Bleeding

Escrita por Danielle | Revisada por Lelen

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(Coloque para tocar Distance – Christina Perri feat. Jason Mraz)

  

Presente

  As árvores passavam rápido ao meu redor conforme eu apertava o pé no acelerador do carro. As lágrimas desciam fartas pela minha face à medida que a notícia se instalava na minha mente. A raiva que eu sentia da vida, daquela situação irreparável e que estava consumindo cada grama de energia que existia no meu corpo há tanto tempo só fez com que eu afundasse meu pé mais ainda no acelerador. Ah se eu conseguisse simplesmente me lançar contra uma árvore naquele momento... Morrer devia ser mais fácil, afinal.
  Parei meu carro no acostamento do cemitério e meus pés quase fizeram o caminho até o túmulo tão visitado por mim tantas outras vezes sem que eu precisasse lhes dar qualquer comando. Enxuguei meu rosto com as mangas da blusa de frio, mas uma nova leva de lágrimas desceu pelos olhos antes que eu tentasse engolir o choro e impedir que elas vazassem. Tendo alcançado o lugar que correspondia ao meu objetivo, ajoelhei-me sobre a terra do túmulo e me apoiei na lápide quando minhas forças pareceram me abandonar de vez. Deixei que a tristeza, a dor, a solidão saíssem de mim finalmente, e chorei. Chorei sofregamente pelo que pareceram longos minutos.
  - Mãe, eu preciso de ajuda. – disse, por fim, quando consegui formar uma sentença inteligível.

xx

Seis meses antes

The sun is filling up the room
And I can hear you dreaming
Do you feel the way I do right now?

   dormia profundamente ao meu lado – seu rosto sereno quase era capaz de devolver a paz ao meu espírito. Eu podia observá-lo dormir o dia todo, e essa definitivamente seria uma tarefa muito melhor do que sair de casa, ir para a escola e encarar a vida. Um leve sorriso se formou nos lábios do meu namorado e imaginei que talvez ele estivesse acordando, mas o sorriso sumiu quase tão rápido quanto apareceu e a sua expressão se tornou vaga de novo. Pelo menos um de nós estava tendo bons pensamentos...
  Levantei-me da cama e catei minhas roupas espalhados pelo quarto. Vesti-me devagar na tentativa de não fazer nenhum barulho que atrapalhasse o sono de , e então lhe escrevi um bilhete explicando que eu precisava ir para casa. Eu não poderia fugir dos meus problemas o tempo todo, por mais que quisesse fazer isso.

  Abri a porta da minha casa devagar e andei nas pontas dos pés até a escada. Com sorte, meu pai já teria ido para a delegacia – ele era o chefe de polícia de Beaufort, nossa pequena cidade litorânea do estado da Carolina do Norte – e minha mãe ainda estaria apagada na cama, cansada demais para mover um músculo.
  - Espero que a sua noite tenha sido boa. – meu pai disse quando coloquei o pé no primeiro degrau da escada. – Porque eu e sua mãe quase morremos de preocupação. – ele completou caminhando até mim.
  - Se alguma coisa tivesse acontecido, vocês teriam descoberto rápido. – respondi dando de ombros. Meu pai suspirou alto.
  - , até quando você vai continuar agindo assim? – meu pai perguntou com a voz arrastada de cansaço fazendo com que a culpa caísse sobre mim como uma tonelada de chumbo. De repente, eu gostaria que ele gritasse comigo, que dissesse que eu não prestava e que se pudesse voltar no passado e mudar algo, teria escolhido nunca me dar a vida. – Eu sei que tudo isso é muito difícil, mas você está piorando as coisas dessa forma.
  - Pai, eu tenho que ir para a escola. – falei subindo mais dois degraus, mas ele segurou o meu braço para me impedir.
  - A sua mãe está se sentindo abandonada. Ela tem pouco tempo de vida, você sabe disso, e é assim que você quer que ela passe as suas últimas semanas? Se preocupando em onde a filha está, como se ela já não se preocupasse com o que vai acontecer com você quando ela morrer? – ele jogou as palavras na minha cara demonstrando agora um pouco de raiva.
  - Eu não aguento mais isso, ok? Eu odeio fazer isso com a mamãe e eu te juro que eu também me odeio por estar reagindo dessa forma. Mas eu não sei assistir à morte dela! Eu... – interrompi a frase quando a minha voz ficou embargada demais pelo choro e então percebi que meu pai havia soltado o meu braço. Terminei de fazer o caminho até o meu quarto e tranquei a porta atrás de mim assim que passei por ela. O gilete sobre a penteadeira foi o primeiro objeto que vi na minha frente, e, sem pensar, peguei a lâmina com as pontas dos dedos e a afundei na pele do meu braço. A dor aguda que senti assim que as gotas de sangue vazaram pelo corte e escorreram pelos meus dedos sujando o chão de líquido vermelho foi quase insuportável no primeiro segundo e então se tornou um alívio para a angústia que me fez tomar aquela atitude. Uma nova dor tira a sua atenção de outra, afinal. Uma pena que essa sensação durasse tão pouco.

