Focus of my blur: Filme I
Escrito por Sial | Instagram
Revisado por Natashia Kitamura
Presentation: Don’t sit down ‘cause I’ve moved your chair
"Morda um raio e me diga qual é o gosto
Lute kung-fu em cima de seus patins
Dance a macarena no covil do Diabo
Mas só não se sente, pois eu movi sua cadeira."
⏮︎⏸︎⏭︎
Os dedos de Jungkook já estavam vermelhos e inchados de tanto apertar as cordas do violão. Os acordes de Something ora saíam, ora pareciam um grasnar do instrumento. Ele praticava em qualquer tempo livre que surgia e tentava segurar a ansiedade por não estar melhorando tão rápido quanto esperava. Naquele caso, o tempo era crucial para o sucesso do plano que tinha em mente.
A campainha estridente do apartamento soou. Ele levantou-se bufando, torcendo para que não fosse Hobi convidando-o para fazerem algo juntos ou pedindo carona para algum lugar. Prometeu a si mesmo — de novo — que ia trocar aquela coisa o mais rápido possível.
Mais irritante do que o som era a pessoa que estava plantada à sua porta.
— O que você quer? — ele perguntou, não se importando com o tom claramente rude de sua voz.
— Precisamos conversar. Quer dizer... — ela gesticulou com as mãos de forma impaciente, nervosa. — Eu preciso falar.
A garota entrou voando em seu apartamento, sem ao menos ter sido convidada para tal. Mesmo não sendo a primeira vez, Jungkook ainda ficava indignado com aquela atitude. Ele realmente não a queria ali.
— Quantas vezes preciso dizer que eu não quero você entrando desse jeito? — ele fechou a porta, falando entredentes. — Aliás, eu não quero nem que você chegue perto da minha porta. Já conversamos sobre isso, lembra?
— Eu sei, eu sei. — ela não estava prestando atenção. Procurava algo na geladeira, até tirar de lá uma garrafa grande de soju e um copo que foi preenchido pelo líquido rapidamente.
— Eu vou ter que reclamar da portaria deste prédio, com certeza... — ele murmurou, encarando feio a garota.
— Eles não sabem que eu entrei. — ela deu um grande gole, fazendo a careta que sempre fazia. Três meses ainda não era tempo suficiente para se acostumar à bebida diferente.
— Ótimo, isso só deixa claro o quanto a segurança disso aqui é uma porcaria. — ele bufou, apoiando as palmas das mãos na superfície da bancada, claramente irritado. — O que você quer, ?
Ela largou o copo, ainda pela metade, em cima do tampo de mármore. Parecia prestes a falar, mas escolhia com cuidado as palavras.
— Jaehyun me chamou para sair. — ela respondeu, encolhendo os ombros.
Jungkook não demonstrou nenhuma expressão significativa. Ela continuou em silêncio e ele arqueou as sobrancelhas.
— E? — ele fez um sinal para que ela continuasse. — Não entendi, você quer que eu te dê parabéns? Apesar do mérito não ser todo seu.
— E aí que eu não posso fazer isso, Jungkook. — ela pegou o copo e andou de volta até a sala, começando lá uma caminhada em semicírculos.
— Que papo é esse? Isso é exatamente o que você queria.
— Eu quero! E aceitei na mesma hora, no automático. Mas, caramba, agora que a ficha caiu, eu realmente não posso fazer isso.
— O que você está falando, garota? — Jungkook a olhou como se estivesse realmente louca. Afinal, o cara por quem ela era apaixonada há pelo menos três meses havia finalmente tomado a atitude que ela tanto queria. — É sério, , hoje não é um bom dia para você não ser direta.
— Eu vou decepcioná-lo, Jungkook! Eu vou ser um fracasso no primeiro e último encontro da minha vida.
A garota andava de um lado para outro, agitada. Jungkook xingou baixo em sua língua materna para que não ficasse tão evidente o quanto ele queria que ela fosse embora. Havia prometido que seria legal – até onde desse.
— Por que raios o seu encontro seria um fracasso? Não concordamos que ele também gosta de você? — ela acenou lentamente. — Então por que toda essa alarde na minha casa às... — ele olhou de relance para o relógio na parede. — Meia-noite e meia! Céus, ! Se alguém te viu entrar aqui, acabou o nosso acordo de paz.
— Ninguém me viu, tá bom? Eu consigo me esgueirar por qualquer buraco sem ser vista, não é isso que você sempre me diz?
— E sempre falo sério. — ele revirou os olhos, lembrando-se do dia em que se conheceram. — Agora, eu realmente preciso que você diga logo o que quer para que possa ir embora mais rápido. Anda, por que o seu encontro com Jaehyun seria tão desastroso?
Ela piscou os olhos e mordeu o lábio inferior. A sua bebedeira anterior àquele cenário era justamente para conseguir dizer o que estava prestes a dizer.
— Porque eu sou... Meio... Bem, virgem.
Jungkook fez uma pausa antes de soltar uma risada. sabia que ele zombaria dela, mas mesmo assim não conseguiu controlar o rubor que tomou seu rosto.
— Sério, , não tenta se acostumar com o soju de uma vez só. Meio-virgem? E isso lá existe?
— Eu não estou brincando, Jungkook. Eu só fiz isso uma vez na vida e não foi, bem, uma transa de verdade. — ela deu de ombros. — Eu só fiquei lá parada enquanto o cara fazia tudo. Foi deplorável, eu não quero que seja assim com ele.
— Então é só não ser. — ele disse devagar, o óbvio. — O Jaehyun até pode cair nesse papo furado de meio virgem, mas eu não. E eu definitivamente não quero saber da sua vida sexual.
— Achei que nosso acordo incluía atualizações sobre o andamento das nossas contribuições.
— Sim, mas a minha parte está feita. Nos últimos dois meses eu fui só elogios sobre você com ele, te informei dos hobbies, preferências, lista de filmes, até o sabor favorito de gelatina dele. E ele finalmente a convidou para sair. O que eu tenho a ver com o que farão depois? — ele deu de ombros. — Aliás, se é que farão...
Ela estreitou os olhos e deu uma risada engasgada.
— Para a sua informação, ele deixou bem claro que quer! Ele me beijou no carro quando me deixou na porta de casa, e pediu para subir. É clichê, mas eu sei bem o que aconteceria se eu tivesse falado sim.
— E por que diabos não disse?! — Jungkook abriu os braços exasperado, indignado.
— Porque eu fiquei apavorada, ‘tá legal? Você ainda não tá acreditando em mim! — ela virou o restante do soju no copo, e Jungkook sabia que não demoraria muito para que ela ficasse falante. Mais do que já estava. — Ele embarca amanhã com os meninos para uma turnê na América, e me chamou para jantar como uma despedida, eu sei. Também sei que ele me beijou e pediu para subir porque provavelmente deve gostar de mim, e eu me sinto a maior idiota do mundo por não ter conseguido fazer isso para que ele fosse com essa lembrança, e eu não queria...
Ela tagarelava, mas Jungkook não prestava mais atenção. O relógio já marcava quase uma hora da manhã, o que dizia que estava ali por pelo menos meia hora. Já era desagradável receber pessoas em seu espaço no seu momento livre, ainda mais se fosse , a garota com quem ele tinha firmado recentemente um acordo de não ser um babaca.
Sendo justo, ela não parecia disposta a dar nenhuma oportunidade para que ele não fosse um.
— OK, OK. — ele a interrompeu, coçando os olhos. — Digamos que eu acredite. O que você pensa que posso fazer sobre isso? E não, eu não sei detalhes da vida sexual do Jaehyun, nem pense em me perguntar isso.
— Mas você sabe de sexo, não é? — Jungkook franziu as sobrancelhas, confuso. — Digo... Você é experiente. Eu sei que é, Ali me contou tudo.
— Calma lá, como assim Ali te contou sobre a nossa vida íntima?
— O Jimin também disse! Eu bem que desconfiei que seu quarto de hotel nunca ficava vazio...
— ‘Tá legal, chega. O que a sua situação tem a ver comigo e com a minha vida que eu pensava ser privada?
— E aí que você pode me ajudar, JK! — disse exasperada e se aproximou de Jungkook, colocando as mãos levemente em seu peito. Ele automaticamente deu um passo para trás. — Jaehyun volta daqui há dois meses, isso é tempo suficiente para que eu aprenda o máximo que puder para dar a ele a melhor experiência que...
— Jesus Cristo, . De que merda você ‘tá falando?! — ele afastou as mãos da garota e, em seguida, se afastou dela, claramente assustado. — Eu não sei de onde você tirou isso, mas eu não tenho vocação para ser guru sexual de ninguém. Não vai ser nenhum conselho que...
— Eu sei, a prática, eu preciso de prática! — ela se aproximou novamente dele, fazendo-o dar mais um passo para trás. — E pode dar certo se você me ajudar. Sei que não somos amigos, mas isso é melhor ainda, não vai ficar estranho depois, não temos que conversar ou tomar café juntos, você pode imaginar que eu sou a Ali...
— Você pirou?! — ele se afastou novamente da garota, o olhar com um misto de choque, surpresa e repreensão. — Meu Deus, eu nem ao menos te acho interessante a ponto de ter curiosidade! E Jaehyun é meu amigo, fala sério. E ainda tô tentando retomar meu relacionamento com a Ali que você destruiu. Pelo amor de Deus, você... — ele bufou, passando a mão pelo cabelo. — ‘Tá, eu não vou discutir esse absurdo com você bêbada. Vou ligar agora mesmo para Candice vir te buscar.
— Qual é, Jungkook, me escuta...
— Não! Me faz um favor e não fala mais nada até ela chegar. — disse ele, pegando o telefone.
— Ela está com o Yoongi! — gritou e Jungkook abaixou o celular imediatamente. — Não precisa atrapalhar os dois, eu posso ir embora sozinha.
— Ótimo. — Jungkook caminhou até a porta, abrindo passagem para a garota. — Tem um ponto de táxi na frente do prédio. Mas com o seu histórico, um Uber sai mais barato.
hesitou, mas caminhou até a porta.
— Olha, eu não quis... — ela começou a falar ainda na soleira. Jungkook a interrompeu com uma risada seca.
— Não quis e espero que nunca queira. Por consideração a todo seu esforço com a Ali, eu vou fingir que essa nossa conversa nunca existiu. Agora cai fora.
Click I – The view from the afternoon
"Expectativa costuma te preparar
Para a decepção no entretenimento da noite, mas
Hoje vai ter amor
Hoje à noite vai ter um agito, sim
Independente do que já se passou."
⏮︎⏸︎⏭︎
A claridade que invadiu o quarto de naquela manhã denunciava duas coisas: mais um dia de verão e seu atraso para o trabalho. Não que ela precisasse estar lá em um horário certeiro, ou bater ponto, ou qualquer uma dessas coisas de quem tem um trabalho formal. Mas, assim como tudo que regia sua vida, aquele era mais um degrau em direção ao seu sonho. E isso, sim, era muito sério.
As lembranças da noite passada não voltaram de imediato assim que se levantou. Talvez porque a dor de cabeça era tão forte que ela só estava preocupada em primeiro acabar com ela. Tomou um banho gelado e uma aspirina que Candice sempre mantinha na gaveta do banheiro, percebendo que já era a terceira vez que acordava naquela condição desde que chegara ao país. Ela nunca foi de beber muito na Califórnia, muito menos no Brasil.
Não olhou as horas até estar totalmente vestida e com os cachos rebeldes devidamente no lugar. Não achava certo realizar todo seu ritual matinal de higiene às pressas, deixaria para correr quando estivesse pronta. Ao olhar o relógio de pulso, viu que não estava tão atrasada assim, ela chegaria com no máximo vinte minutos de atraso.
Reparou no sutiã rosa de Candice pendurado na maçaneta de seu quarto ao sair de casa. E na frente do prédio, uma enorme SUV preta estacionada do outro lado da rua. Yoongi poderia ser mais discreto, pensou ela. Afinal, ele tinha outro carro.
Foi no ônibus que a ordem cronológica dos acontecimentos veio à tona. Ela lembrou da ligação de Jaehyun no dia anterior, o convite para o jantar da equipe. Ela aceitou, afinal, já tinha conhecimento da turnê e já era um pouco familiarizada com os meninos do grupo. Não tanto quanto Candice talvez, que foi convidada diretamente pelos outros membros. Lembrou-se do frio na barriga que sentiu no banco do carona da colega de quarto e do coração disparando ao vê-lo esperando na porta do restaurante reservado. Tudo nele causava as sensações mais inéditas e sufocantes em , de uma forma que ela sempre tinha de dar um jeito de respirar fundo antes de falar qualquer coisa para disfarçar a rouquidão que a tomava.
Eles se sentaram lado a lado, como havia sido desde o primeiro jantar a que ela comparecera. Jaehyun era atencioso, carinhoso, do tipo que não deixava de conversar e rir com os amigos e, ao mesmo tempo, fazia se sentir como se ele estivesse ali só para ela. Era uma sensação boa que ela não lembrava de ter experimentado antes.
Tudo bem que esse comportamento dele em relação havia se intensificado depois de, em um momento de euforia após a performance do NCT no Music Bank tê-los levado ao prêmio da noite, ter tomado a atitude de beijá-lo ao chegar ao camarim. Não foi premeditado, e ela bem que tentou se desculpar pelo feito quase apavorada, mas Jaehyun não a deixou falar por muito tempo antes de ele mesmo repetir a dose, que foi interrompida pela chegada de Candice.
Desde então ele se mostrava daquele jeito: solícito e protetor. Entretanto, nunca mais tiveram outro momento igual, nem ao menos tocaram no assunto. não sabia como lidar com aquilo. Não sabia lidar com romances no geral, já que nunca havia tido um e não era lá seu gênero favorito de histórias. Mas olhando para Candice, sua melhor amiga alta, loira, escultural e a maior especialista na coisa, aquilo não estava indo pelo caminho que ela imaginava. Ela apostou que aquela fosse a cultura coreana, mas Candice – e também Jungkook – não a deixou pensar daquele jeito nem um minuto sequer: alegou que homens eram homens em todo lugar, e de que ele era apenas um homem um pouco mais ocupado do que os outros. Assim como todos do ramo.
Por um lado, Candy estava certa. Jaehyun nunca foi de falar muito, assim como . E por mais que ela ficasse receosa pelo próximo passo depois do beijo, as ações dele demonstravam que ele não havia esquecido, que apenas esperava a hora certa de falar. Trataram-se como sempre depois do Music Bank – trocavam mensagens o tempo todo, mesmo que o celular flip de limitasse o espaço dos caracteres, o que fazia com que Jaehyun recorresse à ligação. Graças ao acordo com Jungkook, ela tinha bastante assunto a puxar, específicos sobre os gostos dele. E conversavam até onde o tempo dele permitia, já que era o mais apertado. O fato de ele estar sempre tentando encaixá-la em seu dia, nem que fosse por alguns minutos, a deixava com sensações inebriantes. Ela estava muito afim, sem dúvidas.
E isso a deixava mais assustada do que imaginava. Ele não era, bem, um cara qualquer.
Porque o fato de Jaehyun ter dito que a levaria para casa depois do jantar não deixou nada óbvio no ar, pelo menos para ela. Candice não se opôs e ainda fez sinais de encorajamento enquanto eles saíam pela porta. Não havia torcedora maior do casal do que ela.
Até quando ele parou o carro na frente do seu prédio, desatou o cinto e pegou em sua mão ainda não estava óbvio.
— Você gostou do tteokbokki? — perguntou ele enquanto brincava com os dedos da garota.
— Gostei. Por ser massa de arroz, não vou contar como um dos pratos exóticos que você me fez experimentar. — ela sorriu, arrancando outro dele, que não durou muito.
— Não vou te apresentar pratos por um tempinho agora...
tentou manter o sorriso, apesar de não saber se era apropriado. Afinal, essa palavra existia naquele momento? Se ele estava lançando-lhe um olhar que gritava claramente o quanto estava triste com o fato, por que ela deveria calar-se diante do que realmente sentia?
— Vou sentir sua falta.
Jaehyun esperava aquilo. Foi o bastante para que ele sorrisse e inclinasse o tronco para beijá-la, desta vez de forma profunda e lenta. Pelo menos no primeiro minuto. Uma das mãos firmou na cintura dela, fechando-se em um aperto nem tão forte que parecesse agressivo, nem tão fraco que não deixasse evidente o quanto ele queria. arfou quando ele decidiu ocupar a outra mão com seu cabelo, e um estranho formigamento em seu colo a fez querer beijá-lo com mais intensidade.
Absolutamente tudo nele era inebriante. Seu cheiro, o aperto de suas mãos, a forma como ele tentava colar seus corpos ainda mais naquele espaço estreito, sua respiração no rosto de . Ela não sentia vontade de ir embora.
Mesmo que ela fosse trabalhar no outro dia. E teria aulas. E teria de estudar para o seminário daquela semana.
— Jaehyun... — ela disse manhosa durante o beijo, à contragosto. Não conseguia nem abrir os olhos, tamanho era o envolvimento.
— Você precisa subir? — a voz dele saiu abafada, rouca. Como aquilo conseguiu deixar ainda mais agitada? Ela acenou a cabeça silenciosamente, mantendo o nariz encostado ao dele. — Quer que eu suba com você?
ainda levou alguns segundos para entender. E a pergunta a atingiu como um soco. O óbvio finalmente havia dado as caras.
Sua boca ficou seca repentinamente. Um pavor silencioso a tomou.
— Não! Quer dizer, quero. Digo, não. — ela enrolou a língua e arregalou os olhos. — Eu tenho que trabalhar... Na Hybe amanhã. E tenho aula à tarde, e... Não...
O coração de batia tão rápido que ela soltava palavras aleatórias para que ele não o escutasse. Jaehyun ruborizou levemente com a rejeição, mas não deixou de expressar um sorriso fraco, envergonhado.
