134340
Escrito por Virginia Uchoa | Editado por Lelen
O vento soprava forte, arrastando com ele as folhas das árvores que estavam frágeis, devido à chegada do outono. As folhas das árvores estavam esverdeadas, agora tinham uma tonalidade amarronzada, sinal que estavam secas e devido a essa condição, ficavam frágeis e caíam.
Seu rosto estava encostado na janela do carro e o vento gélido contra o seu rosto deixava sua pele arrepiada. Seus olhos estavam atentos ao trajeto e pôde ver que o clima havia mudado drasticamente no último mês. Pessoas poderiam ser vistas na entrada das casas, limpando os tapetes que as folhas faziam naquele outono. Crianças brincavam com as folhas, jogando as folhas para cima e bagunçando, fazendo uma mulher fazer cara feia e reclamar, isso o fez sorrir abertamente.
O trajeto do aeroporto até seu apartamento estava chegando ao fim e ele soltou um suspiro, agradecendo mentalmente a rapidez do motorista e o pouco trânsito que havia no caminho. Pagou o taxista e agradeceu pela ajuda com a mala grande e pesada que ele levara consigo para a viagem, o qual passou um mês.
não estava muito paciente para conversar com o porteiro, então apenas cumprimentou e pegou o elevador, não queria esperar mais para ver a dona dos seus pensamentos.
Com uma grande dificuldade, ele abriu a porta de casa e puxou a mala pesada, entrando no local. Suspirou pesadamente pelo esforço, passou a mão na testa e fechou a porta. Franziu a testa, achando estranho o silêncio.
- Amor, cheguei! – Ele gritou na sala, esperando que a mulher aparecesse, mas não ouviu resposta alguma. Soltou as chaves na mesinha de centro e foi até o quarto procurar a amada. Talvez, estivesse dormindo e não escutara chamando por ela.
Chegando ao cômodo, a cama estava feita e nenhum sinal de . Saiu do local e foi na cozinha, pois ela poderia estar fazendo algum tipo de brincadeira com ele. – Amor! Você está brincando de se esconder? – Ele vasculhou a cozinha, lavanderia e banheiro de visitas, mas em nenhum dos locais ela estava. Voltou ao quarto, indo até o banheiro da suíte, mas foi em vão, pois a mulher também não estava. pôs a mão na testa antes de pegar o celular que estava no seu bolso e discou o número 1 da sua discagem rápida, o qual era o contato de .
- O número que você ligou está fora de área ou desligado. – A voz eletrônica falou e o homem começou a respirar fundo. Tentou o número da mãe e da irmã de e os dois estavam desligados e começou a ficar desesperado. Ele sabia que ela nunca deixava o celular desligado, até mesmo quando colocava o celular para carregar, pois ela dizia que sempre poderia acontecer algum imprevisto.
tentou lembrar-se de algo que tivesse feito, mas nada veio à sua cabeça. Ele sabia que tinha que procurar sua namorada, pois ela não sairia logo no dia da sua volta.
Caminhou até o banheiro para tomar um banho quente e tentar relaxar os músculos, pois do jeito que estava não poderia pensar direito.
Enquanto a água caía por todo seu corpo, sua mente começou a trabalhar, tentando recordar se havia dito algo nos dias anteriores e foi então que seu corpo paralisou. Há uma semana não atendia as ligações de e só falava com ele por mensagens de texto. Toda vez que perguntava o motivo, ela dizia que estava no banho ou que estava com sua mãe ou que estava trabalhando, ajudando na reforma do planetário. Ele não tinha pensado a respeito, mas agora achava que algo não estava certo.
Tomou o banho o mais rápido que pôde, fechou o chuveiro e pegou uma toalha que estava pendurada. Enxugou o corpo rapidamente e cobriu-se da cintura para baixo, deixando a parte de cima descoberta. Caminhou descalço para o quarto e abriu o guarda-roupa, para que pudesse pegar uma roupa qualquer antes de sair.
Porém, ao abrir o guarda-roupa, seu corpo inteiro paralisou e seu olhar era de total descrença ao ver que a parte de estava totalmente vazia, não havia uma peça de roupa no local. O homem se desesperou e começou a vasculhar todo o móvel. Nas gavetas, nenhuma peça íntima da mulher e nas laterais, nenhum calçado.
passou as mãos pelos cabelos molhados, puxando fortemente, em total desespero. Seu coração batia forte contra sua pele e sua respiração estava desigual. Em sua mente, um total vazio e em seu rosto só havia choque diante do que via.