xx

Quatro meses antes

And please don't stand so close to me
I'm having trouble breathing
I'm afraid of what you'll see right now

  Ouvi a porta do meu quarto sendo entreaberta e o cheiro do perfume de adentrou o espaço junto com ele. Eu estava deitada em minha cama com o rosto afundado no travesseiro há muito tempo, mas nem precisaria erguer meus olhos para saber que era ele quem me visitava agora. Ele afastou meu cabelo de um dos meus ombros e depositou um beijinho ali.
  - Boa tarde. – disse com um sorriso na voz. Não respondi, nem me movi na cama. Eu me sentia fraca demais até mesmo para pensar; interagir com alguém, mesmo que essa pessoa fosse , estava absolutamente fora de cogitação. – Você está deitada assim há quanto tempo? – ele perguntou quando percebeu que eu não o cumprimentaria de volta.
  Há quanto tempo eu estava naquele estado? Bom, talvez desde o dia em que descobri que minha mãe estava com câncer. Ou talvez quando os médicos disseram que ela tinha metástases no pulmão, estômago e pâncreas. Ou quem sabe quando anunciaram que os tratamentos possíveis haviam se esgotado e tudo o que podíamos fazer era esperar de braços cruzados até que ela desse o último sofrido suspiro. Talvez eu tivesse declinado de vez quando comecei a me mutilar, poucos dias antes dela morrer. Eu não sabia bem quando a minha situação havia se tornado tão deprimente e provavelmente irreparável. O que eu sabia era que eu não tinha forças para levantar daquela cama. O peso da culpa, do remorso e da dor já havia esgotado as minhas energias ao máximo.
  - , você precisa reagir. – disse com um suspiro. – Seu pai precisa de você. Não passa pela sua cabeça o que a sua mãe pensaria se te visse nesse estado? – ele completou com a voz estrangulada de desespero. – Sua mãe morreu há um mês e tudo o que você fez desde então foi se afundar nesse quarto e desistir da vida. Seu pai não perdeu apenas a esposa. Ele perdeu a filha também. Você não pensa no quanto ele está sofrendo com isso?
  - Vai embora, . – consegui finalmente dizer. Havia muito tempo que eu não escutava o som da minha voz, e talvez isso tenha contribuído para que ela soasse péssima quando escapou dos meus lábios. Tão péssima que eu sequer a reconheci.
  - Não vou não. – ele respondeu puxando os cobertores de sobre o meu corpo. Eu estava usando um short e uma camiseta curta, de modo que todos os machucados que havia infringido a mim mesma nas últimas semanas e que ele ainda não vira ficaram expostos. E eu sabia bem como odiava quando eu fazia aquilo. Poucas coisas faziam com que ele perdesse a cabeça; minha automutilação com certeza era uma delas. – O que você... fez? – sua voz falhou em todas as palavras da curta frase.

