5 Canções
Escrito por Marcella R. | Revisado por Cáàh
Apresentação
Vou pintar um retrato de quem é .
Começando pelos olhos, que conseguem exprimir mais do que um olhar deveria ser capaz.
São, na verdade, olhos bastante bipolares. Em um dia te mostram simpatia, animação, carinho... E, no outro, te fuzilam de um jeito tão intenso que você seria capaz de ver todas as formas que ela planeja te matar enquanto olha pra eles.
Mas são também os olhos mais sinceros que você poderia ver na vida. E é por isso que ela evita olhar nos olhos das pessoas quando mente ou quer esconder algo, afinal, os olhos dela sempre gritam a verdade exata do que ela quer dizer, mesmo que ela odeie isso. E, claro, para aqueles que tem a real intenção de conhecê-la, um conselho seria não olhar nos olhos dela. Acredite, aqueles olhos te fazem admirá-los primeiro, viciar-se depois, apaixonar-se perdidamente e, pra completar, ainda te fazem se sentir completamente nu, exposto, quando te encaram de volta.
Eu diria também que os olhos dela seriam capazes de fazer alguém derreter só por conta do calor que eles transmitem, mas como isso soaria ridiculamente gay, finjamos que eu não pensei nisso.
O nariz dela? Torna-se o nariz mais bonito, delicado e atraente quando ela faz uma careta. Experimente! Diga a ela que a acha bonita: ela fará exatamente a careta típica da qual estou falando, franzindo o nariz, já que ela finge não ligar quando a elogiam, pois, se ela o faz, fica vermelha. Você verá como ela fica linda e garanto que, mesmo se você for uma garota segura de sua heterossexualidade, vai se sentir seduzida.
A boca dela é a parte que eu mais gosto...
Tem um gosto agridoce, extremamente entorpecente e...
Droga! Esqueça que eu disse isso!
Supostamente, você não deveria saber disso agora. Não devia saber que os lábios dela são extremamente macios e...
Merda! Era pra ser surpresa, caramba! Finja que não leu que eu finjo não ser um "boca-grande", tá legal?
Hem-hem. Continuando... (E juro que não falo mais de gosto nenhum!), a boca dela tem as linhas perfeitas, que formam o sorriso perfeito e, claro, palavrões bem feios... Mas seria mentira se eu dissesse que não gosto do jeito irritado e revoltado dela.
Na verdade, esta é uma das coisas que eu mais gosto em .
Mas esqueça isso também, afinal, esta merda de apresentação era pra ser sobre o rosto dela e não sobre a personalidade inacreditavelmente difícil!
Perceberam que eu gosto de palavras que terminam com mente? Ela, a , vive me dizendo isso e...
Acho que tenho que parar de falar agora, afinal, o rosto dela ainda não acabou, mas a sua paciência comigo? Provavelmente.
Triste. Mas não é sua culpa se eu sou chato, irritantemente viciado em palavras com terminações "mente" e um ser desprezível que não sabe parar de falar quando tem que parar, não é mesmo?
Enfim... Dane-se!
Opa... Não você, claro... Quero dizer...
Ah, dane-se!
1. Crazy Little Thing Called Love
Quem é que entende essa coisinha louca chamada amor?
Na verdade, o termo certo seria "essa puta idiotice vinda dos infernos chamada Estrague Sua Vida e Entre em Depressão", mas, convenhamos, não seria um bom nome para uma música.
Na verdade, EU acho que seria o nome perfeito, mas desde quando minhas opiniões importam?!
Voltando à pergunta, se você entende, compartilhe seus conhecimentos comigo, colega, porque tá difícil, viu?
O que essa música tem a ver com a minha história? Simples.
Sabe aquelas histórias de amor que fazem garotas suspirarem e garotos revirarem os olhos? É, aquelas mesmas onde a garotinha indefesa se apaixona perdidamente pelo cara mais cafajeste da face da Terra. Sabe quais são?
Então...
Prazer, eu sou a garotinha indefesa.
Acho que você consegue imaginar quem é o (ou melhor, a) cafajeste, certo?
O que eu quero dizer, especificamente, é que eu me apaixonei pela garota mais idiota da face da Terra, que não liga pra mim e sempre me xinga quando tem uma oportunidade.
A garota mais insensível, mais doida, mais estranha, mais... Linda nessa porra de Universo!
Ah, claro, esqueci de dizer...
A sem-coração, destruidora de sonhos e manipuladora de mentes é minha melhor amiga.
Se agora você acha que eu estou ferrado, acredite, você acertou.
Entende por que essa música se encaixa perfeitamente com o início dessa história? E entende por que eu simplesmente estou indignado com o nome tão fofo que ela recebeu?
Acho que a convivência com certa pessoa me deixou meio revoltado, exatamente como essa certa pessoa é.
Ok, vou parar de fingir que você não sabe quem é essa droga de certa pessoa, porque você sabe e eu sei que você sabe e eu sei também que essa certa pessoa gosta de complicar a minha vida e, por isso, ela combina perfeitamente com a tal da música e...
- , venha aqui agora! - a criatura adorável interrompeu meus pensamentos, gritando lá da cozinha e eu, como a garotinha indefesa que sou, corri até lá, preocupado com o que eu havia feito para magoar tão profundamente minha musa inspiradora.
Patético? Acho que é bem mais que isso...
Com certo receio, me aproximei da porta da cozinha. Acredite, aquela garota tinha três tipos de tons pra se referir ou falar comigo quando estava brava. O primeiro era aquele, o mais ameno, que ela usava quando eu estava jogando bolinhas de papel pela sala e uma pegava nela, ou quando eu molhava ela (sem querer) quando íamos à praia. E esses tons sempre significavam uma consequência.
A consequência do mais ameno? Que eu estava fodido.
Melhor não comentar sobre os outros, né?
- O que foi? - perguntei com a voz mais suave que fui capaz de reproduzir, quase sorrindo só por estar na presença dela.
Eu disse que era mais do que patético...
- Você pode me dizer por que você acabou com todo o leite condensado da minha casa? - ela disse, com um tom de voz falsamente calmo e eu quase revirei os olhos. Mas claro que eu não fiz isso, afinal, da última vez que revirei os olhos pra algo que ela disse, ela tacou uma faca na minha direção e eu quase morri.
Tá, foi só uma almofada, mas e daí?
- Porque... - tentei pensar em uma resposta não muito ofensiva, afinal, nossa briga diária já havia acontecido pela manhã e eu realmente não precisava de outra. Mas claro que eu não consegui. - Porque leite condensado é gostoso...? - a resposta saiu parecendo uma pergunta e quase me chutei por usar aquele tom óbvio que ela odiava que eu usasse. Mas, no fim, eu gostava de usar aquele tom com ela. Era tão legal deixá-la brava!
