Death Of Someone That I Love

Escrito por Maraíza Santos | Revisado por Angel

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Parte da promoção All Time Fics || "Simplesmente Acontece"

  Desde que eu aprendi a juntar as letras e formar as palavras eu sou apaixonada por romances. Esse era um dos motivos de ter escolhido a faculdade de Literatura; eu seria aquela professora de português que os alunos iriam implorar para que nunca calasse a boca e aqueles que não frequentassem minhas aulas iriam babar pela oportunidade de tê-las. Viveria cada personagem, falaria cada verso e mostraria o que está nas entrelinhas. concordava comigo quando eu falava que seria uma boa profissional e espero nunca tê-la decepcionado.
  O tipo de romance que eu mais apreciei foi o romance trágico, a segunda geração do romantismo. Sempre quis amar alguém o bastante para sentir que minha vida não valesse mais depois de sua morte. Não me leve a mal, era só um desejo besta que tive. Até a rainha da esperteza, a qual chamamos de vida, fazer isso comigo.
  Aconteceu em uma das sextas-feiras em que eu saía com meu marido - na época namorado - . Nós estávamos em um relacionamento sério, ele havia me levado uma semana antes para conhecer seus pais e eu estava meio eufórica. se arrumava para ir a um barzinho perto do nosso apartamento como ela fazia quase toda semana desde que havíamos nos mudado para morar juntas. Naquele dia eu cogitei ficar com ela em casa para comermos besteiras enquanto ela reclamava dos homens e eu a escutava sem dizer uma palavra — melhor eu escutando do que um barman qualquer — porém "destruir a minha noite", nas palavras dela, não estava no plano da minha melhor amiga. Saí de casa com uma pontinha de dor no coração em deixá-la sozinha, mas quando vi me esperando com uma rosa na mão e um sorriso, tudo se dissipou em minha mente. Ele me conhecia bem e me levou a um restaurante chinês — eu adorava comer comida chinesa! Foi uma noite muito agradável, por parte, ver meu namorado lutando contra aqueles pauzinhos sempre foi divertido, principalmente pelo fato de ele nunca aprender a usá-los corretamente e sempre acabando por pedir um garfo para o garçom.
  Depois do jantar, nós decidimos voltar para casa mais cedo porque ele teria que acordar de manhã por causa do trabalho. Lembro que tocava uma música romântica na rádio desconhecida e eu estava rindo junto com ele dentro do carro enquanto falávamos da forma estranha que ele pegava os palitinhos e insistia que um dia iria aprender a usá-los. Quando chegávamos perto do barzinho da esquina, nós paramos no semáforo, porém um carro vermelho avançou em nossa frente não parando o carro. franziu o cenho já pronto para criticar aquele babaca, mas o barulho do atropelamento foi ouvido. Eu gritei em pavor no momento em que vi o corpo magro e baixo de voar pela rua coberto de sangue. Antes que meu namorado estacionasse o carro direito, eu já estava saindo do carro em desespero. Meus olhos estavam cheios de lágrimas e minha vista embaçada, eu corri entre tropeços em direção ao corpo de . Os olhos delas estavam arregalados e estáticos. Embaixo de seus cabelos lisos e castanhos uma poça vermelha se formava embaixo de sua cabeça e o sangue escorria pelo asfalto. Eu sabia que ela estava morta, mas eu não conseguia acreditar. segurou meus braços quando viu que eu iria tentar acordá-la, então, apenas me limitei a gritar o nome de minha melhor amiga aos prantos. Ainda consigo escutar minha voz angustiada gritando. . . . E ela continuava lá: olhos imóveis e o sangue pintando a avenida. Um grupo de pessoas curiosas se aproximou e outras já ligavam para a emergência.
  Em um pequeno momento de lucidez, olhei em volta à procura do irresponsável que dirigia o carro e não vi ninguém, nem o automóvel. Mais tarde, quando falamos com a polícia, descobri que havia anotado o número da placa. Ele foi forte e me ajudou por toda a semana que se seguiu. Eu não conseguir continuar naquele apartamento, ele parecia tão vazio sem e minha cabeça fazia questão de criar mil imagens dela em cada canto em que olhava. Lembro de que eu não conseguia parar de pensar em nosso futuro juntas que foi interrompido. Nunca tinha parado de imaginar que ela não estaria em minha formatura, meu casamento ou mesmo quando eu tivesse meu primeiro filho. Sempre pensei que um dia ela iria conhecer um cara super legal, que pararia de achar que todos os homens são iguais, que casaria e teria diversos filhos para me chamarem de tia. Pense só por um minuto o que me atingiu quando percebi que isso nunca iria acontecer.
