Daylight

Escrito por Biiah Fletcher | Revisado por Natashia

Tamanho da fonte: |


I could sit for hours finding new ways to be awed each minute. (Crack The Shutters - Snow Patrol)

  Era mais um dia comum de frio em Nova York. Não nevava, não ventava, mas também não tinha sol. De tão nublado era possível confundir onde terminava o céu e onde começava a floresta de concreto. Pessoas corriam apressadas pelas calçadas com suas mantas gigantescas e gorros de lã chamativos. O clima do apartamento não era muito diferente. O aquecedor havia emperrado novamente no começo da semana. E para completar, o termostato estava quebrado. Mas apesar de tudo, a temperatura parecia bem mais elevada deste lado da janela. esfregava as mãos inutilmente com o intuito de esquenta- las, mas não obtia sucesso. Olhou para a cama se perguntando como conseguia dormir com aquele frio. O típico frio pré- neve, dezembro era sempre tão malvado. Mas também, quem não conseguiria se aquecer, estando coberto até a cabeça? Sorriu baixinho imaginando a cara amassada do namorado. Voltou a encarar a janela ainda na poltrona vermelha que estava sentada. Ela parecia cada vez mais fria. Em instantes uma luz começou a entrar pelo vidro, desembassando-o e iluminando um pouco o quarto. O sol finalmente havia saído para melhorar a situação. Na rua algumas pessoas olhavam para cima, tamanha a surpresa. Mas infelizmente a janela não estava aberta o suficiente para a luz do sol bater sobre a poltrona de chenile onde estava sentada. Um pouco frustrante, já que o que ela mais queria era um pouquinho de calor do sol para se aquecer. A contra gosto abriu mais as persianas, morar no 7º andar não era algo tão eficiente quando seu apartamento fica no centro de Nova York! As persianas fizeram um pouco de barulho e deixaram uma luz amena entrar no cômodo, devido o exagerado tamanho da janela, mas isso não serviu para que movesse um músculo mostrando que tinha acordado. O sol agora batia em suas pernas cobertas pelo pequeno short do pijama. Puxou as mangas compridas da camiseta, cobrindo o dorso das mãos brancas de unhas pequenas e esfregou- as sobre os antebraços passando mais calor ao próprio corpo. Virou contra a janela ficando de frente para a cama e observou a montanha de cobertores brancos. Alguns travesseiros pretos jogados pelo chão, algumas roupas espalhadas pelo quarto devido a noite passada. A lembrança da noite pregou um sorriso bobo em seu rosto. Que outra forma seria melhor para se aquecer em uma noite fria, afinal? Subiu na cama sentada sobre os joelhos ainda nos pés do móvel e viu o relógio digital marcando 10:45 do seu lado da cama. Engatinhou devagar até a cabeceira, de forma sorrateira para não acordar . Ele dormia do lado direto de bruços com o rosto virado para a porta de entrada. Esfregou as mãos novamente de forma rápida e logo depois repousou- as sobre a lombar e as costas do namorado. Choque de temperatura foi forte.
  - Hora de levantar, dorminhoco! - sussurrou no ouvido direito de .
  - Agora não. - resmungou arrepiado.
  - Anda, amor. - Ela correu as mãos geladas pelas costas quentes deles até os ombros apertando com cuidado.
  - Será que poderia me acordar mais tarde? - Ele levantou o rosto apenas para que o som não saísse abafado.
  - Não! - Ela riu nasalado e continuou o carinho com as mão fazendo todo o trajeto pelas costas nuas.
  - , me deixa dormir. - Ele virou de frente para ela ainda deitado.
  - , você tem horário. - aproveitou para passear com as mãos pelo abdômen de .
  - Suas mãos estão geladas, sabia? - Ele se contorceu de frio.
  - Eu sei. - Ela sorriu de canto e percorreu o caminho do pescoço até o peito com as mãos geladas sobre ele.
  - , isso não vale. - Ele segurou as mãos dela e então a encarou. A luz da janela batia em diagonal sobre seu corpo modelado pelo blusão de lã colado.
  Ela estava radiante com os raios solares atravessando os cabelos castanhos curtos e dando um brilho novo ao seu rosto. Ele ficou admirado. O sol parecia gostar dela, parecia agraciar cada pedaço de sua pele clara. Ele olhava para o rosto da namorada com carinho e fascinação. Abraçou- a de forma terna e impulsionou os corpos para a esquerda de encontro com o colchão. Quando suas costas bateram no edredom, começou a rir olhando para a janela. Voltou a atenção para que ainda a observava como se analisasse cada detalhe nela.
  - 'Tá tudo bem ? - Perguntou ainda rindo.
  - Você ´ta tão bonita! - Ele escorregou a ponta dos dedos da mão direita pela bochecha dela enquanto mantinha a mão esquerda por baixo de suas costas.
  - Eu, bonita? De pijama? Ainda não acordou ? - riu ficando corada.
  - Você é linda, só não sabe! - Ele disse acarinhando- a mais.
  - Para , você sabe que eu não sei receber elogios. - Ela disse escondendo o rosto no ombro dele.
  - Então me deixa te ver. - afastou o cabelo caído no rosto de , encarando- a ainda mais admirado.
  - , para de me olhar assim. - disse ficando vermelha.
  - Então para de me hipnotizar. - sussurrou contra os lábios dela. Rosou os seus nos dela e depositou um selinho demorado ali. Distribuiu selinhos pelo rosto de devagar, tomando todo o cuidado temendo quebrar sua menina. Parou de súbito observando os raios solares brincarem sobre o corpo dela, aquecendo a pele branca e fria como neve. Não sabia como parar e não queria deixar de observa- la. A vontade era tanta que de repente se viu com os lábios grudados no pescoço dela, distribuindo mais beijos. Ela o abraçou com as mãos geladas no pescoço e desceu- as pelas costas nuas do garoto que se arrepiou com a troca de temperatura.
  - Cold hands, warm heart. - sussurrou no ouvido de , que soltou uma risada contra a pela da garota. Aproveitou a distração e colocou a mão direita por debaixo do blusão de lã dela, tocando de leve a cintura fina que a menina ostentava. Teria todo o cuidado com a preciosidade que tinha em mãos agora. Voltou a beijá-la com toda a calma do mundo quando o estridente som do celular quebrou o silêncio perfeito que havia se formado no quarto. Ele jogou a cabeça com força no colchão não querendo acreditar naquilo. Maldito celular, maldito desocupado, maldito...pai? observava o visor do telefone, que segurava em frente ao seu rosto, um pouco curioso. A contra gosto atendeu.
  - Alô! - disse derrotado.
  O som que saia do telefone era ininteligível para , então resolveu levantar da cama, afinal não era da conta dela. Quando virou o corpo e ameaçou se levantar, segurou seu braço puxando- a ao seu encontro. Quando os corpos se chocaram ele a abraçou com a mão direita enquanto segurava o telefone com as esquerda. Ficaram deitados na famosa conchinha, ele repousou o queixo sobre o pescoço dela e enterrou o rosto em um emaranhado de ondas castanhas que cheiravam à flores. Ela levou as mãos até o cabelo curto dele enrolando os dedos nos fios negros.
  - Não pai, eu não esqueci. Pode deixar. - fazia carinho no braço da namorada e falava abafado pelos cabelos dela. mantinha os olhos fechados, não se importando muito com o telefonema.
  - Eu vou estar. Dá para confiar em mim? - falou um pouco mais alto ainda com o rosto nos cabelos dela. Era um calmante natural para ele, aqueles cabelos macios com cheiro de jasmim e mel.
  A garota suspirou e se aninhou mais nos braços no namorado. Tudo estava tão calmo, mas então sua mente começou a correr em pensamentos confusos. Tinha que contar logo a o que estava acontecendo. Ela estava mantendo em segredo, a tempo demais, uma novidade que mudaria a vivência dos dois. Bom talvez não mudasse tanto assim. E logo sua mente maldosa rodou em um turbilhão de pensamentos ruins. E se ele não gostasse da novidade? E se ele não aceitasse? Mas era bom de mais para ser verdade. Alguém mais cedo ou mais tarde a cutucaria gentilmente e a acordaria do seu devaneio, dizendo que tudo não passara de um sonho. Ela foi despertada de sua conversa mental com o baque surdo do celular caindo sobre o colchão à sua frente.
  - Não suporto meu pai tentando dar uma de responsável pra cima de mim. - suspirou pesadamente mostrando descontentamento.
  - Calma meu amor, ele só quis ajudar. - encostou as costas no colchão fitando o teto, ficando de perfil para .
  - Ele ajudaria muito mais se não me ligasse em horas inconvenientes. - murmurou insatisfeito.
