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#001 Temporada

Colors
Halsey




Colors

Luisa Silva | Revisada por Luba

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Capítulo Único

   saia de casa quando reparou nas luzes. Não era a primeira vez, e provavelmente não seria a última, que percebia que o terceiro andar do prédio do outro lado da rua era o único com alguma iluminação àquela hora da noite, e perguntou-se mais uma vez o que acontecia lá. Todos os dias, no final da tarde, uma garota chegava sozinha, entrava no prédio e logo as ditas luzes se acendiam. A garota passava horas a fio no prédio, que tinha uma terrível aparência de abandonado, fazendo algo que não sabia o que era, mas pretendia descobrir.
  Ainda pensando nas luzes, o garoto chegou ao seu destino. O pequeno e escuro beco onde ele e seus amigos se reuniam não era muito longe de sua casa, localizado entre as paredes do fundo das casas de dois membros da gangue. Avistou os seus parceiros e disse um seco “e aí” a eles, sentando-se em uma das cadeiras dispostas em volta da pequena mesa de plástico. Conversaram um pouco, acertaram alguns detalhes e saíram em suas “missões”.
  Era tarde, bem tarde. O horário que garotos como , e suas respectivas gangues, saíam para começar os “trabalhos”. Assaltavam qualquer pessoa estúpida o suficiente para andar pelas ruas daquele bairro de periferia às duas e meia da manhã, mas principalmente as que saíam das boates por perto. Os roubos eram recorrentes, e não entendia como ele e os outros ainda não tinham sido presos. Ou os policiais do Distrito eram muito burros e preguiçosos ou a quadrilha realmente fazia um bom trabalho em se esconder, das duas, uma.
  Tendo passado o tempo que os jovens haviam combinado, os reencontrou no beco. Todos colocaram o que conseguiram em cima da mesa e Big Sean, o líder, fez uma rápida contagem do dinheiro e estipulou os preços dos outros objetos, como relógios e celulares.
  - Em dinheiro a gente tem 632 dólares, mais cinco relógios verdadeiros, três falsificados, e 14 celulares. No total, lucramos perto de quatro mil. – Big Sean disse e os seis rapazes comemoraram silenciosamente.
  O líder dividiu em partes mais ou menos iguais todos os lucros e anunciou que iria comemorar uma ótima noite com um pouco de pó e cerveja. Todos foram junto com ele até a boca de fumo mais próxima e gastaram seus lucros no que quiseram.
   comprou algumas gramas de maconha e uma cerveja, não estava muito a fim de coisas mais pesadas. Tragada vai, tragada vem e logo o grupo estava conversando e rindo alto como se fossem grandes amigos, com vidas felizes e perfeitas. Não eram amigos, nem tinham vidas felizes e muito menos perfeitas, mas sentia como se seus únicos momentos de felicidade fossem aqueles, quando estava bêbado e chapado demais para lembrar de qualquer outra coisa.
  - A erva está ótima, mas é hora de ir. – O rapaz disse e levantou-se da calçada em que estava sentado. Despediu-se dos colegas e voltou para casa a passos lentos, sem vontade de encarar a sua realidade.
  Por mais devagar que tenha andado, acabou chegando à pequena casa. Subiu os degraus da entrada, abriu a porta da sala e se deparou com a sua mãe dormindo no sofá, uma reprise de uma temporada antiga de Full House passando na TV. O garoto suspirou profundamente e desligou o aparelho, como já estava acostumado a fazer. Se dirigiu à cozinha e encontrou o vidro azul de comprimidos antidepressivos rotulado com o nome de sua mãe. Espalhou os comprimidos restantes no balcão da cozinha, conferindo quanto tempo ainda tinha antes de precisar comprar mais. Três dias. Três dias antes de precisar gastar 400 dólares em um refil para manter a mãe relativamente bem por mais vinte dias. Suspirou pesadamente e guardou os comprimidos de volta no armário.
   andou pelo corredor até a porta onde ficava o quarto de Ben, seu irmão. O garotinho de cinco anos dormia tranquilamente em sua cama simples, sem fazer ideia da problemática realidade em que seu nascimento acarretou. Quando Ben nasceu, Louise entrou em depressão pós-parto. Somada com as suas tendências genéticas para transtorno de bipolaridade e com o abandono que sofreu alguns meses antes, quando Carlos saiu de casa, gerou-se um quadro clínico terrível para a mulher, e consequentemente para o que restara de sua família. A culpa não era da criança, claro, mas a mente confusa de Louise não dizia assim. Dizia que odiava o menino, e por isso a responsabilidade de cuidar dele ficava para .
  Ao pensar nisso, percebeu que os efeitos da maconha e do álcool estavam passando, infelizmente. Já era tarde (ou cedo) demais para ir dormir, então resolveu ir tomar banho e passar as poucas horas que restavam antes de ter que ir para o seu trabalho oficial fumando nas escadas da frente da casa.
  A luz da alvorada refletia nas janelas sujas do prédio da garota misteriosa. se perguntou novamente o que acontecia lá e, já não aguentando mais a curiosidade, decidiu que invadiria o apartamento naquela tarde. Só trabalharia um turno na cafeteria, então teria tempo, e já havia invadido lugares muito mais seguros outras vezes. Além do mais, não roubaria nada, só queria entrar para ver o que a menina fazia lá, ela nem perceberia.
