda, o bispo disse que me poria bem longe das investigações para não fazer mal a mim mesmo. Sério, você acha que a polícia local vai ter algum poder com Armand por perto?
   - O que Armand tem a ver com a polícia? – se tinha uma coisa que eu estava naquele momento, era confuso.
   - , o Estado sueco é laico, mas nós sabemos que a maioria é protestante. Você sabe da história de guerra civil religiosa envolvendo nossa região. Você sabe que as autoridades de fora tão pouco se fodendo se um católico morreu de câncer ou assassinato por aqui. A polícia local vai com toda força querer justiça para isso, mas eu duvido muito, mas muito mesmo, que o Armand vai deixar a Riks Krimina lPolisen sequer chegar perto daqui. O homem tem poder, o poder do Vaticano, que é uma baita duma inflência.- parecia estar tremendamente incomodado com toda a situação. Qualquer um falaria “foda-se, são só sem-teto que ninguém se importa”. Mas o meu amigo, o meu padre não era qualquer um, ele era . Uma santa pessoa a qual me inspirava nos meus momentos de ódio mortal pelo mundo.
   - Ninguém vai sentir falta dos que morreram, vão jogar os corpos em qualquer buraco e Armand vai usar de sua influência para afastar polícia. Essa parte eu entendi, mas, e o povo daqui? E os católicos daqui, o que vão fazer com eles?
   - Vão por todos dentro da Igreja, celebrar uma missa, falar um blah blah qualquer e pronto. Armand consegue manipular qualquer um. – odiava me sentir impotente, com todo meu tamanho e força, era uma bosta não poder fazer nada para resolver.
   - E você, vai fazer o quê? – se sentou novamente, seu sorriso de nervosismo estava cortando a porra do meu coração.
   - Fui tocado da Igreja, mal tive tempo de pegar minhas coisas. Será que posso ficar por aqui? Sei que odeia visitas, mas...
   - Nenhum “mas”. Cale a boca, o que você acha que eu sou pra recusar teto à você, seu merda?
   - O ? – os dois riram. Me sentei ao lado dele e o abracei. e eram meus meninos e ninguém faria mal à eles e se veria longe da minha vingativa fúria.

xx

  Finalmente o padrezinho de merda estava longe da minha batina. Por um momento pensei que seria difícil tirar o infeliz de dentro da Igreja, mas, nada que um bom serviçal e poucos gramas de la cantarella não resolvessem.
   Quando ainda era menino a maldade não havia possuído meu peito. Eu esperava um mundo de justiça, paz e igualdade. Entretanto, a experiência me ensinou que há aqueles que devem morrer para que os certos possam viver em paz. Em todos os anos de Vaticano eu aprendi o que os homens de Deus deveriam ser capazes de fazer o possível e impossível para manter a integridade da nossa Santa Mãe Igreja.
   Estudei por muitos anos a história de nossa Igreja e escolhi meu lado. Poder ser o homem mais importante do Justice for Saint Mary me mostrou que eu deveria ser capaz de pisar nos fracos para um futuro próspero. Sacrificar os miseráveis para que A Virgem Maria e seu filho estivessem sempre no controle e respeitados na terra.
   Rodrigo Borgia, o Papa Alexander VI. Sua família era condenada por luxúria, usura e outros crimes. Seu sangue espanhol era desdenhado pelas famílias italianas mais tradicionais. Ele chegou à Roma com sua mulher e seus filhos bastardos para receber o escarro da sociedade dali. Eu era um estrangeiro em terras sagradas como ele. Mas, Rodrigo fez o que fora preciso para manter o controle e a Igreja. La Bella Farnese, uma de suas amantes comandou por algum tempo as finanças do Vaticano para impedir que os cardeais desviassem dinheiro. Seu filho, Cesare, o príncipe de Maquiavel, lutou com unhas, dentes, punhais, facas e seu fiel escudeiro Michelleto. Fora nesse ritmo incrédulo que a família conheceu o poder de la cantarella.
   La Cantarella, uma variação mais efetiva do arsênico. Um veneno que na dose certa traz a maior certeza da vida, a morte. A família Borgia sabia muito bem do poder do veneno. Fora com eles que ganhei apreço pelo mesmo e seria com ele que eu resolveria meus problemas. Um passo havia sido dado, não seria mais um empecilho e finalmente eu teria livre acesso à Igreja para vasculhá-la atrás do meu precisoso tesouro.
   Embora tesouro fosse uma forma errada de se tratar do conteúdo do baú, chamá-lo assim era uma maneira de demonstrar carinho. Aquele baú talvez fosse um dos mais antigos de posse do Vaticano, fora conseguido em uma Cruzada no ano de 1096. Era uma peça talhada em madeira trancada com um enorme cadeado dourado. Na parte superior jazia um crucifixo banhado em ouro branco e alguns dizeres escritos em hebraico na cor vermelha.
   Quando os documentos chegaram em minhas mãos não tive dúvida que por seu teor extremamente exorbitante, deveriam ser guardados naquele baú. Assim passei a missão aos soldados do Justice, que deveriam pô-los em segurança onde fosse melhor. Porém, por uma lei do grupo, de que os Cardeais de maior influência da Igreja não devem saber onde guardar os pertences para que se evitasse conflitos de interesses, nunca ficara sabendo onde haviam sido guardados.
   Até que um homem, que trabalhava para outro homem de sangue nobre e exímia riqueza veio até mim oferecer seu preço pelo baú. Em um primeiro momento eu sorri em descaso, mas, com o passar das horas e de nossa conversa a proposta feita não poderia ser recusada. Eu venderia o baú, para o bem da Santa Igreja e ninguém ousaria ficar em meu caminho, nem ao menos, O Justice for Saint Mary. Com fora eu poderia revirar a Igreja e finalmente achar meu baú.

xx

  Não era a primeira vez e com toda a certeza possível de ser medida, não seria a última. Matar não era mais uma aberração, um absurdo transcendetal. Acontece com qualquer um quando é colocado em situações extremas. Você se acostuma e nem perde tempo remoendo aquilo. Faz parte do passado e o passado fica no passado.
   Armand mal havia falado comigo naquele dia, mas seu humor estava incontrolavelmente, bom. O homem estava alegre, irremediavelmente feliz. Por um lado eu até me sentia bem por ele, felicida seria algo bem vindo naquela Igreja. Se Armand sorria como uma besta, o bispo só faltava chorar como uma criança chateada. também parecia fazer falta, de um jeito estranho ele alegrava o lugar.
   Eu o único ali que tinha uma visão diferente dos fatos. Armand estava completamente radiante pelo padre estar bem longe dali e eu sabia muito bem o que aquilo queria dizer, o cardeal infernal teria todo a liberdade necessária para por a Igreja abaixo atrás do tesouro. O que era uma vergonha tamanha. Segundo os regulamentos do Justice, uma das faltas mais graves era a de trair o grupo para qualquer tipo de benefício próprio. Somada à essa, Armand parecia descumprir outra regra principal, a de agir pelas costas dos outros para encontrar qualquer objeto guardado pelos soldados.
   Eu era um dos soldados do Justice, Cardeais mais novos e de menos influência que faziam o serviço braçal. Éramos nós que cubríamos as sujeiras da Igreja. Éramos nós que organizávamos os pertences preciosos do Vaticano e os guardávamos. Era de Armand e homens como ele a responsabilidade de resolver problemas administrativos, merdas burocráticas e coisas do gênero. Como bom soldado que era, não deixaria Armand completar seu plano e faria de tudo para cumprir o meu, encontrar Nikolai.
   Nikolai, o único desertor do Justice for Saint Mary a ficar vivo por mais de 24 horas. Tinha se tornado uma lenda entre nós soldados, havia criado um chamariz de heroicidade em outros soldados que desejavam fazer o mesmo. Todos falharam miseravalmente. Conhecê-lo era até mesmo realizar um sonho quase adolescente de conhecer um símbolo de rebeldia. Entretanto, nós podemos até conseguir sair do Justice, o problema é que o Justice nunca sairá de nós. São lembranças demai e um símbolo que literalmente não sairia nunca de nossas peles. Uma enorme tatuagem nas costas. É até mesmo irônico tratar de tatuagens na Igreja Católica, mas em seu âmago, a religião católica ainda carregava muito de seu antigo paganismo.
   Decidi que queria dar uma voltar. Conhecer a cidade, matar o tédio e cobiçar mulheres. Para não assustar a população resolvi me despir das vestes sagradas, fiz o melhor que pude com o que havia trazido. Um sapato social, calça preta também social, camisa preta e um enorme casado. O frio dali sabia ser pior que o da Itália.
   Nem me preocupei em avisar Armand, sabia que ele estaria se divertindo por lá e não sentiria minha falta. Era uma sexta feira, ao descer a colina via o movimento de pessoas bem vestidas em clima de festa e a alegria, elas bebeiram, trepariam e acordariam felizes no outro dia. Eu, teria que arrumar algo que minha religião permitisse.
   Vi um casal se despedir com um nada discreto beijo e língua. A ruiva sorria e o homem claro de cabelos castanhos também. Era bom em analisar pessoas e inventar histórias para suas vidas e me distrair com isso. Continuei meu caminho que acabou se cruzando com o do homem claro de cabelos castanhos. Seus olhos pararam sobre mim um momento, ele pareceu não me reconhecer.
   - Forasteiro? – perguntou, tinha um sorriso receptivo em seus lábios.
   - Foi tão fácil perceber?
   - A cidade é pequena, é fácil reconhecer um rosto desconhecido. . – seus olhos brilhavam de um jeito tão, doce. Estendeu sua mão com o mesmo sorriso de antes.
   - Giorgio Chielline. Um italiano curtindo uns dias de férias do trabalho. – não seria naquele momento que iria revelar ser um cardeal.
   - Italiano? Nunca conheci sua terra, dizem ser uma maravilha, cheia de história, monumentos e belas mulheres. Tudo isso confere?
   - Tudo isso e mais um pouco, temperado com a típica latinidade quente de todo italiano. A gente realmente não presta. Também nunca tinha vindo para essas terras, o frio anda me assustando e o dia longo de mais também. Esperava mais frieza, ainda bem que encontrei um sueco mais caldo.
   - Caldo? não parecia entender muito bem a língua italiana.
   - Perdão, quente.
   - Ah sim, quente. Isso quer dizer que sou simpático? Espero que sim.
   - É exatamente isso. O que tem de bom para se fazer em uma sexta-feira por aqui?
   - Depende do que você procura. – na real eu gostaria muito de foder alguém, mas não era o dia ideal. Talvez beber algo e comer um frango frito seria razoável.
   - Comer, beber? Me surpreenda.
   - Bem, há um restaurante típico por aqui perto da praia, acho que possa te agradar e te ajudar a conhecer a cidade. Te acompanharia se pudesse, mas tenho um amigo me esperando.
   - Tudo bem, não se preocupe. Só me passe as coordenados, ficaria grato.
   - Mas claro. Não é nada muito complicado. Pode continuar reto por aqui e virar à esquerda. Você vai ver dois hotéis de luxo, passe por eles e vire à direita, é só se guiar pelo som das ondas batendo nas rochas. Ele fica logo à frente ao reflexo da luz do farol. – certo, luz do farol. Que a pequena aventura valesse a pena.
   - Certo, obrigada, . Foi bom conhecer você, que possamos nos encontrar mais vezes. – fora minha vez de estender a mão.
   - Também espero, bom passeio. – assim que soltamos as mãos, seguimos nossos caminhos.

xx

  Sexta-feira à noite. Meus pais estavam se arrumando e falando alto demais. Os dois tinham muito mais vida social que eu, o que poderia ser bem frustrante às vezes. Todo final de semana eram jantares, bailes beneficentes, casamentos e mais eventos sociais. Quando pequena eu ia em todos eles. Os vestidos bufantes, tiaras de swarovski e outros apetrechos que me faziam pareciar uma princesa. Então eu cresci e me tornei um pouco mais “rebelde”, por falta de termo melhor. Aos poucos aquelas festas se tornaram símbolo de comida boa grátis e já fazia algum tempo que eu resolvi abandonar tudo e deixar pra lá. Meus pais iam à todos sem mim e parecia melhor assim.
   - Filha, estamos indo. Se cuide viu? – meu pai surgiu na porta me assustando de leve.
   - Pai, já falei 20 vezes pra não chegar falando assim, me assusto toda santa vez. – ele riu da minha cara. Velho abusado.
   - Perdão, mas o jeito que você pula da cadeira é engraçado. – eu o olhei com uma expressão de tédio mostrando a língua. – Sua mãe e eu voltamos amanhã, deixei dinheiro pra pizza em cima do aparador do corredor. Juízo heim.
   - Pode ficar tranquilo, não vou trazer nenhum stripper pra casa. – meu pai iria falar mais algo, mas, minha mãe chegou na porta chamando a atenção com seu decotão.
   - Traga alguém sim, seu pai com ciúmes de você é bem mais engraçado que seus sustos.
   - Irina... – mamãe levantou os braços fingindo inocência.
   - Beijos, filha, boa pizza. – os dois entraram no quarto e me espremeram em um abraço. Me senti até mesmo sufocada pelos peitos da minha mãe. Por mais criança que eu me sentisse naqueles momentos, tenho que admitir que aquela merda de abraço era bom demais.
   Ligar para a pizarria ou ir buscar? Coloquei um moletom, calça jeans e tênis e desci as escadas correndo, queria tomar um ar. Eu realmente gostava daquela cidade. Tudo bem que em toda viagem para Estocolmo ou outras capitais européias eu surtava e enchi o saco do meu pai para que mudássemos. Todo aquele movimento, luzes, carros importados e pessoas vestindo as roupas mais caras do mundo me deixavam tentada e de acesa para a vida na capital. Mas, eu havia vivido bons momentos ali. Apesar de pequena e meio isolada do mundo, tudo de mais moderno era encontrado, todas as minhas vontade eram supridas.
   As pessoas andavam de lá para cá, tinham que curtir a noite antes que a mesma acabasse, o que aconteceria por volta das 3 da manhã. Era bem estranho entrar na boate à meia noite e sair dali quatro horas com o sol iluminando tudo. Excentricidades da Suécia.
   Finalmente cheguei à pizarria e fui pra fila que se formava no balcão. O local estava mais cheio que o de costume, me senti sufocada por um momento. Encontrei um povo conhecido, uns meninos da minha sala, uns amigos dos meus pais. Foi então quando ouvi um assobio, olhei para trás e vi acenando. Fiquei incrédula por um tempo e reforcei o olhar para garantir que estava vendo demais. Uns segundos depois entrou pela porta, uma ironia muito desnecessária do destino. Ele foi até mim sem dizer um “e aí?” sequer e me arrastou pelo braço. Ótimo, eu fazia parte da gangue deles agora.
   - Come com a gente. É triste comer pizza na solidão em casa, vai por mim, já fiz muito isso. – era um doce, um lindo, um fofo. Diferente do amigo que puxou a cadeira ao seu lado para eu me sentar.
   - Seus pais foram para aqueles programas aristocratas? – ficava tão lindo e sensual de cachecol e sorrindo.
   - E quando eles não vão? Só me resta torrar o dinheiro deles mesmo. – começou a rir e me olhou, se fazendo de incrédulo.
   - Mas é uma filhinha de papai mesmo. – eu poderia ter levado como ofensa e até levaria se logo depois ele não tivesse passado o braço pelo meu ombro. Quando dei por mim já estava tremendo em nervosismo.
   - E aí, o que vamos pedir? – segurava o cardápio muito bem concentrado.
   - Eu voto em calabresa. – aquela seria minha pizza preferida até o fim do universo.
   - Queijo e bacon. - respondeu o lenhador.
   - Certo. – chamou o garçom, fez o pedido e nós ficamos ali, jogando conversa sem sentido fora. Não demorou muito para a pizza chegar e eu simplesmente me jogar feito uma louca desvairada em cima da mesa.
   - Por que Ana não veio? – lembrar de Ana me dava uma certa agonia. Ouvir falando no nome dela me deixava meio surtada.
   - Os pais iam dar uma festa e ela não podia faltar. – foi só pronunciar o nome da ruiva que se iluminou. Parecia haver uma fumaça rosa cintilantes em volta dele. A mulher tinha realmente conquistado o açogueiro. Eu meio que fechei a cara, a conversa não estava me agradando. encheu a boca de pizza e um pedaço de queijo escorreu pela boca dele. Por mais nojento que fosse, eu queria voar ali, lamber o queijo e beijar a boca dele. Ele estava mais gostoso que o normal, o homem cheirava à bacon.
   - Falando nela, isso me lembra algo engraçado. – ele começou a rir. e eu ficamos meio sem entender. O que ele estava pensando eu não sabia, só poderia afirmar que era alguma merda safada.
   - Essa daqui. – apontou para mim. – Me viu com a Ana e achou que nós éramos namorados. – oh, que ótimo, agora ele iria espalhar isso para o mundo todo.
   - O quê? Sério? – olhou para mim e caiu numa longa gargalhada. Malditos.
   - Ué, , vi os dois grudados e ele disse pra mim que eram namorados. Queria que eu pensasse o quê?
   - Mas, eu te disse na sua casa que... ah, foi por isso então. – também começou a sorrir daquela forma irritante. Eu estava aos poucos perdendo o controle.
   - Foi por isso então o quê? – , cale a boca e pare de ser curioso. Que inferno!
   - Esses dias fui na casa dela preparar o jantar e comentei que estava saindo com a Ana. Ela fez uma cara meio estranha e pareceu ficar de mal-humor.
   - Que sensacional. – e estavam curtindo com a minha cara. De repente a pizza se tornou ruim. Senti vontade de vomitar o que havia comido, por que os dois não iam à merda?
   - Claro, você me fala que tá saindo com a Ana e o também me fala a mesma coisa, vocês acham que eu sou retardada para achar que isso é normal? É no mínimo ridículo.
   - Ridícula foi você morrendo de ciúmes. – me puxou mais para perto e sorriu convencido. Homem do diabo, tinha inventado aquela desculpinha. Um plano maquiavélico sustentado por uma mentira imbecil para me enciumar. Muito maduro da parte dele. Por Deus, como eu estava irritada. Quase peguei minha faca e taquei na testa dele.
   - Ridículo é você arrumando esses joguinhos para brincar com a minha cara. Bem infantil da sua parte, seu otário.
   - Não fica bravinha, foi divertido. Você realmente caiu feito uma patinha na história. Você precisava ver, , ela ficou maluca. – respirei fundo. Eu não queria brigar, mas realmente estava tentada à encher a cara dele de tapas.
   - Ciúmes é sinônimo de paixão, han?
   - Eu não fiquei com ciúmes, . – ah tá que eu realmente iria assumir aquilo ali publicamente.
   - Ficou sim, não se faça de desentendida. - eu havia ficado com muito ciúmes. Qualquer um na mesma situação que eu também ficaria. O que estava me deixando emputecida era o fato de sempre dar um jeito de me fazer de idiota. Ele jogava sua masculinidade sobre mim como se fosse um poder heróico e se achava no direito de controlar minhas emoções. Ah não, eu não permitira que ele me usasse como quisesse, não para manipular meus pensamentos. Dar meu corpo à ele já era o suficiente, não daria minha alma.
   - Do mesmo jeito que você ficou de ciúmes de mim com o Manterfos? – o sorrisu da vitória ocupou meus lábios e o abusado deixou lugar para o ofendido.
   - Ui, mandou bem, . – estava assistindo o show de camarote e estava se divertindo.
   - Aquele coroinha? Ciúmes? Sério? – eu conhecia aquela expressão, ele estava puto. Isso, lenhador, fique puto.
   - Sim, ciúmes daquele coroinha. Você sabe que ficou.
   - Na verdade achei engraçado, você não soube escolher muito bem. Ele é um molecote que não sabe nada da vida. – ah sim, a conversa de sempre. sempre dava um jeito de insinuar que ele era o melhor homem do universo, que ninguém chegava aos seus pés. Eu ainda provaria para mim mesma que algum homem estava ao alcance dele.
   - , isso realmente me parece ciúmes.
   - , simplesmente cale a boca. - o açougueiro assumiu uma posição defensiva e se calou. Ele sabia que o amigo ficava bem mais mal educado quando nervoso.
   - Você não vai assumir mesmo, né? – eu o encarei e entendeu aquilo como um desafio.
   - Você vai assumir o ciúmes pela Ana?
   - Vou e você? – tinha pegado ele de surpresa. chegou a engasgar com a própria comida. Eu não iria levar aquele desaforo para casa.
   - , não me provoque ...
   - Vai assumir ou não, frangote? – ok, nós parecíamos duas crianças de sete anos discutindo, mas convenhamos que não seria possível evitar aquilo.
   - Fiquei. Pronto, fiquei. Satisfeita? – ele jogou os talheres em cima da mesa, visivelmente fora de si. Os objetos prateados fizeram barulho demais e as mesas do lado olharam. se assustou e pediu calma. Parecia que a conversa tinha ido longe demais.
   - Eu sei que ficou, discussão encerrada. Se bem que você é um babaca, pode assumir isso agora também.
   - Só se você também assumir que é uma filhinha de papai arrogante e irresponsável, que tal? Que vai pra floresta se meter onde não foi chamada, que faz um monte de burradas, que age como se tivesse sete anos. E aí, se você assumir isso, eu assumo que sou babaca. – filho de uma puta. Tudo tinha ido longe demais. não tinha direito algum de me dizer aquilo, ele havia se aproveitado – e muito bem – de cada “burrada” minha. Se ele achava aquilo tão errado, o quão errado era o que ele fazia comigo? Comecei a raciocinar de um jeito desiquilibrado. Não queria sair por baixo e ainda ser humilhada e tratada com uma coisinha infantil na frente do . Eu teria que apelar para alguma coisa, ele também tinha que ser desvalorizado.
   - Só se você assumir que deu uns pegas na minha mãe. – a frase saiu rápida demais, ácida demais. pela primeira vez na noite parecia chocado de um jeito ruim. Vomitei aquela merda, sem pensar nas consequências. Havia prometido para mim mesma que não tocaria naquele assunto cm ele, que manteria no passado. Entretanto não consegui controlar minha raiva, a revolta por ouvir aquelas palavras tão injustas. pareceu ficar sem reação. As palavras teimavam em não sair de sua boca e um semblante de culpa e mal entendimento fizeram-se presente no homem.
   - ... eu...
   - Eu vi, . Primeiro dia na minha casa, vocês passaram pela sala onde eu estava, mas não me viram. Então eu segui vocês e vi o beijo que deram na adega. O barulho que os fez voltar à realidade foi feito por mim. Quem é o irresponsável agora? – a testa enrugada transparecia o sentimento de impotência que ele parecia sentir. Eu o fiz sentir culpado e errado e era exatamente o que eu queria provocar. Ele não era um santo, um exemplo de perfeição e eu teria que provar para mim mesma que não poderia e deveria ser uma escrava do charme dele.
   - Cara, isso ultrapassou os limites e você nunca me disse nada. – parecia... não sei definir. continuava calado, sem o domíno das palavras e por mais egoísta que aquilo poderia parecer, sai enquanto estava por cima.

xx

  Uma súbita vontade excêntrica tomou conta do meu corpo. O jantar fora ótimo, teria que encontrar o tal e agradecê-lo pela dica, realmente espetacular. Percebi as pessoas indo em direção ao centro e aquele litoral mal recortado tornar-se cada vez mais vazio e frio.
   As ondas estavam cada vez mais altas, o vento uivando e balançando meus cabelos. Tirei meus sapatos e os deixei em um canto. Sentir a areia escura molhada e gélida fizera bem para os meus pés. Estava tentando sentir minha alma e nada melhor que me por em extremo contato com a natureza. Enquanto caminhava algo dentro de mim pediu que tirasse meu casaso e o fiz prontamente. A mesma sensação dizia à minha mente que eu deveria sentir o vento rasgar meu tórax e por isso fiz minha camisa voar carregada pela revolta forma do ar.
   Abri os braços e soltei um grito enfurecido. Porra, eu me sentia vivo.
   Muitas vezes minha missão fazia com que eu me esquecesse do sentido da vida. Eu sempre me recusei a perder minha alma animalesca e sempre fazia o possível para que Deus não roubasse a essência pagã de dentro de mim.
   Logo o frio já não me incomodava mais e a necessidade de algo mais voraz fazia-se presente. Parece que ao perceber isso, as divindades resolveram agir colocando algo no meu caminho. A garota da boca suculenta.

xx

  AAAH! Como aquele homem me irritava. Com a mesma facilidade que ele me fazia gozar, ele também me dava nos nervos. Juro que não queria ter falado aquilo, não foi realmente a minha intenção. Mas, ele me provocou. Não era nenhuma santa que ficava engolindo desaforo ao Deus dará. E afinal, não disse nenhuma mentira. Ele tinha beijado minha mãe, não tinha? Por que todo esse stress maluco? Talvez tenha realmente sido uma sacanagem eu berrar isso na frente do , mas, eles eram carne e unha. Como eu iria adivinhar que os dois não sabiam? Ah, que se foda. Estava cansada de gente que muda a personalidade de uma hora para outra.
   Não queria voltar para casa, nem queria ir até à casa de alguma amiga, queria simplesmente sumir do mundo. E quando eu queria sumir do mundo naquelas proporções só um local era bom o suficiente para cumprir tal plano. A praia.
   Não era como um litoral Caribenho. Não havia areia branca, águas cristalinas, palmeiras e essas coisas de praia, as quais eu não conhecia muito bem. Era uma típica praia nórdica. O mar era em um azul escuro profundo, a areia era mais acinzentada e cheia de musgos. As ondas eram revoltas e estouravam nos paredões de pedra, mal havia chances de se nadar por lá.
   Fui me aproximando do local que costumava usar para pensar na vida. Mas algo na paisagem estava diferente. Exitei em prosseguir meu caminho e fiquei ali parada feito um dois de paus. Um homem apenas de calça social preta estava parado com as mãos no bolso olhando o horizonte através do mar. Sem casaco, camisa ou sapato levando aquele vento gelado do inferno em seu peito. Os cabelos voavam por seu pescoço e uma enorme tatuagem em suas costas chamava a atenção. Apesar de eu não identificá-la. Perdi um tempo o admirando e não pude evitar disfarçar quando o mesmo se virou e olhou para mim. Me assustei, clara e obviamente.
   O coração desparou e um leve desespero tomou conta de mim. Dei quatro passos para trás. Ele apenas sorriu e me chamou com a mão. O meu juízo se enfiou na areia e eu resolvi ir até ele. Caminhei vagarosamente até o desconhecido, a única coisa que pude deduzir é que não era da cidade. Se fosse, certamente reconheceria seu rosto.
   Prestei mais atenção no estranho. Era tão alto como um titã e suas entradas pélvicas certamente pareciam a entrada do inferno. Os músculos tinham se definido em proporções que não seriam cabíveis de ignorância. Em seu rosto um sorriso, convidativo e curioso.
   - Também veio admirar a natureza? – estávamos frente à frente. Tentava olhar em seus olhos enquanto fazia um esforço descomunal para não babar em seu abdômen.
   - Pensar na vida. – suspirei, nervosa e tremendo.
   - Sim, pensar na vida. Admito que olhar a revolta desse mar é realmente uma ferramente útil para se pensar na vida. E se permite, está pensamento exatamente em que? – estava pensando em como era endiabrado, arrogante e infernal. Claro, não contaria aquilo à um desconhecido.
   - Em como você não caiu morto ou com hipotermia por tomar esse vento horrendo. Estou com esse moletom super quente e estou morrendo de frio. Você é meio doido, não? – mais uma vez um homem gargalhava para mim naquela noite. Porém, aquela sim era uma gargalhada gostosa de se ouvir.
   - Só sou meio resistente ao frio. Vejo que está tremendo, venha cá. – Ele abriu os braços me convidando subliminarmente. Caralho! Mil vezes caralho, aquele homem tinha que ser uma alucinação. Algum tipo de droga tinha sido posta na pizza, porque não era possível. Ele me hipnotizava, o tom da voz parecia como o da sereia que encantava marinheiros e os levava até a morte.
   - Você é algum tipo de estuprador assassino sádico? – esperto, . Porque com certeza se ele realmente for, é claro que ele responderá isso e te contará seus planos doentes.
   - Pareço com um?
   - Talvez sim. – estava assustada e receosa e mesmo que quisesse chegar mais perto, algo me dizia que não devia.
   - Não farei nada que não quiser. Então, quer meu abraço ou não? – meu coração iria sair pelas minhas narinas. Eu sentia todo o meu corpo tremer como se uma britadeira agisse sobre ele. Queria correr e sair, sumir, ir embora. E então as palavras de ecoaram me trazendo à realidade. Eu era a menina sem juízo, mimada e irresponsável. Tinha feito todo o tipo de loucura por ele que só sabia jogar isso na minha cara quando conveniente. Ele não era melhor que ninguém, pelo contrário, era como humano com qualquer um. E se eu estava disposta a fazer todas as merdas possíveis em favor dele, também deveria fazer em favor dos outros. E naquele momento, o homem estranho e ameaçador parecia a escolha perfeita para que eu finalmente comprovasse para mim de uma vez por todas que não era o uma divindade suprema, um ode à perfeição com um pau enorme. Então eu o abracei.
   - Não precisa tremer, minha linda. – , ele é um maluco, um assassino procurado pela Interpol. Saia correndo, vá embora, grite por socorro... Não! Ele era uma delícia e eu não estava tremendo de medo ou frio, acho que talvez fosse excitação e... um pouquinho de frio.
   - Não me machuque. – fechei meus olhos esperando pelo pior. Seria naquele dia e naquela hora, eu iria morrer, estava esperando o pior. Mas não, suas mãos geladas procuraram meu rosto. Fez com que eu o olhasse, fundo nos olhos verdes. Eu via em sua íris o desejo o queimando.
   - Jamais te machucaria, jamais seria capaz de fazer algo contra você. Seria um pecado sem perdão. – o dedo macio correu meus lábios e eu fechei os olhos. Capeta, eu estava tão perdida. Queria me entregar à ele, porém, o medo me inibia. – Garotinha, é uma pena que eu não possa te profanar.
   - Por que não? – minhas palavras saíram desesperadas e inconformadas. Por que não? Me profane, seu idiota. Se eu quisesse o contrário, teria ido embora.
   - É mais complicado do que você possa entender. – ótimo, mas um me tratando como se eu fosse uma retardada.
   - E se eu quiser ser profonada? – eu estava ali, entregue ao toque dele. Eu queria aquilo, ele não poderia me negar.
   - Doeria fundo no meu peito te negar isso. – nossos corpos se aproximaram. Senti seu peito gélido e esculpido tocar minha boca. Minha respiração esquentava a área do corpo dele que estava à sua altura. Os meus lábios podiam sentir o gosto da sua carne. Céus! O frio foi pro caralho, a porra do meu corpo pegava fogo. Parece impossível, mas estava. Grudei minhas mãos nas suas costas. Ele arfou e seus músculos retesaram. Eu o vi morder os lábios, parecia se controlar para não ceder à vontade.
   - Por que tanto mistério? – queria entender, saber seu nome, sua origem. Mas, ao mesmo tempo sentia que aquela áurea misteriosa deveria permanecer para que o sentido do momento não se perdesse.
   - A vida é um mistério e nós só descobrimos o que tem pela frente, quando nos entregamos a ela. E você, vai se entregar à mim para me descobrir? – voltei a tremer ou comecei a tremer mais ainda.
   - Eu...
   - Shi! Quietinha. – as mãos que estavam rodeando meu rosto foram para a barra do moletom. Ele o tirou fora, sutilmente. O calor se intensificou, como se fosse possível. – Não vou te beijar, mas vou te levar ao máximo que puder. – uma regata branca de um tecido muito leve tampava minha barriga e seios. O homem grudou minha cintura e me trouxe ainda mais próximo de si. Tive que me por nas pontas do pé e ele abaixou-se um pouco, fizemos a manobra necessária para que nossas bocas ficassem enfim próximas. Não estava suportando o peso do meu próprio corpo e senti que iria desmoronar. Ele me projetou para o chão e me desmontei sobre a areia. O choque térmico quase me fritou, soltei um grunhido desconexo. As mãos dele me percorriam como se fosse uma preciosidade e eu me senti extremamente desejada. Sua respiração batia no meu pescoço, sua língua percorria meu queixo e canto dos meus lábios. Ele não iria me beijar e isso a era maior pena do universo. Seu corpo me provocava e aquela ereção... rondava de um jeito poeticamente desgraçado a minha barriga. – Consegue sentir isso? Nossos corpos estão gritando. – era tão diferente e arrebatador. Ele estava me destruindo de um jeito diferente. Era delicado e avassalador. Isso homem, me enlouquece. Tire aquele lenhador do meu sistema. – Eu sinto seu ventre queimando. - grudou meus cabelos e deixou a boca próxima demais da minha. – Eu sinto o meu membro pulsando. É a nossa alma pedindo contato, é o sentido animalesco clamando por aquilo que o transforma em tão único na nossa espécie. Você consegue sentir? – não conseguia responder. Eu arfava e gemia só em ouvir àquelas palavras e não tinha cérebro o suficiente para formar algo para responder. – Infelizmente eu sou um homem que não pode deixar o animal tomar forma, não pode deixar o instinto vencer. E isso é tão injusto. Mas eu posso cuidar do animal que há em você. Posso fazer você sentir o lobo feroz que há em você uivando em desespero pelo meu toque. – rápido demais. Minha regata foi para o alto, meus seios para fora com os mamilos petrificados. Ele os lambeu, mordeu e finalmente veio até a minha boca. A maré batia em nossos corpos e quando tentei passar a língua pelos lábios dele, ele recuou. – Disse que não posso te beijar, meu amor. – a frustração tomou conta de mim. Eu queria chorar. – Só posso te tocar. Mas hoje não é o dia para isso. – então ele subitamente parou. Subi meu tronco, tentei trazê-lo, mas ele simplesmente me abraçou. Nossos peitos roçaram e tranquilamente ele tentou me acalmar. Minha respiração voltou ao normal e ao perceber isso ele sorriu para mim. – Venha, daqui a pouco o sol irá nascer e você precisa estar em casa.

Chapter XIV

  As caixas voavam longe. Ele estava suando àquela altura, os botões da camisa preta foram hiperativamente abertos. Estava cansado de vasculhar e apenas dar de cara com a frustração. Armand pensou que seria fácil. Por um momento chegou a se iludir que ninguém mais precisaria morrer para que seu objetivo se concretizasse. Ledo engano. Todo lugar que ia, toda porta que abria, toda caixa que fuçava o deixava mais emputecido.
   Todos os lugares que lhe passaram à cabeça foram fuçados. Nada encontrado. “Enfiaram essa merda no cu?”, chegou a pensar em seu ápice da irritação. O tesouro não estava por ali, seu esconderijo era um local muito mais enfiado, mocado, secreto. Alguém deveria saber, mas não o bispo, ele era bobo demais para isso. Foi então que o chamariz da lógica se acendeu: .
   Armand deslocou-se com seu corpo magro pelos estreitos corredores até chegar à área comum da Igreja. Chielline estava sentado ao lado do bispo. Uma mesa de café da tarde estava servida, geléias de frutas vermelhas pintavam as torradas.
   - Posso me juntar à vocês? – Armand sorria, Chielline olhava para sua testa suada com desconfiança e o bispo nem ao menos possuía maldade em seu ser para perceber algo errado naquela cena.
   - Mas que pergunta idiota, Armand. Sinta-se à vontade. – o bispo ofereceu lugar ao cardeal que prontamente sentou-se.
   - E como andam os preparativos para a missa em homenagem aos pobres? Não gostaria que demorasse muito, o fervor dos fiéis pode esfriar. – Chielline olhava o acontecimento com a ironia correndo em suas veias. Ele sempre tivera dificuldade para compreender a tamanha facilidade que Armand possuía para dissimular.
   - Não é preciso esperar mais que três dias, Armand, podemos fazê-la assim que você desejar. A população irá amar a sua missa, eles necessitam de alguém tão eloquente e fervoroso como você. – o cardeal continuava sorrindo, mesmo que de escárnio. Abriu a garrafa de leite quente e despejou-o líquido branco fumegante em sua xícara.
   - Me desculpe desapontá-lo bispo, mas eu possuo outros planos para essa missa.
   - Outros planos? – Chielline foi contagiado pelo riso infame do Cardeal. O do bispo era muito mais benévolo. O mais jovem cardeal sabia que daquela conversa sairia alguma sujeira disfarçada.
   - Agradeço os elogios à mim feitos, porém o povo por aqui não tem empatia por minha pessoa, não sei se seria capaz de tocá-los como realmente é necessário. Creio eu que seria o mais indicado para essa situação. – o bispo assustou-se levemente.
   - Mas você que me pediu o afastamento do pobre para que se recuperasse da perda. – Chielline olhou para Armand franzindo a testa, o pobre não conseguia entender onde aquele maldito plano iria dar.
   - Eu sei, meu querido irmão, eu sei. Mas veja, a poeira já abaixou. Resolvemos os problemas com a polícia e estamos nos recuperando aos poucos. Acho que já possui racionalidade para voltar à nós. O que acha? – com o tom totalmente persuasivo de Marion, seria impossível negá-lo.
   - Tudo bem, acho que podemos pedir para que ele volte. Só há um problema. – Armand odiava ouvir a palavra “problema” naquele tom de voz.
   - Qual problema, meu querido irmão?
   - Eu não sei onde está, ele saiu tão amargurado que esqueceu de me pôr a par disso. – Chielline mirou Marion pedindo calma com o olhar, ele não poderia deixar Armand se descontrolar.
   - Mas ora, ele não saiu do país. – riu por um momento e continuou – Tenho que certeza que o encontraremos.
   - Tudo bem então. Deixarei a responsabilidade dessa mão em suas mãos. Agora se me permitem, tenho que resolver algumas coisas. Nos vemos no jantar. – o bispo levantou-se e saiu em direção ao corredor. Percebendo a total ausência do religioso, Chielline logo resolveu indagar Armand.
   - ? De volta? Rezando a missa? Você é bipolar? – Chielline parecia bem incomodado, as trocas de ideia de Armand lhe tiravam do sério.
   - Não, Chiello, meu querido. Eu sou esperto. – Marion sentou-se mais desleixado na cadeira, tirou um cantil cromado do bolso de seu casaco e deu um longo gole, limpando a boca em seguida.
   - Então me explique, porque eu não entendi. O plano era manter o padre longe e agora o quer por perto? Onde isso é esperto?
   - Não achei nada, nem um rastro sequer da porra do baú. Tenho certeza que deve ter sido muito bem escondido por alguém, não exatamente ele. Sendo assim, preciso de alguém daqui de dentro que conheça bem a igreja e possa até me dar uma planta dela. Essa pessoa é o .
   - Não creio que seja, ele é inteligente, perceberia a artimanha. O bispo é bem mais fácil de ser usado. – Marion suspirou fundo, foi com suas mãos para as de Chielline e as segurou fraternalmente.
   - O bispo é inocente, mas também é muito devagar com essas coisas. é mais esperto, mas eu ainda poderia fazê-lo ajudar sem que percebesse. E além do mais, ele daria menores problemas caso fosse eliminado. – Chielliene gelou-se e arregalou os olhos. Ele sabia o que eliminado dizia quando proferido por Armand.
   - Eliminado? – Chiello forçou com seu olhar uma resposta negativa de Armand. O mesmo pareceu não querer agradar seu amigo.
   - Você sabe o que eliminado quer dizer. Não sabe? – Armand deixou o riso da maleficência ecoar naquele pequeno espaço.
   - Eu acho estupidez. – Chielline não queria aceitar, nem acreditar. Além do mais os planos de Armand não eram os seus.
   - Descubra onde o padre está, traga-o de volta e o resto, eu mesmo cuido. Estamos entendidos? – o cardeal de menos idade respirou fundo concordando. Ele nunca negaria, não era isso que faria. Contrariar Armand àquela altura seria estupidez. Teria que resolver seus problemas e agir pelas beiradas.