  - Ele não tinha como imaginar, . - sorriu de canto, nasalado, divertida com o muxoxo do garoto.
  - Tudo bem, agora temos todo o tempo do mudo. - Ele sussurrou no ouvido da garota movendo as pontas dos dedos em movimentos circulares no antebraço dela e a apertando em seus braços.
  - Nada disso. Teu pai te ligou lembrando um compromisso. Você tem hora. - encarou- o, mexendo no cabelo dele com a mãe direita.
  - Porque eu disse que ia ajudá-lo essa semana? Só me diz, por quê? - fechou os olhos em descontentamento se lamentando.
  - Por que você pensou que seria bom passar um tempo a mais com ele antes de viajar, lembra? - beijou as maçãs do rosto de carinhosamente.
  - Mal vejo a hora de sair em turnê logo. - Ele disse ainda de olhos fechados, aparentando cansaço segurando a cabeça com a mão esquerda.
  - Muito obrigada pela parte que me toca . - reclamou em zombaria cruzando os braços e fazendo bico.
  - Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. - abraçou a garota forte.
  - Não, não sei. - Ela manteve o bico, ficando emburrada.
  - Own, sua bobinha. Eu não consigo ficar muito tempo longe de você. - brincou com o nariz da namorada e distribuiu selinhos pela face dela.
  - É bom mesmo. Eu quase morro toda vez que você viaja. - desfez a cara de brava e sorriu com o carinho do namorado.
  - Seu eu pudesse eu te levava. - disse após um selinho demorado, encostando a testa na dela se olhos fechados.
  - Eu sei amor. Mas esse é um momento de vocês. Vocês e dos fãs. - abraçou de forma carinhosa colocando as mãos, ainda geladas, nos ombros dele.
  - Não é todo mundo que entende isso. Obrigado. - tinha a voz tremula de arrepio no começo da frase, mas relaxou e beijou a bochecha de estralado.
  - Eu também sou fã, esqueceu? - sorriu fazendo um cafuné no cabelo bagunçado dele.
  - Como eu poderia esquecer da minha fã 1#? - escondeu o rosto na curva do pescoço dela e riu nasalado contra a pele da garota.
  Os dois estavam em uma sintonia perfeita, de dar inveja. Ficaram deitados ali por mais alguns minutos, absortos do tempo e do espaço., sendo iluminados pelo sol. Apenas um curtindo o outro, com seus comentários sobre qualquer coisa, sobre qualquer um. Estavam juntos aproveitando o tempo. Cafuné, carinho no rosto e nas costas, palavras delicadas. Um momento de cumplicidade e conversa, com toques delicados e coisas amenas. Até que surge um som que quebra o ritmo romântico. Um borbulho súbito, um ronco no estômago.
  - Alguém está com fome! - brinca cutucando de leve a barriga de .
  - Morrendo. Preciso alimentar meu monstrinho. - disse segurando as mãos de que não parava de cutucá-lo.
  - Ui, monstrinho. - Ela continua tentando cutucar o abdômen do namorado.
  - , para! Vamos comer, por favor. - Ele ria da tentativa frustrada dela de o incomodar.
  - Faz assim. Vai pro banho que eu faço o café. Pode ser? - disse sentando na barriga dele.
  - Eu pensei que fossemos tomar banho juntos. Sabe, aquele negócio todo de economizar água. - brincou sentando de costas para a janela envolvendo- a com os braços e observando os lugares onde o sol tocava.
  - Não mesmo. Seria o contrário, isso sim. - Ela riu passando as mãos pelo pescoço dele e bagunçando os cabelos da nuca.
  - Mas é tão bom. - Ele disse abraçando mais apertado trazendo o corpo dela para si.
  - Eu sei, só que nós não temos tempo. - Ela ficou mais alta que ele, então aproveitou para beijar- lhe a ponta do nariz.
  - 'Tô ficando cada vez mais arrependido. - Ele disse fazendo um carinho nas costas dela com as mãos por debaixo da blusa de lã.
  - Do quê? - Ela perguntou curiosa afastando o rosto.
  - De levantar daqui. - Ele disse observando o rosto dela iluminado pelos raios solares. Deixando- a mais bonita, mas radiante.
  - Deixa disso, vem. Vou fazer o seu favorito. - beijou sua testa e levantou sem aviso prévio.
  - Omelete? - perguntou sorridente parecendo criança em dia de aniversário.
  - Aham! - balançou a cabeça em aprovação e o puxou da cama pelas mãos.
   levantou e abraçou por trás. Caminharam abraçados até o banheiro, ele com a cabeça encaixada no pescoço dela, de onde ele jurava que vinha um cheiro de baunilha delirante. Ele fungava, corria com a ponta do nariz sobre a pele dela, sussurrava bobagens no ouvido e ela só sorria. Entraram no banheiro e a luz dava um ar característico de limpeza, luminosidade. foi até o box e começou a se despir enquanto lavava o rosto e escovava os dentes. Ele abriu o registro e se deixou molhar pela água morna. Na da mais relaxante que a água quente sobre a pele fria. O vidro do box logo ficou embaçado, então ele fiz um círculo de visão para poder observar a namorada. Como podia ser tão linda? E ficava ainda mais banhada pela luz do sol, fazendo coisas simples como prender o cabelo, ou lavar as mãos. A luz a deixava em destaque no meio de tantos móveis monocromáticos e minimalistas que compunham o quarto e o banheiro. Deixava- a com um ar de especial, de peixinho fora d'água. Ela parecia uma bonequinha perdida em tanto cinza. Talvez aquilo o deixasse tanto hipnotizado. Ela tinha a cor que faltava na sua vida, ela era o brilho especial. Ficou encarando- a por tanto tempo que não notou quando ela fechou o armário de baixo da pia e dirigiu seus olhos expressivos para ele. Ela sorria feita boba, com cara de quem ia aprontar alguma. Sorriu em resposta já esperando algo simples dela. saiu do banheiro em direção ao closet no canto afastado da janela. Abriu a parte de e roubou um casaco de moletom, preto da Hurley e sua Ugg usada como pantufa de inverno. O casaco do namorado ficava tão grande nela que cobria muito mais do que o short de pijama, chegando quase até os joelhos. Observou sua figura no espelho por poucos segundos aprovando o visual 'acabei de acordar' e indo até a cozinha. Lá colocou a mão na massa. Ligou o rádio e deixou que tocasse, enquanto buscava tudo o que fosse necessário para um bom desjejum. Café passado, torradas, ovos mexidos, bacon e por fim a omelete de . Ela colocou tudo em uma frigideira e deixou o fogo fazer seu trabalho com a clara e a gema derramada. Estava entretida na façanha de virar a massa sem quebrar o circulo que nem percebeu estar sendo observada. estava parado na soleira da porta, com as costas displicentemente encostadas no batente e os braços cruzados em frente ao peito. Ele sorria ao ver a namorada cantarolando com junto ao rádio a música 'Playing God - Paramore'. Ela parecia animada olhando para a frigideira, ansiosa. Quando viu que ela viraria a omelete ficou animado. Ela pegou um guardanapo, segurou o cabo da frigideira e respirou fundo. 3, 2, 1 e pronto. Virou a omelete com maestria. Sorria em comemoração olhando admirada para seu trabalho. Foi acordada do transe por palmas solitárias vindas da porta, sendo . Ele caminhava até ela com os lábios abertos em um sorriso feliz, dividindo a alegria da namorada.
  - Meus parabéns amor! - Ele disse segurando o rosto dela e a beijando.
  - Você viu? - Ela perguntou apontando para a frigideira.
  - Vi sim, fiquei muito orgulhoso. - Ele emendou sorridente.
  - Foi tão legal. Finalmente! - Ela colocou as mãos no pescoço dele sorrindo ainda.
  - Só falta virar panqueca agora. - Ele alfinetou para ver a reação dela.
  - Isso, esnoba seus dotes culinários na minha cara. - Ela virou emburrada de frente para o fogão ficando de costas para ele.
  - Hey, meu amor! Isso foi uma brincadeira. - disse abraçando ela forte e respirando fundo perto dos cabelos cheirosos.
  - Não gostei da brincadeira - cruzou os braços, fazendo bico.
  - Não faz bico que eu não resisto. - beijou a nuca dela tentando amolecer o coração de manteiga dela.
  - Não me importa. - segurou um arrepio com todas as suas forças.
  - , desculpa. Eu prometo te recompensar. - disse abrindo o zíper do casaco de e a abraçando por dentro dele.
  - O que eu ganho com isso? - perguntou sugestiva.
  - Um prato de panquecas. - sorriu perto do ouvido dela.
  - Feitas por você? - Ela perguntou virando de frente para ele.