  Assim que terminou o terceiro cigarro, olhou em seu relógio e soube que precisava acordar seu irmão. Levantou-se dos degraus e foi até o quarto de Ben, parando na cozinha apenas para ligar a cafeteira.
  - Hey, Ben. Hora de levantar. – O mais velho disse entrando no quarto. Sentou-se na cama do menino e o chacoalhou levemente. – Vamos, Benster. Hora de ir para a escola.
  A única resposta que obteve foi um grunhido baixo. riu levemente e começou a passar a mão nos cabelos do irmão carinhosamente.
  - Acorda, criaturinha! Não quer ver a sua namoradinha hoje?
  - Eu não tenho namorada! – A criança respondeu, abrindo os olhos rapidamente. – Eu nem sou amigo da Sally, as amigas dela que inventaram isso!
  - Aham, sei. Mas agora que você já acordou, pode ir tomar banho. Vou ver o que tem para comer. Vai logo! – O mais velho disse e se levantou da cama, voltando à cozinha.
  Colocou café em duas xícaras e levou uma para a sala, onde sua mãe ainda dormia no sofá. Acordou Louise o mais gentilmente que pôde e a entregou o café e um dos comprimidos azuis, que a mulher logo engoliu.
  - Quando Ben sair, a senhora pode tomar banho. Tem um pouco de cereal e leite na geladeira. Vou levar o menino para a escola e volto depois do almoço. Coma alguma coisa. – disse, mas a mulher já estava com os olhos pregados na televisão que ligara, aparentemente não prestando atenção em mais nada.
  Prontos e já tendo tomado café, os dois meninos saíram da casa e foram andando até a pré-escola, onde despediram-se com um abraço. Ben avistou um de seus coleguinhas e logo correu para alcançá-lo, enquanto assistia. Amava o garotinho, mesmo que nunca dissesse isso em voz alta.
  Andou até a estação de metrô mais próxima e foi até o centro da cidade, onde ficava a cafeteria em que trabalhava. Cinco anos atrás, quando sua mãe foi diagnosticada, ainda estava no Ensino Médio, mas teve que largar, já que o pai tinha ido embora, a mãe não tinha condições de trabalhar e as contas continuavam chegando. Aceitou o único trabalho que o quis contratar, em uma cafeteria no centro, perto de uma universidade.
  Entrou no local e recebeu olhares tortos de alguns clientes que já estavam ali, com o que já estava acostumado. Talvez fosse o cabelo, que descoloria até ficar branco, ou então as tatuagens que tinha em um dos braços, ou até as roupas, que eram um pouco velhas, mas todas as vezes que chegava naquela parte mais nobre da cidade, recebia aquele tipo de olhar. Uma das únicas pessoas que não o olhara assim quando o vira fora o Mr. Ross, seu chefe. Mr. Ross também tivera uma vida difícil, então se compadeceu do rapaz no momento em que ouviu a sua história.
   ignorou os olhares e foi direto para atrás do balcão, onde cumprimentou alguns colegas e começou o trabalho. Algumas horas depois, no pequeno intervalo entre o rush da manhã e o da hora do almoço, Mr. Ross começou a chamar algumas pessoas para entregar seus respectivos salários.
  - E aí, , como vão sua mãe e Ben? – O homem perguntou, entregando um envelope branco na mão do rapaz.
  - Louise está sobrevivendo à base de café, comprimidos e reprises de Full House. Ben está relativamente bem, nenhuma professora ligou para reclamar dele na escola ainda. – respondeu em tom de brincadeira, apenas para amenizar a gravidade da situação.
  - E você? Não dormiu, de novo? – Mr. Ross perguntou e desviou o olhar e abaixou a cabeça, o que foi a resposta mais clara que poderia ter dado. Eram poucas as pessoas que sabiam o que fazia, e uma delas era o Mr. Ross. O homem sabia quanto dinheiro era preciso para manter uma vida como a de , e também sabia que só o que ele ganhava na cafeteria não era o suficiente.
  - Quando chegar em casa, eu quero que você coma alguma coisa e vá dormir, ouviu? Não pode cuidar da sua família se estiver desmaiando de exaustão. – Mr. Ross disse e assentiu ainda de cabeça baixa. Quando o mais velho saiu, o garoto contou o dinheiro que recebera, fez algumas contas e constatou que conseguiria comprar os remédios da mãe e pagar algumas contas, então não precisaria se encontrar com os parceiros naquele dia.
  Horas depois, quando já estava devidamente certificado que sua mãe havia almoçado e que Ben estava fazendo um trabalho na casa de um colega, o rapaz do cabelo platinado atravessou a rua em direção ao prédio da frente. O lugar era antigo, com paredes de tijolos aparentes, algumas pichações em lugares humanamente impossíveis de serem alcançados e um portão de ferro simples. Nenhuma câmera podia ser vista, muito menos um porteiro.
  - Fácil demais. – Ele disse baixo, já começando a escalar o portão. Segundos depois, estava dentro do edifício.