— Talvez tenha sido rápido demais, me desculpa. — sibilou ele, com um sorriso gentil. O peito de pareceu rachar em duas partes ao ver sua expressão, e mesmo assim não conseguiu dizer nada além de:
— Não se preocupe com isso... Boa noite.
— , espera. — ele disse assim que ela abriu a porta. — Você... Quando eu voltar... Posso te levar para jantar?
— Ah, claro. — respondeu depois de um tempo. — Os meninos com certeza irão ligar para Candice e...
— Eu digo só nós dois. — Jaehyun interrompeu com a voz firme, mas seu lábio tremeu. — Claro, se você quiser.
Ali estava a novidade. A tensão sexual entre os dois era palpável, mas aquele convite nunca havia acontecido, por inúmeros motivos que somente ele sabia.
Ela o encarou por meio segundo antes de responder:
— Claro que eu quero.
Ele deu um sorriso esmagador para , aliviado por sua resposta. Naquele dia, ele parecia especialmente feliz e tentado a beijá-la em qualquer oportunidade que tivesse, como voltou a fazê-lo naquele momento, depois da resposta. Beijar a garota no meio dos outros ou em qualquer lugar público não era lá tão aceitável no país, e, sem ignorar o fato de que ele era bastante conhecido, entendia. Também não haviam ficado muito sozinhos depois do Music Bank, então ela não estava disposta a deixar esses beijos passarem.
Porém, ela já havia falado sobre o trabalho, aulas e tudo mais. E, por outro motivo bem mais urgente que, se ela continuasse com o que estava acontecendo no carro, não seria mais um segredo, aquilo precisava parar agora.
Ela agarrou a porta novamente, sem parar de beijá-lo, até abri-la de novo, fazendo com que Jaehyun abrisse os olhos e voltasse ao mundo real. Ele corou novamente, dando um sorriso sem graça, e sentiu um rugir de dentro de seu peito, em seu abdômen, algo implorando para sair. Ele ficava estupidamente lindo com aquela cara!
— Também vou sentir saudades. — ele murmurou, colocando uma mecha solta de cabelo dela, que ele mesmo havia bagunçado, atrás de suas orelhas. — Vou esperar até você subir. Tenha uma boa noite.
Um sorriso calmo e sincero saiu dos lábios dela antes de abrir a porta e acenar pela última vez para ele. Ela não ouviu o ronco do motor até passar pela porta de vidro da frente e entrar no elevador.
Foi depois que fechou a porta do apartamento que se tocou do que havia acontecido — e do que estava prestes a acontecer. O motivo pelo qual ela havia corrido até as garrafas de soju de Candice na geladeira. Ela havia acabado de rejeitar o cara mais doce, bonito e gentil que fazia seu coração dançar como em um carnaval a cada vez que sequer pensava nele.
Até no ônibus ela quis gritar de frustração novamente por se lembrar daquilo. “Se existisse um medidor de estupidez, eu já teria ultrapassado o limite”, pensava ela. Não que Jungkook e Candice — não necessariamente juntos — não tivessem avisado sobre a possibilidade de Jaehyun tentar o próximo passo depois do beijo. Mas, do jeito que falaram, teria de ficar esperando até no máximo o próximo encontro ou um convite informal por telefone. E ela realmente ficava tensa a cada ligação que ele fazia depois daquele dia, como se estivesse em um jogo de perguntas e respostas – e, se respondesse errado na hora errada, perderia o prêmio. Não que ela não o quisesse, e sinceramente não acreditava que Jaehyun fosse rejeitá-la ou algo parecido ao saber da sua pseudo virgindade, ela apenas não queria que ele soubesse. Não entendia o porquê. Talvez estivesse tão perdida e eufórica ao mesmo tempo por sentir o que estava sentindo depois de anos que, se existisse algo com grande potencial para ao menos ofuscar o brilho que os olhos de Jaehyun tinham sobre ela, teria de ser imediatamente eliminado. E ela achava que não ter experiência suficiente para dá-lo uma noite inesquecível fosse uma delas.
Lembrar de Jungkook a fez ter vontade de saltar no próximo ponto e voltar para casa. Como ela tinha tido coragem de encher a cara e fazer tudo que fez sem lembrar que teria de vê-lo no dia seguinte?
Não que ela fosse passar horas na empresa. Mas ainda existia uma chance, sempre existia.
Ao entrar pela porta giratória, cumprimentou os funcionários que ela conhecia e andou quase correndo até a sala do audiovisual. Esta ficava bem longe do estúdio de dança no segundo andar, não havia motivos para encontrá-lo.
O chefe de seção andava de um lado a outro, fazendo barulho no piso de madeira. Seus óculos estavam parados na cabeça e ele estava fixado em uma lente nas mãos, que, na visão de , parecia bem. Ele mal a viu entrando.
— Bom dia, Sr. Ahn. — ela disse, fazendo-o erguer os olhos para ela.
— Srta. , bom dia! — ele lhe lançou um sorriso alegre, tirando a expressão carrancuda de antes. — Que prazer tê-la aqui de novo. Está com alguma coisa agendada?
— Vim para acertar os detalhes da sessão do novo MV. — ela respondeu devagar. — Nós combinamos na semana passada.
— Ah, claro, claro! Perdão, essa semana foi uma loucura, vários equipamentos precisaram ser trocados, eu estou uma pilha de nervos. — ele tateou o tórax e fez um sinal sutil para sua cabeça, onde ele entendeu rápido e pegou seus óculos de volta, dando um sorriso de agradecimento. Ele honrava a frase “só não esquece a cabeça porque está colada ao corpo”.
— Qual o problema dessa vez? Talvez eu possa ajudar. — ela ofereceu enquanto prendia duas mechas da frente para trás da cabeça, inclinando-se para a lente.
— Eu realmente não sei, os técnicos estão demorando a resolver. Essa Sony já deu problema com a bateria no mês passado, quase nos deixou na mão durante uma live. E desta vez não podemos atrasar o photoshoot...
Ele apoiou a câmera em uma grande mesa central, na qual ele se sentava atrás. Em cima desta haviam outras câmeras menores, menos chamativas, e algumas analógicas, as preferidas de . Ela largou a bolsa no canto da mesa e, em movimentos rápidos, começou a desarmar todo o equipamento, como um médico em uma cirurgia. O Sr. Ahn explicava os pontos que ele achava estarem defeituosos em toda a anatomia do objeto e o dissecava ainda mais.
Estava tão concentrada na tarefa que mal ouviu outras pessoas entrando na sala.
— Chefe de seção Ahn! — a voz familiar a fez se virar, mas um segundo depois desejou não ter feito isso.
O Sr. Ahn prontamente saiu de trás da mesa e foi cumprimentar Taehyung, começando um diálogo que , com suas poucas aulas da língua, ainda não era capaz de entender. Mas Taehyung não era o problema, ele até a cumprimentou gentilmente quando a viu parada com os destroços da câmera na mão. O problema era que ele não entrara sozinho.
Jungkook a encarou por um segundo antes de também cumprimentar o Sr. Ahn. sentiu o rosto ficar vermelho, se sentindo ridícula por isso. Os três focaram-se em ter uma conversa perto da porta de entrada por alguns minutos antes de caminharem em direção à mesa onde ela estava.
— , Taehyung veio pegar alguns filmes para a Fuji, fique à vontade e daqui a pouco eu volto para acertarmos os detalhes. — o Sr. Ahn disse simpático e esboçou um meio sorriso que desapareceu assim que ele e Taehyung se embrenharam nas prateleiras enfileiradas, com equipamentos de todas as cores, tamanhos e marcas.
Ela sentiu o olhar de Jungkook sobre si, mas nada disse. Continuou focada em sua autópsia.
— A câmera te fez alguma coisa? — ele finalmente disse, encarando os dedos da garota.
— A câmera não. — ela respondeu ríspida. — E nada fez. Nada fez nada.
Jungkook soltou uma risada curta e encostou o quadril na altura da mesa.
— Você não precisa ficar assim, . Eu disse que iria esquecer.
— O que você quer, Jungkook? — ela largou a câmera em rendição, virando-se para ele. — Veio aqui para rir de mim? Péssimo momento para isso.
— Não vou rir de você... Hoje. — um sorriso miserável escapou de seus lábios. — Esperava te encontrar aqui. Preciso te perguntar uma coisa.
Ela ergueu os olhos, esperando. Jungkook olhou de soslaio para os lados, demonstrando sua real preocupação sobre ser ouvido.
— Você sabe da Ali? — sua voz era um fio e fez com que se aproximasse e o pedisse para repetir.
— Ela está na França. — respondeu ela, tão baixo quanto ele.
— Disso todo mundo sabe. Quero que você me diga mais.
— Eu não tenho mais, Jeon. Nós dois sabemos que ela decidiu ficar sem celular por um tempo, até o escân... — ela travou. Jungkook desviou os olhos e preferiu assim. Não podia culpá-lo por sentir rancor, mas agradecia internamente por não descarregá-lo mais em cima dela. — Enfim. Até tudo passar. Ela não manda notícias, deixou um contato de emergência do manager, mais nada.
— E qual é o contato dele?
— Jungkook, eu já te disse para não se precipitar desse jeito. A Ali precisa de tempo, vocês já tiveram essa conversa. Ligar para um número que ela não te disponibilizou só vai mostrar que você não está disposto a cumprir essa condição mínima.
— Eu só quero saber se ela está bem. Quero saber como está lidando com toda essa situação, se ela precisa falar com alguém, se ela sente a minha falta... — sua voz saiu quase inaudível.
— Ela sente. — suspirou, compadecendo-se internamente pela expressão desesperada de Jungkook. — Você precisa ter paciência. Ela com certeza vai avisar quando estiver pronta para voltar à Coreia, para o mestrado e... Para você.
— Ela tem sorte de não saber de nada. — ele disse, com o tom de voz amargo. Estava bom demais para ser verdade. tratou logo de voltar sua atenção para os erros da câmera, antes que se perdesse em seus próprios. — Mas... Chegou em casa bem ontem?
— Cheguei, mas você não quer saber disso. — ela deu uma risada irônica.
— ‘Tô tentando ser legal. — ele estreitou os olhos. — Foi mal... Não ter te levado ontem. Eu estava... Bem...
— Não tem o que se desculpar, já que ontem não aconteceu.
— Tudo isso por que eu fui a pessoa a quem você pediu “ajuda”?
abriu a boca para responder, mas Taehyung e o Sr. Ahn já estavam de volta. Ela não soube descrever a raiva que sentiu ao ver o sorriso divertido cintilando nos lábios de Jungkook, como sempre acontecia quando ele ficava com a última palavra. Ele, afinal, iria rir dela, enquanto não batesse a cabeça e tivesse uma amnésia severa.
Não demorou para Taehyung e Jungkook voltarem para o estúdio no andar de cima, deixando e o Sr. Ahn tentando resolver o problema com a câmera. Levou mais tempo do que pensara, e ela chegou à Universidade de Seul na parte da tarde praticamente em cima da hora.
Não deixou de receber uma mensagem de Jaehyun lá para o fim da tarde. Apesar de estar se preparando para pegar um voo de 15 horas, ele ainda perguntava como foram as aulas de . Ela o respondeu o máximo que o corpo da mensagem de seu flip permitia, e imaginou que aquilo teria de bastar. Ele não poderia ligar para ela caso quisesse saber mais.
O ônibus a deixou no mesmo ponto de sempre, e ela agradeceu internamente por aquele não estar tão lotado naquele dia. Deu boa noite ao porteiro, em coreano — pelo menos os cumprimentos simples ela era capaz de fazer — e entrou em casa, deixando os sapatos ao lado da porta, um costume adquirido rápido por ela desde que chegou ao país.
As luzes estavam apagadas e a sala estava silenciosa, por isso deu um grito de susto quando ouviu um “boa noite” ecoar do nada, fazendo-a correr ao interruptor imediatamente.
— Gook-doo! — ela arfou, olhando para o garoto sentado ereto no sofá, ainda de terno e parecendo um robô.
— Perdão, Srta. . — ele levantou-se prontamente, curvando-se algumas vezes diante dela. — A Srta. Chaperman está no banho, ela disse que não demoraria e me mandou esperar aqui.
— No escuro? — levantou uma sobrancelha, suspirando. Candice realmente o tratava como cachorrinho. — A Candice é inacreditável. Você está com fome? Quer alguma coisa para beber?
— Não é necessário. — ele negou fortemente com a cabeça.
— Suco, então. — ela pendurou a bolsa no cabideiro e andou até a cozinha sem dar espaço para que ele protestasse. Ele negaria até um bilhão de wones se lhe oferecessem.
voltou não muito tempo depois trazendo consigo dois copos de suco de laranja, entregando-o na mão de Gook-doo, que esboçou um sorriso tímido de agradecimento. Sentou-se ao lado dele no sofá, a uma distância considerável. Ele parecia ficar agitado com pessoas muito próximas a ele. Ou era assim só com ela e Candice.
— E então, no que estão trabalhando até tarde dessa vez? — ela perguntou, puxando assunto.
— A editora chefe pediu uma matéria especial sobre o desempenho do BTS na Billboard, e o apoio do presidente da república. — ele respondeu prontamente, ensaiado. — Eu e a Srta. Chaperman ficamos bastante tempo na agência hoje à tarde, e tivemos de fazer ligações internacionais.
— Mesmo? Eu estava lá hoje de manhã.
— Vai fazer mais uma sessão de fotos?
— Eles precisam fazer um photoshoot do novo single. Eu vou auxiliar o chefe da seção. Mas sim, no final vai dar bastante trabalho de todo jeito.
— Isso é incrível! Você participou da sessão do GOT7 para DYE, não é?
— Pode incluir Psycho do Red Velvet também.
— Daebak! Elas são tão lindas... — Gook-doo expressou e de repente suas bochechas coraram ao perceber o quanto estava falante. Sempre ficava assim ao lado de , ela tinha a capacidade de fazê-lo se sentir quase à vontade — Mas... — ele deu um pigarro, voltando ao tom sério. — Como vai o mestrado?
— Vai indo. A língua de vocês é um pouco difícil para mim. — ela deu uma risada, fazendo-o quase retribuir. — Mas ainda tenho dois anos, então espero melhorar até lá.
— Melhorar em quê? — Candice surgiu na sala, junto com o cheiro característico de seu perfume que parecia especialmente vulgar naquela noite. Seu vestido curto parecia demais para um povo tão conservador, mas estavam às portas de julho. Seu salto brilhante a deixava vários centímetros mais alta que , mas ainda não alcançava Gook-doo. Ela estava linda de morrer, como sempre. — Que horas são? — ela colocava um brinco enquanto procurava alguma coisa nos armários industriais que tinham espalhados pela sala.
— A hora de você me contar aonde vai. — respondeu, impedindo Gook-doo, que olhara no relógio de pulso automaticamente, como uma máquina.
— Para a casa do Yoongi, é claro. — ela respondeu, focada no espelho da sala. — Por que você ainda não está arrumada?
— Oi? — juntou as sobrancelhas. — Arrumada para quê?
Candice encarou a amiga com um olhar surpreso. Depois, como se uma lâmpada acendesse acima de sua cabeça, ela bufou.
— Eu sabia que eles não tinham conseguido falar com você. — ela murmurou, procurando algo dentro de uma de suas bolsas espalhadas pelo carpete. — Os meninos vão fazer uma social na casa do Yoongi para comemorar o término de produção do novo álbum. E você foi convidada. Mas acredito que seu celular tenha te boicotado de novo.
— Social? Eles disseram isso?
— Você os ensinou essa palavra, lembra? — ela começou a passar batom em frente ao espelho e, em seguida, se virou para . — O que ‘tá esperando?! Vai se arrumar.
— Candy, eu não acho uma boa ideia...
— Você nunca acha uma boa ideia. E por mais que eu ache a coisa mais fofa do mundo, eu não vou deixar que você se prenda em casa agora que Jaehyun não tá mais aqui para te fazer sair um pouco. Então sugiro que você vá para o banheiro agora, ou quer que Gook-doo espere ainda mais tempo?
Gook-doo prontamente abriu a boca para dizer algo, mas acenou para ele em compreensão. Era jogo sujo colocá-lo no meio da jogada. Ela lançou um olhar mortal para Candice antes de entrar no banheiro, batendo a porta.
Click II – And just 'cause he's had a couple of cans, he thinks it's all right to act like a dickhead
"E essa é a verdade que eles não conseguem ver
Eles provavelmente gostariam de me dar um soco
E se você ao menos pudesse vê-los, aí você concordaria
Concordaria que não há romance algum por ali."
⏮︎⏸︎⏭︎
Candice era o tipo de pessoa que achava chique ser a última a chegar. Perguntava as horas constantemente durante o caminho para assegurar-se de estar atrasada o bastante. Por mais bizarro que isso sempre pareceu para , ela não discutia.
E de fato estavam atrasadas o quanto Candice queria, visto que todos não apenas já estavam lá, como também já pareciam ter entornado uma grade de cerveja. E ainda estavam muito bem, obrigado.
— Finalmente! Achei que não viriam mais! — Hobi deu um de seus famosos gritos escandalosos e foi recebê-los na porta, com um abraço. Menos em Gook-doo, claro.
Eles seguiram-no pelo hall de entrada até saírem em um jardim nos fundos, com uma grande piscina no centro. Candice andava atrás de Hobi como um robô, tentando disfarçar o seu conhecimento sobre o lugar. Uma imagem nada satisfatória dela e Yoongi sozinhos naquela casa passou pela cabeça de , que fez uma careta.
Os outros meninos estavam sentados ao redor de uma grande mesa retangular de madeira em cima da grama, com as mais variadas cervejas e algumas carnes e outras comidas que não reconheceu de imediato. Haviam outras pessoas que nunca vira na vida, nem na empresa, mas ainda assim conversavam animadamente com os membros. imaginou serem os amigos “comuns” que eles tinham.