Ela olhou pra baixo, respirou fundo e eu quase pude vê-la pulando em cima de mim mas, pra minha surpresa, ela apenas suspirou e sorriu.
- Você é a pessoa mais idiota, ridícula e faminta da face da Terra - ela disse, ainda com aquele sorriso. Sorri também, tentando não parecer um idiota completo.
- Obrigado pela parte que me toca... - resmunguei, caminhando até ela e a abraçando.
É, eu não podia perder a oportunidade, caramba!
Senti minha pele da barriga arder dolorosamente e me afastei dela.
A filha da mãe tinha me beliscado! Outch!
- Isso - ela disse, ainda sorrindo - É por ter acabado com o meu leite condensado!
Então ela me deu um beijo no rosto e saiu da cozinha rebolando.
Já disse que odeio quando ela rebola assim?
Tá, eu não odeio, mas fica meio difícil me controlar quando ela faz isso, entende?
A questão era que eu e ela vivíamos nos irritando desde que nos conhecemos. Na verdade, no começo, nos odiávamos. Mas então descobrimos que quando não estávamos brigando por alguma coisa, éramos legais um com o outro. Foi aí que começou a nossa amizade que, hoje, é uma das coisas mais importantes na minha vida.
Sim, isso foi bem gay, mas eu não ligo mais. Afinal, não é todo mundo que tem a sorte de encontrar alguém que me entende como ela faz. Ou que goste de mim como ela gosta.
Mas claro que o imbecil aqui tinha que misturar as coisas, não é?
E, sinceramente, eu não sei bem quando isso aconteceu. Simplesmente... Aconteceu. Em um belo dia eu acordei e, quando a vi, estava perdidamente apaixonado por ela.
Tudo bem, não foi bem assim. Na verdade, foi exatamente assim que eu percebi que gostava dela. Mas acredito que essa coisa toda começou aos poucos.
E o incrível é que, há uns dois anos, eu nem imaginaria que isso pudesse acontecer! Afinal, passamos por tantas coisas juntos, crescemos juntos, brincamos juntos... E agora isso.
Mas esqueça também, afinal, essa não é uma história de como eu comecei a gostar dela e sim de como eu fiz pra conquistá-la.
Merda! Eu sempre falo demais, não é?
- , dá pra você parar de me encher o saco por dois minutos, coleguinha? - ela resmungou, no fatídico dia da primeira música.
Gargalhei do tom de voz dela, mas continuei a cutucando. Ela estava tentando assistir algum seriado na TV que eu sinceramente não me lembro qual é. One Three Kill ou algo assim.
- Caralho, você é uma praga, sabia? - ela gritou, batendo na minha mão e tentando me empurrar pra longe.
- Vou falar pra sua mãe que você fica falando palavras feias - provoquei, com uma voz de criança e ela revirou os olhos.
- Eu não te mereço, garoto. Juro! - ela disse, mas eu sabia que ela não estava mais irritada. Essa era uma coisa legal nela: sempre se irritava comigo, mas nunca durava muito tempo.
Talvez seja esse o motivo da nossa briga mais longa ter durado apenas 12 horas. Ou talvez o motivo seja que brigamos às duas horas da manhã por telefone, fomos dormir e só nos vimos de tarde.
É, acho que o motivo foi esse, mas enfim...
- Eu só queria um pouco de atenção, poxa... - resmunguei e ela revirou os olhos novamente, mas riu. Mais uma coisa que eu adoro nela: a risada. Não sei se algum dia na sua vida você já encontrou alguma pessoa assim, que nem ela, então acho que você só vai me entender quando souber o que é, mas mesmo assim vou tentar explicar.
Sabe aquelas pessoas que riem e você se sente quase obrigado a rir também, porque é uma risada tão gostosa, tão boa de se ouvir que não importa se o motivo da risada foi algo engraçado ou o fato de você ter mijado nas suas calças, você ri porque você está ouvindo aquela risada, e aquela risada te faz rir?
Sou péssimo pra explicar coisas, não sou?
- Não, você não quer um pouco de atenção - ela retrucou, depois de rir - Você quer encher meu saco mesmo.
Mas, mesmo assim, ela ainda se sentou mais perto de mim no sofá e me abraçou de lado.
- Gente carente é uma droga, sabia? - ela sussurrou no meu ouvido e eu ri, bagunçando o cabelo dela.
E então ela voltou a prestar atenção na porcaria do seriado e eu tentei achar um pouquinho de coragem. Precisava colocar meu plano em prática, mas podia dar uma merda tão grande que eu fiquei quieto até a droga do episódio acabar.
Quando acabou, se espreguiçou longamente enquanto eu apenas observava.
- O que foi? - ela perguntou, quando percebeu que eu estava olhando pra ela.
Era agora. Eu tinha que falar. Tinha que perguntar e...
- Vocêsabeoqueéamor? - soltei tão rápido que riu da minha cara, sem entender nada.
- Quando você voltar a falar a minha língua, quem sabe eu te entenda... - ela disse, com uma sobrancelha erguida e eu me dei um chute mentalmente.
- Você sabe o que é amor? - repeti, dessa vez mais lentamente. Acho que eu teria rido da cara incrédula que a fez, se eu não estivesse tão nervoso.
- Como assim?
Revirei os olhos pra lentidão dela. Aquela ali funcionava à manivela!
- Amor, . - eu disse, no famoso tom óbvio que ela odiava que eu usasse. - Você sabe o que é? - perguntei novamente.
- Sei... - ela respondeu, ainda parecendo confusa com o rumo da conversa.
Engoli em seco, me forçando a continuar com a conversa até o fim.
- E quem você ama? - perguntei, sem tirar os olhos dos dela e ri de nervoso ao ouvir sua risada.
- Eu amo um monte de gente, - ela disse, virando pra frente e abraçando as próprias pernas. - Amo meus pais, amo meus tios, minhas tias... Amo você... - ela deixou a frase no ar e meu coração começou a bater mais rápido.
- Mas isso é amor de família, de amigo... - continuei, rezando pra que ela entendesse onde eu queria chegar, afinal, eu era uma droga com as palavras. - Você nunca amou alguém... Você sabe... De outro jeito?
pensou um pouco antes de negar com a cabeça.
- Mas por quê? - ela perguntou, cedo demais. Por que, por que... Como eu ia dizer o porquê pra ela
- Sei lá, ... - respondi, parando de olhar pra ela e olhando pra TV, que anunciava um filme que estava passando no cinema. - Só fiquei curioso... Sabe, achei que garotas entendessem mais disso do que garotos e...
E... ela deu um pulo no lugar que estava, me encarando de um jeito estranho.
- Você está... Amando alguém? - ela perguntou, meio esganiçada e eu ri.
Olhei pra ela de lado. Ela estava com os olhos curiosos pousados no meu rosto, registrando cada reação minha. Dei de ombros.