xx

  Estava jogada na minha cama, assim como no dia inteiro. Nem ao menos havia descido para comer, meu pai trouxera um prato de bife com batatas para mim e insistiu em perguntar se tudo estava bem. Argumentei que estava ótima, apenas com preguiça. Ele então beijou minha testa, me deu boa noite e encostou a porta. Beijos na testa agora possuíam um novo significado para mim. Por um momento eu me senti tão... coisada. Ao sentir os lábios do meu pai me veio a calmaria que me invadia após me fazer gozar. Mas raios, era meu pai ali, que porra de pensamento nojento.
   O nervosismo me fez descascar o esmalte. Eu queria entender como, eu queria entender a razão. era só mais um homem que passou por mim, como tantos outros. Olhando o retrospecto dos dias, percebi que eu havia deixado ele invadir minha vida e que eu havia deixado meus impulsos dominarem minha mente.
   Me enfiei no meio do mato, quase fui comida por um lobo, confessei todas minhas insanidades para um padre e... deixei meus seios serem chupados por um estranho na praia. Eu bem poderia ter morrido naquele instante, eu bem poderia ter sido assassinada a sangue frio. Ele poderia ser um sádico, um tarado, um sociopata, um mendigo bêbado, um ilusionista, um satanista, a personificação do mal. E mesmo assim, mesmo sabendo de todos os riscos, o que eu fiz? Me entreguei à ele.
   Deixei ele me possuir, me invadir. Um estranho, um completo estranho. O que eu havia me tornado? Que espírito infernal tomava conta do meu corpo?
   Me lembrei da tatuagem dele. Era tão diferente, os traços negros eram tão fortes, possuíam uma espécie de relevo que deixava-o mais intenso. O vermelho também possuia uma incrível intensidade. Eu não reconheci o desenho, nem ao menos o entendi. Quando percebi estava jogada naquele abraço, e tudo por causa dele. Tudo porque eu queria provar algo invisível para ele.
   Talvez fosse um dos momentos mais estúpidos que eu teria em vida. Eu, na minha cama, repassando todos os momentos que andei vivendo. E quando eu imaginava que meu cérebro iria pifar, a chama da lembranças de roçando no meu corpo, os resquícios dos orgasmos, o chamariz de um prazer tão suculento me recompunha. Eu poderia passar a noite ali, amargurando cada pedaço daquela realidade.
   Eu queria conversar com alguém, precisava desabafar. Mas àquela hora e sobre aquele assunto? Nenhuma amiga minha me daria um conselho sensato. Meus pais? Pff, jamais. ? O coitado havia passado por um mal bocado. Eu não entendia muito bem o que havia acontecido, meu pai me contou tudo por cima. Apenas havia sabido que os pobres que ele alimentava morreram de um jeito trágico, trazendo a polícia federal para cá. Mas, pelo jeito, tudo tinha sido resolvido. Menos a dor de , eu imaginava como ele estava se sentindo. Derrotado e fraco.
   Levantei da cama em completa preguiça. Procurei pelo meu aquecedor portátil e o liguei na tomada, o maldito havia deixado o serviço em casa pela metade e a instalação do aquecedor da casa estava com problemas. O calor finalmente deixou o ambiente mais agradável, agradável o suficiente para eu abandonar minha jaqueta de moletom cinza e ficar apenas com uma blusa de alcinhas.
   Olhei ao redor do quarto e me lembrei de como eu queria mudá-lo. De como eu tinha planos para transformar totalmente o local. Eu até tinha desejado um projeto mal feito, iria compartilhá-lo com o homem que meu pai contratou para trabalhar em casa. O homem que depois pediu demissão para se afastar de mim e acabou apenas ficando ainda mais próximo. Destino totalmente irônico.
   Fui até minha escrivaninha e abri uma gaveta que continha todo o tipo de porcaria antiga. Cartinhas de namoradinhos, bilhetes escritos no meio de aulas, adesivos de princesas da Disneys, canetas gel com brilho sem tinta, clipes coloridos, cotocos de lápis de cor, um mp3 velho, pilhas usadas e meu antigo diário.
   Aquela coisa, aquele caderno de capa roxa e cheia de frescura que me serviu por muito tempo para escrever os desaforos da vida. Olhei para ele e percebi como eu menina boba, uma menina mimada. Como gostava de dizer, eu era uma filhinha de papai, uma princesinha mal acostumada. Eu realmente era assim, fui criada com todas pompas, com uma áurea purpurinada ao meu redor, não era culpa minha. E apesar de tudo, eu gostava de ser assim. Quando eu tentei tirar isso de mim, eu me tornei a irresponsável que invade florestas. Infelizmente, colocar palavras em um papel com tinta rosa não resolvia mais os meus problemas.
   Repensei em . Será que ele me negaria ajuda? Será que seria egoísmo demais ir até lá esperar por paz quando era ele que precisava? Ou nós poderíamos nos ajudar? Olhei no relógio do notebook que tocava alguma música que eu nem ao menos prestava atenção. Eram 20 horas e 36 minutos, se eu saísse àquela hora meus pais não estranhariam. Resolvi me trocar e arriscar, no mínimo eu poderia passar alguns minutos com o padre.
   Meu pai me questionou com toda a calma de sempre, eu respondi a real para ele, que iria à igreja. Era algo totalmente comum, com o passar dos anos meus pais acharam que eu pararia de ir até lá, mas acabou tornando-se um hábito agradável. No começo foi pressão da minha avó, como sempre ela me fazia sentir uma potencial alma para arder no inferno. Se eu ainda tinha crises de consciência e mantinha a sanidade quase pegando fogo, era por causa dela. Toda noite eu ia dormir com a cabeça pesando em culpa, foi com me mostrando um outro da coisa que acabei me acalmando. Eu precisava dele, definitivamente.
   Desci a ladeira em passos pouco apressados. A noite estava bem fria para o que estávamos acostumados, era sempre assim, uma leve oscilação de temperatura no verão. Não muito tempo depois estava quase de frente para a igreja. Olhei aquele enorme e imponente prédio e uma calmaria tomou conta de mim. Continuei a caminhada subindo as escadas até adentrar o local. Ela estava vazia e mais cheia de velas que o normal. Os candelabros estavam apagados, as luzes artificais da lateral também, apenas o fogo das velas iluminava seu interior.
   Achei tudo muito silencioso, não parecia estar por ali. Sentei-me em um dos bancos próximo ao altar e encarei o enorme Jesus Cristo pregado na cruz. Aquela imagem mexia comigo quando pequena, eu sentia agonia, pena, tristeza. Depois de grande aprendi a ver um pouco de alegria e redenção naquela figura.
   Rezei um Pai Nosso, seguido de uma Ave Maria, iria começar um Credo quando ouvi passos. Passos que me distraíram e me fizeram mirar logo à frente. Nunca rezei com tanta fé para meus olhos estarem errados. Eu devo ter ficado numa postura bem ridícula, pelo riso que ele mostrava estava engraçado olhar minha cara de topeira. Como? Por qual razão ele estava ali?
   - Surpresa? – era o homem da praia. Mesmo vestido, com a pele menos pálido e os cabelos secos eu poderia reconhecê-lo. O olhar animal e a postura incandescente seriam reconhecidas por mim em qualquer canto do planeta.
   - Que porra é essa? – meu questionamento saiu baixinho, mas o suficientemente audível para ele.
   - Você é interessante. Vem rezar, pedir perdão em santuário, mas fala palavras de baixo calão na frente de Jesus. Isso não soa errado? – eu não sei dizer quantas vezes respirei fundo, aquilo não fazia sentido algum. Moço, quem é você?
   - Que tipo de coisa você é? – ele estava se aproximando e eu fui escorregando pelo banco tentando me manter distante.
   - Me desculpe, eu não queria te assustar. Sou o cardeal Giorgio Chielline, assistente pessoal do Cardeal Armand Marion. Seja bem-vinda à casa de Deus. O que posso fazer por você? – o cara da praia era um cardeal? Mais que um padre ou um bispo, o filho da puta era um cardeal? Que merda?
   - Onde está o padre ? – não sei dizer se estava desesperada, assustada ou em choque. Eu precisava do , eu queria ele de qualquer jeito.
   - Lamento lhe informar, mas o padre está afastado por uns dias, não está na Igreja no momento. – Como? Por quê? , eu preciso de você. Cardeal maldito, vai embora, eu quero meu .
   - Onde ele está? Eu preciso dele! – o Cardeal sentou-se no mesmo banco que eu. Senti minha espinha vibrar, minha cabeça rodou por uns segundos. Por que esses homens do capeta infligiam tanta influência sobre mim? Que raio de ser fraco era eu?
   - Eu não sei onde ele está, como disse, eu lamento. – suas palavras pareciam verdadeiras, mas carregadas de uma intensidade nefasta. Quem era aquele homem? Por que agia como agia? Era outro ser masculino difícil de decifrar assim como ? Sim, ele era. Eu suspirei fundo e pesado, fechei os olhos e escorei-me no banco da frente sentindo vontade de chorar. Então ele foi se aproximando, aos pouquinhos. Eu sentia seu calor cada vez mais perto do meu corpo. – Por que eu não posso te ajudar? Na praia você confiou em mim, por que não confiar agora?
   - Você é um cardeal que não respeite as regras da Igreja, por que deveria confiar em você? – eu revisei a cena passada na minha cabeça. Com certeza eu era a melhor pessoa do planeta em se meter em encrenca. Tinha liberado meu corpo para um homem desconhecido completamente e então, descoberto que o mesmo era um cardeal. Se eu não podia confiar no meu próprio bom senso, na minha própria mente, em quem poderia? O certo e errado já não eram nítidos para mim.
   - É realmente uma boa pergunta. – ele estava rindo. Todos riam da minha cara, das minhas perguntas. Bem, eu só sentia vontade de desatar em lágrimas. Qual foi a barreira que eu cruzei para tornar tudo uma verdadeira loucura?
   - Me diz algo, por favor. Não estou entendendo nada e você está me deixando mais perturbada do que eu já estava. – finalmente tomei coragem para encará-lo. Os olhos castanhos estavam avermelhados pelo fogo das velas, sua barba reluzia o calor que eu estava começando a sentir.
   - Se lembra das coisas que te disse? Lembra que falei para você que havia uma parte animalesca dentro de mim que eu não poderia deixar morrer? Mas que ao mesmo tempo era preciso ser alimentada? Eu sou um homem da Igreja, proibido de dar vazão aos prazeres da carne. É horrível, garota, a tentação sucumbe a minha alma e eu não posso me entregar à ela. Por isso eu não podia lhe beijar, o beijo é o sinal mais íntimo do tesão. Mais que uma penetração, mais que um roçar de corpos, mais que tudo. Por isso eu fiz uma promessa a mim mesmo. Estabeleci uma meta, tenho um propósito maior que esse. Minha vida é cercada de dilemas e missões. Então eu prometi a mim mesmo que não deixaria o animal daqueles que não participam dessa vida morrer. Eu sinto o potencial do leão que mora dentro de você, eu sei por que está aqui. lhe dá paz, não é? Os seres humanos são assim, eles pecam e veem até aqui para se confessar. É um jeito de tirar o peso da mente para voltar a pecar. Por isso sua agonia, não pode voltar a pecar até ser perdoada, não é mesmo? – meu corpo estava derretendo. Toda aquela torrente de palavras atingiu meu peito como um raio de extrema potência. Como sem ao menos me conhecer ele poderia saber exatamente como estava me sentindo?
   - Você não me conhece. – aquela foi minha defesa, meu extinto de proteção. Não podia permitir, novamente, que um completo estranho tomasse conta de mim porque eu não era capaz de aguentar meus próprios impulsos sozinha.
   - Você está certa. – seu riso saiu nasalado e até meio cansado. – Mas eu posso ler seus olhos. Não é magia, truque ilusionista, nem nada disso. Nossos olhos falam, as vezes até mesmo gritam. Você parece ser o tipo de pessoa que não procura por confusão, ela que procura por você, não é?
   - realmente não está aqui? – eu já estava me considerando no colo da derrota. não estava ali, eu sabia, era só um jeito idiota de enganar o cérebro.
   - Por que eu mentiria? – ele tinha um olhar tão calmo, tão sereno.
   - Eu não sei de mais nada, cardeal. – se não estava ali e eu estava, não poderia perder a viagem. O tal Chielline teria que servir.
   - Mas, sobre o que você quer falar? O que quer confessar?
   - A gente não precisa ir no confessionário pra isso? Além mais, até onde eu sei, o fiel tem direito a anonimato enquanto se confessa. – estava com muito medo. Aquele homem seria capaz de fazer mal à mim? Além do mais, de maneira alguma eu poderia contar-lhe qualquer coisa que envolvesse , seria uma loucura colossalmente impensável. Pela primeira vez em várias tentativas frustradas, eu deveria agir racionalmente e ir embora.
   - Sou um cardeal, minha bela, os procedimentos não precisam ser os mesmos. Comigo as coisas são diferentes.
   - Quer saber? Eu não confio em você, acho melhor ir embora. – iria me levantar e rumar para casa, da onde nunca deveria ter saído desde que conheci o lenhador.
   - Não ouse. – seu braço prendeu meu joelho. Virei o rosto e olhei-o no fundo de sua alma. O fogo que estava queimando minhas entranhas possuiu as íris de cor marrom. Diabo!
   - Me solte, você não pode me obrigar a ficar.
   - Não posso obrigar, mas posso convencer. O que te faz querer ir embora? – deixe-me ver. Tudo? Tudo naquela história estava errado. O meio, o começo e o fim que nem havia chegado. Minha inconsequência estava me levando para um poço, sem fim. Até onde seria interessante levar meu corpo pelos rastros do desejo? Onde foi que deixei de ser a garota temerosa e com fé em Deus que não deixava o tesão simplesmente lhe aflorar à cabeça? Onde raios havia se enfiado a neta que rezava o terço com a avó todo domingo à noite? O que havia mudado? Olhei para trás no tempo, busquei por respostas. Eu me via perdida, sem explicação. Agora eu era uma garota impulsiva com fama de sem juízo que não sabia dizer não aos seus impulsos. O padre fora uma peça importante. Com sua sabedoria, com seu jeitinho fofo e carismático de ser ele me ensinou muitas coisas. Ele me ensinou sobre o pecado e sobre o perdão. Me mostrou que Deus não nos julga por sermos meros seres que tendem ao erro, ele me mostrou que eu poderia confiar nos meus sentimentos e seguir em frente. me perdoou pelo que fiz de errado e me permitiu errar de novo. E ah, eu errei de novo e de novo. Errei em cada vez que deixei encostar em mim, errei em cada vez que gozei gemendo no ouvido dele, errei em cada vez que saí de casa sem me preocupar com as consequências, errei em cada vez que masturbei pensando nele, errei em cada vez que o matei mentalmente, errei em cada santa vez. Meus mais novo erro era o Cardeal, a praia. O que eu deixei ele fazer a mim era extremamente íntimo. Se naquele momento eu deixei minha confiança nele, por que raios não deixaria agora? Eu só tinha um problema àquela altura. me ensinou a começar a errar, mas não me ensinou a parar.
   - Por quê? – minha alma estava gritando, eu queria entender. Não sei, no fundo eu esperava que alguém pudesse me responder, me explicar. Sonhava com o dia em que acordaria com um anjo sobre minha cabeça contando-me sobre os mistérios da vida. Ele faria carinho na minha testa, me acalmaria e então me diria a razão daquelas coisas que eu ainda não era capaz de entender.
   - Eu não tenho resposta, minha bela. – não sei como, mas o olhar dele tornou-se mais terno e de certa forma me atingiu com mais intensidade. – Mas, eu posso tentar. – suas mãos prenderam-se nas minhas. O homem me puxou mais para perto, minhas canelas roçaram no tecido social da calça que ele usava. Um toque mínimo e até idiota, porém, o suficiente para tornar aquele local um pouco mais abafado. – Existem muitas pessoas no mundo, como você sabe. Hoje em dia nossos objetivos são grandes, são muitos. Trabalhar, estudar, enriquecer, comprar. Houve um tempo que homens viviam para conquistar terras, lutar guerras que nem ao menos eram suas. Alguns homens dessa época tinham que cuidar da alma, ser responsável por estar perto de Deus, é assim que a humanidade funciona. Não digo a humanidade como um grupo de humanos, falo dela como essência. Esses homens precisavam comunicar-se com Deus, serem puros, castos e assim aqueles que iam para a guerra poderiam ser perdoados. É assim que nossa religião funciona até hoje. Homens como eu e como nos abstemos, fiquemos longe da tentação da carne para que garotas como você possam pecar. Foi por isso que Jesus morreu na cruz, não foi? Um sacrifício para que seus filhos não permanecessem no pecado, para que tivessem a esperança de um dia subir aos céus e viver ao Dele. – as palavras do cardeal começavam a iluminar minha mente. De certa forma eu me sentia mais leve, um pouco mais viva. As pessoas da igreja tinham feito uma espécie de lavagem cerebral em mim. Era uma vida negação, de abstinência a qual eu percebi não ter nascido para viver. E de repente é como se toda a culpa tivesse ido embora, se todo o medo simplesmente tivesse fugido. Estava pronta para me entregar. Foi então que percebi que eu sempre estive pronta, mas, havia um freio. Uma força contrária que me fazia parar e pensar, essa força era . Porém, ainda me restavam dúvidas, dúvidas as quais não me deixariam dormir em paz.
   - E você? Se você precisa se abster o que foi aquilo na praia? – o homem sorriu, mais uma vez.
   - No começo achava que eu jamais poderia pensar em uma mulher, que eu jamais poderia sequer imaginar sentir prazer. Foi com o tempo e com um homem que eu aprendi que as coisas não funcionam assim. Eu vi muita maldade, muitos erros sendo cometidos bem à minha frente. Foi então que me dei conta que não precisava deixar o meu animal morrer, eu poderia alimentá-lo. Foi por isso que houve a praia, eu entendo que meu corpo deve se livrar dos sentimentos da carne.
   - E isso quer dizer...
   - Isso quer dizer que, eu posso não poder ter prazer, mas eu posso dar prazer. É sobre isso que a vida na Igreja se trata. O prazer de perdoar, o prazer de ajudar, o prazer de amar e o prazer de uma garotinha perdida na vida que procura por respostas as quais eu não tenho. Eu não posso te ajudar como , mas há algo que eu posso fazer por você. Eu posso te dar prazer. – eu fechei meus olhos clamando para não cair ao chão, não havia sanidade mundo que pudesse me fazer aguentar aquilo. Qual era o plano? Trepar no banco da Igreja?
   - Aqui? – meu ímpeto fora pensar que aquilo era errado. Sujo, doente. E então todo o meu julgamento de certo e errado caiu por terra no momento em que sua mão direito soltou a minha e caminhou para a minha cintura. No momento em que sua mão esquerda soltou a minha e puxou-me pelo queixo. Acho que não tinha nada mais para falar depois de toda aquela conversa. Eu queria, eu podia. Uma negação constante não me salvaria daquela loucura. Por um momento eu pensei nele. Por alguns segundos a imagem de veio à minha mente e uma espécie de amargo invadiu meu corpo me fazendo freiar. Ele era meu freio, a única pessoa que olhava para mim e me impedia de fazer as coisas sem pensar. Ali naquele momento eu percebi a verdade. Os meus questionamentos não eram sobre o pecado, sobre o perdão. Não eram sobre a vida, sobre justiça, sobre poder ou não poder. Minha mente queria entender quando foi e como foi que ele se impregnou no meu corpo, nas minhas veias circulando pelos meus músculos. Eu queria entender o porquê do inferno de ter me apaixonado por , o lenhador frio, bruto e solitário. Um homem fechado, ríspido e ao mesmo tempo tão cheio de compaixão e carinho. Eu ainda estava arredia e meio aflita, ele pareceu perceber.
   - Ei, não entre em pânico. Não estou te obrigando, estou te fazendo uma oferta, você não precisa aceitar. A escolha é sua, se quiser você pode sair por aquela porta e voltar para sua. O tempo é seu. - A dúvida tornou-se maior. Eu queria tirá-lo do meu sistema? Eu queria botá-lo para fora? Só havia uma maneira de saber, eu precisa tentar. Eu precisava tentar, ali, naquele instante. Naquele banco, com aquele homem, sob o julgamento de Jesus Cristo.
   Minha boca pareceu desaprender falar. Fechei os olhos e respirei fundo por poucos segundos. “Coragem, ”, murmurei internamente. Quando voltei a ver, ele estava esperando por mim. Um último segundo de dúvida. Para acabar logo com agonia que estava me entorpecendo, eu me entreguei. Procurei pela mão dele que estava em minha cintura e fiz força sobre ela tornando o toque mais intenso. Essa era a resposta que ele esperava. O cardeal contraiu minha carne e eu respirei fundo entregando-me.
   - Você sabe como isso funciona, sim? – balancei a cabeça positivamente. - Eu não posso te beijar, eu não posso te penetrar e você não pode tocar em meu membro, mas, juro pelo Deus que sou devoto e oro todas as noites que seu prazer vai ser o mais intenso quanto eu puder te dar. – a saliva da minha língua molhou meus lábios e me colocar mais para perto dele. O homem encostou minha coluna no apoio do banco e pôs-se entre minhas pernas. As mãos fortes foram por baixo da minha roupa tocando minha pele. A diferença térmica quase me matou, até meu corpo começar a se consumir pelo calor. Eu comecei a adorar o jeito que ele me apertava e me arranhava. Tinha um quê de brutalidade misturado à ternura, um equilíbrio de forças.
   Ele respirava próximo demais da minha boca e naquele impulso imbecil procurei por seus lábios. Ele desviou rapidamente evitando o toque e guiou-a para perto da minha orelha. Ah, meu Pai, aquele ar quente que ele soltava ali iria me matar. O infeliz mal me tocava e eu já estava sentindo minha calcinha estupidamente molhada.
   - Você quer sentir minha boca? É isso? – sua voz saíra baixinha em um tom rouco, grave. Putamente excitante.
   - Eu quero. – a minha por sua vez era manhosa, delicada e quase inaudível.
   - Você sabe que eu não posso ter beijar, não sabe? – meu “sim” saiu tão baixo como a frase anterior. Ele então foi para o meu pescoço, passando a língua por ele, enchendo aquela parte com sua saliva. Procurei por sua nuca e forcei o contato, só fiquei satisfeita quando ele finalmente mordeu minha carne e arranhou a barba.
   - Eu preciso de mais. – a garotinha safadinha queria e precisava de mais.
   - Você vai ter tudo. – finalmente eu senti suas pernas tocando as minhas, seu tronco forte e definido roçando meus peitos. Eu arfei baixinho jogando a cabeça para trás. Foi então que suas mãos invadiram meus peitos que não estava vestindo um sutiã naquela noite. Os dedos atacaram meus mamilos, apertando-os de uma forma que me fez querer gritar. Ele então levantou minha blusa os deixando de fora. Os dois já estavam duros como o pau do cardeal. Eu via sobre a calça. Um volume não tão grande, mas incrivelmente grosso. Ao olhar praquilo delirei imaginando aquele caralho me invadindo, seria algo increvelmente delicioso. O cardeal percebeu minha carinha pervertida mirando seu membro e sorriu safado.
   - Ele não pode ser seu, mocinha.
   - Você tem certeza? – fiz um biquinho manhoso, quem sabe eu poderia fazê-lo mudar de ideia.
   - Total e absoluta. Só eu posso tocá-lo, senti-lo. Você só pode fantasiar. – eu mal conseguia olhar para ele. Era uma tortura muito maldita. Uma porra de um pinto na minha frente, em riste, duro, latejante e eu sem poder ao menos encostar. Ah, que desgraça.
   - Ele é grosso como eu imagino que seja? – o cardeal fechou os olhos recuperando o controle da situação. Por um momento eu senti pena dele. Passar por uma situação daquelas e não se permitir prazer próprio era terrível demais.
   - Vou te mostrar como ele é, já que você insiste em saber. – meus olhos se encheram de esperança, eu me empolguei. Seria agora que ele abriria o zíper e colocaria o pau para fora. Eu iria olhar, lamber meus lábios e enfiar minha mão antes que ele pudesse me impedir. Qual foi minha surpresa quando eu senti minha calça de moletom caindo por minha pernas. Um arrepio, um frio cretino correu minhas coxas. O homem lambeu os lábios ao me ver exposta. Minha calcinha branca, pequena e de renda mostrava meus pelos, marcava meu clitóris que estava rogando, pedindo para ser roçado. Eu sentia meu corpo tremer, minha pernas estavam fora de controle. Minha bocetinha estava acesa de um jeito doente. A porra do tesão que eu estava sentindo me queimava de dentro para fora. Ele estava me observando, comendo cada pedacinho do meu corpo com os olhos.
   Vagarosamente uma de suas mãos foi para o meu pé. Então com um dedo ele subiu cheio de paciência pela minha canela, senti sua curta unha arranhando meu joelho e depois correndo pela parte interna das minhas coxas. Mirou-me mordendo os próprios lábios quando o mesmo dedo puxou minha calcinha para o lado. O vento que atingiu meu clitóris quase me derrubou desmaiada no chão. Qualquer toque naquele momento me faria gritar.
   - Preciso que você me prometa que vai ficar bem quietinha. Se alguém nos ouvir nós teremos problemas, tudo bem? – eu iria responder, mas ele pediu silêncio colocando a outra mão sob sua boca. Respirei fundo esperando pelo toque e a impaciência estava me matando. Anda homem, mete essa porra aí. Mas ele fora paciente. Seu dedo circulava por cada cantinho da minha pele. Ia, voltava. Ele beliscava o canto da minha coxa, roçava com pouca força no meu grelo. Passava as unhas pelos grandes lábios e sorria satisfeito em ver o efeito que causava sobre mim. Me impulsionei para frente forçando o contato, mas ele mantinha-se firme em enrolar mais um pouco.
   - Você queria sentir minha boca, não queria? – eu faria uma loucura para poder morder aquele lábio fino e vermelho.
   - Eu ainda quero. – bitch, por favor. Seria impossível desistir da ideia de ter aquela língua rebolando na minha boca.
   - Não pode ser na sua, mas pode ser aqui. – agora sua mão inteira apertou todo o volume da minha boceta. Vibrei atordoada fazendo um esforço infernal para não gritar em alto e bom som. De repente sua vontade em ir devagar morreu, só deu tempo para buscar o ar ao sentir sua língua lá embaixo. Minha coluna perdeu o apoio. Retrai a musculatura de todo o meu corpo. Uma das mãos dele grudou minha coxa de uma forma em que marcas seriam inevitáveis. A outra encontrou um dos meus seios dando um tapa nele. PUTA MERDA! Ele procurou minha entrada com a língua. Mesmo sem tocar ali eu sabia, eu senti que o quão estava ensopada e vibrante. Ele engolia meu caldo, jogava a língua de um lado para outro sentindo minha boceta por inteira.
   - Shi! Quietinha. Não quero ter que parar de te chupar porque você não está se comportando.
   Quietinha? Como poderia ficar sem gemer numa situação daquelas? Eu queria gritar que nem uma maluca no cio. Queria estourar os tímpanos dele pedindo em alto e bom som para que ele me fodesse sem o mínimo de piedade. Mas ele não faria aquilo, ele não podia. A qualquer momento meu cérebro iria estourar feito um balão por ter de aguentar essa negação. Resolvi morder meu pulso. Aquela língua abençoada, literalmente, passeava por toda minha entrada. Ele então resolveu dar atenção especial para meu clítoris. Chupadinhas leves e curtas que foram ao poucos ficando cada vez mais insanas. Eu tinha um cardeal, um puto do Vaticano me chupando. De alguma forma eu me sentia especial.
   A porra estava maravilhosa. Daí, sem eu entender a razão, ele parou. Fiquei em desespero. Olhei para ele assustada quase chorando. Não, não, não seu filho de uma vadia, não pare! Eu pedi para você parar?
   - Cardeal... – minha voz foi raivosa. Como um aviso de que ele seria punido por interromper as coisas drasticamante.
   - Calma, respira. – minhas unhas estavam prontas pra grudar naquele rostinho perfeito. Eu sentia tanta raiva, uma vontade louca de voar nele e não sair dali até deixar aquele pau todo ralado de tanto rebolar. – Eu não vou fazer o que você está pensando. – Giorgio mostrou-se assustado em um primeiro momento. Depois de segurar minhas mãos para garantir que eu não o matasse ele voltou a sorrir. Os homens gostavam de sorrir ao me ver sem controle.
   - E o que é que eu estou pensando, cardeal? – arqueei meu corpo, sentando-me. Puxei o infeliz pelo colarinho da camisa alinhando-me bem de frente à ele. Com a buceta aberta, os peitos duros, o pulso cheio de marcas de dente e morrendo de tesão. O cardeal grudou cada um dos meus braços com força, deixando-me imóvel. Com a mesma intensidade me trouxe para frente quase colando nossas bocas, quase. Enquanto ele respirava com a boquinha aberta eu podia sentir meu próprio cheiro.
   - Está sentindo esse cheiro? – eu via o movimento de sua língua, os lábios se movendo com sutileza e paciência de uma forma provocante.
   - Seria impossível não sentir. – aquela merda não era nada justa. Tentei lançar-me sobre ele, mas fui impedida pelos braços que me seguravam.
   - Sabe o que é isso? É o cheiro da sua bocetinha. É o cheiro dessa sua xoxotinha extremamente molhada, encharcada pedindo pra que eu meta meu caralho bem no meio dela. Você quer sentir isso, não quer? Eu sei que você quer ser fodida, aberta. Eu sei que você está louquinha pra que eu meta sem parar. Você quer gemer alto, quer pedir por mais. Sabe, se fosse por mim eu beberia isso aqui na hora da missa ao invés de vinho. Minha boca está inteirinha possuída por você, pela sua excitação, pelo seu tesão. Eu juro que te colocaria de quatro aqui e agora no meio dessa porra e te possuiria com a brutalidade que você tanto deseja. Mas eu não posso. – ele soltou um dos meus braços. Foi rápido. A mão do cardeal foi meio sem jeito para sua calca. O zíper desceu em extrema dificuldade, deixando um pedaço de pano branco aparecer. Da maneira que pode ele puxou o tecido da cueca para baixo e trouxe o membro para fora. Aquela merda apontou para frente. Mordi meus lábios de um jeito maluco, provavelmente eles sangrariam. Se era enorme? Não, o de era maior. Mas aquele pedaço de carne dos infernos era grosso. Grosso como uma tora, cheio de veias, com uma cabeça mais vermelha que uma maçã madura. Eu não sabia o que falar, eu deveria saber? Eu queria chupar aquela porra. – Então, meu amor, vou te dar o que posso. – Um, dois, três. Ele alinhou um por um na frente de seu membro. Quatro dedos, quatro infelizes dedos. – Você é quem sabe, ainda quer sentir meu pau? – ele posicionou os quadro dedos à frente da minha entrada. Eram dedos demais, eu fiquei com medo. Aquilo ia entrar? Ia doer? Quer saber? Foda-me.
   - Mete! – eu não tinha um arsenal maior de palavras. Ele não esperou, não hesitou e nem falou mais nada. Foi tudo de uma vez. Minha espinha quase quebrou, aquilo tudo me invadiu e foi lá no fundo. Minha boceta estava realmente molhada pra caralho porque, duvido que aquilo entraria daquela forma se não estivesse. Então, ele tirou até que entrassem de novo. Indo e vindo, me fodendo, me arrombando. Ele me deixou gemer. Soltou meu outro braço e foi me masturbar. O cardeal sabia o que estava fazendo. Não ia demorar, eu ia gozar e escorrer naquele banco. Olhei para baixo, vi aquele pênis desesperadamente pedindo para gozar. Tirei a mão dele que estava me masturbando e coloquei em cima de seu membro.
   - Faça isso, você merece. – ele beijou minha testa e começou a organizar os movimentos. Chielline me fodia e batia uma punheta para si mesmo. Estava hipnotizada vendo aquela cena, não conseguia desgrudar os olhos dele se masturbando, deslizando as mãos sobre aquele poço de delícia. Mas a cena teve que se interromper. Senti minha vagina travar, uma sensação de rasgo. Um súbito arrepio. Era o orgasmo. – Ah, eu vou gozar! – saiu alto demais. Ele grudou a testa na minha metendo mais rápido, mais fundo. Continuou se dando prazer do jeito que podia e dava. Mordi meu pulso novamente para não berrar. Eu gozei, escorri, quase faleci. Enquanto eu gozava ele continuava metendo.
   Abri os olhos e o observei. Como ele era lindo mordendo aquela boquinha, grunhindo de forma rouca e com a testa franzida. Queria ajudá-lo, mas eu não podia. Ele procurou meu olhar e piscou para mim antes de gozar. A porra voou para cima e ele oscilou para frente se desmontando em mim. Aquele líquido branco e viscoso não parava de sair. Ele xingou no meu ouvido e deu um tapa no meu clitóris. Os dois estavam acabados, rindo.
   - Amém. – ele pronunciou. Que homenzinho herege.
   - A gente não tá ferrado? Devem ter nos ouvido.
   - O bispo não está, meu supervisor está enfiado longe daqui. Fique tranquila, se vista. – eu me recompus do jeito que dava. Mais loucura na minha vida, eu merecia um prêmio.
   Me levantei ajeitando a mente, arrumei minha postura, estalei as costas. Estava pronta para sair quando ele me chamou.
   - Qual o nome da minha fiel? – ele vestiu a cueca branca, mas aquela coisa dos deuses ainda estava dura. Eu vi a cabeça vermelha e manchada de gozo para fora. Depois dessa cena, definitivamente, eu iria para o inferno.
   - .
   - Certo . Depois de tudo que fizemos, quero que me responda. Encontrou aqui as respostas que procurava? – parei para pensar enquanto ele subia por fim o zíper. Eu queria entender . Queria saber os porquês sobre ele. Se eu entendi nosso “relacionamento”? Não. Se eu descobri o que ele sentia por mim? Não. Se eu entendia o que eu estava sentindo? Não. Eu não tinha merda de resposta nenhuma.
   - Não. – minha resposta fora de certa forma, triste. Dali eu pude tirar uma certeza, eu queria . O cardeal me enlouqueceu, ele me fodeu do jeito que pode. Quase tive um treco, foi uma coisa transcendental, mas, ainda não era daquele jeito. Do jeito do meu lenhador.
   - Sendo assim, , sinto muito. Vá procurar por elas onde você sabe que elas estão. Se precisar de mim, pra isso, de novo... – um sorriso animado estava em sua boca -... estarei aqui. Boa noite. – respirei fundo. Próximo destino: floresta.

xx

  Há tempos e eu não tínhamos uma noite daquelas. Jogando conversa fora, falando sobre bobagens. Tocamos em assuntos que meu cérebro tinha enfiado lá no fundo, numa gaveta empoeirada esquecida no tempo. Estávamos naquilo há cerca de uma hora. Antes disso, Nikolai estava por lá. Ele tinha ido avisar que sairia fora da cidade pelo dia seguinte e que voltaria pela noite e esperava conversar conosco para bolarmos algumas teorias. Fazer nossa própria teoria da conspiração sobre a morte dos pobres e as merdas que haviam acontecido.
   Depois de tantos anos curtindo a solidão, eu fiquei daquele jeito. Um zé mané, um babaca de primeira. Claro, eu sempre fui mais arredio e quieto. Olhando as coisas de longe, analisando antes de me oferecer ao risco. Acontece que com mais amigos por perto e com, bem, com aquela garotinha inconsequente minha guarda estava mais aberta. Acabamos chegando no assunto . Não sabia decidir seu eu gostava de falar sobre ela ou não.
   - A mãe, ? Você é mais sujo do que eu pensava.
   - Foi uma merda que aconteceu de um jeito errado. Eu fui idiota, ela foi abusada, as coisas se confundiram e acabou acontecendo. – eu me lembrava bem do dia. Eu sabia que a mulher estava se acendendo pro meu lado, era nítido, estava escrito na testa dela. Mas, eu juro que ir até adega e levar aquela cantada não tinha sido algo proposital. Quando dei por mim a boca estava grudada lá. Não foi bom. A mulher tentou me seduzir e eu até tentei me excitar, porém... não deu certo.
   - Ah sim, ela te beijou à força com todo esse seu tamanho. Para de querer que eu acredite nessa conversinha fiada. Você quis experimentar as duas, ahn? É um fetiche e tanto. – nada foi planejado, isso me matava. Eu odiava coisas não planejadas.
   - Mané fetiche, padre abusado. Me respeita, eu jamais iria ficar com a depois de ter dado uma bitoca idiota na mãe por causa de uma porra de um fetiche. Vai à merda.
   - Ah é? Ir à merda? Então me conta, senão foi por fetiche, por que foi? – ele me olhava com aquela cara de topeira mal intencionada. Eu odiava os olhos verdes dele, eles sabiam me ler. me conhecia como a palma da mão, não podia mentir para ele. Padre dos infernos.
   - Eu não sei, . Foi uma atração, um tesão. Quando dei por mim, tinha ido. – era estranho. Minha vida era totalmente organizada, eu tinha meus horários, minha rotina. Nada aconteceu fora do que eu havia planejado, eu tinha meu esquema. E dai ela apareceu e tudo saiu dos eixos. Eu parei de ser tão racional. E se tinha uma porra nesse mundo que me deixava puto para caralho era agir por impulso. Odiava pessoas impulsivas que saíam fazendo o que dava na telha sem medir os riscos. Isso me deixava arredio com , a garota era a personificação da impulsividade. E ah, outra mulher na minha vida sem responsabilidade, totalmente impulsiva que faz uma merda enorme e depois vem pedir perdão como se nada tivesse acontecido? Jamais.
   - E depois você quer dar bronca na menina como se ela fosse a única culpada na história? Você deixou continuar, deu linha. Não seja hipócrita. - Virou defensor dela agora? Que inferno, ! – eu sei, eu sei. Não era o homem mais responsável do planeta. Estava colecionando merdas, erros e coisas do gênero. Isso me incomodava e me assustava, eu sabia onde aquilo iria levar e eu não queria trilhar aquele caminho.
   - Nós conversamos, eu sei de coisas. Eu disse coisas. E não adianta fazer essa cara, não vou te contar nada. Segredo de confissão, sou um padre honesto. – o maldito tinha mexido os pauzinhos dele, isso era inegável. tinha podia interferir na minha vida, ele tinha poder para isso. Admito que eu tinha uma curiosidade imensa de saber o que os dois já tinham falado sobre mim, entretanto, acho que eu morreria sem saber.
   - Você é um padre filho de uma égua, isso que você é.
   - , meu amor. – olhei torto para ele. Toda vez que me tratava daquele jeito era sinal de sermão vindo a tona. – A garota tem algo por você, um sentimento meio confuso e perturbado, mas tem. E eu sei que você tem por ela. Eu te conheço lidando com mulheres, sei seus truques. Sei o que você quer dizer com cada coisa que faz. Você tentou mandar ela sumir, mas não conseguiu nem mantê-la longa e nem conseguia ficar longe. Pare de se negar isso, o fantasmo Henrietta já morreu.
   - Não ouse citar esse nome dentro minha casa. Eu vou morrer com o rancor dessa pessoa me consumindo, não me tire esse direito. – Henrietta, meu primeiro amor. A namoradinha que teve o melhor de mim. O romântico, atencioso, gente fina. Nós transamos, ela engravidou. Disse que o filho era meu. Eu idiota, tapado, apaixonado a pedi em casamento. Ela negou, sumiu no mundo. Voltou um ano depois com a criança em seus braços, sozinha e fodida pedindo por ajuda. Eu vi o moleque e me derreti. Ainda daria uma chance à ela. Então o moleque perguntou pelo pai. A mãe tentou disfarçar a história. Resumidamente? O filho era de outro, outro cara, um ricaço. Um ricaço que não quis ela. Apenas um dos quais ela me traiu enquanto estávamos namorando. Ela disse que foi um impulso. Seis impulsos dos infernos. Ela precisou de quatro testes de DNA para descobrir quem era o pai. Quando o cara não quis nem saber, ela resolveu voltar para o corno. Fora a primeira vez que mandei uma mulher à merda na vida. Fiquei com pena da criança e por isso, apenas por isso eu a levei até a casa dos avós do coitado do menino. Ele ficou com os avós; cresceu bem e tinha tudo que precisava. Com esse peso nas costas eu não viveria. Depois disso, fui ao médico e fiz uma cirurgia. Do meu pinto não sairia gozo para engravidar ninguém.
   - Isso não é saudável. Mas tudo bem, nós temos essa discussão há 22 anos, não é hoje que você vai mudar de ideia.
   - Isso, esse é o que gosto. E perdão amigão, mas eu preciso me deitar. Essas conversas com você me fazem pensar e eu não quero pensar. Vou deitar antes que alguma crise de consciência me invada.
   - Certo campeão, vou pegar uma água e ir dormir. – foi se levantar, mas não. Foi pego de surpresa assim como eu com a batida na porta. Tenho certeza que já citei o fato das visitas terem ficado cada vez mais abusadas. Eu odiava visitas, aquilo também não iria mudar.
   - Mas que diabo, visita uma hora dessas?
   - , será?
   - Não, eu duvido. Vou ter que ver com meus próprios olhos. – fui até a porta. Qual foi minha surpresa, deveria ter suspeitado.
   - Oi, por favor, não me xingue. Não brigue, não me dê bronca. Preciso falar com e fui até a Igreja e ele não estava lá. Deduzi eu que ele estaria aqui e eu preciso muito, muito, muito falar com ele. Por favor, me deixa entrar. – ela falou tão rápido que me deixou tonto. previu que eu iria surtar e se pôs pelo meio puxando-a para dentro.
   - Vai pra lá, deixa eu conversar com a garota.
   - Ah sim, certo. Agora eu nem mando mais na minha própria casa. Ótimo. Vou me enfiar na casinha de cachorro, quando precisarem de mim é só chamar o “Rex”.

xx

  - Pode começar, mocinha. Se veio até aqui falar comigo é porque fez o que não devia. – sim, eu estava julgando a garota. Eu me sentia responsável por ela. fazia todos ao seu redor terem essa sensação de que tinham de protegê-la e ajudá-la.
   - , não sei nem pode onde começar. – ela parecia bem envergonhada.
   - Que tal pelo começo? Não precisa ter medo ou vergonha, não vou brigar, certo?
   - Certo. – ela parou e tomou ar. O que estava por vir era grande. – O dia que eu discuti com por ter, você sabe, feito coisas com a minha mãe eu fui pra praia. Queria esvaziar a cabeça. Lá eu encontrei esse homem. Nós fizemos coisas também. – a garota tinha uma formiguinha lá embaixo, com certeza. – Depois de tudo eu fiquei confusa. Fui até a Igreja porque precisava falar com você. E , isso fica confuso. – ela abriu um riso constrangido.
   - Me conta isso de uma vez. Eu sou padre, mas eu também sou humano e a curiosidade está corroendo minhas entranhas, então conte logo.
   - Estava tudo vazio, silencioso. Então apareceu um padre.
   - Um padre? – não podia ser um padre, eu era o único padre. E ela também pelo visto não era o bispo, pois ela o conhecia. Oh sim, eu sabia quem deveria ser. – Não era um padre, provavelmente era Chielline, o cardeal que está aqui por esses dias.
   - Sim, era ele. E você sabe quem é ele?
   - Claro que eu sei, eu o conheço há anos.
   - Ele é o homem da praia, . – me segurei para não tombar para trás. Chielline havia transado com . Mas, por Deus!
   - Você está me dizendo que transou com o Cardeal Chielline na praia? – um servo de Deus metendo a piroca nas menininhas? Não tava certo, celibato era algo sério.
   - Não, nós não transamos, nem nos beijamos.
   - , seja mais direta e objetiva, por favor. – meu cérebro tinha um nó não desatável em seu topo.
   - Ele disse que não podia me beijar ou transar comigo. Nós começamos a conversa na Igreja, ele disse que poderia me ajudar. E então nós acabamos ficando de novo. – o sentido havia se escondido embaixo da cama. Eu teria que pesquisar melhor sobre isso depois, não era nada certo.
   - Mas se vocês não fizeram sexo e não se beijaram, como ficaram de novo? Eu não estou entendendo isso. Puta merda.
   - Ele disse que não podia me beijar ou me penetrar com o pênis. Mas, que podia fazer outras coisas... – doente? Herege? Sacrilégio? Não conseguia decidir.
   - Quais coisas, ? Você está me matando.
   - Com detalhes? – a vergonha corou seu rosto por inteiro. A menina aprontava de tudo, mas, na hora de contar ela sentia vergonha. Pensando bem, era plausível, é nossa intimidade. É difícil contar aos outros, principalmente quando era uma merda tão grande como aquela.
   - Eu não vou te julgar, nem sou pervertido pra usar essa história depois para outros fins. Pode ir fundo nisso.
   - Tudo bem, vou falar rápido, assim dói menos. Chielline me masturbou e fez sexo oral em mim. – ela mordeu os lábios, a postura decaiu. Oh sim, aquilo era pesado. No banco da minha Igreja, agora eu sei como se sentia quando invadiam a floresta dele.
   - Com qual finalidade? Você foi lá pra se confessar e... isso?
   - Pensando bem eu também não sei. Só sei que no fim de tudo, ele me perguntou se o que nós havíamos feito tinha matado minhas dúvidas. Eu disse que não. Então ele me disse para que eu fosse procurar as respostas onde eu sabia que elas estavam e aqui estou eu. – foi aí que eu entendi tudo.
   - Você foi até lá pra falar sobre . Eu não estava e então ele apareceu. Daí você decidiu fazer coisas com ele para ver se conseguia deixar nosso amigo pra lá e viu que não conseguiu. Por isso está aqui, certo?
   - Você é único, . – ela se jogou em mim me abraçando. Foi estranho, mas eu devolvi o abraço. A garota estava apaixonada justo por , o ser mais complexo do universo. Sentia uma leve pena dela.
   - Não é comigo que precisa conversar, é com ele.
   - Você sabe como ele é.
   - Eu sei, mas chegou a hora de parar com essa frescura. Rasgue o verbo, fale tudo. Conte essa história.
   - Mas, , ele vai ficou todo ciumento quando ficou sabendo do Manterfos que é um garoto, imagine sabendo do cardeal. – comecei a rir e ela me olhou estranho. também não era nenhum santo.
   - fez uma festinha aqui esses dias, vá por mim, ele não está em posição de brigar. E nem há por que, vocês não são namorados nem tem um relacionamento. Então se quer que esta história acabe, é melhor resolver isso logo.
   - Ele trouxe mulheres pra cá? – ficou bravinha. Sim, ele havia levado. Três para ser mais exato. Fui até dar uma volta pra não presenciar barulhos. A noite foi boa, quando cheguei tinha garrafa de cerveja pra todo lado, um de cueca deitado no sofá todo arranhado. Mas nenhuma mulher. Ele não deixava elas ficarem na casa.
   - Vou respirar fundo e tentar ignorar isso. Ciúmes dói. – eu sabia muito bem o quanto doía. Me tornei padre por uma ex, era meio especialista no assunto.
   - Agora, vai por mim. Eu já conversei com ele sobre o assunto. Converse, isso tem que se ajeitar. Vocês vão dar um jeito.

xx

  A cerveja não estava tão gelada quanto eu gostaria, talvez meu corpo estivesse quente demais. Me deixaram isolado na cozinha sem muitas opções. Essa era minha vida, não decidia nada mais por mim mesmo. Três batidas leves no batente da porta. Já sabia quem era.
   - Senta aqui. – estava envergonha de uma forma estranha. Seu olhar baixo, suas mãos cruzadas, o que vocês fez, garotinha?
   - Oi. – era tímido, suave. Eu reconhecia aquele rostinho que parecia indefeso, mas não era. tinha uma vontade própria. Um ímpeto destrutivo e forte. Eu queria fazê-la parar, por algumas rédeas. Mas sempre falhava.
   - Se acertou com ?
   - Sim e ele me disse para vir até aqui falar com você. Isso... – apontou para mim e para ela na sequência -... não está certo, é confuso demais.
   - Eu sei. Mas sinceramente, não sei onde isso... – fiz o mesmo movimento que ela -... vai dar. É confuso demais, não quero ter que escolher entre dor e prazer.
   - , juro que eu tentei deixar pra lá. Eu me envolvi com outra pessoa, de um jeito maluco e insano... – tive que interromper. Meu corpo inteiro começou a queimar, não estava ouvindo aquilo. Eu queria bater a cabeça na parede, odiava o sentimento de posse. Ela não era minha, não tinha direito de proibi-la de fazer nada. Mas, mesmo assim, aquele sentimento ruim tomava conta de mim. Eu pegaria meu machado e iria até os confins do inferno perseguir o maldito que encostou nela e foi aí que a ficha caiu. Não podia fazer isso, não cabia à mim, porque eu nunca dei à ela a opção de ter a mim e ser só minha.
   - , juro por tudo que estou me controlando para não te xingar, para não brigar e falar alto. Eu quero ser uma pessoa melhor. Eu não mando na sua vida, não tenho direito sobre você, só me conte isso direito. – falei tudo com os olhos fechados, era uma defesa do meu corpo.
   - É confuso, tudo bem? Conheci-o no dia que discutimos. A gente teve contato na praia, contato... sexual. Hoje também, antes de vir pra cá. É bem doente, porque foi na Igreja. Foi com o tal cardeal Chielline. – fechei os olhos com mais força. Grudei as minhas mãos nas minhas próprias pernas e segurei como se fosse arrancar um pedaço fora.
   - Você fez sexo com um cardeal na Igreja?
   - Olha, é confuso, ok? Eu sei que é bem doente. A gente não fez sexo, mas fez coisas sexuais. O que importa não é isso. Nem adianta surtar porque me contou da sua festinha. A questão é, fui até lá porque precisava esclarecer coisas na minha cabeça. Coisas sobre você. E depois do orgamos maravilhoso que ele me deu, eu percebi que... – ela parou de falar. Respirou tão profundamente que chegou a roubar o meu ar.
   - Sim, eu fiz uma festinha. Fazia tempo que não encostava numa garota sem ser você. Foi brutal, animal. Mas foi vazio, . Eu sei onde você quer chegar, eu juro que sei, só que, eu não sei falar sobre isso. Eu não sinto essas coisas há muitos anos. Não sei lidar direito.
   - ... – ela segurou minhas mãos e me fez olhá-la, lá no fundo, intensamente - Eu não sou forte o suficiente. Ao mesmo tempo em que eu não quero vir até você, eu quero. É completamente maluco. E então quando eu venho, você tem esse feito. Eu sinto que você não me quer do jeito eu quero, como eu posso lidar com isso sem enlouquecer. – não era justo, sei que não era. Não podia iludir aquela menina e nem enganar à ela sobre minhas intenções. Minhas intenções, meu lado racional não queria se apaixonar e nem ao menos se relacionar com alguém. Esse era o meu racional, que andavam bem fraco. A minha alma, sentia totalmente o oposto.
   - Já foderam minha vida uma vez. Sei que você tem nada com isso, não foi você, não é culpa. Eu fico me controlando e te controlando para que nada saia do eixo, mas já saiu não é? Não sei o que falar, . Eu sinto por você, algo que eu não sei o que é. Eu não entendo, eu não entendo dessas merdas sentimentais. Mas eu não consigo me desligar, não quero ficar longe. Só de pensar que você deixou outro homem encostar em você ... me dá vontade de matar.
   - O que a gente faz? – era um pedido de socorro.
   - Eu nunca pensei que eu fosse precisar de alguém você e eu nunca sonhei que eu fosse precisar de alguém com você. Eu não quero me apaixonar, . – Chris Isaak. Wicked Game. O tema da minha vida. Ela iria falar, mas eu interrompi. – Que jogo malvado de se jogar, fazer eu me sentir desse jeito. Que coisa malvada de se fazer, deixar eu sonhar com você e que coisa malvada de se dizer, que você nunca se sentiu desse jeito. , que filha da putisse você fazer eu sonhar com você. Eu não quero me apaixonar, mas... – eu vi uma lágrima descer pelos olhos dela. Pulei aquela porra de mesa e a abracei. – Olha pra mim. – aqueles olhinhos malditos estavam me dando uma coisa ruim no estômago. – Eu não quero me apaixonar...
   - , eu ...
   - Não, não fale nada. Eu já sei. Olha, Susi me ligou pouco antes de você chegar. Seus pais saíram para jantar e não vão demorar a voltar. Ela queria saber se você estava comigo e eu disse que sim, mesmo com você não estando. iria dormir e sem ele saber eu iria procurar por você e te trazer pra cá, inventar uma desculpa pros seus pais. Eu iria te trazer pra cá e dar umas palmadas nessa sua bunda. E aí, dorme aqui?
   - Você não vai brigar, certo? Só palmadas? – a safadinha ria. Era bem a cara dela.
   - E outra, eu ronco e roubo a coberta de noite e não se assuste se eu te derrubar da cama, ok? Não sou acostumado com isso. Vem, você precisa descansar.