  A verdade era que eu não me arrependia de nada daquilo. Eu merecia cada um daqueles cortes por ter abandonado a minha mãe quando ela mais precisou do meu carinho. E de acordo com , meu pai estava definhando aos poucos por minha causa agora, então eu realmente deveria sofrer para pagar por tudo. Reagir seria uma forma de consertar as coisas, . Sim, mas eu era fraca e egoísta demais para conseguir reagir agora. Desistir era mais fácil, era a única saída que eu via agora.
  - , por que você fez isso? – ele voltou a perguntar e, desta vez, não esperou que eu lhe respondesse com o silêncio. puxou uma das laterais do meu tronco sem qualquer delicadeza e me colocou de frente para ele. Abri os olhos de susto com aquele gesto grosso e nada típico do meu namorado.
  - O que você pensa que está fazendo? – gritei com ódio dele por me fazer encarar a sua expressão contorcida de dor.
  - Tentando impedir que você se mate! Você perdeu de vez o juízo? Não passou pela sua cabeça em nenhum momento que você poderia morrer por fazer isso?
  - Eu não tenho tanta sorte, , e você sabe muito bem disso. – falei amargamente. Ele me encarou como se eu tivesse lhe dado um soco na cara e ele estivesse chocado com a minha atitude.
  - Você... você está louca. – ele afirmou sustentando essa expressão e levantou-se da minha cama.
  - Só agora que você percebeu isso? – eu ri ironicamente. passou as mãos pelos cabelos como se não soubesse o que fazer agora. Então imaginei que aquela fosse uma boa hora para que eu colocasse em prática o meu plano de desligá-lo de vez da minha vida. Eu estava afundando para um buraco de insanidade e desespero ao qual ele não merecia e não podia pertencer. Não havia futuro melhor provável para mim, eu não queria buscar melhoras, eu já estava no meu limite. E ele já havia gasto tempo e sentimentos demais com uma pessoa completamente danificada como eu. tinha que ser feliz, e a única forma de conseguir isso era por não estar mais comigo.
  - Eu não sei mais o que eu faço com você, ! Eu não aguento mais ver você se destruir dessa forma... – ele disse com os olhos cheios de lágrimas. – Por favor, pare com isso! Eu não posso imaginar o que você está sofrendo agora, mas...
  - Você não pode mesmo. E eu não quero mais também ter que te explicar porque eu estou assim, . Vá viver a sua vida e esqueça que eu existo. Melhor pra você e melhor pra mim. – dei de ombros como se aquela ideia não me afetasse nem um pouco. Eu era uma ótima mentirosa, o que ajudava bastante a demonstrar convicção nas minhas palavras.
  - Você escutou o que disse? Você quer que eu abandone você? – ele perguntou como se essa fosse uma ideia absurda.
  - Não, . Eu estou te expulsando da minha vida. Eu não quero ajuda. Eu não preciso de ajuda.
  - Você claramente precisa de ajuda.
  - Essa é a sua opinião, mas essa é a porra da minha vida! – gritei e então me levantei andando até a porta do quarto. Escancarei-a o máximo que pude antes de terminar o nosso relacionamento, a única coisa boa que ainda existia no meu mundo: - Não tem espaço pra você mais na minha bagunça, . Eu não quero continuar isso mais. Nosso namoro é mais um peso que eu tenho que carregar e, honestamente, eu já estou levando carga o bastante agora.

xx

Um dia antes

And I will make sure to keep my distance
Say "I love you" and you're not listening
How long can we keep this up, up, up?

  - Obrigada, e voltem sempre. – eu disse ao casal de idosos quando eles passaram por mim no caixa do supermercado. Sorri educada para os dois, e então me perguntei mentalmente qual fora a última vez que eu havia sorrido porque estava feliz, não por educação. Provavelmente havia bastante tempo... Mas o importante era que eu finalmente estava reagindo.
  Eu ainda me lembrava do dia em que havia despertado para a realidade e decidido abandonar o estado “vegetando” que escolhi por alguns meses. É claro que esse momento de epifania não aconteceu por livre e espontânea vontade. Ele foi jogado sobre mim quando eu desci as escadas da minha casa para ir até a cozinha beber um copo d’água e vi meu pai pegando alguma coisa para comer na geladeira. Foi a primeira vez que realmente o vi em meses, e eu nunca fiquei tão chocada na minha vida quanto daquela vez. Porque meu pai, policial há quase trinta anos, forte e super em forma, parecia um graveto dentro de suas roupas grandes demais. Seus olhos tinham marcas roxas em volta e sua expressão era mais abatida do que a de minha mãe no dia em que ela deu seu último suspiro. Meu pai estava morrendo aos poucos. Mas não era alguma doença que estava sugando a sua vida – era a tristeza. E boa parte dessa tristeza era por minha culpa. Eu precisei quase matar uma das duas pessoas vivas que eu mais amava no mundo para perceber que eu precisava mudar. E, bom, foi difícil, é verdade, mas eu mudei.