— Aqui, podem sentar aqui. — Hobi falou animado, apontando para uma cadeira vazia ao lado dele ao pé da mesa, onde prontamente se sentou entre ela e Jimin, que a cumprimentou igualmente animado. Havia sido intencional, a outra cadeira vazia era ao lado de Yoongi, bem à frente de , onde Candice se sentou entre ele e Jungkook.
não olhou para ele. Um copo foi colocado à sua frente e enchido rapidamente, o que a deixou com uma ânsia repentina. Não queria beber hoje, muito menos como bebeu ontem. Ela sentiu Jungkook soltar uma risada azeda, mas baixa. Não demorou muito para que todos voltassem a conversar normalmente depois de ela e Candice cumprimentarem a todos.
— ‘Tá tudo bem, ? — Jimin perguntou ao perceber como a garota mal havia tocado na comida ou na bebida.
— ‘Tá sim, eu só não ‘tô muito afim de beber hoje. — ela deu de ombros, lançando-lhe um sorriso simpático.
— Por que não? Hoje é um dia que com certeza pede uma bebida. — disse Hobi.
— É que... — ela começou e Jungkook deu uma risada engasgada à frente, dando um gole na cerveja. se controlou para não lançar-lhe um olhar feroz. — Eu já bebi ontem, então não acordei muito bem hoje de manhã.
— Sério? Isso é uma pena. Você ainda deve estar se acostumando com o soju. — Jimin sorriu enquanto pegava um prato com uma massa avermelhada dentro. — Aqui. Tteokpokki é ótimo para ressaca. Você já experimentou?
— Já. — ela respondeu com a lembrança voando direto para Jaehyun. Pegou um palito e começou a comer. A comida era boa, mas a deles parecia bem mais apimentada do que a de ontem.
As risadas tomaram conta da mesa não muito tempo depois. Os garotos se divertiam contando histórias de seus sete anos de debut, e quase dez estando juntos. não podia deixar de rir junto. Às vezes ela se esquecia de como era louco o fato de ela estar ali, incluída em uma comemoração interna com um dos maiores grupos do k-pop da atualidade. Era só um dos vários acontecimentos inesperados que ela havia vivido desde que chegara ao país — e que ainda iria viver.
— Ei, as lanternas! — Namjoon gritou, trazendo a atenção de todos para si. — Temos que ir acender as lanternas!
Por um minuto, achou que ele estava bêbado, mas então viu que praticamente todos os presentes gritaram um viva e se levantaram automaticamente, animados com a ideia. Ela e Candice se entreolharam, confusas.
— Precisamos da mesa livre. — falou um dos amigos que não conhecia.
— E de alguém para lavar a louça. — concordou Taehyung, enquanto mexia no celular.
— As últimas a chegarem podem ficar com o serviço. — Jungkook opinou.
Candice olhou apavorada para só de ouvir as palavras lavar e louça na mesma frase. apenas deu de ombros e ela apelou seu olhar súplico para Yoongi, sentado ao seu lado.
— É... Candice vai ser uma ajuda melhor na confecção das lanternas. — ele disse, como se repetisse as palavras que Candice o lançava por telepatia. Ela soltou um grande sorriso e com certeza o beijaria na hora se não fosse o chute que desferiu por debaixo da mesa.
— OK, só me mostra onde é a cozinha. — começou a juntar os pratos e as garrafas espalhadas.
— Jungkook vai te mostrar. — Yoongi disse enquanto se levantava, recebendo um olhar feroz e surpreso de Jungkook, que ainda bebia sua cerveja preguiçosamente — E vai te ajudar também.
O olhar de foi insignificante perto de todos os outros presentes que observaram a cena. Risos abafados e comentários sobre a suposta parceria ecoaram enquanto os convidados se retiravam um a um da mesa, andando até o outro lado da piscina. Jungkook abriu a boca para protestar, mas Yoongi lançou-lhe apenas um olhar de mais velho e ele não questionou. Os membros tinham esse poder sobre ele.
As piadas a contragosto tinham lá seu embasamento: era de conhecimento quase geral que Jungkook e não eram lá a melhor companhia um do outro. Candice lançou um olhar de desculpas à amiga antes de também se retirar, junto com Yoongi. Ela suspirou e pegou a pilha de pratos que havia preparado, enquanto ele apanhava as garrafas obedientemente. Sem dizer uma palavra, apontou com a cabeça para o caminho de pedras no fim do gramado, que levava a uma grande porta de vidro, e virou-se. o seguiu até acabarem em uma cozinha muito ampla, com aparelhos que ela só havia visto em uma revista de arquitetura. Ela tinha medo de tocar em qualquer coisa ali.
Ele colocou as garrafas em cima da ilha e virou-se para ela, pegando a pilha de pratos de seus braços e colocando-os cuidadosamente na pia.
— Não precisa fazer essa cara, eu também queria ter ficado lá fora. — Jungkook murmurou enquanto juntava as embalagens de vidro e as colocava em uma caixa de papelão.
— O problema é a companhia, Jeon, não a tarefa. — suspirou, colocando as luvas grossas de látex e começando a lavar a louça. — Você nem precisa ajudar de verdade, pode só deixar as garrafas aí. Eu cuido do resto.
— ‘Tô impressionado, . Achei que era impossível você se fazer mais de durona. — ele riu, empurrando a caixa cheia para o canto da cozinha e saindo lá para fora novamente. suspirou e pensou que seria ótimo se ele não voltasse, até ouvir seus passos fortes entrando na cozinha com mais garrafas, ajustando-as em outra caixa grande.
Ela apenas iria ignorá-lo e fazer o que foi posta a fazer. Em duas viagens ele já havia trazido todas as garrafas e empilhado as caixas, deixando esperançosa que desta vez ele iria embora.
Ele saiu mais uma vez e voltou em seguida com o resto dos pratos dentro de uma enorme panela, com outras pequenas bruscamente jogadas. Ele a afastou levemente da pia, colocando o resto das louças dentro da cuba e, em seguida, pegando um pano dentro de uma gaveta, secando as louças limpas.
— Você não precisa...
— Isso não tem a ver com você. — ele a cortou, não interrompendo seu trabalho. — Os hyungs disseram para fazer, então estou fazendo. Não precisa pensar demais.
Ela revirou os olhos e decidiu não discutir. Aquele comportamento ainda precisava ser amadurecido aos seus olhos, apesar de observá-lo constantemente. Ela voltou a lavar as louças e ele as secava, os dois em um silêncio absoluto, somente com o barulho dos gritos e risadas vindas do lado de fora.
Ela definitivamente não queria começar um papo. Mas também não queria chegar lá fora sem saber o que estava acontecendo. E ele não se negaria a responder-lhe uma simples pergunta, não é?
— Hm... As lanternas que vocês disseram... O que são?
— As lanternas de papel? — ele perguntou, e ela deu de ombros. — Ah, bem, é uma tradição que temos entre nós. Não as lanternas, claro, elas existem desde as sociedades mais antigas. Mas basicamente escrevemos um motivo de gratidão ou um pedido no papel e colocamos para voar. É como lançar ao universo nossos sentimentos e pedir que nossos desejos se tornem realidade.
— Uau. — ela comentou, não deixando de abrir um pequeno sorriso. — Isso daria uma bela foto.
— Você nunca soltou uma lanterna?
— Isso não é lá muito comum na América. — ela balançou a cabeça enquanto tentava tirar uma mancha do fundo de um prato. — Muito menos no Brasil...
— Bom, eles sempre fazem muitas.
— Eu não sei. — ela suspirou, olhando para o alto instintivamente. — Acho que não existe nada que eu queira escrever...
— Sempre tem algo para escrever. — ele olhou a garota de esguelha. — As pessoas sempre são gratas a alguma coisa ou alguém, sempre têm algum pedido. Ou simplesmente sentem saudade de algo.
— O que vai ter na sua lanterna? — ela lhe lançou um olhar direto.
Jungkook piscou algumas vezes antes de soltar uma risada seca e voltar a se concentrar nos pratos.
— Acho que isso não é da sua conta. — respondeu ele.
— Mas ela não vai voar para todos verem?
— Vai, mas é mais complexo do que isso. Ninguém vai escrever sua lista de desejos naquele papel, então geralmente se usa siglas ou iniciais do tipo, para ser algo que apenas você entenda. — ele explicou enquanto se abaixava para abrir uma gaveta, tirando outro pano de lá.
assentiu, refletindo sobre o que seria válido, dada toda sua história de vida, escrever naquela lanterna. Desejos ela tinha em montes, mas parara de sonhar há muito tempo depois de ver que isso não a levava a lugar nenhum. Gratidão tinha por Candice, por Rita no Brasil, que a ajudou tanto com os empregos temporários e as várias gorjetas que a ajudaram a sair do país, pelo arroz na Coreia, por ter conhecido tantas pessoas legais desde que chegara no país.
Saudade era um sentimento vago. Não queria dizer muita coisa a ela. Ela sabia que sentia, mas não era nada avassalador como quando presenciava Candice e o Sr. Chaperman conversando por vídeo, os dois aos prantos repetindo sua saudade um do outro. Não, isso ela não tinha.
— Pode escrever nomes também. — Jungkook disse ao ver a garota refletindo em silêncio. — Sei de algo perfeito que você pode escrever na sua.
Ela apenas levantou uma sobrancelha.
Ele inclinou o corpo até parar perto de sua orelha, sussurrando:
— Pode pedir para o universo a ajudinha que você tanto precisa...
meteu o ombro em Jungkook, fazendo-o se afastar rindo. O rosto da garota estava vermelho até a raiz dos cabelos, e um maldito arrepio na nuca pela aproximação repentina a deixou duas vezes mais nervosa.
— Você é totalmente não confiável para esquecer as coisas. — ela bufou, esfregando o prato várias vezes, — Quer publicar isso de uma vez?
— Seria interessante, finalmente estaríamos quites. — ele disse, retornando a uma expressão séria.
— Eu já disse que não fiz aquilo.
— E eu já disse que vou acreditar assim que receber as provas. — ele a encarou firme, a expressão repentinamente zangada.
parou de lavar as louças e virou-se automaticamente para ele, estreitando os olhos.
— Não existem provas porque foi uma armação, eu já te disse, Candice já disse...
— E você acha mesmo que eu vou acreditar em uma pessoa que invadiu o VMA disfarçada de funcionária só para conseguir um furo de fofoca? — ele levantou as sobrancelhas. — E não vamos esquecer da sua tentativa de fuga...
— Eu não faço mais esse tipo de trabalho!
— Claro que não, agora você ganha dinheiro fazendo fotos das pessoas com autorização delas. É uma mudança e tanto de vida, tenho que admitir. Por que não pensou em fazer isso antes de foder minha vida pessoal e da Ali?
— Ei, ei, vocês dois. — a voz de Jin encheu a cozinha antes que pudesse responder. Ela também não sabia se seria capaz de dar uma resposta. Seus olhos estavam fixos um no outro, como um desafio para saber quem dava o melhor argumento e se descontrolaria primeiro. — Ainda não acabaram? As lanternas estão prontas.
— Eu já acabei. — retirou as luvas de látex com força, jogando-as em cima da pia.
Esbarrou no ombro de Jungkook ao deixar o cômodo, pisando forte no chão. Jungkook bufou antes de recomeçar a guardar as louças.
— JK, o que é isso? E o lance de ser mais legal com a ? — Jin se aproximou da pia.
— Eu estou sendo mais legal com ela. — ele respondeu, dessa vez guardando as louças desordenadamente, nervoso. — É só que... Não sei. Quando eu lembro do que ela fez, não consigo me controlar.
— Achei que nós já tivéssemos entrado em consenso de que ela não fez aquilo.
— Vocês entraram em consenso. Ela tirou as fotos, pode muito bem tê-las publicado também. Mas eu realmente não quero falar sobre isso. — ele suspirou, guardou o último prato na prateleira acima de sua cabeça e seguiu porta afora, ignorando qualquer tentativa de conversa com o membro mais velho.
Lá fora, as pessoas se amontoaram no jardim, cada uma com até duas lanternas, com direito a pincel de pena e tudo. estava abalada pela conversa na cozinha, apesar da tentativa de abstrair e seguir em frente que já vinha praticando há algum tempo. Não era a primeira vez que Jungkook a acusava daquela mesma história, e costumava ser bem mais agressivo do que aquilo, principalmente depois de Ali não ter aguentado a pressão e o hate gratuito e decidido pedir um tempo entre eles. Foi daí que Jungkook ficou pior a cada dia, e tinha alguém para descontar toda a raiva e frustração.
Ela deveria saber que ele teria uma recaída repentina depois de tanto tempo no cessar fogo. Ainda mais depois da cena totalmente sem nexo que havia armado na sua casa. Mas estava tudo bem, ela genuinamente não esperava coisa diferente.
A tarefa de soltar as lanternas foi mais complicada do que ela pensava. Pensou em pedir ajuda a Candice, mas esta já estava em conluio íntimo com Yoongi, propositalmente mais afastados do resto do grupo. O disfarce deles ia por água abaixo cada vez mais.
Pensou seriamente em não soltar lanterna alguma. Ela não sabia o que escreveria mesmo, e não queria manchar uma tradição legal fazendo-a por fazer, apenas para participar. Pegou sua câmera na bolsa, preparando a lente e o foco para registrar o que ela sabia que seria uma linda imagem: várias lanternas coloridas, voando como pequenos balões, enchendo o céu escuro de luzes. Um pontilhado de desejos iluminando o papel em branco do futuro.
Jungkook sabia o que escreveria na dele. O pedido que gritava dentro de si todos os dias, a saudade que ele não conseguia controlar. Olhou para Jin, que o encarava do outro lado do jardim, gesticulando a cabeça para a garota distraída sentada no chão ao pé da mesa, concentrada demais no objeto em suas mãos, que Jungkook achava uma verdadeira arma com ela. Ele grunhiu palavras incompreensíveis e pegou uma nova lanterna, escrevendo os caracteres coreanos “미안합니다” e não se importou nem um pouco se ela fosse entender.
O pacote branco caiu no colo da garota, fazendo-a erguer os olhos de susto. Jungkook a encarava de cima com o rosto sem expressão, mas menos agressivo do que antes. Respirou fundo antes de falar:
— Ainda tem espaço do outro lado. Escreve alguma coisa e participa com todo mundo, vai ser importante.
piscou os olhos várias vezes observando o garoto se afastar, voltando a trabalhar em sua lanterna. Ela pegou o pacote e viu as palavras escritas. As aulas de coreano estavam rolando há mais de três meses, e ela havia aprendido a dizer “desculpas” logo nas primeiras semanas.
Click III – You are the unforecasted storm
"Eu duvido que seja seu estilo
Não receber o que você se determinou a conquistar
As chances estão em chamas
E você é a tempestade sem previsão."
⏮︎⏸︎⏭︎
As más línguas a chamavam de outra coisa, mas se auto intitulava econômica. Ela guardara boa parte de todo o seu dinheiro a vida toda, de todos os míseros bicos até os trabalhos assalariados. Foi assim que havia conseguido sair do Brasil e assim que chegou à Coreia. Mas aquele não era seu destino final, e, portanto, ela não retiraria dinheiro de sua poupança tão bem cuidada para obter coisas “supérfluas e desnecessárias” como ela costumava dizer.
Mas depois de sair do campus naquele final de tarde do meio da semana, ela começou a levar bem a sério toda a insistência ao redor para que ela comprasse um celular novo. Não ter um smartphone na era digital poderia causar consequências no mínimo incômodas e estranhas, como ter Jeon Jungkook estacionado do outro lado da rua, tentando se esconder por trás de um óculos escuro e boné.
Ela não o viu imediatamente, mas ouviu a buzina que ressoou pelo pátio inteiro. Ela olhou diretamente para ele, e, em seguida, para os lados. Todos ao redor estavam tão confusos quanto ela, o que significou que aquela convocação só poderia ter ido para uma pessoa.
Ela praticamente correu até a porta do motorista, tentando disfarçar sua irritação.
— O que você está fazendo? — perguntou entredentes, com um sorriso amarelo. Ele estava dirigindo sua Mercedes Benz magnífica. Céus, esses idols não sabiam disfarçar? As pessoas reparavam!
— Entra no carro. — ele também parecia irritado.
— ‘Tá maluco?!
— Vou ficar se você não entrar agora.
Ela revirou os olhos e lembrou-se do quanto ele poderia ser teimoso, até mais do que ela. E uma cena entre dois teimosos não poderia rolar ali e nem agora, não depois que duas pessoas cochichando em conjunto começavam a observá-los por mais tempo e uma delas apontou o dedo descaradamente para Jungkook.
Ela correu e abriu a porta do carona, colocando o cinto de segurança enquanto ele arrancava dali.
— Será que é pedir demais que você compre a porra de um telefone? — ele disse antes de virar a primeira esquina, jogando os óculos escuros em algum lugar do carro.
— Eu já tenho um telefone.
— Eu digo um telefone desse século, de preferência um que você consiga atender ou ler mensagens. Você entende a forma básica de comunicação entre as pessoas?
— E você entende o risco que acabou de correr aparecendo desse jeito?! Afinal, o que você quer, Jeon?
Ele bufou e fez uma curva fechada em uma rua estreita, saindo logo em seguida em uma avenida de mão dupla e, depois de quatro minutos, estacionou a algumas quadras do prédio de , em uma ruazinha sem movimento que ela nunca havia reparado.
Sem mais delongas, ele sacou o telefone do bolso e jogou-o no colo de , respirando fundo.
— Quero que você me diga sinceramente: você sabia disso?
A página aberta no celular mostrava uma matéria datada recentemente de algum site de fofocas internacional, e a foto de capa fez com que abrisse a boca em choque. Ela reconheceu o cabelo comprido de Ali, as curvas no biquíni estampado, as tatuagens espalhadas pelo braço. Mas ver uma foto de Ali curtindo um dia de sol nas Maldivas em um iate não chocava ninguém.
Mas uma foto em que ela beijava um cara alto e musculoso era, sim, um fato chocante.
olhou para Jungkook, que mesmo apagado pela escuridão que se formava lá fora, ainda tinha uma expressão furiosa claramente visível.