  Subiu as escadas o mais rápido que conseguiu, a ansiedade aumentando a cada degrau. Finalmente chegou ao terceiro andar e tentou se localizar, já que haviam duas portas no corredor. Escolheu a que parecia mais provável de ser a da menina, considerando a posição das janelas que via, e começou a arrombar a fechadura. Pouco tempo depois, ouviu-se um leve click e a porta abriu-se.
  Já havia imaginado todo tipo de coisa que poderia estar ali, mas nunca chegara perto da realidade. Quando olhou dentro do apartamento, foi surpreendido por uma linda pintura de um cavalo em um campo. Ao lado do cavalo, havia um safari africano desenhado em uma tela. O rapaz, surpreendido pelo que encontrara, entrou no lugar e olhou ao seu redor, percebendo que não era um apartamento, mas sim um estúdio de arte. Haviam muitos cavaletes com telas, algumas prontas, outras inacabadas, outras em branco, e ao lado de cada um deles havia uma mesa com todos os tipos de tinta, pinceis e utensílios de pintura imagináveis. Também podia-se encontrar baixas divisórias suportando ainda mais pinturas, como em um museu. Era definitivamente o lugar mais bonito que já tinha visto na vida.
  Perto de uma das janelas maiores estava uma tela inacabada de um sol nascente, provavelmente na qual a menina estava trabalhando no momento. Mesmo sem estar terminada, já dava para perceber que seria a obra mais bonita de todas, nunca na vida poderia descrever a beleza da imagem, nem os sentimentos melancólicos que ela passava. A tela era de certa forma viciante, como se fosse impossível desviar o olhar dela, sempre havia algum detalhe novo para se ver.
  Depois de um tempo incrivelmente longo observando a obra prima, conseguiu se forçar a ir olhar os outros quadros. Todo tipo de coisa estava retratado ali, desde passarinhos voando no céu até strippers em cima de uma mesa. Cada quadro passava um sentimento diferente e específico, e ficou absorto em cada um deles por um tempo indeterminável, mas só se deu conta disso quando ouviu a porta da frente sendo aberta.
  O pânico que invadiu o garoto era surreal. Ele já tinha estado em perigos muito maiores do que ser flagrado em invasão de propriedade por uma simples garota, mas nunca sentira tanto medo. Talvez fosse porque nas outras situações não era nada pessoal, ele só estava fazendo o necessário para sobreviver, mas agora, se a garota o encontrasse, ela faria algumas perguntas que definitivamente não queria responder.
  A garota abriu a porta, estranhando por não estar trancada, e entrou no estúdio. abaixou-se rapidamente, derrubando um pote de tinta azul no processo.
  - Tem alguém aí? – A menina perguntou, receosa. Olhou em sua volta e não viu nada que explicasse o barulho que ouvira, então continuou procurando.
  O rapaz se xingou mentalmente, tentando colocar o pote de volta no lugar antes que a garota o encontrasse abaixado atrás de uma das divisórias. Ela segurava sua bolsa firmemente, como se fosse um escudo, enquanto adentrava seu estúdio procurando algum invasor. conseguiu colocar o pote de volta na mesa, mas não sem antes ficar com as mãos completamente sujas de tinta azul. Enquanto se esgueirava pelo local tentando não ser visto, não parou de xingar mentalmente em nenhum momento, mas provavelmente disse algo um pouco mais alto quando quase escorregou e teve que se apoiar em uma parece para não cair de bunda no chão.
  - Merda! – Exclamou baixo, mas a menina ouviu mesmo assim e virou-se em sua direção. Seus olhares se encontraram por apenas um segundo, antes de disparar pela porta, deixando uma marca de mão azul na parede e uma artista assustada e muito confusa para trás.
  Em menos de 15 segundos já estava no outro quarteirão, tinha certeza que havia quebrado o recorde mundial. “Bolt quem?!”, ele pensou, diminuindo um pouco a velocidade quando percebeu que a garota não estava atrás dele. Com o coração ainda acelerado, sentou-se na calçada para tentar se acalmar, mas quando olhou para a sua mão, começou a rir, pensando no absurdo que era a situação. Tentou limpar a tinta na calça, sem sucesso, então decidiu que lavaria quando chegasse em casa.
  - ! – ouviu alguém chamar do outro lado da rua quando estava se levantando, com o coração já em um ritmo normal. Era Big Sean, o líder da gangue. – Vai rolar uma reuiniãozinha pra gente combinar o trampo de amanhã, vambora.
  Não era um convite, mas uma ordem. assentiu e começou a fazer o caminho de volta para a sua rua, encontrando alguns dos outros parceiros no caminho. Chegaram todos ao ponto usual e o líder começou a discutir o plano para o sábado, o dia que normalmente dá mais lucro. O plano era agir perto de dez horas nas entradas das boates e depois eles iriam assaltar uma casa rica na parte mais afastada da cidade, que os donos estavam viajando. Já eram sete da noite quando o sono começou a bater em , que estava acordado havia mais de 24 horas. Chegou em casa cambaleando levemente, mas ainda teve forças para escrever um recado para Ben e para tentar lavar as mãos novamente antes de desmaiar na cama.
  “Benster, quando você chegar eu e a mãe já vamos estar dormindo, desculpa. Espero que tenham te dado comida na casa do seu amigo, mas se estiver com fome, pode me acordar. Boa noite.