Chapter XV

  Anos.
   Anos sem uma mulher gostosa e safada. Anos sem sexo selvagem. Renovado, eu era um novo em folha.
   Era muito cedo, minhas meninas ainda dormiam. Sábado de manhã costumava ser um dia cheio no açougue. Minha sorte é que além de boa de cama, Ana era excelente com clientes. Eu mal consegui segurar o sorriso ao vê-la do meu lado me ajudando. Sem cara de nojo ao pegar uma peça de carne. Sem olhar frescurento ao empacotar peixe. Não podia ter pedido por algo melhor. A desgraçada da ex-esposa nem ao menos chegava na porta do estabelecimento. Finalmente uma vida feliz.
   Nós não estávamos em um relacionamento oficial. É como se fosse um acordo mútuo. Eu a queria e ela me queria. Uma combinação infalível naquele momento. Ana trazia adrenalina para minha vida.
   - Mal começou o expediente e seus olhinhos já estão pedindo arrego. – se aproximou de mim. Os cabelos ruivos me deixavam hipnotizado.
   - A noite não foi muito boa, você sabe. Eleanora passou a noite toda vomitando... mal dormi. – a mulher sabia como me desequilibrar. O sexo era selvagem, o boquete um primor, mas havia um bônus incrível. Ana se preocupava e cuidava das minhas duas filhas. Essa condição por vezes me excitava mais que vê-la de cinta-liga.
   - Eu sei, meu amor. Mas agora ela já está bem melhor.
   - Obrigado por ter me ajudado. Elas sentem falta de uma figura materna e eu não saberia ser tão sensível quanto você.
   - Não precisa me agradecer, seu boboca. Acho que você deveria descansar, já vendemos bastante. Por que não baixar as portas?
   - Não posso me dar esse luxo, Ana. – a ideia era tentadora. Eu fatalmente faria isso se minha digníssima ex-mulher não estivesse tentando me sugar de todas as maneiras.
   - Você está tão cansado, . Precisa de uma injeção de ânimo. – algo no tom de Ana estava estranho, ela parecia querer passar uma mensagem subliminar.
   - Daqui algumas horas nós já podemos fechar e... – Ana tinha um dos lábios mordido. Raios, mulher, o que você quer aprontar.
   – Ana, no que você está pensando?
   - Nada demais, meu amor. Só um jeito de deixar seu dia de trabalho mais prazeroso. – por Deus. Meu cérebro não funcionava corretamente.
   - Ana... – não adiantou o aviso medroso. Ela pôs suas mãos em meu colarinho puxando-me para um afago.
   - Não tenha medo, meu açougueiro. Sei muito bem o que vou fazer. – sua boca estava próxima demais da minha. Impulsivamente procurei pela porta para certificar-me que não tínhamos clientes vendo a cena.
   - Sei que sou uma pessoa diferente agora. Mas sexo no balcão... Não me parece coerente. – meu comportamento não era digno de um homem e sim de uma franga, mas tomada as proporções, eu possuía certa razão.
   - Quem falou em sexo, ?
   - Não estou te entendendo, mulher. – aquele sorrisinho abusado estava de volta. Ela tramava algo realmente pervertido. Ao mesmo tempo em que daria um dedo para descobrir do que se tratava, me sentia meio arredio.
   - Confie em mim, . Você não precisa fazer nada, o serviço é por minha conta. – eu iria responder. Eu iria dar um jeito de baixar as portas para que aquilo terminasse na cama. O problema é que não seria do meu jeito, seria do jeito dela.
   Um pequeno momento de distração da minha parte fora o suficiente. Ana já aparecia ajoelhada à minha frente com as mãozinhas abusadas em minhas coxas. Fui repreendê-la e levei azar. A mulher deu um tapa leve, porém dolorido, nas minhas bolas. Certo, não era uma opção teimar.
   Tudo teria que ser rápido e ela sabia disso. Abaixou meu zíper sem cerimônias e nem fez questão de me livrar das calças. Eu não estava totalmente duro. Ana faria com que esse pequeno problema fosse findado. Suas mãos atingiram meu pênis ainda semi flácido e soube o que fazer. A mágica movimentação de vai e vem já seria o suficiente, mas ela desejava por mais. A língua cheia de saliva mergulhou-se em meus testículos. Naquele momento eu percebi que se algum cliente chegasse... estaria na merda.
   - , meu amor. Preciso que preste atenção na porta. Não pode deixar os clientes perceberem. – Ana deixou minhas bolas e eu quis repreendê-la por isso.
   - Mulher, você está brincando com a minha cara. – ela abriu aqueles dentes rindo da minha cara. Logo abaixou o rosto e passou a concentrar-se no meu pau. O ritmo estava cadenciado, levemente o tesão tomava conta de mim. Até o momento em que o sininho anunciou um cliente. Ana decidiu que seria mais divertido se aumentasse o ritmo. Daria em problema aquela porra. Ou melhor, daria em porra aquele problema.
   - Bom dia. – procurei pelo dono da voz. Assustei-me por um momento. O homem não era conhecido, com certeza, era algum forasteiro. O terno alinhado, os óculos de sol de marca e o cheio de perfume de alta classe realmente indicava que ele não era da área. O fator destoante era seu sotaque sueco. Um sotaque natural de um verdadeiro sueco.
   - Olá, bom dia. Em que posso ajudá-lo? – por aquele momento eu ainda podia controlar minha voz, não duraria muito.
   - Prazer, me chamo Dolph Lundgren, mas sinta-se à vontade para me chamar de Dolph. Gostaria de saber se você pode me ajudar com algumas informações. – seu sorriso era verdadeiro e os dentes realmente brancos. O homem de quase dois metros de altura e físico atlético me estendeu a mão em forma de educação. Eu teria estendido a minha sem parecer uma velho caquético e trêmulo se Ana não tivesse feito o favor de enfiar meu pinto inteiro na boca. – Você está bem? – seu olhar parecia preocupado e desconfiado.
   - Sim, perdão. Minha noite não foi das melhores. Mas diga-me, que informações precisa? – minha concentração se tornava cada vez mais ridícula. Ana acelerou o sexo oral em proporções muito perigosas. Naquele ritmo eu gozaria antes que o homem fosse embora.
   - Procuro por um homem de nome Nikolai. Você o conhece? – Nikolai? Ele procurava por Nikolai? O homem era um mistério até para mim que morava na cidade desde sempre, como raios ele descobrira Nikolai? E o que queria com ele? Teria pensado melhor se Ana não estivesse me masturbando enquanto mordia minhas coxas.
   - O nome não me é estranho. Mas não estou certo de se estamos pensando na mesma pessoa. Você poderia... porra! – estava difícil responder, agir, pensar e até respirar. O tal Dolph me encarou com um semblante estranhado tentando entender.
   - Tem certeza que está bem? – a resposta iria sair não fosse o ritmo frenético da masturbação de Ana misturado com lambidas e chupadas no meu saco. Eu iria esporrar em Ana nos próximos 10 segundos e seria impossível controlar o impulso. Dei um soco no balcão para não grunhir. O gigante loiro deu um passo para trás arredio. Seu olhar de preocupação e estranheza tornou-se safado quando Ana emergiu limpando a boca.
   - Bom dia. – Ana pareceu gostar da brincadeirinha. Sorriu para o homem e sumiu indo até a saída de trás.
   - Vejo que tudo estava realmente muito bem. – seu tom era sarcástico.
   - Foi mal por isso. Tentei convencê-la do contrário, mas convenhamos, não dá para negar quando é a cabeça de baixo que começa a pensar. – me sentia envergonhado, embaraçado e extremamente satisfeito. Ana estava certa, gozar havia me feito bem.
   - Não estou aqui para lhe julgar, meu querido...
   - . .
   - Certo, . Quanto à pergunta anterior, não conheço o homem muito bem. Estou aqui à negócios e necessito falar com ele. Quanto ao pequeno serviço aí embaixo, não se preocupe. Já passei por isso. – ele escondia detalhes. Se Nikolai estava ali escondido não seria burro para entregar seu esconderijo.
   - Sinto muito, realmente não posso ajudá-lo. A cidade é pequena e moro aqui desde sempre, se houvesse um Nikolai eu o conheceria. – mentir era a melhor opção.
   - Tudo bem. Imaginei que seria uma tarefa difícil. Muito obrigado por seu tempo e boa sorte com a moça abusada. – nos despedimos e o vi entrar em seu carro. Minha cabeça ficou queimando tentando entender. Teria que fazer uma visita na floresta para enturmar o restante da galera sobre a conversa. Teria.
   Quando olhei novamente para a porta vi meus dois belos moços, e .
   - Bom dia, meu lindo. – jogou algumas sacolas no balcão.
   - A que devo essa honra?
   - Nós viemos amar nosso açougueiro, oras. – o lenhador tinha um jeito muito fingido de falar quando queria.
   - Não é bem assim, . – logo rompeu colocando mais pacotes no balcão.
   - Eu sei que não, . Esse aqui não faz essas coisas do nada. – sabia que gostava realmente de mim e que éramos como irmãos, mas também sabia que não era de seu costume desmanchar-se em amor.
   - Assim você realmente me ofende. Não seja ingrato.
   - Então me conte o real motivo. Vamos lá, quero ver. – minha experiência me dizia que não era simplesmente... carinho.
   - e eu decidimos vir até aqui, tomar café da manhã com você. Não é fofo?
   - Não seja audacioso, lenhador de uma figa...
   - A real é o seguinte. Como a casa dos pobres está fechada não tem ninguém pra usufruir da comida. Algumas coisas iriam estragar e a gente decidiu vir partilhar com você. Fizemos mal?
   - Não, , você nunca faz mal. É esse peste dos infernos que não presta. – apontei o dedo para que se fazia de ofendido. - Você é fingido demais.
   - Nos lembramos de vocês, não é o suficiente? – o bico que não combinava com o tamanho dele. Cerrei meus olhos para ele e discretamente procurei pela sacola que emanava cheio de bolo de laranja. – E antes que eu me esqueça. Aconteceu algo estranho hoje, precisamos nos reunir pra conversar. A coisa é séria.

xx

   e eu saímos do açougue de pandu cheio. Depois de muito fazer drama pela nossa “falta de consideração”, todos enchemos a barriga de pão, bolo e outras guloseimas saborosas.
   ficou por lá ainda atendendo algumas pessoas. Ao sair tentava consolar meu amigo padre que lamuriava o fim da sua casa dos pobres. Realmente era uma derrota que deveríamos superar, mas que doía. Um ataque tão sujo, completamente fora do planejado que foi de uma selvageria e crueldade sem tamanho. Nenhuma das vítimas merecia. também não.
   O sol queimava minhas vistas. Por um momento eu imaginei fantasiar uma miragem visual. Mas não, era real. Um homem um pouco mais baixo que eu descia o caminho da Igreja. Seu vestuário era diferente assim como seu caminhar. A batina preta de botões vermelhos não era uma paisagem normal.
   - , quem raios é aquele? – apontei em discrição com o dedo. Nunca tinha visto o homem.
   - Ah , se você soubesse ... – a fala de carregou-se daquele tom safado que só ele sabia fazer.
   - Não me diga que é quem estou pensando. – tinha pegado um cardeal, não? Um homem novo na cidade... mas claro, só poderia ser o infeliz. Queria olhar bem na fuça dele e analisar. No universo paralelo da minha mente eu meteria fundo uma bala no pinto dele.
   - É exatamente ele. Está a fim de dar uma encarada no sujeito? – eu sabia que desejava atear fogo na situação.
   - , . Não incite algo que você não vai dar conta depois.
   - Acho que você não tem mais escapatória. Ele vem vindo para cá. – quando mirei novamente o horizonte o vi mais próximo. Seus passos caminhavam para a nossa direção. Que belezinha. Já que era pra ser, que fosse. Quando tive visão para ver seus traços de perto comecei o julgamento. Ele parecia ser uns 10 anos mais novo que eu. Os cabelos castanhos eram ondulados e na altura do ombro. A pele um pouco mais queimada e um sorrisinho... sujo. O infeliz era gringo, seu rebolado era cheio de um molejo não sueco. Ele não possui músculos como eu, seu tipo era mais franzino, contudo o cara tinha um certo charme. Talvez seu trunfo fosse a lábia.
   - . Que felicidade te encontrar, estamos sentindo sua falta. – o tal abraçou em empolgação que retribuiu o mesmo gesto.
   - Chielline, vocês me tiraram da Igreja e nem ao menos me procuraram, acho que isso não é sinônimo de saudade. – era pra ter sido brincadeira, mas eu percebia a alfinetada subentendida ali.
   - Não seja por isso, meu caro. Eu tenho uma proposta para você. – Chielline, que pelo sobrenome deveria ser italiano, notou minha presença e sorriu gentilmente. – Perdão pela minha falta de educação, me empolguei com o padre. Giorgio Chielline, ao seu dispor. – sua mão estendeu-se na minha direção. Fiz questão de dar um aperto mais forte que o normal para demarcar o território. Percebi sua cara de desconforto e um breve sorriso surgiu em mim.
   - Oh! Seu amigo é forte, . – riu percebendo que havia sido de propósito.
   - Esse é , Giorgio. Amigo meu que está me abrigando nesses dias. Mas então diga, que proposta é essa?
   - Olha, nós não esperamos que você queira voltar a morar na Igreja. Sei como são essas coisas, apesar de que o bispo está realmente chateado com a sua ausência. Enfim, apesar de tudo eu, Armand e o bispo pensamos em rezar uma missa em homenagem aos mortos e... Bem, você é o mais indicado para isso. – recuou. Deu um passo para trás meio... confuso.
   - Chielline, uma missa à essa altura? Agora que a ferida está cicatrizando. Eu? Não sei.
   - Você é a referência dos que restaram e é querido por todos. E só você sabe a dor de ter perdido o que perdeu. É só uma proposta, você não é obrigado a aceitar.
   - Ei, vai te fazer bem. – aproximei-me de e o abracei pelos ombros. O Cardeal safado tinha uma boa proposta, era realmente o mais indicado.
   - Pode ser hoje? Se eu tiver que pensar por mais tempo é provável que desista.
   - Sem problema algum, . Fico feliz que tenha aceitado. Se permite, tenho alguns problemas a resolver. Tudo estará pronto para você, é muito bom tê-lo de volta. – o tal Giorgio ria, seu sorriso iluminava mais que o sol. Quanto fogo. Sujeitinho abusado.
   - Viu, meu chuchu, o dia também pode ter felicidades.
   - Eu sei bem por que você acha que foi boa ideia. tem razão, você é muito fingido. – poderia ter um motivo a mais, poderia estar envolvida, só poderia.
   - Você realmente sabe me ler, padre.
   - Sim, eu sei. Você me quer perto da Igreja, perto de Chielline para saber se ele e tiveram ou terão algo mais. Você não presta.
   - Pense nisso como um acordo bom para ambas as partes. Você reza sua missa e eu fico de olho na garota. Não há mal tão grande nisso, há? – me encarava com os olhos cerrados. Ele desaprovava totalmente a minha conduta.
   - Vamos pro seu muquifo logo, preciso preparar alguma coisa para a missa.

x

  Pai do céu, como eu estava com fome. Com a viagem dos meus pais acabei triplicando o tempo que passava na Igreja. Infelizmente, não estava por lá e graças à isso acabei por me tornar subordinado do bispo. Descobri então que a Igreja encontrava-se em uma espécie de caos. Na brincadeira eu finalmente entendi o princípio físico da entropia: todo sistema tende ao caos.
   Por mais que eu arquivasse os documentos, organizasse os objetos e arrumasse qualquer coisa que necessitasse... tudo aparecia fora do lugar logo depois. Pelos céus, eu precisava de 50 quilos de batata.
   - Encontrou os documentos que Armand te pediu, jovem?
   - Sim, entreguei para ele pela manhã. – nem ao menos olhei para quem falava comigo. Estava concentrado demais nas minhas tarefas.
   - Manterfos, acho que trabalhou bastante por hoje. – Derek, o bispo, me olhou sorridente. Acho que ao notar minha testa ensopada, minhas mãos sujas e a minha respiração descompassada ele percebeu que eu precisava de descanso.
   - Bispo, achei que nunca diria isso. Estou morto.
   - Você pode ir se quiser. Mas acabei de receber uma notícia que talvez faça com que fique. – rolaria uma orgia na Igreja ou o bispo armava uma para o meu lado?
   - Fale mais à respeito, por favor. – cruzei meus braços esperando pela proposta.
   - irá rezar a missa hoje. Você é o coroinha predileto dele, acho que ele ficaria feliz com sua presença depois de todos esses dias.
   - ? Ele está de volta? O senhor tem certeza? – como eu sentia saudades daquele padre. Ele era o único. Insubstituivelmente insubstituível. Havia tantas novidades que eu queria contar para ele, conselhos que gostaria de pedir. Ele sempre me ouvia. Sem julgamentos, sem sermões.
   - É isso mesmo. Chielline disse que ele aceitou a proposta de rezar a missa hoje, não sei se ele vai voltar a ficar por aqui, mas... se você realmente sente falta dele, seria bom ajudar, não? Quem sabe nós conseguimos convencê-lo?
   - Eu topo. Eu fico. Só preciso tomar um banho antes da missa. – meus dentes estavam todos para fora. Era uma excelente notícia. Faria aquele esforço pelo padre .
   - O banheiro que você costuma usar está desativado. Pode usar o do quarto de . O que você precisa está por lá. Tente descansar um pouco, ainda temos algum tempo.
   Derek saiu e rapidamente finalizei o que estava em minhas mãos. A empolgação mascarou meu cansaço.
   A água quente caía com total pressão do chuveiro. Algo descomunal, se existia uma coisa no mundo que me descansava era um bom e demorado banho fervente. Me despi de todas as roupas e quando encostei meus pés no chão do boxe percebi que estava sem toalha. Que maravilha.
   Saí tremendo de frio. Mesmo com todas as janelas fechadas e com o aquecedor a temperatura parecia mínima. Claro, o fato de eu estar com meu pau balançando e com os testículos desprotegidos contribuíam para essa sensação. Comecei a procurar pelo guarda roupas e... nada. Gavetas, armários, baú... Nenhuma toalha. Ótimo.
   Cheguei próximo à porta e coloquei meu ouvido na madeira. Nenhum sinal de gente no corredor. Não parecia muito esperto da minha parte sair pelado no corredor, mas a lavanderia não ficava longe dali. Eu também tinha quase certeza de que não encontraria ninguém, pelo horário todos estariam em qualquer lugar menos ali.
   Assim que saí do quarto comecei a correr me escondendo em lugares estratégicos pelo caminho. Se alguém me encontrasse daquele jeito a vergonha seria máxima. Eu seria punido, afastado e claro, seria uma grande alvo de zoeria por parte dos meus queridos amigos.
   Como um raio de luz, entrei na lavanderia e peguei a primeira toalha que vi. Percebi pouco tempo depois que havia pegado um toalha de rosto. Xinguei mentalmente, porém, não me dei o direito de voltar atrás. Não me arriscaria mais. Coloquei me novamente no corredor prontamente para voltar ao quarto. Eu voltaria senão tivesse ouvido vozes.
   Dois homens conversavam. Em desespero me enfiei atrás de uma cômoda que estava por lá. Comecei a rezar todo o tipo de prece que conhecia. Se Deus me poupasse daquela eu iria fazer novena com toda a certeza.
   Os passos ficaram mais próximos e as vozes conhecidas. Eram Armand e Chielline. Eles riam e pareciam conversar sobre alguma besteira. Eles passariam por ali entrando em seus quartos e eu voltaria em paz para meu banho. Infelizmente, algo desviou a atenção deles.
   - Isso é barulho de chuveiro?
   - Sim. Parece vir do quarto de . Ele já chegou? Nem o vi passar.
   - Acho que a proposta o deixou feliz. Bom trabalho, Chiello. Sem você meu plano nunca daria certo. – plano? voltar para a Igreja fazia parte de um plano?
   - Se ele ficou feliz em voltar, eu fico mais ainda. – Armand soltou uma risada sinistra e Chielline acompanhava seu ritmo de maneira mais leve – Preciso que prepare tudo rápido antes que os coroinhas cheguem. E fique de olho pra que ninguém coloque a mão no cálice, se alguém beber no lugar de eu não posso pensar nas consequências.
   - Armand, Armand. Acho que está metendo os pés pelas mãos. Manterfos deu a planta na sua mão, está longe. Por que eliminá-lo?
   - Porque o padre é realmente extremamente inteligente e perceberá em breve, se já não percebeu, nossas movimentações por aqui. É melhor cortar o mal pela raiz. – tive que tapar minha boca para que o som da revolta e do medo não ecoasse. Os filhos da puta... havia me alertado sobre Armand. Nunca poderia imaginar que a situação era mais grave do que eu imaginava. Eles planejavam matar , iriam assassiná-lo. Tirá-lo do caminho para realizar algo ainda pior. Enquanto eu sentia meu coração palpitar e minha alma se revirar comecei a pensar em algo. Não poderia deixar uma coisa dessas acontecer. Se morresse eu nunca me perdoaria e seria incapaz de carregar sob minhas costas o fardo de ter sabido de tudo e não ter feito nada.
   - Vá, Chiello, antes que ele saia do banho. Seja rápido. A cantarella está você sabe onde. – ouvi os passos que deveriam ser de Armand se distanciando. Chielline ainda estava ali tamborilando o dedo em suas coxas. Seu corpo passou a movimentar-se e ele cruzou a cômoda que me escondia. Num impulso eu o segui. Vi Giorgio entrar, tirar uma chave do bolso e abrir um antigo armário velho. De lá ele tirou um saquinho feito de tecido e colocou em seu bolso. Continuei a perseguição e o vi entrar na sala de preparação. Era ali que reuníamos antes da missa, que preparávamos o vinho, as hóstias e todas as outras coisas. Suas mãos ligeiras alcançaram a garrafa de vinho canônico. Sua boca foi de encontro ao gargalo e se deliciou em um fervoroso gole. Posteriormente colocou a quantidade necessária na taça de ouro que usaria na missa. Logo tirou o mesmo saquinho de seu bolso e o abriu. O cardeal jogou um pouco do pó dentro do mesmo e misturou com o próprio dedo. A porra do frio estava cortando minha bunda. Eu sentia meu ânus piscando e o medo tomando conta da minha cabeça, mas eu precisava ver. Chielline terminou o serviço e aprontou-se para sair. Corri como um desesperado, cruzei o corredor e finalmente voltei para o quarto com a toalha de rosto em mãos. O cômodo estava cheio de fumaça, meu coração acelerado, meus olhos em fervor. Corri para o chuveiro me entregando à agua. Iria armar um plano, iria fazer algo. As coisas não poderiam seguir àquele rumo. O futuro de estava em minhas mãos.

x

  Daquela vez eu tive que negar. insistiu para que eu fosse à missa, mas eu preferi não ir. Estava tão cansado, cheio de preguiça. Há dia não ficava sozinho na minha bela residência. Não que me atrapalhasse ou fosse má companhia. Eu só senti falta de alguns momentos de solidão e aquele pelo andar da carruagem seria o único da semana.
   De cueca no sofá. Frango frito no colo. Cerveja do lado. Esportes na televisão. Pra quê mais que isso?

Daí o telefone tocou

  Bufei alto. Xinguei a mãe de todo mundo. Qual era a porra do problema? Quais pecados resolveram me por pra pagar? Do nada minha vida se transformou em uma pirofagia maluca. Nada saía como o planejado. Era gente saindo de todo lado para me tirar da minha paz.
   Levantei muito à contra gosto e fui até o quarto. Repassei um mantra de benevolência na minha mente para evitar problemas com grosseria desnecessária.
   - Alô. – voz ríspida, séria e fria.
   - ? Graças a Deus. Me perdoe por te ligar à essa hora, mas eu preciso muito da sua ajuda.
   - Wilda? – meus sentido estavam me enganando ou era a governanta dos que estava me ligando pedindo ajuda?
   - Sim, sou eu. Mil perdões. Theodor e Irina e saíram. A menina foi tomar banho quarto dos pais e não sei como o encanamento do banheiro estourou. Vazou água pra todo lado e nós não conseguíamos desligar o relógio. Tive que desligar a água da casa toda. Você pode nos ajudar, por favor? – cocei a cabeça com força demais. Alguns fios de cabelo saíram grudados nos meus dedos. Eu mesmo tinha passado meu telefone para ela. Por causa de quem? Sim, da menina irresponsável.
   - Tudo bem, Wilda, não precisa se desculpar. Vou trocar de roupa e já chego aí.
   - Muito obrigada, , te aguardo com a porta aberta. Assim que chegar é só entrar.
   Peguei um treco qualquer no quarto e vesti. Fui por todo o caminho maldizendo a vida. Onde eu tinha me enfiado? Primeiro meu pinto me traiu, depois meu cérebro e agora era outro órgão. Aquele que bombeia o sangue, sabem? Mal conseguia pensar nisso sem estremecer por inteiro.
   ama os amigos, ama a família, a natureza e carne. não ama mulheres, muito menos adolescentes. Quantas vezes eu teria que insistir na ideia para que ela finalmente se tornasse verdade?
   era mais que um furacão. Um furacão é destrutivo, impiedoso. Por onde ele passa traz o caos, a destruição, a dor. A garota era diferente, ela não estava de passagem. Era um fenômeno destrutivo contínuo. Estava sempre ali, presente o tempo todo.
   E eu sentia falta dela. Depois de mais de 20 anos eu nutria mais que tesão por uma mulher. Sabia do tamanho do perigo, do tamanho do empecilho. Era uma relação perigosa, extremamente explosiva. A garotinha e o cara mais velho. É poético, não é?
   É cinematográfico. As pessoas veem e se derretem. É o resultado amor impossível, do envolvimento perigoso. Seria assim tão bonito e vívido na vida real?

Muito obrigada, , te aguardo com a porta aberta. Assim que chegar é só entrar.

  Era só entrar, não? Era.
   - , graças a Deus. – Wilda estava ensopada. Ela tinha um semblante preocupado, cansado. Só um cano havia estourado ou algo pior havia acontecido?
   - Wilda, você está bem? Sua expressão está me dando medo.
   - , a gente tem que arrumar isso antes deles chegarem. – ela parecia até tremer ou era impressão minha?
   - O que houve? Não foi só o encanamento?
   - Foi. Mas foi o encanamento do quarto dos patrões. Theodor não se importa, mas Irina não vai gostar nada da história. Eu disse à ela que não era uma boa ideia. Mas também, quem iria prever que uma coisa dessas podia acontecer? – como sempre. Tão previsível, estava sempre por trás dos problemas com suas irresponsabilidades.
   - A mãe vai destroçar a filha por causa de uma banheira?
   - Com a água voando pra todo lado as perfumarias dela foram parar no chão. Quebrou-se quase tudo. Molhou-se os roupões dela e todas essas coisas. Irina é um doce, mas ela tem um ciúmes louco pelas coisas dela. , e se ela decide descontar de mim? Vou ter que trabalhar a vida toda graça. E ainda minha preocupação maior não é essa. se ensopou inteira, ela pode pegar um resfriado, quem sabe uma pneumonia. E eu não suporto quando a mãe briga com ela, os conflitos são sempre intensos e sai sempre chorando e destroçada das brigas. – Wilda parou por um momento e respirou fundo – Não quero que sobre pra menina . – a mulher era um poço de carinho e mel. A senhora mais querida que eu tive o prazer de conhecer. Sua preocupação com era mais que maternal.
   - Não vai acontecer nada. Se a Irina surtar tenho certeza que Theodor vai interferir resolvendo o problema. Mas vamos ao que interessa. Se o registro ficar muito tempo desligado vai dar problema na pressão da água. Trouxe umas ferramentas comigo, vou subir lá e ver o que faço. – wilda concordou e saiu.
   Subi as escadas já cansado antes mesmo de começar qualquer trabalho. Passei pelo quarto e entrei no banheiro. Queria que minha visão estivesse equivocada. estava sentada na beirada da banheira circular de mármore branco. Suas coxas estavam de fora e sua bocetinha não entrou no meu campo de visão porque estava coberta por uma calcinha branca. Os cabelos desengonçados, jogados de qualquer jeito em seu rosto repletos de água. Os mamilos marcados na camiseta preta e o desgosto em seu semblante. Eu já podia sentir meu pau reagindo àquela cena.
   - Parabéns, garota, sempre se superando.
   - Não acredito. Pedi, implorei pra Wilda não te ligar e veja só. – levantou nervosa, parou à minha frente me encarando de cara feia.
   - E posso saber a razão pela qual a mocinha não queria minha presença?
   - A razão pela qual eu não queria sua presença era exatamente essa. – abriu os braços apontando para mim de forma escandalosa. – Você. Você não é capaz de vir e arrumar o negócio sem me dar bronca. Já não basta o tanto que eu vou ouvir da minha mãe. – parei para pensar um minuto e percebi que a crítica era válida. Eu sempre pegava demais no pé dela, não? A menina tinha 17 anos e eu queria que ela se comportasse como adulta. Apesar de tudo ela ainda era uma adolescente como eu já tinha sido uma vez na vida.
   - Foi mal, não quero te dar bronca nenhuma. Wilda me ligou porque confia em mim. Vou resolver isso aqui e ir embora, ok? – tentei ser o mais polido possível.
   - Tudo bem. O registro é aquele ali, vai na fé. – deixou o banheiro e eu me vi sozinho.
   O problema demorou para ser resolvido. Pelo menos, por alguma intervenção divina não foi necessário esperar até a segunda-feira para que se comprasse alguma peça. Consegui resolver o vazamento. Wilda limpou o banheiro em desespero. Mesmo comigo e insistindo para que ela se acalmasse e diminuísse o ritmo, a governanta continuou à todo vapor.
   Quanto tudo terminou e se solucionou, me vi perdido. Wilda abandonou-nos indo tomar banho. Minha mochila estava devidamente fechada com as ferramentas dentro. Pelo calor e suor tive de tirar a camisa ficando apenas de regata. queria me dar tchau, só não conseguia. Seu olhinhos ficavam encarando meus braços.
   - Você gosta deles, né? – inflava meu ego e eu não tinha nada contra isso.
   - Deles o quê? – a expressão dela mostrava que o olhar não era exatamente intencional, funcionava como algo mais... instintivo.
   - Dos meus músculos, . – ela riu tímida. Concordou vergonhosamente com a cabeça. Me aproximei dela e a abracei. Fora quase fatal. Aquele formigamento estranho, uma sensação doentia. Sentia os bicos de seus peitos roçando meu abdômen. Não importei com o fato dela me molhar, o movimento era confortavelmente gostoso. – Mesmo quando não quero eu tenho que cuidar de você. Estou começando a gostar, sabia?
   - Juro que não queria te dar tanto trabalho. Por isso pedi pra que ela não ligasse para você, mas a velha é teimosa.
   - Ei, não fala dela desse jeito. Wilda te ama e vive querendo te proteger. Tudo que ela faz é pro seu bem, não ouse fazer desdém.
   - Tudo bem, eu sei. Mas, caramba... É complicado. Agora você está aqui com esse braço musculoso na minha cara, eu quase pelada. A gente sabe onde isso vai parar, não sabe? – olhei para ela meio assustado. Era um convite quase que extremamente direto para sexo. De algum modo eu sabia que ir até lá não era só sobre o encanamento. Uma parte de mim esperava e iria atrás de algo a mais.
   - Onde isso parar, ? – meu olhar começava a incorporar um aspecto tarado. Nunca deixaria de ser prazeroso ouvi-la dizer o que eu queria ouvir.
   - Você sabe. – a garota mordeu os lábios se afastando de mim. Seu corpo caminhava de marcha ré indo em direção à cama dos pais dela.
   - ... não me provoque.
   - Provoco sim. Ninguém mandou vir até aqui. – ela sentou-se na cama. Eu estava ali feito uma topeira estática observando cada mínimo movimento. A menina sapeca escorregou indo para trás da cama. Seus olhos nunca deixaram de acompanhar minha expressão cada vez mais fogosa. A garota abriu as pernas se insinuando. Os dedos correram suas coxas vagarosamente, subindo pela virilha e brincando por ali. Ela me lançou um beijinho antes de passar os dedinhos safados pelo volume da sua vagina. Eu mal conseguia piscar.
   Procurei a porta com o olhar. Era como se seus pais fossem chegar a qualquer momento. Se alguém me pegasse naquela situação, com certeza morreria na cadeia.
   - O que aconteceu com a banheira não serviu de lição? – queria evitar olhá-la, só que não conseguia. Era impossível evitar.
   - Não, não foi. Sabe por quê? – as mãos largaram sua vagina por um momento e foram para sua camiseta. A garota se ajoelhou na cama enquanto tirava a peça. O tecido preto foi para no chão. Meu coração também. Travei as mãos, tentei de todas as formas fincar meus pés no chão. Fechei meus olhos, mas nada adiantou. A visão dos peitos durinhos e empinados continuava na minha cabeça. – Porque eu sou irresponsável, . Não é isso que sou? A garotinha problema?
   - ... – eu deveria dar uma bronca. Encerrar a brincadeira ali. Literalmente parar com a putaria e dar um basta. Mas quem disse que eu conseguia? Estava feito um tapado sem conseguir elaborar uma frase que fizesse sentido. As únicas coisas que minhas cordas vocais produziam eram o nome dela em sinal de aviso. E apenas isso.
   - Pois eu vou te dar um problema. Um bem duro, grosso e grande. – Desisti de não ceder à tentação. Eu queria pegar aquela menina e meter. Meter, foder, arrombar, socar, esporrar. Tudo esses caralho até ela ficar sem voz de tanto gemer.
   Não custava esperar um pouco. tinha um showzinho para mim, não seria polido dispensar.
   Ela beliscou seu próprio mamilo. Mais de uma vez.
   Arreganhou mais ainda suas pernas.
   Com a mão livre puxou a calcinha para o lado.
   Esfregou os próprios pelos e soltou um leve gemido.
   Me olhou safada mordendo os lábios.
   Separou os grandes lábios se abrindo pra mim.
   Molhou os dedinhos com o próprio caldo e os lambeu.
   Voltou com a mãozinha infernal e massageou seu grelinho.
   Se masturbava olhando diretamente para a minha cara.
   A outra mão que apertava aquele mamilo petrificado foi para sua boca.
   Lambeu o próprio dedo e o chupou como se fosse meu pau.
   Desceu pela barriguinha, brincou na virilha.
   Daí ela meteu ele lá dentro, bem fundo, bem gostoso...
   Vá á merda essa porra.
   Voei pra cima daquela abusada. Tirei o dedo que ela metia em si e trouxe pra mim. Pra minha boca. Senti o gosto dela na minha língua. Meu paladar interpretou o gesto como puro tesão.
   - Você é uma safadinha sem vergonha na cara mesmo, né? – a puxei pelos cabelos e trouxe pra perto da mim. Aquela boquinha abusada me enlouquecia. Aquele corpinho gostoso me tirava do sério.
   - Eu sou a sua safadinha sem vergonha na cara, . – ouvir aquilo fora como levar um tiro. Todo o meu organismo entrou em choque. A pulsação ficou acelerada, a respiração fora do compasso, o cérebro atrofiado e... puta merda.
   Apertei mais ainda meu toque. Ela soltava os grunhidos mais manhosos que havia ouvido. Livrei uma mão para enfiar em seu peito. Grudei aquela porra no meu dedo e apertei. Foi aí que o grunhido virou um gemido pesado. Soltei o seio e subi a mão pelo pescoço. Passeie por ali com a mão apertando de leve. Movi para seu rosto e delineei aquela boca. Aqueles lábios apetitosos que ficavam ainda mais deliciosos engolindo a minha porra.
   - Como eu quero te foder, .
   - Não estou com paciência pra esperar, lenhador safado. A gente não tem tempo e minha bocetinha vai explodir... vem aqui logo. – fora ela que me puxou pro beijo.
   Se é que podemos chamar aquela beijo. Nós nos comíamos pela boca. quase arrancou me lábio interno fora. Com o peso de seu corpo ela me jogou pra trás vindo por cima de mim. Logo que pude agarrei seu quadril e forcei o contato que tanto queríamos. Aquela boceta molhada e gostosa se esfregando no meu pau.
   rebolava em mim. Sem pudor alguém. Quando eu pensei que tudo não pudesse melhorar... engano o meu.
   - Põe esse caralho pra fora, .
   - Que bicho te mordeu, menina? – eu ria. Ria em nervosismo e excitação. não costumava ser assim. Vê-la dominante por um momento me deixou cabreiro. Mas logo depois vi a mudança como algo positivo e realmente excitante.
   - O bicho do tesão. Falei que estou sem paciência hoje. Vão brigar demais comigo, preciso relaxar.
   - Tudo bem, hoje eu deixo você mandar. – me beijou carinhosamente antes de se transformar em uma maluca excitada.
   Tirou minha regata de qualquer jeito. Mordeu meu abdômen arrancando grunhidos animalescos de mim. Volta e meia ela me encarava de forma insana. Começava a entender o motivo para eu ter me envolvido com aquela garotinha. Ela era uma combinação de coisas que me faziam feliz.
   rodou seu corpo ficando de costas para mim. Se sentou sobre a minha barriga e buscou meu zíper. Três segundos foram o suficiente para ela tirar minha calça, enfiar a mão dentro da cueca e arranhar minhas bolas. Seu toque era tão violento que por um momento eu senti medo. Temor que não muito depois fora embora. Estava possuído por um tesão filho da puta.
   Então ela empinou aquela bunda. Pude ver como ela estava molhada, toda melada. O cuzinho piscava quase me fazendo cometer uma loucura. Eu ia me levantar pra passar uma lambida naquela porra deliciosa... Ia. foi mais rápida.
   Seu corpo pairou sobre o meu. A boceta bem acima do meu membro. abriu sua entrada com os dedos procurando espaço e desceu. De uma vez só, sem esperar, sem paciência. Foi fundo. Ela gritou. Eu urrei.
   Não fez cerimônia nenhuma em seu rebolado. Foi rápido, acelerado. Ela inclinou a cabeça para frente me dando plena visão da sua parte traseira. Dei um tapa dolorido em sua bunda. Aquilo só a fez gemer mais, descer e subir mais rápido. Ajudei-a no movimento intensificando as estocadas.
   Fiquei em uma condição desesperada de excitação. Completamente fora da razão. Levantei o tronco e impulsivamente a puxei pela cintura para trás. se assustou e preparou-se para reclamar. Não deu tempo. Minhas coxas, minhas bolas batendo nas nádegas dela formavam a nova oitava sinfonia. Mordi a pele de suas costas como se fosse rancar fora.
   - Vai, , geme pra mim nesse caralho. – ela me obedeceu. Nunca vi a menina gritar, grunhir tanto como naquele dia.
   - ...
   - Que foi, putinha?
   - Vai mais rápido... eu vou gozar... – se era possível ir com mais força? Era. Meu quadril estava quase se descolando. A qualquer minuto os ossos iriam se descolar e se desmontar. Mas antes que isso acontecesse eu iria fazê-la gozar.
   E eu fiz. travou o corpo por um momento e logo depois explodiu. Ela perdeu o apoio do corpo e eu a segurei para mim. A garota caiu deitada sobre o meu tronco. Procurei seu grelo e intensifiquei mais ainda. Ela perdeu as forças até para gritar. Logo chegara a minha vez de perder as forças. Esporrei dentro dela e senti o gozo escorrer por seu interior e cair na minha virilha.
   - Você é um gostoso, sabia?
   - Não mais que você, sua danadinha. – riu pedindo ajuda para se levantar. Procurou por suas roupas e as vestiu, fiz o mesmo e de repente estávamos nós dois, frente a frente depois de trepar na cama dos pais dela. – Transamos na cama dos seus pais. A bronca pelo banheiro vai sair barata.
   - Eu sei, mas vai valer cada minuto da briga. – a abracei impulsivamente. Ultimamente aquilo andava acontecendo, estava dando vasão aos meus sentimentos, me entregando. Naquele momento eu decidi não pensar muito à respeito ou era capaz de ficar louco. - É hora de ir, vê se não apronta mais nada, ok?
   - Pode deixar. – nos soltamos do abraço e nos encaramos por um minuto.
   – Cadê meu beijo na testa?
   - Hoje eu tenho algo melhor para você. – a beijei na boca. Ela se assustou e ficou um tempo com aqueles olhinhos arregalados.
   - Isso quer dizer alguma coisa? – soltou-se da minha boca perguntando. Não respondi nada. Sorri e rocei meu nariz no dela. Parti porta à fora para minha casa. Eu sabia a resposta e logo ela iria descobrir.

xx

  - Manterfos, o que foi? – o menino era um caos em forma de pessoa. A batina toda amassada, o rosto inteiramente suado e oleoso.
   - Padre...
   - Respira, menino, e me conte o que quer contar.
   - Você não pode rezar a missa. – ele deveria estar preocupado com meu emocional, mas, eu estava bem.
   - Obrigado por se preocupar comigo. Mas, fique tranquilo, eu estou bem, ok?
   - ... por favor...
   - Já disse que estou bem, não disse? – dei alguns tapinhas em seu ombro e me afastei. Ele continuou me chamando e apenas ignorei preparando algumas coisas. Peguei o cálice em minhas mãos e vi que já estava cheio de vinho. Um golezinho antes da missa faria mal? Preparei-me para o gole e então um imprevisto surgiu.
   - , seu padre danado. Não se pode provar o vinho antes da hora da comunhão. – tremi derrubando um pouco do líquido bordô no chão. Que ótimo, um cardeal me pegando no pulo. Sorte a minha ser Giorgio.
   - Não me julgue, Chielline. – ele riu divertido, tomou a taça das minhas mãos e começou a me guiar pelo caminho. Ele fazia questão de deixar o cálice fora do meu alcance, mas que merda.
   - Venha, te acompanho até o púlpito. Estava com saudades, vai ser bom conversamos.

Chapter XVI

Todos os músculos do meu corpo estavam confusos. Desde os estriados até os lisos. Minha biologia inteira estava errada.
   A boca seca demais.
   O coração rápido de menos.

  Alguma coisa estava errada. O magnetismo da terra parecia estar anormal. As forças cósmicas não estavam do meu lado. O caminho para o púlpito nunca me pareceu tão longo, tão vagaroso. Cada pessoa sentada me parecia um vulto negro demoníaco. Por um momento eu senti que Deus não estava comigo.
   Eu o amaldiçoei e logo depois pedi seu perdão. A confusão estava impregnada na minha alma de uma forma sombria. Subi ao púlpito e vi todas aquelas pessoas à minha frente. Cada olho, cada nariz, cada orelha, cada pedaço de existência parecia me julgar.
   Então eu voltei a me lembrar que era uma missa de homenagem. Era um ritual simbólico de velas para reviver cada pessoa morta naquele trágico incidente. Alguns já deixavam as lágrimas correrem e outros continuavam com a expressão desdenhosa de quem só estava ali para não fazer feio perante à sociedade.
   Respirei mais fundo. Mais e mais fundo. Fui até o poço do desconhecido procurar por ar e força. Nunca precisei de tanta coragem na vida.
   - Queridos irmãos e presentes. A missa de hoje não é uma missa normal. Estamos todos aqui, neste dia hoje, para que possamos lembrar e homenagear a vida daqueles que foram inocentemente. Muitos deles não deixaram familiares, amigos ou qualquer pessoa que pudesse sentir sua falta. Isso me faz pensar em como o pecado é uma praga injusta em nosso mundo. Quantas pessoas inocentes já morreram em acidentes? Em tragédias sem fim? Morreram por mãos de outras pessoas. – o olhar de todos pairava de forma congelada em mim. Todas as atenções voltadas para mim. Era um show dos horrores e eu sentia que poderia vomitar à qualquer momento. – Irmãos, lembrem-se nesse momento porque é que precisamos daquele que habita as Santas alturas dos céus. Nós não somos nada além de pequeneninas criaturas. Pequeninas criaturas vivendo na imensidão desse mundo. E esse mundo é cruel, sujo e violento. Se jogados aqui somos presas da morte, da tristeza. Se nosso Deus existe é para nos livrar desses males. E mesmo quando, irmãos, Deus parecer distante, parecer ter esquecido de vós, jamais esqueçam que ele sempre está à nossa volta. Até mesmo no sofrimento, até mesmo quando não parece possível. Quando queridos se vão nós pensamos no nosso sofrimento e talvez esqueçamos de pensar que fosse a hora certa. Mas, não a hora certa para nós e sim a hora certa para eles. Tudo na vida possui um propósito e quando chegamos ao fim da caminhada nós conseguimos perceber que apesar do sofrimento e da dor, coisas boas aconteceram. É por essas coisas boas que devemos agradecer todo o minuto. – minha voz estava engasgada. Um pressentimento horrível caía sobre mim. Manterfos procurava meu olhar à todo minuto. Ele parecia querer dizer algo, me alertar. Então eu desisti de lutar. Nada poderia impedir o futuro breve.
   Eu me levantei e fui até ele. Manterfos era o coroinha que me acompanhava em toda santa missa com as hóstias. Em qualquer outra Igreja seriam os ministros, mas eu sentia algo especial por ele e gostava de sua companhia.
   - ...
   - Manterfos, sei que quer me dizer algo. Eu consigo sentir, então me faça um favor. Não tente impedir, tudo bem?
   - Mas, padre...
   - Sem mas, é a única coisa que te peço. Você sabe que pode confiar em mim, não sabe?
   - Sim, mas...
   - Pois confie, Manterfos. Por favor. – ele relutaria mais se desse espaço. Então quebrei o protocolo. Tomei a hóstia em minha mão e o cálice. Se alguma coisa poderia me acalmar naquele momento, seria vinho. Caminhei novamente até o púlpito. Os olhares continuavam pregados em mim. Eu podia ouvir o burburinho das pessoas. Elas estavam confusas com minha ação. O bispo do outro lado pareceu me deixar em meu ritual particular. Chielline ao seu lado olhava com curiosidade e do outro lado, totalmente isolado, Armand sorria para mim.
   - A hóstia e o suco de uva. As lembranças do sacrifício do filho de Deus. – eu não conseguia olhar para meus fiéis; então vi lá no fundo sorrindo para mim. Retribui o sorriso e prossegui, ele me daria forças. – Em João 3:16 temos que Deus deu seu filho unigênito para que todo que Nelê crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Todos aqueles homens, mulheres e crianças estão em um lugar melhor, todos eles vivendo para sempre na glória de Deus.
   Tomei a hóstia em minhas mãos. ainda sorria. Com muita tranquilidade a coloquei em minha boca. Senti a textura derreter. O pão sem fermento e sem gosto. Minha garganta estava travada. Segurei o cálice com força. Com pressa o coloquei em meus lábios. O líquido me refrescou, todas as gotas molhando minha língua e lavando minha alma. – Assim como Deus nos disse em Apocalipse 2:10 ... – senti meu corpo amolecer. cada célula atrofiando-se aos poucos. Meus olhos vacilaram e minha voz parecia querer me abandonar. Sê fiel até a morte e dar-te-ei ... – eu não mais conseguia ver pessoas, apenas luzes e manchas coloridas. Meu pé vacilou para trás e me escorei no púlpito para manter o equilíbrio. Manterfos me chamou e veio até mim, com os braços fracos pedi para que se afastasse. -... a coroa da vida. - Minha traqueia travou, o oxigênio pareceu se esquecer de mim. Pelo o pouco que ainda podia sentir, percebi correndo até mim. Não sei exatamente como, eram os reflexos do instinto de sobrevivência.
   - ... ... o que houve? Respire, força! – me segurou e deitou-me no chão. Sua voz era aflita. – Alguém chame uma ambulância, urgente! Pelo amor de Deus, chamem uma ambulância.
   - ... não se preocupe.
   - Cale a boca, padre, guarde energia. – não entendia, minha vida já havia ido. Cada vez mais eu me sentia deslocado do plano terreno. Minha existência ia pouco a pouco se descolando dos meus ossos.
   - , me ouça, por favor. – o gosto de sangue atingiu meu paladar. Comecei a tossir, assim como os pobres mortos dias atrás.
   - Fale, , fale ... – o açougueiro tinha a voz chorosa. As lágrimas dele escorreram no meu rosto.
   - Foi bom ter te conhecido. – sorri do jeito que podia – Você é uma pessoa maravilhosa, um anjo do Senhor.
   - Não fale assim, seu infeliz, se você morrer eu te mato.
   - , não seja tonto. – minha voz era cada vez mais fraca e rouca. Abri meus olhos e por um minuto o vi na minha frente. – Ora, , não chore. Eu ainda preciso que cuide daquele lenhador pra mim.
   - Você não vai morrer, me ouviu? Não vai. Aguenta firme. – tentei respondê-lo, mas não pude. O sangue tornou-se mais viscoso e contínuo na minha boca. Por um momento me afoguei naquele mar de saliva avermelhada. – ! ! Fica comigo! – já gritava. Ele começou uma massagem cardíaca tentando me recuperar. A partir daí tudo tornou-se uma lembrança confusa. gritava, Manterfos também. Ouvi a voz do bispo se aproximar pedindo para as pessoas saírem da frente. O barulho da ambulância, os enfermeiros. Me puseram na maca e alguém segurou minha mão. Não era mais .
   - Vou com você. – era a voz de Chielline – Eu vou com você. – ouvi o barulho das portas da ambulância se fechando. Abri os olhos mais uma vez regastando o fim das forças e vi Girgio na minha frente. Tudo então fez sentido. A casa dos pobres... e agora era a minha vez, não? Teria que aceitar isso pelo bem de todos. – Eu estou com você. – foi a última coisa que ouvi naquele dia. E para sempre.