- Talvez... - respondi e ela riu.
- E quem é? - ela perguntou.
- Não posso te contar. - respondi. - E você ficaria com inveja mesmo - brinquei - Você não sabe o que é amar alguém, então não entenderia nada.
Ela ficou pensativa por um tempo, antes de pousar a cabeça no meu ombro.
- Me conta como é. - pediu e eu sorri largamente. Eu tinha quase certeza de que ela me pediria isso e era exatamente o que eu precisava que ela fizesse.
- Amar é... - suspirei pesadamente. - Sabe aquela música? - perguntei e, sem esperar resposta, cantei um pedacinho - This thing called love, it cries like a baby in a cradle all night. It swings, it jives, it shakes all over like a jelly fish...* - levantou a cabeça, olhando pra mim e sorrindo enquanto eu cantarolava. Sorri pra ela quando terminei - É bem parecido com isso, sabe...
E então eu contei pra minha melhor amiga (mesmo que ela não soubesse disso ainda) como era estar apaixonado por ela.
* Essa coisa chamada amor chora no berço toda a noite. Balança, dança, se mexe toda como uma água-viva. (Queen - Crazy Little Thing Called Love)
2. Yellow
Sim, eu já percebi que, pra coisas que eu não devia falar, eu falo demais e, pras coisas que eu deveria falar, eu falo de menos, mas enfim...
Quando eu percebi que era ela quem eu queria, eu simplesmente não fiz nada. Deixei as coisas continuarem como estavam, tentei mudar o que eu sentia mas, claro, eu não consegui.
E aqui estou eu, tentando conquistar minha melhor amiga com músicas idiotas em um plano mais idiota ainda.
O meu problema é que eu nunca, nunca fui bom com as palavras. E a não é uma garota qualquer. Ela é minha melhor amiga e eu não podia simplesmente chegar e dizer "E aí, . Tipo assim, tô a fim de você. Será que rola?".
Eu tinha que a fazer acreditar que eu realmente estava apaixonado por ela. Tanto que não aguentava mais esconder isso. E o que eu mais queria era fazê-la entender, ao mesmo tempo, que nossa amizade era importante demais pra mim e que eu não arriscaria ela por um sentimentozinho qualquer.
E claro, no fundo, mesmo que eu não admitisse pra mim mesmo, eu tinha esperanças de que no meio desse "plano" todo ela acabasse gostando de mim também.
- Você não vai me dizer quem é ela, ? - me enchia o saco, pra variar, com aquela história. Claro, eu sabia que isso aconteceria, era o objetivo da primeira música fazê-la ficar curiosa e me fazer finalmente dizer tudo o que eu sentia por ela, mesmo que ela não soubesse disso. Mas ela se lembraria no fim, quando percebesse que era ela a garota que eu gostava.
- Não, não vou dizer - respondi, entediado, jogado no tapete da sala dela enquanto ela estava sentada ao meu lado, jogando vídeo game e, como eu já disse, me enchendo o saco.
Quando ela perdeu o jogo, eu ri dela. Tinha optado por não jogar, já que ela ganharia de mim fácil demais, pois eu estava cantando mentalmente a música que tocaria pra ela mais tarde.
E, sim, eu sou muito impulsivo. Mas não era realmente minha culpa se eu estava há uma semana em dúvida de qual seria a próxima música que eu usaria e só a encontrei ontem, ou era?
Sim, , a culpa é toda sua. Pode falar, vai...
- zinho... - chamou, daquele jeito meigo que definitivamente não combinava com ela.
- O que é? - perguntei, de olhos fechados, imaginando que ela ia me encher o saco pra descobrir quem era a garota que eu gostava de novo.
- Joga comigo? - ela pediu e, quando abri os olhos, ela estava fazendo um biquinho tão lindo que me fez suspirar.
O que é? Todo garoto tem um lado gay, tá?
- Tá bom, vai... - resmunguei, me sentando ao lado dela.
Eu já disse que ela é perfeita? A garota não é cheia de frescuras, não é fútil, tem um bom gosto musical e, além disso tudo, gosta de jogar vídeo game comigo!
Depois não venha me perguntar por que eu gosto dela, beleza?
Depois de muito tempo, estávamos os dois jogados no tapete, empanturrados de salgadinho e Coca-Cola e de saco cheio de jogar vídeo game.
estava dormindo profundamente e, em um (outro) impulso, levantei e sacudi minhas roupas pra me livrar dos restos de salgadinho. Resisti à vontade de ficar observando dormir, já que isso seria obsessivo demais até pra mim, e caminhei até o quarto dela.
Peguei o violão dela e sentei em sua cama. Tentava lembrar a música enquanto afinava as cordas do violão. A não sabia afinar. Na verdade, ela não sabia nem tocar, porque não tinha a paciência necessária pra aprender.
Sorri sozinho ao lembrar das milhares de vezes que tentei ensinar algo à ela e ela revirava os olhos, bufava, se sacudia, me xingava e reclamava que aquilo era muito chato e que se ela precisava passar por aquilo, não valeria à pena aprender a tocar.
- Tem um violão de enfeite. - resmunguei sozinho, olhando o violão que eu tinha dado a ela logo que acabei de afiná-lo.
Posicionei-o em meus braços e toquei os primeiros acordes da música. Precisava treinar.
- Look at the stars, look how... Droga. - parei de cantar e tocar quando percebi que minha voz estava realmente horrível. Pigarreei alto e tentei de novo. - Look at the stars, look how they shi... Porcaria! - me estressei. - Violão maldito que não fica afinado! - reclamei, como se fosse culpa do violão que eu tivesse esquecido de afinar uma das cordas.
Quando acabei, tentei começar de novo, mas dessa vez sem cantar.
Toquei a primeira parte da música várias vezes até não cometer nenhum erro. Quando fiquei satisfeito, comecei a acompanhar a melodia cantando.
- Look at the stars, look how they shine for you, and everything you do, yeah, they were all yellow. I came along, I wrote a song for you, and all the things you do and it was called Yellow... - Fiz uma pausa e sorri, estava ficando bom! - So then I took my turn, Oh what a thing to've done, and it was all Yellow. - nesta parte, me empolguei e comecei a cantar com vontade, imaginando que estava ali - Your skin, oh yeah, your skin and bones turn into something beautiful. Do you know? You know I love you so, you know I love you so...*
Ia começar a treinar a segunda parte, mas alguém batendo palmas me interrompeu. Levantei a cabeça e pude ver sorrindo e me aplaudindo. Meu sorriso se alargou. Não sabia que a minha imaginação era assim tão boa!
- Que lindo, ! - ela disse e foi aí que eu me dei conta: minha imaginação era uma merda. Ela estava mesmo ali!
Putaqueopariu, , seu tapado!