  E lá estava eu agora, trabalhando em um dos quatro supermercados da cidade depois do colégio e juntando dinheiro para a faculdade. Meu pai já havia recuperado algum peso e estava voltando a ser o homem ativo e simpático que sempre fora. Vivíamos um dia após o outro, e eu realmente estava começando a me orgulhar de mim mesma pela primeira vez na vida.
  - Você pode ir para casa agora, . Já são sete horas, então completou seu horário. – Heather, uma moça um pouco mais velha do que eu e minha gerente, anunciou fechando o meu caixa.
  - Obrigada, Heather. Boa noite. – cumprimentei-a e peguei minha mochila para ir embora.
  Eu pretendia passar em uma lanchonete para comprar um hambúrguer para o jantar, e já estava caminhando para o interior do local quando o vi. havia se mudado de Beaufort para a casa do pai em Washington D.C quando nós terminamos. Ele ainda tentou me convencer a não fazer aquilo depois da briga que tivemos há quatro meses, mas eu já estava decidida a ser uma vadia com ele para afastá-lo de mim de uma vez por todas. nunca aceitaria sair do meu lado se eu dissesse que estava terminando porque era melhor para ele. E eu realmente fiquei um pouco aliviada quando soube que ele saiu da cidade por minha causa. Um recomeço era exatamente do que ele precisava, assim como ficar longe de mim, a causadora de problemas. Assim, quando o vi sentado na lanchonete teclando na tela do celular casualmente, e quando pensei que eu quase era uma pessoa decente agora, foi inevitável não formar um quadro mental onde pudéssemos ficar juntos. E foi essa possibilidade de tê-lo de volta na minha vida que me fez adentrar a lanchonete pronta para falar o quanto eu estava feliz por ele estar ali. No entanto, quando eu estava a dois metros de distância dele, uma moça se sentou à mesa onde ele estava colocando duas latas de refrigerante diante dos dois e beijou nos lábios. Ele sorriu abertamente para ela pegando sua mão e entrelaçando os dedos dos dois. E então foi como se eu tivesse acabado de levar uma bofetada. Uma forte e merecida bofetada.

  Dei meia volta decidida a sair dali o mais rápido possível. Eu tinha lágrimas demais nos olhos, e precisava ir embora antes que ele me visse.
  - ? – sua voz perfeita chamou o meu nome destruindo os meus planos.
  Virei-me novamente para encará-lo, então andou em minha direção.
  - Ei! – ele disse com um sorriso. – Você parece bem! – completou surpreso.
  - Você também! – respondi forçando um sorriso de resposta. – Pensei que você estivesse morando em Washington.
  - Eu me mudei de volta para Beaufort. Cheguei hoje de manhã, na verdade.
  - Ah, certo. Bom, acho que você está num encontro, então não vou te atrapalhar...
  - Ok. Acho que te vejo no colégio. – ele disse simplesmente. Eu o fitei por alguns segundos enquanto discutia comigo mesma os prós e os contra de pedir para conversar com ele, de perguntar o quanto aquela garota era importante e se ele ainda tinha algum sentimento por mim. Mas parecia feliz. Muito mais feliz do que eu me lembrava de tê-lo visto enquanto estávamos juntos.
  - Ok. A gente se vê. – essa foi a minha resposta. Andei até o meu carro rapidamente me odiando por um lado, mas repetindo para mim mesma por outro que eu não podia ter tomado decisão melhor. Eu só era boa para há quilômetros de distância, e já devia ter me acostumado com esse fato.

xx

Horas antes

I give you everything I am
All my broken heartbeats
Until I know you understand

   realmente estava na escola no dia seguinte. Nos cumprimentamos no corredor e ele sorriu para mim algumas vezes durante três das aulas que tínhamos juntos. Sua nova namorada se chamava e também estava no ensino médio, o que significava que os dois apareciam juntos de mãos dadas pela escola o tempo todo, e isso só me corroía mais ainda por dentro a cada minuto que passava.
  - Tá na cara que essa garota é só um estepe que ele arranjou, . Você devia falar com ele o que está achando disso tudo. – , minha melhor amiga, me incentivou enquanto eu fuzilava o casalzinho feliz com os olhos no estacionamento.
  - Nós terminamos há quatro meses. Não pensei que ele fosse se recuperar tão rápido. – falei sinceramente. Há menos de 24 horas tudo o que eu queria era que tivesse mesmo me superado. Era impressionante como havia mudado de ideia tão rápido!
  - Fala com ele e depois me diz se ele superou mesmo. – disse.
  - Você acha que ele não gosta assim da tal ? – a maior parte de mim queria ter certeza disso, porque se eu me convencesse de que não estava tão bem assim com , eu fracassaria na minha tentativa de ficar longe dele.
  - Flor, mesmo se ele gostasse... Você terminou com ele porque estava péssima e estava deixando ele péssimo também. Você está bem melhor agora, então não faz sentido mais ficar longe do cara que você gosta. Vá à luta, mulher! – me encorajou novamente.
  - Certo. – respondi motivada até demais pelas palavras dela e atravessei o estacionamento apinhado de estudantes após as aulas. estava pendurada no braço de enquanto ele conversava com alguns amigos, mas não deixei que a presença dela me intimidasse. – Oi, . – falei assim que plantei os pés diante dele.
  - Oi, . – ele disse surpreso.
  - Posso falar com você um minuto? – apontei para um canto mais afastado desejando que ele entendesse a mensagem por completo.
  - Ok. Já volto, . – se afastou da namorada que não fez uma cara muito boa, mas me seguiu. – Você está precisando de alguma coisa? – perguntou assim que paramos de andar.
  - Sim. Eu preciso que você me diga se está feliz com a , se não existe nenhuma possibilidade de ficarmos juntos de novo. – arregalou os olhos de surpresa quando eu fui direta demais ao falar do assunto.
  - Você se esqueceu da forma como terminou comigo, ?
  - Eu sinto muito por aquilo, . Eu só fui tão grossa com você porque eu estava um lixo na época. Você estava ficando da mesma forma por minha causa.
  Ele bufou de raiva ou de incredulidade, ou das duas coisas talvez.
  - E agora você acha que vai estralar os dedos e eu vou voltar correndo como um cachorrinho bem treinado? – ele perguntou nervoso.
  - Não, . Eu só quero saber se essa porta realmente está completamente fechada. Eu vou entender se você disser que sim.
  - Eu estou feliz com a , . – foi tudo o que ele respondeu e então me deixou ali sozinha, odiando-me novamente por ter sido tão idiota antes.