Eu não iria chorar, não ali.

  Estava eu segurando a alça de metal na parte da frente. ao meu lado direito e Viktor, pai de , à esquerda. Atrás estava Manterfos se acabando em lágrimas. Eu mal sentia o peso do caixão negro.
   O caixão estava repleto de rosas brancas na parte superior. Acho que era o cheio das flores que foi capaz de me entorpecer e me dar forças para fazer aquele trajeto. O bispo rezava alguma coisa enquanto a mãe de , Katja, era acudida por outras pessoas por desmaiar novamente.

Mas ... eu não consegui.

  Ao ver o caixão descendo ao solo... Ao ver a terra sendo jogada... Ao ver as flores sendo lançadas... Eu desabei. Não havia porte físico, orgulho ou masculinidade no mundo que pudesse impedir meus olhos de derrubar aquela água salgada.
   veio do meu lado. Sem me importar com nada eu o abracei. Ele devolveu o abraço e nós ficamos ali... sentindo. Eu me sentia culpado, mesmo sem ter culpa. Deveria ter feito algo. Prometi a mim mesmo que cuidaria de cada um dos meus amigos. O fel do fracasso preenchia meu paladar. Além do mais, só voltou à cidade porque eu o chamei. Sua volta o colocou em um fogo cruzado, no meio de uma confusão misteriosa. Sabia no meu interior que a morte dele tinha algo a ver com todo aquele problema.
   Os pais de vieram ao nosso lado. Katja grudou meu rosto com suas mãos enrugadas. Os olhos verdes dela, tal quais o de , mostravam uma dor imensurável.
   - , o nosso menino ...
   - Eu sei, Katja, eu sei. Não precisa dizer nada. – logo Viktor se aproximou tomando a esposa para si. Limpou as lágrimas da amada e sorriu para mim.
   - Ele não iria querer nos ver chorando. era tão feliz ... ele estava tão feliz depois de ter voltado para cá. Ele citou você e citou , o novo amigo que tinha feito. Obrigado, , obrigada por fazer meu menino feliz enquanto ele estava aqui.
   - Viktor, você não precisa me agradecer e você sabe disso. – o homem juntou-se a mim e a esposa. Ficamos ali em silêncio, um compartilhando da dor dos outros.
   - , menino, eu preciso ir descansar. – Katja limpou os olhos com o milésimo lenço de papel – Viktor, por favor...
   - Nos vemos antes de irmos. – Viktor despediu-se e partiu com a mulher apoiada em seus braços.
   Fiquei parado olhando para o horizonte. O tempo estava cinzento, como se a própria natureza estivesse de luto. Minha carne inteira estava se remoendo, sangrando em tristeza. Não era justo, eu nunca conseguiria aceitar.
   - . – me chamou pegando em minha mão e nos distanciando da multidão – Sei que não é hora, mas devido a isso ... – apontou com os olhos para a cova recém coberta -... precisamos ir à sua casa conversar. Aconteceu algo muito perturbador e é por isso que disse que eu, você e ele precisávamos conversar. – se possível eu gostaria de guardar dias de luto. Me trancafiar em casa e esquecer o mundo. Eu poderia? Não. A morte da tinha sido uma tragédia inexplicável e que mais parecia armação do qualquercoisa. Precisava por meus demônios para fora e apenas poderia me ouvir.

x

  Liguei a televisão e deixei em um canal qualquer. Queria ouvir um barulho que pudesse me abster da realidade um pouco. nem pediu autorização, enfiou a mão na porta da geladeira e pegou duas garrafas de cerveja. As duas para ele porque eu tomaria vinho, uma porra de uma garrafa inteira de vinho.
   - Vai, , conta logo. Estou cansado e não quero que isso dure a noite toda. - nem me dei o trabalho de sentar por achar que depois não teria as forças necessárias para levantar.
   - Tudo bem. – respirou fundo procurando inspiração. A boca de todo mundo estava sofrendo de demência temporária, era difícil processar as palavras. - O negócio é o seguinte, resumidamente, um cara chamado Dolph Lundgren foi até o açougue perguntar por um homem chamado Nikolai. - cuspi o vinho que estava na minha boca. A mancha bordô sujou minha toalha de mesa e eu ficaria bravo sobre isso depois.
   - Mas que porra anda acontecendo nessa cidade? – chutei o pé da mesa como se tivesse chutando a cara do meu pior inimigo. Estava tão emputecido com a vida, com o destino, com tudo. – Uma pessoa acha Nikolai que é o melhor jogador de esconde-esconde do mundo, morre da maneira mais misteriosa e sem noção... , mas que merda é essa? – meu maior desejo naquele momento é que alguém fosse capaz de aparecer na minha frente e dizer, , sente-se, vou te explicar tudo.
   - E você acha que eu também não gostaria de saber? Olha para trás. Se lembre de todas as coisas que a gente conversou aqui. Não chegamos à uma conclusão sequer e tudo saiu dos eixos. Agora está morto e o que é que nós sabemos? Nada! – como eu queria ser um cavaleiro do apocalipse naquele momento. Acabaria com a existência humana e o próprio cosmos em dois palitos.
   - O que você disse à ele, ?
   - Mas ora, o que acha? Disse que não sabia quem era o sujeito. Você acha que eu iria entregar o esconderijo do Nikolai assim de bandeja?
   - Só sei de uma coisa, meu querido açougueiro. – comecei a fazer uma retrospectiva. Juntei os cacos dos meus neurônios e os coloquei para funcionar. Analisei fato por fato e cheguei à uma lógica e clara conclusão. – caiu no meio do tornado de pára-quedas. Se ele morreu dessa forma tão nojenta é porque nós realmente estamos por perto. E se há justiça nesse mundo, nós vamos chegar mais perto ainda. Não vai ser agora que eu vou desistir. – se levantou me fitando sério. Levantou o braço na altura de seu tronco e me estendeu a mão.
   - Então estamos juntos nessa, lenhador de araque? Cavando até o fim do universo para resolver esse caralho? – sua voz era contundente, estridente. Os olhos brilhavam emanando a sede por vingança e justiça.
   - Estamos, minha carniça. – alcancei sua mão. Demos um aperto forte, desvastador. Puxei pela gola da camisa e beijei sua testa. Queria ter feito isso em antes que ele tivesse ido. Ele tinha o direito de saber o quanto eu o admirava e amava, o quanto ele tinha sido importante para mim.
   - Antes que você morra, praga dos infernos, saiba que eu te amo. – finalmente aquelas bochecha raivosas se abriram para que a boca dele pudesse sorrir.
   - Eu também te amo, zé caralho. – deu uns tapinhas do lado esquerdo da minha face e se afastou procurando pelo resto da cerveja.
   - Agora, , vá pra casa e fica com as suas meninas e Ana. Elas devem estar assustadas. Vou até a casa de Nikolai para contar toda essa merda.
   - Vou mesmo, antes que eu beba demais e esqueça o caminho de casa. – chegamos juntos à porta e aquele sentimento horrível de abandono tomou conta de mim, pela primeira vez em anos eu não sentia mais aquela vontade arrebatadora de ficar na solidão.
   - Se acalme que a gente vai resolver tudo. – me olhou uma última vez antes de apertar minha mão novamente. Assim que o vi sumir entre as árvores escorei-me na porta.
   Vamos seu bosta, reaja.
   Dei a volta na casa e cheguei à minha área de trabalho. Avistei meu machado cravado em um pedaço de madeira. Em virtude dos últimos acontecimentos me parecia plausível andar armado. Me lembrei do dia em que me perguntou se eu ainda andava armado pela cidade, ele me alertou sobre pessoas estranhas rondando a floresta. Por um momento tomei precaução. Tentei ser cuidadoso e cuidar das coisas direito. Não durou muito tempo. Acabei deixando a chama da revolta apagar.
   Veja só, minha falta de cuidado, minha falta de foco e comprometimento resultaram em catástrofe. O que eu havia feito de errado? Me preocupei em cuidar de , me preocupei em fazê-la gozar. O que eu ganhei com isso? Tantas coisas que eu nem ao mesmo poderia contar nos dedos. O problema era que eu havia perdido na brincadeira e seria quase impossível tirar o peso disso das minhas costas.
   Rumei em direção à casa de Nikolai. Tinha gente procurando por ele e a última coisa que nós precisávamos naquele momento era de outra pessoa morta. Quando me aproximava de sua pequena clareira tive que me perturbar. Fora uma reação automática ao que via.
   - Nikolai? – meu chamado tinha sido muito mais um pedido de explicação que simplesmente chamar seu nome.
   - . – o olhar do meu velho companheiro de floresta estava estampando o amargo da derrota.
   - Você ficou sabendo? – me aproximei e o ajudei a por um pesado pacote envolto em couro na capota de sua caminhonete.
   - Do padre? Sim. – colocou a mão em sua não definida cintura e mirou o chão. – Uma merda, não? Uma porra de uma merda, . Uma porra de uma merda injusta do caralho. Vê, eu estou puto.
   - Ei, ei. Calma. Eu te conheço bem o suficiente para saber que não desmontaria acampamento só pela morte do padre, não é mesmo? Eu sei o que aconteceu.
   - Me acharam, lenhador. Depois de todos esses anos, depois de tudo... alguns filhos da puta foram capazes de me achar. – enquanto eu exalava a mais pura depressão, Nikolai exalava a mais pura fúria.
   - Exatamente isso que vim te falar, perguntaram por você no açougue. Vejo que foi tarde demais.
   - O cara bateu na minha porta, . Na minha porta. Fui pego de surpresa, sem nenhum plano de escape. Estou tão puto e me julgue pelo meu egoísmo, mas a morte de mal mexeu comigo. Me pegaram de calças curtas aqui. E sabe o que mais? Me perguntando sobre o tesouro. – sua risada nasalada não possuía o mínimo teor de graça, era puro escárnio. – E sabe qual é a maior piada? Um filho de uma vadia chamado Dolph Lundgren, loiro, alto feito o diabo e com o sotaque sueco mais natural que já vi na minha vida, aparece na minha porta me oferecendo uma porra de uma maleta cheia de euros. Cheia de 1 milhão de euros. Consegue acreditar nisso? – eram informações demais para que eu pudesse processar.
   - Nikolai, meu cérebro ficou mais travado do que estava. Me ajude a achar a lógica disso.
   - Não tem lógica. Eu mal sabia o que responder. Nunca tinha pensando em o quê responder quando batessem na minha porta porque... eu nunca pensei que fossem bater na minha porta.
   - E então?
   - O que você acha? – apontou para sua caminhonete. Só então percebi o quanto a caminhonete estava cheia de malas, pacotes, utensílios e tranqueiras. – Estou picando a mula, lenhador.
   - Niko... – minha voz trepidou. Outra perda? Um dia depois? Meus melhores amigos simplesmente... indo? E para longe de mim?
   - , eu sei. Me desculpe. – Nikolai não era de abraçar, de demonstrar carinho. Ele era daquele jeito grosseiro, mas extremamente bondoso. – Mas, eu não posso. Se me acharam também vão achar minha mulher e meu filho. Não me perdoaria se algo acontecesse à eles, preciso partir. – estava tão fraco e perturbardo. Mas não seria ali que eu desabaria. Retomei as rédeas do meu emocional.
   - Resolve de lá que eu resolvo daqui? – ele sabia do que eu estava falando.
   - É claro que sim. Disse ao loiro que eu não sabia onde a porra estava, o que é verdade. – ele pareceu não acreditar e eu não entrei em detalhes. O infeliz agradeceu a vazou fora. Duvido que ele fica sem aparecer por muito tempo. Agora vem aqui. – pegou um pacote que estava no chão e entregou nas minhas mãos. – Esses são todos os papéis, documentos e porcarias que eu tenho sobre esse tesouro. Pelo jeito, o tal cardeal não é o único procurando por ele. E nós temos que garantir que isso não caia em mãos erradas. E tome cuidado, eu pretendo voltar em breve para uma visita. – mais uma tonelada de responsabilidade se despejava nas minhas costas. Ótimo não? – E tem outro favor que eu preciso te pedir, não questione, tudo bem?
   - Manda bala, nada vai me surpreender, não hoje.
   - Deixei alguns litros de diesel no porão. É só entrar lá pelos fundos. Se eu não vier em sete dias, me ouça bem, ateie fogo na casa.
   - Ok, disse que nada iria me surpreender, mas pelo visto eu me enganei. Que porra você está pensando, viado? – atear fogo na casa? Simplesmente riscar um fósforo e fazer uma fogueira gigante? Mas que raios!
   - Essa casa tem história. Tentei tirar tudo que fosse importante daí de dentro, mas nunca se sabe. Não quero deixar rastros. Preciso de um plano B e esse é o meu. Sem questionamentos, pelo amor de Odin.
   - Fogo na casa? Certo, eu posso lidar com mais isso. – minha massa encefálica estava derretendo. Como Nikolai mesmo havia dito, a porra tinhaa fodido de um jeito filho da puta.
   - Agora eu preciso ir, confio em você. Se acharem esse tesouro, faça o que quiser com ele. Não me importo com essa coisa, quem eu queria foder eu já fodi.
   Me despedi de Nikolai, do nosso jeito. Do nosso estranho jeito.
   Vi sua caminhote partir. Ficando cada vez mais e mais longe. Então ela sumiu do meu horizonte. E eu me vi sozinho, justo no único dia em todo aquele tempo em que eu estava morrendo por uma companhia.
   Uma mistura meio incompreensível de dor, revolta, raiva e tristeza preencheu meu ser. Tudo se concentrou na minha mão direita. Lancei o machado ao ar. O vi em câmera lenta rotacionar até cravar-se em uma árvore. Caminhei até lá, retirei o machado e o enfiei de volta.
   De novo e de novo.
   Até minhas mãos quase sangrarem. Castiguei aquela árvore com minha ferramenta de corte como um bode expiatório. Eu não funcionava muito bem quando estava com raiva e infelizmente, precisaria de uma mente limpa e de um raciocínio cristalino para lidar com todos os problemas.
   Por isso eu precisava descarregar todo resquício de raiva. Quase derrubei a árvore, parei os movimentos quando o machado caiu ao chão. Me abaixei para pegá-lo e só então percebi que não teria forças para levantar.
   Minhas forças resolveram descansar. Fiquei jogado feito um cervo morto no chão. A respiração perdida e os olhos cedendo. Senti o salgado da lágrima na minha boca rachada. Ardeu. Ardeu ainda mais quando esfreguei a mão suja em minhas pálpebras em uma tentativa patética de estancar o choro.

Chore, . Chore agora porque você não poderá chorar amanhã.

  Desmontei na grama rala. Soltei o urro mais perturbador que poderia tirar de mim. A garganta vibrava enquanto eu gritava em alto e bom som. Que todo o mundo pudesse me ouvir. Tomei o machado em minhas mãos e o levantei em direção dos céus. Foi aí que em deixei desabar.
   Já chorava como uma criança rescém nascida. Já me debulhava em lágrimas como uma esposa abandonada no altar. Que se fodesse. merececia meus mais puros sentimentos. Estava exorcizando minha agonia e todos os demônios que poderiam me enfraquecer. Me deixei derrotar.
   Então cessei o choro.
   - , não importa onde você esteja, não vou te deixar sozinho. E eu vou matar o filho da puta que fez isso a você com minhas próprias mãos. – minha voz era uma ode à coragem. Abaixei o machado e me coloquei de pé. Olhei para todas aquelas árvores. Mirei cada uma daquelas folhas e jurei a cada pedaço de mim que eu iria até o inferno se fosse preciso.
   Recolhi os papéis e parti em direção à minha casa. Sem pressa alguma. Tentei afastar os pensamentos ruins que me culpavam da morte do padre. A culpa por não tê-lo protegido, por não estar lá em seu fim. Eu me lembraria dos momentos alegres e felizes. Guardaria para mim suas virtudes, sua moral e seus conselhos.
   Já estava bem próximo de casa quando vi sentada à escada da minha varanda. Em qualquer dia normal eu a xingaria por ter saído de casa e por estar lá. Daria bronca por sua irresponsabilidade e a faria se sentir uma menina mimada. Mas não naquele dia. Tudo que eu precisava era de um carinho, de um abraço, de um ombro.
   - Ei. – timidamente ela levantou os braços. Me sentei ao lado dela deixando o machado como peso para que os papéis não voassem.
   - Fico feliz que tenha vindo. – a puxei para mim, abraçando-a pelos braços.
   - Pensei que pelo menos hoje você entenderia minha visita. – seu sorriso era o mais tímido de todos. Muito provavelmente queria dizer algo para me confortar e não sabia como.
   - Obrigado por ter vindo, não imagina o bem que isso está me fazendo.
   - Eu sinto muito. – os olhinhos que costumavam ser tarados agora carregavam uma áurea de compaixão.
   - Todos nós sentimos, .
   - Eu quase fui àquela missa, mas você sabe, o encamento. – parece que ali também morava um sentimento de culpa.
   - Garota, a culpa não é sua. Nem ouse pensar nisso.
   - Eu sei, eu sei. Mas fica aquele vazio, você deve saber.
   - Ah, tenha certeza que eu sei. Agora vem, vamos entrar. – a ajudei a se levantar. pegou os papéis e machado para mim e entramos em casa. - Fome?
   - Não, mas fique à vontade. – fomos à cozinha e eu me servi do sanduíche mais mal feito e frio do universo.
   - , essa comida tá com uma aparência horrível. O tomate está caindo fora do pão. – ela tinha aquele poder de me ajudar abstrair de tudo. Com do meu lado eu via um novo mundo onde nem tudo precisava ser ruim.
   - Agora você entende quando eu digo que não é responsável andar pela cidade à esmo? Quando não é seguro vir até aqui sozinha?
   - Eu sempre soube, mas agora eu sei mais.
   - morreu dentro da própria Igreja, imagine o que pode haver fora? – a expressão facial dela mudou. O modo tímido e até mesmo medroso passou a ser preocupado de um jeito que não me agradava.
   - Você acha que foi assassinato? – a boca abriu-se em surpresa. A garota realmente se chocou com a possibilidade, inocente alma.
   - Não agora, , por favor.
   - , não é possível.
   - , por favor. – aquela carinha que odiava ser contradita se fez presente. Minha voz saíra demasiadamente grosseira.
   - Tudo bem, só queria saber se você estava bem. – ela se levantou em clima de despidida.
   - Garota, nem ouse me deixar aqui sozinho. – virou-se de frente para mim com um sorriso vitorioso no rosto. Teria que aguentar crise de ego adolescente justo naquele dia.
   - Precisa de mim? - os dedinhos foram enrolar o cabelo, vi uma risada danada tomar forma. sabia fazer charme e manha quando queria.
   - Não quero ficar sozinho. – as sementes de tomate escorriam na minha barba e minha cara de zé mané deveriam entregar meu espírito perdedor.
   - O Senhor Solidão não quer ficar sozinho? Isso é interessante. – garota abusada, assim que me recuperasse eu daria um jeito naquela língua afiada.
   - , não hoje ...
   - Tudo bem, me desculpe. E sim eu fico, já sai de casa com essa intenção.
   - Então isso aqui foi só um teatrinho pra me fazer implorar? – a fitei de cara fechada. Estava triste por ter perdido , mas feliz por ter ganhado .
   - Não seja dramático. – ela voltou a mim e tirou o sanduíche da minha mão. Puxou a cadeira dando espaço para que se sentasse no meu colo. As mãos macias e cheirosas foram as minhas bochechas geladas. Fechei meus olhos com aquele toque doce que não era o que costumava ter de nenhuma mulher. – Obrigada por me deixar por perto.
   - Você não precisa me agradecer, sua tonta. Se quiser pagar pela hospedagem é só lavar a louça. – senti o estalo na testa.
   - Seu abusado! – meteu um tapa desajeitado em mim que nem ao menos chegou doer.
   - Agora vem, preciso de um banho e preciso de ajuda. – dei um jeito de pegá-la e meu colo e me levantei. A garota ria percebendo mina ideia pervertida. A levei direto para o banheiro. As mão delicadas foram prontamente me despir. Vagarosamente e de um jeito tão gostoso... Mas eu não estava exatamente o ser mais tarado do universo.
   - Preciso de mais carinho que putaria hoje.
   - Deixa comigo. – a boca se aproximou da minha e me deu um selinho leve, totalmente doce. Os lábios passaram a correr pelo meu rosto. Sexo pesado, a inflamação do tesão eram coisas simplesmente incríveis. Mas aquele toque tão angelical havia conquistado um espaço entre os meus desejos.
   Me vi no box. me aquecia mais que água. Ela estava à minha frente ensaboando meu peitoral. A garota parecia se divertir com a fortaleza muscular do lugar. Eu adorava deixá-la sem sentidos com o meu corpo. descia as mãos, cada vez mais minha respiração se intensificava. Ela estava indo em direção dele. - Ei mocinha. Cuidado. – alertei levantando seu queixo para cima. Fiz com que olhasse para mim e a encarei sugestivo.
   - Só uma punhetinha para você dormir relaxado. – piscou sapeca. Seria idioticesse e das grandes da minha parte negar.
   - Mas vai te que ser gostasa, hm?
   - Está duvidando de mim? – pôs-se na ponta dos pés para alcançar minha boca. Ela mordeu meu lábio superior impedindo minha resposta. Quando dei por mim as mãos já acariciavam minhas bolas.
   - Isso, gatinha, desse jeito.
   - Você gosta do meu jeito? - o toque subiu para minha virilha. Percebi que ela ficaria enrolando, me provocando. Normalmente eu preferia assim, mas tendo em vista meu dia... eu queria gozar e apenas gozar naquela mão gostosa.
   - Você está quase melhor que eu, sabia?
   - Ah é? E o que falta pra ficar melhor? – puxei seu rosto pro meu. Peguei naqueles cabelos com vontade e grudei com força.
   - Me fazer gozar logo. – soltei um sorriso pervertido que foi recebido com animação. Teria dito qualquer besteira a mais se não tivesse desaprendido a falar no momento surreal e majestoso em que aquela putinha manhosa de nome pegou com toda a vontade do mundo no meu pau. Aquela porra tinha que ser só minha, ela tinha que fazer aquilo só para mim.
   A coisa foi. batendo a punheta mais deliciosa de todos os tempos enquanto mordia meu pescoço. Pedi para que fosse mais rápido e ela foi. Certeira como eu com meu machado. Joguei a cabeça para trás e escorei na parede. A outra mão dela foi meus testículos e o estímulo duplo fora a faísca que faltara. Estava eu ali, gozando nas mãos da minha menina.
   - Eu adoro seu gosto. – lambeu dedinho por dedinho. A puxei pelos cabelos ainda presos em mim e beijei sua boca da forma mais carinhosa e sincera que eu podia.
   - E eu adoro você. – ela sorriu sem total graça e eu beijei o sorriso que eu mais queria do meu lado para o resto da minha vida.

Chapter XVII

  Quando vi a terra engolindo o caixão de pensei que seria impossível relaxar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilamente. Previ que passaria horas e mais horas tentando pegar no sono e quando realmente eu conseguisse dormir tudo viraria um mar de pesadelos trágicos.
   Nunca tive problemas com insônia. Pensei então que esse dia chegaria. Que enfim a época de trocar a noite pelo dia chegaria. Se isso realmente fosse acontecer, seria adiado pelo menos mais uma noite. Me aconcheguei em , inalei aquele cheiro de pêssego e simplesmente apaguei. Sem sonhos trágicos, uma verdadeira noite dos deuses.
   Acordei por volta de 8 da manhã com ela sutilmente encostando o cotovelo na minha boca. Pela primeira vez eu acordava do lado de . Os cabelos estavam uma bagunça sem fim, os lábios meio secos e avermelhados por ter beijado o travesseiro a noite toda. Não queria acordá-la, eu poderia ficar admirando seus mamilos descobertos por mais um dia inteiro, mas, a garotinha despertou.
   - Bom dia, dorminhoca.
   - Dorminhoca, tá super cedo, . – seus olhos mal conseguiam ficar abertos.
   - Não é que é cedo demais, você que é acostumada a acordar super tarde. – a palavra super saiu em um tom meio afeminado. Cheguei mais próximo, rocei meu nariz gelado no dela que parecia ter saído do forno de tão quente.
   - Eu estudo de manha, ok? E você tá com bafo.
   - Você também mocinha e nem por isso estou com nojinho. – fazia anos que não acordava ao lado de alguém e cerca de 22 anos que não acordava ao lado de uma mulher que ... eu gostava tanto.
   - Não seja abusado, lenhador. Eu levanto agora e vou embora, heim? – além do fato de ser cheirosa, gostosa e linda, sabia fazer uma manha como ninguém. Lá no fundo do meu coração eu amava uma gatinha manhosa.
   - Ah é? Vai embora mesmo? Eu duvido, meu bem. – voltei a me deitar, cruzei os braços embaixo da minha cabeça e esperei o teatro começar.
   - Duvida mesmo? Não me teste. – ela tinha aquele tom afetado fingido.
   - Estou duvidando ainda, . – a encarei com o sorriso mais cretino que poderia fazer. Ela parecia ficar cada vez mais irritada. Provocar a garota tinha se tornado um hobby muito gratificante. nunca conseguia ignorar minhas ironias ou baixar o orgulho para passar por cima dos desafios e com isso nós íamos ao extremos.
   A cara emburrada me divertia. mal tinha acordado, o corpo ainda vacilava e o raciocínio estava extremamente lento. Se enrolou no lençol azul marinho e brigou com o próprio sistema nervoso por alguns segundos para conseguir se manter de pé. Então lá estava ela. As madeixas ainda embaraçadas, o rosto amassado, a cara de sono latente e uma expressão confusa de determinação.
   - Esse é seu plano, sair lá no vento gelado vestida com um lençol e essa cara de topeira?
   - Não está frio, ok? – parecia ter bebido umas 10 garrafas de vinho, nem mesmo bêbada sua voz sairia de forma tão lenta e mole.
   - Está sim, garota. O sistema de aquecimento do quarto é ótimo, se abrir essa porta você vai se arrepender.
   - Fica quieto, você fala demais, . – ela foi. Com a teimosia de sempre. Abriu a porta e deu um passo para fora, não precisou mais que isso. Voltou para o quarto tremendo, tentou aproximar o lençol do corpo para que pudesse aquecer-se mais. Menina besta. – Porra, que frio.
   - Eu te avisei, sua tonta. Vem pra cá logo. Para com essa frescura de que vai embora. – me ajoelhei na cama e as cobertas me abandonaram. ficou de frente e veio caminhando até mim. Aquele dedinho indicador traiçoeiro veio brincar de fazer desenhos meu tronco – Você nem sabe disfarçar.
   - Eu não preciso mais disfarçar, preciso? – ela sorria daquele jeito moleca. Uma mulher que ainda estava crescendo e amadurecendo. Onde foi que eu meti minha piroca, ã? Deveria me apaixonar por uma pessoa pelo menos próximo da minha idade, não tão mais nova. Não que eu estivesse apaixonado, talvez alguma coisa mais forte estivesse surgindo. Mesmo assim, de alguma forma ainda parecia errado.
   - Não, não precisa. – coloquei uma das mãos em sua cintura e a trouxe mais perto de mim. Testa com testa, nariz com nariz. – Mas você ainda fica com essa carinha de timidez enquanto toca em mim.
   - E você ainda tá com bafo. – fez um biquinho torcido para mim.
   - Sabe um jeito bom de acabar com esse bafo que tá te incomodando tanto?
   - Escovando os dentes?
   - Sim, também, mas eu estava pensando em outra coisa... – a deixa da minha fala foi eficientemente compreendida. Com a mão livre comecei a passear entre as coxas de que começava a se entregar à mim mesmo com o bafo que tanto a incomodava.
   - Que coisa, lenhador safado? – a garota passou os braços por meu pescoço e perguntou encarando o movimento da minha mão.
   - Chupando xoxota. Boa ideia, não? – mordeu os lábios e meu pau começou a querer ganhar vida. A mão que brincava com a carne dos glúteos decidiu mudar seu rumo, caminhou pela virilha, tocou os pêlos finos e ousou separar os grandes lábios. Ai, que delícia. Aquele pedaço de tesão se contraindo nos meus dedos. – Só tem um probleminha aqui, .
   - Qual? – seus olhinhos estavam entre abertos, ela tinha dificuldade para respirar e se concentrar nos meus atos e gestos ao mesmo tempo.
   - Ela não tá molhadinha daquele jeito gostoso.
   - E como a gente resolve isso? – a pergunta não era maliciosa. O sono ainda afevata que não conseguia pensar direito, ela queria me ajudar a resolver o impasse.
   - Você não faz nada mocinha, eu faço. – a sentei na cama. Delicadamente joguei uma perna pra cada lado fazendo com que a garota ficasse arreganhadinha pra mim. A carne das nádegas de sobravam pros lados me deixando doido de vontade pra morder aquela bunda – Agora você só me ouve, ok? – ela balançou a cabeça positivamente e se entregou às minhas palavras – Feche os olhos, – ela bem poderia dormir devido o sono infeliz que queria dominá-la, mas eu não deixaria – Agora imagine que não nos vemos há muito tempo. Ficamos meses e mais meses sem se tocar, sem se beijar, sem nem ao menos ouvir a voz um do outro. Você está em casa, presa, sem poder sair. Está subindo pelas paredes, desesperada por mim.
   - , isso é cruel. – parecia um gatinho pedindo por leite quando falava.
   - Disse pra ficar quietinha e só me ouvir, não disse?
   - Disse.
   - Então caladinha, por favor. Sei o que estou fazendo. – com cuidado fui com um dedo para a boca dela, se por acaso tentasse falar iria impedir – Você está lá com a bocetinha coçando de vontade, se masturbando o tempo inteiro pensando na gente. Então, de repente eu apareço no seu quarto. Me imagine só de calças jeans, com o botão aberto e o zíper baixo. Sabe o volume que você gosta de olhar? Imagine ele lá apontado firme pro lado e sufocado pelo jeans. Imagine meu peitoral suado pelo serviço, firme e forte do jeito que você gosta de tocar. – respirava de um jeito confuso. Seu corpo começava a responder aos meus estímulos. Ela tinha uma mania deliciosa de rebolar de leve o quadril conforme se excitava. Eu adorava olhar aquela porra se mexendo de um lado pro outro, me deixava perdido na vida. – Como seria? Nós dois completamente malucos de desejo, com toneladas de tesão ali prontas para explodirem. Não daria nem tempo pra pensar. Eu voaria feito um lobo faminto pra cima de você, me imagine te prendendo de frente para a parede, com esse rabo empinado. – dei um tapa safado no pedaço de bunda que conseguia atingir e prossegui – Você estaria vestindo uma daquelas calcinhas pequenas que você gosta e uma das blusinhas de alça sem sutiã. Mas eu não teria paciência pra tirar toda essa porra do caminho. Eu iria rasgar sua calcinha, . Só daria tempo de baixar minha calça e puxar meu pau pra fora. Não iria nem contar até 3, você só iria sentir eu te rasgando. Daí você ia começar a rebolar essa porra pra mim, rebolar essa bunda gostosa no meu caralho gemendo daquele jeito manhoso e gostoso que só você sabe. – soltava uns gemidinhos baixos e discretos, suas arfadas eram mais longas e o contorcer do seu corpo dizia que a coisa estava funcionando. Passei a mão em sua entrada de novo e notei o inevitável, a mágia estava acontecendo. Mas ela ainda não estava encharcada do jeito que eu queria – Agora, por mais que eu estivesse louco pra esporrar dentro de você, não seria assim. Iria parar de meter em você e grudar nos seus cabelos. Te fazer ficar de joelhos e com a boca aberta pra mim. Ah gatinha, esse lenhador aqui estaria doido de saudade de sentir sua boca. – usei o tato livre para brincar nos lábios dela. Passei o polegar pelo lábio inferior e segui o desenho até chegar no superior. Me abaixei e coloquei minha boca bem do lado do ouvido dela, quanto mais perto melhor seria – Sabe onde, ? No meu pau. Sua boquinha gulosa engolindo meu caralho. Eu sei que você também gosta, não é toa que geme igual uma putinha desesperada me chupando.
   - ...
   - Shi! Paciência, ainda não é sua vez. Se me interromper de novo, eu paro, entendido? – ela balançou a cabeça freneticamente e me olhou. Pedi com um sinal que voltasse a fechá-los e ela prontamente obedeceu – Ah , eu não perderia a chance de foder essa boca e de te esporrar na sua cara. Aí você me olharia do seu jeito desesperado com medo de que eu te deixasse sem gozar. Mas você sabe que eu não faço isso, não sabe? Te jogaria no chão de qualquer jeito e abriria essas pernas do jeito que elas estão agora. E então eu iria te chupar e engolir essa sua boceta... Mas isso você não precisa imaginar, . Olha pra mim – ela estava faminta por sexo. Se seus olhos pudessem soltar lava e chamas, provavelmente já teriam me queimado por inteiro.
   - Me chupa logo, você tá me matando.
   - Deixa eu ver... - abri esbaço e meti um dedo lá dentro, fundo e com força. soltou um grunhido alto e se desmontou na cama. Tirei o dedo dela e trouxe pra minha boca. Chupei meu dedo inteiro sentindo o gosto da garota – Agora sim. – Sorri. Era sensacional, o melhor molho do universo. Era daquele jeito que eu queria. Aquela xoxotinha totalmente molhada e melada – No ponto, .
   - E agora? – aquele lábio mordido sapeca significava algo que eu já sabia o que era, ela queria me ouvir dizer o que faria.
   - A gente resolve esse meu problema do bafo. – fiz um carinho em sua bochecha e fiz o caminho para baixo. Tomei uma coxa para cada mão e enfiei minha cabeça no meio delas. arfava cada vez mais rápido conforme eu me aproximava. Cansei de enrolar e fazer a espera ser longa demais. Minha língua foi da entrada de sua vagina até o topo do clítoris. O corpo de oscilou e garota pareceu receber um choquei. Procurei os olhos dela que estavam fechados e fiquei encarando. Passei a fazer movimentos curtos com a ponta da língua em seu grelo e permaneci até ela olhar na minha direção. Espremi o olhar em sinal de que a porra ficaria séria.
   Levei um delo para seu grelinho e minha boca procurou explorar outro lugar. A bocetinha tão molhada precisava de alguém para dar conta daquela umidade e eu era a pessoa certa. Meti a língua no meio daquela carne melecada e provei do gosto dela. Ela passou a gemer mais intensamente, forçava movimentos de foda com o quadril. passou a mão nos meus cabelos e puxou minha língua de volta para o grelinho duro. Eu queria dar conta da situação na parte mais baixa e apostei em uma jogada dupla. A penetrei com dois dedos e permaneci lambendo e mordiscando a parte de cima. rebolava na minha cara se esfregando em mim. Gemia pedindo por mais e eu dei tudo que pude até senti-la gozando na minha boca. Aquele momento, o ápice do tesão se desmanchando na minha boca.
   se desmanchou na cama. A garota balbuciou algo estranho antes de mergulhar no sono novamente. Eu queria ouví-la dizer o quão bom havia sido, mas, meu lado faternal percebeu que a pobrezinha precisava de um descanso depois de toda a coisa. A peguei no colo e ajeitei seu corpo na cama. A cobri com o lençol e coberta. Observei seu sono cheio de cansaço e senti vontade de congelar aquele momento. tinha uma doçura incrível quando em situações como aquela. A garotinha impossível, safada e faminta por sexo se transforma em uma criatura doce.
   Batidas na porta me desperteram do meu leve e romanticamente exagerado pensamento. Coloquei um casaco qualquer e abri a porta do quarto. Ouvi a voz de Nikolai me chamar. Me enchi de alegria subitamente até a preocupação voltar a me atormentar.
   - Niko? Mas que porra! – Nikolai estava acabado. A cara suja, a boca extremamente machucada e com uma arma à tira colo.
   - Acharam minha mulher e meu filho. – Nikolai parecia sério demais e completamente destruído.
   - Fizeram algo com eles?
   - Não. Foi o mesmo loiro maldito, o tal de Dolph Lundgren. Ele ofereceu 500 mil euros para que Alexia contasse meu paradeiro. Alexia rejeitou e ele foi embora. Foi aí que veio atrás de mim.
   - E o que raios você faz aqui? – Nikolai respirou fundo, ele parecia com pressa.
   - Eu não volto mais, . Vou pegar Alexia e meu filho e desaparecer nesse mundo. Vou deixar as coisas na sua mão. Me desculpe, amigo, eu queria te ajudar, mas eu preciso fazer o melhor pra proteger minha família. Faça o que você quiser, do jeito que quiser. A única coisa que te peço é que incendeie aquela casa o mais rápido possível, eles vão voltar.
   - Nikolai, ainda não entendi qual seu problema com a casa. Por que raios você precisa queimar essa porra?
   - Lenhador, meu querido lenhador. Já que estamos enfiados na merda, não custa nada se sujar mais um pouco. Assim que eu cheguei aqui fugido do Justice for Saint Mary percebi que teria de reunir todas as informações que possuía sobre eles e registrar em algum lugar. Eu ficaria velho, cansado e não lembraria de tudo mais. Por isso, aqueles papéis. Mas, papel fica velho, . Queima, molha, rasga. Por isso eu registrei o restante das coisas nas paredes da casa. Meu quarto, alguns outros cômodos, porão... Tem anotação cravada em madeira pra todo lado. Por isso eu preciso que aquilo queime e acabe, se alguém entrar lá... Vai dar uma porra de uma confusão do caralho. – fiquei puto. Quanto mais nessa história eu não sabia? Quem mais teria que morrer pra que eu descobrisse todo o necessário para acabar com a bosta do mistério?
   - E você decide despejar esse caralho na minha cabeça só agora? Obrigado Niko!
   - Não me julgue, tudo bem? Levei até onde deu, agora não dá mais. E se não se importa, posso trocar de roupa aqui?
   - É claro que pode. – tive ade aceitar a derrota. Dei passagem pra ele e fechei a porta. Nikolai estava um caco em forma de homem, um lixo.
   - Você dormiu em alguma trincheira? – Nikolai estava sentado no meu sofá. Quando ele tirou a camisa que vestia vi seu tronco todo machucado, com arranhões recentes e sinais de terra.
   - Me encontrei com pessoas no caminho. Tive que fazer uma trilha meio clandestina e acabei entrando no meio de uma negociação de armas. Adivinha só quem se fudeu? Isso mesmo, os caras que tentaram me pegar. - Por isso é bom ser seu amigo, você se vira bem sozinho e eu não preciso me preocupar. Agora só um pouco que vou pegar umas roupas pra você. – entrei no quarto vagarosamente e procurei por algumas peças que poderiam ficar para sempre com Niko. Tentei não acordar , mas quando percebi ela já estava na sala.
   - Bom dia, Nikolai. – Niko virou-se para ela. Ele me viu na porta fazendo uma cara estranha e abriu aquele sorrisão safado para mim.
   - Bom dia, . Desculpe te acordar.
   - Tudo bem, eu já estava acordada fazia um tempinho e com preguiça de levantar. – sai do quarto e entreguei as roupas na mão dele. foi ao banheiro e eu fiquei ali com ele me julgando.
   - Você não presta mesmo.
   - Nem comece com o sermão. Pode parar por aí. – joguei o amontoado de calças, camisas e dois casacos nele - Aqui suas roupas, não seja mal agradecido.
   - Não está mais aqui quem falou, mas você sabe que caidinho por essa menina.
   - Eu vou tomar essas roupas de você...
   - Tudo bem, tudo bem. – Nikolai se levantou rindo. Separou uma das camisas e virou-se de frente para a porta para vestir uma. O barulho de cacos de vidro ecoou pela sala. Olhei para a posição contrária e vi estática e boquiaberta parada perto da minha televisão. O copo recém quebrado estava espalhado pelo chão e a água sendo absorvida pelo tapete.
   - Você também tem essa tatuagem? – ela perguntou incrédula. Nikolai perdeu a forma descontraída e assumiu uma expressão de preocupação.
   - Já viu isso em outra pessoa, ? – Niko se aproximou dela e sentou-se com sua recém ganhada camisa na minha mesa de centro. - Sim. O novo cardeal da Igreja, o Chielline, tem uma idêntica à sua. - O tal Chielline? O que você se agarrou? Ele tem essa merda? Mas que porra!
   - Isso, , espalhe minha intimidade por aí. – a garota não gostou do comentário e fez cara de poucos amigos pra mim.
   - , foco. Isso é sério. Você tem certeza?
   - Sim, Nikolai. Essa coisa que vocês têm é reconhecível em qualquer lugar. É uma tatuagem peculiar.
   - Capeta, o Justice for Saint Mary está na cidade. , precisamos agilizar o nosso plano. Infelizmente, eu não posso ficar aqui até amanhã, mas, pelo menos por hoje, podemos organizar as ideias. Agora não é difícil de imaginar como morreu. Chame o porque a porra ficou mais séria agora. E leve a garota embora. – Nikolai levantou-se procurando pelas chaves do carro em seu bolso. me olhou completamente perdida e eu a abracei.
   - Vamos, vou te levar pra casa. Vai ficar tudo bem. - era a mais caótica mistura de medo e preocupação. Sua cabecinha parecia extremamente perdida e inerte à tanta nova informação. Mais que urgente eu teria que fazer algo à respeito.

xx

  Se me perguntassem a definição de felicidade eu responderia sem precisar pensar muito que essa era Armand Marion. Seu humor estava abençoado desde que havia ido. Assim que saímos do velório e chegamos à privacidade de nossos aposentos Armand se transformou em uma explosão de empolgação.
   Isso me preocupava e minhas preocupações precisavam ser camufladas. Com fora do caminho seria mais difícil controlar os ímpetos de Armand. Ele provavelmente exigiria ações imediatas da minha parte. Agora que possuía a planta da Igreja em mãos não demoraria para que ele descobrisse o inevitável: que o tesouro não mais estava na Igreja.
   Eu estava longe de conseguir contato com Nikolai. Se para Marion a não presença de era uma santa benção, para mim era simplesmente um pedaço do inferno. O padre tinha sido uma benção e infelizmente, veio parar naquela Igreja no pior momento possível.
   Algo havia despertado o monstro francês. Um algo sujo que fazia Marion agir na clandestinamente para tomar o tesouro. Até onde nossas fontes confiáveis do Justice sabiam, era para uma negociação milionária. Armand não tinha soltado maiores detalhes para mim e eu ainda me via perdido no escuro. Ao passo que descobrisse a verdade, a minha existência passava a ser comprometida. Com indo para um lugar melhor, os planos precisariam ser agilizados.
   Os objetivos se tornaram mais latentes. Eu precisava de algum manobra para encerrar o problema de uma vez por todas. Descobrir Nikolai e o paradeiro do tesouro era o mais importante naquele momento. Atrasar Armand em suas ideias também.
   Entrei no quarto de Armand que lia a Bíblia sentado em sua poltrona. Sentei-me na ponta de sua cama e esperei até que fechasse o livro sagrado e procurasse por mim.
   - O que foi, minha ovelha preferida?
   - Vim perguntar se você tem algo em mente para mim ou se eu posso tirar um dia de folga. Ando cansado, Armand. – o cardeal sorriu colocando a Bíblia em um criado. Tomou um gole de vinho e levantou-se.
   - Chielline, gostaria muito de te dar vários meses de férias. Mas você sabe que essa missão é de extrema importância e que não teremos mais apoio financeiro se demorarmos demais para realizá-la. Então, sim, preciso de você. – o sadismo da voz dele costumava me arrepiar até o último fio de alma assim que nos conhecemos, porém, depois de todo o tempo juntos nada mais causava efeito de espanto ou medo em mim.
   - Estou todo à ouvidos, Armand.
   - está fora do caminho, morto e enterrado. Graças ao bom Deus. O padre era boa alma, mas, se meteu onde não devia no momento menos propício. Eu sei que ele tinha uma missão aqui e fico feliz que tenha morrido a cumprindo. Farei o possível para que o nome de cresça ao lado dos santos nomes dos santos mártires da nossa Santa Mãe Igreja.
   - Armand, algo me passou pela cabeça e talvez fora precipitado matar . – havia pensado em algumas coisas e fazia parte do plano soltar algumas pontas para Marion.
   - O que seria exatamente?
   - E se achou o tesouro e o escondeu por conta própria? E se o matando nós acabamos com as chances de encontrar o objeto? – Armand parou e olhou para o teto, procurou pensar por alguns segundos voltando a atenção para mim.
   - Minha preocupação maior agora não é essa, embora seu argumento pareça plausível. Há outra ideia me perturbando, Chiello.
   - E o que seria? – Armand aproximou-se de mim e sentou-se ao meu lado.
   - parecia ter bons amigos por aqui, mais que isso, irmãos de vida. Eles não vão engolir essa morte, Chielline, eles vão procurar por respostas e não podemos permitir que eles as encontrem.
   - Então?
   - Então, querido Giorgio, quero que encontre os amigos do padre e se livre deles. - Armand era uma cobra experiente e terrivelmente inteligente. Seu raciocínio estava certíssimo. Não queria sujar mais minha mão de sangue, portanto, eu procuraria pelos amigos e pensaria em algo após isso. Pensando, lembrei-me do homem que apresentara para mim no dia de sua morte assim que o convidei para a missa. Eu já sabia por onde começar a procurar.
   - Certo. Se isso é o que tenho a fazer é isso que farei. Darei uma volta pela cidade procurando por informações. Mais algo?
   - Não, Chiello. Se preferir, pode começar pela manhã.
   - Se me permite, prefiro procurar por algo agora, é um horário melhor para achar pessoas transitando pela cidade.
   - Como quiser. – Armand sorriu para mim. Se pôs de pé de gentilmente e abriu a porta.
   Me vi no corredor com o cérebro pegando fogo. Eram pensamentos caóticos se cruzando. Pela mãe de Jesus, eu não suportaria mais toda aquela história por mais tempo. Assim que cheguei à area comum avistei Manterfos. O jovem comia um pedaço de torta de pêssego mirando o horizonte pela janela.
   - Boa tarde, Manterfos. – ao ouvir minha voz o garoto se sobressaltou. Derrubou o pequeno garfo de prata ao chão e virou-se me encarando com medo.
   - Chielline!
   - Sim, sou eu. – ri sem graça – O que houve?
   - Nada. – recuperou o garfo perdido e voltou a olhar a paisagem.
   - Manterfos, você está bem?
   - É óbvio que não, não é cardeal? – o jeito que falava expressava a frustração por ter perdido um bom amigo – está morto e eu não pude impedí-lo.
   - Sinto muito Manterfos, sei que fora uma perda enorme para você. mas, não pode se culpar. A culpa não é sua, não há nada que poderia fazer a respeito. – me aproximei do jovem e me coloquei ao seu lado. Abracei-o pelos ombros tocando nossas vestes.
   - Eu gostaria como o inferno de ter feito algo, Chielline. – sua voz era formada por resquícios de vingança e ódio. Manterfos não parecia apenas entristecido, havia uma chama de rancor naquele menino.
   - Não seja tolo, Manterfos. Você não teria como prever. Estou indo lá fora para dar uma volta, tomar um ar. Gostaria de ir comigo? – uma risada nasalada de escárnio fora solta.
   - Dar uma volta? Não sou idiota, Chielline. Sou muito menos tonto do que imagina.
   - O que está insinuando, garoto? – o discurso estava estranho demais.
   - Não vou dar volta nenhuma e... eu poderia ter impedido.
   - Poderia? – comecei a desconfiar. O garoto parecia querer me passar uma mensagem.
   - Sim, eu poderia. E me poupe desse teatro, eu sei o que fez. – a adrelina misturou-se ao meu sangue, fiquei agitado e extremamente ancioso. Uma falha desse tamanho não poderia ser aceita.
   - Manterfos, não faça isso. Não tente ser o justiceiro dessa história, não quero ter que fazer nada à respeito.
   - Ah, então vai me matar também? – o garoto desprendeu-se de mim e afastou. Agora estava cara a cara comigo com o diabo em seus olhos.
   - Manterfos... Não faça isso. Você não sabe onde está se metendo.
   - Pois me mate Chielline. Eu não me importo. Mas me mate aqui e agora, pois se eu pisar o pé lá fora, acabo em cinco minutos com essa palhaçada. – segurei em seu braço com força, ele tentou se desprender em vão.
   - Manterfos, eu sei muito bem o que fiz, não seja estúpido. As coisas não são como você pensa.
   - Tem alguma arma aí para você meter um tiro no meio da minha testa ou só mata com veneno em taças de vinho? – o filho da puta ... Como? Como ele havia visto? Como ele sabia? Estava tão puto comigo mesmo que minha vontade era de meter o tiro na minha testa, não na dele.
   - Garoto, me escute. Eu envenenei sim o vinho de . Ele entrou naquela ambulância sim, por minha culpa. foi daqui para um lugar melhor, sim. Mas eu tenho um ótimo motivo para isso. Não ponha nada em risco por pura estupidez.
   - Não sou otário, cardeal filho de uma puta. Você não vai me enganar, eu vou contar. Eu vou abrir a boca e você só vai me impedir se acabar com a minha vida agora. – eu precisava pensar rápido, na velocidade da luz. Seria impossível matá-lo naquele instante e mesmo que tivesse uma arma em mãos, não o faria. Eu não mataria mais uma formiga naquela cidade. Mas também não deixaria Manterfos escapar dali e por tudo a perder.
   - Eu tenho uma proposta. – o garoto escarrou na minha cara. Ele não estava com medo algum. Se tivesse que morrer, morreria com o orgulho e a coragem em seu peito. Eu respeitava esse tipo de atitude.
   - Não aceito nada vindo de ratos como você e Armand.
   - Manterfos, pelo corpo de , me escute.
   - Não ouse citar o nome dele. – as lágrimas começavam a aparecer em seus olhos. – Não fale de , uma boca imunda como a sua não pode e não tem o direito de citar o nome dele. Eu não aceito proposta nenhuma, não adianta tentar me comprar.
   - Moleque, você está me forçando a fazer algo que não quero... – outra cusparada. Raio de menino! Me vi desesperado, alguma coisa teria que ser feita. Esmurrei-o então, sem dó e piedade. Vi em câmera lenta a cabeça de Manterfos fazendo uma trajetória pra trás e logo voltando à posição original. Sua boca sangrava e o mesmo sangue que escorria por seus lábios voou na minha cara novamente. – Me desculpe por isso – desferi outro e mais outro. Até que então Manterfos se desmontou em meus braços. Tirei sua jaqueta e limpei o sangue que havia sujado o chão. Tomei-o em meus braços e fui com ele para fora. Segui o caminho que levava para a antiga casa dos pobres. Parei ao topo da colina e abri a porta cuidadosamente. O coloquei sobre a mesa e usei o que podia para mantê-lo ali amarrado. Usei uma fita que encontrei nos armários abertos para tampar sua boca. Infelizmente, o ato violento e quase trágico seria catastroficamente necessário.