- Ahn... Você gostou? - perguntei, enormemente sem-graça.
- Claro que eu gostei! - ela disse, agora sentando-se ao meu lado e quando ela chegou mais perto eu gargalhei. - Do que você tá rindo? - ela perguntou, confusa.
- Sua cara tá amassada, ! - eu disse, ainda rindo e ela me bateu, mas ria também.
- Você sabe que eu adoro essa música. - ela disse, suspirando. - Pena que você estragou ela com essa sua voz de taquara rachada.
Essa sim era . A garota que odiava ser zuada e por isso tentava mudar o foco da zoação pra outra pessoa.
Sorri e me aproximei do ouvido dela.
- Não foi isso que você pareceu achar quando tava me aplaudindo. - provoquei e ela mostrou a língua.
- Ridículo.
- Linda. - soltei, sem pensar, e ela ficou vermelha. - Nossa, isso é uma coisa rara de se ver! - tirei sarro antes que eu também ficasse vermelho e ela revirou os olhos, mas ainda estava vermelha.
- Você é tão irritante, . - ela disse, sem olhar pra mim e eu sorri.
- E você fica uma gracinha vermelha desse jeito - provoquei de novo. Estava falando a verdade, mas ela não precisava saber disso, oras!
Ela me bateu, agora rindo.
- Por que você tem que ser tão...
- Gato? - completei por ela e ri. - Gostoso? - sugeri, com uma sobrancelha erguida e ela gargalhou.
- Me poupe, né? - ela disse e se levantou, caminhando pra fora do quarto.
- Ei! - chamei - Você não vai me dizer o que eu sou?
Ela riu, já saindo do quarto, mas depois colocou a cabeça pra dentro dele e sorriu.
- Tão... - ela começou e eu me preparei pro xingamento - Irritantemente lindo.
E, dizendo isso, ela sumiu. Pude ouvir ela descer as escadas correndo e o sorriso bobo não saía do meu rosto.
O plano tinha ido pro saco, mas tinha servido pra alguma coisa afinal.
* Olhe para as estrelas, olhe como elas brilham pra você e pra todas as coisas que você faz, yeah, elas eram todas amarelas. Eu vim junto, eu escrevi uma canção pra você e pra todas as coisas que você faz. E ela foi chamada de Amarelo.
Então eu esperei minha vez, oh que coisa para se fazer! E era tudo amarelo. Sua pele, oh sim, sua pele e seus ossos se tornam algo tão lindo. Você sabe? Você sabe que eu te amo tanto. (Coldplay - Yellow)
3.
Uma pausa para um melhor entendimento do que aconteceu antes: Eu, Idiota me apaixonei por Louca .
Positivo.
Eu, Escroto , junto com a minha mente doente, criei um plano onde músicas levariam Estranha a saber que ela é a garota que eu quero, sempre quis e sempre vou querer.
Positivo.
Eu, Gostoso , ficando a cada dia mais gay.
Negativo.
...Qual é, tem coisas que é bom esconder, tá legal?
Bem... Voltando...
Primeira música: Fez-me dizer à tudo o que eu sentia, mesmo que ela não soubesse que o que eu sentia era por ela.
Deu certo.
Segunda música: Seria como uma forma de dizer "Olá, , não seja idiota e pense que existe outra garota nessa história. A garota é você!". Mas, claro, a bobona estragou tudo. E essa música só se tornou importante porque, no fim, ela acabou me dizendo que eu sou lindo (coisa que eu já sabia) e fez com que ela prestasse mais atenção em mim.
Meio certo.
Terceira música: Não estava no plano, não tinha um propósito e, o pior de tudo, só se tornou importante por causa de uma coisinha chamada "sorte".
Agora, vamos aos fatos!
Eu já disse que a tem três tipos de tons diferentes pra falar comigo quando está com raiva? Falei do mais ameno, não falei?
Ótimo, hoje vou apresentar a você o segundo tom: o intermediário, aquele que quer dizer claramente: ", você está muito fodido."
Aula de Biologia... Existe aula pior que essa?
Claro que existe!
As aulas duplas de Biologia.
Estava quase cochilando enquanto a senhora gorducha e pequena andava pra lá e pra cá, falando de algo que não fazia o menor sentido pra mim. Bocejei longamente e decidi que precisava fazer algo pra não dormir, afinal, aquela professora me odiava e dormir na aula dela não exatamente aumentaria a minha moral.
Virei pra trás, pra pegar meu iPod com a e me deparei com a cena extremamente comum naquela aula: com o rosto apoiado em uma das mãos, de olhos fechados e com a boca aberta, dormindo.
Ri baixo e, pretendendo acordá-la, dei um tapa de leve no braço que estava apoiando o rosto dela enquanto ela dormia.
O que aconteceu a seguir foi muito, muito, muito hilário. Falo sério!
Primeiro porque eu não imaginei que ela pudesse dormir tão profundamente naquela posição.
Segundo porque, como de costume, eu estava errado.
E terceiro porque quando bati no braço dela (bem de leve, juro) ela não só demorou pra acordar, como seu braço que apoiava a cabeça despencou molemente.
E aí entra a parte hilária da história. Sabe a cabeça dela? Pois é, sem braço nenhum pra apoiar, ela foi de cara na mesa com força e fez um barulho enorme!
Mas o que mais se ouvia na sala era a minha gargalhada.
Minha barriga doía, o ar me faltava e eu continuava rindo.
Outras pessoas logo se juntaram a mim, enquanto a professora baixinha e gorducha gritava para pararmos de rir. Mas é claro que ninguém parou...
Na verdade, só paramos de rir quando outro grito se sobrepôs às risadas.
O grito dela, óbvio.
- , eu vou matar você!
Você, lendo assim, sentado(a) calmamente aonde quer que você esteja e não correndo nenhum risco de vida pode achar que esse grito dela, seguido de toda aquela situação, foi engraçado.
Mas eu? Gelei na mesma hora.
me olhou daquele jeito diabólico que significava apenas uma coisa: que eu estava muito fodido.
Só senti uma mão empurrando minha cabeça com força e, quando percebi que aquela era toda a força que ela tinha, comecei a rir de novo.
Pois é, eu costumo agir da pior forma, nas piores situações.
Se essa fosse a Lei do , ela seria mais ou menos assim:
Se você já está fodido, na situação mais fodida possível,
você ainda vai achar um jeito de se foder mais um pouco.
E essa é a história da minha vida, queridos leitores!
A ficou muito, muito brava comigo. Principalmente depois que fomos os dois expulsos da sala de aula. Na verdade, estávamos nós dois correndo pelos corredores da escola por causa disso.
Ok, corrigindo: Ela estava correndo de mim, porque disse que se ficasse perto de um ser tão irritante como eu, cometeria um homicídio.
E eu, como sou a garotinha indefesa e inocente dessa história, estava correndo atrás dela.