  Na semana depois de seu enterro eu senti vontade de morrer. sempre falou que nunca ia querer isso, porém eu desejava minha amiga de volta! Nem que seja nessa ou em outra vida, eu almejava estar ao lado dela. Eu enlouqueci completamente; planejei diversas formas de me suicidar naquela semana. Perdi minha lucidez de forma que se não tivesse estado de olho em mim, sabe se lá onde eu estaria nesse momento. A falta que me fazia corroeu pelos meus ossos e a escuridão tomou conta de minha mente. Nunca pensei que amaria alguém tanto o quanto a amei e sinto-me mal até hoje por nunca ter amado o tanto que deveria. Eu passei a maior parte do tempo fazendo suposições em minha mente: e se eu tivesse ficado com ela naquele dia e desistido do meu encontro? E se ela tivesse demorado mais um pouco no bar? E se ela recebesse alguma ligação que a fizesse parar na calçada? E se? E se?
  Aquelas frases me perseguiam como fantasmas e tudo o que eu queria era que a dor acabasse. Depois que minha tentativa de morrer tomando diversos remédios que me fizeram passar mal e ir ao hospital, percebeu que a situação estava cada vez pior e decidiu me levar para morar em sua casa por um tempo. Obviamente eu não queria ir com ele, mas a ameaça de falar com meu pai tudo que estava acontecendo me deixava encabulada. Meu pai sempre fora muito coruja, então, se ele soubesse do que estava acontecendo comigo ele enlouqueceria — ele já tinha ficado bastante preocupado quando soube da morte de .
Lembro de passar horas abraçada com ele no meio do seu minúsculo apartamento ouvindo palavras de conforto que pronunciava, contudo eu ainda não queria continuar respirando. Tudo que ele dizia não entrava em minha cabeça, até que a claridade se pôs a voltar a mim.
  Era um sábado e eu havia acabado de acordar. Eu não queria me levantar, eu não queria ter acordado. Queria passar todo o dia lá deitada até que a morte tivesse pena de mim e me levasse até . Ela era alguém tão bom, alguém tão inteligente! Por que ela e não e eu? Aqueles pensamentos foram interrompidos quando deitou-se ao meu lado. Ele demostrava estar tão cansado e eu sabia que a culpa era minha — ele queria cuidar de mim. Aquela semana foi tão turbulenta pra nós, mas eu não sabia o quanto até vê-lo suspirar e lágrimas descerem pelo seu rosto. Ele estava sendo tão forte desde a morte de que nem cogitei a possibilidade que ele podia está sofrendo junto comigo, afinal, ela também era sua amiga.
  — . — O cutuquei. — O que foi?
  Depois de alguns segundos de silêncio, ele pareceu voltar à Terra. Com a voz embargada, ele falou-me sua angústia.
  — Eu não quero que você morra. — Ele disse desesperado. — Não aguento ver você triste e você está no fundo do poço! Meu Deus, eu te amo , você não entende? Eu te amo demais, porém não é o suficiente pra você querer viver comigo? Eu também era amigo da e sinto falta dela, mas, porra, eu te amo e ela te amava também! Se você quer a morte, se jogar de uma ponte, tudo bem, mas me leve junto. Porque já é difícil o bastante viver sem a me importunando e me destruiria viver sem a mulher da minha vida.
  Eu não sei qual daquelas frases que fez minha cabeça funcionar direito. Foi a primeira vez que ele dizia que me amava, já que o máximo que eu escutava era um "eu te adoro." E logo o beijei com todas as forças que tinha.
  Não vou dizer que a partir daí a dor foi embora e tudo foi mil maravilhas, mas sim que a partir daí percebi que eu não podia viver daquele jeito; que devia seguir em frente. Era isso que iria querer.
  Em resumo, hoje, depois de seis anos desde a morte da minha melhor amiga, vejo que ela nunca realmente me deixou. Eu sou muito grata à vida por ter me dado a oportunidade de um dia ter sido amiga de alguém tão especial. sempre estará aqui em meu coração e nem mesmo a morte poderá nos separar.

FIM



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