Chapter XVIII

  Acordei assustado. Minha testa suava frio e meu corpo inteiro se tensionou em um desconforto gigantesco. Deitei para um simples cochilo logo após o almoço. O cansaço físico e mental eram dignos de um homem que tivesse saído da guerra. Então em uma súbita sinapse mais acelerada voltei à realidade e acordei ali, completamente torto. Olhei no relógio e percebi que já eram mais de 4 da tarde. Que merda!
   Levantei tonto e com um gosto horrível na boca. Fui ao banheiro e taquei várias mãozadas de água fria na cara. Me olhei no espelho e vi a bela bosta que estava. Minha olheira era funda, as rugas mais nítidas e minha barba era um emaranhado mal arrumado. Procurei pela espuma de babear e navalha. Tentei consertar aquele terror e acabei demorando mais que o planejado.
   Fui até cozinha, a fome começava a se alimentar da minha razão. Peguei os restos de calabresa, bacon e cebola e joguei na frigideira. A panela de arroz foi ao fogo e acabei refogando alguns legumes para diminuir o nível de colesterol do prato. Me servi de um copo de refrigerante e sentei-me a mesa. Enquanto comia mal podia deixar de pensar. Meu cérebro não me deixava em paz, estava em um poço sem fim de confusão.
   Pelo que me parecia em uma miséria de dias eu teria que queimar uma casa, resolver meu relacionamento com uma garota que poderia ser minha filha, levantar informações sobre um grupo secreto católico, investigar a morte de e achar um tesouro.
   Creiam em mim quando digo que era impossível manter a sanidade. Sentia a irritação me fazer perder o apetite. Raios! Não poderia desperdiçar aquele prato, a fome de lobo não me perdoaria por guardar o resto de bacon na geladeira. Me levantei e fui para a sala. Liguei a televisão e deixei no canal que passava Bloodsport. Jean Claude Van Damme e Bolo Yeung lutando a final da Kumitê. Não haveria coisa melhor para me distrair.
   Terminei o almoço e fiquei no sofá. Jogado e largado. Tirei as meias e a camisa e me dei o direito de deitar com a pança cheia para cima. Provavelmente tiraria algum outro cochilo antes de ir para o açougue me encontrar com .
   Ele andava muito mais feliz, animado e bem comido. Ana parecia dar um verdadeiro chá de boceta no homem e as meninas dele adoravam a bailarina rebelde. Senti uma pontade de inveja, um relacionamento saudável, bem resolvido e acima de tudo estável. Isso era o que eles tinham. Seria bom para mim estar em um desses ou sozinho. Aquele meio termo conflituoso e embaralhado que e eu tínhamos era de tirar a sanidade de qualquer um.
   Lá no fundo eu já sabia. Nenhuma outra mulher despertava tesão e desejo em mim. andava dominando meus pensamentos e já percebia que eu nutria um sentimento maior que prazer por aquela garotinha. Eu ainda me sentia sujo e culpado. O que um relacionamento daqueles queria dizer? Quando eu estivesse com 50 anos ainda não teria chegado nos 30. Como isso iria acontecer? Quando é que ela olharia para mim e me veria um velho chato e simplesmente me trocaria por algum novão sarado e mais fogoso? Esse tipo de coisa me revirava o estômago.
   Entre todas as coisas, esse era um medo recorrente que andava me perturbando. Além do mais, havia um mal maior. Os pais dela. Em algum momento eu teria que lustrar meus culhões e ir até lá. Sentar ao lado de Theodor e Irina e me assumir como o homem que era. Teria que dizer que estava comendo a filha deles e que gostaria de comê-la com a aprovação dos próprios. Cômico para não dizer ridículo. Um homem da minha idade e vivência pedindo uma garota em namoro para os próprios pais. Pior que isso, seria o correr o risco de ir pra cadeia, levar um tiro de Theodor ou ainda aguentar uma crise histéria de Irina por eu ter escolhido a filha. Eram muitos os cenários e nenhum deles parecia confortável.
   Fora todo esse dilema, lá estava o problema maior de todos. Ainda bem que estava comigo para ajudar, sozinho seria impossível agir. O Justice for Saint Mary estava oficialmente na cidade há dias. Mataram os pobres e mataram o meu padre. Como fazer as pestes vazar fora da cidade sem que nenhum mal mais acontecesse?
   Achar o tesouro e dar na mão deles? Talvez, quem sabe. Não seria tão fácil. Mais pessoas procuravam por aquela bela porcaria e aí minha curiosidade berrante começava a abrir as asas. Que porra de tesouro era aquele? Eu mal sabia sobre o tal Justice. Precisaria ler os papéis que Nikolai deixou comigo e ir até a casa para descobrir que porcarias ele tinha talhado na parede. Ah, minha cabeça já latejava de tanto pensar.
   Já caia em outro cochilo. Então o telefone tocou. O tri li lim insuportável ecoava pela sala e foi um sacrifício me por de pé. Cheguei até o quarto bocejando e tomei a porra na minha mão. - Alô. – mal humorado como sempre.
   - Que voz de bicho papão, . – reconheci a pessoa no mesmo segundo que o primeiro fonema escapou de sua garganta. Uma coisa estranha me fez tremer.
   - Você me tirou do meu cochilo, garota. Não é algo sensato a se fazer. – se fosse qualquer outra criatura do universo, humano ou não, eu iria xingar. Brigar, falar coisas estúpidas e desligar, mandar à merda. Mas, com ela eu não conseguia. No começo era mais fácil, esbravejar era simples e comê-la era difícil. Com o passar dos dias, tornou-se exatamente o oposto.
   - Desculpa, mas é que, eu precisava falar uma coisa. – aquele jeitinho tímido de falar entregava que aprontava.
   - E que coisinha é essa, ? Aliás, Wilda te passou meu telefone não é? Não gosto, mas é mais sensato que vir até aqui.
   - Tá vendo? Estou sendo mais responsável, seja legal comigo. – eu poderia imaginá-la sentada no sofá, com as pernas peladas para cima e mordendo os lábios enquanto fazia seu joguinho.
   - Agora diga, fiquei curioso.
   - Meus pais viajaram de novo e vão ficar cinco dias fora. E então eu pensei... – deixou a ideia no ar e eu já sabia do que se tratava.
   - Que minha casa é colônia de férias ou quem sabe um SPA de luxo ou até mesmo uma pousada hippie. , nós já conversamos sobre isso, não? – eu a queria por perto. Eu a queria extremamente perto, o mais perto possível, mais preferivelmente comigo dentrodela.
   - Mas, , pelo amor de Deus. Não seja tão neurótico. A Wilda concorda e aprova, ela gosta de você.
   - Como assim? O que quer dizer com essa de que a Wilda aprova?
   - Ela sabe de tudo, oras. Como você acha que ela cobre meus rastros e libera essas coisas?
   - Como raios ela sabe de tudo?
   - Tudo, lenhador tapado.
   - Tudo, tudo?
   - Tudo, tudo? O que tem demais?
   - Olha, não vou ter essa conversa por telefone. – isso me assustava. Eu e tínhamos um relacionamento perigoso e irresponsável. Os pais dela nem sonhavam com a coisa e se sonhassem, a merda seria grande. Comecei do jeito errado e queria terminar do jeito certo, mas não colaborava. Por Wilda no meio podia fazer a mulher perder o emprego e a moral na casa. Eram problemas demais pra um homem só.
   - Vai, me deixa ir praí. Por favor. – e a mania de falar cheia de manha como se fosse uma gatinha querendo carinho. E no fim das contas, ela era uma gatinha querendo carinho. Respirei fundo, tão fundo que achei que ficaria preso no buraco. Meti a mão nos meus cabelos e deixei o fôlego escapar com violência. Eu não venceria aquela batalha moral de qualquer forma.
   - Tudo bem. Mas, você não vem sozinha. tem que vir aqui e nós precisamos resolver umas coisas. Eu passo no açougue e a gente passa aí e te trás, certo?
   - Você é um doce, quando quer sabia? Obrigada, gatinho. – abri um sorriso nervoso e constrangido.
   - Gatinho? Sério? Quantos anos eu tenho, 18?
   - Gatão, então?
   - Até daqui a pouco, . – ouvi um barulho estalado de beijo do outro lado antes da mesma cair. A infeliz sabia que tinha poder sobre mim.

xx

  Armand me olhou com aquele semblante sério. Aquele semblante tinha um significado e eu sabia qual era. Conhecia o homem melhor que todos até mesmo que ele mesmo em algumas situações.
   - Nossa situação piorou, Chielline.
   - Pode jogar sem medo Armand, diga o que houve. – ele cruzou as pernas apoiando a mão no queixo, pensativo.
   - Eu soube disso um pouco antes de vir pra cá. Um contato de confiança me disse que outras pessoas procuravam pelo nosso tesouro. E você está a par da situação, só as pessoas da missão sabem onde ele está. Eu não sei, você não sabe e ninguém além daqueles sabem.
   - O que quer dizer com isso?
   - A pessoa que me procurou para conversarmos sobre o tesouro me deu um prazo. Acontece que por motivos pessoais ele precisou recolher esse prazo e eis a notícia ruim. Temos apenas mais dois dias. – vibrei internamente. Os planos de Armand indo à ruína. Maravilhoso.
   - Dois dias? Santa Mãe de Deus. O que faremos?
   - Primeira coisa. Achei que com longe nós poderíamos ter mais sucesso e pelo visto, me enganei. Mesmo com a planta e liberdade não achei essa porcaria, Giorgio. Não está aqui. – eu sabia que não estava. Sabia que a busca de Armand era vaga e nula e esperava desesperadamente que ele culpasse e não desconfiasse do ocorrido.
   - Fomos meio inconsequentes. Talvez o padre achou o baú e acabou fazendo algo com ele.
   - É uma opção. Mas agora não adianta lamentar pelo passado. Temos que manter o foco no presente. teve onde ficar quando saiu da Igreja. Ele tem amigos aqui. Vi um deles tentando salvá-lo na Igreja e o outro barbudo que ajudou com o caixão no enterro. Os dois são homens inteligentes, eu pude ver nos olhos deles. Eles não vão se contentar com a historia da morte de Gustav. – mais gente, Armand iria me pedir pra matar mais gente.
   - E então, presumo eu, que você quer que eu também os elimine.
   - Exatamente, meu caro companheiro. Precisamos de todos longe, temos dois dias pra achar o tesouro e sumir daqui. Deixei tudo muito mascarado quando viemos, mas é claro, o jogo é uma manobra comercial extremamente gigante, não só pelo dinheiro, mas pelo o que o homem pode me oferecer. E claro, suas férias sem fim e sossegadas regadas à luxo serão completamente arranjadas assim que terminamos. – Armand sorria. Ele realmente acreditava no sucesso da missão e se a mesma se sucedesse eu sabia que suas palavras a respeito das minhas férias seriam cumpridas.
   - Já dei um jeito no coroinha. Vou arranjar o resto hoje mesmo. Mas, e quanto ao tesouro, não sei mais o que fazer. – lá estava a cara do escárnio estampada.
   - Eu sou o cérebro Chielline. Já dei um jeito nisso.
   - Um jeito? – Armand tinha um tom convencido que não me agradava.
   - Alguém decidiu se vender, não é magico? – Armand descruzou as pernas e tomou uma postura mais casual. Tomou um gole de seu chá e aproximou-se de mim – Poder Chielline. Eu estou atrás desse tesouro, não só pelo dinheiro, mas sim, pelo poder. O dinheiro é apenas o meio pelo qual nós alcançamos o poder na sociedade atual. Todo homem deseja dinheiro pois, esse é o meio de obter poder. E quando se oferece poder e dinheiro a alguém, essa pessoa vai relutar contra sua moral, contra sua ética. Mas, no fim do dia, quando a cabeça relaxa sobre o travesseiro ela vai sentir a dúvida. E no primeiro raiar do sol, ela não vai resistir ao poder. – o diabo apressou em percorrer cada veia do meu corpo. Aquele velho magricela e maldito só podia estar de putaria com a minha cara.
   - Armand, está tentando me dizer que alguém de dentro se vendeu para dizer o paradeiro do tesouro? Essa porra não estava dentro da Igreja?
   - Pois é Chiello. Eu me perguntei isso quando corri cada buraco desse santuário e simplesmente não encontrei nada. Então me convenci de duas coisas. A primeira é que eu preciso ter certeza de que esse tesouro veio para cá e a segunda vem depois de confirmar a primeira. Parece complicado, mas, é simples. Se veio para cá e não está aqui, quer dizer que foi realmente um erro matar Gustav. O infeliz pode ter achado o baú e feito algo.- queria disfarçar a certeza que brilhava em meus olhos. Não estava ali, eu sabia que não. não tinha achado nada, pois, o tesouro nunca esteve na Igreja. Era um segredo que corroía minha habilidade de pensar.
   - E como você negociou com essa pessoa?
   - Resolvi usar o poder que tenho, afinal, ele serve para isso. – Marion ria sádico, mais típico dele que isso... impossível. – Contatei algumas pessoas no Vaticano que aceitaram analisar os arquivos e como num passe de mágica, Chielline, achei a missão desse nosso querido tesouro. A missão foi chamada Missão Real e nossos melhores homens foram postos nela. – uma das únicas vantagem que eu tinha caiu por terra. Os nomes soldados daquela missão eram trunfos os quais Armand não poderia ter conseguido. Maldito fosse o filho de uma vaca que colocou tudo no colo de Armand.
   - Armand, pelo visto, mais de uma pessoa se vendeu nessa brincadeira. Vários foram os que descumpriram as normas para te ajudar. E se isso chegar nos ouvidos do conselho?
   - Giorgio, Giorgio. Você sabe que isso não vai acontecer, não confia mais em mim?
   - É claro que confio. – engoli em seco tentando parecer o mais tranquilo possível.
   - Então, sem nervosismos desnecessários. Não te pus a par de nada disso antes, pois, quero você concentrado no que temos aqui. E essas pessoas que me cederam o arquivo nem imaginam que cometeram alguma infração contra o grupo. Apenas um se vendeu.
   - E quem é então o salvador da nossa pátria?
   - Quando peguei o arquivo com os nomes comecei a pensar. Me deparei com quatro pessoas, Erikssen Södberg, Herman Hellström, Marco Bergman e Nikolai Wallin. Dos quatro apenas um me era conhecido, Herman. Me lembro dele, ainda criança correndo pelo Vaticano quando enquanto o tio tratava de negócios. Bom rapaz, de boa família e de tradição. Sangue astuto, DNA guerreiro e esperto demais para negar uma proposta como a minha. Ele então aceitou me passar todas as informações sobre a missão. Porém, seu único pedido fora não tratar de nada por telefone e sim, pessoalmente. Ele chega aqui no dia de amanhã. – abri um sorriso que foi retribuído. Mas, não era felicidade, alegria ou satisfação. Era mais uma daquelas situações em que você está tão fodido que não consigue fazer outra coisa senão rir.
   - Isso quer dizer que preciso matar todos até amanhã?
   - Exatamente, amanhã pelo anoitecer nós resolvemos isso e voltamos para casa. – procurei no fundo da alma a força que precisava para descolar a bunda da cadeira.
   - Até o anoitecer, tudo estará feito.
   - Deus estará contigo, Chielline. E não se preocupe com nada além disso, eu e Herman cuidaremos do resto.
   Minhas pernas desaprenderam à andar pelos corredores. Me encostei em uma bela pilastra de cor bronze e rezei para que o teto desabasse sobre mim. Estava tão cansado e cheio de tudo. Precisava urgentemente de uma estratégia. Tinha menos de vinte e quatro horas para resolver tudo e conquistar o sucesso em minha missão.
   Então o caminho se acendeu aos meus olhos. , o homem que me mostrou o caminho para a praia segurou em seu colo enquanto o padre morria. , o homem de ombros largos e sorriso torto caminhava com quando o ofereci à missa. As únicas duas pessoas amigas de Gustav. A única esperança que me restava.
   Caminhava devagar e desiludido. Cheguei à porta da Igreja e mirei o horizonte. As pessoas conversavam, caminhavam com suas sacolas. Os carros passavam, as vidas corriam e eu ali, preso e perdido. Rumei a escadaria para procurar um lugar mais tranquilo para pensar. Assim que desci o primeiro pé observei um movimento instigante. e , juntos à porta de uma das mansões próximas à Igreja. Observei a cena curioso e finquei meus olhos no acontecimento. Minha respiração atingiu níveis desesperadores quando observei , a garota da praia e da Igreja, aos braços de . Ele a abraçou e os três rumaram colina abaixo. Um fato que parecia mudar tudo.
   Em momentos assim há sempre um estalo. Aquele chamariz que acende todo o seu raciocínio. costumava se confessar com sobre um homem, sobre algum relacionamento perigoso e errado. Ali eu via tudo, exatamente na minha frente. Eles rumavam a entrada da floresta e naquele exato segundo eu tive a certeza, a certeza de que ir até lá era tudo que eu precisava para resolver meu problema. Corri desesperamente até a casa dos pobres e chamei por Manterfos. O coroinha estava com a barba um pouco maior que o normal e um bigode fino adornava a parte baixa de seu nariz.
   - Agora, criança. Tem de ser agora.
   - Tem certeza?
   - Absoluta, você vem comigo.

xx

  Eu bocejava como um leão fatigado após comer uma zebra inteira. Mal conseguia andar, sentia meus olhos querendo fechar e aquela preguiça enorme se apossando da minha resistência. Apressei o passo e dei de cara com baixando as portas do açougue.
   - Boa tarde, minha donzela.
   - E aí, castor de araque? – terminou de chavear a porta e virou-se de frnete para mim. – Nossa, você está um lixo, meu filho. – o olhar dele tinha piedade da minha aparência.
   - Esse é o tratamento que ganho por te chamar de minha donzela? Sério? Você é terrível, . – meu açougueiro bufou e veio até mim.
   - Então, vamos? Preciso aproveitar esses dias para me concentrar nessa merda. Coloquei Ana e as meninas num avião rumo à Alemanha para não correr riscos.
   - Sério? Essa foi uma boa ideia. Não podemos dar chance ao azar. Enfim, vamos. Só preciso passar em um lugar antes. – tentei ser o mais neutro possível, mas, percebeu que eu parecia uma criança escondendo a arte.
   - , você não me olhou nos olhos enquanto falava. Você faz isso quando mente ou esconde algo, onde diabos a gente tem que passar? – fechei os olhos e travei meus passos. Respirei fundo tomando coragem para assumir. Por mas que eu gostasse de e a quisesse por perto, era um porre admitir isso para outras pessoas, mesmo os melhores amigos.
   - Promete que não vai me passar um sermão?
   - , perdeu a porra do juízo? – alterou o tom de voz, sua fala tinha um volume mais intenso e suas mãos se mexiam de um lado para o outro.
   - Ei, ei, ei, ei! Não fale comigo se eu fosse um idiota retardado que não mede as consequência das coisas. Você sabe muito bem que eu sou mais precavido daqui.
   - , não seja esse tipo de gente. – realmente parecia bravo comigo e até mesmo desapontado.
   - Que tipo de gente, ? – dei dois passos longos para frente e girei meu corpo para ficar de frente com e encarar sua cara chata.
   - O tipo de gente que vê a porra do cisco no olho dos outros e não enxerga a trava de madeira nos próprios olhos.
   - Não use parábolas bíblicas para me dar uma lição ou provar um ponto, não ouse, . – eu entendi o que ele queria dizer. A todo tempo eu tentava manter a pose, o orgulho, o ego e principalmente o controle. Então, eu me metia com em alguma situação perigosa e jogava a culpa nela como se eu não tivesse culpa também.
   - Lenhador, sou seu amigo e quase um irmão e por isso eu me preocupo. Os tempos estão difíceis e até onde sabemos a garota se atracou com um integrante do Justice for Saint Mary. Isso é perigoso e extremamente complicado. Já pensou o tamanho da merda que pode dar? Então pense bem, se você quer mantê-la segura ou simplesmente a esqueça ou não tire ela do seu lado. Não existe lado pra meio termo. Me entendeu? – falava mais baixo e sua postura era mais tranquila e apaziguada.
   - Entendi o quer dizer. Só não me leve a mal, mas ela vai pra casa hoje. Tudo bem? Preciso saber que ela está segura e do meu lado. – eu parecia uma comadre arrependida com a voz doce e as mãos na cintura.
   - Então me prometa que vai contar toda a história pra menina não ficar perdida e inerente à isso, sem saber o que está havendo. Ela precisa ficar ciente de tudo, ouviu? De tudo. E agora tire essa mão da cintura, porque isso não combina com você. – sorri e abracei . Ele relutou no começo, mas, depois se entregou. afagou meu cabelo e só por pura provocação eu beijei sua bochecha. Ele me chamou de “bicha” e eu ri, um risos verdadeiro. Não tinha vergonha de admitir que eu adorava meu açougueiro, meu eterno carnicento.

x

  , e eu. Ambos sentados à minha mesa com um prato de peixe cozido com legumes e batata. O cheiro dominava a casa toda e a fumaça tinha embaçado minhas janelas. Ficamos por um tempo em um maldito silêncio constrangedor. Eu definitivamente não queria ter aquela conversa com . Queria protegê-la e mantê-la bem longe de problemas. Mas, no fim das contas, até aquele exatamo momento eu nunca tinha realmente colocado a garota longe de problemas. Eu era o responsável de, certa forma, pelas merdas que ela tinha feito. Carregar o peso não era fácil. morreu sendo um adulto consciente de seus atos, mas, era apenas uma garotinha com a vida toda pela frente com o mínimo de juízo possível na cabeça. Por um momento eu perdi a fome.
   - O que houve com vocês? Estão quietos e estranhos. – falou cutucando o peixe com seu garfo enquanto encarava as batatas.
   - Estamos apenas preocupados, . Temos medo que no meio de tudo isso mais pessoas se machuquem. – acabou por responder, pois, eu ainda procurava uma maneira de começar aquela conversa.
   - Vocês poderiam me explicar tudo e parar de manter segredos. – agora ela tinha um tom de chateação bem nítido.
   - . – chamei e ela mirou seus olhos curiosos em mim – É meio complicado. Estou aqui pensando por onde começar e não sei.
   - Pelo amor de Deus, . Eu não tenho mais 11 anos, é só começar pelo começo, mas que merda!
   - Calma, mocinha. Muita calma, não é assim que as coisas se resolvem. – parecia mais tranquilo em lidar com tudo aquilo, possivelmente pela experiência com suas filhas.
   - Tudo bem, tudo bem. Mas, comecem logo por favor, meu peixe esfriando. – voltou a encarar o prato e me cutucou com o cotovelo. Respirei fundo e decidi agir feito macho.
   - Bom, , vai ser confuso, então não me interrompa, ok? – concordou com a cabeça fazendo careta e eu prossegui. – Um dia eu tive a ideia de chamar para vir para cá. Ele estava no Vaticano e aceitou minha proposta prontamente. Ele veio e nós tivemos momentos felizes. Eis que, se meteu em problemas. Como você sabe a nossa cidade é uma das únicas católicas no país e a única que mantém firme e a forte a fé no catolicismo. A Igreja tem poder por aqui e poder pelo mundo todo, afinal. Existe há séculos e eles não teriam chegado até aqui sem algumas estratégias.
   - Santa Inquisição, por exemplo? – me olhou com cara de tédio como se já soubesse de tudo aquilo.
   - Santa Inquisição, por exemplo. Cavaleiros Templários e o diabo a quatro. Agora, por favor, me deixe continuar, ok?
   - Ele perde a paciência fácil demais, não é? – levantou-se resmungando para pegar mais comida.
   - E fala comigo como se eu tivesse cinco anos de idade. , seja objetivo.
   - Se os dois continuarem me enchendo o saco. – levantei o garfo cheio de comida e apontei para os dois patetas – Eu não falo mais porra nenhuma.
   - Não seja uma mocinha afetada, .
   - Se quiser comer de graça na minha casa é melhor calar a boca, . – a situação já estava difícil e os dois ainda gostavam de brincar com a minha cara.
   - Tudo bem, tudo bem. Pode continuar. – colocou seu prato na mesa e levantou as mãos em sinal de derrota.
   - Como eu dizia, chegou por aqui e depois de uns dias recebeu uma carta. Essa carta foi mandada por um homem chamado Armand Marion. – largou o garfo e me olhou em choque, ela sabia de quem se tratava – Sim, sim, é o cardeal que está na Igreja e rezou missa e tudo. Silêncio, mocinha! – ela virou os olhos para mim e eu senti vontade de dar um tapa naquele rosto - Nessa carta Armand falava uma coisa muito estranha sobre matar pessoas em nome da Igreja assim como morrer por isso. achou estranho, veio falar conosco e Nikolai. Nikolai então nos contou que ele havia feito parte de um grupo secreto da Igreja Católica chamado Justice for Saint Mary. É tipo uma porra de uma seita, eles protegem bens católicos e resolvem confusões da Igreja. Nikolai fazia parte do grupo, mas depois de descobrir umas coisas ele resolveu abandonar e descumpriu severas guerras fugindo com um tesouro da Igreja. O maldito veio pra cá e escondeu a merda do tesouro na floresta.
   - Tesouro? – ela perguntou impulsiva e logo depois cobriu a boca em sinal de desculpas.
   - Eu não sei muito bem o que é ainda, por favor, me deixe continuar.
   - Vai, , sem frescura. – mirei com a cara brava e prossegui.
   - A questão é a seguinte. O Cardeal Armand e o Cardeal Chielline, o querido cardeal que você fez o favor de dar uns pegas, vieram para cá pra levar esse tesouro de volta pra Itália. Eles não acharam Nikolai, nem o tesouro e como caiu de paraquedas no meio dos planos deles, o pobre acabou por morrer. Esses dias um homem veio aqui perguntando por Nikolai e aquele dia que você dormiu aqui e Nikolai veio, era pra falar que ele estava indo embora porque o mesmo homem que procurou por ele no açougue o achou oferecendo dinheiro pelo tesouro. Resumo? está morto por causa desse inferno, Nikolai foi embora me deixando pistas soltas, aquele coroinha que se suicidou não se encaixou na história ainda e há gente procurando pela porra do tesouro que eu ainda não sei o que é. Por isso , mandou Ana e as meninas para férias fora de época e é por isso , que tento te manter longe da confusão. Estamos compreendidos?
   - Devo admitir que estou confusa. É muita informação.
   - Olha, eu sei que é complicado. Mas, não esquente a cabeça, e eu vamos resolver isso. O próximo passo é ir até a casa do Nikolai. Ele disse que lá poderíamos encontrar respostas e além do mais ele deixou alguns papéis comigo que também dizem algumas coisas. Só quero que entenda que é uma confusão sem tamanho e todos corremos perigo. Portanto, por favor, colabore e não teime comigo, ok? – os olhinhos dela brilhavam. Era um brilho diferente, não de excitação ou tesão. Era mais como um medo misturado com euforia. Eu temia por mim, mas, muito mais por ela. Não poderia deixar um fio de cabelo daquela garota se perder.
   - Não foi um bom dia para vir pra cá, né? – um sorriso amarelo surgiu em seu rosto.
   - Definitivamente não foi, mas, como você já está aqui, vai com a gente pra lá.
   - É melhor que ficar sozinha aqui, não? – perguntou gentilmente, coisa que eu não sabia fazer.
   - Tudo bem. Agora, vou por meu prato no microondas que meu peixe já congelou. – se levantou e eu não pude deixar de tarar suas nádegas coladas na calça esportiva da Adidas. Por um momento esqueci dos problemas da vida e foquei naquela bunda. Tão carnuda e chamativa, a vontade de beijar aquela parte e passar a língua por ali era inevitável. Tive que me manter melhor preso na cadeira quando pensei em quão bom poderia ser roçar meu pau ali. Meter no meio daquelas nádegas e foder bem gostoso seria impagável. Mas, tudo ao seu tempo e aquele não era o mais propenso para se pensar em sexo anal ao invés de sobrevivência.
   O micro-ondas apitou três vezes e voltou com seu prato esfumaçante para a mesa. parecia bem tranquilo e eu era o único agoniado. Queria o mais rápido possível ir até a casa do Nikolai para entendera merda de uma vez por todas. O sentimento de impotência e falta de controle me matavam aos poucos. Minha cabeça queimava e um cansaço pesado atingia meu físico.
   Terminamos de comer e jogou toda a louça na pia. Eu não sabia como proceder, meu pensamento estava todo congelado. Eu deveria oferecer sobremesa ou simplesmente ir até lá logo de uma vez?
   - Nós vamos lá agora ou fazer o que? – questionou e eu olhei para pedindo com meu bico tristonho que ele tomasse a decisão.
   - Quanto mais cedo nós fizermos isso, melhor, não?
   - Sim, então vamos logo. , pegue um casaco meu para você no quarto porque esfriou.
   - Tudo bem. – ela sorriu e saiu saltitante atravessando a porta.
   - Estou com uma mau pressentimento, .
   - Não, , por favor, não agora. – eu pensei que ele estava tranquilo e em paz. Mas não, o filho da puta disfarçou bem na frente da garota. Ele queimava por dentro tal qual eu.
   - Você acha que isso vai ser fácil? Que dois bostas como nós vamos simplesmente vencer essa sozinhos e com uma adolescente à tira colo?
   - O que você quer que eu faça? Vamos simplesmente fugir da cidade, sumir e deixar a morte de ao cargo da justiça divina? – um sentimento de revolta me invadiu e eu senti vontade de quebrar a casa inteira. Eu sabia que era arriscado e que um plano daqueles provavelmente daria em merda. Mas, mesmo assim eu sentia que alguma coisa destoava e eu precisava descobrir o que era.
   - Olha, não perca a cabeça. – fechou os olhos pensando na melhor maneira de falar o que queria – Ela só não deveria estar aqui, entende? – eu sabia que não. e eu nunca deveríamos ter nos conhecido. Era um erro gritante que me ensurdecia. Porém, naquele instante e perante a realidade eu não poderia apagar o passado. Ela estava ali e a situação não mudaria em um passe de mágica.
   - Eu sei que não, mas, agora eu não tenho pra pensar em mais nada, simplesmente vamos logo antes que eu desista.
   - Como quiser, campeão. – passou por mim dando dois tapas em meu ombro. Logo depois guardou ambas em seus bolsos e partiu para a sala. Segui seu rastro e me deparei com vestindo meu casaco xadres preferido e meu chapéu de guaxinim. Ao me ver, sorriu bem nervosa. Parecia ter medo de que eu brigasse com ela pelo abuso. Lá no fundo eu senti vontade de arrancar a peça da cabeça dela porque eu realmente era ciumento com o chapéu. Só que... ela ficou tão estonteantemente linda com o Guaxinim adornando seus cabelos que a única reação que tive for rir.
   - O chapéu caiu bem em você. – me aproximei dela e dei um peteleco em seu nariz.
   - Obrigada, achei que você fosse me matar por tê-lo posto.
   - Sorte a sua, a única vez que coloquei isso, quase atirou em mim. Você é especial, mesmo. – se fez de ciumento e abriu a porta da sala caminhando em direção à varanda.
   - Não seja a ex namorada mal comida, . – eu também chegamos à varanda encarando as árvores sacolejando de um lado para o outro.
   - Mal comida porque seu pinto é pequeno. – pulou os degraus e tomou caminho à nossa frente rumando à casa de Nikolai.
   - Mentira, seu pau é enorme. – sussurrou em meu ouvido com a voz cheia de manha me fazendo sorrir safado.
   - Eu sei, gatinha. – fomos pelo mesmo caminho de , sumindo floresta a fora.

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  A madeira do solado ruiu quando nós três entramos. Fui à frente pressionando o interruptor e tudo se iluminou. Foi um choque para mim, estava tudo vazio, nenhum móvel sequer, nada além das paredes, o chão e o teto. Havia me acostumado com a casa ao jeito de Nikolai e vê-la daquela maneira me fez ficar ainda mais assustado e preocupado. Eu estava com medo, há como anos não ficava. Pior que isso, temia morrer. Sempre achei que seria bom com relação à morte, acabei de me dar conta de eu ainda não estava pronto para morrer.
   Indiquei o corredor que levava ao quarto. Mais uma luz acesa. A madeira escura estava coberta por alguns tecidos. foi à frente os rasgando e várias anotações em cor preta brotaram aos nossos olhos. Era um emaranhado desgraçado de informações. Nada parecia fazer sentido.
   - Mas que porra é essa, ? – me olhou completamente perdido.
   - Não faço caralho de ideia alguma, o filho da mãe podia ter organizado melhor as coisas.
   - E por que ele escreveu tudo isso aqui? – perguntou indo em direção à parede próxima a janela tentando ler as palavras meio apagadas que ali estavam.
   - Nikolai já não é nenhum mocinho, ficou com medo de ficar velho e esquecido. Por isso decidiu escrever tudo na parede porque segundo ele mesmo disse, papel amarela, rasga, molha... Enfim, ele achou mais seguro.
   - Isso é meio excêntrico. – parecia uma criança perdida olhando uma parede extremamente colorida.
   - Nikolai é uma caixinha de surpresas. – eu tentava achar uma conexão entre aquelas informações. Porém, nada parecia se encaixar.
   - Acho que ele escreveu tudo dessa forma de propósito. – constatou tirando um tecido preto que cobria a parte de trás da porta.
   - Como assim?
   - Simples, lenhador. Nikolai quis dificultar a missão, se alguém o achasse e achasse tudo isso aqui – indicou as paredes com as mãos – Demoraria muito tempo para entenderem do que se tratava. – bati palmas para que me mandou um dedo do meio.
   - Não fique bravo, meu pitelzinho, isso realmente faz sentido e é uma contastação incrível.
   - E os tais documentos que ele te deu? – questionou .
   - O que tem?
   - E você já os leu? – neguei com a cabeça – Não seria melhor lê-los aqui para entender melhor? Às vezes lá tem alguma coisa, não sei. – tudo mundo parecia raciocinar melhor que eu. Queria entender que raios estava acontecendo comigo. A ideia de era completamente plausível.
   - Façamos o seguinte. Vamos entender um pouco do que está aqui, se for impossível eu busco os papeis. – ficamos ali, meticulosamente lendo e tentando juntar informações.
   - Vamos tentar entender o sistema. O Justice for Saint Mary lida com vários participantes responsáveis por guardar tesouros, certo? – era uma mente brilhante mal aproveitada – Se eles possuem tantas tarefas, precisam se organizar. Como a polícia, por exemplo, que dá um nome para cada caso. Então esse lance do Nikolai deve ter um nome e uma equipe.
   - , eu quero beijar sua testa. – me aproximei dele e o babaca me afastou – Não me negue amor, ingrato.
   - Sem brincadeiras, vai trabalhar, caralho. – ri e voltei a ler.
   - Olha isso, . – me chamou e indicou algo que estava escrito em vermelho. As letras eram grossas, de forma e maiores que as outras. A escrita revelava algo chamado Missão Real.
   - Missão Real? – soltei ao ar.
   - Missão Real deve ser o nome do caso deles. Mas, por que real?
   - Porque envolve algum rei? – também tentava racionar.
   - Será que roubaram algum tesouro real? – veio com mais pergunta e aquilo estava me matando.
   - Eu não acho que isso se trate de dinheiro, .
   - E se trata do quê?
   - De algo que possui valor, mas não exatamente uma quantia de dinheiro? Por que o vaticano montaria uma organização pra guardar dinheiro?
   - Ei, ei, ei. Estamos esquecendo de algo importante aqui. Nikolai nos disse que esse tesouro se tratava de um xodó da Igreja, se lembra? – comentou e uma luz começou a piscar desesperadamente no meu cérebro.
   - Sim, porra! Ele também disse que conseguiram isso na época do reinado de Henrique VIII e que eram informações. Informações contra a coroa Inglesa. É isso, .
   - Gente, vocês estão me deixando ainda mais confusa.
   - , não tente entender. – alertou – Agora vem a parte confusa. Por que raios ficaram tanto tempo sem procurar por Nikolai e resolveram vir atrás disso justo agora?
   - Aquela sueco veio atrás de Nikolai querendo comprar o tesouro. A Igreja deve ter descoberto algo e por isso acordaram agora.
   - Porra, eu vou explodir. Pensem mais devagar. – se sentou no chão com uma expressão tediosa.
   - , desça no porão. Nikolai disse ter mais coisas lá. Vou ver o que arranco daqui, senão conseguir nada vou em casar buscar os papéis.
   - Certo, chefe. – sumiu da minha vista e eu voltei minha atenção para .
   - Está cansada? – ela me olhou fazendo aquele biquinho impossível.
   - , me desculpe. – deu dois tapas no chão ao lado dela me convidando para sentar. Caminhei até ela e me pûs ao seu lado.
   - Pelo o que, garota?
   - Eu insisti em vir para sua casa, sendo que você tinha essa merda toda pra resolver. Eu não fazia ideia, fui egoísta. Foi mal. – uma puta sacanagem. A voz doce, o olhar piedoso e os lábios mordidos não faziam bem para mim. tirava minha concentração, me distanciava dos reais problemas.
   - Não adianta chorar pelo leite derramado, não é mesmo? Agora você já está aqui. Afinal, você só veio porque eu concordei.
   - A gente não consegue mais ficar um longe do outro, não é? – sorriu vermelha e sem graça. Eu não sabia o que fazer com minha cara. Era verdade. Ela queria vir até mim todo o tempo e eu não era mais capaz de negá-la isso, pois, eu a queria do meu lado.
   - Estou fazendo um milhão de merdas por sua causa.
   - Quem está sendo irresponsável agora, ã? – a garota me olhou, bem no fundo quase me cegando. Ela não deveria estar ali, não mesmo. Seu lugar era longe de mim, dentro de sua casa em segurança. Entretanto ,a minha racionalidade já não ganhava mais dos meus sentimentos e extintos. Não pensei muito. Puxei pelo queixo com a maior rapidez que pude e grudei minha boca dela. Ela se assustou e saltou para trás com o corpo. Não pude evitar rir e ela acabou por me acompanhar. Sem falar nada, se jogou em mim. Os braços rodeando meus ombros e o nariz roçando o meu. Decidi que ficar quieto seria o melhor.
   Fui com uma das mãos em sua nuca e apertei firme. Os cabelos da nuca dela se prenderam aos meus dedos e eu os puxei. pendeu para trás com a boca aberta e eu joguei sua cabeça de lado. Arqueie para frente e fui com minha língua direto naquele pescoço suculento. Sentir o gosto de na minha boca era impagável. Meu corpo todo enlouquecia e eu perdia a noção de tudo. Nada mais importava além de nós dois.
   Queria arrancar um pedaço do pescoço de para mim. Meus dentes pressionavam sua carne e seus leves gemidos me impulsionavam para mais. Ela lutou contra a força que fazia em seu pescoço e descontrolada de jogou na minha boca. A língua de lambia meus lábios e a porra do tesão explodiu dentro de mim. Puta garota gostosa.
   - , eu quero gozar. – ela falou bem baixinho na minha boca. Soltei uma gargalhada longa e alta – Que foi, seu idiota? – estapeou meu tronco se fazendo de afetada.
   - No meio dessa porra toda e você quer gozar?
   - Sim, eu quero. Aqui e agora. Essa história me excitou. – moveu as pernas ficando sentada no meu colo. Oh céus! Ela começou a rebolar em mim e meu pau se acendeu, ficando cada vez maior e mais duro. Raio de menina.
   - Rebolando desse jeito, quem vai gozar sou eu.
   - Não antes de mim. – ela abriu o sorriso mais safado que eu já tinha visto e aumentou a pressão na minha ereção.
   - Garota...
   - Por favor, , não seja uma mocinha. – ela queria me vencer pelo desafio. Mal sabia ela que eu a queria fazer gozar desde que entramos na casa.
   - E como você quer gozar, safadinha?
   - Eu deixo você escolher. – se recolheu do meu colo e voltou ao chão. Abriu o casaco que vestia deixando o no chão. Tirou seu moletom junto com a camiseta deixando apenas sua barriga e o sutiã expostos. Eu a olhei entorpecido e totalmente excitado. me perturbava, me desafiava e me deixava em situações terrivelmente cruéis.
   - A gente não tem tempo, então direto ao ponto, ok? – me chamou com o dedo e eu fui, bobo e entorpecido até ela.
   A puxei para mim pelo sutiã e a garota se derreteu toda ao meu toque. tentou me beijar e eu não permiti. Ela disse que deixaria eu escolher, não?
   - Você deu poder de decisão para mim e eu já escolhi. – meu olhar pervertido e mal intencionado fez com que os pelos dela se arrepiassem.
   - E o que eu vou ganhar? – tinha voz mais rouca e excitada. Podia apostar que sua bocetinha já pingava por mim.
   - Fiquei tarando essa porra dessa sua bunda a noite toda. – peguei o cós da calça e puxei sem cerimônias para baixo. Sua bunda ficou exposta e soltou um “ai” bem safado. Espalmei minha mão na carne dela de uma forma que uma marca de dedos fosse inevitável. – Fica de quatro pra mim, vai. – nem ao menos exitou. Me soltou uma piscadela e virou-se. Abaixou a cabeça e pôs-se de quatro. Bem devagar ela empinou a bunda e deixou as pernas abertas me dando extrema visão. Seu cuzinho brilhava e sua boceta gritava por mim.
   Me coloquei atrás dela. Meu rosto perto do seu e as mãos passeando por seu corpo. tentou tirar o chapéu. Coloquei minha mão na dela não deixando-a de forma alguma tirar o meu guaxinim.
   - Não, nem ouse. Eu tenho uma tara com esse chapéu, a senhorita vai continuar com ele.
   - Você manda, . – deu uma rebolada abusada e eu mordi a sua orelha.
   - Vai ser rápido, ok? vai me berrar daqui a pouco.
   - Cala a boca e me dá um orgasmo logo. – seu rosto virou para o meu. Nós nos beijamos daquele jeito insano e perturbador. Uma chupação de língua indecente. Rápido e certeiro, você sabe o que fazer, .
   Desci a mão que estava em suas costas para o meio das nádegas. vibrava e se arrepiava. Molhei o dedo no caldinho que escorria em suas pernas e o lubrifiquei. Puxei a capinha do clitóris de e o pressionei. A garota gemeu um pouco mais alto e com a mão livre eu tapei a boca dela. Não queria ser pego.
   Passei a masturbá-la com precisão. Sem enrolações, eu teria tempo em casa para prolongar as preliminares e quase matar do coração. A menina gemia na minha mão e rebolava cada vez mais a bunda gostosa. Seus movimentos pediam por meu pau metendo bem fundo. Um “me fode” acabou por sair abafado de sua boca.
   - Me promete que vai ficar quietinha?
   - Pelo amor, vai logo. Eu prometo.
   - Meto meu caralho em você só em casa. Vai gozar nos meus dedos agora. – ela iria reclamar mas eu evitei. – Não discuta ou você fica sem nada.
   Tinha que ser ligeiro e eficiente. Me ajoelhei bem atrás dela e empinou mais ainda a porra da bunda rebolando de um lado para o outro. Eu quase, mas quase, baixei o zíper e meti ali sem dó. Não agora, não agora.
   Abaixei-me e minha boca ficou na altura de seu clítoris. Fui com a mão para a entrada dela e posicionei dois dedos. Exatamente na hora em que lambi seu grelo eu meti os dois lá no fundo. gritou e eu tirei a boca dela para morder sua bunda em sinal de repreensão. Para meu azar, ela pareceu gostar da mordida e gritou mais uma vez.
   - Silêncio, porra.
   - Vai logo, pelo amor de Deus.
   Voltei a chupá-la enquanto a fodia com meus dedos. se descontrolava cada vez mais e eu tinha certeza que podia ouvir. Resolvi intensificar e meti mais um dedo. se arqueou pedindo por mais e acelerei a velocidade da língua em sua bocetinha extremamente molhada. Ela rebolou mais, eu fui mais rápido e eis que o inevitável aconteceu. travou o corpo, soltou aquele gemido mais prolongado e se desmontou. Eu continuei até sentir seu caldo escorrer na minha língua. Meu pau estava pulsando nas calças pedindo desesperadamente para gozar e não poder fazer nada para melhorar minha situação provavelmente me mataria.
   Ajudei a se vestir e ela ficou de pé, me abraçando.
   - Você é foda quando quer.
   - Sou foda sempre, garota. – beijei sua testa e voltei a olhar para frente. Encarei um de cara feia.
   - Vou fingir que não ouvi nada, ok? Achei coisas no porão, mas não consegui ligar os fatos. Vá buscar os papeis enquanto eu vomito.
   - Drama queen. – e eu passamos por e fomos para a saída da casa.
   O frio estava pior. O vento cortando minha nuca e sentia vontade de roubar o meu chapéu que enfeitava a cabeça de . Caminhávamos tranquilamente e sem pressa. grudada em meu braço fazendo carinho na mão e eu com o problema da ereção sendo resolvido pouco a pouco.
   - Você precisa fazer um tour comigo pela floresta um dia desses.
   - Espera esse problema todo passar e eu juro que te levo pra dar um bom passeio por aqui.
   - Esse lugar é enorme. Só conheço a trilha pra sua casa e o caminho até aqui. Como conseguiu aprender tudo?
   - Venho aqui desde que nasci, foi com o tempo.
   - Daqui a pouco vai ficar velho e esquecer tudo. – ela mandou um beijinho para mim quando a encarei com a cara totalmente fechada.
   - Te fiz gozar e é assim que você me retribui?
   - Depois o que é a drama queen, né? – dei um tapa na bunda dela que começou a ter um ataque de riso.
   - Vem cá que eu vou te mostrar quem é a drama queen, ? – a garota se soltou de mim e correu um pouco a frente. Girou seu corpo ficando de frente o meu e começou a andar de marcha ré.
   - Só vai me mostrar algo se conseguir me pegar.
   - ... – não consegui adverti-la. Quando dei por mim corria em direção à minha propriedade. Sua corrida era pomposa, dava saltinhos no ar e ria. Dei à ela um tempo de vantagem e acelerei para alcançá-la. sumiu por entre as árvores e eu jurei para mim mesmo que a garota seria punida na cama mais tarde.
   Corri por cerca de três minutos e avistei minha varanda. A porta estava aberta e as luzes acesas.
   - , não brinque de esconde-esconde comigo, não tenho paciência. – nenhuma resposta. Entrei em casa procurando por ela e... nada. Um nervoso começou a me corroer e fiz o máximo de esforço possível para não entrar em pânico. Voltei para o lado de fora e meu coração subiu pela garganta. Minha respiração travou, o sistema nervoso perdeu as funções e eu senti minha vida se esvaindo aos poucos. me encarou em desespero, tinha lágrimas correndo por seu rosto delicado e o medo fluindo por suas veias. tinha me dito e eu sabia, mas, me neguei. Ela não deveria estar ali.
   - Nenhum movimento brusco, lenhador. – reconheci o cidadão. Cardeal Chielline. O filho da puta tinha uma arma apontada na cabeça de que não abria a boca para dizer uma palavra se quer.
   - Cardeal dos infernos. Eu vou te matar, seu filho da puta.
   - Não, não vai. – sua fala era séria e concentrada – Você não vai conseguir descobrir nada sobre Nikolai e o Justice for Saint Mary sem mim. – não sabia o que fazer e como fazer. Se eu errasse levaria o tiro. O súbito pensamento me dava náuseas. Isso não era uma opção, morta por um tiro não era uma possibilidade viável.
   - Eu não sei do tesouro, seu bastardo imundo. Haja feito a porra do homem que é, solte a garota e resolva as coisas comigo.
   - Me perdoe, . Mas não solto a garota agora de forma alguma, ela é a única chance que eu tenho de você me ajudar. – fiquei emputecido, louco de raiva. Me aproximei mais do dois de forma cautelosa soltando fogo pelas ventas.
   - E quem disse que eu vou te ajudar com alguma merda, seu bosta?
   - Eu estou dizendo. O que conseguiu descobrir? Nada, não é mesmo? Nikolai te deixou todas as pistas, mas, você não vai conseguir nada. Nikolai era um dos soldados da Missão Real que guardava um baú cheio de informações do reinado de Henrique VIII e sua filha Elizabeth.
   - Conte-me algo que eu não saiba, porco dos infernos. – estava longe, meu machado e arma completamente distantes de mim. Poderia esmurrar o Cardeal, mas, não correria o risco de sofrer um arranhão sequer.
   - Sei de muitas coisas que você não sabe. Uma delas é o porquê do coroinha ter chegado até a casa de Nikolai por exemplo. – abri a boca para falar algo e nada saiu. Aquilo me pegou de surpresa e eu não sabia mais o que fazer. Minha vontade era me desmontar no chão e chorar. – Sei também que Armand mandou-me matar todos vocês e que um integrante da mesma missão de Nikolai está vindo para cá pra achar essa porra de tesouro. Armand não vai achá-lo e vai botar essa porra de cidade abaixo, então acho que você não tem muitas opções.
   - O que quer de mim? – eu negociaria? Meu cérebro mal pensava, não achava um caralho de solução que parecia coerente.
   - Quero que entenda que tenho um plano, que sei o que estou fazendo e que preciso de acesso à casa de Nikolai e os documentos. Eu sei tudo, fiquei a noite toda aqui de tocaia escutando as conversas.
   - Cardeal, por um acaso eu tenho cara de idiota? De burro? De demente mental?
   - Muito pelo contrário, lenhador. – ele sorriu e eu fiquei com mais vontade de estourar seus dentes. Ele tinha beijado minha garota, tocado nela, posto aquele pinto podre pra fora na frente dela e agora tinha uma arma apontada para ela. Se eu tinha um arque inimigo no mundo certamente era ele. – Você é bem inteligente e vai me ajudar. é minha garantia de que vai fazer tudo certo.
   - Então fale logo, porra, o que quer de mim?
   - Amanhã a pessoa que pode por tudo abaixo chega. Preciso me livrar dele e deixar o caminho livre. Tudo acada amanhã, . Você me ajuda a finalizar meu plano e eu te garanto que a morte de e todos os seus problemas vão ter um final de feliz. - o oxigênio que respirava queimava minhas veias. Aquilo só podia ser um pesadelo, uma brincadeira diabólica sem graça. Queria fechar os olhos e abrí-los e descobrir que tudo não passava de pura ilusão de ótica. Mas, não. Era a verdade, a mais doída verdade de todas.
   - Qual minha garantia? – O Cardeal permaneceu em silêncio por alguns segundos. Esperava por algo que eu não sabia o que podia ser. Então, ouvi barulhos de passos se aproximando, me coloquei na defensiva encarando a minha esquerda e vi alguém se aproximar. Quando chegou mais próximo reconheci o garoto segurando um envelope de cor vermelha.
   - Manterfos! – o garoto estava com a barba um pouco crescida, olheiras fundas e os lábios secos. – Garoto, desgraçado. Como pode?
   - , confie em Chielline. Por favor.
   - Cale a sua boca se não e eu enfio a mão nessa sua cara lavada, criança desgraçada.
   - Meta a mão na cara dele que eu meto uma bala na cabeça dela. Pegue o envelope e fique quieto. – tomei o envelope da mão de Manterfos que parecia sereno e calmo. Que porra estava acontecendo com o mundo?
   - O que tem aqui?
   - Um mapa do tesouro. Divertido não?
   - Um mapa do tesouro? Agora vamos brincar de ser piratas? – um sorriso nervoso fez-se em mim. Não podia acreditar, eu iria matar alguém.
   - Esse é o único papel que nos indica onde o tesouro possivelmente está. Não te direi nada além disso. Esse papel é tudo que tenho e te dou ele como garantia. Amanhã cedo, estarei aqui. Garanta que o açougueiro estará aqui também. Vá até a casa de Nikolai e o coloque a par da situação. É hora de ir. – olhei para e mal conseguia ficar de pé. A culpa, o sentimento de impotência nunca estiveram tão fortes em mim. As lágrimas dele se fizeram minhas. Eu faria qualquer loucura para salvá-la. A responsabilidade tinha sido minha, eu a tinha posto naquela porra e eu a tiraria dela.
   - , vai dar tudo certo, ok? Você vai ficar bem.
   - Não vou fazer mal pra garota, . Suma daqui agora. Logo cedo estarei aqui. – Manterfos se afastou e Chielline com a arma anda na cabeça de apontou o caminho. Tirei forças do fundo do meu âmago, usei toda a minha fúria como combustível para correr até a casa de Nikolai. Uma coisa eu poderia garantir, não sobraria pedra sobre pedra naquela cidade.

