Cartas do Destino

Escrito por Ana Paula Gualberto Cabral | Revisado por Bella

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Prólogo

   nasceu em Houston, em 26 de janeiro de 1923.
   nasceu em Nova York, em 14 de maio de 1920.
  Apesar de nasceram no mesmo país, nunca haviam se conhecido, até conhecer sua vizinha, , que morava com os pais. Ele se apaixona, e envia cartas anônimas para ela. Ela, sem mesmo conhecê-lo, se apaixonou por suas cartas. Mas, apesar do grande amor entre os dois, quando finalmente iam se conhecer, uma guerra acontece.
   é convocado. E um casal fora separado. Apesar de este não ser um dos únicos casais separados pela guerra (tanto na literatura, quanto na realidade), eles tentam vencer esta guerra, para simplesmente ficarem juntos (e se conhecerem).
  Mas o que fazer, quando simplesmente você não pode fazer nada?
  Confira em: Cartas Do Destino!

Capítulo 1

  Primeiras cartas:

  A manhã em Houston estava clara, mas fria; o vento gelado bateu em seu rosto, fazendo a estremecer. Abriu a porta e caminhou até a caixinha de correspondências, checando-as.
  Havia algumas contas, correspondências de conhecidos, e uma carta em branco, sem remetente, apenas com o destinatário.
  Voltou á casa, fechando a porta e colocou todas as cartas no balcão. Pegou a que mais chamara a sua atenção, aquela que não tinha o remetente. A abriu, e havia uma caligrafia impecável em algumas folhas brancas.

  “Olá, !”.
  Você talvez nem saiba ou lembre que eu existo, mas saiba que sou seu admirador, talvez até mesmo o maior deles; mas eu lhe digo que há muitas coisas das quais você não sabe. Não sabe que quando você passa, um sorriso se forma em minha boca, e eu até penso como seria te levar para um lugar no qual você nunca conheceu, te levar para ver o por do sol, e passar o resto da vida do teu lado. Você não sabe que eu penso isso, mas talvez se soubesse, mudaria alguma coisa?
  Eu sei que um dia vai chegar à hora de eu me declarar, e tentar falar, pelo menos uma parte, de todos os meus incontáveis sentimentos, mas por enquanto, me divirto te vendo buscar cartas, e ser seu admirador secreto, e continuar me maravilhando por você.
  Um dia o mistério vai acabar.
  De seu admirador secreto.”

  Ela olhou para a carta, atônita, como se não entendesse, como se estivesse em uma língua difícil de decifrar. O sentimento de curiosidade crescia cada vez mais dentro de si, e ela queria saber quem era esta pessoa. Mas não deixara nenhuma pista, nada. Unicamente, seus sentimentos expressos com uma caligrafia bonita. Não deixara pistas de como era, do que fazia, e como poderia responder. Pensou, que talvez ele se divertisse com isso, e seria injusto que parasse, pois ela agora também se divertia.

  Ela não sabia como ia descobrir quem era o seu admirador, mas queria, de todo o jeito.
  Acabou lendo a carta muitas vezes, para tentar achar alguma pista, mas nada. Seja lá quem fosse, ou tinha realmente vergonha, ou então era um ótimo brincalhão.