  No dia seguinte, quando o garoto estendeu a mão para desligar o despertador, percebeu que ainda havia tinta em seus dedos. Levantou-se e foi tentar lavar as mãos novamente, mas a porcaria azul insistia em não ir pia abaixo. Desistiu não muito tempo depois, sabendo que se continuasse tentando acabaria atrasado para o trabalho e teria que sair mais tarde do que o necessário.
  Depois de se despedir da mãe e do irmão, que voltou a dormir logo que fechou a porta do quarto, fez o seu caminho usual até o centro. Sábado era o dia da semana em que mais tinha trabalho, tanto de dia quanto de noite, e considerando a quantidade de clientes que entravam na cafeteria, era difícil prestar atenção em todos. Porém, quando entregou um muffin e dois moccas grandes no nome de , não teve como não notar.
   estendeu a mão para pegar o seu pedido, sem olhar muito bem para quem o estava entregando, mas quando olhou para as mãos do atendente e viu algumas manchas azuis, levantou o olhar e o reconheceu. Seus olhares se prenderam por alguns segundos, o dela expressando surpresa e o dele, uma mistura de pânico e culpa. Era o cara que invadira o seu estúdio no dia anterior! Olhos castanhos como os dele eram comuns, mas o cabelo era um pouco mais difícil de confundir.
  A menina abriu a boca para falar alguma coisa, mas quando percebeu, o rapaz já tinha fugido por uma das portas atrás do balcão. Deixada quase falando sozinha e extremamente confusa, pegou seus pedidos e saiu da cafeteria lentamente, sentindo alguns olhares estranhos sobre si. “O que está acontecendo?”, ela se perguntava enquanto andava de volta para casa, passando em frente à Universidade em que fazia o curso de Artes.
  Chegou em casa pensando no quão estranho era que não havia ficado completamente assustada ao reencontrar o rapaz que arrombara a porta de seu estúdio, e que não havia chamado a polícia imediatamente. Não entendia o que era, mas alguma coisa no garoto dava a entender que ele já tinha problemas demais para ter que lidar com uma situação daquelas, e ele não roubara nada, afinal, só deixou uma marca de mão feita de tinta na parede.
  - ? – A menina ouviu uma voz a chamando assim que abriu a porta do apartamento em que morava.
  - Sou eu! Trouxe o seu café. – Ela disse e foi até o escritório, onde o pai já estava trabalhando no computador.
  - Obrigado, querida. – O homem respondeu e estendeu uma mão para pegar a bebida, enquanto a outra continuava digitando.
   se apoiou no batente da porta e tomou um gole de sua própria bebida. O pai continuava trabalhando, sem se incomodar de ser observado. Eram uma família com uma boa condição de vida, o pai sendo presidente de uma grande empresa e a mãe trabalhando como sua assistente, e por isso a garota nunca teve que se preocupar em ter uma profissão que gerasse muito dinheiro imediato, como em Medicina ou Direito. Sempre amara as artes, desenhava antes mesmo de aprender a andar, e já fazia um bom dinheiro vendendo suas pinturas e as expondo em galerias. Assim que conseguiu dinheiro suficiente, comprou o grande apartamento na periferia e o transformou em seu estúdio, onde tinha a paz que precisava para pintar o que queria, o que sentia. Um santuário particular. Bom, quase particular.
  Voltou a pensar no rapaz de cabelos platinados que invadira seu santuário, e começou a se perguntar quem ele era, e porque andava invadindo o apartamento alheio um dia e trabalhando em uma cafeteria no outro. Outra característica que tinha desde criança era a curiosidade, o que contribuiu para a sua decisão de voltar para a cafeteria e tirar aquela história a limpo.
  - Pai, eu tenho que sair para resolver algumas coisas. – Disse resoluta quando terminou de tomar seu café.
  - Okay, querida, mas volte antes do almoço. – O pai respondeu sem desviar o olhar da tela a sua frente.
   se despediu do pai com um beijo no rosto e fez o curto caminho de volta à cafeteria. Passou pela porta e, como o lugar já estava consideravelmente mais vazio, avistou os cabelos brancos do garoto imediatamente. Ele estava de costas para a porta, lavando alguma coisa na pia, mas virou-se quando ouviu a garota chamar.
  - Ei, invasor de estúdio! – Ela disse da maneira mais casual que pôde, mas adiantou de pouca coisa para manter a calma de , que virou-se para ela já com olhos arregalados. Ele pensou em fugir novamente, mas agora o seu chefe estava inconscientemente empacando a porta enquanto conversava com outro funcionário. – Por favor, não fuja! Não vou chamar a polícia, só quero conversar. – A garota disse rapidamente.
  A menção dos oficiais chamou a atenção de Mr. Ross, que olhou para acusadoramente, perguntando silenciosamente o que o rapaz havia feito com aquela menina. Aquele olhar foi o que faltava para tomar coragem e ir falar com , que o aguardava em frente ao balcão. O garoto voltou seu olhar para a menina agora em sua frente, que indicou uma mesa para se sentarem.
  - Então, quem é você e por que estava no meu apartamento ontem? – Ela perguntou direta quando os dois se acomodaram.
  - , e é um pouco complicado. – Ele respondeu, coçando a nuca e se apoiando na cadeira receosamente.