  - Aham. - Ele beijou os lábios dela devagar, com calma, como se massageasse o local. Tinha ritmo, era suave e carinhoso. Se separaram ao sentir um cheiro estranho.
  - Ah não! - reclamou virando sua atenção para o fogão.
  - Eu dou um jeito. - desligou o fogo enquanto ela pegava uma espátula. Retirou a omelete da frigideira e analisou o estrago.
  - Merda! - reclamou batendo uma mão na testa e a outra na cintura.
  - Ah, dá pra comer, foi só um lado. - disse cortando a parte queimada da omelete.
  - Tão pragmático você. - brincou ainda chateada.
  - Sou homem meu bem. Sou prático de nascença. - Ele respondeu com um sorriso dando um selinho nela.
  - Eu prometo fazer um bem melhor amanhã. - Ela disse olhando para ele com o olhar pesaroso.
  - Nada disso, amanhã eu vou fazer panquecas. - Ele disse sorrindo e a abraçando.
  - Exibido. - brincou.
  - Ladra de casacos. - rebateu.
  - O que eu posso fazer se os seus casacos são mais quentinhos do que os meus? - Ela colocou o que faltava na mesa enquanto ele sentava de frente para o fogão.
  - Quem manda comprar Kors e Acne? Um moletom que é bom. - Ele serviu uma xícara de café.
  - Anda bisbilhotando meu armário? - Ela sentou depois de pegar o suco de laranja.
  - Não, vi as sacolas na sala ontem a noite. - Ele sorriu debochado.
  - Sem graça. - Ela pegou uma torrada e mordeu.
  - Tudo bem, pode assaltar meu guarda roupa sempre que quiser. Embora você fique bem melhor sem eles, sem nada. - Ele segredou aproximando o rosto por cima da mesa.
   ficou vermelha, não esperava pelo 'elogio'. Abaixou a cabeça como reação, sem nem pensar. Foi um impulso e logo já tinha uma mão acariciando sua bochecha. Não foi preciso dizer nada. Os dois sorriram e continuaram seu café com conversas amenas. Ele contava sobre o que faria para o pai. A ideia da galeria no centro parecia incrível, mas seu pai não confia em qualquer um para transportar suas preciosidades pela ponte do Brooklyn, sair da ilha de Manhattan então. Isso entraria para a história de vida do homem mais velho. Era animador ouvir contar sobre sua família e infância. Sobre os anseios dos pais e sobre seus projetos. era um pouco mais contida em suas histórias, ainda tinha projetos que gostaria de realizar, e um deles estava cada vez mais próximo. Mas seria de difícil acesso. Conhecendo como ela conhecia, sabia que ele não gostaria nada da ideia que iria lhe propor. Ciumento para mais de metro, ele nunca aprovaria o que ela estava prestes a fazer. E sabia que precisava contar a ele sobre o convite que recebera. E precisava ser logo, ela tinha exatos 7 dias para dar a resposta a Beth, 7 dias antes da viagem do namorado, 7 dias para organizar suas coisas. Bethany era uma boa amiga, aceitaria, é claro.
  - , eu preciso te contar uma coisa. - começou ajeitando a postura na cadeira.
  - O quê? - perguntou bebericando seu segundo café.
  - Eu não sei como começar, mas... - foi interrompida por uma risada nasalada.
  - Oras, pelo começo. - riu e sentou melhor para dar toda a atenção que merecia.
  - Bom, você se lembra da minha amiga Beth? - começou pelo mais fácil.
  - Beth, a Bethany? A de cabelos curtos e tatuagem de dragão? - perguntou fazendo pouco esforço para lembrar.
  - Essa mesma. Lembra que eu te contei que ela tinha ido morar na Austrália como fotógrafa? - Ela sorriu para ele.
  - Lembro, porquê? - Ele sorriu de volta encarando- a.
  - É que ela e mais uns amigos estavam montando um grupo para um curso de lomografia. O grupo já estava fechado, mas uma garota teve que desistir porque ficou grávida e não poderia passar uma semana no deserto, como consta no programa. - gesticulava com as mãos e falava com pressa.
  - Sei. - ergueu uma sobrancelha, curioso.
  - E bom, ela me convidou para ocupar a vaga. - sorriu de canto, bem fraco, esperando uma reação.
  - Na Austrália? - ainda observava a namorada sério, mas por dentro ria da cena.
  - Sim. - estava ficando apreensiva apertando os dedos.
  - Sozinha? - Ele questionou erguendo novamente a sobrancelha.
  - Na verdade na casa dela. - Ela respondeu mordendo o lábio inferior.
  - Por quanto tempo? - descruzou os braços e os colocou sobre a mesa.
  - Dois meses. - o encarou passando a mão pelo cabelo.
  - Exatos dois meses, o tempo da turnê. - Ele entrouxou o lábio no canto esquerdo.
  - É. Olha, eu preciso saber o que você acha. E então ? - Ela balançava o pé esquerdo embaixo da mesa.
  - Eu não sei . Não gosto da ideia de você viajar bem na época que eu estou fora. Vou ficar preocupado com você lá sozinha... - Começou, mas ele foi interrompido.
  - Não vou ficar sozinha, vou Ficar com a Bethany, com a Joy e com o Jordan. - A voz dela foi diminuindo gradativamente.
  - Jordan? - perguntou pensando que não tinha ouvido direito.
  - É! - abaixou o rosto encarando a mesa.
  - Aquele Jordan? - começava a ficar exaltado.
  - Sim. - respondeu monossilábica balançando a cabeça afirmativa.
  - O desgraçado do Mackenzie? - bateu com a mão na mesa, levantando furioso.
  - Amor, ele é só mais um dos 15 alunos. - tentou amenizar a informação.
  - Não. - Ele disse simplesmente com as mãos na cintura.
  - Não? - Ela levantou da cadeira em dúvida.
  - Não, não te quero perto daquele imbecil. Ainda mais depois do que aconteceu. Eu vou estar em turnê, não posso ficar com o pensamento longe dos shows. Não quero ficar preocupado com isso. - disse como se aquela fosse a melhor explicação do mundo.
  - Você está se ouvindo? - cruzou os braços em frente ao corpo.
  - Sim, e me parece bem razoável. - Ele cruzou os braços parecendo ter toda a razão.
  - Razoável? Não de uma de louco, são dois meses na Austrália com as minhas amigas de faculdade. - Ela tentou argumentar sem partir para a ignorância.
  - E com aquele idiota. - Ele gritou apontando para o nada como se apontasse para ele.
  - Isso também não me agrada, mas não é um motivo para perder essa oportunidade. - Ela colocou o cabelo que atrapalhava atrás da orelha.
  - Se quer uma oportunidade eu crio. Te pago um professor particular, mas você não vai para a Austrália. - Ele apontou para ela.
  - Vou sim. Você não é meu dono. - tomava uma posição de que não se importava.
  - , entende. Eu não posso ter distrações. - bufou e balançou a mão em trejeito.
  - Então é só para isso que eu sirvo? Te distrair. - ergue uma sobrancelha.
  - Não põe palavras na minha boca . - Ele tinha o rosto vermelho em desagrado e sua frase soava como um aviso.
  - Não muda de assunto . Isso é muito infantil. - Ela cruzou os braços e cerrou os olhos balançando a cabeça em negativa.
  - Infantil ou não eu não te quero perto daquele cara. Você não vai para a Austrália. - Ele se mostrou decidido através do olhar.
  - Eu não sei por que te contei. Poderia ter ido e você nunca ficaria sabendo. - Ela bufou derrotada.
  - Você não seria capaz. - apertou as mãos no encosto de metal da cadeira.