xx

  Abri a porta da casa dos pobres e gentilmente pedi para que entrasse. Ela estava nervosa e calada, profundamente confusa e chateada.
   - Você é um filho de uma puta. Eu confiei em você, Chielline maldito. E confiei em você, Manterfos, moleque infeliz. – suas palavras eram como labaredas.
   - Acha mesmo que eu concordaria com isso se fosse errado, ? Eu amava como se fosse meu pai. Se estou nisso é porque sei o que estou fazendo.
   - Ah, me poupe. Se querem me matar, me matem logo.
   - Ninguém vai morrer nessa história, . – me aproximei dela e ela me esquivou dando socos no ar.
   - foi o suficiente para você? Foi você, não foi? Tenho certeza que foi.
   - Você não sabe de nada, . Confie nele. – não afastou Manterfos. Ele sentou-se sobre a mesa ficando de frente para ela que mantinha os braços cruzados e a expressão raivosa.
   - está morto, Manterfos. Você está sendo enganado, agora é fácil fingir que nada aconteceu.
   - Pois eu posso te garantir que está enganada, . Eu jamais faria tudo o que fiz com você por pura calhordagem.
   - Me desculpa, Cardeal. Mas eu não confio em você.
   - Então, eu vou precisar fazer algo a respeito. – ela me olhou estranha e eu abri um sorriso. Tinha minha carta na manga, a mesma que usei para conquistar a confiança de Manterfos. Uma carta que tinha sido tirada do baralho, mas, que voltaria para ele no dia seguinte.
   - Venha, nós vamos fazer uma visita a um amigo meu.
   - Um amigo seu? Pelo amor de Deus, não me venha com mais mentiras.
   - , não seja boba. Você é inteligente e curiosa. – cheguei perto dela que dessa vez permitiu minha aproximação. – Você vai gostar, eu prometo.
   - E por que seu amiguinho não pode vir aqui?
   - Porque ele mora no cemitério, . - a garota saltou em minha direçaõ completamente transtornada.
   - Essa brincadeira não tem a mínima graça, filho de uma mãe. Não brinque com a minha cara.
   - São dois os tipos de mortos que moram no cemitério, . Aqueles que não existem mais no plano terreno e aqueles que se escondem da sociedade. - ela me encarou parecendo confabular alguma coisa sombria.
   - Chielline...
   - Venha, meu amigo deve estar com saudades. - sorri e dei minhas costas. Manterfos abriu a porta e eu passei pela mesma. Sabia que viria e nem uma arma seria necessária para forçá-la. Esperei poucos segundos e logo a vi ao meu lado.
   - Vamos logo antes que eu me arrependa.
   - Juro, você não vai se arrepender.


Cena extra

  Minha cabeça rodava. Eu parecia estar em outra dimensão. Destruído por dentro e por fora. Odiava o presente. Odiava não ter controle, não entender os fatos. Muita informação no meu cérebro, dezenas de perguntas e uma miséria de respostas. Sentia-me inseguro e desprotegido. Sozinho e perdido. Normalmente o poder estava nas minhas mãos, qualquer coisa que precisasse ser resolvida, eu resolvia. Tudo estava em harmonia até que então... desmoronou. Meus sentimentos românticos e quase insuportáveis confrontando com mortes, dores e tragédia. A porra estava muito fodida.
   precisava de mim. precisava de mim. E eu teria que estar lá por eles, outro peso como o de não seria suportável. Pensei muito antes de tomar aquela decisão. Nikolai havia deixado uma missão doente em minhas mãos. Eu e combinamos que faríamos algumas coisas antes de atear fogo na casa dele.
   Fui até meu quarto e me sentei no banco que estava em frente ao meu criado. Fechei os olhos e me dei o direito de ter medo. Há anos não me dava esse direito. Me lembrei então de uma proposta que meu pai havia feito assim que planejou se mudar. Eu neguei. Mais de uma vez. Neguei de todas as formas possíveis com todas as minhas forças. Queria viver em paz na floresta, sozinho e independente do mundo lá fora. Porém, tudo mudou. A opção não era mais válida e encarar a realidade se tornara necessário.
   De repente e de uma vez todos os problemas que surgiram ... Repensei. Repensei e cheguei à conclusão que a melhor coisa seria aceitar a proposta. Tomei o telefone em mãos e disquei os números do meu pai. A ansiedade me matava aos poucos enquanto esperava alguém atender. Sabia o que aquilo iria representar, seria complicado.
   - Alô. – era o velho, sorri sozinho.
   - E aí, velhote.
   - , que surpresa. Estávamos falando sobre você aqui. Que saudades, moleque.
   - Estavam falando bem, eu espero.
   - É claro que sim, você é nosso menino, tonto. Mas então, a que devo essa honra? – meu pai sabia o quanto eu odiava telefonar, sempre que o fazia era tratado com exagero.
   - Andaram acontecendo umas coisas por aqui, pai. Não quero entrar em detalhes agora. Mas, eu estive pensando...
   - E quer se mudar pra casa na cidade? Eu sabia, eu sabia que esse dia iria chegar. Amor, o vai pra cidade. – ouvi risos do outro lado da linha que me deixaram sem graça.
   - Pai, não exagere, por favor.
   - Mas é isso, não é? Você precisa da chave? Posso levar amanhã se quiser.
   - Pai, calma. Respire e sim, eu quero ir pra casa. Mas eu me viro com a chave. Venha pra cá no fim do ano, não gaste sem necessidade.
   - Tudo bem filhote, sem visitas surpresa ou fora de época. Mas fico extremamente feliz que queira ir pra lá. Sabia que um dia iria enjoar dessa casa velha. Lá você vai ter lareira, sauna, uma adega enorme e um forno à lenha maravilhoso. E claro, um lugar mais ajeitado para levar as moças. – meu pai era uma comédia, eu amava aquele danado.
   - Menos, Aleksander, bem menos. Só quis avisar, pretendo fazer isso rápido. Tenho a chave, mas não a senha do alarme.
   - Ah sim, o alarme. A senha é minha data de casamento com sua mãe, se lembra?
   - Sim, pai, me lembro, obrigado. Acho que é isso.
   - Tudo bem, garoto, fico feliz que tenha ligado. Quando se mudar me avise, quero saber se está tudo bem. Theodor vai gostar de ter vizinhos novamente, se o vir diga que mandei abraços. E se quiser conversar...
   - Obrigado, pai. Eu ligo sim. Fique bem e não se preocupe comigo. Mande um beijo pra Abbie. Fique em paz.
   - Tudo bem, filho. Juízo e fique com Deus. Até mais. – meu pai desligou e eu fiquei encarando o telefone. A antiga casa que morava era exatamente a casa vizinha de . Quando me mudei para a floresta ela ainda era uma criancinha pequena. Se eu queria protegê-la e ficar por perto aquela seria melhor maneira. Voltaria a morar lá e abandonaria a floresta que um dia tinha sido um lugar abençoado. Me doía de um jeito filho da puta só a possibilidade me afastar dali. Agora que isso era uma realidade imutável, teria que me acostumar. Afinal de contas, do lado de Louise e mais perto da cidade, seria mais fácil evitar chamar atenção para a floresta. E claro, eu não descansaria até que voltasse a floresta voltasse a ser um ninho pacífico. Só não poderia meter os pés pelas mãos, meu pinto me daria problemas. Ele com certeza sentiria vontade de falar mais alto e a tentação de invadir o quarto da garota seria maior que qualquer coisa. Foco e disciplina teriam de ser meus maiores companheiros, mas... uma escapadinha não mataria ninguém.

Chapter XIX

  Três batidas compassadas na porta.
   Tudo aconteceu em câmera lenta.
   Na primeira me olhou atônito. Me levantei e fui em direção à porta.
   Na segunda tentou me acalmar e eu o ignorei me levantando do sofá com toda a fúria engasgada.
   Na terceira minha mão estava na maçaneta quase rancando-a fora.
   Não houve uma quarta. Ao abrir a porta dei de cara com à minha frente, sorridente. Dei um beijo em sua testa e passei por ela. virou para trás me chamando e eu a ignorei, não por maldade, mas, eu tinha algo a fazer.
   Manterfos estava à minha direita, levemente preocupado. Ele iria vir até mim, mas estiquei meu braço em sua direção o obrigando a ficar longe. Meu objetivo era a terceira pessoa. O puto do cardeal.
   Chielline era um mistério raivoso para mim. Encarei seus olhos calmos e o infeliz sorriu para mim. Minha vontade era decepar seu corpo com meu machado e depois tacar os restos para as bestas da floresta. Ele parecia estar vestido para alguma cerimônia importante. A roupa vermelha e branca, os adereços de ouro e a postura intrigante. A barba eximiamente bem feita, os cabelos castanhos, ondulados e na altura do ombro tão bem penteados que parecia ter ido ao salão antes de estar ali.
   Mais alguns passos e eu estava frente a frente com ele. Era contraste. Eu puto e irritado. A cara uma bagunça, barba e cabelo em completo caos. A roupa amassada, um hálito infernal. Ele parecia uma bonequinha recém tirada da caixa.
   - Promessa cumprida lenhador, já pode se acalmar. – as palavras entraram em meu ouvido como se fossem arame farpado. Abri o maior sorriso irônico que podia.
   - Eu poderia elaborar um discurso, mas isso... – fechei o punho na altura do seu rosto –... É mais efetivo. – bem no meio do nariz do filho da puta. O sangue jorrou e me berrou como se tentasse coibir o filho de uma fazer uma cagada. Qual é , você está do meu lado ou não?
   O Cardeal foi com as mãos ao nariz e abriu o sorriso dos infernos ao ver sangue sua mão. De algum jeito ele parecia gostar de tudo e minha vontade de destruir o rosto dele com as minhas mãos só aumentou.
   - Quer saber? Eu já previa isso, tudo bem. Você é um homem comum e bravo com todo mundo. Se isso te faz sentir melhor, tudo bem, pode mandar mais um. – chacoalhou o corpo como se preparasse para uma luta de boxe. Nem pensei em analisar a frase. Fui com tudo pra cima de novo e meti a mão no estômago dele. A curvatura do corpo de Chielline foi perfeita. As mãos na barriga e o sorriso ainda lá, ele me convidava para continuar socando-o.
   - Vamos lá, . Eu esperava mais de você. um braço dessa grossura deve conseguir um estrago maior. – toneladas de fúria e adrenalina tomaram o lugar do meu sangue. Corri na direção do desgraçado e o grudei pelo colarinho da batina. Cuspi na cara dele e o fitei possuído por algum demônio da guerra. Meu plano era um cruzado direto no maxilar. Eu iria arrebentar aqueles dentes brancos e fazê-lo engolir um por um, se tudo desse certo o maldito morreria engasgado pelo próprio sangue.
   Mudanças de planos. me cutucou e eu mudei a direção do olhar. Ela parecia tão calma, tão serena. Como raios a menina que passou a noite em cativeiro e teve uma arma na cabeça poderia estar tão tranquila? Que tipo de merda ela tinha comido? Era oficial, a pestinha não tinha juízo.
   - Não precisa fazer isso, . Eu estou bem. – achei que a voz dela iria me acalmar. Mas, eu ainda precisava socar a cara do infeliz.
   - , agora não, por favor. – continuei encarando Chielline enquanto bufava feito um Cérbero faminto.
   - Coisas de homem, . Não se preocupe. – Manterfos se aproximou tirando-a de lá. Só eu e o cardeal novamente.
   - Isso é por . Isso é por ter matado um irmão. Isso é por ter encostado essa sua mão em . Isso é por ter tocado no corpo dela. Isso é por ter posto uma arma na cabeça dela. Isso é por você ser esse belo pedaço de merda. – só ouvi o estalo. O corpo do cardeal amoleceu na minha mão. O sangue vindo da boca manchou meu braço e minha camisa. O mais perturbador foi quando olhei para ele. A boca ensanguentada, os dentes avermelhados que infelizmente ficaram intactos. Intactos e formando o sorriso mais doente que eu já havia presenciado.
   - Me desculpe por subestimar a força do teu braço. Essa porra sabe bater com força. – eu poderia continuar com os socos pela eternidade, mas coisas precisavam ser feitas. O soltei e o cardeal cambaleou escorando-se em uma árvore recuperando o ar.
   - Vou ser legal e te dar um tempo para se recuperar. Quando conseguir voltar a respirar, pode me encontrar lá dentro.
   - Sim, senhor. – Chielline fez uma saudação debochada e eu rumei minha casa. Passei por grudando-a pelo braço e entrei em minha casa. veio até mim querer falar algo, mas eu pedi um tempo. Antes de mais nada, joguei minha espingarda na mão dele.
   - Se o filho da puta tentar qualquer coisa, você atira. Não precisa atirar pra matar, mas, pelo menos atira pra aleijar. Ouviu?
   - ...
   - , não ouse discutir. Não queira que eu aleije sua perna.
   - Se alejar minha perna conto pra todo mundo que você dormiu feito uma princesa no meu colo. E aí? – ele me olhou desafiador e eu não pude evitar rir.
   - , por favor. Não seja uma criança desobediente.
   - Sim, meu lenhador. Aleijo a perna ou o braço?
   - Deixo isso contigo, faça como achar melhor.
   - O pinto. Vou alijar o pinto e a perna. – passei por que apontava a espingarda na direção da porta. Arrastei para o meu quarto. Cruzei a porra da porta num desespero súbito. A fechei sem piedade e um som estrondoso se fez. iria falar qualquer coisa. Eu não queria a ouvir falar nada.
   A garota se assustou quando a empurrei contra a parede. O movimento acabou saindo com força demais. Mas, eu não tinha culpa. Havia uma mistura de tensão, paixão e tesão me matando. O que seria de mim se ela não estivesse ali? Que raios seria da minha vida se algo tivesse dado errado e simplesmente estivesse morta naquele instante? Eu seria um nada. Um resto vegetativo de um homem que um dia tentou amar alguém e fracassou. Fracassou novamente.
   estava lá. Com aquela carinha maldita que eu tanta amava. Ela já sabia. Ela já sentia. A safadinha sabia que eu estava pegando fogo, que meu pau estava completamente duro de vontade de meter no meio dela. Eu teria que me controlar muito para não fazê-la gritar feito uma maluca.
   - Olha pra mim. – os olhinhos brilhavam. Seu rosto reluzia alguma coisa afrodisíaca que me deixava ainda mais louco. Por Deus, o que sentia por aquela menina nem ao menos tinha explicação. Não era só amor. Amor é uma coisa que as pessoas tentam explicar, vender, achar significados. Amor era muito pouco, quando alguém olha para o outro e diz “eu te amo” é a coisa mais vazia que existe. Eu tinha mais por ela. Eu tinha uma coisa estranha que queimava e parecia correr nas minhas veias. Eu necessitava dela, eu precisava de perto de mim, dentro de mim, colada em mim.
   Um impulso e meu corpo estava amassando o dela na parede, minhas mãos grudando seu corpo como se fosse argila a ser modelada. Eu queria sentir cada pedaço de sua linda existência. tirava a sanidade de mim, conseguia fazer com que eu esquecesse os sentidos da vida, todos os medos. Conseguia despertar um ávido pelo prazer. Qualquer coisa que fosse perdia a intensidade e a importância quando eu estava ali preso nela.
   - Eu não consigo lidar com a ideia de te perder, . – senti meus olhos marejarem. Não era tristeza, nem nada do tipo. Fui possuído por um tipo de emoção. Daquelas eu não sabia descrever porque sentimentos definitivamente não eram meu forte. E não há necessidade de se descrever sentimentos, o que realmente importa é o que fazemos com ele. E ah, eu tinha muito a fazer com os meus. Muito mesmo. Mas, não faria tudo ali naquele instante.
   - Eu estou aqui, , se acalme. Eu estou bem. – ali estava algo que eu ainda não conseguia entender, toda a maldita tranquilidade.
   - Me explica, como diabos você está tão calma quando o filho de uma puta pôs uma arma na sua cabeça e te deixou uma noite toda em cativeiro? – só de idealizar a cena meus músculos tremiam.
   - ... não foi tão ruim quanto parece. Chielline não me fez mal e eu tive uma noite confortável, tudo bem? Não precisa odiá-lo. – expeli o gás carbônico das narinas como um dragão. A malditinha estava defendendo o cardeal e ainda por cima na minha cara.
   - Você não vai ousar defendê-lo agora e na minha cara, certo? – ela sorriu, o sorrisinho endiabrado. sabia que era puro ciúmes.
   - Lenhador... – mordeu os lábios e foi com suas mãos para a minha camisa. Desceu lentamente da gola da mesma, passando pela minha barriga até chegar no cós da calça. Tensionei-me por inteiro tentando manter a sanidade. -... você é a personificação da masculinidade quando está bravo e com ciúmes. Tão macho, tão gostoso. – a reação do meu corpo foi insana. Minhas mãos tremeram na cintura dela. Precisava fazer qualquer coisa para relaxar, qualquer coisa. A única implicação é que meu pênis não estivesse envolvido. Seria difícil escolher. Se eu beijasse ou permitisse que o toque fosse além daquilo a situação se transformaria em um descomunal monte de merda.
   - , você pode me dar licença? – a garota me olhou estranhamente e soltou as mãos de mim. Fechei os olhos e tentei me concentrar. Precisava achar uma forma de resolver o impasse e descarregar a adrenalina. Por Deus, eu queria uma punheta. Em qualquer dia normal eu pegaria meu machado e descontaria tudo em algumas árvores. Em qualquer dia normal eu colocaria no meu colo e a foderia até explodir em gozo. Eu não estava em um dia normal e eu precisava de controle. O problema era então que e controle não combinavam na minha vida.
   - Você tá bem? – ela se aproximou vagarosamente.
   - Sim, eu só preciso me acalmar. – a vi morder os lábios e ficar na ponta dos pés.
   - Não, safadinha, não desse jeito. Por favor, colabore. – eu parecia um pedaço de batata derrotado.
   - Tudo bem. Um vinho então?
   - Vinho é muito clássico. Cerveja é muito comum. Água é muito fraco. – olhei na direção da porta e segui por ela. ainda estava lá posto na minha porta da frente apontando a espingarda para um Cardeal sentado na escada da varanda. Sentado e sorridente.
   - Pode largar o turno de vigilante, . Preciso de uma garrafa de vodka.
   - Tem certeza? Estou realmente tentado a atirar na perna dele.
   - Açougueiro, onde anda a hospitalidade? Você não parecia tão cruel no dia que me ensinou como chegar à praia.
   - Naquele dia, você não tinha matado meu padre, desgraçado. – Chielline se pós de pé e caminhou até nós.
   - Se os cavalheiros puderem esquecer o senso de vendetta por um segundo, seria bom. Precisamos conversar e é bom que seja rápido, pois, o tempo corre contra nós.
   Manterfos cumpriu ordens de Giorgio e voltou à cidade. Ele estava fazendo o rapaz de refém, provavelmente. Manterfos era muito devoto de e simplesmente não se juntaria com o assassino do padre. Talvez, ele não soubesse da situação do assassinato e estivesse sendo enganado. Ou ainda, era um cretino, bastardo e maldito que trabalhava em disfarce todo o tempo para o Justice for Saint Mary, era realmente difícil de decidir.
   Estávamos lá sentados à mesa. balançava o copo vazio de um lado para o outro. estava ao meu lado encarando o nada com uma previsível cara de tédio. Chielline era o único que parecia prestar atenção em mim. Seu olhar misterioso e abusado não desgrudava do meu rosto. Ele não tinha problemas em encarar os inimigos cara a cara, o que me fez presumir que o maldito já havia matado tantas pessoas à ponto de não se sentir mais intimidado.
   - Certo, Cardeal. Agora é a sua vez de cumprir a parte do plano. Comece a falar. – fui incisivo e direto. Se tivesse que esperar mais um segundo que fosse, certamente eu o mataria.
   - Presumo que você já sabe sobre o Justice foir Saint Mary, certo? – suas sobrancelhas se arquearam esperando minha aprovação.
   - Aqui vai o que eu sei. – preparei a goela, porque eu tinha muita, mas muita coisa pra dizer. - Nikolai era membro dessa bosta de grupo que você e mais outros merdas protegem e idolatram. Acontece que Nikolai, como ser humano decente que é, se revoltou com o que viu por lá. Ele estava participando de algum tipo de missão escondendo algum tipo de tesouro e escapou do Justice for Saint Mary vindo para cá. Ninguém do seu grupo conseguiu o encontrar depois, nem o tesouro. Nikolai deu o tesouro há um homem que estava jurado de morte, o homem enterrou a porra na floresta e ninguém nunca mais teve notícias do tesourou. Tudo corria bem até vir para cá e seu querido Cardeal Armand se sentir ameaçado por algo que nós não sabíamos. Não sabíamos até ontem, porque hoje, nós sabemos. – assim que terminei meu discurso pude ouvir uma gargalhada satisfeita de Chielline. As mãos que serviam tanto para matar como para pregar foram umas contra as outras. Ele bati palmas para mim.
   - Bravo, . Bravo. Vocês se saíram muito melhor do que eu pensava.
   - Filho de uma puta, se continuar com graça eu faço questão de passar meu cutelo na sua língua. – explodiu. Eu nunca o vi com tanta raiva camuflada.
   - , se acalme. A gente precisa do bastardo falando, pode passar o cutelo em outro lugar, mas, não na língua.
   - As madames vão continuar mesmo fofocando justo agora? – se intrometeu demonstrando uma visível inquietação.
   - Criança, não é por nada não, mas, por favor, não se meta. – se arrependeu logo depois de falar, pôs a mão na boca em sinal de arrependimento. bufou contrariada, mas, logo pareceu compreender o nervosismo do açougueiro.
   - Posso continuar?
   - Por favor. – pedi, ironicamente.
   - Bem, Nikolai fazia parte de uma missão chamada Missão Real. O Justice possui sua hierarquia e tanto eu como Nikolai éramos soldados, pessoas responsáveis por guardar os pertences da Igreja. Nós éramos escalados em grupos para cumprir determinadas missões. Cada missão tratava de seu próprio pertence. Nikolai desertou no meio da Missão Real. A missão não foi cumprida e então ele fugiu para cá com o tesouro. Nunca mais foi achado e o assunto foi enterrado.
   - Então me explique, por favor, em que ponto foi que o tesourou voltou a ter valor? Se a porra sumiu de lá e ficou tanto tempo fora, por que justo agora? – Chielline pareceu se empolgar com a pergunta.
   - Eis a parte que vocês não sabiam. Quando Nikolai fugiu do grupo, todos os soldados ficaram malucos. Nunca ninguém havia fugido. A situação tornava-se pior, pois, nunca havia sumido um tesouro. Ninguém sabia como proceder. A situação poderia criar uma rachadura sem tamanho e irremediável no grupo. Então, os outros integrantes responsáveis pela missão decidiram por ocultar isso dos superiores. Em relatório oficial eles disseram que trouxeram o tesouro para cá e o esconderam na Igreja e que Nikolai não fora encontrado. – um meteoro caía em minha cabeça. Agora sim, tudo fazia sentido. Por isso Armand estava na cidade. Cardeal idiota, achava que seu plano estava perfeitamente sendo executado e que o tesouro estava ali todo o tempo. Por isso era um empecilho, ele era o muro que Armand teria que transpor para achar o maldito tesouro.
   - O outro cardeal desgraçado veio para cá exatamente por isso. O infeliz tinha certeza que o tesouro estava aqui e por isso ele veio. chegou na hora errada, certo? – Chielline concordou com a cabeça como uma professora orgulhosa de seu aluno.
   - O problema é que caiu como uma enorme pedra no caminho de Armand. Foi por isso que ele mandou aquela carta falando sobre matar e morrer pela Igreja para . Ele queria que o padre se encaixasse no esquema. Como não o fez, ele veio pessoalmente tratar dos negócios. – terminou por deduzir.
   - Pessoal, vocês podem ir mais devagar, por favor. Isso é bem confuso. – se pronunciou me tirando do meu quase infindável coma.
   - Qual parte está confusa, ? – Chielline indagou-a em um tom tão doce e compreensivo que quase me causou ânsia. Eles tinham intimidade. Isso estava quebrando meu corpo ao meio. A vontade súbita de esfolar aquele rosto bem cuidado na madeira áspera me invadiu de novo. Era a minha garotinha. Lembrar que ele pôs os dedos na bocetinha que eu gozava era a receita para foder comigo.
   - A parte do tesouro. Por que esconder dinheiro desse jeito? Isso parece coisa de pirata.
   - A pergunta é relevante, tendo em conta que o Vaticano tem o próprio banco e até onde eu sei, não há uma fiscalização em cima das finanças de São Pedro.
   - Bom raciocínio, . Você é bom nisso. – Chielline sorriu apontando o dedo indicador para que sutilmente ficou sem graça. – Essa é outra parte que vocês não sabiam. Quando eu digo tesouro é porque estamos falando de algo com valor, mas não exatamente dinheiro. Estou falando de pertences, relíquias e coisas do gênero. – mas é claro, fazia todo o sentido. Levando em conta o histórico da Igreja, tudo era totalmente plausível. – Acompanhem comigo. A Igreja teve um histórico de dominação, guerras, lutas e todo o tipo de confusão. Cavaleiros templários viajaram para diversos lugares resgatando e roubando itens para a Igreja. Além das ofertas que a Igreja recebia e das indulgências que recebiam. Somado à isso, ela também era muito ameaçada na época. Ou seja, ela precisava se armar. Por isso havia um exército e homens prontos para ir à guerra. Mas, quando falamos de uma potência como o Vaticano e reis europeus lutando, dinheiro não é um problema. Nenhum deles lutava por dinheiro e sim por poder. Poder naquela época era mais que dinheiro. Você precisava de um trunfo contra seu inimigo. – o cardeal parecia algum tipo de professor de história, como um Indiana Jones. Era toda uma história caótica cheia de itens conspiratórios realmente interessantes. Por um instante a áurea de mistério me fez parar de odiá-lo.
   - Certo, então, você está dizendo que o tesouro de Nikolai é na verdade é um objeto e não dinheiro? Tudo bem. Mas que raio de objeto é esse? – era um ótimo investigador, seu raciocínio fluía melhor que o meu e naqueles momentos eu me sentia extremamente grato por tê-lo por perto.
   - Aí a história se torna mais interessante. Em uma Cruzada no de 1096, vários cavaleiros templários trouxeram objetos de Jerusalém para o Vaticano. Esses itens eram baús cheios de ouro. O ouro foi levado e os baús que eram extremamente bonitos, bem talhados e raros foram deixados para nós. Quando algo realmente importante e grande chegava, os baús eram usados. Somente itens de extremamente importância eram guardados naqueles baús e apenas soldados mais experientes eram designados para missões desse tamanho. A Missão Real era uma delas. Esse tesouro não era um tesouro qualquer. Por isso o desespero de Armand em achá-lo. O problema é que não temos certeza ainda do porquê ele encasquetou justo com esse e justo agora. É por isso que estou aqui. – me olhou com o sorriso da vitória estampado. Eu não pude evitar encarar o Cardeal com escárnio. Ali estava algo que nós sabíamos e ele não.
   - Ah Chielline, mas que ironia...
   - Vi pelo sorriso dos dois que estou perdendo algo nessa brincadeira. – Chielline pareceu afetado e visivelmente frustrado. Pela primeira vez no dia a guarda estava baixada.
   - Aqui o acordo. Nós te dizemos se você nos explicar o porquê do teatro de ontem e de estar aqui. Temos um acordo?
   - Certamente, lenhador, prossiga.
   - Pois bem. – limpei a garganta me preparando para o grande trunfo. – Nosso querido estava em seu açougue quando um homem loiro, incrivelmente alto e sueco foi até ele. O homem procurava por Nikolai. estranhou e veio até mim contar. Eu me encontrei com Nikolai que estava se preparando para fugir. O próprio me contou que o homem foi à sua casa oferecendo-lhe dinheiro pelo tesouro. Nikolai recusou e se aprontou para fugir. Foi até sua esposa e filhos e ao chegar lá descobriu que o homem havia chegado antes. À ambos foi oferecido dinheiro pelo tesouro. Nikolai sumiu do mapa me deixando papéis e mais papéis e uma dúzia de documentos confusos. – Chielline não pode acreditar em minhas palavras. Seus olhos abriram mais que o normal e subitamente o cardeal socou a mesa soltando uma bufarada alta e nervosa. Fiquei sem entender por um momento até que ele resolveu se pronunciar.
   - Você está me dizendo que eu vim da Itália até aqui para achar Nikolai e justamente um dia antes ele simplesmente some? Eu não posso acreditar. Filho de uma puta, maldito infeliz bom de brincar de esconde-esconde. Eu não consigo acreditar. – se eu era a personificação da masculinidade, Chielline certamente era a personificação da frustração.
   - Ora, ora, Cardeal. Parece que seu infalível plano não contava com as probabilidades de erro. – tinha um jeito especial de provocar pessoas.
   - Desculpem eu me meter. – alterou o volume de sua voz para que fosse ouvida e levantou as mãos sem sinal de “paz” – Mas ainda não entendi o que é esse tão falado tesouro. – Chielline respirou fundo e pareceu engolir muita saliva. Tudo para manter o controle não soltar uma resposta áspera para a garota.
   - A Missão Real era realmente muito importante. Um trunfo gigante do Vaticano. Foi conquistado durante o reinado Tudor na Inglaterra. Uma confusão sem fim. Mary Tudor precisava de um dote alto para ter um bom casamento, a mãe, Catarina de Aragão rogou ao seu sobrinho os V, Imperador de Roma que mandasse um bom valor. os não hesitou e enviou moedas de ouro para sua prima. A questão fora questionada em Roma. Eis que então, Henrique VIII decide se aliar à França ao invés de Roma em uma guerra e a tensão entre Roma e Inglaterra aumenta. Quando Henrique VIII cria o Anglicanismo e se desfaz do catolicismo no país para conseguir seu divórcio, a Igreja urge em desespero. Ele é banido e excomungado. Porém isso não é o suficiente. Descobre-se então, que junto com o dinheiro, os V havia também mandando alguns papéis e escrituras para a prima. Junto com esses papéis algumas sujeiras vão junto. A Igreja fica em polvorosa sem saber o que fazer. Acredita-se que por sua fé católica, Catarina nunca fora capaz de deixar as informações vazarem. A Igreja então se vê acuada e necessitava fazer algo. Alguns anos se passam, Henrique morre. Quando Mary assume o trono e tenta restaurar o catolicismo, a Igreja se acalma e esquece a Inglaterra por um tempo. Mas, logo depois, uma outra mulher assume o outro, Elizabeth. Elizabeth não era favorável ao governo da irmã e volta a fazer uma reforma no país. Novamente a ferida é cutucada. Fernando I tinha acabado de assumir o posto de Sacro Imperador e um dos seus principais objetivos era a luta contra os protestantes. Elizabeth era uma ameaça e a antiga tensão com a Inglaterra ressurgiu. A Igreja estava em desvantagem e precisava de algo. Foi aí então que um homem, que até hoje não teve sua identidade revelada, infiltrou-se na coroa à serviço de Roma. Lá, esse homem conseguiu evidências que provavam que a Rainha Elizabeth I era na verdade um homem. Ele voltou à Roma com os documentos, que foram postos no baú especial. Nikolai e os outros homens herdaram essa missão. Esse é o tesouro, conseguem perceber quão importante e valioso é isso?
   - Por Deus, que sujeira. Que coisa incrível, louca e insana. – estava em êxtase, e eu parecíamos bem mais perdidos e aflitos.
   - É, querido açougueiro. Uma sujeira enorme. Uma sujeira que deveria ser guardada e preservada. Quando Nikolai soltou o tesouro por aí, a sujeira tornou-se pó e ninguém foi capaz de achar um rastro. Mas pelo visto, alguém além de Armand ressuscitou o interesse pelo baú. E certamente, por dinheiro.
   - E quem está tentando comprar? – soltava perguntas aleatórias e até inocentes, que por sinal, faziam mais sentido que ela podia imaginar.
   - Boa pergunta, garota. Eu queria realmente saber. – o Cardeal sorriu sem graça perante sua impotência.
   - Deve ser alguém com muita grana, grana o suficiente para fazer os olhinhos de um homem extremamente poderoso e rico brilharem.
   - Certamente, . Certamente.
   - Agora, me diga uma coisa, Armand não sabe ainda sobre o paradeiro do tesouro? – perguntei, esperando compreender aquele enorme quebra cabeças.
   - Não. – Chielline fez uma pausa para respirar fundo novamente. – Ele não sabe. Estou aqui desde o começo para distraí-lo. Armand decidiu para si que havia achado o tesouro na Igreja e tirado de lá. Ele precisava da Igreja vazia e por isso...
   - Por isso? – eu sabia. A merda iria começar a ser despejada a qualquer momento. Aquela conversa não ficaria livre das crueldades que uma situação como tal necessitava. Era como uma guerra disfarçada.
   - Por isso os mortos na casa dos pobres. Armand ordenou que eu os matasse para que pudesse ser afastado. – vi um lampejo de arrependimento queimar nos olhos de Chielline.
   - Você matou todos aqueles pobres? Filho da puta! – soltou sem pensar. A garota levantou-se e ficou lá, parada e estática olhando para ele que nem sequer soltou uma respiração como resposta. – Eu não consigo olhar pra sua cara. Eu confiei em você, seu sujo. Eu te defendi! Vou esperar lá na sala. – a menina saiu batendo os pés visivelmente chateada e irritada.
   - Nunca se consegue enganar garotas por muito tempo. – sorri amarelo tentando não parecer um completo canalha. Mas, eu estava vibrando por dentro. Bem feito, Cardeal nojento! Ver perdendo o encanto pelo cardeal gostosão e charlatão era realmente algo bom de se acontecer. Se eu a visse babando nele por mais algum tempo, certamente faria algo errado. Não era muito bom lidando com concorrência e ciúmes, eu ficava perdido, feito um tonto lutando contra meu ego gigante. Assistir cena e ouvir tudo aquilo sair da boca da garota serviu como remédio para a alma.
   - Não precisa tentar disfarçar, . Sei que a garota é sua. Você já fez questão de por uma cerca de arame farpado em volta dela. Sem necessidade de inseguranças. – eu me sentia vitorioso. E uma vitória era tudo que eu precisava naquele momento.
   - Sem querer interromper a guerra de egos aqui, mas a gente precisa continuar com isso logo, certo?
   - Certo, meu açougueiro, mais que certo. Onde paramos?
   - Paramos na parte onde o Cardeal divino mata os pobres. E sem querer ser abusado, mas como foi isso? Qual o procedimento de matança? Se não se importa, é claro. – Chielline pareceu meio incomodado, mas, não relutou em responder.
   - A técnica é clássica e antiga. Remonta ao papado de Rodrigo Borgia. Envenenamento por cantarella. - O veneno à base de Arsênico? – questionou como se fosse algum especialista forense.
   - Exatamente, açougueiro.
   - E a morte de , também foi coisa da mente macabra de Armand? – tocar no assunto me causou um desespero. Pensar em me deixava morto por dentro, com a alma apodrecendo. Meu padre, meu amado padre. Tão doce, tão gentil. Uma morte tão injusta. Nós tínhamos tantos planos juntos, tantas histórias e tanto carinho um pelo outro. Ainda não conseguia assimilar sua ausência do plano terrestre.
   - Mesmo procedimento. – ele não nos encarou naquela resposta. Chielline tinha a mania de olhar fundo nos olhos do ouvinte quando dizia algo, não para intimidar, mas em sinal de que simplesmente não tinha medo. Foi somente naquela específica resposta que ele hesitou, como se houvesse remorso. Um remorso que ele não demonstrou em momento nenhum na conversa.
   - Certo, e agora? morreu e o caminho ficou livre. Qual o próximo passo?
   - É por isso que vim até vocês. Analisei as informações que tinha e juntei os pontos, percebi que tudo remontava à floresta. Felizmente estava certo. Vocês são minha esperança, porque Armand contatou um dos soldados da Missão Real. O bastardo se vendeu e aceitou vir até a cidade para auxiliar Armand. Ele provavelmente contará ao Cardeal sobre o sumiço do tesouro. Se isso acontecer, caboom meus amigos, a bomba explode e a guerra começa. – a partir dali Chielline passava a ficar mais nervoso. Parecia não ter ainda um plano cem por cento traçado.
   - E por que precisa de nós?
   - Não vou conseguir evitar esse caos sozinho. Manterfos me ajudou em partes. Eu precisava de Nikolai e quando cheguei até aqui achei vocês. Pensei que me levariam até a ele, mas, o desgraçado foi mais rápido. Preciso evitar de todas as formas que Armand descubra sobre o tesouro. Comecei uma lavagem cerebral nele, tentando fazê-lo ver que estava com o tesouro e que matá-lo fora um erro. Armand está começando a agir sem pensar e a se enfraquecer. – estava sendo usado numa estratégia de guerra. Sua alma era um peão no tabuleiro de uma suja disputa religiosa. Como aquilo doía! Eu faria qualquer coisa para honrá-lo.
   - Nós podemos ajudar. Mas, ainda faltou me explicar a história do coroinha. – essa era uma das partes que me intrigavam de um jeito mais que curioso que proprieamente vingativo.
   - Me desculpe, , mas estamos sem tempo e essa história vai ter que esperar mais um pouco.
   - Ok, tudo bem. Eu posso lidar com isso. Quanto ao nosso plano, consegue trazer Armand até a floresta? - estava decidido. Se estava morto eu deveria fazer algo para ele e por ele. Ele odiava Armand e detestaria que o Cardeal conseguisse cumprir seus objetivos. Meu padre lutou por isso até o fim e mesmo sem querer morreu como mártir. A guerra passou a ser minha também. – Consegue atrair Armand até a floresta?
   - Consigo. Mas... – Chielline me olhou como uma coruja curiosa.
   - Agora é você que precisa confiar em mim, Cardeal. Faça o que tem que fazer na cidade até a tarde. Irei armar o cerco aqui. Fico no aguardo para combinarmos o resto antes do anoitecer. Vamos fazer Armand pensar que escondeu o tesouro na casa de Nikolai. – ele pensou por um minuto. Hesitou e respirou fundo. Mirou o teto melancólico e finalmente voltou à mim em expressão positiva.
   - Antes do pôr-do-sol enviou Manterfos para saber o restante das instruções. Tenho meus trunfos também, preciso agilizar isso. Foi bom negociar com vocês. – os três se levantaram. O cheiro de testosterona impregnou minha cozinha me deixando tonto. Seria aquilo, nosso peque no juízo final e minha vingança e rendeção para a morte de .