  - . Eu tenho tempo, pode falar.
  - Olha, , você parece ser muito legal por não ter chamado a polícia, então vou falar de uma vez. Eu moro do outro lado da rua daquele prédio e te vejo quase todos os dias indo até lá. Você chega, as luzes do terceiro andar se acendem e não apagam por um longo tempo, e eu estava muito curioso para saber o que você fazia, por isso entrei no apartamento ontem. Eu não roubei nada, mas se quiser eu pago a tinta que eu derrubei.
  - Não precisa pagar nada. – Ela disse. – Incrivelmente, eu continuo sem querer chamar a polícia.
  - Deve ser a minha beleza extrema. – disse brincalhão, percebendo que o clima já estava menos tenso.
  - É, deve ser sim... – A menina disse sem pensar e desviou o olhar.
  Naquele momento, percebeu o quanto era bonita. Pela morena brilhante, cabelos castanhos cacheados levemente bagunçados pelo vento, e olhos verdes que se destacavam, apesar de levemente cobertos por óculos grandes, que completavam o estilo nerd hot da garota. Parecia uma boa pessoa, diferente de , que recebia olhares tortos por onde passava.
  - A gente podia sair qualquer dia desses... O que você acha? – Ele perguntou sem pensar muito, mas dando seu melhor sorriso. Nunca fora muito tímido, e sabia esconder o nervosismo quando precisava.
   levantou a cabeça e olhou fundo nos olhos de , tentando ler o garoto. Como uma artista, sabia que tipo de sentimento as imagens passavam, assim como expressões corporais e olhares. Os olhos castanhos do garoto passavam confiança, mas ela podia sentir que havia muito mais na sua vida do que aquilo, como nervosismo e preocupação, mas também responsabilidade e carinho. No fundo, era só um garoto que cresceu rápido demais.
  - Pode ser. – Ela finalmente respondeu, para a surpresa do garoto. Anotou seu número em um guardanapo e o estendeu para , que o pegou sem desviar o olhar do rosto da menina. – Mas agora eu tenho que ir, e acho que você também. – Ela levantou-se e indicou a direção de Mr. Ross com a cabeça.
   virou-se para onde ela apontava e percebeu que o homem o estava encarando com uma expressão brava. já estava na porta quando a olhou novamente. Levantou de sua cadeira, se despediu dela com um aceno distante e a observou saindo do local. Os minutos da sua pausa haviam passado ao menos três vezes, por isso recebeu olhares um pouco raivosos de seu chefe quando voltou ao trabalho.
  Pouco tempo depois, no caminho de volta para casa, percebeu a loucura que fez e quase entrou em pânico. Tinha chamado para sair! Não sabia nem se tinha dinheiro para pagar um ingresso no cinema, quanto mais dois! E comida também!
  Assim que chegou em casa, depois de ter passado em uma farmácia para repor os remédios da mãe, o garoto foi contar quanto dinheiro poderia gastar no encontro. Conferiu que tinha o suficiente para dois ingressos para uma terça-feira, dia de promoção, mas não sobrava quase nada para comer, então decidiu que teria que lucrar mais do que o normal nos assaltos daquela noite.
  - O total de hoje foi 850 em dinheiro, três colares de mais ou menos 500 dólares e dois relógios Rolex. A gente sabe que não foi o esperado, os riquinhos colocaram tudo nos cofres, mas semana que vem tem mais. – Big Sean disse, horas depois, quando e o resto da gangue estavam de volta ao beco.
  Haviam roubado algumas pessoas na rua e depois assaltado uma grande casa mais afastada da cidade, que Big Sean descobrira que os donos estavam viajando. Os jovens estavam planejando aquela noite desde a metade da semana, mas nem tudo saiu como o planejado, pois um dos caras tentou sair pela janela errada e o alarme disparou. Tiveram que sair correndo, mas conseguiram pegar algumas coisas.
  Pelo menos agora tinha o suficiente para pagar os lanches no seu encontro com e não ter que ficar sem energia ou comida em casa. Voltou para casa um pouco mais animado, mas a felicidade acabou quando viu Louise adormecida no sofá novamente, com o mesmo episódio de Full House na televisão. Desligou o aparelho e checou o quarto de Ben, que dormia tranquilamente em sua cama. Deixara o garotinho desenhando algumas coisas em papéis, que agora estavam jogados no chão, junto com os lápis e gizes de cera que usara. suspirou e decidiu que arrumaria aquilo tudo quando acordasse no dia seguinte, e foi o que fez.
  Acordou pensando em como chamaria para sair, e não parou de pensar nisso até à noite. Ajudou Ben com a tarefa de casa, cuidou de sua mãe, limpou os quartos e a cozinha com a ajuda do garotinho, e de vez em quando se pegava pensando na morena, mas adiava tentar falar com ela com a desculpa de ter que fazer outra coisa. nunca fizera tanta limpeza na casa, mas as tarefas eventualmente acabaram.
  “Oi, aqui é o , da cafeteria.” Ele finalmente enviou uma mensagem. No começo, tinha digitado que era o do estúdio, mas apagou.
  “Ah, o que invadiu meu estúdio né?! Como vai?” respondeu pouco depois.
  “Desculpa por isso.”