O que prova que eu tenho tendências suicidas bastante perigosas.
- , será que dá pra você me esperar? - ofeguei, quando finalmente cheguei perto dela e a segurei pelo braço.
- Tá querendo morrer? - ela perguntou, se virando pra mim - Tá vendo isso aqui, sua anta? - ela disse, apontando pra testa e eu tive que usar toda a minha força de vontade pra não rir. Havia uma bola vermelha no meio da testa dela, por causa da batida na mesa.
- Ah, legal - comentei - Talvez vire última moda em Paris.
E então ela me bateu. É, ela me bateu. Deu-me vários murros, vários tapas e até tentou me chutar, enquanto eu segurava suas mãos e tentava desviar os chutes.
- Para, sua doida! - gritei, ficando com medo - Não sou seu saco de pancadas, sabia?
parou de me bater, deu dois passos pra trás e respirou fundo. Suspirei, aliviado pela pausa. Mas nada com é fácil, entende? Por isso, ela começou a me bater de novo!
- , para! - falei, sério. Mas eu sabia que ela não ouvia. Quando ficava brava daquele jeito, parecia ouvir apenas seus instintos assassinos.
Sim, garotos também podem ser dramáticos.
- Você é um idiota! - ela gritou, quando cansou de brincar de luta livre - Por que você tem que ser tão tapado? - ela estava ficando vermelha de raiva e tudo o que eu pude fazer foi permanecer quieto - Sério, não sei por que eu ainda espero algo bom vindo de você!
E, dizendo isso, ela foi embora.
Fiquei parado no mesmo lugar por tanto tempo que só percebi quando outros alunos se juntaram a mim, assim que o sinal que indicava o fim das aulas soou.
Como se meus pés tivessem decorado o caminho, me direcionei até o corredor onde ficava o armário de .
Quando cheguei, vi que ela estava lá, com o armário aberto e um papel nas mãos, que ela lia. Lia e sorria pra o que quer que estivesse escrito.
- Ei, me desculpa, ok? Não pensei que fosse te machucar. - foi o que eu disse quando me aproximei dela.
Ela levantou os olhos do papel que estava lendo e olhou pra mim, os olhos inexpressivos.
- Então...? - eu disse, desconfortável. Sabia que tinha passado dos limites dessa vez, mas eu simplesmente não conseguia me controlar!
Então ela me abraçou forte, por um longo tempo.
- Você é a pessoa mais idiota do mundo, mas eu ainda te amo, ! E vou sempre estar do seu lado. - ela sussurrou no meu ouvido e eu, ainda surpreso com o momento fofura tão raro, entendi o porquê daquilo.
O papel que ela segurava antes ainda estava nas mãos dela. Reconheci minha própria letra no papel e lembrei que eu havia, há muito, muito tempo, colocado aquilo em seu armário.
E o papel tinha escrita a letra de uma das músicas favoritas dela.
Fighting my way back to where you are
The only place I ever felt at home
Stumbling backwards through the dark
I know how it feels to be alone
And where we go is where I wanna be
And in the silence I hear you say to me
I'll be by your side, when all hope has died
I will still be around, oh and I, I'm still on your side
When everything's wrong, I will still be around*
* Indo até onde você está, o único lugar onde eu já me senti em casa. Eu sei como é se sentir sozinho e onde nós estamos é onde eu quero estar. E, no silêncio, eu escuto você dizer: Vou estar ao seu lado quando as esperanças tiverem morrido. Vou continuar por perto, vou continuar ao seu lado. Quando tudo estiver errado, eu vou continuar por perto. (Lifehouse - By Your Side)
4. Closer
Eu estava nervoso. Na verdade, eu estava muito nervoso.
Hoje? Hoje é o dia "D".
O dia que eu vou, finalmente, dizer tudo o que eu sinto, tudo o que está entalado no meu peito há tanto tempo.
Finalmente chegou o dia quando eu vou poder olhar nos olhos da minha melhor amiga e dizer que eu não quero só a amizade dela. Dizer que eu sou louco por ela e quero viver ao lado dela. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença e em todas essas besteiras.
Então, bom... Deseje-me sorte.
O caminho da minha casa até a dela nunca pareceu tão longo. Caramba, eram apenas três quadras! Mas a sensação é que eu já tinha dado no mínimo dez voltas no quarteirão.
Passei a mão pela testa, querendo secar o suor. Não, não estava calor.
Geralmente, naquele dia da semana, eu sempre ia até a casa dela e ficávamos lá a tarde inteira, fazendo o que tivesse pra fazer.
Na maioria das vezes, nada.
Parei em frente ao prédio dela, ainda nervoso. Como um idiota, comecei a arrumar o meu cabelo e checar se minhas roupas estavam amassadas.
Quando terminei, subi direto.
O porteiro me conhecia e, por isso, eu não precisava mais tocar.
Cheguei em frente à porta do 23 e respirei fundo. Bati duas vezes.
Na terceira, a mãe dela veio atender.
- Oi, tia! - e futura sogra.
- Ah, oi, .
Entrei no apartamento e fui direto pra sala, mas não tinha ninguém ali.
- Você vai esperar a chegar? - estranhei a pergunta.
- Ela não está? - disse, confuso.
- Ela saiu com um tal de Mike. - a mãe dela informou e eu arregalei os olhos. - Pensei que tinha te avisado.
Eu continuava sem reação, parado ali no meio da sala. Quem era esse filho da puta que atendia pelo nome de Mike?
- Senta aí, ela deve chegar daqui a pouco!
Joguei-me no sofá e fiquei ali, tentando me lembrar quem, diabos, era Mike e quais as probabilidades de eu correr algum risco por causa dele.
- Tudo bem, , você só tem que esperar! - disse pra mim mesmo, tentando me acalmar.
Liguei a TV e fiquei zapeando pelos canais durante mais ou menos... TRÊS HORAS!
Eu suava frio. Eu queria matar a .
Não, na verdade, eu queria matar o tal de Mike!
Ouvi um barulho na porta e me levantei. Cruzei os braços na entrada da sala e vi entrando, acompanhada de um cara claramente mais alto, mais forte e mais velho que eu.
- Oi, , você tá aqui! - disse, vindo me abraçar, mas eu não esbocei nenhuma reação. - Este é o Mike! - ela apresentou e o cara acenou com a cabeça pra mim.
Tudo bem, o universo pelo menos uma vez podia conspirar ao meu favor e fazer esse tal de Mike ser um nerd, feio e com um aparelho enorme, e não o filho da puta que estava parado à minha frente, parecendo um modelo da Calvin Klein.
Não que eu repare nos modelos da Calvin Klein, claro.
- Onde você estava? - perguntei, sem dirigir nenhuma palavra ao infeliz parado perto da porta.