— Isso é verdade? — perguntou em um fio de voz e ele juntou as sobrancelhas — Quer dizer, pode ser uma montagem. Você como ninguém sabe que não se pode acreditar em tudo que postam na internet.
— , quem me dera se isso fosse uma montagem. Isso saiu em absolutamente todas as páginas da internet e eu fiquei maluco, cheguei a desrespeitar o maldito tempo que ela me pediu e liguei para ela, mas pelo visto ela deve ter jogado o telefone fora, ou simplesmente me ignorou! — ele suspirou, encostando a cabeça no banco e olhando para frente. — Esse papo de tempo não passou de uma bobagem.
— Jungkook, também não é assim...
— Então o que é?! Olha para essa foto e me diz se ela ainda está apenas querendo que toda a poeira abaixe para voltar, se ainda tá tão mal que não consegue nem falar comigo...
olhou a matéria mais uma vez enquanto Jungkook olhava para as paredes lá fora. Ela entendia de fofocas e fotos forjadas, e realmente aquela não estava parecendo nada falsa.
— Jungkook, eu não sabia. Ela não falou nada comigo, eu juro... — ela suspirou, de repente sentindo a necessidade de se explicar. Não era para menos: aquele era exatamente o acordo que haviam firmado.
— Isso não importa agora. — ele grunhiu, pegando o celular de volta. — Essa foi a melhor forma que ela encontrou para me dizer que acabou, não é? — ele deu uma risada seca, sem graça. — Só... Acabou.
Ela não sabia o que dizer, então eles permaneceram assim, em silêncio, por pelo menos um minuto inteiro. Ela procurava algo para falar, qualquer coisa, torcendo para que ele não chorasse.
— Olha... Talvez seja muito cedo para você tirar essas conclusões, vocês precisam conversar primeiro, ouvir o lado dela...
— Eu realmente não quero ouvir nada dela, . — ele a cortou, colocando as duas mãos no volante. — Seja qual for a explicação. Mas tudo bem, isso também foi culpa minha. Fui muito idiota por pensar que eu poderia ter um relacionamento de verdade, que eu e Ali poderíamos enfrentar o mundo e que eu poderia abrir a droga do meu coração para alguém.
— Você não precisa desistir dessa parte da sua vida por causa de uma decepção, Jungkook. Sabe, vocês se gostam, por que...
— Claro que eu gosto dela! Me diz, isso ‘tá adiantando de alguma coisa? Isso só... Dói. Sei lá. — ele balançou a cabeça. — É algo que eu não desejo para o meu pior inimigo.
Ele olhou para ela de canto assim que disse a frase.
novamente não sabia o que dizer. Não sabia confortar as pessoas porque nunca recebeu tal atitude — a não ser de Candice, que ela achava exageradas demais. Ela nunca teve tempo para remoer sentimentos e decepções, ainda mais quando as infringiram nela. Não achava digno sofrer pela atitude de terceiros, apenas por suas próprias. Pensando assim, era fácil se levantar e voltar a lutar no outro dia.
Mas vendo Jungkook ali, claramente sofrendo e se contendo para não começar a chorar, ela teve uma sensação estranha de querer, pelo menos, dar-lhe um abraço. Era assim que ela via nos filmes. Mas os coreanos não gostavam muito daquele tipo de toque, então ela imediatamente se encolheu.
— Vou tentar falar com ela e entender a situação. — disse ela depois de mais um minuto de silêncio.
— Você não precisa...
— É o mínimo que eu posso fazer. Eu te garanti que ela estava em uma viagem sabática sozinha, então você entende que eu também ‘tô surpresa com essa bendita foto e naturalmente espero alguma explicação.
— Tá, claro... Faz o que achar melhor. — ele deu de ombros, cabisbaixo. — Eu preciso voltar, eles estão me esperando na empresa.
— Tudo bem. — ela assentiu, desatando o cinto de segurança. — Ah, só mais uma coisa... Até que eu fale com ela, por favor, não faça absolutamente nada. Não usa a sua incrível capacidade de piorar as coisas. — ele apenas balançou a cabeça, não encontrando o ânimo para dar uma mera risada.
saiu do carro, olhando para os lados para se encontrar no local desconhecido. A entrada da rua se abria perfeitamente para o caminho para o seu prédio. Antes de caminhar até ele, ela deu uma última olhada pela janela onde Jungkook já estava com os óculos escuros de novo.
— Mais uma coisa. — ela disse, levantando os pés para ficar visível. — Nunca mais apareça no campus.
Click IV – When you look at me like that, my darling, what did you expect?
"Sem medo de faíscas
A faca gira com o pensamento
De não atender às expectativas
[...]
Eu provavelmente ainda te adoraria
Com suas mãos em volta do meu pescoço
Ou adorava da última vez que chequei."
⏮︎⏸︎⏭︎
pensou que Jungkook a escutara. Ele não estava muito bem, mas não era surdo, ele havia escutado perfeitamente o que ela tinha dito. E mesmo assim, as matérias que se seguiram naquela semana mostraram exatamente o contrário.
De bêbado em briga de bar, ser pego com uma idol famosa saindo de um dos melhores hotéis de Gangnam e fumando uma erva em uma praia com amigos estrangeiros foram apenas alguns dos destaques mais comentados nas redes sociais. Todos faziam a pergunta que valia um milhão de dólares: o que estava acontecendo com Jeon Jungkook?
Não demorou muito para as pessoas ligarem o comportamento do garoto às fotos recentes de sua ex-namorada beijando um outro cara até então desconhecido. E por mais que tenha ficado bem no primeiro e até no segundo momento, algo mais forte se apoderou dele quando a ficha finalmente caiu. Que tudo havia acabado. E toda a sua esperança de que ela estava realmente esperando se foi, dando lugar à mágoa, e posteriormente também à raiva.
bem que havia tentado conversar com ele quando a primeira matéria saiu, mas aparentemente ele não queria falar com ninguém, nem com os meninos. Não ajudava o fato de ela não ter nenhum trabalho na agência nos dias que se passaram, e seu telefone não era a forma mais eficaz de comunicação. Ela se sentia ainda mais impotente ao se lembrar das milhares de tentativas em falar com Ali, que realmente parecia ter se livrado de seu telefone — e também de seu manager —, não obtendo sucesso em nenhuma delas. E dizer isso para Jungkook naquele estado não traria benefício algum.
Aquilo havia virado assunto até em suas conversas com Jaehyun, que estava com intervalos cada vez mais longos à medida que a turnê avançava. Ele havia perguntado se ela tinha conhecimento do estado de Jungkook, que havia decidido ignorar até seus recados. Jaehyun havia deixado claro no final da mensagem que ela não precisava responder, tendo conhecimento da relação conturbada que ela levava com o artista. Mesmo assim, respondeu que o comportamento de Jungkook estava sendo o mesmo para todos, o que era preocupante em todos os aspectos. Olhando de forma superficial, ninguém imaginava que ele fosse enlouquecer daquele jeito por causa de um coração partido.
No fim do e-mail, Jaehyun havia mandando foto de um sanduíche de sorvete no formato das orelhas do Mickey e, em seguida, uma foto dele mesmo usando os famosos adornos vendidos na Disney. Ele estava sempre fazendo aquilo, mandando fotos no fim de um relato que contava quase tudo que havia acontecido com ele nos últimos dias. soltava um enorme sorriso toda vez que lia as mensagens como um diário, repassando as fotos que ele mandava, ora com alguns dos membros, ora vestido para uma performance, ou apenas ouvindo seus discos antes de dormir. No final de cada uma ele dizia que sentia a falta dela. Ela sentia falta da voz dele toda vez que lia, mas era incapaz de dizer as mesmas palavras de volta.
Sua cabeça doía só de pensar nos prós e contras de onde tudo aquilo levaria. Ela olhava para Jungkook e pensava em um presságio para sua própria vida. Não que ela fosse perder a linha caso Jaehyun a magoasse — ela sabia perfeitamente que não era de seu feitio e, naturalmente, já estava preparada para aquilo. Mas se as coisas continuassem a afundar do jeito que estava, com seu coração palpitando a cada e-mail novo e as células de seu sangue correndo para o rosto a cada vez que lembrava do beijo dele, ela sabia onde aquilo iria acabar. Onde literalmente acabaria.
Automaticamente, ela pensou em Ali e em como a garota havia ficado quando seu namoro com Jungkook foi a público. A internet era um mar de pessoas tóxicas e assustadoras, e havia ficado chocada em como naquele país eles conseguiam ultrapassar o limite do hate normal. Ela não queria passar por isso. Não, ela não iria passar por isso.
Era isso que repetia por dias depois de conhecer Jaehyun. Não depois que ele a pegou fugindo do camarim do BTS em New York, no VMA. Não, ela passou a recitar a frase como um mantra depois de encontrá-lo no backstage do estádio olímpico depois do primeiro dia de trabalho de Candice na Vogue, em um fatídico show do mesmo grupo. Se era ironia ou destino, ela não estava disposta a adivinhar. Mas com certeza alguém nos astros estava rindo dela.
Isso porque ele havia sido desnecessariamente compreensivo e gentil sobre toda a história, muito diferente de Jungkook. Não que ele tivesse de ser. Afinal, realmente havia tirado as fotos que posteriormente acabariam com o relacionamento de um dos idols mais cobiçados do momento. Foi uma explosão a qual ela havia acendido o isqueiro sem querer.
Portanto, ela tinha certeza de que havia se sentido atraída pelo cara alto e sorridente que a tratava muito bem, apesar de saber de seu antigo emprego. E no começo, ela não tentou frear essa sensação. Mas como é impossível não se tornar uma expert do k-pop no país do gênero musical, tudo mudou quando descobriu que o cara perfeito também era famoso e fazia parte daquele mundo tão complexo do qual ela definitivamente não queria fazer parte. Daí começaram as várias tentativas de esquivas e fugas do cara que parecia cada vez mais e mais interessado nela, o que ela não entendia era por que. Qual é, ele era um gato e ela era, bem... Só uma garota normal.
Por sorte — ou não —, tinha uma melhor amiga que não era o maior exemplo de juízo no mundo. Candice a aconselhava logo de cara a não perder tempo e agarrar Jaehyun com unhas e dentes, mesmo que ele não tivesse demonstrado nenhum interesse ainda sobre isso. Ela era assim: sem juízo. E bastante atrevida, não medindo as consequências da maioria de suas ações, o que a levou a pular em Yoongi não muito tempo depois, e, seja lá o que tinham, durava até hoje. Sexo casual foi o termo que ela usou, mas para parecia muito mais do que aquilo.
Mas parecia estar funcionando. Candice e Yoongi se viam quase todas as noites, mas aos olhos de todos eram apenas amigos muito próximos. Tudo bem que algumas vezes eles se entregavam, como na noite das lanternas, e Yoongi realmente precisava sair de casa com um carro mais normal, mas eram coisas óbvias apenas para quem parasse e pensasse demais.
Poderia ter isso com Jaehyun, pensava ela. Eles se davam muito bem, trocavam mensagens e ligações, gostavam da companhia um do outro e tinham alcançado a etapa do beijo no processo da intimidade física. sabia que gostava dele, e talvez desconfiasse que ele sentia o mesmo, mas a ideia de ter algo sério, ou pior, público com ele a deixava em pânico. Por sorte, sempre foi uma pessoa que sabia lidar muito bem com suas próprias emoções e não se atrevia a pensar demais no assunto.
A não ser que o assunto fosse o sexo. Por mais que não soubesse como seria seu futuro com Jaehyun, isso era algo que ela definitivamente queria. Nunca fora algo sobre o qual ela estivesse apta a procurar, mas existia de fato um cara bonito, gentil e que a deixava em arrepios quando a beijava que estava disposto a ir para a cama com ela. E se ela entrou no avião afirmando a si mesma que recomeçaria, poderia começar por aí.
Porém, ela não sabia que seria tão difícil. Agradeceu aos deuses por Candice não ter acesso ao seu computador, se não iria enchê-la pelos próximos anos pela quantidade de pesquisas relacionadas a “como fazer sexo sem experiência” enchendo as abas do navegador. Nem chegava perto das pesquisas sobre as posições sexuais.
A lembrança da noite que havia falado com Jungkook tornava as coisas piores ainda. Ela não sabia de onde surgiam tamanhas besteiras toda vez que bebia demais. Agora ele havia achado um motivo para torná-la ainda mais patética ao seu ver, por causa de um pedido que sequer foi sério.
Pensando nisso, ela enfrentava um dos trânsitos mais caóticos que já havia pegado perto de seu bairro. Estava parada há pelo menos meia-hora e sua bateria, que geralmente durava dois dias inteiros, havia resolvido descarregar. Era o final de uma sexta-feira e a cidade já começava a ficar agitada pelo número de festividades e boates, principalmente em Itaewon, que não ficava muito longe dali. Não havia acontecido nada de muito significativo em seu dia, mas ela se sentia estranhamente cansada. Talvez devido ao fato de todo estresse mental que havia passado durante a semana.
Desta vez, Yoongi estava parado em seu sofá quando abriu a porta de casa. E estaria tudo bem, se Candice não estivesse seminua na frente do rapaz, com vários vestidos espalhados pelo chão e dois cabides na mão, colocando-os à frente do corpo.
— Oh meu Deus! — gritou, cobrindo os olhos na mesma hora e fazendo com que Yoongi pulasse de susto ao vê-la entrando. — Desculpa, eu não...
— , que susto! — Candice falou, remexendo-se para se enfiar em um dos vestidos. — Pode abrir os olhos, não estamos transando.
olhou de um para o outro, como se verificasse que eles realmente não estavam fazendo nada. Bem, Yoongi estava totalmente vestido, disso ela tinha certeza.
— Foi mal, , você demorou e Candice quis provar as roupas aqui. — Yoongi explicou, claramente envergonhado.
— Você sabe que a iluminação dessa sala é maravilhosa. — Candice disse enquanto ajeitava o vestido no corpo. — Mas onde você estava esse tempo todo? Eu tentei te ligar tipo umas 20 vezes, geralmente depois de 10 o seu telefone resolve funcionar.
— Fiquei sem bateria e o trânsito ‘tá caótico. — ela deu de ombros, tirando a bolsa e pendurando-a no cabideiro ao lado da porta. — Bem, vocês fiquem à vontade. Vou tomar um banho porque estou muito...
— Calma lá! Vai tomar um banho para se arrumar, você quer dizer.
— Me arrumar? — ela a olhou confusa, mas logo entendeu tudo. E não gostou nem um pouco. — Ah não, Candy, outra social não...
— Não estamos falando de uma social, . Estamos falando de uma festa! Com clube fechado e tudo!
— Piorou! Eu realmente não tô afim de ir a festa nenhuma hoje.
— Se eu for esperar você ficar a fim de agir como uma pessoa da sua idade, eu vou ter rugas mais cedo. Então você pode, por favor, fazer esse esforço? Vai ser como um jantar de equipe, os meninos foram nomeados ao Grammy! Fala para ela, babe. — ela virou-se para Yoongi.
Ele pareceu preso por alguns segundos por causa do apelido usado por Candice, como se não estivesse esperando tal tratamento na frente de outras pessoas, mas logo se recompôs e virou-se para .
— , você foi convidada por todo mundo, até pelo Sr. Ahn, que com certeza gosta muito de trabalhar com você. E é claro, nós vamos precisar de uma fotógrafa para fazer uns registros pessoais, se você não se importar. — ele levantou os ombros, como se a ideia tivesse vindo do nada, e Candice sorriu para a amiga.
suspirou, colocando os dedos nas têmporas.
— Vocês realmente precisam fazer festa para tudo? — ela falou baixo, mas arrancou uma risada de Yoongi. — Posso pelo menos usar minhas próprias roupas?
— Eu prefiro a morte! — Candice grunhiu e pegou na mão de , puxando-a para o quarto. — Já separei sua roupa, como sempre, e não me olhe com essa cara! Prometo te dar uma Fuji no meu próximo pagamento e te levar para comer petit gateau. Agora vai tomar banho.
Click V – It's a necessary evil, no cause for emergency
"Se puder reunir a força, reboque-me
[...]
Force-me a sair de meu desânimo
E dê uma girada em minha hélice."
⏮︎⏸︎⏭︎
De todas as vezes que havia acabado na mão de Candice, aquela era literalmente a primeira que não se reconhecia diante do espelho. O vestido midi azul claro estampado com margaridas era lindo, e caro. Uma fenda na perna esquerda subia até metade da coxa, e ficou abismada ao ver um quadril que nem sabia que tinha. Sem mangas, o vestido desenhava seus seios, contornando-os perfeitamente e os colocando em destaque. Não apenas a roupa, mas o cabelo e a maquiagem a fizeram se sentir como em uma troca de corpo. Ela estava bonita, sem dúvidas.
Havia feito Candice prometer que iriam embora antes das duas da manhã. E fez outras exigências no caminho para o carro de Yoongi, que, percebera, estava mais normal hoje, apenas um Ford Ka Sedan. Foi uma bela escolha, ao menos não fazia ninguém pensar que havia um idol super famoso no seu prédio.
Ela não esperava que eles voltassem a Itaewon. Com o trânsito bem mais normalizado àquela altura, não demorou muito para Yoongi atravessar uma porta dupla de ferro e entrar em um espaço gigantesco que estava mais para um salão de festas do que para uma boate propriamente dita. Ele apertou o carro no meio de tantos outros abarrotados nos fundos, como se fosse o único lugar para estacionar.
Ao sair do carro, ela se permitiu admirar o então clube. A música alta preenchia o ambiente de forma cativante e as spotlights coloridas dançavam pelas paredes e pelo teto. Havia mais pessoas do que ela imaginava, absolutamente todos da empresa deveriam estar ali, até os funcionários da limpeza. Ela, uma terceirizada, também havia sido convidada. Um DJ de cabelos pretos longos e olhos puxados animava a galera, que dançava abertamente ao ritmo da música e logo reconheceu Hobi no meio delas, parecendo extremamente embriagado — ou só sendo o Hobi mesmo.