  - Nunca duvide de mim. - colocou as mãos na cintura imponente. a encarou por longos segundos antes de levantar e sair da cozinha. Depois foi tudo muito rápido. O barulho das chaves sendo retiradas do aparador, os passos pesados dele pelo laminado e a porta da frente batendo forte. deu um pulo de susto com o baque. Encarou a mesa do café. Parecia uma zona de guerra, uma bagunça só. Ela começou a respirar descompassado, sentiu uma tremura no queixo e um aperto na garganta. Sem explicações, ficou sentada à mesa observando ao redor e recapitulando tudo que foi dito. Cruzou os braços abraçando o próprio corpo e tremeu. O apartamento pareceu perder o brilho. Estava escuro desde que passou pela porta de entrada. Como se o sol o seguisse e a tivesse abandonado. Ficou frio, silencioso e estranho. O peso das próprias palavras pesava sobre os ombros agora. Se tivesse ficado calada, ou se não tivesse falado sobre Jordan talvez fosse mais fácil. Por mais que tentasse, não conseguia entender o lado de . Era apena um tempo na Austrália, que mal havia nisso? Por que ele tinha surtado? Suspirou cansada. Percebeu que chorava quando uma gota grossa caiu sobre sua mão direita. Secou o rosto com a manga do casaco e levantou da cadeira. Jogou os pratos com comida na pia sem se importar. Sentia- se cansada, com dor física, tensão muscular, tudo. Abriu o registro da torneira e deixou a água cair, uma água gelada que fazia arder os nós dos dedos. Tentou lavar a louça, mas se sentia fraca. Lavar a louça após uma briga daquelas era masoquismo. Fechou o registro e secou as mãos. Jogou fora toda a comida, a omelete, as torradas, o café, os ovos e o último bacon. Foi então que notou como as coisas tomaram uma proporção maior do que lhes cabia. nem ao menos tinha comido o último bacon. Isso seria um problema. Fez o que pode para dar um jeito na cozinha e sai para o quarto. Na entrada do cômodo retirou as botas de frio, observou a cama por fazer e como ela estava sem graça agora. O recinto estava escuro e frio, assim como a cozinha. Uma meia marrom perdida no meio de um mar branco em cima da cama. Um perfume característico de pimenta, baunilha e bergamota com um toque de madeira molhada invadiu suas narinas. O perfume dele invadiu suas narinas. Durante o curto espaço entre a porta do quarto e a do banheiro, foi retirando a roupa. Parou em frente ao box e notou que ele ainda estava úmido, o chão tinha algumas possas do banho dele. Abriu o registro e entrou embaixo da cascata de água quente. Tremeu ao choque com a troca de temperatura. Tomou um banho no automático, ela parecia estar fazendo tudo no automático. Trocou de roupa, escovou os dentes, colocou o gorro e caminhou a procura do celular pela casa. Ao pega- lo em mãos percebeu as sms recebidas, três.
  "Oi amiga, como foi? Contou ao "; "Tô curiosa. Reservei no leviatã 13h30 certo" Não se atrase, bj ?
  "Lindona! Eaí, que horas hoje? Sabe como é, me ligou as 10 da manhã. Nunca que eu ia atender. Quero detalhes da noite, xx "
  "Trevor não para de perguntar que horas vamos ver a tia . Estamos com saudades, quando estiver pronta, me ligue. Nos encontramos no Central Park as 15h, tudo bem? Beijos da Mana "
  Respondeu as mensagens caminhando até a saída. Bateu com força a porta e girou a chave uma vez apenas. Chamou o elevador ainda digitando. Enviou as mensagens e quando chegou a entrada do prédio, pediu um táxi ao porteiro. Colocou os óculos escuros antes de entrar no carro e sorriu fraco para o porteiro e para o motorista. Indicou o endereço do restaurante e esperou chegar em seu destino.

Goodnight, hope that things work out all right? (Goodnight Goodnight - Maroon 5)

  - Desculpem o atraso. - disse assim que alcançou a mesa das amigas perto da janela.
  - Tudo bem. - sorriu complacente.
  - Como sempre dona . Já não me surpreendo mais. - deu uma quebrada de pescoço, como quem esta cansada e riu nasalado.
  - Sua boba. Eu venho da ponta da ilha, podia ter marcado mais perto. - disse colocando sua bolsa em uma cadeira ao lado de e sentando de frente para ela com de frente para a cadeira vazia.
  - Não estava trabalhando? - perguntou curiosa.
  - Folga... Oh meu Deus , o que é isso? - perguntou chocada depois de dar atenção ao modelito da amiga.
  - Que foi? - observava que analisava cada canto da sua vestimenta.
  - Como você me sai de casa usando isso? Parece que está de fossa a anos. A quanto tempo esse blusão de lã não vê o sol? - questionou levantando o braço esquerdo da amiga como se analisasse as mangas.
  - , que insensibilidade. - repreendeu a garota lhe dando um tapa na mão que segurava o braço de .
  - Ele é novo . Eu o comprei na verdade para a época de neve, mas não tinha cabeça para pensar hoje cedo. Pequei qualquer coisa no armário. - deu de ombros tomando um gole de sua água.
  - Dá pra ver. Querida isso não pode. Nós moramos em NY, na ilha de Manhattan. É quase obrigação estar bonita. - sorriu chamando o garçom com o dedo indicador levantado.
  - Podemos estabelecer prioridades aqui? nos fale de como foi hoje de manhã. - cruzou as mãos e as colocou embaixo do queixo com os cotovelos na mesa mostrando interesse.
  - Nada bem. - suspirou derrotada.
  - Como assim? - disse depois de pedir uma tônica com limão.
  - Foi no mínimo estranho. - abaixou a cabeça coçando a nuca.
  - Ah, conta logo o que aconteceu . - disse encarando a garota.
  - Eu falei do curso, disse que era na Austrália e tudo mais. Até ai eu jurei que ele iria aceitar e até ficar feliz por mim. Eu sei que ele não gosta quando nós dois viajamos ao mesmo tempo, principalmente para lugares diferentes. Ele fica preocupado. - contava tudo com um ar de tristeza.
  - Mas? - perguntou encarando- a.
  - Mas foi só eu falar do Jordan e ele virou bicho. Eu pensei ele ia explodir de tão vermelho que ficou. - tinha os olhos esbugalhados lembrando da cena.
  - Com toda a razão né ? Todo mundo que conhece sua história com o Jordan ficaria preocupado. - deu indícios de que tocaria na ferida.
  - Eu acho que isso foi ridículo. Mas eu quero saber os detalhes. - disse fechando um cardápio de couro azul marinho.
   suspirou derrotada e começou a contar detalhe por detalhe do que houve na cozinha observando as reações das meninas. parecia concentrada em não perder nenhum comentário dela. Já tentava em vão segurar os comentários de surpresa e indignação. Suas reações eram controversas, sempre fazendo com que risse um pouco.
  - Eu sinceramente concordo com ele. - comentou antes de dar uma garfada no salmão com alcaparras.
  - Eu acho que você deveria apertar o botão mudo e seguir o que deseja fazer. Todos sabem que você estava louca pelo curso de lomo. - dividia a atenção entre sua fala e seu macarrão com camarão a moda da casa.
  - Eu realmente não sei o que fazer. Eu me sinto perdida. Juro que se o me pedisse que largasse a ideia de ir para a Austrália, eu largaria. Mas ele gritou comigo, me tratou como se fosse meu dono. Eu não sou um objeto. - frustrada mal tocava no linguado regado de azeite e ervas finas.
  - Vocês deviam conversar. Tentar entender o porque cada um ficou tão exaltado. - tentou passar conforto a .
  - Ou você podia expor sua opinião dizendo que ficou fula da vida com a atitude dele. - deu uma garfada no macarrão.
  - Eu não sei o que fazer. Eu amo ele, mas também amo a fotografia. - colocou o cabelo para trás em sinal de desespero.
  - E quem disse que você precisa escolher um? - respondeu sorrindo.
  - Eu amo o , mas eu estou muito magoada ainda. Não acredito que ele vai mesmo me fazer escolher. - suspirou brincando com a borda do seu copo.
  - , ele nem te pediu isso. Acho que está levando para um lado mais sério. Conversem primeiro. - encarou- a com um ar de experiente.
  - Mas eu já tentei, tenho medo que da próxima vez que eu entre nesse assunto ele termine tudo e se jogue da janela. - cruzou os braços sobre a mesa.
  - Dramática essa minha amiga. - riu depois de bebericar sua tônica.
  - Não é drama. Tá talvez um pouco. - sorriu.
  - Deixa de bobagem amiga. Você tem três opções. Vai mesmo que ele não queira, dai encara o possível término de vocês. - começou indicando a primeira opção com o dedão.
   ouvia com atenção, mas não acreditava que estavam perdendo tempo mesmo, para dar bola as teorias loucas de .
  - Você pode não ir, e ficar aqui completamente dependente do . - não pareceu gostar da segunda opção dada por . - Ou tenta entrar num acordo com ele. Mais do que isso é impossível. - deu de ombros como se lamentasse o fim das opções.
  - Pelo amor de deus. Vocês estão se precipitando. Ela ainda nem teve uma conversa decente com ele sobre isso. E lembrem que ele tem todo o direito de ficar preocupado. O Jordan foi um idiota com você. - apontou um dedo acusador em .
  - Mas eu não entendeu, eu não estou me importando com ele, porquê o tem que se importar? - questionou bebendo um pouco de água.
  - Por favor ! Até eu estou preocupada com isso. Eu no lugar do ficaria muito pior. Não é qualquer um que tem sangue frio de deixar a namorada em outro país, sem um tostão furado, sozinha e sem um telefone. Agradeça a ele. - disse séria.