  “Tudo bem. Mas não pense que você não vai ter que me pagar um jantar!”
  “Eu estava pensando em cinema. O que vai fazer na terça?” digitou, sorrindo ao perceber que não era o único que não tinha esquecido o encontro.
  “Agora, vou no cinema com um cara.” A menina aceitou o convite e comemorou em seu quarto.
  “Me encontre na cafeteria as sete.”
  “Te vejo lá!” respondeu e os dois se despediram.
  A terça-feira demorou a chegar. A segunda pareceu ter três semanas de duração, e a noite foi uma das mais longas da vida de . Não conseguia dormir, pensando na noite do próximo dia, quando veria de novo.
  A manhã de terça finalmente chegou, e percebeu que não tinha como levar até o cinema. O tempo todo esteve pensando no que faria quando chegasse lá, mas não passara pela sua cabeça como chegar. Entrou para o trabalho levemente em pânico, mas quando avistou Mr. Ross, teve uma ideia.
  - Chefe, eu preciso do seu carro. – Ele disse sem pensar muito, o que percebeu que foi um erro quando o mais velho apenas o encarou.
  - Bom dia, , tudo bem? – Mr. Ross disse sarcasticamente e depois continuou. – Posso saber pra que você quer o meu carro?
  - Vou levar a no cinema, mas não tenho como.
  - E seria...?
  - A menina que veio aqui no sábado. – respondeu, mas o mais velho continuou o encarando sem entender.
  - Preciso que você seja mais específico, filho.
  - A que me chamou de invasor de estúdio!
  - Você vai sair com uma menina que te chamou de invasor de estúdio? – Mr. Ross perguntou para se certificar que estava entendendo.
  - Eu invadi o estúdio de artes dela, não peguei nada, mas ela me viu. Ela veio aqui no sábado e me reconheceu, eu expliquei que só estava curioso, ela me achou bonito, eu achei ela linda e a gente vai sair. Ela vai vir aqui umas sete horas, mas eu não tenho como ir até o cinema. Posso pegar seu carro emprestado? – O garoto tentou explicar a história bem resumidamente ao chefe, que não entendeu muito bem.
  - E essa menina aceitou sair com você? Esses jovens de hoje... – Mr. Ross disse rolando os olhos. – Vou pensar no seu caso, . Agora vai, que você tem alguns cafés para preparar. – Completou e foi até o seu escritório.
  No final do dia, Mr. Ross entregou a chave do seu Peugeot 206 ao garoto, dando um pequeno discurso sobre o carro.
  - Olha, , esse carro é maravilhoso, eu trabalhei anos para poder comprar ele. Se voltar com um arranhãozinho sequer, vou descontar do seu salário, não quero nem saber. O tanque está na metade, deve ser o suficiente para a noite. Não transe no carro, em hipótese alguma, e tente não levar nenhuma multa. Boa sorte com a menina. – O homem finalizou e deu alguns tapinhas nas costas de , que sorria enormemente com a chave do carro em mãos.
  - Obrigado, Mr. Ross! – agradeceu. Em seguida, recebeu uma mensagem de , dizendo que estava quase chegando. Terminou de limpar a última mesa quando a menina entrou.
  Estava linda, usando um vestido florido na altura dos joelhos e uma sapatilha simples. O cabelo cacheado estava solto, arrumado/bagunçado para um lado. “Linda”, pensou novamente, soltando o pano que segurava e passando uma mão pelo cabelo platinado.
  - Oi... – disse timidamente, segurando sua bolsa.
  - E ai! Vamos? – disse sorrindo. Disse tchau para o chefe e passou pela menina em direção a porta, indicando para ela segui-lo.
  O garoto abriu a porta do carro para , exibindo todo o cavalheirismo que não aprendera com o pai. Só havia aprendido duas coisas boas com Carlos : como dirigir e como fazer um ótimo churrasco.
  - Então, que filme a gente vai ver? – puxou assunto.
  - Estava pensando em ou Suicide Squad ou o Star Trek novo.
  - Suicide Squad, por que eu ainda não vi o primeiro Star Trek.
  - Suicide Squad será! – disse e o carro caiu em um silêncio confortável até a chegada no cinema.   Assistiram ao filme dividindo uma pipoca grande e refrigerante, tudo pago pelo garoto, e assim que saíram da sala de cinema, foram até o McDonald’s mais próximo.
  - Então, , o que você faz da vida? – disse e tomou um gole do seu refrigerante, quando os dois sentaram-se em uma mesa na lanchonete.
  - Faculdade de artes e, quando dá, eu desenho e pinto, mas disso você já sabe, né? – Ela disse, brincando com a cara de .
  - Desculpa de novo, mas eu sou curioso demais! – O garoto exclamou e a menina riu. – Você sempre gostou de pintar? – Ele perguntou.
  - Acho que sim. Meus pais dizem que eu já desenhava nas paredes antes de aprender a andar, mas eu acho que é mentira. Eles sempre disseram para eu seguir o meu sonho e fazer alguma coisa que eu gosto e que eu sou boa, então eu obedeci.
  - Não posso discordar. Suas pinturas são realmente lindas.
  - Você acha? – exclamou e seus olhos brilharam. Era sempre bom ter alguém elogiando o seu trabalho.