— Aquele é o Steve Aoki? — perguntou, tentando falar mais alto do que a música.
— O próprio. — Yoongi respondeu enquanto eles entravam em uma área onde os ombros começavam a se tocar diante da aglomeração de pessoas. Candice deu um gritinho de excitação.
Andaram até um pouco no centro do salão, onde havia uma mesa retangular gigantesca recheada de todos os tipos de petiscos, muitos os quais não reconheceu novamente. Em pé ao lado dela estavam Jin e Jimin, junto com outros funcionários mais velhos, entre eles o Sr. Ahn, que cumprimentou amigavelmente.
— , que bom que você veio! — Jimin a abraçou calorosamente. Ele nunca teve problemas com abraços. — Quer que eu busque uma bebida para você?
Ela concordou com a cabeça, não querendo competir com a música alta ainda. Jurou ter escutado risinhos abafados vindo de Candice e Yoongi quando Jimin se retirou, mas preferiu ignorar.
— E então, onde estão os outros? — perguntou Candice.
— Bom, eu não faço ideia. A festa começou tem mais de uma hora e meia, e eles estão bebendo desde o almoço, então estão perdidos por aí. — respondeu Jin, e pela sua risada ele tampouco estava sóbrio.
— Você dirigiu bêbado? — Candice perguntou para Yoongi.
— Duas cervejas não me deixam bêbado. — ele deu de ombros.
— Candice, já conversamos sobre a diferença da nossa concepção de bêbados. Ela vai ficar bem clara no fim da noite quando o Hobi estiver em cima do palco sem roupa! — Jin soltou mais uma risada, arrancando a mesma de todos ao redor. olhou novamente para a frente do DJ, onde Hobi realmente estava em condições precárias.
— Cheguei. — Jimin encostou a cerveja gelada no ombro de , fazendo-a se virar assustada. — Calma, calma, sou eu.
— Você me assustou. — ela pegou a cerveja, rindo.
— Você se assusta até com um mosquito, . — ele estendeu a mão para abrir a garrafa. — E aí, não vai dançar? Já chegou atrasada, todo mundo aqui já fez sua parte.
— Não estou bêbada o suficiente para isso. — e nem pretendia ficar. Ela definitivamente não queria ficar bêbada.
— Ah, vamos lá, eu danço com você! Hoje é um dia feliz, você tem que dançar com a gente!
Ela riu e olhou para o lado, à procura de apoio de Candice, mas ela, Yoongi e Jin estavam absortos em um assunto paralelo que ela não se atreveu a tentar entender e o Sr. Ahn já havia sumido há muito. Não havia escapatória.
— Que se dane. — ela murmurou, deixando que Jimin a puxasse para o centro da pista.
De dança ela definitivamente não entendia nada, mas ali o intuito com certeza não era esse. Por incrível que pareça, ela curtiu a ideia de simplesmente se deixar levar pelo momento e apenas se divertir. Não havia porque pesar prós e contras naquela situação, como em tudo que fazia na vida. Permitiu-se rir de Jimin fazendo danças engraçadas até a barriga doer e também de beber mais uma cerveja... e mais umas doses de soju. Quando tudo parecia alegre e enérgico demais, ela pensou que seria melhor parar e descansar um pouco.
— Você tem potencial, . Quer que eu te ensine alguma coreografia? — Jimin ainda ria quando os dois se sentaram no balcão do bar.
— Sem chance, vocês não têm uma única coreografia fácil e acessível para pessoas normais como eu.
— Que absurdo, eu posso te ensinar a dançar Dope, muita gente aprende rápido.
— Vou permanecer com a minha opinião. — ela balançou a cabeça, pedindo uma água para o barman e jogando os cabelos para trás, que colavam na nuca.
— E então, quando você vai voltar a dar as caras na agência? Aquele lugar pode ficar bem chato às vezes.
— Muito em breve, eu acho. Estou só esperando o Sr. Ahn me dizer a data do photoshoot do novo MV. — ela disse enquanto pegava a garrafa que o barman acabava de colocar na bancada.
— Ah é... Não sei te dizer quando. — ele respondeu, com um sorriso cabisbaixo.
Ela juntou as sobrancelhas.
— Eu pensei que era logo.
— É, isso foi antes das situações atuais...
Ele começou e parou. demorou um segundo para entender e balançou a cabeça, bebendo um grande gole de água. Toda a diversão com Jimin na pista havia feito se esquecer da preocupação que a acompanhara desde que havia entrado no carro de Yoongi.
— Ah, entendo... Ele ‘tá aqui? — ela perguntou, não sabendo se queria realmente saber a resposta. Não havia visto-o em lugar nenhum até agora, e desejou que ele estivesse em casa. Em paz.
— Tá sentado ali no canto a noite toda. — ele apontou a cabeça para um lado vazio do salão, ladeado de mesas com sofás acolchoados embaixo de pouca luz, deixando Jungkook quase invisível, vestido inteiramente de preto, olhando para o nada enquanto bebia uma cerveja. — Ele tá nessa de se isolar, a gente tentou, mas ele não escuta. Bem, é melhor assim do que a gente ter de buscar ele na cadeia. — Jimin riu de sua piada, mas apenas forçou uma risada. — Mas e então, você tá bem? Quero dizer, você... Tá sozinha, ou...
olhou confusa para a repentina mudança de comportamento de Jimin, que colocava as mãos atrás da cabeça desajeitadamente.
— É... Eu vim com a Candy e com o Yoongi. — ela apontou para algum lado aleatório, torcendo para estar entendendo a pergunta. — E sim, eu tô ótima, eu me diverti bastante essa noite, graças a você!
— Que bom, que bom. — ele balançou a cabeça automaticamente. — Mas... É verdade que você e o Jaehyun, vocês...
— O que tem eu e Jaehyun?
— Vocês estão namorando?
— Quê? Não! — ela respondeu rápido, gesticulando com as mãos. — Não estamos namorando. De onde você tirou isso?
— Ah, é porque é algo meio óbvio. Parece que vocês têm algum tipo de lance, sabe? Todo mundo pensa a mesma coisa, por isso ninguém chega em você.
— Oi? — ela balançou a cabeça. Estava bêbada, só podia ser isso. — Desde quando... — ela suspirou, bebendo mais um gole de água. — Eu e Jaehyun não temos nada... De verdade. Não é algo que se possa rotular assim.
— É mesmo? Eu bem que imaginei isso, mas o Jungkook repetia o tempo inteiro que vocês namoravam e que não era para ninguém chegar perto.
quase cuspiu a água do próximo gole.
— Jungkook fez o quê?! — ela arfou, os olhos se arregalando para Jimin.
— Bom, ele foi bem convincente. — Jimin estreitou os olhos para a garota enquanto passava um guardanapo para que ela limpasse os respingos de água no colo. — Então quer dizer que toda essa história do Jaehyun é um grande mal-entendido?
— Não é isso, só... Eu realmente não consigo te explicar agora.
— Acho que a gente precisa de mais bebidas então. E uma das fortes. — ele se levantou. — Nesse lado eles não oferecem tequila, mas vou providenciar isso em dois minutos. Não sai daí.
As costas de Jimin se transformaram em duas quando percebeu o quanto sua cabeça rodava. Felizmente, a garrafa de água havia ajudado e ela se sentia mais firme no ambiente. Girou os olhos pelo salão procurando Candice ou Yoongi, e de repente quis muito saber as horas. Tudo que ela queria no momento era deitar e se livrar daquela música alta.
Mas então seus olhos pousaram no cara solitário e distante no fundo escuro do lugar. sabia que ele estava bêbado só de olhar para os montes de garrafas vazias em cima da mesa, e uma fumaça estranha pairava no ar ao seu redor.
Ela não estava pensando em fazer aquilo. Não queria pensar naquilo. Mas quando viu, já estava se levantando e andando em direção a ele.
Um forte cheiro de tabaco preencheu suas narinas no instante que chegou perto dele.
— Posso sentar aqui? — ela murmurou. Ele nem se deu ao trabalho de virar o rosto.
— Eu diria que não, mas você vai sentar do mesmo jeito, não é?
Ela revirou os olhos e se sentou, girando o corpo na direção dele.
— Você ‘tá legal? — a voz dela era quase no mesmo som da música.
— Você viu as notícias, . Podemos pular essa parte? — ele a encarou. — O que você quer? Cansou das investidas do Jimin?
Ela sabia o que tinha ido falar, mas não conseguia. Havia evitado aquele momento esse tempo todo porque não tinha boas notícias para dar, nada que fosse fazê-lo se sentir melhor.
E ela queria que ele se sentisse melhor.
— Eu... Sobre o que eu te disse no carro naquele dia...
— Ela desapareceu para você também.
— É. — ela respondeu e Jungkook suspirou pesadamente. — Eu tentei falar com o manager, mas parece que ele também não sabe de muita coisa, ela simplesmente decidiu cortar qualquer contato com as pessoas, eu bem que tentei...
— Tá, tudo bem. — ele a cortou, virando-se um pouco mais para ela. — Eu realmente não quero falar dela hoje. E muito provavelmente nem amanhã. Acho que nem na semana que vem... — ele deu um sorriso divertido, claramente bêbado. — Então se o assunto que você veio tratar for sobre mim, ou ela, ou toda a porra de trabalho, eu sugiro que você saia. Por gentileza, claro.
Ele forçou um sorriso e ela realmente deveria se retirar. Claro, era a escolha certa a se fazer. Ele não estava bem em vários aspectos, e bater um papo não era a melhor opção naquele momento.
Mas alguma coisa muito estranha a deixava grudada naquele banco, colocando a mente para funcionar em busca de algum assunto, algo que o tirasse de seus pensamentos insanos e melancólicos.
— Você gosta de amendoim? — perguntou ela.
— O quê?
— Amendoim, oras. Vocês não têm amendoim nesse país?
— Temos, mas... — ele fez um sinal com as mãos que não deu para ver direito, mas ela tinha certeza que ele deveria estar chamando-a de maluca.
— Então já comeu paçoca?
— Pa- o quê?
— Paçoca. É um doce típico do Brasil, feito com amendoim. Não vai me dizer que não experimentou as comidas brasileiras?
Jungkook não estava entendendo o rumo da conversa, mas se deixou levar.
— Eu experimentei várias coisas no Brasil... — ele respondeu com um sorriso malicioso.
levou algum tempo para entender, e não conseguiu controlar o rosto vermelho.
— Não é exatamente disso que eu quero saber.
— Então o que é, ? Quer arrancar de mim alguma história engraçada para me fazer rir e me distrair dos meus problemas?
— Tá funcionando?
— Eu já disse que não quero falar sobre mim.
— Então eu tô tentando fazer você falar de qualquer outra coisa. Você é um cara que já viajou o mundo, conheceu vários lugares, com certeza deve ter algo interessante pra contar e...
— Tudo bem então, por que não falamos de você?
— De mim? — ela piscou os olhos. — Não tem absolutamente nada de interessante sobre mim.
— Nisso podemos concordar, mas pelo visto o Jimin discorda. E o Jaehyun... E eu acho que o Hobi também...
— Tá legal, que história é essa? — sua voz saiu meio embolada, a cara queimando novamente pela situação embaraçosa. — O Jimin, ele disse... Você falou alguma coisa com ele?
— Você fala sobre a medida cautelar que eu coloquei em você? — ela concordou com a cabeça, estreitando os olhos. — Achei que isso fazia parte do plano, não?
— O quê?!
— Do seu plano com o Jaehyun, oras. Eu deveria te ajudar, lembra? Esses caras conseguem ser piores que urubus, se eu não falasse do seu lance com o Jae, você possivelmente não teria um segundo de paz.
— Mas...
— Que foi? Era melhor não ter falado nada? — ele levantou a sobrancelha, como se a desafiasse. — Você tá insegura em relação ao Jaehyun e queria manter as opções abertas?
arregalou os olhos e por mais que quisesse jogar toda a cerveja da garrafa na cara de Jungkook, não conseguiu dizer nada. Por mais que ele não tivesse tato algum para dizer as coisas e sorrisse vitorioso perante à expressão chocada de , ela sabia o que ele havia visto: que ele havia a pegado. Ela era insegura em relação a Jaehyun, e saber que todos constatavam que eles estavam juntos quando ela não tinha muita certeza disso — e muito menos certeza sobre onde aquilo iria dar — a deixava apavorada. Opções abertas não tinham nada a ver com aquilo.
— Ahhh, é claro. — ele disse depois de um tempo, soltando uma risada descontraída. — A questão do sexo. Eu tinha me esquecido disso.
— Jungkook...
— Não quero te desanimar, mas você deveria ter dito sim aquela noite. — ele murmurou, balançando a garrafa nas mãos. — Com a sua antiga profissão, você deve saber bem como funciona uma turnê. Onde várias coisas acontecem para servirem apenas de memória, momentos que vão ser enterrados ali. Tudo isso é bastante tentador para um cara que não tá acostumado.
— Eu realmente não ligo para o seu histórico de cafajeste. — arqueou os ombros, com uma expressão azeda de quem não gostaria do rumo da conversa.
— Você sabe que não tô falando de mim.
— Também não ligo para o histórico dele, as pessoas têm uma vida antes de qualquer relacionamento, e no nosso caso, não temos nenhum.
— Ora, ora, . Você parece bem madura para quem nunca teve um relacionamento.
— Como sabe que eu nunca tive um? — blefou, o que só arrancou mais uma risada de Jungkook.
— Digamos que eu reconheço seu lado virgem, ou melhor, meio virgem, como você mesmo descreveu. — ele disse em um tom ressalvo de puro deboche.
deu um riso sem graça.
— O que te fez acreditar em mim? — perguntou ela.
— Parando para analisar, faz todo sentido. — ele deu de ombros, descontraído, mas ainda com o sorriso debochado. — Você se faz de durona, mas tem um puta olhar inocente.
Aquilo fortaleceu um sentimento raivoso na garota, fazendo-a querer atacá-lo de alguma forma. O sorriso dele fazia com que ela se sentisse patética em todas as formas.
— Então é esse o motivo da sua aversão à minha proposta? Não gosta de lidar com garotas inexperientes?
O sorriso de Jungkook foi sumindo lentamente, e sentiu seu rosto pegar fogo. Era a bebida, a maldita bebida, guiando seus passos e sua língua de novo.
— Aversão é uma palavra muito forte. — ele disse devagar. — E você não é exatamente minha pessoa favorita.
— Então é só esse o motivo? — ela perguntou novamente e nem sabia como sua voz estava saindo tão firme e clara. Jungkook abriu a boca para responder, mas não conseguiu, estava mais curioso pelas perguntas do que pelas respostas.
— O que você...
— Sabe o que eu acho, Jeon? — ela o interrompeu, aproximando-se drasticamente dele no pequeno assento, perto o bastante para que ele visse seus olhos brilhando com a raiva. — Que você deve estar com medo. Talvez você falhe porque ‘tá com a cabeça no seu coração partido e não sabe lidar com isso, como fez questão de mostrar para o mundo todos esses dias. Um cara tão desequilibrado por causa de uma mulher não deve render uma boa experiência mesmo. Mas tudo bem, eu entendo. — ela deu um suspiro teatral, e um sarcasmo velado estampava seus olhos. — Deve ser uma decepção não ter mais as habilidades de antes, mas eu vou respeitar a sua condição.
Ele ficou muito sério.
— Você não sabe do que ‘tá falando.
Ela deu duas batidinhas no ombro dele de forma cômica, e Jungkook não conseguiu segurar o olhar de fúria que lançou sobre a garota, que saiu de seu lado sem dar-lhe chance de resposta.
Click VI – Tread softly stranger move over toward the danger that you seek
"Ao luar eles são mais emocionantes
Essas coisas que ele sabe
Enquanto ele te leva através dos sorrisos, das carícias, dos sopros na neve
[...]
Se você tem algo a me ensinar
Eu estou escutando, pronto para aprender
Não há ninguém aqui para me vigiar."
⏮︎⏸︎⏭︎
Um vento gelado inesperado soprava na parte de fora do salão, e a ideia de de sair para respirar ar fresco virou-se contra ela. Tinha o rosto vermelho, não apenas pelas cervejas ou o frio recente, mas por toda frustração de, mais uma vez, tentar se adaptar ao jeito de Jungkook. A garota não o odiava, e sabia que, bem no fundo, ele era uma pessoa boa, gentil e cativante. Sabia de sua boa relação de amizade com os outros membros e que, pelo menos nessa parte, o que mostravam ao público era a verdade.
Mas tentar transformar aquela relação que tinham, no pé em que estavam, em uma até um pouco próximo de uma amizade parecia uma tarefa impossível. Ao mesmo tempo, ela entendia porque: ficava extremamente desgastada e irritada por existir alguém tão rancoroso e cabeça dura quanto Jeon Jungkook.
Ao menos o vento a fez clarear as ideias. Caminhou pelo pátio, por entre os carros abarrotados no único espaço que tiveram para estacionar, e pensou consigo mesma quão grande fora o erro de ter ido parar naquela festa. Jungkook já não a deixava em paz com toda a história da fatídica noite em seu apartamento, e por mais que ela pudesse apenas ignorar suas zombarias, sentia-se ligeiramente afetada, e não entendia esse sentimento.
Ela achou o carro de Yoongi, parado em um canto um tanto mal iluminado e percebeu como tinham pego uma das piores vagas por serem os últimos a chegar. Encostou a cabeça no vidro da porta do carona, bufando, querendo desaparecer daquela festa. Não fazia ideia de que horas eram, mas iria pegar um táxi se fosse preciso para ir, mesmo sem Candice.
não o viu chegar, mas de repente o cara de preto estava parado à frente dela, respirando fundo, com um olhar intenso. Ele não disse nada, só tirou umas chaves do bolso e destravou o carro logo à frente dela, vizinho do carro de Yoongi. A Mercedes Benz deu um apito quase inaudível e ele abriu a porta de trás, olhando-a novamente.
— Entra no carro.
Ela demorou alguns segundos para entender que ele estava falando com ela.
— O-o quê?