  - Bom isso é verdade. sempre te salvou de poucas e boas. Não posso negar. Ele tem faro para problema. - respondeu encarando o prato.
  - Então eu deveria desistir do curso só porque meu namorado teve um pressentimento ruim? - começou a ficar furiosa.
  - Não, mas devia conversar com ele. Até parece que não vê o lado dele. Ele sabe que se te acontecer alguma coisa ele não vai estar lá para te salvar. - respondeu limpando a boca com o guardanapo.
  - É como daquela vez no laboratório de biologia em que você caiu da bancada. - riu lembrando do episódio.
  - Ou daquela em que você levou uma raquetada na cara, da Mary. - fez força para não rir alto de mais.
  - Ou aquela em que você caiu no Hudson congelado. - cobria o rosto com o guardanapo.
  - Ou quando ele foi te buscar na Alemanha depois do furacão Jordan. O cara te traiu , com uma alemã gigante e bigoduda. Dá um crédito ao . - comentou em tom de sabedoria.
   ficou com aquilo na cabeça. Realmente sempre a salvava de todos os seus problemas, ele foi o melhor amigo de infância, o parceiro de laboratório, o ombro amigo no final do baile desastrado, o cara sentado ao lado no avião. Ele a protegia do seu medo de aranhas, a protegia do frio, dava carinho quando se sentia sozinha, fazia- a rir quando queria chorar. era o seu herói. O seu anjo da guarda, seu amor. Mas não queria perder a chance de fazer um curso na Austrália. Era sua carreira profissional, não poderia ficar apenas de fotógrafa da banda dele. Tudo bem que os garotos eram legais, que o dinheiro era bom e ela já estava acostumada. Mas era um acréscimo ao currículo. Precisava se arriscar e sabia que Jordan não seria um problema. Mesmo que já tenha sido perdidamente apaixonada por ele, mesmo tendo entregado tudo o que tinha a ele e ter ficado despedaçada no final. Jordan foi um legítimo canalha, mas ela não se importava mais com isso. Não se importava mais com ele. Agora sentia bem, feliz, completa, e não conseguia guardar magoa de ninguém. Queria que todos sentissem a mesma felicidade que ela sentia, como em toda vez que acordava e via o rosto de ao seu lado a cama. O resto do almoço foi mais ameno, puderam falar de outras coisas, de outros interesses. Falaram um pouco da vida de , um pouco da vida da , um pouco da vida de todo mundo. Coisas de mulheres reunidas. Às 14hs e as meninas se despediram em frente ao Leviatã, com dois beijinhos e abraços apertados. Com o próximo almoço para dali a dois meses, boas vindas de , cada uma rumou para um lado. foi para seu trabalho social no Queens, aproveitou a caminhada na folga para ir até a Mulberry Street e pegou um táxi até o Central Park.
  Chegando ao central park deu uma ligada para a irmã, buscando saber qual seria o ponto de encontro. Marcaram no banco em frente ao Plaza para poderem caminha até a pracinha infantil. Trevor assim que viu a tia saiu correndo. Quando chegou nela, o garoto loiro pulou em seu colo e a abraçou forte. abraçou o garoto com todas as forças possíveis. Admirava o fato de ele ser tão parecido com o pai e nenhum pouco parecido com , a não ser pelos olhos expressivos e verdes da irmã. se aproximou dos dois e assim que Trevor voltou ao chão, abraçou . Caminharam com Trevor de mãos dadas com a tia todo o percurso até a área recreativa, onde ele de súbito, saiu correndo para o escorregador.
  - Então, como está? - questionou sentando no banco verde.
  - Bem! - se limitou a responder enquanto acompanhava a irmã.
  - Estou falando sério. Como está indo? - a encarou, inquisidora.
  - Mas é sério. Eu estou bem, mesmo tendo brigado com . - abaixou os olhos.
  - E brigaram porquê? - perguntou tentando tirar algo mais de .
  - Nada importante. - não tirava os olhos das botas vinho.
  - , eu te conheço. Sou sua irmã mais velha e seu muito bem quando algo te incomoda. É sobre a viagem, não é? - soava tão gentil e compreensiva.
  - É! Nós gritamos um com o outro dissemos coisas que não queríamos e agora estamos assim. - deu de ombros conformada tirando seu gorro.
  - E o que aconteceu? - A mais velha segurou na mão da mais nova lhe passando força.
   novamente relatou todo o ocorrido dentro da cozinha, com detalhes sórdidos e exclamações de frustração. Sabia que sua irmã daria uma visão diferente a tudo, por já ter certa experiência com a vida de casada. E talvez fosse isso que ela tanto precisasse. Uma nova perspectiva do ocorrido. Uma pessoa que enxergasse de fora o que ela não enxergou. Ao final da história, já chorava baixo, com algumas poucas lágrimas que deixavam seu queixo trêmulo e seus olhos desfocados.
  - Hey, calma! Tudo tem seu jeito. - abraço a irmã de lado.
  - Eu realmente não sei o que fazer, mana. Eu quero ir, mas não quero brigar com o . Eu queria que ele entendesse mais o meu lado. - limpou o rosto com as mãos e as deixou cair sobre os joelhos.
  - Ele vai entender, mas tente compreender o lado dele também. Às vezes quando amamos muito uma pessoa, queremos estar sempre por perto, nos fazer presentes a todo o momento. está acostumado a ser seu alicerce, seu ombro amigo, seu refugio. Como acha que ele deve estar se sentindo sabendo tudo o que pode acontecer lá e não podendo fazer nada. - afagou o cabelo da irmã.
  - Eu não tinha pensado por esse lado. - fungou tentando parar de chorar na curva do pescoço da mais velha.
  - É claro que não. Vocês dois tentaram colocar os seus pontos, mas não se preocuparam em ouvir o do outro. Vocês precisam de uma nova conversa. E dessa vez tente mostrar os seus motivos; e também que entende os dele. - disse fazendo um carinho no ombro da irmã.
  - Eu não sei mais se devo ir para esse curso. - levantou o tronco encarando a irmã.
  - É pergunta é: Você quer ir? - colocou uma mexa de cabelo de atrás da orelha.
  - Quero, mas não quero perder o . - foi diminuindo a voz gradativamente fazendo bico.
  - E não vai. Basta chegarem a um consenso vocês dois. Já chega de pensar só nos interesses de um ou outros. Vocês tem que pensar como um só para fazer dar certo. - acarinhou o antebraço da irmã do cotovelo ao ombro.
  - Obrigada, mana. Eu não sei o que seria de mim sem você. - abraçou com força.
  - Nada, é óbvio! - brincou ainda abraçada a irmã.
  Riram e se soltaram do abraço. secou seus olhos e bochechas, colocou o gorra de novo e sorriu. a encarava sorridente quando sentiu um garotinho loiro de quatro anos pulando em seu colo.
  - Mãe, dá sorvete? - Ele perguntou sorrindo.
  - Hm, não sei não. Tá muito frio, filho! - passou a mão pelos cabelos lisos do filho.
  - Por favor, mamãe. Só um. - Trevor fez esbugalhou os olhos, fez um biquinho de triste e juntou as mãozinha na frente do rosto.
  - Por favor, mana. Só um. - imitou Trevor ficando de frente para ele do lado dele.
  - Ain, 'tá bom! Mas só um ouviram? - deu- se por vencida.
  - AE! - e Trevor bateram as mãos em Hi- five comemorando.
  - Eu quero chocolate! - Trevor gritou saindo do colo da mãe e pulando na frente dela.
  - Eu quero de morango! - levantou a mão.
  - Já sei, formiguinhas. Vamos lá. - colocou a bolsa no ombro e deu a mão para o filho.
   pegou a sua e os três saíram caminhando em busca de uma barraquinha de sorvete.

I wanna see your face and know I made it home. (Painting Flowers - All Time Low)

   saia do parque com um sorriso gigante, os lábios dormente de frio e o gosto do morango nos lábios. Trevor tinha as melhores ideias sempre. Adorava sair com ele, acabava se animando, mandando a tristeza para o escanteio como dizia , seu cunhado e treinador do time de futebol da Uper East Side.
  Tomou um táxi e foi para a casa. Sabia que tinha muitas coisas para arrumar, ainda não estaria em casa e possivelmente voltaria ainda mais irritado depois de ajudar o pai na galeria. Mas não conseguia tirar o sorriso que Trevor pregou em seu rosto. Entrou no prédio sorridente, chamou o elevador e nem se importou com as caras de estranhamento dos vizinhos no lobby. Estava mais animada e calma, e sabia que isso seria bom na hora de conversar com .