- Fui até a casa do Mike... - O QUÊ? COMO ASSIM FOI ATÉ A CASA DELE? -... Esqueci de te avisar que ia sair...
- É, esqueceu...
foi até o quarto dela e me deixou sozinho com o modelo imbecil. Então eu fiquei ali, sendo obrigado a me comparar com ele e chegar à óbvia conclusão de que qualquer garota que nos visse preferiria ele.
Bufei irritado e, quase ao mesmo tempo, voltou.
- Aqui, Mike! - ela disse, entregando um CD dos Strokes pro cara.
Espera, eu tinha dado aquele CD a ela! Ah, traidora!
- Obrigado, ... - ele disse e deu um beijo no rosto dela, antes de ir embora.
Esperem... Ele chamou ela de ? Que porra de intimidade era essa? E por que ele deu um beijo nela?!
Depois que o cara foi embora, continuei encarando com ferocidade, esperando uma explicação.
- O que foi? - ela perguntou, inocentemente, indo até a sala.
No fim, ela me explicou que o Mike era apenas um vizinho que tinha acabado de se mudar pra cidade ao lado, e ela estava apenas ajudando ele com a mudança.
Na volta, enquanto conversavam, começaram a falar de música e ela disse que lhe emprestaria o CD dela.
Mais aliviado, adiei a história de contar pra ela. Contaria mais tarde, afinal, meus nervos ainda estavam tensos.
Assistimos o que pareceram ser trezentos filmes, enquanto, como sempre, trocávamos xingamentos, fazíamos brincadeiras e falávamos mal dos personagens. Mas eu tinha que me esforçar pra parecer natural, já que eu estava nervoso e pensando em como dizer tudo o que eu queria a ela.
- , eu preciso... - comecei, mas fui interrompido pela campainha.
foi atender. Era a mãe dela, que tinha ido até o mercado e esqueceu a chave.
- O que você tava falando, ? - me perguntou, quando voltou pra sala.
Respirei fundo e comecei de novo.
- Eu queria conv... - parei de falar, já que dessa vez fui interrompido pelo telefone tocando.
riu, aparentemente achando graça do fato de que eu não conseguia dizer o que queria sem ser interrompido.
Ela esticou o braço para o aparelho e atendeu.
Ficou a porra de uma hora inteira conversando com uma amiga dela, enquanto eu apenas revirava os olhos.
Tava difícil, mas eu não sairia dali até falar o que eu queria!
Quando ela finalmente desligou, decidi ser direto.
- , eu preciso conversar com você! - eu disse, com uma coragem que nem parecia ser minha.
Ela ajeitou-se mais perto de mim no sofá, de um modo que pudesse me ver e sorriu, querendo que eu prosseguisse.
Engoli em seco.
- Eu queria te dizer... Estou a algum tempo querendo te dizer... - E aí eu parei, porque fui atacado por uma crise de tosse violenta.
- Calma, ! - dizia, gargalhando de mim.
Meus olhos já estavam se enchendo d'água quando consegui parar de tossir.
- Você tá vermelho! - acusou, rindo ainda mais.
O que eu fiz pra merecer isso? Joguei merda na porcaria da cruz, foi?
- Tudo bem, agora me diga, ou morra tentando! - disse, feliz.
- Engraçadinha... - resmunguei, revirando os olhos. - Preciso te dizer que... - olhei nos olhos dela, que estavam com um brilho lindo. Ela estava feliz e, mesmo que fosse feliz por causa das desgraças ocorridas comigo, eu me senti bem por saber que, de um jeito ou de outro, eu a fazia feliz. - Você me faz feliz. - eu disse. Culpa dos pensamentos que estava tendo. Vi erguer uma sobrancelha e sorri. - Eu gosto de ficar perto de você, eu me sinto bem quando eu tô com você... - continuei, empolgado por não ter sido interrompido por nenhuma outra catástrofe - Eu... Eu gosto demais de você, . Eu acho que eu te...
Fui interrompido novamente, mas dessa vez foi por uma me abraçando fortemente e me dando beijos no rosto.
- Que fofo! - ela disse, sorrindo bastante, um pouco corada. E ela ficava linda daquele jeito.
- Espera, eu nem acabei... - eu falei, sorrindo com ela.
- Nem precisa, . - ela me interrompeu e eu sorri mais. Finalmente ela tinha entendido! - Eu sei que nós não falamos muito de sentimentos e essas coisas... - ela disse, olhando pras mãos. - Mas eu sinto a mesma coisa com relação a você!
Sorri, meio bobo. Ela levantou a cabeça e olhou nos meus olhos.
- Você é a minha pessoa, sabe? - ela disse, corando violentamente - A pessoa com quem eu sempre quero estar e que eu sei que sempre vai estar comigo. Você é e sempre vai ser o meu melhor amigo!
Foi nessa hora que tudo desmoronou. Que eu tive que fazer força pra manter o sorriso no rosto, só pra não decepcioná-la.
Foi nessa hora que eu percebi o idiota que eu era, que eu quis me enterrar ali e não sair nunca mais, que eu me senti a pessoa mais feliz e mais infeliz do mundo.
Ali estava a minha melhor amiga, praticamente me dizendo que não conseguiria viver sem mim, mas sem sentir nem ao menos metade do que eu sentia por ela.
Foi nessa hora também que eu quis bater nela. Por que ela tinha que ser lenta, burra, idiota ao ponto de não entender onde eu queria chegar?
- A garota que você gosta tem muita sorte! - ela finalizou, me abraçando.
Retribuí seu abraço, sentindo o cheiro dela e tentando segurar uma maldita de uma lágrima que queria escapar.
Eu já estava gay o suficiente, não precisava chorar também.
Quando ela se afastou, fiz a única coisa que fui capaz de fazer.
- Era... Era exatamente isso o que eu queria dizer.
E aí tudo acabou. O dia "D", o plano estúpido, a minha esperança...
É, eu desisti.
Desisti porque eu não seria capaz de colocar em risco tudo aquilo. Eu era a pessoa dela. O melhor amigo com quem ela sempre poderia contar. E se eu a fazia feliz desse jeito, era assim que as coisas iam ser.
Não pense que eu desisti por amar de menos. Na verdade, eu desisti por amá-la demais.
E, naquela noite, sozinho no meu quarto, tudo o que eu pude fazer foi pegar meu violão e tocar insistentemente a mesma música, que traduzia um pouquinho de tudo o que eu queria e desisti de ter.
- And when I see you then I know it will be next to me. And when I need you then I know you will be there with me. I'll never leave you...Just need to get closer, closer... Lean on me now, lean on me now... Closer, closer, lean on me now, lean on me now...*
* E quando eu te vejo eu sei que estará do meu lado. E quando eu preciso de você, então eu sei que você estará lá comigo. Eu nunca vou te deixar. Só preciso estar mais perto, perto... Conte comigo agora. (Closer - Travis)
5. Brighter Than Sunshine
A vida? A vida era uma droga.