— ... — ele bufou, impaciente — Entra na droga do carro.
Alguma coisa naquele olhar zangado fez tremer as pernas, e uma sensação estranha no estômago a impediu de dizer não. Zonza, ela caminhou até o carro e entrou no banco de trás, sendo empurrada por Jungkook, que entrou logo em seguida, batendo a porta.
— Mas o que você qu...
Ela não foi capaz de terminar a frase pois foi engolfada pelas mãos de Jungkook em sua cintura, puxando-a tão perto como jamais estiveram e a outra agarrou com vontade os cabelos em sua nuca, puxando sua cabeça para trás e dando espaço para que a boca dele atacasse seu pescoço, orelha, colo, tudo que havia direito naquela região.
A aproximação foi tão fugaz que não teve reação. Por um minuto, pensou que estava delirando pelo álcool. A respiração pulsante e quente dele perto de si era uma alucinação, só podia.
— Jungkook... — ela murmurou quando reencontrou sua voz, mas saiu tão baixa que ela pensou ter imaginado. Ele a puxou para mais perto, quase em seu colo, as mãos tão firmes em sua cintura, como se esperasse que ela fugisse.
— Não fala... — a voz dele saiu tão baixa quanto a dela, e seus beijos, mordidas, língua ou seja lá o que ele estivesse fazendo no pescoço dela foi descendo deliberadamente até o colo, em direção aos seios.
Um calor inexplicável tomou conta do corpo de . Ela estava bêbada, sem dúvidas. Essa era a única explicação do porquê ela não o havia afastado, do porquê automaticamente ergueu o corpo para que ele alcançasse o meio dos seios mais rápido. Só podia ser isso para que ela explicasse porque aquilo estava tão bom.
Se estava bêbada e não queria fugir da situação atual, experimentou entregar-se a ela, mesmo que não soubesse como. Uma de suas mãos deslizou levemente no casaco de couro dele, que o tirou em um jato, jogando-o em qualquer lugar do carro. Em uma manobra ligeira, ele pegou nos quadris da garota, e a apertou contra o assento. arfou quando ele se afastou suas pernas e se acomodou entre elas, levantando seu vestido até o meio da barriga, revelando sua calcinha branca que parecia brilhar naquele escuro. Um formigamento em seu ventre causado pelo olhar que Jungkook a lançou a fez desejar que ele fizesse alguma coisa, qualquer coisa.
Lentamente, ele passou um dos dedos por cima de sua calcinha, bem na área do clitóris, e não conseguiu controlar a onda de excitação que atravessou seu corpo. Um pequeno sorriso de canto atravessou o rosto de Jungkook, que murmurou palavras incoerentes, ressaltando o fato de ela estar totalmente molhada.
Ele ergueu o olhar para a alça do vestido, e sem esperar, puxou-o para baixo de uma só vez, fazendo com que os seios de saltassem para fora. Antes que ela dissesse alguma coisa, a boca dele abocanhou um dos seus seios, e foi aí que ela perdeu totalmente a noção do que era real ou não.
Que se dane, pensou ela quando decidiu enfiar os dedos nos cabelos dele, enquanto arfava de forma incessante. Ele chupava seus seios com força, com pressa, e ela sentiu uma explosão entre as pernas à medida que sua outra mão continuava a acariciar seu clitóris.
Quando ele afastou sua calcinha para o lado, ela nem sabia mais onde estava. Tudo era uma loucura. Voluntariamente, ela se viu abrindo o zíper lateral do vestido, terminando de tirar qualquer empecilho que ele pudesse causar no ato maravilhoso que era a boca de Jungkook em seu peito. Ele alternava entre um e outro e os beijos ávidos e urgentes no pescoço dela, que agora se via em uma missão de completa falha para não gritar quando ele começou a passar o dedo cada vez mais rápido em seu clitóris.
Ela queria sentir mais. Ela sabia que podia ter mais. Deslizou sua mão por debaixo da camiseta que ele ainda usava, puxando-a para cima, desaparecendo em algum lugar. Os dedos dele chegaram ao ponto onde ela queria: foram entrando, bem lentamente, mais fundo. Os dedos de cravaram nos ombros dele na mesma hora, enquanto soltava um gemido. Ele enterrou a cabeça na curva de seu pescoço, enquanto ia aumentando gradativamente o movimento.
“Caralho”, essa foi uma das únicas palavras que ela conseguiu identificar em meio a tanto torpor. A respiração dele, quente e pesada enquanto penetrava-a com o dedo, era uma maluquice. Mas quanto mais rápido ele ia, mais ela gemia e queria mais.
Ele diminuiu os movimentos de repente, enquanto afastava a cabeça do pescoço dela. Quando retirou os dedos de dentro dela, ele levou-os à boca, chupando o líquido e o gosto que ali estavam. Outra explosão pareceu rugir de dentro de : aquela era a coisa mais erótica que já havia visto na vida.
— Porra, ... — ele sussurrou, olhando-a nos olhos desde a primeira vez que entrara no carro. Suas respirações estavam pesadas e combinadas, e nem percebeu que havia fechado os olhos. — Me diz para parar... Se você não quiser, tem que me dizer agora.
O olhar dele tinha algo que ela nunca viu: um brilho estranho, excitante, pedinte. Ele estava implorando naquele olhar que pudesse continuar.
Ela nada disse: sabia que seu olhar era a resposta. Ela queria que ele parasse de falar e desse logo de uma vez o que ela queria. O desejo que estava latejando lá embaixo. Se ele continuasse falando, era como se tudo que estivesse acontecendo fosse real. Ela não queria pensar nisso.
Ele entendeu o recado ao arrancar a calcinha da garota, que levantou o quadril para facilitar a retirada. Agora tudo que havia sobre ela era o vestido embrulhado na área mediana do abdômen. Por pelo menos um minuto inteiro, Jungkook admirou o corpo nu sob a fraca luz do estacionamento, antes de se concentrar nele mesmo e arrancar suas calças em movimentos rápidos e graciosos, como se não fosse a primeira vez fazendo aquilo.
Ele colocou a camisinha como um mestre e então pressionou ainda mais seu corpo no dela, abrindo suas pernas mais do que antes. A respiração dela entrou em descontrole quando ele moveu o pau para cima e para baixo na área íntima, sem penetrar. Ele fazia movimentos em seu clitóris, e sentir a ereção tão próxima de sua pele a fazia entrar em desespero.
— Jungkook... — ela gemeu, implorando, os dedos apertando ainda mais os ombros do garoto. — Por favor...
— Shh, eu vou devagar. — a voz dele era um sussurro grave, bem no rosto de , em sua orelha, mas ela parecia senti-la por todo lugar. — Me diz se vai te machucar.
Que se foda se machucasse, ela só queria que ele fosse logo. Quando ele posicionou a pontinha e começou a finalmente entrar, não conseguiu segurar o gemido alto no fundo da garganta. Agradeceu internamente pela música alta lá fora. Ele fazia movimentos lentos e ritmados, mas para ela ainda faltava algo.
— Tá machucando? — ele soou grave novamente, e quis grunhir para que ele entendesse.
— Mais rápido... — ela nem sabia o que dizia. Precisava que ele calasse a boca e desse o que ela queria.
Ele quis protestar, mas a mulher segurava seus ombros com as duas mãos, arranhando seus braços, costas e tudo que alcançasse enquanto arqueava o corpo para que ele a penetrasse mais fundo e mais rápido. A visão mexeu com sua cabeça de forma que ele nem percebeu quando começara a dar o que ela queria. Os gemidos de encheram o carro e pareciam balançar o veículo inteiro.
parecia mais perto de alcançar o que ela tanto queria, e não sabia o que era, não sabia como funcionava. Jungkook abriu ainda mais suas pernas para tornar os movimentos não mais rápidos, apenas mais precisos. Com um dos dedos, acariciou novamente o clitóris dela, e com a outra apertou seu quadril. viu nele um olhar furioso.
— Jungkook... Eu vou...
Alguma coisa crescia dentro dela, pedindo para sair, e ela começou a remexer o quadril para frente e pra trás involuntariamente, pedindo por mais, um desespero silencioso. A única coisa que se ouvia eram seus gemidos, que viraram um grito seco quando uma explosão em seu ventre fez seu corpo arder em chamas e ela sentir como se estivesse no alto de uma montanha russa.
O grito fez com que ele diminuísse o ritmo, até parar. Havia algo grotesco em sua expressão, como se ele estivesse mordendo a língua, se controlando para não dizer nada. Ele queria dizer as palavras mais sujas, safadas, dizer o quanto ela era deliciosa e queria poder disfarçar melhor a admiração pela expressão da garota depois de gozar. Mas ele não podia fazer isso.
estava mais mole, mas não pareceu querer soltar dos ombros dele. Abriu os olhos por um minuto e mordeu o lábio inferior naturalmente, como se estivesse acordando de um sono. Jungkook não se controlou ao ver aquilo, voltou a aumentar o ritmo, torcendo para que ela voltasse a fazer a expressão aterradora de prazer, pairando em outro mundo, os olhos revirando nas órbitas, tudo isso causado por ele. Seu desejo foi atendido: não só tinha essa expressão, como suas unhas estavam arruinando o resto de seus braços e de repente ela colou ainda mais seus corpos, peito com peito, testa com testa, enquanto o fôlego de ambos se completava.
Não demorou muito para que ele também chegasse ao ápice, gemendo baixo e rouco enquanto gozava.
Jungkook se afastou lentamente de , desabando do outro lado do banco. Seu peito descia e subia em movimentos rápidos, e ele encostou a cabeça no banco, fechando os olhos por alguns instantes, o suor descendo por suas costas.
não estava diferente. Nunca havia se sentido tão mole e tão realizada. Suas pernas trêmulas a faziam se perguntar se seria capaz de se levantar de novo.
Os dois viraram a cabeça quase no mesmo instante. De repente a música de fora não passava de um mero ruído, e ali dentro se instalou um silêncio, que trouxe consigo o que nenhum dos dois queria: a realidade.
deu uma breve olhada ao redor, ligeiramente arregalando os olhos. Ela rapidamente tateou o chão do carro, não demorando a achar sua calcinha jogada de qualquer jeito e vestindo-a enquanto subia e recolocava o vestido.
— , espera...
Ela saiu do carro batendo a porta atrás de si, voltando a sentir o vento gelado, ouvir a música, perceber que estava em uma festa com pessoas, muitas pessoas. Não controlou o instinto de sair correndo, horrorizada com a própria atitude. Ela havia acabado de transar com Jeon Jungkook no banco de trás do carro dele. Em um estacionamento. E havia gostado.
Click VII – Cheating heartbeat, rapid fire
"Estou me sentido tolo
Você deveria tentar
Ela veio e substituiu
A paz e a quietude
Por sangue acrobático, fluxo, concertina."
⏮︎⏸︎⏭︎
— Tá tudo bem com você? — Candice parou na soleira da porta do quarto de , que encarava os dois vestidos dispostos lado a lado em cima de sua cama. — Alô, Terra chamando !
— Oi! — ela respondeu com o susto. — O que foi? Falou comigo?
— Falei, mas você, mais uma vez, ‘tá no mundo da Lua. Qual é o problema?
— Problema? Não tem problema nenhum. — ela deu um sorriso amarelo. — Só ‘tô me arrumando para o trabalho.
— E desde quando você demora mais de dois minutos para escolher uma roupa? — Candice levantou a sobrancelha. — Vai pra Big Hit?
— Como você sabe? — ela perguntou rápido demais.
Um vinco se formou na testa de Candice.
— Há... por que você me disse ontem à noite?
— Ah... — respondeu, voltando a se concentrar nos vestidos. Ou apenas tentando.
Candice revirou os olhos.
— Pega o vermelho logo, darling.
— É muito chamativo.
— Quem se importa? Você será a própria primavera californiana naquele lugar. Essas pessoas precisam urgentemente de cores.
encarou o vestido longo de alcinhas, e realmente pensou que não seria má ideia usá-lo. Entretanto, ele era realmente chamativo. Chapiscado de bolinhas brancas, um tecido fino e leve, tinha até fenda. Todos os benditos vestidos que ganhava de Candice tinham essa característica. Acabou por lançar o outro preto sem graça para o lado.
— Você pode me emprestar aquele rímel? — perguntou enquanto ajeitava bolsas e um sapato ao pé da cama.
Candice atravessou o quarto em direção à garota, pegando seu rosto entre as mãos e colocando a palma em sua testa.
— O que ‘tá fazendo, Candy?
— Você acabou de me pedir um rímel. — não era uma pergunta. — Eu tinha que verificar se você ainda tem a temperatura normal, e vou agora mesmo fazer um teste de Turing. Quando é meu aniversário?
revirou os olhos, decidindo ignorar as zombarias da amiga.
— Você realmente ‘tá muito estranha essa semana. Por acaso você vai fazer alguma participação no MV e não me contou?
— Oi?! Claro que não! De onde você tirou isso?
— Talvez de todas as vezes em que você ficou vermelha quando mencionei a Big Hit ou os meninos essa semana. E você ‘tá escolhendo uma roupa para ir fazer um trabalho que sempre faz. E não vou me esquecer do rímel!
— Você ‘tá viajando. — murmurou, tratando de pegar sua toalha e demais pertences para ir logo para o banho. E, de quebra, se livrar da conversa.
— Pode fugir o quanto quiser, mas você não vai escapar das minhas mãos hoje. Vou te deixar maravilhosa!
gemeu baixinho antes de deixar o quarto.
Candice não tinha qualquer escrúpulo. Além do vestido vermelho, fez com que soltasse o cabelo e usasse brincos exagerados demais para a ocasião. Seu perfume era tão doce que dava certa ânsia, mas preenchia todo o ambiente de forma agradável. Sem contar que ela não se contentou com apenas o rímel, mas uma maquiagem completa, porém leve. Deu uma nova cor ao rosto de .
E ela estava indo apenas tirar algumas fotos.
Candice sabia disso, já era conhecedora nata de toda a rotina do BTS. Essa era uma vantagem de seu relacionamento pseudo escondido com Yoongi. Mas foi pega de surpresa ao vê-la totalmente vestida para acompanhá-la na sessão, dizendo que seria apenas uma convidada. Uma onda de alívio tomou conta de , que não sabia descrever a felicidade por ter companhia para enfrentar aquele dia.
Ela ficava mais nervosa a cada passo que dava para fora de casa. A cada esquina que Candice virava com o carro. Havia repassado as contas aquela semana, e chegou a se perguntar se realmente precisaria daquele dinheiro. Prontamente, já se censurou por isso. Ela não podia perder um centavo por causa de um empecilho chamado constrangimento.
Na verdade, constrangimento era a forma sutil de descrever. Depois das loucuras que havia feito e sentido naquela festa, que voltavam à sua mente sempre que existia alguma brecha, ela só pensava em como seria o depois. Não queria perguntar a Candice qual a melhor forma de agir com alguém depois do sexo, isso geraria perguntas que definitivamente não podia e nem queria responder. Mas até ela estacionar o carro na frente da agência, ainda não sabia o que faria.
A semana toda ela havia ignorado tudo que tinha o nome de Jungkook. Não que fosse tão difícil, visto que ela não era adepta a nenhuma rede social e a montanha de trabalhos do mestrado ajudou para que ela não desse nenhuma olhada em sites do tipo. Ela estava receosa com qualquer tipo de confronto, mas ele não havia nem tentado entrar em contato. Tirando as desculpas que havia dado para Candice e Jimin por ter pegado um táxi e praticamente fugido daquela festa, nada de mais estranho havia sido notado por ninguém. É como se ela tivesse imaginado tudo.
Mas nenhuma imaginação era capaz de explicar o calor que ela sentia só de relembrar o episódio, que havia ficado gravado nos mínimos detalhes em sua memória. Sua própria mente a sabotava, fazendo-a vacilar e propondo o desafio a para continuar sendo profissional apesar de tudo.
Mas ela seria. Ela sabia agir como se as coisas não tivessem acontecido. Ela e Jungkook não ficavam de papo normalmente, então vê-lo seria como em qualquer outra situação.
— ! — o berro de Candice fez com que ela desse um pulo de susto. — Onde, afinal, ‘tá sua cabeça ultimamente? ‘Tô dizendo que temos que entrar.
— Desculpa, eu estava pensando no artigo para entregar, e nas provas... Enfim, vamos.
Ela saiu do carro, torcendo para Candice não fazer nenhuma outra pergunta. Ela não sabia até onde ia seu estoque de mentiras.
Lá dentro a correria estava maior que o normal. O photoshoot era uma parte essencial para a promoção de um novo single, e praticamente todos os setores da agência precisavam estar em prontidão. foi correndo para a sala de multimídia, encontrando o Sr. Ahn dando ordens a outras pessoas com um rosto levemente vermelho. Ela respirou fundo e se aproximou dele.
A sucessão dos acontecimentos foi rápida demais. Ao que pareceu, uma das câmeras havia dado mais um problema e eles teriam de improvisar com uma das câmeras do estoque pessoal do Sr. Ahn, que estava extremamente estressado com os técnicos que “nunca faziam seu trabalho direito”.
Eles se encaminharam até o estúdio e, claro, Candice já havia sumido de encontro aos andares acima, onde os meninos deveriam estar na maquiagem. fez o de sempre: orientou os staffs com o cenário e o fundo, que consistia em uma parede branca com luzes baixas em tons de roxo. De acordo com as ordens do Sr. Ahn, ela montou o tripé bem no centro, preparando a DSLR que tinham por enquanto para começar os primeiros testes. Ela ligou o aparelho, ajustando os detalhes técnicos como foco, HDR, ISO.
— ? — uma voz a chamou e ela deu logo de cara com Jimin. — Uau, mentira que é você! Você ‘tá uma gata!
Ele falou tão alto que agradeceu pelas luzes baixas do ambiente, que não permitiram seu rosto corando ficar visível.
— Obrigada, Jimin. — ela falou embaraçada, percebendo os olhares de alguns staffs. — Só tem você aqui? — ela olhou para trás dele depressa.