X

  - Vai levar ela junto? Você por um acaso bebeu escondido lenhador? Depois de tudo isso o mais prudente seria levar a garota pra casa dela, não acha? – fechei os olhos com força e dei socos gentis na minha própria testa.
   - Eu sei, , eu sei. Não preciso que você seja o gafanhoto do Pinóquio, tudo bem? Sem voz conselheira agora. – latejava na minha mente que deveria voltar para a segurança da sua casa. O que eu conhecia por 40 anos nunca discordaria dessa ideia. Infelizmente, eu estava diferente. Dorme com juízo e acordei irresponsável. Meus valores começaram a mudar, minhas decisões agora eram influenciadas por sentimentos. Esse era o motivo pelo qual eu odiava sentimentos, eles te deixam estúpido. É uma ação inconsequente aqui e outra ali e de repente tudo se perde. Por mais que eu tentasse lutar contra o instinto passional, eu não conseguia vencê-lo. Eu não queria ficar longe dela. Ela precisava estar embaixo dos meus olhos para que eu pudesse evitar que algo mal acontecesse. Eu me responsabilizaria e me culparia eternamente por qualquer pequena coisinha que pudesse ocorrer com ela.
   - , sei que é um momento difícil. A gente não tem tempo pra ficar discutindo essas coisinhas, esses pequenos detalhes. Quer levar ? Tudo bem, pode levar. Mas, eu juro amigo, se alguma coisa errada acontecer eu vou ser o primeiro a apontar o dedo na sua cara pra dizer que avisei.
   - Você é um doce, . O meu docinho. – mandei um beijo estalado para ele que me olhou sutilmente irritado. O olhar de sempre, aquela carinha danada que eu não sabia viver sem.
   - O que faremos então? – questionou o açougueiro.
   - Você vai até a casa de Nikolai. Comece a preparar o incêndio. Taque o diesel por toda a casa e em uma parte do perímetro dela. Você já foi pro exército ao contrário de mim, então deve saber com isso melhor que eu. Não sou experiente com fogo.
   - Eu sei o que fazer. Pode deixar comigo. E quanto à você?
   - Tenho que esperar por Manterfos, é ele que vai saber guiar Chielline até a casa. Não sei exatamente o que vamos fazer, como vamos proceder então eu espero do fundo do meu peito que tudo dê certo. – não ter controle. De tantas coisas na vida, não ter controle me deixava perdido no mundo como um filhote abandonado.
   - Chielline disse ter um trunfo, o que será que é heim? O que seria capaz de desestabilizar Armand?
   - Não faço ideia, meu . Vamos ter que esperar pra ver. O importante é que Armand entre na casa. Com ele lá dentro nós fechamos a saída e deixamos o fogo tomar conta da situação.
   - Isso vai ser traumático, não? Quer mesmo que veja isso? – o irresponsável da vez era eu. Expor àquela tamanha brutalidade era desnecessário. Eu iria repensar com carinho.
   - Vou conversar com ela. Vá fazer sua parte, eu me viro por aqui.
   - Tudo bem. Boa sorte para nós? – se aproximou e abriu os braços.
   - Boa sorte para nós. – abri também os meus e em um gesto de camaradagem nós nos abraçamos. os tapas nas costas foram mais fortes que o normal. Nosso abraço foi estranhamente intenso. Já que não sabíamos falar sobre o que sentíamos, nada melhor que mostrar. sempre esteve lá por mim. Ele era o cara chato que me mostrava o certo. Ele era o resmungão que se sentia um fracassado mesmo sendo quase um heróri. Ele era o zé bundão que eu mas amei na minha vida. Um irmão que não compartilhava o mesmo sangue. - Se cuida, peste. Quero você vivo.
   - Eu vou viver muito pra te atazanar ainda, cortador de pau.
   - Assim eu espero, minha carniça. – nós nos soltamos e sorrimos um para o outro. juntou suas ferramentas e se foi. Me restava então lidar com .

x

  Escorei no batente da porta e a olhei. tinha um bico enorme, típico de criança mimada que foi contrariada e não está feliz com a situação. Estava sentada no meu sofá, com as pernas cruzadas estilo “índio” e brincava de trocar aleatoriamente os canais da televisão. Um poço de petulância com uma bundinha boa de apertar.
   - Hey garotinha. – jogou o olhar na minha direção. Ela não parecia nada feliz em me ver e voltou a se concentrar na televisão. – Vai me ignorar, mesmo? – continuei ali escorado. Os braços cruzados e uma expressão sarrista.
   - Vou. – se jogou no sofá bem descontraída e aumentou o volume da televisão.
   - , ... – sai da minha confortável posição e fui vagarosamente caminhando até o sofá. Ela procurou meu corpo com o canto dos olhos tentando disfarçar e voltou ao aparelho. Sentei me ao lado de seus pés que se recolheram quando meu corpo entrou em contato com eles.
   - Que foi, ? – ela desgrudou os olhos das cores da tela bufando. Aquela era minha garotinha abusada. A garotinha abusada que me enlouquecia.
   - Não foi nada, tinha que ser alguma coisa? – eu estava segurando para não rir na cara dela, porque aquela ceninha realmente tinha uma certa graça.
   - Vai ficar brincando com a minha paciência agora? – estreitou os olhos me julgando.
   - Brincando com a sua paciência? Mas o que eu fiz? – dissimulei uma voz inocente e mais uma vez ela bufou visivelmente de saco cheio.
   - Estou com um problema aqui, tudo bem? Dá um tempinho, por favor. – a fala foi um pouco mais agressiva. Fez um sorriso sujo e retornou à televisão.
   - Tudo bem, você não quer ser incomodada e eu não vou te incomodar, princesinha. – vi rolar os olhos com a provocação. – Também estou com um problema aqui. Excesso de adrenalina, sabe? – uma ideia maléfica surgiu na minha cabeça, e por Deus, ela era tentadora demais pra não ser realizada.
   - Hm. – sua respiração era alta indicando uma visível falta de paciência, decidi ir frente e ver até onde ela iria com aquilo.
   - É muita adrenalina, sabe? Essa história toda me deixou agitado, preciso relaxar. – respirou um pouco mais fundo demonstrando nervosismo agindo exatamente do jeito que eu queria. – O sangue tá fervendo no meu corpo e é estranho me sentir assim. Eu poderia beber, sabe? Mas, não posso ficar bêbado agora. Poderia ir cortar madeira por aí, mas não posso sair de casa... – meu monólogo começou a demonstrar o que minha brilhante imaginação havia criado. Bati propositalmente minhas mãos em meu cinto fazendo um barulho que levemente assustou . – O que eu posso fazer pra aliviar a tensão? O que um homem pode fazer pra aliviar sua tensão de um jeito simples, rápido e inofensivo? – devagar e com calma. Com toda a paciência comecei a desfivelar meu cinto. me olhou de canto de olho, provavelmente para comprovar o que seus ouvidos tinham notado. – Acho que preciso de algo que também seja prazeroso. Juntar a fome com a vontade de comer? Acho que sim, acho que sim. – soltei a respiração e olhei para ela antes de descer meu zíper. Balancei a bunda no sofá para a calça jeans ficar mais confortável no meu corpo. começou a tremer levemente a perna em sinal de mais nervosismo.
   Decidi parar de falar, o silêncio a mataria mais aos poucos. Não estava com pressa, mas também não podia enrolar demais. Puxei ambos os lados da calça a puxando mais para baixo. Levantei o traseiro do sofá um momento para livrar espaço. Confortável. Fiquei até surpreso ao olhar para baixo. Achei que ia precisar de um pouco mais de esforço para ficar de pau duro. Mas só cogitar a ideia de provocar daquela forma pareceu ser o suficiente.
   Atritei minha mão contra a cueca e minha respiração saiu bem compassada e demorada. Fechei meus olhos ignorando o resto da casa, foquei em mim e nela. Infelizmente, surgiu o problema. Era impulso demais, meu tesão já estava meio descontrolado. Queria ir com calma, agindo aos poucos... Não foi possível. Sem cerimônia puxei meu pau para fora. Não tinha aquele contato com meu companheiro há alguns dias. Percebi prendendo a respiração. A brincadeira seria divertida. Queria realmente saber quanto demoraria para ela ceder.
   Quando desci a mão pela primeira vez um gemido grave saiu da minha garganta. Fechei os olhos sem perceber. A punheta foi acontecendo aos poucos. Deitei a cabeça para trás e abri mais as pernas. Comecei a exagerar nas espressões faciais de propósito, meus grunhidos ficaram mais descarados e roucos. A perna da garota começou a tremer com mais força e mudou de posição se sentando. Eu percebia os movimentos e não pararia a masturbação até ela parar de frescura.
   Levei minha mão até a boca e cuspi nela. Percebi atentando ao movimento. Voltei para meu caralho extremamente duro e pulsante. Aquela estava sendo uma das melhores punhetas da minha vida. Intensifiquei os movimentos e a porra só ficava mais gostosa. Minha mão livre foi segurar meus cabelos e puxa-los para cima. Tentei ir mais rápido ainda e para deixar tudo mais excitante comecei a projetar movimentos de penetração na minha mão. Não é difícil de prever que com isso passei a gemer mais ainda.
   Finalmente decidi olhar para o lado. estava de boca aberta babando por mim. Quando encontrou meus olhos tentou disfarçar, porém, não conseguiu, estava vidrada em mim. Sorri vitorioso e voltei a fechar os olhos. Abri bem a boca e soltei um grunhido longo e demorado. Estava me preparando para dizer algo quando algo atingiu minha língua.
   Até que enfim, safadinha. Ela enfiou sua língua na minha sem a menor cerimônia ou vergonha na cara. Depois disso tudo foi confuso. começou a tirar a própria calça de qualquer jeito, sem parar de me beijar. Quando se livrou delas, deu um jeito na calcinha. mal respirava, ela estava completamente desnorteada e descontralada. Tentei até falar algo, mas, ela não deixou. Sua boca não desgrudava da minha e cada vez mais ela respirava com dificuldade como se o ar faltasse.
   A garota tirou minhas as mãos do meu membro. A primeira reação foi tentar reclamar. Não foi necessário. Subitamente ela sentou em mim. Com tudo, sem piedade. De uma vez sua boceta engoliu meu pau. Levantei a mão e soquei o ar atrás de mim. Ela não soltava minha boca. E nem por um segundo sequer deixou de rebolar com toda a vontade do mundo. Grudei sua cintura e a ajudei a deixar o sobe e desce mais selvagem. teve que interromper o beijo para poder respirar, senão morreria ali. Porra, que saudade de ouvir aquele gemido. Saudade de ver aquela boquinha mordida, de sentir minhas bola batendo naquela bunda. Desci uma mão para suas nádegas e estapei sem dó. Ela vibrou no meu colo.
   - Eu sabia que você não ia aguentar. Eu sabia.
   - Você é um filho da puta, . – a fala era tão baixinha que eu mal pude ouvir.
   - Não, eu sou um garoto brilhante. – não diferente dela eu também estava gemendo e grunhindo alto demais.
   - Ah, . Me fode e cala a boca. – queria ir mais rápido e mais fundo, só que suas pernas não estavam aguentando mais. Forcei meu corpo contra o dela e a guiei pra cair no sofá. Sai de sua bocetinha molhada por um momento para voltar com força de novo. Me encaixei no meio dela e trouxe uma de suas pernas para o meu ombro. Ótima posição para poder meter com toda a intensidade que eu e ela queríamos. cerrou os olhos e gritou, sem medo de ser ouvida.
   - Ei, olha pra mim. Olha pra mim. – ela tentava abrir os olhos, mas não conseguia. – Eu mandei olhar pra mim. – estapei seu rosto com força moderada. Fiz minha cara de macho mandão e se derretou abrindo os olhos pra mim. – Você gostando assim? – ela balançou a cabeça fazendo que sim, na situação que estávamos não conseguia fazer mais que aquilo. – Então continua olhando pra mim, quero ver você gozar olhando pra mim, entendeu? – fui o mais rápido que pude. Bruto, animalesco, assim era o nosso sexo e era assim que eu amava ter , dentro de mim, gemendo pra mim e gozando pra mim. Eu estava quase lá, me esforcei o máximo que podia para não esporrar dentro de antes que tivesse um orgasmo. Para acelerar o processo molhei meu polegar e procurei por seu clítoris. Comecei a esfregar com força e de forma rápida, berrou mais ainda.
   - Vai, , vai ...
   - Isso, goza pra mim. – meti mais, masturbei mais e foi lindo. se contorcendo por inteira, soltando um grito animalesco na minha cara e simplesmente gozando em desespero enquanto abraçava meu pescoço pra si. Suas unhas marcaram meu pescoço tão forte fora o aperto. Minha vez chegou e eu deixei minha porra escorrer pelas pernas dela.
   - Seu gostoso, você é muito cretino. – a voz de ficava bem manhosa e lenta depois do orgasmo, um jeitinho muito fofo de me elogiar.
   - Gostosa é você, minha putinha.
   - Eu quero você me fodendo assim pra sempre. – a frase cortou meu estômago, tirei os cabelos que molhavam sua testa e a encarei sério.
   - Se depender de mim, eu vou te foder assim todos os dias até o dia de eu morrer. - beijei sua testa e ela veio em abraçar, agora calma e tranquilamente.

xx

  - Armand? – abri a porta sutilmente. Ele estava sorridente à frente do espelho ajeitando seu traje.
   - Giorgio, que bom te ver. Ficou o dia todo fora. – eu sabia quando o cardeal estava sendo irônico comigo e naquele momento seu sorriso e palavras foram extremamente verdadeiros. Ponto para mim. - Estava ajeitando tudo com nosso visitante. – o plano corria bem, eu estava com o nervosismo me corroendo e não deixar transparecer estava difícil. – Já temos nosso ponto de encontro. Você vai se surpreender, nossas suspeitas foram confirmadas.
   - Matamos o padre na hora errada, não é?
   - Exatamente. – Armand desfez o sorriso e sentou-se em sua cama. Respirou fundo e afundou suas mãos em seu rosto de forma nostálgica.
   - Tudo bem, não podemos chorar pelo passado. O que importa é que vamos pegar o tesouro hoje e partir para a redenção logo pela manhã. Mas, enfim, qual nosso ponto de encontro? – firmei a expressão para parecer coeso e confiante.
   - Uma pequena casa de madeira no meio da floresta. Foi lá que escondeu o tesouro.
   - Eu sabia que a porcaria não estava aqui. Devo te dizer, se o padre estivesse vivo, eu o parabenizaria por sua inteligência, ele foi eficiente. Pena, que se meteu no nosso caminho. – refletiu por mais um momento e voltou a atenção à mim. – Podemos partir?
   - Claro, por favor. – mostrei-lhe o caminho e dei passagem. Armand rompeu a porta e eu fui logo atrás dela. Atrás de mim escondido em uma pilastra estava Manterfos. Soltei o sinal combinado e o garoto foi fazer o que tinha que fazer, tirar nosso coelho da cartola.

xx

  O circo estava todo armado. Finalmente, aquele inferno acabaria. Foram incontáveis dias de problemas. Cada dia culminou para um fim insano. Minha vida tinha virado de ponta cabeça. Todo que eu havia imaginado e planejado caiu por terra. Uma avalanche de fatos doidos e insanos mudaram o rumo de tudo. estava morto, eu apaixonado por , quase noivo e Chielline ao meu lado me perguntando coisas sem parar.
   - Me explica isso direito?
   - Nikolai pediu que eu botasse fogo na casa. Ele tem trocentas anotações ali dentro, tem um monte de coisa escrita nas paredes. Segundo ele é perigoso deixar essa casa assim e então ele pediu que eu queimasse. – Chielline pôs a mão na cintura e olhou para o céu nervoso.
   - Juro que estou me corroendo pra entrar lá e ler tudo, mas, não temos mais tempo. Vou ter que deixar essa passar. E te digo uma coisa, esse teu amigo Nikolai é um profissional na arte da estratégia. Virei fã do cara.
   - Nikolai foi um parceiro e tanto. E veja só, que ironia, por causa da sua gente eu o perdi também, muito obrigado. – o cardeal revirou os olhos e eu abri meus braços em sinal de “não posso fazer nada”.
   - Tudo bem, eu já entendi. Você me odeia, vai me ressentir pra sempre e tudo mais, será que podemos focar no plano agora? – um barulho de bota nas folhas chamou minha atenção e percebi que juntava-se a nós.
   - Pronto. – jogou os galões no chão e abriu um saco preto de lixo. – Joguei o diesel e ajeitei as coisas para o fogo. Qual o plano agora?
   - Encontrei Herman e o obriguei a fazer um acordo comigo.
   - Que tipo de acordo? – cruzei os braços esperando pela resposta do religioso.
   - O tipo de acordo onde eu ameaço vazar os podres dele se ele ajudar Armand e não a mim. – Chielline piscou convencido. – E vá por mim, os podres dele são muito maiores que o dinheiro que Armand ofereceu.
   - Então... – ainda estava inquieto tentando ficar a par de tudo.
   - Virei com Armand até aqui, nós encontraremos Herman. Manterfos está plantando um baú lá dentro agora mesmo, ele vai ficar no meio da sala para que Armand o vejo. Vamos entrar na casa, bater um papo, dar uma enrolada e tudo mais. Se bem conheço Armand ele vai cantar vitória antes da hora. Então eu irei dizer que preciso sair por ter percebido algo suspeito. Ficarei um tempo aqui fora e quando eu voltar pra lá, você começa a parte do fogo que não incendeia a casa, apenas o redor dela. Volto desesperado dizendo que há homens do Justice aqui e acuso Herman. Armand vai enlouquecer e vai ordenar que eu mate Herman. Vou fingir que rendi Herman e o levarei para os fundos. Armand vai sair louco atrás do baú, mas ele não vai mais estar lá. Manterfos vai entrar pela janela da frente e trazê-lo para fora. O resto, é surpresa. Quando for hora de por fogo em tudo, vou deixar você sabendo, .– Chielline riu. O cardeal confiante, petulante e cheio de si estava de fora.
   - Surpresa? – perguntei desconfiado.
   - Surpresa, lenhador. E te digo, todos amam as minhas surpresas. Agora fiquem em seus postos, porque o espetáculo está prestes a começar. – Chielline nos reverenciou e saiu rumando a saida da floresta.
   - o que esse diabinho vai aprontar, heim? – me cutucou questionando.
   - Não faço a mínima ideia, mas, o infeliz é bom e parece saber o que está fazendo.
   - Vamos confiar que sim. – deu dois tapas em meu ombro direito. Juntou seu saco de lixo cheio de galões e foi para seu lugar estratégico. conversava com Manterfos e eu me aproximei.
   - Sem querer ser grosseiro, mas o tempo para conversas acabou. Precisamos ficar prontos. – me olhou sorridente e Manterfos pareceu me temer. Abaixou a cabeça em sinal de respeito e também tomou seu rumo.
   - E nós, o que vamos fazer? – não parecia sentir medo, essa facilidade dela de levar as coisas numa boa me assustava.
   - Não está com medo? – a abracei pelos ombros e comecei a guiá-la por nosso caminho até nosso ponto de esconderijo.
   - Não, na verdade estou meio que animada pra esse plano que mais parece coisa de filme.
   - Você não tem jeito mesmo, né? – ri para ela que sorriu abertamente de volta para mim.
   - Não e você sabe disso. – continuamos a sorrir que nem duas bestas alegres e caminhamos conversando até chegar ao nosso local. Ficaríamos logo à frente da casa, escondidos atrás de uma enorme árvore cheia de arbustos em volta, ninguém nos veria ali e nós poderíamos ver todo o movimento.
   - Quero que saiba que nada vai dar errado, porque eu não vou deixar, ok? Você está comigo e eu vou te proteger. – era tão gostoso tê-la para mim, do meu lado, sorrindo pra mim. segurou minha mão esquerda e a beijou. Tudo que eu mais queria é que o inferno acabasse para que a gente pudesse se ajeitar.

x

  Deixei Herman e Armand conversando em um café próximo à Igreja. Precisei ir à floresta ajeitar os últimos detalhes de tudo. O nervosismo estava comendo minhas entranhas. Ao mesmo tempo em que o fim parecia próximo e promissor, ele se mostrava distante. Ainda tínhamos uma longa hora até tudo enfim se concretizar.
   - Olá garotos. – me aproximei sutilmente. Armand puxou uma cadeira para mim. Cristo, o homem sorria sem parar. Há anos eu não o via tão feliz e animado. Um pedaço de mim estava triste, dolorido. Armand foi alguém importante na minha vida por muito tempo. Passei anos ao seu lado em épocas em que ele era o único ser humano o qual eu tinha contato por meses. Armand Marion tinha me ensinado verdadeiras lições de vida e além disso, como matar um homem usando um cortador de queijo. Me senti uma puto traidor. Infelizmente, o Justice for Saint Mary era minha primeira prioridade. Eu nasci dentro daquele grupo, eu cresci por ele. Nada, nem mesmo Armand poderiam contrariar minha missão.
   - Pedi um Capuccino com creme de baunilha para você, porque sei que é seu preferido. Ah, e sem canela. Sei que você odeia canela.
   - Armand, é quase noite, nós precisamos ir. – não. Eu não tinha tempo para parar e tomar um cafézinho. A coisa precisava ser agilizada.
   - Nem teime comigo, Giorgio. Hoje é um dia de festa, tome seu Capuccinho e fique quieto.
   - Tudo bem, tudo bem. Não vou te contrariar. – meus neurônios fritaram. Eu queria desesperamente sair dali e ir pra floresta logo. Infelizmente, era sempre assim, quanto mais pressa, quanto mais desespero, mais empecilhos aparecem.
   Engoli o Capuccino com pressa. Queimei minha língua, minha garganta e meu estômago. O formigamento na minha boca neutralizaria a minha ansiedade. Armand caminhava sem pressa. O tempo que ele demorou no balcão pagando a conta, saindo do café, andando conosco até floresta pareceu passar com uma velocidade quase nula.

x

  Floresta – Cerca de uma hora depois
  
O fogo subia em volta da casa. O vento jogava as labaradas de um lado para outro e o laranja incandescente bailava frente ao meu rosto. observava a cena vidrada, como uma criança que vê um leão no zoológico pela primeira vez. Já eu, estava muito mais perturbado. O calor era iminente a tensão extremamente grande.
   Armand gritava Chielline e não recebia resposta. Meus músculos tremiam e eu parecia viver um pesadelo sem fim. Era tão agoniante olhar Armand cercado pelo fogo, em desespero. Eu via em seus olhos o medo. Então eu lembrei de . Eu não o vi em seu leito de morte. estava lá, graças ao bom Deus. Meu padre também previu a morte, ele também sentiu medo. Seus olhos provavelmente tinham o mesmo brilho escuro que Armand possuía em seus olhos cinzas naquele momento. A partir daí eu deixei de ter pena dele. Aquele abutre dos infernos não merecia minha empatia.
   Aquela cena em específico pareceu congelar. Marion travou na porta sem saber o que fazer. Seus olhos começaram a correr à sua volta e notou que algo havia sumido. O tesouro não estava mais ao seu redor. Suas mãos trêmulas foram aos seus curtos cabelos grisalhos.
   - Chielline, Chielline. Giorgio, pelo amor de Deus, levaram o tesouro. – ele foi até saída e colocou sob o solo terroso. Olhou para os lados atordoado procurando por Chielline. Nada, ele estava sozinho com o fogo.
   De repente, o homem mudou a postura. Em um lampejo rápido de tempo eu o vi arregalar os olhos e por um pé para trás. O brilho do medo intensificou-se em sua áurea tornando-se em desespero.
   - Não, não é possível. Chielline, Chielline, Chielline. – Armand berrava pelo cardeal como uma criança que faminta. Fiquei confuso, passei a não entender mais nada. Eis então, que a vida se mostrou uma vadia. Uma vadia miserável e insana. Fora a minha vez de entrar em desespero e agonia. A euforia da confusão se apossou de mim quando ouvi aquelas palavras.
   - Olá Armand, procurando por isso aqui? – eu conhecia aquela voz. O timbre era conhecido, o sotaque italiano misturando-se ao sueco também. Fechei os olhos e voltou a encarar a realidade de novo. Pensei estar sonhando, mas não. Era tudo verdade, uma enlouquecida verdade.
   - Padre, você está morto. – Armand não sabia formular uma frase com mais de cinco palavras. Seu corpo o traiu e ele caiu sentado ao chão.
   - Estou vivo Armand e com seu precioso tesouro em minhas mãos. - a partir dali, tudo fora um borrão confuso e Dantesco.

Chapter XX

  Queimando vivo. De dentro para fora. Minha garganta ardia. O fel amargou minha boca. Eu estava morrendo. Sentia tudo definhar pouco a pouco e seria inevitável sentir a morte. Não tinha medo de morrer, era algo com o qual eu lidava bem. Só não me sentia preparado.
   A ambulância fazia um alarde enorme. Um enfermeiro me espetava e dizia coisas para alguém do meu lado. Não conseguia assimilar muito bem os fatos, pois, a realidade se misturava com algumas alucinações. Eu parecia sonhar acordado e não entendia muito bem o que estava acontecendo. Então eu apaguei.
   Pouco a pouco comecei a ver formas à minha frente. Uma espécie de mosaico colorido que foi ficando em escala cinza pouco a pouco. A queimação tinha ido embora, mas, o ruim na garganta continuava lá. Eu sentia sede, mas, não conseguia pedir água. Ouvi pessoas ao meu redor e os barulhos estavam à uma frequência aguda demais. Tentei abrir minha boca e percebi que não tinha total controle do meu corpo. A única coisa que consegui fazer foi levantar o braço e deixá-lo cair. Meus olhos estavam pouquíssimos abertos, mas, mesmo assim consegui perceber pessoas vestidas de branco se aproximando. Alguém no meio dos médicos destoava. Usava uma roupa de cor forte e possuía um cheiro característico. Ele tinha o cheiro da Igreja.
   - Pareceu funcionar. Ele já recobrou a lucidez. - um deles disse.
   - Ele precisa de descanso absoluto. Qualquer movimento brusco ou stress externo pode complicar o caso. Precisamos deixar seu metabolismo trabalhar com calma e por si só. - aquela voz… não era estranha, eu a conhecia.
   - Cortamos a medicação?
   - Se o senhor não se importar, eu cuido daqui pra frente. - vi as pessoas de branco se afastarem e só o homem cheirando à Igreja ficou próximo a mim. Ele segurou minha mão e ficou me encarando. Queria poder abrir mais os olhos, perguntar por seu nome, mas, não consegui. Outro apagão.
   Já não possuía nenhuma noção de tempo mais. Acordava em intervalos aleatórios e voltava a apagar. Isso pareceu se suceder por dias. Até que então, a realidade pareceu voltar a mim.
   - ! ! - acordei com a lembrança de me segurando em seus braços. Uma bagunça atingiu minha mente e eu visualizei tudo. A pregação, o vinho, o púlpito, o sangue, , a maca, os enfermeiros… E Chielline.
   - Ei, ei. Calma. Respira, calma. - aquele cheiro de Igreja chegou mais próximo de mim. Eu estava sentado em uma cama pequena e não muito confortável, o local não possuía janelas e eu me senti sufocado. - Aqui, tome esse copo de água. - finalmente consegui olhar nos olhos de meu acompanhante.
   - Que porra é essa, Chielline? - peguei o copo com força de suas mãos e o bebi como se fosse o último gole de água do universo.
   - Não é uma boa hora pra conversar, . Você precisa descansar. - ele sorriu para mim. Tomou um jarro de barro e encheu o copo novamente. - Beba mais, não consegui te dar muita água nesses dias. Você está muito desidratado. - Tentei me fazer de difícil, mas, eu realmente estava sedento por água.
   - Você me envenenou, né? Eu sei que sim. Assim como os pobres, eu vomitei sangue tal qual eles. - minha sanidade recobrou-se de uma vez só em um estalo intenso. - Agora eu vou pra alguma salinha de tortura medieval? Sabe Chielline, mesmo quando não era padre S&M não era minha prática preferida.
   - Deixe de ser abusado, padre. - ele sorriu daquele jeito gostoso que só ele sabia fazer. - Você não sabe de tudo.
   - Seu plano parece ter dado errado, pois, eu estou mais vivo que nunca.
   - E é exatamente por isso que meu plano deu certo, padre.
   - Quando você vai me contar que raio de plano é esse, cardeal pervertido? - ele se levantou e me ofereceu apoio. Me pus de pé e com sua ajuda fomos até a porta. A madeira rangeu até abrir-se e dar entrada à luz. Olhei para o horizonte e vi um céu extremamente azulado. Um pouco mais para baixo estava à cidade, de costas para nós.
   - Essa cidade, , está condenada e nós somos os únicos que podemos salvá-la. Armand me mandou te matar, mas eu decidi que preferia você vivo. - respirei fundo tentando assimilar cada pedaço daquela loucura sem fim.
   - Como eu me livrei da morte? - estava curioso. Se nenhum dos meus queridos pobres conseguiu escapar naquele dia, qual a razão de eu ter?
   - Eu envenenei seu vinho com cantarella. Armand é fã da história de Alexander Borgia e quando me treinou para ser um assassino me ensinou as táticas usadas pela família. Envenenamento por cantarella e decapitação por garrote são suas preferidas. O problema é que o garrote é muito pessoal e só serve para situações corpo a corpo. Envenenamento é mais impessoal. Além disso, Armand deu um jeitinho de controlar a polícia, ele se virou para resolver essas coisas e inventar um boa desculpa. Quando entrei na ambulância com você ele pensou que fosse para cuidar dos detalhes da morte, mas, na verdade, foi para garantir que você vivesse.
   - E como o mágico Cardeal e assassino cristão Giorgio Chielline realizou tal façanha? - uma brisa gostosa e calma fez com que eu me sentisse melhor e um pouco mais vivo.
   - Já ouviu falar no Cardeal Della Rovere, ? - ele olhou para mim sorrindo irônico. Claro que eu já havia ouvido falar de Della Rovere. O desafeto de Alexander Borgia, a pedra em seu sapato. Della Rovere fez tudo que pode para livrar Roma da praga Borgia. Conseguiu tornar-se Papa e escrever seu nome na história.
   - Chielline, não seja abusado.
   - É irônico, não? Até mesmo melodramático. Normalmente eu tiro minhas referênicas dos livros e da história, mas, dessa vez eu resolvi focar em algo mais moderno.
   - Estou realmente confuso Chielline. Meu cérebro ainda não está tão rápido para você ficar brincando com ele. - pensar ainda doía.
   - Armand ficou em êxtase com um seriado realizado sobre os Borgias. Eu o assistia com ele, assisti todas as 3 temporadas com ele. Dali ele tirou muitas referências, mesmo aquelas suspeitas que a gente nem ao menos sabe se aconteceram. Eu, também tirei as minhas.
   - E onde Della Rovere entra nessa história?
   - Della Rovere escapou da morte e ficou cativo em um monastério. Lá ele encontrou um moleque que queria se livrar da praga Borgia. Ele resolveu treinar o moleque e o usar em um plano para matar Alexander. Com frequência ele envenenou o coitado com cantarella para que criasse imunidade. Assim ele poderia ser copeiro de Alexander, envenenar sua água ou vinho ou o raio que fosse, provar e sair ileso. Eu tentei fazer algo parecido com você.
   - Chielline, tão genial e tão cretino. - eu ria, ria por nervosismo, por alegria, por medo, por qualquer coisa. Eu estava lá rindo, me sentindo um pedaço de bosta impotente que não podia mais escolher seu próprio destino.
   - Obrigado, . Sei que o elogio foi sarcástico, mas obrigado mesmo assim. Eu coloquei uma dose suficiente para quase te matar. No hospital eu utilizei de alguns contatos e os médicos fizeram exatamente como eu disse. Conseguimos te recuperar, te limpar e bem, veja só… - abriu os braços para mim -… você está aqui, vivo e novo em folha para que nós possamos foder a bunda branca de Armand. - eu ainda não tinha entendido que diabos havia se passado para Chielline trair Armand e sinceramente? Estava cansado demais para tentar entender.
   - Você me conta essa história depois, agora eu preciso deitar.

xx

  Deveria ter um Getsênami dentro daquela floresta. Eu precisava ajoelhar e rezar até meu cérebro derreter. Provavelmente eu quase choraria sangue de tanto nervosismo e impaciência. Armand, mesmo sem querer, estava atrasando todo o processo. Era assim que ele ficava quando feliz. Distraído, extrovertido, falando pelos cotovelos. Eu nem ao menos costumava ligar, mas não naquele dia.
   Há passos de tartaruga nós chegamos à casa de Nikolai. Um silêncio perturbar emanava. Tínhamos pouco vento e lua levemente ofuscada. Era àquela hora.
   - Então é esse o lugar? – Armand abriu aquele bocão sorrindo como uma criança no natal.
   - Sim Armand. A Missão Real passou por muitas dificuldades, o tesouro que carregávamos possuía um valor inestimável e o Vaticano botou uma pressão enorme em nós. Então Nikollai que era da área nos arrumou essa casa para ser nossa espécie de escritório. No final das contas deixamos o Tesouro na Igreja. Assim que chegou aqui, ele começou a desconfiar. Você sabe, os rumores sobre o Justice correm o Vaticano, mas, ninguém é curioso e corajoso o suficiente. Mas o era. Ele não sossegou até nos achar. Pensei que teria problemas com ele e felizmente vocês o mataram logo depois. O problema enorme é que ele achou o tesouro e o tirou da Igreja. Quando fiquei sabendo do ocorrido tive certeza que ele o traria para cá; então, respondendo sua pergunta. Sim, esse é o lugar. – Herman sorriu convincente. Discretamente me deu uma piscadela e eu revirei meus olhos. Não queria brincar, não estava de bom humor.
   - Então andemos ora, hoje é o grande dia, nosso grande dia. – Armand apressou o passo e foi à nossa frente. Subiu as escadas rangentes de madeira e abriu a porta. Herman foi logo depois e eu ao fundo. Entre os arbustos estava assistindo tudo de camarote. deveria quase infartando no porão e eu ali, um passarinho perdido.
   Quando entrei na casa vi Herman e Armand conversando animadoramente. Um baú tal qual eu tinha imaginado estava lá no meio da sala. Só ali eu me senti à vontade o suficiente para sorrir. Armand havia entrado na minha armadilha, caído feito um cordeiro quando estava crente que era o lobo cruel. Era a minha vez, não a dele.
   Poucos minutos faltaram e Manterfos finalmente entrou no plano. O barulho de alguém andando ao redor da casa se fez presente e Armand atiçou os olhos.
   - Fiquem aqui, vou lá fora ver o que é isso.
   - Chielline...
   - Sim, Armand. – pela primeira vez eu vi o medo no olhar dele. Todas as merdas e loucuras que fizemos juntos nunca o deixaram com medo.
   - Cuidado. – assenti com a cabeça e rumei a porta. Passei pela varanda e cheguei à clareira. Meus nervos à flor da pele e a ansiedade corroendo meu raciocínio. Caminhei ao redor da casa contendo a súbita vontade de entrar na casa e simplesmente socar Armand até a morte. Vi escondido atrás de um barril e fui até ele.
   - Conte até 20 e faça.
   - Sim, senhor. – voltou ao seu local de ação. Fiz o caminho de volta calmamente. Passei novamente pelos degraus e cruzei a porta. Exatamente alguns segundos depois os estalos começaram a se fazer ouvir.
   - O Justice está aqui. – tentei parecer ao mesmo tempo surpreso e indignado. Armand se sobressaltou e foi diretamente para Herman. Grudou o rapaz pelo colarinho e cuspiu em seu rosto caucasiano.
   - Maldito, bastardo dos infernos. Eu te ofereci tudo, o mundo. O maior poder que poderia ter na vida e você troca tudo por uma porcaria de lealdade à um grupo mercenário?
   - Sim, Armand, é isso que somos, inclusive você, um bando de mercenários. – Armand emputeceu-se em níveis críticos. Sem cerimônias desceu a mão em Hermand que partiu para defender-se. Me intrometi entre os dois e tomei as rédeas da situação.
   - Olha a altura do fogo, Armand, daqui pouco vai invadir a casa. Suma daqui que eu cuido do traidorzinho de merda. – Armand ia falar algo, mas eu tomei a liberdade de empurrá-lo para a porta. Herman e eu aproveitamos a deixa, ele saiu pelos fundos com a ajuda de Manterfos e eu fiquei à espreita analisando Armand. O cardeal já estava fora da casa e assim Manterfos pode ir até a sala tomar o tesouro. A partir dai tudo foi muito rápido. Armand voltou para sala quando deu por si, ele havia esquecido o baú em sua pressa. No momento certo Manterfos pulou a janela indo entregar o baú para a grande estrela de nosso show. .

xx

  O fogo subia em volta da casa. O vento jogava as labaradas de um lado para outro e o laranja incandescente bailava frente ao meu rosto. Louisa observava a cena vidrada, como uma criança que vê um leão no zoológico pela primeira vez. Já eu, estava muito mais perturbado. O calor era iminente a tensão extremamente grande.
   Armand gritava Chielline e não recebia resposta. Meus músculos tremiam e eu parecia viver um pesadelo sem fim. Era tão agoniante olhar Armand cercado pelo fogo, em desespero. Eu via em seus olhos o medo. Então eu lembrei de . Eu não o vi em seu leito de morte. estava lá, graças ao bom Deus. Meu padre também previu a morte, ele também sentiu medo. Seus olhos provavelmente tinham o mesmo brilho escuro que Armand possuía em seus olhos cinza naquele momento. A partir daí eu deixei de ter pena dele. Aquele abutre dos infernos não merecia minha empatia.
   Aquela cena em específico pareceu congelar. Marion travou na porta sem saber o que fazer. Seus olhos começaram a correr à sua volta e notou que algo havia sumido. O tesouro não estava mais ao seu redor. Suas mãos trêmulas foram aos seus curtos cabelos grisalhos.
   - Chielline, Chielline. Giorgio, pelo amor de Deus, levaram o tesouro. – ele foi até a saída e pôs os pés sob o solo terroso. Olhou para os lados atordoado procurando por Chielline. Nada, ele estava sozinho com o fogo. De repente, o homem mudou a postura. Em um lampejo rápido de tempo eu o vi arregalar os olhos e por um pé para trás. O brilho do medo intensificou-se em sua áurea tornando-se desespero.
   - Não, não é possível. Chielline, Chielline, Chielline. – Armand berrava pelo cardeal como uma criança faminta. Fiquei confuso, passei a não entender mais nada. Eis então, que a vida se mostrou uma vadia. Uma vadia miserável e insana. Fora a minha vez de entrar em desespero e agonia. A euforia da confusão se apossou de mim quando ouvi aquelas palavras.
   - Olá Armand, procurando por isso aqui? – eu conhecia aquela voz. O timbre era conhecido, o sotaque italiano misturando-se ao sueco também. Fechei os olhos e voltei a encarar a realidade de novo. Pensei estar sonhando, mas não. Era tudo verdade, uma enlouquecida verdade.
   - Padre, você está morto. – Armand não sabia formular uma frase com mais de cinco palavras. Seu corpo o traiu e ele caiu sentado ao chão.
   - Estou vivo, Armand, e com seu precioso tesouro em minhas mãos. - a partir dali, tudo fora um borrão confuso e Dantesco.
   - Vivo? Como vivo? Eu o vi vomitar sangue e entrar naquela ambulância praticamente morto. – Armand usava das palavras para convencer a si próprio que aquilo não passava de uma alucinação.
   - Praticamente morto não quer dizer morto, Armand. E veja só, quando achou que estava livre de mim, mal sabia o que o tesouro estava em minhas mãos o tempo.
   - Padre dos infernos, me devolva essa porcaria de tesouro agora, senão... – uma explosão. Armand voou para trás com as mãos nos olhos. O fogo se fez presente logo à sua frente na varanda. A labarada subiu intensa e abrilhantou mais ainda o lugar.
   - Chielline, pelo amor de Deus, Giorgio.
   - Chielline não vai poder te salvar Armand, você mesmo cavou sua própria cova. Aproveite o calor, pois as chamas vão ser suas companheiras no inferno. - Armand ainda gritou por Chielline, por Deus e pela Virgem Maria. Seus gritos posteriores foram apenas de dor e desespero. O fogo adentrando pela casa, consumindo a madeira em estalos colossais. Pouco a pouco aquela estrutura fraca e judiada se desmontava. Armand ou morreria queimado ou asfixiado ou soterrado. saiu de trás da casa e indicou para mim que corresse. Eu não queria, queria ir atrás de e tocá-lo. Sentí-lo, abraça-lo, qualquer coisa. Porém, eu sabia que deveria ser coerente e indo contra qualquer impulso ou instinto apenas fiz o que era certo.

x

  - , pelo amor de Deus. Sossega o facho senão eu atiro em você. – a euforia de passou mais rápido que a minha, não queria criticar o açougueiro, mas, ele não sentia as mesmas emoções que eu por .
   - , pelo amor de Deus, não me peça calma. Não me peça pra eu ficar quieto. está vivo, você não viu? O filho da puta está vivo. Era esse o trunfo de Chielline, ele sabia o tempo todo, por isso nunca fez questão de se defender, ele sabia que estava vivo. Vivo , nosso padre tá vivo. – eu não sei o que deu em mim. Estava lá pulando de um lado para o outro, cantarolando com aquele sorriso enorme. Totalmente feliz, totalmente completo.
   - , eu sei, a gente também táfeliz, mas calma, não infarte antes do chegar.
   - Vocês... – apontei o dedo na cara de e depois de -... não pedi a opinião de vocês, me dêem um tempo, ok? – sem deixar o sorriso fui para sala. Provavelmente meu piso afundaria de tanto que perambulei de um lado para o outro. Os outros não voltavam, o tempo parecia passar feito uma tartaruga e a cada minuto eu me desesperava cada vez mais. Até que então ouvi vozes, nem sequer esperei. Abri a porta. Pensei que fosse desmaiar. Olhei para e seus olhos cor de mel, aquele cabelo loiro jogadinho de lado e a barba que nunca crescia. O puta do meu padre. Seu sorriso aumento quando ele me viu. Ficou parado e abriu os braços. Me chamou com as duas mãos e eu corri feito uma cadelinha para ele.
   - , seu puto, padre desgraçado. – abracei como se ele fosse fugir do planeta. Eu não deixaria que ele sumisse. Foram dias e mais dias de sofrimento e solidão. A dor de terem tirado meu melhor amigo de mim acabava com minha existência pouco a pouco. Então descobri que era tudo uma mentira, uma grande brincadeira de mau gosto e que na verdade estava vivo e abraçado comigo.
   - Achou que ia se livrar fácil de mim, né? – beijou minha testa com o maior carinho do universo e eu me senti o gay mais completo do mundo – Não deixe de agradecer Chielline – sussurrou dessa vez – Sem ele eu não estaria aqui. – soltei por um minuto e encarei Giorgio que sorria falando alguma besteira para Manterfos.
   - Ei. – chamei a atenção deles que olharam para mim. Chielline abriu uma cara risonha sincera que dizia “eu te entendo, já está desculpado”. Mesmo assim me senti nao obrigação.
   - Foi mal por todas as merdas que eu disse e valeu por deixar o gatão aqui vivo. – não iria conseguir falar muito mais que aquilo, desculpas não eram meu ponto forte.
   - Não precisa me agradecer, . Você estava perdoado desde o primeiro minuto. Agora se me permitem, tenho um corpo carbonizado para dar conta, um fogo incêndio para controlar e dar fim e muitos negócios para resolver. Foi bom conhecer vocês. – eu iria chamá-lo para entrar ou dizer qualquer coisa, mas, Chielline fez questão de se retirar sendo seguido por Manterfos.
   - Tem certeza que não precisa de ajuda? – não custava ser gentil.
   - Tenho meus contatos, . Até mais ver. – ele enfim se foi, o padre era só meu eu iria me aproveitar dele.
   - Você vem comigo agora, temos muito que conversar. – tomei pelo ombro e fomos para minha casa.