  - É claro! Aquela do cavalo está incrível, e a do sol nascente é a mais bonita. – Elogiou.
  - Mas nem está terminada! Como pode ser a mais bonita se não está completa?
  - Eu não sei, não entendo nada de arte, mas acho que vai ser sua obra-prima. – disse e tomou mais um gole do refrigerante.
   riu, incrédula, e mordeu o seu lanche. Continuaram comendo e conversando sobre a vida, até que a menina começou a perguntar sobre .
  - Mas e você? Mora com os seus pais? – Ela perguntou e o sorriso do menino se apagou um pouco.
  - Eu não tenho uma vida tão bonitinha e feliz como a sua, não sei se você vai querer saber essa história. – Ele disse.
  - Claro que eu quero! Eu te contei a minha vida quase toda, agora é a sua vez!
  Ponderou as possibilidades de sair correndo ou de contar tudo e correr o risco de a menina sair correndo. Decidiu pela segunda opção, e seja o que Deus quiser. Contou a ela como o pai saíra de casa antes de Ben nascer, que sua mão entrou em depressão depois disso e que teve que sair da escola para poder pagar as contas. ouviu tudo sem demonstrar nenhum tipo de julgamento, e quando o garoto terminou, ela disse:
  - Não tem como você sustentar essa vida só com o salário da cafeteria, como você consegue todo esse dinheiro? – Ela perguntou sem pensar muito, se tivesse pensado aquela pergunta nunca teria sido feita.
   ficou calado por um tempo, pensando se contava sobre a gangue ou não. Estava interessado em , não queria que ela se afastasse, mas se ela continuasse por perto, descobriria de qualquer forma, então era melhor contar de uma vez.
  - Você é um prostituto? – perguntou sem pensar, novamente.
  - O quê? Não! Não estou tão desesperado assim! – exclamou rindo, mas logo o riso desapareceu de seu rosto. – Eu... faço parte de uma gangue.
   abaixou o olhar e começou a brincar com o canudo, sem coragem de ver a reação de . Se ela se afastasse agora, seria o fim de todas as suas chances. Algum tempo se passou, e nada de falar alguma coisa. Finalmente, olhou de volta a garota, só para se certificar de que ela não estava chamando a polícia.
  - Tudo bem, eu entendo. Não faria diferente, se fosse você. – Ela disse finalmente, e o alívio correu pelo corpo do garoto. Não tinha arruinado tudo!
  Terminaram a noite em um clima leve e se despediram com um beijo em frente ao prédio de , que encontrara coagem não se sabe de onde para dar. Tomara riscos a noite inteira, que mal faria mais um? O pior que poderia acontecer era ela se afastar, diferente de outras situações que passaram.
  Naquela noite, não foi se encontrar com a gangue. Estava se sentindo bem demais para aquilo, não queria estragar o dia.
  - , o que aconteceu? – Ben perguntou quando o irmão chegou em casa com um sorriso de orelha a orelha.
  - Nada, ué. Por quê? – disse, mas sabia que estava estampado em sua cara que tinha algo de diferente.
  - Porque você tá diferente, sei lá, com esse sorriso ai. – O garotinho disse e sentou-se em uma das cadeiras da cozinha, enquanto pegava alguma coisa que não precisava no armário. Por mais que tentasse, o sorriso não saia do seu rosto.
  - Não posso mais sorrir, agora? – Ele perguntou tentando soas mais sério, sem sucesso.
  - O que aconteceu, ? – Ben perguntou e desistiu de tentar esconder.
  - Eu beijei ela! Eu beijei a , e ela correspondeu! Ah, Benster, a vida é ótima! – exclamou, pegou o irmão e o girou pela cozinha alegremente. O menino riu, sem entender muito bem, mas se seu irmão mais velho estava feliz, ele também estava.
  Aquela noite foi a primeira em que dormiu e acordou em paz desde que seu pai saíra de casa. Claro, os problemas ainda estavam lá, mas pareciam pequenos diante da expectativa de terminar os turnos na cafeteria e conversar com até a hora de sair de novo. Em uma semana, a pediu em namoro e ela aceitou, para a surpresa dele.
  A influência de um na vida do outro era notável de longe. aprendera a ser uma pessoa melhor, enquanto deixava de ser tão “certinha” como crescera para ser.
  - Você pensa em ser alguma coisa maior? – perguntou e tragou o cigarro, o passando para em seguida.
  Estavam deitados na cama de , um mês depois de começarem a namorar, descansando das atividades prévias daquela mesma noite. Ben estava passando a noite na casa de um amigo e a mãe estava dormindo em seu quarto. Talvez o casal tenha feito um pouco de barulho, mas, se a mulher escutou, não reclamou.
  - O quê? – perguntou, tragou o cigarro e olhou para a namorada, que já estava com os olhos em seu rosto. A menina fez uma nota mental para memorizar aquele rosto, pois pretendia pintá-lo em um futuro próximo.
  - Alguma coisa maior. Fazer uma faculdade, realizar algum sonho de vida. Você pensa nisso? – A menina elaborou.
  - Ah, não sei. Eu já quis ser paramédico, mas isso foi antes de a mãe ficar doente e tudo o mais. Acho que eu penso mais em como pagar o lanche de Ben do que nos meus sonhos de vida. – Ele respondeu em um tom casual, depois de pensar um pouco.