— É, fui o primeiro a ficar pronto. Gostou? — ele abriu os braços, dando uma voltinha para mostrar o visual inteiramente preto, com um casaco brilhante e a maquiagem e cabelo impecáveis.
— ‘Tá realmente muito bonito. — ela deu um sorriso sincero. — Tão bonito que vou pedir para você ser meu modelo de testes.
Ele deu uma risada e apenas assentiu com a cabeça. Se posicionou no centro da parede enquanto dirigia sua posição, e bateu a primeira foto. Tirou a câmera do tripé e acompanhou Jimin dando vários cliques, enquanto ele fazia poses divertidas, esbanjando sua dualidade entre um cara fofo e sexy.
Era muito fácil rir e se divertir com Jimin. Ele tinha mais esse talento: fazer se esquecer dos problemas, nem que seja por um minuto. Ele se aproximou dela para checarem as fotos tiradas, e riram mais um pouco com as posturas inusitadas que ele havia inventado na hora.
— Então Jimin virou a estrela principal do show? — a voz de Namjoon surgiu por trás dos dois, que se viraram ainda rindo de uma foto onde Jimin tentava colocar o pé atrás da cabeça.
Se estava rindo, agora ela apenas esboçava um sorriso em linha fina, séria, assumindo uma postura profissional. Nada tinha a ver com o fato de que seu trabalho logo começaria.
Jungkook assumiu a mesma feição ao vê-la. Ela se convenceu de que era a mesma que ele fazia sempre quando olhava para ela. Mas algo estava diferente.
— Ele bem que queria ser. — ela deu um sorriso de canto, arrancando uma risada de Nam, revirando os olhos para o cara do fundo. — Podem se posicionar, vou chamar o Sr. Ahn.
— Não precisa se apressar, , ainda temos que esperar o Yoongi.
— Onde ele está?
— Ele disse que tinha que fazer uns ajustes na roupa — Taehyung respondeu, ingênuo.
suspirou. Se fosse em qualquer outro dia, ela não se importaria nem um pouco de Candice estar diretamente atrasando seu trabalho. Mas naquele dia específico, quando tudo que ela queria era ir embora o mais rápido possível, isso a irritou profundamente.
— Tudo bem. De qualquer forma, vou deixar o Sr. Ahn avisado.
Ela se afastou dos meninos ainda com a câmera nas mãos, pretendendo aproveitar para mostrá-lo o resultado. Ela teve a impressão de sentir os olhos de Jungkook sobre ela quando, sem escolha alguma, passou por ele em direção aos fundos do estúdio, mas ela decidiu não dar mais importância à sua imaginação.
Depois do que pareceram horas e várias trocas de figurinos, a sessão finalmente havia terminado. Como o processo estava todo nas mãos do Sr. Ahn, acabou sendo de uma ajuda incomparável, como o fotógrafo sempre dizia. Ela bateu algumas fotos em grupo e era criativa com ideias sobre o conceito. Era visível que Namjoon e todos os outros a achavam uma profissional incrível na área, captando um brilho especial que só ela enxergava. Apesar de nem todos demonstrarem isso.
Já era quase noite quando o Sr. Ahn deu por encerrado o trabalho, dispensando todos os funcionários. ainda ficou mais um tempo recebendo mais orientações do mesmo, desta vez acerca da edição e do corte final do conceito. Candice havia saído há muito, com a desculpa de uma chamada super urgente de Gook-doo sobre uma matéria que teria de sair na semana que vem. acreditaria se Yoongi também não tivesse sumido misteriosamente.
— , foi um ótimo trabalho, de verdade. — Namjoon deu uma batidinha amigável no ombro dela enquanto ela recolhia as suas coisas e as colocava na bolsa.
— Foi um ótimo trabalho de vocês, eu só sirvo para registrar. — ela deu de ombros, com um sorriso simpático. Ela gostava de ter conversas modestas com Namjoon. — Bom, se vocês me dão licença, eu preciso...
— Você já vai? A gente ia pedir uma pizza! — Hobi interrompeu antes que a garota caminhasse. — Vai, fica aí, não ‘tá com fome?
Ela estava. Mas se reunir com os garotos quando ela mal conseguia olhar para um deles? E a sensação estranha de que ele a estava observando o dia inteiro? Não. Ela queria evitar isso.
— Eu realmente não posso, tenho uns compromissos pendentes com o mestrado e vou acabar perdendo o ônibus. — ela deu um sorriso amarelo, andando lentamente para a porta.
— Calma aí, você vai de ônibus? — Namjoon juntou as sobrancelhas. — Não precisa, , você trabalhou o dia todo hoje, tenho certeza que alguém da equipe pode te levar.
— O que? Não precisa disso, sério. — ela balançou as mãos fortemente. — Ele vai passar daqui a pouco, não precisam se preocupar. Voltem ao trabalho, vocês mandaram muito bem hoje. Até semana que vem!
Ela deu as costas e saiu pela porta, torcendo para que eles não se compadecessem com sua situação a ponto de correrem atrás dela — ou mandassem alguém para isso.
O ponto de ônibus estava vazio, apesar do horário de pico. O Sol já havia ido há muito, e o tempo escurecia cada vez mais. Não passavam muitos carros naquela região, sabia disso, mas naquela ocasião em especial aquilo a preocupava um pouco. Sentou-se no banco largo sob a fachada transparente, tentando não pensar nisso.
Depois de 10 minutos, ela se preocupava se realmente o ônibus viria. Aquele país não era como o Brasil, onde ela sofria com os atrasos recorrentes no ponto. Ela entendia que nem todo país era perfeito, mas hoje não era um bom dia para chegar atrasada em casa.
Um carro branco estacionou à sua frente no ponto, com os vidros fumê totalmente vedados, impossibilitando a chance de ver quem dirigia. O coração de deu um salto. Não havia ninguém naquela rua e muito menos no ponto. E carros estranhos parando à frente dela nessa situação nunca era boa coisa.
Ela se preparou para correr quando o vidro do motorista abaixou. Desta vez, seu coração deu uma parada brusca, junto com um aperto no peito.
— Cadê seu ônibus? — Jungkook perguntou, apoiando o cotovelo onde deveria ser a janela.
não conseguiu responder de imediato. Sentiu seu rosto ficar quente só de olhar para ele. Era diferente da forma como se sentiu lá dentro, com várias pessoas em volta. Agora ele estava sozinho.
— ? — ele repetiu, levantando uma sobrancelha.
— Eu... Ele ‘tá um pouco atrasado.
— Entendo. — ele acenou com a cabeça lentamente, ainda encarando a garota. — Então acho que você precisa de uma carona.
— Não preciso. — ela respondeu rápido demais. — Quer dizer, ele já vai chegar. Não precisa se incomodar com isso.
Ele deu uma risada seca. Sabia perfeitamente porque ela não queria entrar em um carro com ele.
— Você nunca ficou nessa rua a essa hora, e tem um motivo para esse ponto estar sempre vazio. Vem, entra no carro.
— Não posso. — ela novamente disse rápido demais, fazendo com que Jungkook a olhasse sem expressão aparente. — Você não deveria estar parado aqui, as pessoas podem ver...
— Ótimo, quanto mais rápido você entrar, mais rápido eu posso sair daqui. O que vai ser?
pesou a balança e teve de ceder à razão a Jungkook daquela vez. Ela nunca havia estado ali, e a falta do ônibus na hora certa poderia significar o que ela temia. Se odiando por dentro, ela se levantou e andou até o banco do carona.
O caminho para a casa dela foi silencioso e pesado. Apesar da música que tocava no aparelho de som, ela não conseguia deixar de se sentir desconfortável, ou totalmente constrangida. Ele não estava muito diferente, mas sabia disfarçar melhor. Geralmente não tinha problemas básicos de interação com as mulheres com quem tinha transado, mas também nenhuma delas nunca teria de aparecer de novo na sua vida. E no seu trabalho. E na sua roda de amigos.
Ele mal havia acabado de estacionar na frente de seu prédio e já estava desatando o cinto.
— Obrigada pela carona. — ela murmurou, colocando as mãos na porta.
— , espera. — ele disse em um tom urgente, e fechou os olhos com força. Não, não, não. — A gente precisa conversar sobre o que aconteceu.
— Não, não precisamos. — ela respondeu na ponta da língua. Já havia ensaiado aquela conversa um milhão de vezes naquela semana. — Não aconteceu nada.
— É assim que você se convence das coisas? — ele revirou os olhos, entediado. — Sério, só tem nós dois aqui. E aconteceu, você querendo ou não. Ou quer mesmo que eu acredite que você não se lembra?
Ela o encarou, repuxando os lábios, respirando fundo.
— O que você quer, Jungkook?
Um sorriso cafajeste atravessou seus lábios.
— A pergunta certa é o que você quer.
— Não entendi.
— Você quer mais. — ele deu de ombros — E dessa vez eu posso estar disposto a discutir os termos.
Ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto refletia por um segundo sobre as palavras do rapaz.
— De que raios você ‘tá falando? — perguntou ela.
— ‘Tá legal, vou ser direto então. — ele suspirou. — Eu aceito sua proposta.
— Que proposta?
— Eu posso te ajudar no seu probleminha com sexo... Ou abolir sua meia virgindade, como você quiser chamar, apesar de que esse termo já pode entrar em desuso. — ele deu uma risada sarcástica, o que só serviu para ter ainda mais vontade de se esconder.
— O-o que... Espera, o que te faz pensar que eu quero isso? Você sabe que eu falei sem pensar, que...
— , vamos lá, preciso repetir que só tem nós dois aqui? Eu sei que sua proposta teve um fundo de verdade, e naquele dia eu pude confirmar isso.
Uma raiva estampou o semblante de na mesma hora.
— Você foi atrás de mim só para confirmar se eu estava falando a verdade? — ela perguntou entredentes, deixando sua raiva explícita.
Ele riu, se divertindo com a fúria da garota.
— Não preciso disso para confirmar algo que ‘tá estampado na sua cara, como eu te falei. Você tem o inferno de um olhar inocente.
— Então por quê? — ela gesticulou com as mãos, ainda com raiva.
O sorriso divertido dele diminuiu, mas seu olhar não perdeu o brilho cômico.
— Você me desafiou. E eu ‘tava bêbado como um completo idiota. — a voz dele saiu quase em um sussurro. — Sinto que eu devo te pedir desculpas, apesar de ter sido a melhor coisa que aconteceu naquela maldita noite.
Os olhos de se arregalaram por um instante.
— C-como?
— Não entenda errado, sexo é bom, . E foi bom com você. O seu gosto é do caralho, o seu corpo é lindo, e infelizmente é mais gostosa do que eu pensei. Isso torna tudo irrecusável.
Jungkook falou em uma naturalidade, como se estivesse explicando à garota quanto era dois mais dois. Mas um frio estranho na barriga dela, seguido por uma formigação entre as pernas, a fizeram perceber que havia gostado de ouvir aquilo, mesmo com uma vontade louca de fugir daquele carro.
Ela engoliu em seco.
— O que você... Eu ainda não ‘tô entendendo. — ela conseguiu proferir.
— Quero dizer que esse lance pode funcionar. Você vai ficar melhor nisso e depois daquele dia eu não tenho porque recusar. Pelo menos não mais...
Ele revirou os olhos, mas não deixou de perceber. É como se, em vez de dez metros, Ali agora ocupava apenas cinco. Seu espaço havia diminuído, mas ela ainda estava ali. E sabia que ele ainda estava profundamente magoado, mas com toda a calmaria que destilava de sua voz, ela não podia pensar que ele não estava certo do que falava.
Ele iria usá-la como uma distração dos seus próprios problemas amorosos. Em contrapartida, ela havia se oferecido para usá-lo primeiro. Era uma ideia descabida, mas a questão não era essa. A questão era se ela se importava com aquilo.
E ela definitivamente não se importava de repetir o episódio do carro.
— Olha, se você mudou de ideia...
— Como funcionaria isso? — perguntou ela, a voz repentinamente mais firme e confiante, refletido também no seu olhar. Ele ficou surpreso, mas continuou:
— Bem, teríamos que ter algumas regras básicas.
— Regras? Tipo o quê?
— Tipo sem beijo na boca. Nunca. — o olhou confusa e não disse nada, esperando uma explicação. Ele respirou fundo. — Olha só, eu não ligo se a gente fizer check list do kama sutra inteiro, mas beijar torna as coisas literalmente mais íntimas, ‘tá em outro patamar. É a última coisa que eu quero no momento.
— Ah... — ela concordou lentamente com a cabeça, ainda absorvendo a lógica apresentada.
— E não vamos, em hipótese alguma, dormir juntos. Isso evita também o café da manhã, conversar sobre a vida, trabalho ou o que seja. Vai ser só o sexo.
— OK, mas...
— E uma última coisa. — ele continuou, fazendo se calar. — Isso não vai mudar nada entre a gente. Eu não ‘tô pedindo para sermos amigos coloridos e nem nada disso, porque definitivamente não somos amigos. Então nada muda também na frente do pessoal, tenho certeza de que a gente consegue disfarçar melhor do que Yoongi e Candice.
arregalou os olhos.
— Como você sabe disso?!
— ‘Tá brincando, não é? Eles são patéticos, me pergunto quem ainda não sabe.
deu uma leve risada ao se lembrar da expressão ingênua de Taehyung naquela tarde. Realmente, Candice e Yoongi eram o exemplo nato que eles não deveriam seguir para levar aquilo adiante.
— E então, estamos entendidos? — ele deu de ombros tranquilamente, como se já soubesse a resposta dela.
não falou, mas se viu concordando com a cabeça, mesmo sem saber direito no que estava se metendo.
— OK, então vamos — ele desligou o carro e soltou o cinto de segurança.
— Vamos? Para onde?
Ele olhou para ela antes de abrir a porta.
— Vamos começar no seu quarto.
Decision: Make a wish that weighs a tonne
"Ela parece que está soprando um beijo para mim
E de repente o céu é uma tesoura
Sentado no chão com um pandeiro
Esmagando um punhado de amor
Não leve isso para o lado pessoal
Você não é a única pessoa
Que o tempo quer prejudicar, amor
É aí que você se engana."
⏮︎⏸︎⏭︎
Na luz amarelada, era mais fácil ver o rosto dela.
Estava suado, com os mesmos fios enrolados presos na testa e na lateral das bochechas, que não se soltavam por nada enquanto ela se movia em cima dele, fechando os olhos em uma viagem particular, aumentando o ritmo de acordo com a seu bel-prazer. Jungkook não conseguia segurar o grunhido de dentro da garganta, ainda mais quando focava o olhar e a boca no pescoço exposto, e as mãos alternavam entre puxar seus cabelos para trás e puxar sua cintura para mais perto, ou mais para cima, ou simplesmente para ajudá-la a mandar ver do jeito que queria.
Quando a respiração da garota foi ficando mais densa e menos espaçada, Jungkook sabia o que estava vindo. Arqueando mais as costas, ele segurou ainda mais firme em suas costas e apoiou um braço para trás, trazendo mais impulso para se enterrar dentro dela por baixo, sem interromper o momento para mudar para uma posição mais confortável que não fosse meter com ela por cima e bem no meio da cama, sem nenhum encosto. não lutou contra as estocadas, escondendo o barulho que escapava de sua boca sem controle com uma mão, agarrando ainda mais os ombros de Jungkook e sentindo o corpo mole, as pernas se derreterem à medida que o prazer explodia de dentro para fora, em um rompante agudo e fugaz.
Ele ofegou com ímpeto, as duas mãos agora apoiando o corpo, cessando os movimentos até parar e recuperar o fôlego. Um sorrisinho brotou dos lábios dela, e Deus do céu, aquilo era paradisíaco. O sorriso dela depois de conseguir seu orgasmo era melhor do que todo o resto. Ele tinha a sensação de dever cumprido, um dever que tinha um significado ainda mais profundo — vingança. Entre quatro paredes, perdia toda a pose de certinha e se mostrava tão vulnerável na frente de seu adversário que não percebia que estava concedendo pontos para o outro.
Deitar com o inimigo realmente tinha suas vantagens.
Ela ainda continuava de olhos fechados e unhas gravadas em sua pele quando começou a se mover devagar, automaticamente, sentindo outra ânsia por mais um round, querendo alcançar o céu de novo como só Jungkook tinha sido capaz de dar.
Ainda arfante, ele encarou o corpo dela em cima do seu, seu pau ainda bem encaixado e bem ereto, recebendo outra dose de sangue que o deixou totalmente desperto para mais uma sessão onde faria aquela expressão tentadora de novo, tentadora e pecadora.
— Você sabe bem como usar esse quadril… — ele murmurou, sem tirar os olhos de seu tronco, agarrando uma parte de sua bunda e depositando mais um tapa ali, avermelhando ainda mais sua pele. arquejou, abrindo os olhos lentamente — Quantas vezes preciso te foder até você cansar?
— Por que aceitou a proposta se não é capaz de aguentar? — ela o encarou de cima, aproximando o rosto até perto de seu nariz. Jungkook passou de um sorriso provocativo para um sorriso ácido, e perdeu ambos completamente quando ela se inclinou para perto de seu nariz, encostando suas testas, ficando mais próxima do que jamais esteve.
Em um movimento, ele levou as mãos até a lateral de seu rosto, afastando-o dele, enquanto automaticamente chegava um pouco para trás.
— O que pensa que está fazendo? — seus dentes rangeram com um tom de alerta. parou e franziu o cenho.
— Eu não ia te beijar.
— Pareceu que ia.
— Não ia — ela se abaixou até a base de sua orelha, deixando um rastro de ar quente pela curva de seu pescoço até passar a língua por sua pele úmida. Jungkook mordeu o lábio inferior, fechando os olhos com o torpor, agradecendo por ela não ver o seu próprio momento vulnerável, mesmo que claramente visse o arrepio que aquilo causava em toda a sua extensão.