Capítulo 2: Todo dia é uma carta

  Todos os dias, quando ia ver as correspondências, sabia que haveria, pelo menos uma carta para ela, e ela sabia muito bem como ela era. Sempre era a primeira a ver as cartas, e sempre achava aquela que queria.
  Havia somente uma carta, do mesmo jeito que a outra, envelope branco, sem remetente, e com o seu nome no verso. Quando abriu, a caligrafia perfeita, em preto, e assinando como “Seu admirador secreto”, ou às vezes, “Aquele que te ama em segredo” e por assim vai.
  Fora assim por um ano. Mas quando chegou no 364° dia, a carta mudou.
  Continuava ainda sem remetente, envelope branco, caligrafia perfeita, e assinando como um admirador secreto, mas ele pedia que ela o encontrasse em uma praça, que era bastante conhecida, ele finalmente queria que ela o conhecesse.
  No inicio ela ficou surpresa, e teve de ler novamente. Teve certeza do que lia. Ele marcou o dia 12 de agosto. 12 de agosto era exatamente o dia em que enviou a primeira carta. Ela não hesitou, e no dia marcado, estava lá. Ele pediu que ela fosse com um vestido branco, sapatos azuis, os cabelos preso em um coque. Ele, por sua vez, disse que estaria com uma camiseta vermelha e calças marrom e um buquê de rosas na mão.
  Ela se animou tanto e tratou de ver as roupas. Conversou com as amigas, e contou como estava animada. Suas amigas sabiam das cartas, desde a primeira.
  Elas deram dicas, e disseram que ajudariam a amiga. No dia seguinte, ela se arrumou bem depressa, mas ficou de cinco em cinco minutos se ajeitando, olhando no espelho e perguntando se estava bonita.
  Apesar de as amigas sempre falarem que sim, ela não se aquietava. O fato era de que estava muito nervosa, afinal, passara um ano desde as primeiras cartas, e agora finalmente ia conhecê-lo, seja quem lá fosse. Não conseguia se conter perante a tanta ansiedade. Quando faltava meia hora, foi até o local marcado, em passos largos, a fim de chegar mais rápido.
  Quando chegou, procurou por toda praça, mas não conseguiu achá-lo. Havia muitos homens, hora com uma camisa vermelha, hora com calça marrom, mas nenhum segurava um buquê de rosas.
  Ele pediu que ela fosse ao meio dia. Ela esperou. Na primeira meia hora, achava que ele tinha se atrasado, mas que ainda viria. Na primeira hora, achou que deveria ter acontecido algo grave, mas que ele ainda viria. Na segunda hora, achou que ele não viria, mas não conseguiu ir embora. Mas na terceira hora, sabia que ele não viria mais.
  Voltou para casa, e nem checou as cartas, só pegou as 365, e levou para uma amiga jogar fora. Era tempo perdido. Mas ela sabia que não conseguiria se desfazer daquelas cartas sozinha, e ai que vinha a amiga. Mas depois, entendeu que seja quem lá fosse, estaria só brincando com ela.

Capítulo 3: Cartas que perduram

  Não conseguiu se conter, e ao voltar para casa, chorou como nunca antes. As amigas fizeram de tudo para consolá-la, mas nada adiantava. Apesar de nunca tê-lo conhecido, sentia que gostava dele, seja ele quem fosse.
  Ela havia sonhado, desde a primeira carta, quando ia conhecê-lo e era apenas uma brincadeira. E agora, ela imaginava que ele estivesse rindo dela.
  A cidade, agora passava por guerras. Muitas pessoas morriam, o noticiário era cada vez pior. Ela pensou que caso tivesse o conhecido, talvez ele fosse convocado para a guerra, e que assim tinha sido melhor, pois sofreria ainda mais.
  Mas ela não conseguia. A cada pessoa que via com calça marrom e camiseta vermelha, ela se lembrava dele. E a cada vez que passava por uma floricultura, ou jardim e via rosas, lembrava se dele. E quando via rapazes dando buquês de rosas para suas namoradas, pensava que poderia ter sido com ela. Ela não conseguia parar de pensar nisso, era mais forte que ela.
  Todos os dias ela pensava, onde ele estaria agora, o que estaria fazendo, e como seria se tivessem se conhecido. E de repente, uma onda de tristeza a embalava e ela começava a chorar.
  Quando as amigas a viam chorando, sabiam o por que. Elas tentaram olhar novamente as cartas, mas não achavam nada que lhes dessem pista sobre o que fazia, o que sentia, ou qualquer outra coisa sobre ele, além de seu “amor” por .
  Depois de algum tempo passar, o choro de fora diminuindo, e a raiva dentro de si crescendo, e ela achava que foi melhor não tê-lo conhecido, e se o visse agora, daria um tapa em seu rosto, como forma de vingança, por tudo que ele a fez passar.
  A ilusão de terem novas cartas dele todos os dias diminuía e ela não re-lia mais as cartas. As deixou guardadas, e fora de sua vista, como forma de tentar esquecê-las. E estava funcionando...
  Mas ela resolveu, depois de um tempo, se desfazer das cartas. Mas ela não conseguiria sozinha. Então entregou para sua amiga se desfazer delas.
  A amiga, apesar de saber do sofrimento de , começou a olhar as cartas e acabou por esquecer de jogá-las fora, e sabia que mesmo se lembrasse, também não teria coragem, então, somente as guardou em uma caixa, esperando que, talvez, a amiga fosse se arrepender e voltar atrás, pedindo pelas cartas.