x

   mal havia saído de casa. , e eu ainda estávamos lá, brincando, tagarelando e aproveitando o momento. Não existia forma de definir o sentimento, a emoçao de estar daquela forma. Se eu pudesse escolher um dia na minha vida, acho que seria aquele. Tantos foram os problemas e as perturbações, eu mal podia acreditar.
   - Quer dizer que o coroinha foi só uma isca?
   - Sim, eles pensaram que talvez Nikolai estivesse aqui. Armand mesmo mandou o moleque sondar e a gente já sabe onde a história termina. – cada palavra de era seguida de um sorriso, a gente parecia não ser capaz de segurar os dentes dentro da boca.
   - É muita loucura pra uma menina de 17 anos. – com toda a emoção e a euforia eu acabei deixando um pouco de lado, mas ela ainda estava ali, na minha casa fazendo eu me sentir melhor. Ainda tínhamos mais uma noite juntos. Seria uma noite crítica.
   - Ninguém mandou se confessar com o maior ímã de confusões do universo. – ah, na nossa adolescência todo dia era um encrenca diferente, só se fodia.
   - Esse rapazinho aqui... – abracei pelo ombro -... É o melhor caçador de encrenca que eu conheço. Já perdeu os documentos em puteiro, dirigiu carro roubado, testemunha de roubo, derrubou professora da escada...
   - Tudo bem , acho que ela já entendeu, não precisa contar todos os meus podres pra menina. Quem se confessa comigo é ela e não o contrário. – ele fingiu um bico ofendido eu só quis beijar aquela testa branquela.
   - Falando em se confessar, você volta para Igreja? – tinha um brilho nos olhos que eu ainda não tinha conseguido identificar.
   - Vou pensar nisso ainda. E se os dois me permitem os últimos dias foram bem cansativos e eu só preciso descansar. Tudo bem?
   - Suas coisas tão todas do jeito que você deixou tratar de não beber nada envenenado, ok? – só de pensar na merda acontecendo, meu estômago revirava.
   - Tudo bem, lenhador. Boa noite para vocês. – foi para seu quarto e ali ficamos, eu e , e eu.
   - Vamos para o quarto também? – seu tom era calma, tranquilo. Ainda não conseguia compreender como ficava tão à vontade em situações tão complexas.
   A hora estava chegando. Depois de lidar com Armand, Chielline, e agora era hora de lidar com ela. Eu poderia passar por tudo de novo, botar fogo em mais alguém, enfrentar mais um religioso assassino ou qualquer coisa confusa e filha da puta do gênero. Mas, era completamente difícil lidar com cara a cara e enfrentar nosso relacionamento estranho, excêntrico, incomum e tão gostoso.
   era meu mal necessário. Já tinha desistido de afastá-la há algum tempo. Percebia que era algo totalmente idiota da minha parte tendo em vista que no final das contas nós sempre acabávamos juntos e gozando. E essa era uma das melhores partes, era quando eu estava tão fundo nela que parecia que nada poderia nos separar. Eu era só dela e era só minha e porra, como eu amava isso.
   sentou na minha cama e ficou encarando as coisas. Ela parecia procurar o jeito certo de falar. Eu estava deliberadamente cansado e esgotado, mas sentia lá no fundo que precisa conversar com ela. Não iria conseguir dormir se ignorasse nossa situação mais uma vez. Depois da morte falsa de aprendi que não se devem deixar as pessoas para amanhã.
   - Se a gente enrolar mais cinco minutos eu vou ter um treco, garota.
   - Estava rezando para que você dissesse algo. – sorriu sem graça e suas bochechas ficaram quase laranjas.
   - Vergonha de mim, ? Pelo amor de Deus, por que ficou enrolando pra falar?
   - Ah, você estava empolgado com o eu... – senti uma pontade de ciúmes na fala. Achei aquilo tão... Fofo.
   - Não seja ciumentinha, dona , são amores diferentes. – travei a mandíbula na hora me arrependendo automaticamente por ter usado aquele termo.
   - Amores? Foi isso mesmo que você disse. – abaixei a cabeça tentando pensar em uma boa desculpa. Ela se levantou e veio até mim, me puxou pela mão e me guiou para que eu sentasse do seu lado na cama.
   - , eu...
   - Sh! – pôs o dedo na minha boca. Paralizei e logo depois comecei a tremer. Diabo de menina! – Eu tenho também tenho amores diferentes. Tem aquele que eu sinto pelos meus pais, os que eu sinto pelos amigos, o que eu sinto pelos animais, o que eu sinto por sorvete e o que eu sinto por você. – desaprendi a respirar, parecia que um milhão de moscas invadiam as minhas narinas e não deixavam o oxigênio passar. Eu não sabia lidar com sentimentos, quanto mais falar sobre eles. Era muito complicado pra mim e romper essa barreira estava me destruindo. Sentia como se eu tivesse que lutar contra um exército de traumas para poder chegar ali.
   - Eu não sei falar sobre sentimentos, . Eu não sei me expressar, ser um príncipe romântico, um gentleman que dá flores e recita poemas. Meu instrumento de trabalho é um machado, meu toque é pesado e meu jeito de ser é...
   - , eu não quero você seja nada que não é. É desse jeito duro e bruto que eu... – ela olhou fundo nos meus olhos e senti minhas pupilas derreterem -... É assim que eu te amo. – mordeu os lábios transmitindo nervosismo. Seu coração estava ali escandarado para mim e ela inha medo de não ser correspondido. Mas mesmo assim, mesmo temendo que talvez eu a rejeitasse ou não a correspondesse, ela tinha dito. A garotinha de 17 anos que eu julgava ser irresponsável e fraca era mais corajosa que eu. Ela se jogou em toda porcaria por mim e para estar do meu lado sem relutar enquanto eu o tempo todo tentava controlar seus movimentos por medo, puro medo. Eu também precisava da mesma coragem, precisava enfrentar meus demônios e dar à o mesmo que ela dava por mim.
   - Eu também tenho amor por você e você sabe disso. – meu pulmão estava convulsionando e a porra do meu cérebro parecia chacoalhar sem parar no meu crânio – Eu tenho amor pelo seu rosto e por como ele fica brilhante e radiante perto de mim. – me virei de frente para ela e a comi inteira com meus olhos. Fui até sua franja e comecei a brincar com os fios de cabelo deixando o carinho atingir seu rosto. – Eu tenho amor por você ser tão tonta, eu tenho amor pela sua boca e pelo jeito que ela se morde quando você está nervosa ou pensando perversidades. – desci o dedo por seu rosto. não conseguiu fechar os olhos e ficou prestando atenção em cada mísero detalhe do que eu fazia e dizia. – Tenho amor por esse seu pescoço e como ele se alonga quando você está quase gozando. Tenho amor pelos seus peitos, tenho amor pela sua barriga e o jeito que ela se contrai embaixo de mim. – minhas mãos desciam conforme eu falava. ia pouco a pouco ficando mais tensa e com os músculos travados. – Eu tenho amor por esse jeito nervoso que você reage a mim. Tenho amor pelas suas coxas em volta das minhas e tenho amor por como você fica molhadinha por mim. – Ela arfou extremamente nervosa e os lábios se morderam assim como eu previa. – Eu nem preciso encostar lá para saber que você está pingando, . Eu amo fazer isso com você e amo o jeito como você simplesmente me faz esquecer tudo. Eu amo ser seu e amo como você é minha. Mas meu jeito de amar é pesado. É assim que eu quero te amar, . Quero te amar pesado, te amar selvagem. Eu quero te amar metendo fundo em você, te amar e te foder e te fazer gozar gritando meu nome. É assim que eu amo, minha putinha. – olhei para e seus olhos marejavam. Não soube muito bem como reagir e fiquei levemente preocupado. Logo ela deu um jeito de se expressar. Foi com pressa e suas mãos apertaram meu rosto.
   - , eu quero que você me rasgue. Me fode fundo, sem dó e não pare. Eu quero gozar em você e quero sentir sua porra escorrendo em mim, pelo amor de Deus, só faz isso e não precisa dizer mais nada.
   Foi como se céu e inferno se mesclassem. Deus e diabo juntando forças para o Armaggedom. Meu cérebro não estava comandando mais meu corpo. Era um instinto sobrenatural e animal que guiava cada movimento do meu corpo em uma vontade súbita e doente de dilacerar o corpo de . Foi o mais beijo mais ardente e descompassado que tinha dado em alguém. Comigo e e não existia beijo harmonioso e cadenciado em alguma espécia de frequência perfeita. Era sempre assim, descompensado e desorganizado. Ela mordia minha língua enquanto ela lambia meus lábios e nossas mãos corriam para todo lado sem medo de nada.
   Me deitei sobre ela forçando-nos a deitar na cama. A garota abriu as pernas dando espaço para que eu me encaixasse ali no meio. Sem tempo para preliminares, sem paciência para enrolações. Meu pau já latejava duro feito carvalho e eu fiz o favor de roçar ele por toda parte do corpo dela que eu pude. Queria que ela sentisse o quão excitado e cheio de tesão eu estava. me queria daquele jeito, sem paciência e intenso. Selvagem e pesado. Eu seria exatamente assim.
   Puxei a gola da sua camiseta de algodão e forcei o tecido. Ela rasgou de um jeito estranho, o tecido sedeu na parte dos peitos e antes mesmo de chegar no alto da sua barriga desviou para esquerda rasgando nas costas. Fiquei puto, o tecido me irritava e deixava a pele escondida. Acho que bufei alto demais. A camiseta dela começou a se desmanchar na minha mão, minha raiva fez com que os movimentos fossem imprecisos e pra cada lado que eu puxava a camisava só rasgava para direções diferentes. E o sutiã. Nunca o odiei tanto.
   Puxei o bojo de qualquer jeito para baixo e um pedaço de do mamilo ficou de fora, não era o suficiente. Queria inteira peladinha pra mim. A alça não iria rasgar e sair fácil. Minha brutalidade não estava sendo objetivo. Desisti de brigar com a roupa. Peguei pelos ombros e a fiz virar. Ela ficou sem entender e sem saber o que fazer com o corpo. Usei minha força para fazer o que queria com seu corpo. A girei de qualquer jeito e ela ficou deitada de barriga para baixo na cama. Fui para seu quadril e a força a empinar a bunda. ia ficar de quatro, mas não deixei. Queria só sua bunda arrebitada para cima.
   - Não se mexa, me ouviu? – abaixei na altura do seu ouvido e comecei a sussurrar. – Se você se mexer juro que não te como. E eu sei que você quer meu caralho inteiro te arrombando, então simplesmente não se mexe.
   ficou quietinha, mas sua respiração era alta. Joguei minha camisa e camiseta para qualquer lado. Me ajoelhei na cama para poder tirar minha calça. Mas, daria muito trabalho. Só fiz questão de tirar o cinto e descer o zíper. pareceu ficar curiosa e olhou para trás. Ela tinha o lábio superior mordido e os olhos vermelhos de tanta excitação. Desceu os olhos do meu rosto para meu pau e engoliu a saliva.
   - Eu mandei não se mexer, . – seus olhos voltaram para os meus e eu vi o medo neles. Ela estava temendo não ser fodida. Claro que eu não faria isso, óbvio que eu jamais a negaria algo que ela tanto queria assim como eu.
   - ...
   - Calada. Quieta. Não abre a boca, não se mexe. Quer saber? – peguei o cinto com as duas mãos e o dobrei. Após isso apenas uma mão o segurava enquanto a outra recebia leves cintadas. – Você vai aprender a dizer o que eu falo. Olha pra frente, . – seu rosto virou em câmera lenta. Ela sabia o que estava por vir. Empinou mais ainda a bunda e enfiou o rosto no travesseiro.
   Olhei bem para suas nádegas e desejei enfiar a língua, mas me controlei. Levei o cinto alto e o desci de uma vez. fez um movimento para frente respeitando a lei da inércia e voltou a posição inicial. Seu rosto levantou e olhou para mim de novo. Fazia aquilo porque queria mais, ela queria muito mais. Com ela me olhando eu desci mais uma. E mais outra. Sua bunda estava marcada e ela não parava de me olhar. Por mais que quisesse brincar daquilo para sempre, não tinha mais paciência. Precisava entrar nela.
   Deixei o cinto de lado. Deixei meu corpo logo atrás do dela. Meu pau estava em riste apontado para cima. voltou a olhar para frente. Mas, não. não seria do jeito que ela estava pensando.
   - Eu disse que não iria te foder se você olhasse, então, vou ficar aqui parado e você faz o serviço. – ouvi uma respiração revoltada sair dela e ri. Era engraçado vê-la sem saco.
   - !
   - Não reclame, eu disse para não se mexer. – eu nem via seu rosto, mas sabia que estava revirando os olhos.
   resolveu agir. Sua bunda foi indo para trás de encontro com meu caralho. Quando suas nádegas encostaram-se a ele eu joguei a cabeça para trás. tentava encaixar, mas não conseguia. Sua paciência se esgotava aos poucos e eu ficava cada vez mais louco e perturbado. Precisava de algo mais forte urgentemente. Fiz um favor para nós dois. A puxei pelo quadril. Eu podia ver sua entrada, toda molhada e excitada. Que fosse tudo a merda. Encaixei e meti. arqueou a cabeça e jogou os cabelos para trás. Eles caíram na minha mão e eu fiz o favor de segurálos com força para mim. Mas, eu ainda queria no comando.
   Só meti uma vez e o deixei lá dentro. Ela esperou alguns segundos parada e eu fiz nada. Absolutamente nada. decidiu agir. Seu corpo fez o movimento contrário e saiu. Meu pau ficou fora do seu corpo até ela voltar. E foi assim, indo e vindo com o quadril. Muito devagar, com muita calma. Ela estava me testando, pois sabia que eu não aguentaria e meteria sem parar de uma vez só. Eu iria me segurar e me controlar. Queria ver até onde ela iria. Parece então que ela ficou se saco cheio. O quadril foi violentamente para trás fazendo com que meu caralho inteiro penetrasse sua bucetinha. Sem cerimônia nenhuma eu a rasguei. Ela gritou alto e eu tive que deixar seus cabelos para tapar sua boca. Não queria traumatizar .
   - Quietinha, .
   - Não dá, . Não dá. – sua voz estava chorosa de um jeito sensual, desespero. Eu ficaria preocupado em outro dia qualquer, mas ali eu entendi o sinal como tesão.
   Ela estava tão desesperada e extasiada. Eu não iria aguentar mais, queria foder até o talo. Passei meus braços por sua cintura e alcancei sua barriga. A abracei e a puxei para cima. não entendeu nada. Consegui fazer com que os dois ficassem de pé e sai dela para que ela ficasse de frente para mim. Joguei contra a parede e nem dei tempo para que ela pensasse. Joguei meu corpo contra o dela e subi uma de suas pernas. A joguei contra meu quadril e abri espaço para meter. ia gritar de novo e eu tapei sua boca. Nem falei mais nada, eu não queria falar, queria foder.
   tinha os olhos arregalados para mim e os gemidos insanos descompassados saíam pelos meus dedos. Ela respirava desesperada com dificuldade e uns grunhidos perturbados escapavam. Eu estava me controlando para não urrar alto, contraía meus músculos tentando manter tudo sobre controle. Era tremendamente doloroso. Soltei a boca de e ela automaticamente procurou a minha. Tentamos nos beijar... Apenas tentamos, pois, fora impossível. Nós dois não conseguíamos respirar ou simplesmente se calar. Levei a mão livre para o pescoço de e o apertei. Ela gemeu mais longa e profundamente mostrando aprovoção. Tentei ir o mais fundo que podia, minhas pernas já reclamavam e meu gozo estava próximo.
   - , , ...
   - Que foi, putinha?
   - Vai... Eu vou gozar... Vai!
   Estoquei.
   Fodi.
   Meti.
   Comi.
   Varei.
   Arrombei.
   tremeu e fechou os olhos. Sua boca soltou sons que eu nunca havia ouvido. A respiração se desesperou mais e tornou ainda mais confusa. Seu corpo desmorou no meu e ela me abraçou pelo pescoço sem forças. Continuei metendo até que minha porra escorreu. Grunhi sem medo. Foi mal .
   Acabados e destruídos. Mesmo assim a peguei para mim e a coloquei na cama. me chamou para um abraço e assim nós terminamos a noite. Dilacerados, gozados, abraçados e felizes.

xx

  - , volta aqui.
   - Não, você não vai me fazer mudar de história.
   - eu vou tacar uma pedra na sua cabeça.
   - Pode tacar. – a ignorei e segui caminhando em direção à porta da sua casa. Ela correu, me alcançou e me segurou pelo braço.
   - Me diz mais uma vez a razão disso que você não me convenceu ainda.
   - . – me virei para ela e encarei sério – Eu não quero mais brincar de esconde-esconde. Não quero ter que enganar seus pais para poder te ver. A gente conversou, não conversou? Se for pra ficar junto que seja decentemente num relacionamento normal. E não discuta comigo.
   - Mas , meus pais vão te matar e me matar depois.
   - Não, não vão. E além do mais, vendo aquela casa ali? – apontei para minha antiga casa.
   - O que tem?
   - Sabe quem é dono dela?
   - Não.
   - Meu pai. Aquela casa é do meu pai, eu cresci naquela casa. E agora que Nikolai não mora mais na floresta eu resolvi voltar pra cidade e vou morar ali agora. – ficou branca, depois vermelha, roxa e voltou a ficar branca. – Por isso eu vou conversar com seus pais sobre a gente e nada vai me impedir. Nem você, nem sua pedra.

Epílogo

  Foquei meu olhar na marina que estava à minha frente. Uma pintura a óleo muito bem feita, com traços firmes da espátula que deixavam o mar parecer um ser nervoso. Me vi naquele barco, a água batia forte em sua polpa indo contra seu movimento natural. Era assim que eu estava, fora da rotina.
   Fora da rotina. Fora da zona de conforto. Sentado ali naquele sofá há mais de 20 minutos com um copo de suco intacto na minha mão. O assento ficava cada vez mais com a marca da minha bunda enquanto eu esperava os anfitriões aparecerem. estava no telefone com uma tia, a mãe na cozinha e o pai no banho.
   Theodor estranhou minha presença quando cheguei junto à . Disse a ele então que precisava conversar e ele abriu um sorriso me convidando para entrar. Pela primeira vez na minha vida eu sentia medo do pai de uma garota. Era como se eu tivesse voltado no tempo e fosse um adolescente de 16 anos tendo que pedir autorização para levar a garotinha do papai no baile da escola.
   Patético. Um homem do meu tamanho, da minha idade, com o meu porte físico, com a minha segurança tremendo as perninhas com medo de um pai. Eu podia ver os cenários catastróficos na minha mente. Theodor sacaria uma arma e apontaria na minha testa. Ele iria me xingar de todos os palavrões conhecidos na língua por profanar sua filha. seria tirada e mim e eu morreria naquela sala.
   Não seja um covarde, .
   Na hora de comer a filha do cara você não teve medinho, agora vai frangar? Pois sim, o misto de pensamentos não estava me fazendo bem. Acabei saindo da minha dissipação mental quando ouvi o barulho de sola vindo da escada. Theodor descendo sorridente, muito bem vestido como sempre. Suas pernas deslocavam-se na minha direção. Deixei de me comportar como uma ovelha pronta para o abate e mirei-o. O pai sentou-se na poltrona à minha frente e sorriu novamente. Um sorriso diferente, Theodor sabia de alguma coisa.
   - O nervosismo está te entregando, . – o sorriso era pra zombar da minha cara.
   - Theodor...
   - Você chega aqui na minha casa com a tira colo, está ai sentado no meu sofá com um copo de suco no lugar de uma cerveja, olhando pro quadro com o maior desespero do mundo pronto pro abate. Acha que eu nasci ontem? – fechei os olhos e tombei a cabeça para trás. Theodor estava certo e eu estava quase morrendo de taquicardia. Theodor estendeu o dedo indicador e apontou para o meu nariz. – Mas eu não vou deduzir coisas. Quero ouvir da sua boca. – o sorriso se fechou. O homem se recostou em sua poltrona, com as pernas cruzadas desviando o olhar para o lado. e a mãe romperam na sala e eu... Eu achei que fosse desmaiar.
   Além de toda a tensão, mais um problema caía no meu colo. Irina. Se ela soltasse a história do beijo na hora da raiva, Theodor não me mataria com um simples tiro, ele me deixaria para a eternidade numa salinha de tortura medieval.
   - Então, . Diga-nos o porquê da sua visita? Quer negociar novamente nossa reforma? – eu não soube dizer se Irina estava sendo irônica ou realmente inocente. Dei uma olhada discreta para que não parava de tremer os pés.
   Engoli o oxigênio e resolver parir logo aquela criança.
   - Estou aqui para falar sobre mim e . – Theodor abriu aquele sorriso de novo e Irina fez uma expressão que me deixou muito desconfortável.
   - É bom saber que você tem os culhões, . Embora eu não saiba o que vocês dois fizeram nesse tempo e nem quero me preocupar com isso agora, para ser sincero. Mas, antes que eu vire um pai furioso, gostaria de dizer que é bom saber que você teve coragem de vir aqui nos encarar.
   - Você e ? Vocês estão juntos, é isso? Interessante. – havia uma espécie de amargura na voz de Irina, amargura que eu sabia a origem.
   - Irina, não faça esse tipo. – Theodor irrompeu. – , eu sei sobre você e a senhora , veja bem, eu não te culpo. Nosso casamento é uma bagunça organizada. Acho que nós sabemos aonde ela quer chegar e espero eu que isso não tenha nada a ver com o pequeno incidente da adega. – Theodor estreitou os olhos que me encararam fundo e eu senti a saliva descer rasgando.
   - Não, Theodor. Meu caso com é extremamente independente de qualquer coisa que tenha ocorrido dentro dessa casa ou fora dela. Achei decente de a minha parte assumir isso para vocês, pois, sejamos sinceros. Eu tenho 40 anos e ela é uma adolescente, vocês tem motivo de sobra para achar que isso sou eu brincando com a cara dela. Mas não é. Eu não viria até aqui se não fosse.
   - E você, ? – olhou para o pai, suas bochechas estavam coradas e ela tentava não rir. Não sei se por nervosismo ou o quê.
   - A gente se entende. A gente se gosta, pai.
   - É só isso que você tem a dizer? Que vocês se gostam e se entendem? Você não tem medo de ser só um passo em falso?
   - Não, pai. Eu sei exatamente o que estou fazendo. e eu já temos provas o suficiente. – a essa altura eu só queria me enfiar em um buraco. Era duro ter que me explicar, dar satisfação do que estava fazendo, por outro lado, era totalmente compreensível que Theodor desconfiasse de mim.
   - Fico feliz por ter bom gosto. – Irina pouco se pronunciava, mas quando o fazia, era uma como uma bomba. Minha relação com a minha sogra seria difícil.
   - Tudo bem, então. Vou pedir pras meninas se retirarem porque agora eu quero conversar com a sós. – mirou o chão e depois olhou para mim passando força. Irina levantou os braços em falso sinal de rendição. Eu acompanhei as duas saindo e voltei minha atenção ao patriarca.
   - Diga logo, Theodor, odeio suspense e você vai me matar do coração.
   - Tudo bem, vou começar primeiro com as ameaças. é a minha menina. A minha princesa, tudo que eu tenho na vida. Eu não estou pedindo que fique com ela para a eternidade, que se case com ela e me dê netos. Você não é obrigado a isso, você pode mudar de ideia e terminar o relacionamento que não há problema, a vida é assim. Ela também pode mudar de ideia e isso pode acabar mês que vem. Mas, , se você machucá-la, se você não for honesto, se for arrumar outra, se você trai-la, se você erguer a mão para ela, se você não der a ela tudo que ela merece... Eu juro por Deus que eu vou ser o diabo na sua vida. Estamos entendidos?
   - Sim, obrigado pela delicadeza. Tem mais? – era ótimo ser tratado como um moleque fazia muito bem para o meu ego na terra do contrário.
   - Sim. Tem. Você já parou para pensar direito nisso? Em longo prazo? tem 17 anos. É uma adolescente, uma jovem. E jovens são impulsivos, eles passam por fases. Agora namorar um homem mais velho, é sexy, é provocante, provoca os pais e faz inveja nas amiguinhas. Mas o tempo vai passar. Ela vai pra faculdade, vai se envolver com outros jovens. Ela nunca namorou. Agora imagine daqui há 10 anos. nem vai ter chegado aos 30 e você vai estar nos 50. Nessa idade a gente não é mais o mesmo, . As mulheres começam a sentir falta de algo novo, de um corpo mais viril. Nós mesmos nos cansamos. Relacionamentos são complicados, nem todos dão certo. Quanto tempo vai demorar a vocês perceberam que erraram? Eu sei que ninguém lê o futuro e pensa tão a frente. Mas tente pensar, valeria a pena? Se tudo der errado, ainda valerá a pena? Se ela te largar, se você a largar, se descobrirem que foi um erro e que a vida passou por vocês, ainda vai ter valido a pena? – eu parei e me isolei da realidade. Havia ponderado todos esses pensamentos antes. Então eu me lembrei de tudo que e eu passamos, de cada minuto e cada problema que passamos. Tudo pareceu fazer sentido e eu pude perceber que mesmo que fosse uma grande merda, ainda assim, valeria a pena.
   - Theodor, eu não vou desistir agora. O amor que eu sinto por agora já faz valer a pena. Não vou ser meloso justo com você, eu não sou uma criança. Eu conheço a vida. Sei que a porra pode foder bonito daqui uns anos. Mas eu quero tentar. Se der errado, eu quero pelos saber que eu tentei, me entende?
   - É justo. Eu vivo um casamento falido há anos. Nós não nos separamos por dinheiro e negócios. Irina me trai e vice versa. Nem diria que é traição, tendo em vista que ela sabe e eu sei. Eu não quero isso para , eu quero que ela seja livre e feliz. Conto com você para isso seja com vocês juntos ou separados. Você conseguiu meu respeito vindo até aqui. Seja bem vindo à família. – Theodor levantou-se e estendeu a mão para mim. Fiz o mesmo. Nossas mãos se apertaram e depois de muito tempo, eu me senti completo.

x

  - , você só tem isso de copos e pratos? Duas taças só? Nenhuma jarra de suco? E olha a cor dessas formas, nunca ouviu falar em lã de aço? – trazer para me ajudar na mudança já parecia uma má ideia.
   - Eu moro sozinho, boneca. Me responde, pra que raios eu preciso de 50 copos, 100 pratos, 200 taças e uma jarra de suco? E eu não vou ficar me fodendo pra lavar uma forma que vai pro forno depois. Quando é a empregada que limpa, é fácil. – dei uma piscadela profana e torceu o bico.
   - Aonde vai isso aqui? – me mostrou uma caixa cheia de potes, tampas e coisas idiotas que eu deveria por no lixo, pois seria mais fácil chorar fora que organizar.
   - Ah, tanto faz. Coloca aí no canto que eu penso depois.
   - Se eu colocar isso aqui no canto, vai ficar no canto pra sempre. Você é muito enrolado, decide logo aonde vai tudo ou essa casa vai ficar inabitável por meses. – ela espoleteava de um lado para o outro tentando achar um pouco de organização no caos.
   - Por que inabitável? Eu tenho um colchão lá em cima e cerveja na geladeira, precisa de mais que isso?
   - , não seja infantil.
   - Você que tem 17 anos e eu que sou infantil? – vi a braveza tomando conta daquele rostinho amável.
   - Não comece a me provocar, lenhador abusado. – provocar. Toda a turbulência acabou por tomar conta de mim, me deixando física e mentalmente cansado. Há dias eu não provocava e ficava ao lado dela. Estava morrendo de saudades de grudar nela. Olhei para a minha bancada. Ali estavam algumas caixas vazias, plásticos, alguns talheres e porcarias do gênero. Em um impulsivo gesto coloquei tudo no chão. Meu braço foi de uma extremidade da bancada para outra deixando o local totalmente livre. levou um susto e me olhou confusa.
   - Vem aqui. – a chamei com o dedo e pareceu começar a compreender o chamado.
   - , eu acho que antes da diversão vem o trabalho. – fazia parte do charme, eu sabia. Ela se faria de difícil para me deixar ainda mais atordoado. Algo que com toda a certeza daria certa.
   - Desde quando você decidiu ser uma menina responsável. Quando precisa você não é, vai fazer isso justo agora? – eu me sentia nervoso, inquieto. Fazia alguns dias e eu estava morrendo de tesão e de saudades. Esperar parar com o doce não estava me fazendo bem.
   - Mas não foi você mesmo que me pediu um zilhão de vezes para não ser impulsiva e ser mais responsável? Então, estou sorrindo. – sorriu de canto de boca. Seu jeito de falar entregava a zombaria. A garota virou-se de costas indo abrir outra caixa. Ela sabia que faria isso e me daria uma visão majestosa daquele traseiro empinado. Ela sabia que faria isso e eu a observaria morrendo de vontade. Ela sabia que faria isso e eu iria atrás dela. Ela sabia e eu sabia.
   Com passos longos eu fui até ela. Abaixei o tronco e passei os braços pela sua cintura, apoiei em meu ombro assim como se carrega uma caça morta. Ela começou a espernear e a me xingar. Seu cabelo caiu todo pela cara e me amaldiçoava pedindo para voltar para o chão. Andei com pressa e a sentei na bancada. Então, ela desfez o charme e sorriu. Sorriu safada do jeito que me tirava da razão.
   - Pra que fazer tanto charme? – eu não conseguia parar de sorrir em frente à ela. Uma mistura de delicadeza com pornografia que já fazia meu pau esbravejar nas minhas calças.
   - Eu sei que você gosta. – pressionou os dentes contra o lábio de baixo e roçou a perna na minha coxa. Me arrepiei por inteiro como se tivesse colocado o dedo na tomada. Ergui os glúteos cheios de e enfiei meu corpo no meio deles. Ela arfou manhosa e abraçou meu pescoço. A garota fez impulso puxando meu rosto mais para frente e roçou o queixo na minha barba extremamente mal feita.
   - E do que mais eu gosto? – abruptamente tirei seus braços do meu pescoço e os joguei para trás. Me enfiei mais no meio dela, encostando a dureza do meu membro no mármore da bancada. Subi meu tato direito pela parte de trás do cabelo de e o agarrei pela raiz embrulhando os fios no meio dos meus dedos. Com a outra mão decidi brincar com seu queixo. Meu dedão apoiou na base da linha do tubarão e o arrebitei para cima. deu outra mordida no lábio e mirou com os olhos extremamente brilhantes, irradiando uma porra de um tesão contagiante.
   - Você gosta de vinho... - os dedos sapecas desenhavam meus lábios secos -... De esportes, de assado de carne, de adrenalina... - empinou seu quadril para frente me provocando com sua pélvis. Apertei minha mão em seus cabeços trazendo-a novamente para perto do meu rosto. A mão que mantinha seu queixo alto caiu indo apertar a cintura fina. por sua vez desceu seus dedos pelo próprio corpo e segurou a mão que eu tinha em sua cintura. Ela forçou o contato pela cintura e mudou o espaço que meu tato ocupava levando-o para seus seios. Ela vestia um sutiã fino sem bojo que permitiu que sentisse a rigidez do bico do peito esquerdo. Apertei minha mão ali, apertando o mamilo e trazendo-o para frente. gemeu fechando os olhos e logo voltou a me encarar. – Você gosta do jeito que meus mamilos ficam duros por você e, além disso... - voltou a segurar minha mão comandando meus movimentos. Desceu pela barriga e foi até sua virilha. O shorts curto deixava muito carne de fora e eu não pude conter a vontade de agarrar. – E eu sei que você gosta disso aqui. – se empinou mais ainda. Senti o fervor da sua bocetinha na palma da minha mão. Meu caralho estava gritando sem paciência.
   - Isso aqui não tem nome? – eu queria ouvi-la falar, queria ouvir sua boca despejar a vulgaridade. Amava todas as facetas de . Amava a menina mimada, a irritante, a irresponsável, a engraçada, a que fazia cara feia quando era contrariada, mas além de tudo, eu amava sem vergonha de perder o pudor comigo.
   - Tem sim. Você quer me ouvir falar? – deixou a voz manhosa escapar. O timbre era baixo e agudo, um timbre que eriçava cada parte do meu corpo. Forcei uma mão contra uma de suas coxas e a fiz dobrar joelho, colocando o pé sobre a bancada. ficou mais aberta, mais escancarada. Eu olhava para o short que se dividia deixando a rachadura de sua vagina toda marcada, me hipnotizando.
   - Eu quero mais que isso, garota. Eu quero te ouvir falar, assim como eu quero te chupar e te foder. Eu quero você gemendo sem parar, ah , eu quero te rasgar no meio. Quero esfolar essa porra de boceta. Quero meu pau dolorido de tanto meter em você. – essa era a hora em que eu conseguia desarmar . O charme sumia, a pirraça ia embora e somente sua carinha excitada e desejosa ficava. Antes que ela falasse mais algo eu enfiei a língua nos lábios dela.
   Beijar era como abrir uma caixa de pandora. Meu corpo todo parecia desaprender a funcionar e eu sentia cada órgão meu falhando aos poucos. De repente eu parecia poder sentir a circulação sanguínea, eu sentia meu coração bombeando desesperadamente enquanto cada gotícula de sangue percorria meu corpo em direção ao meu pênis. Tudo amortecia e eu entrava em outro modo de vida.
   puxou minha camisa xadrez para baixo e sem desgrudar da minha boca puxou a barra da camiseta para cima, me atrapalhei todo quando tive que passar a camiseta pela cabeça e fiquei sem ar por alguns segundos. Sem chance de voltar a respirar, a camiseta fora ameaçada e logo me beijou de novo. Suas unhas correram meu tronco de cima para baixo e de baixo para cima. Eu senti que alguns dos meus pelos se perderam com as garras e aquele ímpeto de dor me deitou ainda mais perturbado.
   Ergui o quadril de que também se perdeu tirando o short. Sua blusa era cheia de botões e chata de tirar. Fui puxando o tecido tentando rasgas e um botão e outro abriram, o restante recusava-se a ceder e eu não estava munido de coordenação motora para desabotoar porra nenhuma. Olhei para o lado vi uma faca próxima a mim. Não pensei duas vezes antes de passar a lâmina pela costura.
   - Porra, . – se assustou e por um momento tentou me impedir. Mas, acabei sendo mais rápido.
   - Xiu, sei o que estou fazendo. - A garota ia chiar mais qualquer porcaria e eu decidi ignorar. Puxei o tecido do sutiã para baixo e mergulhei a língua em seus peitos. Não sabia em qual ficar, comecei a pular de um para o outro. Mordiscava, chupava, lambia e finalmente deixava os gemidos safados escaparem sem piedade.
   Não satisfeito com os seios procurei por sua calcinha. O tecido estava tão úmido que se eu o torcesse ele pingaria. Rocei o dedo ainda por cima da calcinha e pareceu perder o ar. Meu dedo não encontrava o atrito graças à sua bocetinha molhada.
   - Já tá escorrendo, ?
   - Você faz... Isso comigo. – ela atropelava as palavras e não conseguia se controlar no que falava.
   - Mas eu nem te chupei ainda!
   - Não seja cruel, lenhador.
   - Cruel? Ora, vou te mostrar como sou bonzinho. – abriu bem os olhos acompanhando meus movimentos. Desci a boca pelo tronco até chegar à virilha. Juro, eu queria provocar e fazer aquilo se tornar uma tortura. Porém, eu não estava aguentando mais. Sentia minha língua formigar de vontade de se enfiar ali.
   Passei uma longa lambida desde seu cuzinho até a parte alta do clitóris. se desmontou na bancada, caindo com as costas na pedra fria. Puxei a calcinha de lado e mergulhei a língua em sua entrada. Todo o líquido atingiu meu paladar e a sensação de êxtase, o prazer de ter aquele gosto de sexo tão suculento quase me desmontou. Continuei a chupar uma que não sabia o que fazer. Ela tentava se equilibrar sentada para me observar, mas não conseguia. E quanto mais eu a sentia sem controle dos movimentos, com mais vontade eu chupava. Fazia movimentos aleatórios com a língua na entrada até decidir dar atenção ao grelinho avermelhado. Puxei a capinha do clitóris com o dedo e recostei a cabeça de lado em sua coxa. Olhei no fundo dos olhos dela antes de passar a língua nele. A garotinha perdida de tesão gemeu e gemeu alto. Ia e voltava com a língua sem pressa alguma. continuava se contorcendo.
   Chupá-la despertava algo terrivelmente animalesco em mim. O gostinho de xoxota mexia comigo, era como se eu tivesse tomando algum tipo de poção mágica. Meu pau já não aguentava mais. Os dias de seca estavam me matando e àquela altura eu não aguentava mais esperar.
   Deixei que resmungou até perceber o que eu fazia. Com pressa e sem jeito abri o botão e baixei o zíper. A calça caiu até a altura do joelho. Estar descalço me ajudou. Tirei o jeans tropeçando em meus pés e arranquei a cueca do jeito que dava. Nu em pelo e com meu pau em riste.
   passou a língua pelos lábios se oferecendo para mim. Me aproximei e com minha força a tirei do balcão. Ela não teve tempo para pensar, a virei de costas para mim, de frente para a bancada. Com uma das mãos abaixei sua cabeça e naturalmente o corpo dela se posicionou para ficar da forma que eu queria. A bunda totalmente empinada. rebolou as nádegas para mim e esperou pacientemente. Molhei meus dedos e passei pela buceta. Penetrei-a com dois dedos para sentir o canal ir se alargando para mim. Tirei e os dedos e nem pensei. Foi tudo de uma vez. Eu sabia que ela gostava assim.
   gritou e começou a rebolar perdidamente. Segurei sua bunda para mim e forcei a penetração mais ainda. gemia e pedia mais. Sempre mais, ela sempre queria mais e eu sempre a dava mais. Desferi um tapa em sua nádega vendo a pele avermelhar e não senti dó em carimbar a outra com a mesma força. balançou a bunda em um característico sinal de quem pedia para apanhar.
   Puxei o queixo de novo para cima e seu rosto ficou parelho ao meu.
   - Você quer apanhar? – puxei mecha por mecha de cabelo até seu ouvido ficar à minha mercê.
   - Quero. – gemeu como uma gatinha no cio.
   - Assim? – desci a mão mais uma vez sem medo de ser grosseiro. balançou a cabeça afirmativamente. Mais uma vez e mais outra. Até eu sentir minha mão doer. Eu continuava metendo, fodendo como um alucinado. não parava de gemer e cada vez mais o ato de tornava alto e desesperado. Ela arqueou daquele jeito. Do jeito que eu sabia que ela arqueava quando estava prestes a gozar. A comi então com mais força ainda.
   não aguentou a força do corpo e caiu para frente novamente. Antes que eu pudesse intensificar mais, ela explodiu. Gritou por mim se ficou desconexa. Meti ainda mais um pouco, ela continuou gozando no meu pau até se tornar um pouco mais calma.
   Sai de dentro dela e a puxei pelos cabelos. caiu desengonçada e virou de frente para mim. A chamei com dedo e ela veio escalando nas minhas coxas. Me olhou fixamente desceu a boca no meu pau. Arqueie para trás arfando enquanto fazia questão de me chupar de forma enlouquecida. Ela ainda gemia graças ao orgasmos e respirava perdida me deixando ainda mais excitado. Percebendo que ia gozar, a puxei pelos cabelos de novo. Joguei sua cabeça para trás e passei a me masturbar. abriu a boca e colocou a língua para fora sabendo o que viria. O inevitável fez-se presente. Esporrei no rosto dela, na língua, em sua boca e contorcionava-se para engolir cada gota. Ainda foi para minha cabeça vermelha e ainda dura aproveitar o restante.
   Ela ergueu os olhos para mim com o sorrisinho safado que me fazia completo e eu ri olhando para seu rosto cheio de porra. pediu ajuda para levantar, dei minha mão para ela. Seus olhinhos cansados percorreram a cozinha procurando algo para limpar a boca. Mas, eu não queria que ela limpasse, eu queria ficar encarando seu rostinho sujo com a minha porra, o sinal do meu tesão por ela.
   - Vem cá, .
   - Só quero limpar a boca. – ela continuava procurando por algo, até se tocar e ir até pia.
   - Ei, não é pra limpar. Vem cá! – ela me olhou e eu fui até ela. - Quero admirar a obra. – pisquei e ela amarrou o bico como sempre. – Você fica linda assim.
   - Sorte sua que eu amo seu gosto.
   - E eu amo você, sua sapeca sem vergonha. – sorriu sem graça e se jogou nos meus braços.
   - Só te amo porque você musculoso e pauzudo – fiz cara de ofendido e riu. Com toda a vergonha que ela não tinha mostrado antes, ela penetrou o olhar no meu e avermelhou-se inteira antes de falar. – Também te amo, seu safado abusado.

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  Eu diria que era uma cena paradoxal contraditório. O chão parecia um mar embranquecido. Mal dava para ver a grama com todas as pétalas brancas jogadas no corredor formado pela distribuição de cadeiras. De cada lado algumas cestas com floras também brancas ajudavam a adornar o pequeno corredor, juntamente com outros vasos de flores brancas. Flores brancas que eram diferentes uma das outras, as dos cestos eram de um tipo e as dos vasos de outras. Eu não fazia ideia qual o nome delas, só sabia reconhecer rosas. Então para mim eram todas flores brancas.
   As cadeiras tinham estofados fofinhos e brancos amarrados. No fim do corredor um simpático púlpito e em volta de nós, a natureza. O dia estava levemente nublado, com uma brisa refrescante. Essa era a parte celestial do ambiente. Tudo parecia calmo e tranquilo. Aí começava o paradoxo.
   parecia estar com pulgas pelo corpo. Ele simplesmente não se acalmava. Teve que tirar o terno, pois suava feito um porco gordo. Os convidados não pareciam prestar atenção enquanto conversavam animadamente uns com os outros. A mãe de havia saído para cumprimentar uns convidados e o pai dele discutia com o meu alguma coisa sobre a seleção sueca de futebol.
   procurava manter a postura. Volta e meia alguém chegava até ele para pedir a benção e eu sorria sem graça tentando controlar . Ainda faltava um tempo para o casamento e eu temia pela vida do açougueiro. Durante todo o processo ele parecia muito calma. Sempre tranquilo, sempre sorridente. Até o fatídico dia chegar. Ele temia o abandono e eu não o julgava tendo em vista a experiência com a ex-mulher. Meu carnicento tinha sofrido bastante e não seria justo com ele que outro relacionamento desse errado.
   Porém, todos nós, aliás, eu e ele resolvemos dar uma chance ao amor. Por que não tentar? Tentamos convencer a largar a batina depois de tudo. Pensei que ele se traumatizaria com a igreja e quem sabe se convertesse ao satanismo. Mas não, o padre surpreendeu a todos quando disse que continuaria. Ele insistiu em dizer que era um servo de Deus e que não desistiria. Seu sonho era ajudar pessoas e ser uma benção para elas. Eu o entendi; é reconfortante lutar por uma causa e ajudar o próximo. No fim das contas apoiamos a ideia. E além do mais, teria um amigo para celebrar seu casamento.
   - , se você não parar de tremer e suar eu vou enfiar alguma coisa no seu cu pra conter seus movimentos. – ameacei com a voz baixa de forma que só e eu escutássemos.
   - Ameaça anal já é demais, não acha, ? – fez cara feia para mim como se pedisse para eu pegar mais leve.
   - Estou nervoso, ok? Ela já deveria estar aqui, não deveria?
   - Faltam 5 minutos, . E noivas sempre atrasam, não? Isso não é tradição?
   - Nem sempre, depende da noiva. – confirmou .
   - Ana vai se atrasar de propósito só pra me deixar nervoso, estou sentindo isso. – dei um peteleco no nariz de que fechou a cara para mim e me xingou.
   - Para de falar merda, otário. Hoje é seu dia. Segura essa frescura e se recomponha antes que os convidados percebam o fiasco que você está dando. – colocou as mãos na cintura e respirou fundo.
   - Vou buscar uísque. – eu tentei segurá-lo, mas ele foi mais rápido. Eu até pensei em ir atrás dele, mas me impediu.
   - Deixa ele, cada um tem seu jeito de lidar com a pressão. Aposto que no seu casamento você vai ficar todo nervosinho também. – riu após mencionar meu casamento e o fitei sarcástico.
   - Que foi, nem casei e já está tirando uma com a minha cara?
   - Só nunca te imaginei casado, só isso. Não faz seu perfil.
   - E quem é você pra traçar perfil? Até os 18 anos passava a vara em geral, eu nunca diria que você viraria padre e olha só. – pensar em casamento parecia ainda distante, mas, era um pensamento válido.
   voltou a nós. Conversávamos sobre besteiras até que todos se calaram. olhou para frente atônito, ainda não era possível ver Ana. Primeiramente entrou Eleanora, a primogênita. Ela estava com um vestido lilás. Jovial simples e elegante, ela carregava um pequeno buquê com as malditas flores brancas. Eu já estava enjoado de olhar para flores brancas. Ela subiu e deu um beijo no pai e se posicionou ao lado oposto do nosso.
   A próxima a entrar foi a minha garota. trajava um vestido do mesmo tom, porém de modelo diferente. O seu era um pouco mais curto, porém, um pouco mais solto no corpo. Ela tinha um sorriso enorme e contagiante. Sorriu para todos nós e foi ao lado de Eleanora. Logo depois, a pequena Katrine veio com o par de alianças em suas mãos. Ela usava uma coroa de flores e sorria como uma princesa encantada.
   Assim que a garotinha posicionou-se ao lado de , Ana apontou. só faltava vomitar. Ana casando-se de branco. Tá aí como o destino é algo traiçoeiro. A mulher mais antiquada que eu conhecia como uma bela noiva. Logo ela que tinha alergia a casamento.
   A cerimônia correu. deu a benção e ninguém teve algo contra o matrimônio. Os dois se beijaram pela primeira vez como casados. só faltava cavar um buraco no chão, Ana não parava de sorrir e eu não conseguia parar de me encantar por .
   Os convidados se perdiam pela festa. Uma música agradável tocava e as pessoas se serviam na mesa de doces e salgados. Eu estava sentado na mesa ao lado do meu pai. O velho me passava uma lição de moral sobre . Ele me dizia que se eu canalhasse com ela, que ele no alto dos seus 72 anos meteria uma surra de cinta em mim. Eu tentava não rir, mas era impossível. Minha madrasta chegou puxando meu pai para dançar e fiquei sozinho à mesa. andava de um lado para o outro recebendo agrados dos convidados e era cercado pelas carolas fogueteiras.
   então se sentou do meu lado.
   - Você fica bem de terno, sabia? – ela sorria abertamente e estava de muito bom humor.
   - Babe, eu fico bem de qualquer jeito, ainda mais pelado. – a garota aproximou-se de mim e pôs a mão embaixo da mesa. Por baixo da toalha procurou minha coxa e escorregou a mão para meu ainda flácido pênis.
   - E ainda mais de pau duro - uma vibração perturbadora passou pela minha espinha. Fui com o quadril para cima e a mão de afundou ainda mais no meu pau.
   - Quer fazer isso aqui e agora? – pisquei para ele sem conseguir conter o sorriso safado.
   - Você quer? – ela provocava lentamente.
   - Acho que se alguém fizer isso no nosso casamento, eu mato.
   - Nosso casamento? – um olhar intrigado me julgava e por um momento engoli em seco. Eu queria casar com , dividir o teto, enchê-la de moleques e envelhecer ao lado dela? Sim, eu queria.
   - Sim, nosso casamento, algo contra?
   - Você não me pediu ainda oficialmente. – ela tinha um sorriso verdadeiro de quem parecia gostar realmente da ideia.
   - Só peço se você me masturbar em baixo da mesa. E aí? – nada falou. Abriu meu zíper e enfiou a mão na minha cueca. Não demorou muito para a porra endurecer e ficar altas. começou a deslizar a mão e eu muito compenetrado em não dar bandeira. Alguém passou por nós e disse “oi”. apertou meu pau com força e eu fiz um malabarismo mental para parecer normal. Ela ia rápido, pois quanto mais rápido eu gozasse mais rápido o risco de ser pego diminuiria.
   Para não sofrer sozinho, enfiei minha mão embaixo da toalha e fui para dentro do vestido. deu um salto na cadeira e soltou um semi grito. Ela batia uma punheta para mim enquanto eu esfregava seu grelo. Ela trançou as pernas e perdeu o equilíbrio na cadeira. Eu meti um soco na mesa e esporrei na mão dela. Logo depois afundou mais ainda no assento quase entrando embaixo da mesa. olhou de longe me reprovando. Ele sabia, qualquer um que prestasse atenção saberia.
   - Então é isso, você vai me pedir em casamento? – eu sorria abobalhado e nervoso.
   - Então, já que é de desejo de ambos. Aceita casar comigo daqui alguns anos? – beijou minha boca com pressa e me soltou em seguida abrindo aqueles dentes brancos.
   - Aceito, mas daqui alguns anos. Quero curtir ainda ser sua namorada mais um tempo. E não quero ir pra faculdade casada.
   - ...
   - Que foi?
   - Não comece a me fazer me arrepender.
   - Não seja trouxa, . Só quero curtir o meu lado bi na faculdade. – uma pontada tomou conta do meu pau e eu já sentia subir.
   - Vai trazer as amiguinhas pra casa?
   - Vou pensar no seu caso. – foi pra minha boca de novo e nós trocamos saliva na frente dos convidados. Ao sair do beijo ela caiu nos meus braços e eu fiz um cafuné gostoso em seu cabelo bem penteado. Olhei para frente e vi sorrindo feito uma topeira. também tinha os dentes à mostra enquanto conversava com amigos. Lá dentro de mim eu pude sentir então, que finalmente estava feliz.

FIM



Comentários da autora


  N/A: Olá minhas lindas *.* Espero que curtam o capítulo, quero amor pra ele porque foi escrito pensando na alegria de vocês. E claro, porque eu gosto de escrever putaria haha Viram a mentirinha que o lenhador contou ali? PERCEBERAM A TRETA? Espero que sim. Ai gente, essa semana foi tão doida que estou dando graças a Deus que o Carnaval tá aí pra eu poder descansar a cabeça. Espero que curtam e se divirtam, nem que seja em casa comendo brigadeiro. Beijokas