  Entro em casa, largou a chave no aparador do lado da porta, deixou o casaco no cabide também ao lado e caminhou até seu quarto. Lá trocou de roupa por uma mais confortável.
  Caminhou até a cozinha ainda sorridente e quando passou pela porta, congelou. Uma tristeza a abateu do nada, seu coração ficou menor, apertado no peito, sua respiração meio falha e seu sorriso se apagou. Já era tarde, umas 18hs quando começou a arrumar a bagunça. Apesar de ter guardado a comida de manhã, a mesa ainda estava suja e a louça continuava na pia. Pegou as luvas amarelas na bancada, a esponja e o sabão e começou a lavar. Lavou tudo, secou e guardou, copos, xícaras, pratos, frigideira, talheres, tudo. Lavou a mesa também. Tinha uma mancha de café preto seca no mármore claro. Varreu a cozinha, tirou o lixo e deixou na área de serviço, estava frio para levar o lixo agora. Após toda a faxina necessária da cozinha, se dirigiu até o banheiro. Abriu o registro e deixou a água bater nas costas moídas de dor. Limpezas grandes não eram com ela. Não lavou o cabelo, fechou o registro e saiu do banho. Enrolou- se em uma toalha branca e caminhou até o closet pensando no que vestir. Resolveu por um pijama qualquer.
  Cansada e desanimada ficou parada encarando a cama ainda bagunçada. Ela parecia muito convidativa, mas sabia que no momento em que deitasse a cabeça no travesseiro, não conseguiria dormir, e isso lhe deixaria irritada. Preferiu então assistir algo na TV da sal mesmo. No closet mesmo puxou um edredom vermelho muito quentinho e o arrastou para a sala. Sentou no sofá largo de couro preto, recostou a cabeça no braço dele com uma almofada amarelo ocre e observou o teto por um tempo. Estava perdida em pensamentos, olhando para um ponto fixo sem se mover ou dizer alguma coisa. Acordou do transe procurando o controle. Colocou em um canal de programas antigos e passava um filme bem velhinho já. O filme 'A Filha de Netuno' era sempre exibido nessa época do ano. Conseguiu pegá-lo na sua parte favorita, Red Skelton e Betty Garret cantando 'Baby It's Cold Outside'. Aconchegou-se no sofá, com a coberta sobre o corpo e o rosto virado para o televisor, acabou dormindo no meio do filme.
   chegou em casa um pouco tarde, estava cansado de carregar quadro de um lado para outro. Quadros esses que eram muito pesados, diga- se de passagem. Entrou como quem não quer nada jogou as chaves no aparador e olhou para a sala. O apartamento estava calmo, apenas com a voz de Tio Andy, da feiticeira, ecoando pelo cômodo. Notou que apenas a luza da sala estava acessa, todas as outras estavam apagadas. Caminhou até o sofá e teve a sua visão preferida preenchendo lhe os olhos. dormia como criança, enrolada na coberta favorita, assistindo a algum filme antigo. Isso soava tão bem, parecia tão certo. Sorriu ao ver sua garota suspirando. Caminhou até o sofá e se agachou na altura dos olhos. Fez um cafuné no cabelo da namorada e um carinho na bochecha. Ela sorria involuntariamente. Chegou o rosto mais perto do dela e soprou nele tentando acordá-la.
  - , acorda. - sussurrou no ouvido descoberto dela.
  - Não. - Ele deduziu ter ouvido sair da boca dela que agora estava se cara no travesseiro.
  - Você vai acordar com dor nas costas. - disse fazendo um cafuné na cabeça dela.
  - Eu 'tô com sono. - Ela disse manhosa.
  - Vem, vou te colocar a cama. - a pegou no colo e ela agarrou o cobertor.
  - Aqui 'tá frio. - reclamou quando sua pele tocou os lençóis gelados.
  - Daqui a pouco esquenta. Vou tomar um banho e já volto. - Ele beijou a testa dela e caminhou até o banheiro.
  Entrou de baixo do chuveiro e deixou a água quente queimar a pele com os músculos retesados pelo contato. O banho foi quente e relaxante, estava precisando daquilo a um bom tempo. Desde que saiu de casa pela manhã se sentia tensionado. Só de lembrar a cena de chorando no aeroporto de Berlim, sozinha, com frio e com medo, seu coração apertava. Lembrava- se da promessa que se fez: Nunca mais a deixar sozinha, muito menos perto daquele canalha. Demorou um tempo para que conseguisse deixá-la feliz como agora. Ela era sua pequena e não queria ninguém machucando-a. Terminou o banho mais calmo. Seu cérebro o maltratava com a milhões de ideias que tinha para se desculpar, mas nenhuma parecia realmente boa naquele momento. Preferiu deixá-la dormir e falar com ela quando acordassem. Mas era tão estranho ir dormir brigado com ela. Teoricamente brigados, já que a poucos minuto estavam conversando normalmente, mesmo que ela estivesse mais dormindo do que acordada. Saiu do banheiro com a toalha na cintura e entrou no closet procurando uma roupa para dormir. Resolveu colocar apenas uma boxer. Quando voltava para a cama, pronto para deitar a cabeça no travesseiro, encontrou sentada com as costas na cabeceira.
  - Não conseguiu dormir? - perguntou sentando ao seu lado na cama.
  - Não! É estranho. - disse com as mãos sobre os joelhos.
  - É verdade. - encarou o edredom vermelho pensativo.
  - Nós nunca dormimos brigados. - abaixou o rosto encarando as próprias mãos.
  - Eu sei. - não conseguia encará-la.
  - Nós precisamos conversar. - observava- o.
  - Quem começa? - Ele riu encarando- a.
  - É sério . Não temos nossas mães aqui para no obrigar a pedir desculpas e se abraçar. - o encarava com uma carinha cansada.
  - Desculpa. Vou começar então. - sorriu fraco coçando a nuca.
  - Essa não é a questão. Precisamos resolver isso. - o encarou triste.
  - Eu sei, mas não sei com me desculpar. eu sei que fiz errado, sei o quanto esse curso é importante para ti, e o quão egoísta eu fui mais cedo. Mas eu fiquei cego, tudo que eu conseguia ver era uma garota linda, sentada no meio de um aeroporto, no frio, com medo e precisando de mim. Eu não queria correr o risco de te ver daquele jeito de novo. - passou as mãos pelo cabelo nervoso. tirou as mãos dele da cabeça e as segurou forte. - Eu não queria ser um idiota como fui hoje mais cedo, mas eu realmente não conseguia pensar. Eu te amo , e não conseguiria te ver mal novamente. Eu quero me certificar de que você esteja bem sempre. Quero te fazer feliz, poder te ver dormir sorrindo, agarrada ao meu braço quando está com medo, acordar linda com as bochechas vermelhas, sair do banho com o cabelo pingando, brilhar cada vez que o sol aprece. Eu quero acordar ao teu lado todo dia, ser o primeiro para quem dá bom dia e o último para que dá boa noite. Eu te amo . - beijou as duas mãos dela.
  - , você já me faz feliz. Eu te amo tanto que chega a não caber em mim. Eu te entendo e compartilho do teu medo, mas precisamos crescer com eles, e não deixá-los nos limitar. Sabe que eu nunca te deixaria e nunca chegaria perto do Jordan de novo. Porque é você que eu amo, é com você que eu me sinto em casa, segura, protegida, amada. Eu te amo. - Ela o abraçou forte, com as mãos nos fios de cabelo dele.
  - eu tenho um pedido para te fazer. - afastou o corpo e segurou o rosto dela para encará-la melhor.
  - Pode fazer. - tremeu só de pensar que ele poderia pedir que ela desistisse, mas estava disposta a fazê-lo, se preciso.
  - Eu quero que seja minha, para sempre. Casa comigo? - perguntou segurando o rosto dela.
  - O quê? - franziu o cenho sem entender muito bem.
  - Eu disse. - soltou o rosto dela e caminhou até o closet demorando alguns segundos e voltando. - Casa comigo? - Ele estendeu uma caixinha preta aberta ostentando um belo anel dentro.
  - Eu... - arregalou os olhos e perdeu a fala encarando aqueles 24K.
  - Amor, 'tá tudo bem? - perguntou segurando o rosto dela pelo queixo.
  - Aham. - respondeu balançando a cabeça positivamente.
  - E então, não gostou da surpresa? Eu queria ter feito isso ontem, mas o anel não estava pron... - , nervoso, tentava se explicar falando cada vez mais rápido.
  - Sim! - o interrompeu sorrindo.
  - Como? - Ele perguntou para se certificar de que tinha ouvido direito.
  - Sim! - Ela sorriu mais para ele.
  - Sim? - Ele ainda não acreditava na resposta dela.