Capítulo 4: De volta as cartas passadas?

  A garota se olhava no espelho. Os cabelos haviam crescido, continuavam , mas iam até o meio das costas. Os olhos também tinham lápis, fazendo-os ficarem mais “visíveis”. A boca tinha uma camada “fina” de batom rosa claro, e ela usava um vestido branco combinando com a sua pele. E o sapato era azul. Ela resolveu colocar o cabelo em coque.
  E se lembrou, que estava vestida do mesmo jeito de um ano atrás. Aquele dia, ela lembrou. Ele não apareceu. E ela começou a se perguntar, o por que de se vestir e arrumar se assim. Era porque ela ainda se lembrava das cartas dele. Apesar de nunca nem sequer tê-lo conhecido, ela se lembrou de suas cartas e achou que foi horrível ter jogado-as fora. Se arrependia amargamente, mas também sabia que não podia voltar atrás.
  Pegou a bolsa, e esperou sentada no sofá, Josh, o seu namorado. Ele levaria um amigo, e ela uma das amigas.
  Depois de quinze minutos, o carro preto buzinou. Era Josh. Ela entrou no carro o cumprimentando com apenas um “oi”. A amiga estava no banco de trás, e elas conversavam, enquanto não dirigiu uma sequer palavra ao “namorado”. Foi assim, o caminho até o restaurante. Ao chegarem, eles saíram, e foram até uma mesa, que já estava reservada. Havia um homem na mesa, e ele estava vestido com uma camiseta vermelha e calça marrom. Ela ficou chocada, as lembranças a invadindo e a entorpecendo.
  Ela olhou por alguns minutos, até todos na mesa a olharem. Ela se sentou e deu um sorriso forçado. O garoto, amigo de Josh, se apresentou por . Ele era engraçado, e ela ria com ele porque realmente achava engraçado, não era por educação. Ela se sentiu melhor por uma noite, do que em seis meses com o namorado.
  Ele era interessante e ela se sentia bem ao lado dele. Talvez, seja por que se lembrava de seu admirador, mas ela pensou melhor e, apesar de seu admirador, ela realmente o achou interessante. Não era por achar que qualquer um era ele, mas por simplesmente gostar de sua presença e seu humor.
  Só uma pergunta rondava a sua cabeça: “Será é o seu admirador secreto? Aquele que fez ilusões em sua cabeça que apenas brincou com ela?”. A resposta, evidentemente ela não tinha. E queria muito ter, mas não teria coragem de perguntar e ele rir. Para ela, seria perda de tempo, e pra que perder tempo com ele? Ela nem o conhecia! Era assim que pensava, mas talvez ela estivesse errada com suas opiniões de seu admirador.
  Logo após, riu mentalmente, com ironia, ela simplesmente estava ficando louca. Ela poderia ver qualquer um e se “apaixonaria” só por ele estar com um buquê de rosas, camiseta vermelha e calça marrom, o que era, para ela, ridículo.
  A mesa continuou como estava, rindo de algumas piadas em que faziam, até chegar meia noite. Meia noite lembrava meio dia para ; ele olhou para e pediu que o acompanhasse. Fora do restaurante havia um labirinto de plantas. Ele abriu a portinhola e ela o seguiu. Fazia frio, e ela cruzou os braços, tentando aquecê-los. Ele chegou mais perto, olhando em seus olhos, fazendo com que ela fizesse o mesmo.
  - Eu... – começou, gaguejando. – Já te conhecia...
  - Que?
  - Eu... Fui eu que te enviei aquelas cartas...
  Ela abaixou a cabeça para ele não ver as possíveis lágrimas que podiam rolar em seu rosto. A voz estava sarcástica e ela sentia que, de alguma forma, não tinha de estar fazendo aquilo, que era infantil e que, finalmente, conhecia quem desejou conhecer por quase dois anos. Mas ela havia se magoado, e sentia também que ele tinha de entender isso.