  Às terças-feiras eu não trabalhava, então fui direto para casa depois da conversa que tive com no estacionamento da escola. Parei meu carro na entrada de veículos, e mal havia me esparramado no sofá chorando pelas minhas escolhas idiotas que tiraram definitivamente da minha vida, quando a campainha tocou. Enxuguei meu rosto na blusa de frio e me arrastei até a porta para atender. Dois colegas de trabalho do meu e, portanto, policiais na cidade, me esperavam.
  - Oi, Joe. Oi, Bill. – cumprimentei-os fungando. – Tudo bem?
  - Olá, . Tudo bem se nós entrarmos?
  - Hum, ok. – respondi achando aquilo estranho. Andei até a sala e me sentei em um dos sofás, indicando o outro para eles.
  - , - Bill começou a falar e sua expressão de repente me alertou que a notícia não era boa – sentimos muito em dizer isso, mas seu pai sofreu uma parada cardíaca hoje. Ele não sobreviveu. – Bill disse as palavras que me empurraram de novo para o buraco, e agora eu não tinha nada que me fizesse sair dele mais.

xx

Presente

And I keep waiting
For you to take me

You keep waiting
To say what we have

  Eu ainda estava debruçada sobre o túmulo de minha mãe quando senti seu corpo cobrir o meu, abraçando-me pelas costas e segurando o meu peso quando eu voltei a chorar alto. O cheiro de deveria ter anunciado sua chegada, mas eu estava tão transtornada que nem consegui perceber isso. Ou talvez a fragrância das flores do cemitério estivesse forte demais para que outra se destacasse.
  Ergui meu corpo sendo amparada por e então percebi que já era noite. Ele enxugou minhas lágrimas com as pontas dos dedos e me olhou nos olhos por longos segundos.
  - Como... como você sabia que eu estava aqui? – perguntei com a voz fraca de cansaço.
  - Esse sempre é o primeiro lugar para onde você vem quando está perdida. – ele disse e acariciou meu rosto. Minha resposta foi um sorriso fraco e nada feliz. – ... – murmurou, mas pareceu em dúvida sobre se deveria ou não continuar a frase.
  - Sim? – eu o incentivei a prosseguir.
  - É tarde demais ou um momento muito ruim para eu dizer que estava mentindo mais cedo, que eu não quero que a porta se feche para nós?
  - Não está dizendo isso porque está com pena de mim? Porque eu fiquei sozinha no mundo agora?
  - Em primeiro lugar, você nunca estará sozinha. E você sabe que pena é a última coisa que eu sinto por você. – ele me lançou seu olhar de “não seja boba, ” e sorriu levemente.
  - Que bom, porque eu preciso de você, . – respondi e o beijei, sentindo algumas lágrimas de alegria se misturando às de tristeza descendo pelos meus olhos e molhando tanto o meu rosto como o dele.

  Talvez, afinal, eu tivesse razões para me erguer de novo. E por mais difícil que fosse fazer isso, eu tinha para me ajudar agora. Essa certeza com certeza me dava esperanças.

FIM



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