  - Sim! - Ela pulou nele, passou os braços pelo pescoço do namorado e o abraçou apertado.
  Ele deslizou as mãos pelas costas dela ainda com os olhos esbugalhados. Não conseguia acreditar na resposta da namorada. Agora quem tinha perdido a voz era ele. Mas em meio ao abraço forte, acordou para a realidade sentindo lágrimas sobre seu ombro. Sorriu e afastou o rosto de para poder vê-la melhor. Ela sorria abertamente, com todos os 31 dentes brancos e com lágrimas sobre as bochechas. Sorria e tinha um brilho característico no olhar. Ele beijou o caminho úmido por onde as lágrimas caiam, beijou a testa dela, o nariz, os olhos e toda a superfície do rosto para então dar um calmo beijo nos lábios alegres dela. Foi um beijo com amor, primeiro um selinho, depois outro e logo já estavam explorando um ao outro de forma calma. Com todo o tempo do mundo, com carícias na cintura e bagunça nos cabelos. abraçou a cintura de e a trouxe para perto de seu corpo, sentando- a em seu colo. fazia cócegas na nuca de com as unhas curtas em movimentos repetitivos. Quando o beijo se tornou difícil, quando o ar já era inexistente, se separaram e ele partiu para o pescoço dela. Dava leves selinhos na região e ela respirava descompassada no ouvido dele. O abraçou se tornou mais apertado e ele podia sentir a pele dela arrepiada sobre seus lábios. Bateu com as costas no colchão e a puxou junto mantendo- a em seu colo. Ela começou a rir pelo susto que sentiu e ele mordeu o queixo dele de leve. Ele inverteu a situação ficando por cima e beijando o rosto dela novamente. Ela desceu as mãos para os ombros dele apertando cada uma de um lado.
  - Suas mãos estão geladas. - afastou o rosto centímetros soltando as palavras sobre a maçã do rosto dela.
  - Elas sempre estão. - sorriu correndo uma das mãos para o cabelo dele.
  - Frio? - Ele perguntou fazendo um carinho na face dela com a ponta do nariz, de olhos fechados apreciando o carinho que recebia.
  - Muito! - Ela respondeu mantendo o cafuné nele com os olhos fechados.
  - Posso te aquecer. - Ele sugestionou beijando o pescoço dela intercalado.
  - Por favor! - Ela puxou o cabelo dele arrepiada.
  Não foi preciso muito mais, logo os lábios se uniram novamente, dessa vez um pouco mais ardentes. Nessa hora não lembravam mais de anel, de viagem, de briga ou do dia seguinte. Queriam viver o agora, o instante em que se encontravam. Parecia tentador de mais deixar o mundo do lado de fora da janela em frente a cama. A vida dos outros parecia tão insignificante naquele momento em que estavam juntos. Como puderam esperar tanto por isso? Como puderam perder tanto tempo com outras pessoas, com outras coisas, enganando-se com uma amizade de infância. Eles estavam juntos agora, eles dependiam um da felicidade do outro. E entre carinhos e beijos ficou subentendido que estavam entrando em um acordo mutuo para fazer dar certo. Ela se arrepiou ao sentir os beijos descendo pelos ombros. O clima do quarto estava quente, papável, era possível ver a sincronia dos dois através dos suspiros. Mas o clima foi interrompido pelo som de um celular estridente tocando na mesinha de cabeceira. O telefone insistia em chamar a atenção, apitava forte e o volume parecia estar em crescente. Ficava cada vez pior, era impossível fingir que não tocava. Era irritante e não tinha escapatória.
  - Amor. - cutucou o ombro de .
  - Hm? - continuou se serviço no pescoço da garota.
  - O telefone. - tentava acalmar a respiração.
  - Deixa tocar. - apertava a cintura da namorada.
  - , atende. Pode ser sério. - afastou o namorado pelos ombros.
  - Saco! - Ele bufou irritado segurando o celular. - Alô?! - foi ríspido e seco. - Pai? Por que ta me ligando a essa hora? - Encarou o relógio na cabeceira constatando estar tarde. - É só isso? - Ironizou. - Podia ter deixado isso para amanhã, não? - Os lábios dele fecharam em uma linha de inconformidade. - Tchau pai! - Desligou o aparelho e o jogou em qualquer lugar da cama gigante.
   observava o namorado, calçada sobre seus cotovelos na cama. Ele sério era a coisa mais sexy do mundo. Tinha os músculos retesados, estava com os ombros vermelhos e o rosto fechado. Quando desligou o telefone e o jogou em algum lugar soltou uma risada e caiu de costas na colcha.
  - Onde paramos mesmo? - Ele a abraçou sorrindo malicioso.
  - Não tenho certeza, mas se não me engano você ia me fazer uma massagem. - desviou a vontade de rir olhando para a janela que se encontrava atrás dela.
  - Eu ia é? Não vou mais? - beijou a área exposta do pescoço dela.
  - Eu espero que sim. - riu pelas cócegas que sentia.
  - Tudo por você. - beijou os lábios de de forma provocante.
  - Eu te amo. - Foi dito em uníssono pregando sorrisos nos dois.

I'll be the greatest fan of your life (I'll Be Your Crying Shoulder - Goo Goo Dolls)

  - Tudo pronto? - perguntou para encarando-o e puxando-o para perto da janela, mais afastados de todos.
  - Sim. - balançou a cabeça positivamente cerrando um pouco os olhos por causa da luminosidade forte.
  - Fez o check in? - ergueu uma sobrancelha.
  - Fiz. - Novamente balançou a cabeça.
  - Despachou a mala? - escorregou as mãos pelos braços de .
  - Sim. - Ele apontou para o balcão de despache.
  - Passaporte em mãos? - olhou em seus olhos.
  - Aqui. - levantou a mão com o passaporte, mostrando-a.
  - Está bem aquecido? - Ela puxou o casaco dele mais para frente arrumando-o.
  - Com Certeza. - sorriu malicioso.
  - Comprou seu HQ? - Ela arrumou o gorro dele.
  - Comprei mamãe. - Ele brincou e sorriu.
  - Desculpa, mas eu sempre me preocupo quando você viaja. - Ela tinha uma expressão triste no rosto.
  - Eu também estou preocupado, amor. - Ele beijou a testa dela que não estava coberta pelo gorro.
  - Promete me ligar todos os dias? - arrumava a gola da camiseta que ele usava.
  - Eu sempre ligo. - abraçou fazendo um carinho no cabelo dela.
  - Sonhar comigo todas as noites? - encarava os olhos dele e sorria em seus braços.
  - Claro. - Ele contemplava os olhos verdes dela ainda mais claros banhados pelos raios de sol.
   aproximou seus corpos delicadamente e depositou selinho nos lábios de . Ela sorriu mais aberto, com felicidade estampada no rosto. Um rosto que parecia mais iluminado pelo sorriso e pela luz do sol. Uma onda de luz que aquecia suas bochechas, onde ele passava o polegar como forma de carinho. fechou os olhos para apreciar o carinho e trouxe os lábios dela para o seu deleite. Beijam- se com carinho, em frente a janela, banhados pela luz do sol. a abraçou forte colando os corpos, apertava os braços dele e subia com as mãos para o pescoço. se arrepiou e e sorriu durante o beijo.
  - Hm, que mão gelada. - Ele separou o beijo rindo nasalado.
  - Eu sempre estou com as mãos geladas. - Ela comentou rindo.
  - E com o coração quente. - abraçou a namorada mais forte.
  - Aham. - sibilou com a cabeça deitada no peito do namorado e os olhos fechados.
  - Já sabe todas as minhas recomendações de cor? - perguntou com o queixo encostado na testa da namorada.
  - E salteado. - Ela levantou o rosto encarando- o.
  - Não se afastar do grupo. - Ele começou a citar.
  - Não ficar perto do Jordan. - Ela o acompanhou.
  - Não ficar de baixo do sol por muito tempo. - fazia carinho no braço da namorada.
  - Levar repelente - disse afastando o corpo do namorado mantendo as cinturas unidas.
  - Beber muita água. - segurou pela cintura.
  - Tirar muitas fotos. - colocou as mãos no pescoço do namorado.
  - Sonhar comigo todas as noites. - sorriu fazendo movimentos em círculos com as mãos nas costas dela.
  - Falar do meu noivo para todo mundo. - sorriu de canto sugestiva;
  - Sempre que sentir saudades, me ligar - depositou um selinho na testa dela.
  - E manter o iPod ligado na pasta do/a . - sorriu beijando o nariz dele.
  - Exatamente. - Ele sorriu balançando a cabeça positivamente.
  - Já estou com saudades. - Ela encostou a testa no peito dele.