  O rosto dele estava com uma expressão de dor, como se houvesse tomado um tapa na cara dado por . E para ele, ela havia feito isso. Não fisicamente, mas sim com as palavras, aquelas que podiam mais lhe machucar. Mas, de alguma forma, ele pensou o que ela havia passado. Ele não falou quem era e ficou com um mistério fazendo-a ter esperanças e acabou com todas elas depois. Não que ele tivesse culpa, porque, se fosse por ele, ela teria o conhecido e talvez agora não estivessem ambos com dor.
  - Eu sei que você se magoou. Eu... Não queria ter feito.
  Ela lhe deu um tapa no rosto, com toda a força, e as lagrimas escorreram pelo rosto de ambos.
  - Mas fez. Eu... Só não entendo por que.
  - Não foi minha culpa. Eu sempre estive apaixonado por você, mas... Nunca consegui declarar. E quando finalmente ia... Eu tive que ir.
  Ela estava com a impressão de que ele falava a verdade, mas tinha medo de que fosse mentira. Ele a olhou, seu olhar suplicava que ela o perdoasse.
  - Você foi para onde? – falou após alguns minutos, tentando ver se o que ele falava era mentira, ou não.
  - Fui para o norte, fui convocado para a guerra.
  Ela ficou incrédula. Enquanto estava morrendo de raiva, ele lutava pelo país. Por um momento ela se odiou, e por outro, pensou que deveria perdoar seu admirador, embora ele não tivesse culpa nenhuma. Ela o olhou, com vergonha. O rosto dele estava vermelho, com a marca de cinco dedos. Isso somente a envergonhou mais.
  - Eu escrevi inúmeras cartas, enquanto estava na guerra, mas não consegui que nenhuma chegasse até você. Mas, todos os dias, eu sempre pensei que a veria de novo.
  - Como... Você sobreviveu?
  - Eu sobrevivi para finalmente falar parta uma garota que eu a amo.
  - Você ainda Pode fazer isso.
  - Sério? Achei que fosse tarde demais.
  - Nunca é tarde demais.
  Eles se olharam, seus olhos doces, e colaram seus lábios. Tudo o que ainda não havia sido dito, foi falado naquela hora. Era como se conhecessem há anos, e eles se completavam. Simplesmente. Não havia uma explicação, eles só encontraram, naquela hora, o que não tinha no outro. O beijo foi doce, calmo, mas cheio de sentimentos. Expressava calma, amor, e saudades, apesar de eles não se “conhecerem”.
  Desde então, eles passaram juntos, todo o tempo, e cada dia mais aumentava o amor entre si.
  As cartas, que escreveu na guerra e que nunca chegaram a foram entregues e ela leu cada uma, releu por diversas vezes. As outras cartas, que estavam com a amiga, e nunca foram jogadas fora, também haviam sido entregues á .

Epílogo

   e se casaram em 12 de agosto de 47, depois de dois anos de namoro e quatro anos desde a primeira carta. Tiveram dois filhos, que contam a história deles até hoje. Ficaram juntos até o último suspiro, e foram enterrados juntos, onde permanecem. Apesar de, quando as pessoas vão ao cemitério, nem dão atenção especial para o tumulo deles, poucos conhecem a história.
  Eles viajaram para Wolverhampton, onde tiveram os filhos, em 52.
   morreu em 31 de janeiro de 2004, com 81 anos.
   morreu dois anos depois da esposa, em 4 de fevereiro de 2006, com 86 anos.

  Mas simplesmente não há duvida de que eles se amaram... e foram felizes.



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