O amor? Uma droga pior ainda.
E era exatamente por isso, pela vida ser uma droga do jeito que era, que eu estava lá, na casa dela, fingindo estar bem, fingindo que nenhum dos pensamentos que tive nos últimos meses era verdadeiro. Fingindo que o que eu sentia era uma mentirinha boba.
Era pelo amor ser uma droga que eu estava ali, me drogando mais um pouco.
- Sabe o que dá vontade de fazer em dias assim? - me perguntou, com as duas mãos espalmadas no vidro da janela, olhando pra chuva que caía do lado de fora.
- Dormir? - supus e dei um meio sorriso ao ouvi-la bufar.
Eu estava jogado no sofá da casa dela, como muitas vezes fazia, apenas pra passar o tempo, já que não podia ir pra casa com aquela puta chuva caindo do lado de fora.
Do jeito que eu estava deitado no sofá, podia ver de costas, ainda olhando pela janela.
- O que você tem vontade de fazer? - perguntei, me rendendo, já que eu sabia que ela se faria de muda até eu perguntar. Ela gostava de ver que as pessoas se interessavam em ouvir o que ela tinha pra dizer, mesmo que essas pessoas apenas fingissem estar interessadas.
É, eu era uma dessas pessoas, algum problema?
- Que bom que você perguntou! - ela disse irônica e eu revirei os olhos. Sempre com aquele sarcasmo... - Nesses dias - ela continuou normalmente - Dá vontade de sair na chuva, sabe? Dançar, cantar... Sei lá!
Com uma sobrancelha erguida, continuei encarando as costas dela, podendo ver que ela sorria bobamente pelo reflexo da janela. Ri, descrente.
- Para o bem da humanidade - eu comentei - seria legal se só você tivesse essas vontades loucas.
riu, distraída, e fez sinal pra que eu me aproximasse de onde ela estava.
- O que é? - resmunguei, logo que parei ao lado dela.
- Presta atenção - ela disse, apontando pra fora - Vê como a chuva cai? E o brilho que ela faz? E olha lá! - ela apontou, ainda com um sorriso bobo no rosto - É legal ver o modo como as gotas batem no chão, é... Bonito. - terminou, sonhadora.
- E daí? - perguntei, querendo rir. Ela sempre dizia gostar da chuva, mas eu não sabia que ela também tinha uma tara por ela.
- E daí que você é um insensível e eu não sei por que perco meu tempo contigo!
Outch! Olha quem tava falando, né?!
Mesmo assim, continuei parado ao lado dela. Conhecia-lhe bem demais pra achar que ela estava irritada de verdade.
- Você perde seu tempo comigo porque eu sou seu melhor amigo e você me ama - respondi divertido, passando um dos braços por cima dos ombros dela, abraçando-a de lado.
- Não, eu te aguento porque tenho que pagar todos os meus pecados convivendo com você! - ela retrucou, se esforçando pra não rir.
- Fala sério - eu disse, fingindo estar indignado - Você não cometeu tantos pecados assim!
gargalhou, mas não disse mais nada.
Mudando de posição, apoiei minha cabeça na curva do pescoço dela, a abraçando por trás, observando junto com ela a chuva cair.
- É bonita, não é? - ela perguntou, depois de algum tempo.
- Muito - eu respondi, mas não estava mais prestando atenção na chuva.
Porque, como a cada dia eu fico mais gay por causa dessa menina, eu estava olhando pra ela.
- Eu não vou! - gritou enérgica, parecendo exasperada comigo.
- , minha querida - eu disse, achando muita graça da situação - Você queria sair na chuva, lembra?
Eu estava parado no hall de entrada do prédio de , enquanto ela se negava a sair.
- Deve estar frio... - ela choramingou e eu revirei os olhos pela... Centésima vez?
- Você é estranha - eu disse, sacudindo a cabeça, mas soltei uma risadinha quando sorriu e concordou.
A cada dia que passava, parecia que eu entendia ainda menos ela. A garota queria sair na chuva, poucos minutos atrás e, agora, que estava tendo a chance, desistia?
- Você queria ir - eu disse, em um tom de ameaça - Agora você vai!
Caminhei até ela tão rápido que ela só teve tempo de gritar um "Não!" meio estrangulado quando percebeu o que eu estava prestes a fazer.
Gargalhando, e chamando um pouco da atenção do porteiro, peguei-a no colo e, enquanto ela se debatia, me batia, gritava e dava risadas, eu a levei para fora.
- Tá gelaaaaadaa! - ela gritou, agora gargalhando, logo que deixamos a proteção do prédio pra trás. Ri alto, pondo ela no chão.
A água estava realmente muito gelada e mesmo que estivéssemos a apenas alguns metros do prédio de , já estávamos encharcados.
Ri escandalosamente quando tentou correr pra dentro do prédio, mas afundou o pé em uma poça enorme e só não caiu porque se segurou em mim.
- Vem! - chamei, puxando-a comigo, depois que ela parou de rir e tirou o pé de dentro da poça de água.
Agora que estava na chuva, todo encharcado e com as roupas começando a pesar, percebi que a ideia dela não era assim tão absurda. Na verdade, era muito boa. A chuva estava me ajudando a clarear os pensamentos e me fazia ter uma sensação boa alojada no peito.
Enquanto estivesse sentindo aquilo, nada poderia dar errado.
Corremos pela calçada, como dois bobos, até chegarmos à pracinha que sempre íamos pra tomar sorvete em dias de sol. Àquela hora (e com aquela chuva), estava vazia.
Agora que parecia acostumada com a temperatura da água, começou a rir sem parar. Ri junto com ela, mesmo sem saber do que.
Havia um quê de liberdade no ar, no chão, na chuva, que parecia deixar as coisas ainda mais bonitas.
Parecíamos dois bobos, rindo, correndo, cantando... Juro que quem passasse por ali pensaria que estávamos bêbados.
Pelo menos, eu estava. Bêbado com a presença dela.
Não vou comentar essa última frase, já cansei de dizer que estou ficando gay.
pulava de um lado pro outro, agora com aquele sorriso bobo que eu havia visto em sua casa estampado no rosto. E ela estava linda, com a roupa toda encharcada, os cabelos colados no rosto e aquela felicidade que parecia transbordar dela.
Só percebi que estava cantando quando se juntou a mim, fazendo um coro e paramos somente pra rir quando ela começou a fazer uma dancinha estranha, que ela não parou de fazer, mesmo depois de ver que eu estava rindo dela.
- Madame - eu disse em uma meia reverência, depois de voltar a respirar normalmente, estendendo uma mão pra , com a outra mão às costas, claramente a convidando pra dançar.
piscou, tentando enxergar e sorriu ao ver que eu estava sorrindo.