  - São só dois meses, amor. - Ele tirou o gorro dela e colocou a mão nos cabelos.
  - Dois meses na Austrália. Você ainda fica duas semanas no circuito América do Norte. - continuava com a testa grudada no peito de .
  - Mas daí eu te levo comigo. - Ele beijou o topo da cabeça dela.
  - Não vou viajar em turnê com vocês. - riu da ideia.
  - Por que não? - a abraçou forte apertando seus braços em torno da garota.
  - Não gosto dessa loucura toda. Prefiro ficar em casa te esperando. - deu um beijo no pescoço de .
  - Com omelete e bacon... - fechou os olhos.
  - E uma Heineken bem gelada, já sei. - Ela mordeu o queixo dele.
  - Hm, acho que vou ficar por aqui mesmo. - Ele disse mais baixo para que só ela ouvisse.
  - Tudo bem, então você me espera em casa com panquecas e milk-shake. - disse com os lábios grudados no pescoço de .
  - Pensando bem, a toscana é linda nessa época do ano. - brincou rindo.
  - Cretino. - deu um tapa no ombro do namorado.
  - Também te amo. - Abraçou mais forte em seus braços.
  - Muito? - Ela encostou a testa na dele.
  - Muito! - Ele respondeu suspirando.
  - Vou sentir saudades. - Ela fechou os olhos segurando qualquer lágrima que tentasse sair.
  - Eu também, amor. - Ele colocou as duas mãos nas bochechas dela.
  'PRIMEIRA CHAMADA PARA O VOO 3257 BELFAST - IRLANDA, PORTÃO 3.'
  - Vai logo. - Ela abriu os olhos
  - E você? - Ele perguntou afastando as testas.
  - Meu voo sai em 15 minutos. - sorriu de canto triste.
  - Mas eu não quero te deixar sozinha aqui. - balançou a cabeça negativamente.
  - Vai logo. - afastou os ombros do namorado.
  'SEGUNDA CHAMADA PARA O VOO 3257 BELFAST - IRLANDA, PORTÃO 3'
  - Eu te amo. - beijou os lábios de com carinho.
  - Eu te amo. - retribuiu com outro beijo calmo.
  - Não quero te soltar. - segurou a namorada com toda a força que tinha.
  - Você vai se atrasar. - Ela escondeu o rosto na curva do pescoço dele.
  - Não me importo. - Ele fechou os olhos aos sentir a camisa molhando por algumas lágrimas dela.
  'ÚLTIMA CHAMADA PARA O VOO 3257 BELFAST - IRLANDA, PORTÃO 3.'
  - Boa viagem, meu noivo. - deu um selinho em depois de secar as poucas lágrimas.
  - Boa viagem, minha noiva. - retribuiu o selinho e sorriu.
   se afastava caminhando de costas ainda observando a namorada que estava em frente a janela de braços cruzados. Ela parecia tão feliz, tão animada, mas tinha uma melancolia no olhar. O sorriso não era tão grande como a alguns minutos, mas ainda era grande. Ele chegou ao portão de embarque entregou sua passagem e seu passaporte e voltou a olha- la com carinho. Abanou para e mandou um beijo. Ele continuou caminhando e ela continuou parada em frente a janela, sentindo todo o lugar ao seu redor mais escuro, opaco. Sentindo o frio tomar conta de seus ossos e um espaço vazio ao seu lado. Quando ela perdeu a visão sobre ele, virou de costas para o portão de embarque encarando o portão 2. Apenas esperaria a primeira chamada e sairia dali o mais rápido possível. Não aguentaria ver aquele aeroporto por muito tempo mais.
  'PRIMEIRA CHAMADA PARA O VOO 2327 SIDNEY - AUSTRÁLIA, PORTÃO 2'
   segurou forte a alça da bolsa e caminhou aos suspiros de desconforto para o seu destino nos próximos dois meses. Entregou seu passaporte e a passagem para uma moça loira vestida de terninho vermelho que sorria com um batom igualmente vermelho. Sorriu fraco e pegou seu passaporte novamente. Caminhou pelo corredor que levava para o interior do avião abraçada em sua bolsa e com um peso nos ombros. Sabia que dormiria as 10 horas de viagem. Achou sua cadeira rapidamente, executiva, B 15 ao lado da janela. Sentou e começou a procurar seu iPod na bolsa, precisava ouvir a voz do namorado. Encontrou o celular ligado. O que achou estranho porque jurava ter desligado ele assim que colocou os pés no aeroporto. Sentiu ele começar a vibrar e o pegou. O visor indicava uma SMS, abriu e começou a ler.
  'Já estou morrendo de saudades, senhora sentada ao meu lado não tem o dobro do seu sorriso. É verdade, ela perdeu a chapa no banheiro. Te amo noiva linda. Do seu noivo, xx.'
  Sorriu boba encarando a tela, leu e releu a sms uma 3 vezes antes de uma aeromoça acompanhada de um garotinho ruivo aproximarem- se dela e da cadeira vazia ao seu lado. O garotinho sentou e a morena também de vermelho colocou o cinto nele. Ela também pediu que não demorasse a desligar o celular porque em 10 minutos iriam decolar. respondeu para . 'Coitado do meu noivo. Eu estou sentada ao lado de um ruivo muito lindo. Ele não deve ter todos os dentes ainda, mas tem olhos castanhos parecidos com bolinhas de gude. No máximo uns cinco anos. Te amo amor, Beijos da sua noiva.' Depois de enviar desligou o celular e voltou sua procura pelo iPod com um sorrisinho no rosto. Encontrou o aparelho brilhando no fundo da bolsa. Puxou pelos fones retirando-o e percebeu algo amarelo grudado nele. Quando olhou melhor percebeu ser um post-it. 'Não esqueça de carregá-lo. Pode me ligar quando quiser ouvir minha voz. - .' A garota sorria muito mais aberto agora. Colocou os fones nos ouvidos, ligou e deixou tocar a pasta do namorado. Fechou os olhos aproveitando a viagem.

Epílogo

  "Oi noivo, estou te mandado esta foto como um postal da cidade. Sinceramente minhas fotos são mais bonitas do que as que estão a venda por aqui. Não tem acontecido muita coisa, Beth ficou noiva do Peter. Lembra dele? O ruivo de cavanhaque. Não falei com Jordan nem uma vez se quer. Estou contando os dias para nos vermos de novo. Não vejo a hora de voltar para a casa e deitar na nossa cama gigante. Te ver dormir com o rosto amassado no travesseiro. Andar pelo quarto enquanto você dorme. Fazer omeletes, te ver virar panquecas. Tudo! Aqui é bom, tem um clima quente, melhor do que morrer de frio em Nova York, mas ainda não troco minha selva de concreto ao seu lado pela de areia ao lado dos cangurus. Por falar em cangurus, conheci um de perto, Bruce. Ele é mais alto do que eu, acredita. Bom qualquer um é mais alto do que eu. Ele vive na reserva da pousada e é muito fofo. Quando tivermos nosso primeiro filho ele vai se chamar Bruce, o que acha? Quando tudo isso acabar quero te trazer para cá. Você vai adorar a calmaria, as praias, os animais, as ondas. Tudo é lindo. Poderia estar tudo perfeito se você estivesse aqui. Só falta você ao meu lado para ver o pôr do sol. Te amo muito, da sempre sua, ."
   sorriu ao terminar de ler o que a namorada tinha escrito atrás da foto que enviará para ele. Já faziam três semanas que não se viam, mas ele contava os dias os dias para voltar para a casa. Queria poder ouvir a voz dela, vê-la deitada, com os cabelos em leque no travesseiro, ao seu lado. Observá-la caminhar pela casa de shortinho e botas de inverno. Sentir as mãos geladas de em suas costas. Os beijos doces nos lábios e o som suave que saia deles toda vez que ela dizia seu nome. Queria ela ali com ele. Mas como nem tudo são rosas, ele guardou a foto ao lado de uma que ele sempre levava dos dois juntos, na cabeceira da cama d o hotel em que estavam, em Berlim. Saiu do quarto de hotel sorrindo em caminho a van que o levaria para mais uma sessão de autógrafos. Mas dessa vez sua mente não estaria ali com os amigos de banda e sim com ela na Austrália.



Comentários da autora


Presentinho feito para a minha amiga secreta? Samila Way. AMor, sinto muito mais eu não tenho muita experiência com My Chemical Romance, mas eu espero que goste a fic. Ela foi bem difícil de fazer. Só para ter uma noção foi a terceira que eu escrevi para o especial e gostei mais dela do que das outras. A capa ta muito feia, mas vocês vão entender lendo, o porque da foto.