Agarrando sua cintura, ele mudou de posição, jogando seu corpo para o lado em um movimento rápido, deitando-a na cama com os cabelos espalhados pelo travesseiro, parecendo uma completa bagunça com aqueles olhos minguados, mas ainda cheios de tesão. Olhos que o transtornavam, que controlavam de um jeito implícito, e Jungkook jamais deixaria aquela garota controlar qualquer coisa.
— Você me olha assim… — puxou o quadril dela para a frente, encaixando-se novamente no meio de suas pernas. soltou um gemido baixo, pedinte — E até penso em ficar mais um pouco. Mas… — ele se aproximou de seu peito, beijando entre seus seios, subindo pelo pescoço — Sua hora já acabou.
E então, rapidamente, Jungkook a soltou, levantando-se da cama e notando o relógio em cima da mesinha de cabeceira. 1:50 da manhã.
ainda piscou os olhos mais uma vez, puxando a ponta do lençol quando se viu livre de toda a atmosfera sexual e encarou o mesmo lugar que ele olhou.
— Você sempre vai embora antes das 2 — ela constatou, com a voz sonolenta.
— Você é bem observadora pra quem tá transando de verdade há uma semana — ele puxou a calça jeans escura do chão, abotoando a mesma — Passar das 2 é coisa de quem pretende ficar o resto da noite. E uma hora essa merda acaba e o sol nasce, não faz muito meu estilo.
— É mais uma regra? — ela deu de ombros. Ele colocou a camisa.
— Pode tratar assim — respondeu, despreocupado, sem se lembrar de como levava a sério qualquer tipo de regra.
Quando terminou de se vestir, ele a viu se levantar, ainda enrolada com o tecido e tentando ajeitar os cabelos loucos que ficavam facilmente descontrolados depois de tanta atividade. Ela saiu na frente, olhando para o corredor, atestando a ausência de Candice, antes de parar e destrancar a porta da frente.
— Então… Até mais — disse ela, singelamente. Ele apenas assentiu, abrindo a porta para sair pela mesma, mas voltou a fechá-la rapidamente.
— Me dá o seu número — falou, em um tom que não combinava com um pedido. franziu o cenho, confusa.
— Por que você quer meu número?
— Por que a gente precisa se comunicar? — disse, retórico — Até as mais amadoras relações casuais precisam ter algum tipo de comunicação. E não dá pra ficar aparecendo aqui contando com a sorte que você vai estar, mesmo que sua vida social seja um fracasso.
— Quem disse que a minha…
— O número, .
bufou, encarando o celular estendido e dando uma última revirada de olhos antes de pegá-lo e começar a digitar. Quando terminou, voltou a devolvê-lo.
— Eu devia pedir o seu também? — ela disse com ironia. Ele riu pelo nariz, balançando a cabeça.
— Não precisa, não vou ficar com esse número por muito tempo.
Ela arqueou as sobrancelhas, mas não perguntou. Com um pequeno aceno de cabeça, Jungkook voltou a abrir a porta e murmurou um boa noite antes de deixar a casa.
📸💔🎤
Jungkook sempre parecia muito cansado quando chegava em casa.
Teoricamente, nada poderia ser culpado por isso a não ser o próprio trabalho. Viver sem horários fixos e em um ritmo que acelera e desacelera sem aviso prévio causava um tipo de ansiedade que ele tentava controlar com o máximo de rotina que conseguia manter, mesmo que nos últimos tempos nem aquilo estava conseguindo manter seus olhos fechados à noite.
Quando saiu do banho, ele andou pela sala em busca de uma dose ou duas de soju para apagar de vez. Sentia o corpo cansado, ainda que mais relaxado do que antes, mas descartava a causa da insônia como um problema da mente. Porque se olhasse para a mente, ele veria o motivo, e todo mundo era a favor de Jungkook fugir o máximo desse motivo específico.
Mas era muito mais difícil fugir das coisas quando estava sozinho.
A sala do apartamento era grande e a aconchegante, com aquele sofá que era simbólico, junto com as almofadas com estampas de pajem de copas porque ela gostava de tarô, e outro símbolo de Ás estava gravado na caixa do violão, repousado no chão ao lado da TV, guardando também aquele caderno cheio de partituras e letras inacabadas, e logo ao lado existia aquele porta-retrato simples que mostrava um dia bom, e as polaroids jogadas logo atrás…
Era um beco de fantasmas. E estavam espalhados pela casa inteira, nos mínimos detalhes, olhando pra ele da escuridão, esperando a outra parte de sua vida que tinha ido embora e nunca mais voltaria.
Ele olhou para a carta gravada no violão e então para o rosto de Ali no retrato e viu a similaridade. Ali era um Ás de copas, uma carta que começa tudo e que termina tudo, não importa o quanto você tenha acumulado na jogada.
Jungkook se inclinou para a frente e baixou a foto, voltando a andar e andar, a respirar, a mandar embora qualquer lembrança insignificante que, além de tirarem seu sono, tirariam sua sanidade.
Esse tipo de coisa não sumia de um jeito tão simples.
Sem pensar muito, ele andou até o celular jogado em cima da mesa, com o coração pulando no peito, temendo o que aconteceria, temendo que ficasse louco caso não tentasse de novo, nem que fosse pela última vez. Largando o copo, discou os números que sabia de cabeça, esperando um toque, algo que dissesse que ela ainda estava ali, em algum lugar. Que ainda tivesse esperanças que ele ligasse.
Por favor, Ali, só dessa vez. Atenda pra que eu possa ver que você ainda quer, que tudo foi um mal entendido, que você ainda me ama… A última vez, Ali, é a última…
Quando a voz eletrônica avisou sobre a caixa postal, ele grunhiu em frustração e lançou o celular com força à parede mais próxima, ouvindo o barulho dos vários circuitos trincando de uma vez só e virou-se para a janela, passando as duas mãos pelo cabelo, sentindo-se perdido e desesperado por um instante, além de se odiar ainda mais quando percebeu o quanto a queria. Ainda queria. Mesmo que ela tivesse quebrado seu coração e desaparecido completamente.
Era fácil se sentir culpado até por isso. Levou um tempo considerável até Ali Dalphin se desfazer de todas as amarras e medos no começo e dizer sim ao seu pedido, a todos os seus pedidos, porque sempre foi perigoso e dramático se relacionar com Jeon Jungkook, ainda que o amasse e parecesse certo. Quando todo o incêndio se espalhou, ele só sentia raiva e medo, as duas coisas se concretizando no final das contas. Agora ele encarava sua raiva com mais inteligência — sendo ela um rosto e um nome, e agora, sendo a garota que levava para cama — do que seu medo, que estava há quilômetros de distância, sabe-se lá com quem, ou quais planos que não o incluíam.
Mas tinha saudade, muita saudade. E esse sentimento era totalmente capaz de deixar alguém sem rumo.
4 meses atrás.
usuario0678: “Jungkook (BTS) foi visto com sua namorada, a modelo francesa Ali Dalphin, saindo de um restaurante bem caro em Gangnam. Dizem que foi ele quem pagou a conta, é claro.”
usuario9337: “Fiquei sabendo que ele paga sempre. Achei que modelos ganhavam bem.”
usuario0678: “Ela só é bonita, mas fiquei sabendo que a família é rica. Ela não devia estar procurando se casar com um conde ou coisa parecida da Europa? Por quer namorar um cara 5 anos mais novo? Os dois não tem nada a ver.”
usuario7383: “Também acho, olha pra ela, tem uma imagem muito vulgar. Aposto que fez a cabeça dele pra que fizesse todas aquelas tatuagens.”
usuario0678: “Ya! Não que não estejam bonitas, mas agora fiquei pensando se ele fez porque realmente queria ou se foi pra agradá-la. Você não precisa dessas coisas, JK!”
usuario9283 “Se ela o obrigou a fazer alguma coisa, só mostra o quanto é uma vadia interesseira. Imagina se inventa de aparecer grávida? O JK realmente não merece uma mulher assim…”
O celular foi tirado das mãos de Ali repentinamente.
— Já falei pra parar de ler essas coisas — Jungkook suspirou cansado, jogando o celular de qualquer jeito no sofá, e chegou por trás das costas da garota, ainda parada encarando a janela, e abraçou um pouco dos seus ombros — Por que não escolhe outra coisa pra ler? Você disse que queria ler aquele livro difícil do Sartre que eu não vou entender, mas posso te acompanhar… — ele soprou na base de seu ouvido, fungando o cheiro de seu cabelo delicadamente. Ali bufou, afastando-se bruscamente do garoto.
— Desgraçados — grunhiu, andando até o outro lado do apartamento, trincando o maxilar em uma atitude de controle emocional que nem sempre dava certo — Como podem dizer uma coisa dessas? Aliás, por quê espalham tantas coisas desse tipo?! São mentiras, difamações! E eu nem posso dizer nada…
— Ali, se acalma…
— Me acalmar?! Como você pode estar pedindo pra eu me acalmar, Jungkook? — falou alto, exasperada. Era a coisa errada a se dizer naquele momento — Já leu essas matérias? Os comentários, a repercussão… Ou pelo menos leu eles direito?! Viu a última que diz que só estou com você por puro interesse? Que eu até podia ser rica, mas não era famosa o suficiente?! Que obriguei você…
— Eu sei o que disseram, mas não importa, não é a verdade! Você não precisa se preocupar com especulações, Ali, por favor…
— Claro que não, já que não fazem nenhuma sobre você — disse afiada, estreitando os olhos — É sempre a garota que se fode, Jungkook. Isso é o que há de errado nas pessoas. Elas dizem o que querem dizer porque sabem que nada do que eu explique vai adiantar. Porque eu provavelmente não sou boa o suficiente pra uma celebridade tão boazinha e tão perfeitinha como você, a porra do Golden Maknae.
Ela cuspiu as palavras com desprezo, arrependendo-se logo em seguida mas não fazendo questão de mencionar isso. Seus pés bateram com pressa até a pequena bancada ao lado do corredor, depositando mais whisky no copo, uma atitude repetitiva que tinha acabado com uma garrafa inteira em uma semana.
Jungkook suspirou, sem se abalar com as palavras raivosas da namorada porque a conhecia e respeitava o momento conturbado. Ainda assim, não era justo.
— Eu tô com você nessa, Ali, e não contra você. Pode entender isso? — afirmou, pacientemente, se aproximando ao seu lado — A gente tá junto. É o que importa. Não há nada de errado em ficar nervosa, mas não precisa tratar o assunto como se você estivesse sozinha. E tudo isso vai passar, as pessoas vão esquecer e as coisas vão voltar ao normal. Ou tão normal como sempre foi pra nós dois.
A garota piscou os olhos e baixou os ombros, suspirando pesado, largando o corpo quase vazio na bancada novamente.
— Tudo bem, me desculpe, a culpa não é sua. Só é difícil ser acusada de tantas coisas e não poder se defender.
— Sei como é, não é a primeira vez que eu presencio. Mas já deixei meus advogados em prontidão, e as leis de difamação online na Coreia são eficientes, só precisamos esperar. Não tenho controle sobre o que pensam ou falam nas ruas, mas posso afastá-los o máximo que eu puder de você — ele passou uma das mãos em sua nuca, puxando-a para perto, aninhando sua cabeça em seu peito. Ali se deixou ser abraçada, mas uma ponta de exasperação ainda brilhava em sua face, com os olhos cravados no chão, a mente ainda conturbada com a única saída que tinha, que era esperar.
— Tudo culpa da maldita que tirou aquelas fotos — ela quebrou o silêncio, e Jungkook suspirou de um jeito cansado.
— Não vamos falar sobre isso de novo.
— Como você pode ficar tão calmo? — Ali se afastou novamente, frustrada em todas as células do corpo — Ela te agrediu! Você mesmo disse isso, ela te chutou ou seja lá o que fez pra conseguir fugir, e isso é o bastante. Você poderia denunciá-la, e então viraríamos esse jogo, você…
— Ali, não é assim que as coisas funcionam, já conversamos sobre. Acha que eu não faria isso, se pudesse? — ele se afastou há alguns passos, gesticulando com as mãos — Mas retaliar só vai piorar tudo, pra todo mundo. Pra mim, pra você, pra empresa… São contratos e mais contratos que impedem esse tipo de coisa, e não é como se a Hybe já não tivesse feito o possível contra eles. No fim de tudo, é o máximo que pudemos fazer — Jungkook colocou as duas mãos no quadril, observando a garota parada, com as mãos em prontidão para pegar mais bebida — Vem aqui.
Ele puxou o braço dela que já se preparava para agarrar o álcool e a abraçou, levando-a até o sofá de novo, depositando um beijo rápido em sua boca.
— Esse assunto não vai durar pra sempre, eu prometo. Vamos passar por isso, é só a gente tomar mais cuidado — sua voz era doce e sincera, confiante com o que dizia. Fez Ali gostar ainda mais dele — Já considerou minha proposta de morar aqui?
— No meio disso tudo? — ela deu uma risada fraca — Não sei se é uma boa ideia. Diriam que eu estou tentando te dar um golpe da barriga ou seja lá o que…
— Ou que eu pretendo casar com você, o que não é uma mentira — ele deu de ombros, recebendo um tapa logo em seguida.
— Quer parar de brincar com essas coisas? — Ali tremeu os lábios, com um medo irracional da ideia, mesmo que não seja a primeira vez que tinha escutado. Jungkook riu, beijando sua testa, balançando a cabeça para dispersar o assunto.
— Tudo bem, não vou mais dizer isso… Por enquanto — ele se esquivou de mais um tapa. Às vezes, o cara romântico e inconveniente que morava embaixo do exterior de idol a irritava de verdade — Mas você sabe que eu te amo. E estou disposto a passar por cima de qualquer situação pra gente ficar bem. Pode pensar no assunto com carinho?
A pergunta foi direcionada com um olhar intenso, carinhoso e profundo. Ali se sentiu sufocada por eles por um instante. Uma vontade louca e petulante de sair correndo daquela casa e nunca mais voltar. Seul estava deixando-a doente, e aquele apartamento parecia um buraco ainda mais apertado.
Mesmo assim, ela assentiu e tentou sorrir, sentindo o garoto puxar sua cabeça mais uma vez para colocar em seu peito. A respiração dele era calma e tranquila, o que sempre considerou um exercício de relaxamento para ela; ouvir os batimentos de Jungkook. Ouvir seu peito descendo e subindo. Ficar ali pra sempre.
Mas não ficou por mais nem um dia.
Na manhã seguinte, ele não a encontrou ao seu lado na cama e em lugar nenhum da casa. Ela não atendia o celular e também havia levado todas as roupas guardadas. Ele olhou para as flores que havia trazido no dia anterior, as rosas brancas que eram suas preferidas em cima da mesa e viu o post-it escrito e colado à mesa de madeira:
“Sei que você vai entender tudo bem rápido, mas precisei fazer isso. Por mim e só por mim. Você sabe o que deve e o que não deve fazer sobre isso, então, por favor, me deixa respirar por um tempo. Prometo que vamos nos acertar depois. Ali.”
Ele virou a carta e bateu na mesa, engolindo em seco, atônito e agitado ao mesmo tempo, sentindo seu futuro se tornar embaçado e incerto, mais incerto do que jamais foi.
Ali tinha ido embora. E levou todas as suas certezas junto com ela.
📸💔🎤
Jungkook acordou com mais dor de cabeça do que se lembrava.
Acordou de bruços no sofá, recebendo a luz forte do sol no rosto, fazendo-o se proteger com uma almofada e grunhir quando tentou se levantar. A imagem à sua frente era composta de vidros vazios: soju, cerveja e makgeolli. A porra do makgeolli. Ele nem se lembrava em que horas havia colocado as mãos naquilo.
Mas olhando para as fotos espalhadas no chão, talvez soubesse do motivo.
Esta não era a noite que pretendia passar.
O telefone quebrado estava do outro lado do cômodo. Quando andou até lá, ele viu se era possível montar e conseguir ligá-lo de novo, mas pelo visto as pessoas adquiriam forças estúpidas quando estavam com raiva. Ele bufou, não achando grandes problemas nisso. Havia prometido a si mesmo que se ligasse para ela de novo, mudaria de número. E realmente mudaria. Ele bloquearia todas as formas as quais ela pudesse chegar perto, de qualquer direção.
Foi assim também que puxou uma caixa de papelão no armário e começou a guardar os presentes pequenos. As coisas bregas e artesanais que remetiam a memórias tanto boas quanto ruins. Não importava. No fim de tudo, memórias eram apenas memórias. Não passariam de espectros entulhando seu espaço, impedindo que ele seguisse em frente.
Quando saiu de casa para o escritório de contabilidade, foi para dizer ao senhor Hong Chi-Su que queria uma casa. Grande, espaçosa e bonita, podendo ser transformada e maleada como quisesse e que colocasse o apartamento à venda o mais rápido possível, e que ficasse à vontade para vender todos os móveis de dentro dele.
Por fim, quando voltou para casa, já tentou começar a vê-la como um fragmento do passado. Que a vida continua e que precisava continuar, que certas mágoas não deveriam ser alimentadas, assim como certas esperanças.
Antes de fechar a caixa, ele encarou o sorriso dela escapando da foto no porta-retrato. Era do ano passado, quando os dois tinham fugido do trabalho para uma viagem relâmpago à Islândia para apreciarem a aurora boreal. Estava tão frio que era difícil se mexer, mas era mais importante registrar o momento, e enquadrar como uma lembrança de um dia bom, um dia de certezas. O cara daquela foto tinha certeza que amava a garota, e que sempre a amaria.
Jungkook bufou, puxando o objeto para fora e fechando o resto da caixa, colocando-a junto com as outras que iriam para qualquer lugar que ele não estivesse.
Ali Dalphin agora seria definitivamente limpada de sua mente e coração, mesmo que a foto no chão representasse um último fôlego inconsciente de fé. Mas uma verdade se fazia presente desde o início do dia, desde que ela deixou aquela carta medíocre e desde que se viu sozinho e perdido pela primeira vez:
Jeon Jungkook jamais se apaixonaria de novo. Nunca mais. Por ninguém.