Ela pegou minha mão, aceitando o convite silencioso e logo estávamos dançando colados, como em uma valsa.
Comecei a cantar a primeira música lenta que me veio à cabeça, e sorria enquanto eu cantava em seu ouvido.
- So let the rain fall, I don't care. I'm yours and suddenly you're mine... Suddenly you're mine...
- And it's brighter than sunshine...* - ela cantou o final da estrofe por mim, e nos separamos o suficiente pra que pudéssemos olhar nos olhos um do outro.
E ali, olhando nos olhos dela, eu sentia exatamente o que a música dizia. Eu era dela e, de repente, ela estava ali, nos meus braços. E era minha.
- Deixa a chuva cair... - eu sussurrei. Não sei se ela me ouviu, com o barulho de toda aquela chuva caindo à nossa volta, mas ela sorriu, olhando pros meus lábios, como se estivesse lendo eles.
E foi nesse momento que eu esqueci-me de tudo: de plano que deu errado, da ideia de ser só amigo dela, da minha desistência, da chuva, das nossas roupas encharcadas e do meu cabelo colado na testa. Ela me fez esquecer de tudo.
não respondeu. Agora olhava nos meus olhos, como se pudesse ver algo ali. E eu tenho certeza que ela via, porque tinha algo ali: tudo o que eu sentia por ela estava estampado nos meus olhos, em todo o meu corpo, na minha alma...
Ela se aproximou, talvez um milionésimo de segundo depois que eu comecei a me aproximar. Senti sua mão fria tocar minha nuca e pousei uma das minhas mãos em seu rosto. Sem conseguir aguentar mais aquele espaço entre nós, eu simplesmente avancei até ela, sem em nenhum momento pensar nas consequências.
Senti algo explodir dentro do meu peito assim que os lábios dela, aqueles lábios agridoces e macios como algodão, se encostaram aos meus. E assim, sem mais nem menos, eu não tremia mais de frio, porque aquela pessoinha à minha frente me aquecia. O meu amor por ela me aquecia.
E era mais brilhante do que a luz do sol.
- Você tem razão. - foi a primeira coisa que ela disse, com a voz muito baixa, se afastando um pouco de mim. Abri os olhos, que pareciam não querer voltar à realidade. Olhei pra ela, que exibia no rosto um sorriso que eu nunca, em todos aqueles anos, havia visto antes, mas que eu sabia que seria meu preferido. - Deixa a chuva cair.
E então ela me beijou.
Sim, ela me beijou.
E aquilo tudo era mais do que certo, afinal, eu sou dela e assim, de repente, ela é minha.
* Deixe a chuva cair, eu não ligo. Eu sou seu e, de repente, você é minha. E é mais brilhante que a luz do Sol. (Aqualung - Brighter than Sunshine)
Despedida – Lucky
Olá, resolvi aparecer!
Estava na hora, não? Afinal, se eu deixasse o escrever a história toda, com certeza ele ia estragar ela!
Ah, claro, eu sou a , a melhor amiga da qual ele tanto falou.
Eu só queria dizer que
Olá, aqui. Desculpem-me por isso. Sei que ninguém queria saber a opinião dessa chata sobre a história e, só uma coisinha... EU NÃO ESTRAGUEI A HISTÓRIA, OK?!
aqui... , seu mal-educado, nem me deixou terminar a minha frase! E eu não disse que você estragou, seu tapado, disse que se você escrevesse tudo, você estragaria!
Acontece, querida , QUE EU NEM PERGUNTEI NADA!
Problema seu, ! Você me incluiu nessa história, então eu tenho o DIREITO de falar o que eu quiser, ok? RIDÍCULO!
Ela é um amor, não é? Ai, ai... Tão fofa!
E você é tão chato que nem me deixou dizer o que eu queria dizer, poxa!
Tá, tá... O que você queria dizer, ?
Só queria deixar mais uma música pras suas leitoras!
Mas o nome da história é 5 (cinco) CINCO canções e não SEIS!
Não te perguntei nada, perguntei? NÃO! Então não se intrometa de novo!
Enfim gente, se dessa vez o nosso queridíssimo não resolver interromper de novo, talvez eu chegue até o final da minha frase!
Retornando ao que eu dizia: Só queria dizer que tem mais uma música pra definir essa história (embora o Sr. Chato tenha escrito com o nome de 5 canções). E, sinceramente, não sei como ele pôde esquecer dessa música!
They don't know how long it takes
(Eles não sabem quanto tempo leva)
Waiting for a love like this
(Esperar por um amor como esse)
Every time we say goodbye
(Todas as vezes que nós dizemos adeus)
I wish we had one more kiss
(Eu desejo que tivéssemos mais um beijo)
I wait for you I promise you, I will
(Eu vou esperar por você, eu prometo)
Lucky I'm in love with my best friend
(Sorte! Eu estou apaixonada pelo meu melhor amigo)
Lucky to have been where I have been
(Sorte por ter estado onde eu estive)
Lucky to be coming home again
(Sorte por estar indo pra casa novamente)
Lucky we're in love in every way
(Sorte! Nós estamos apaixonados de todas as formas)
Lucky to have stayed where we have stayed
(Sorte por termos estado onde estivemos)
Lucky to be coming home someday
(Sorte por estar voltando pra casa algum dia)
Viu? Era só isso!
, sua fofa! Ela é linda, não é? E não revira os olhos pra mim, !
Bom gente, é isso. Até a próxima!
, abençoado, é assim que você termina uma história?
Como você queria que eu terminasse?
Assim:
Fim
Ah, é verdade... Tem que pôr um "Fim" no fim...
Enfim...
Fim
ps.: Fiquem felizes por não descobrirem qual é o terceiro tom de raiva dela pra falar comigo... Aquele que diz claramente: "Evacuem a cidade, temos uma à solta!"
pss.: Você é tão idiota, zinho...
Agora sim...
FIM
Olá leitoras! Espero que tenham gostado de 5 Canções, meu xodó u.u Esse finzinho pensei em não colocar, mas aí no fim me deu a louca e eu pus! haha. Espero que não tenha estragado tudo! Enfim, obrigado por terem lido!
E um agradecimento especial pra Cáàh, essa LINDA, que me atura, responde meus emails enormes, aceita betar minhas fics, me faz rir pra caramba, já se tornou minha amiga e vai ser minha parceira quando eu montar minha barraquinha na feira! -n Obrigado, Cáàh! De verdade!
E claro, um agradecimento ao ATF, esse site maravilhoso que, além de tudo o que proporciona, me trouxe a oportunidade de conhecer pessoas incríveis!
N/b: Adorei betar 5 Canções! É linda, é fofa e é engraçada <3.
Espero que venham outras, Mah, e espero que eu continue sendo a sua beta.