  - Mas você ainda quer ser paramédico? Com certeza ganha mais do que ser atendente de uma cafeteria.
  - Pensando assim, sim, acho que seria bom. – disse simplesmente e pensou que o assunto tinha acabado, mas continuou.
  - Então por que você não procura o que precisa para isso? – Ela perguntou e só deu de ombros, sem resposta.
  - Por que você se preocupa tanto? – Ele perguntou, sem nenhuma crítica na voz, apenas curiosidade.
  - Porque eu quero que você tenha uma vida melhor, meu bem. Eu quero te ajudar! Amanhã nós vamos fazer um plano de vida para você, tudo bem? – Ela perguntou e o garoto assentiu, rindo sem acreditar.
  - É, amanhã... – Ele disse e se inclinou sobre a menina, começando a beijá-la novamente.
  No dia seguinte, descobriram que virar paramédico não era tão difícil como pensavam. Só era preciso passar em uma prova de alternativas de nível médio e em um teste físico, e tinha quatro meses para se preparar. Também quatro meses faltavam para o seu aniversário, que seria dois dias depois das provas.
  Nos quatro meses de “treino” que se passaram, se encontrou com a gangue bem menos do que o normal. ajudava a pagar um pouco das contas, mesmo que insistisse que não era necessário, e acabava ficando para passar a noite com o garoto, o que o distraía bastante. E nesses desencontros, perdeu um assalto grande para o qual estava escalado. A gangue já tinha avisado que se isso acontecesse de novo, ele estava morto, e que iam marcar o dia do próximo assalto logo, então era bom que fosse para as reuniões. Depois da ameaça, o rapaz ficara com bastante medo, então até a semana das provas foi para as reuniões quase todas as noites.
  - E aí, meu amor, como foi? – perguntou, levantando-se do sofá da casa de . O rapaz acabava de chegar do local das provas e a menina o estava esperando em casa, junto com Ben e Louise.
  - Acho que eu fui bem. – Ele disse entrando na sala. A namorada fez que ia abraçá-lo, mas percebeu o quanto ele estava suado e desistiu. – O resultado sai próxima semana.
  - A gente vai comemorar depois que você tomar um banho. Já pro chuveiro! – Ela disse e todos riram.
  Naquela noite, a família comemorou com um jantar simples, querendo deixar as especialidades para dali a dois dias. Mais tarde, achando que merecia um descanso, foi para a cama com , mas o sono passou longe do casal. O dia seguinte passou normalmente, estudou e pintou o quadro que daria de presente a , o garoto trabalhou os dois turnos na cafeteria, Ben foi para a escola e Louise assistiu ao seu programa favorito.
  O dia do aniversário chegou, finalmente. acordou tão animada que seus pais estranharam, mas não perguntaram nada enquanto ela pegava tudo o que precisava e saía saltitante pela porta de casa, levando o quadro do garoto embrulhado em uma mão e sua bolsa na outra. Foi até a rua de , mas não conseguiu entrar na casa.
  - ! – A menina ouviu Ben gritando o seu nome, mas não conseguiu ver o menino.
  Parecia que todos os policiais da cidade estavam reunidos na porta da casa de , impedindo a entrada de qualquer um, fazendo perguntas aos vizinhos, anotando coisas e tirando fotos. No fundo, já suspeitava do que tinha acontecido, mas não queria acreditar. Soltou o quadro que carregava na calçada e começou a se aproximar da entrada da casa.
  - ! – Ouviu de novo, e dessa vez viu o garotinho correndo até ela.
  - Ben! O que aconteceu? Cadê o ? – Ela perguntou quando pegou o menino nos braços. Ben estava chorando, sem conseguir explicar o que acontecera. – Calma, Ben. O que aconteceu?
  - Com licença, você é o que do menino? – Um dos policiais se aproximou de e perguntou.
  - Hm... Eu sou a namorada do irmão dele. Pode me dizer o que aconteceu?
  - Acho melhor a senhorita se sentar. – O policial disse e levou e Ben para dentro da casa, onde sentaram-se no sofá, junto com Louise, que chorava silenciosamente. – Perto de quatro da manhã, o Dept. de Polícia recebeu algumas chamadas de pessoas ouvindo tiros nessa rua. Viemos e encontramos alguns membros da gangue local atirando em , enquanto Benjamin e Louise estavam trancados em outro quarto. Quando ouviram nossas sirenes, eles tentaram fugir, mas pegamos dois. – O policial disse e fez uma pausa, enquanto via lágrimas já correndo pelo rosto de . - não sobreviveu, sinto muito.
   sentia tudo e nada ao mesmo tempo. Dor, tristeza, raiva, pena, solidão. Não sabia como lidar com tudo, então apenas chorou, e enquanto chorava, parecia que todas as cores do mundo se esvaíam e tudo se transformava em cinza.

You were red, and you liked me because I was blue.
But you toutched me, and suddenly I was a lilac sky,
But you decided purple just wasn’t for you

Fim

  Nota: E com isso fica comprovado que eu não sei fazer história de bad boy. Se você leu até aqui, parabéns e muito obrigada pela perseverança, e fique à vontade para comentar!
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