- Não, não, não. Ela não pode... – Ele disse para si mesmo, sem conseguir compreender. Suas pernas ficaram fracas, fazendo o cair de joelhos. O corpo do homem começou a tremer e não era por causa do contato do seu corpo com o chão gelado, mas sim, pelo grito preso em sua garganta. Lágrimas grossas começaram a rolar pelo rosto de , fazendo com que seu corpo tremesse mais ainda.
Ele tentava pensar em algum motivo para ela ter ido embora, algo que o homem tivesse feito, mas nada vinha na sua mente.
Tentou reunir a pouca força que ainda lhe restava e levantou-se, escolhendo uma roupa qualquer do guarda roupa.
Passou pela recepção do prédio rapidamente, indo para a garagem e pegando seu carro. Saiu do prédio, pensando onde iria, então seguiu a caminho para de sua sogra que ficava a cerca de vinte minutos do apartamento dele. Sincronizou a rádio, talvez ouvindo música seus pensamentos não ficassem mais conturbados do que já estavam.
Colocou em uma estação qualquer quando uma ideia alarmou em sua mente e seu olhar foi parar no porta-luvas. “Talvez teria alguma pista que me leve à ela, ele pensou. E não custaria nada, não é mesmo?
Com um pequeno clique, o porta-luvas abriu e com a mão direita ele tateou todo o local, esbarrando apenas em papéis. Porém, ao fundo, sua mão encontrou um objeto gelado. Retirou rapidamente e constatou que era um chaveiro de telescópio. Deu um pequeno sorriso. Ele sabia exatamente quando tinha adquirido o pequeno objeto. Foi o dia em que a conheceu.
Flashback on
O dia estava ensolarado, sendo o dia perfeito para fazer um passeio.
já estava dentro do carro, porém ainda não sabia onde iria. Sua alternativa era ir ao google e pesquisar bons lugares para que ele pudesse desfrutar seu dia de folga.
Depois de pesquisar alguns minutos, percebeu que alguns lugares ele nunca havia visitado, como o museu nacional de Seul e o planetário que ficava próximo ao Centro. Então, ele decidiu ir ao planetário primeiro e na sua próxima folga, visitaria o museu nacional.
Rapidamente saiu da garagem do apartamento, indo em direção ao seu destino.
Colocou em uma estação de rádio qualquer, como sempre fazia quando tinha que dirigir. Era uma espécie de mania, já que não importava a ocasião - feliz, triste ou até mesmo urgente - ele sempre ligava o rádio, pois sentia-se sempre relaxado.
Alguns minutos se passaram e logo ele estava no estacionamento do planetário. Trancou o carro rapidamente e logo subiu a longa rampa que havia.
Ao olhar ao redor, percebeu que haviam muitas famílias no local, com uma grande presença de crianças de todas as idades. Isso o fez sorrir. tinha um grande carinho por crianças, sempre fazia-o ficar calmo em um dia estressante.
Procurou a placa que levava para a bilheteria e caminhou até o local, comprando o ingresso para entrar no planetário.
Como ainda faltavam alguns minutos para começar a próxima sessão, o homem foi em direção à lanchonete para comprar uma água, já que ele não sabia quanto tempo era cada sessão e poderia sentir sede.
Voltou a passos largos, procurando um local em que pudesse sentar, porém seu caminho foi interrompido ao trombar com alguém, fazendo-o derrubar a garrafa de água que ele havia comprado. Por sorte, ele não tinha aberto, não derramando nem uma gota.
Lembrou-se que tinha esbarrado em alguém, voltou seu olhar para o outro lado, vendo uma mulher massageando o braço.
- Tudo bem com você? - O homem perguntou visivelmente preocupado.
- Sim, obrigada pela gentileza. Você se machucou? - Ele apenas balançou a cabeça, negando e parou para observá-la. Ela estava vestida em um tipo de jaleco, parecida com o de profissionais da área da saúde. A única diferença é que não era branco, mas sim de um azul escuro. Como a cor do céu a noite. Em um lado havia um bolso e no outro o nome do local.
- Você trabalha aqui?
- Sim e você me fez lembrar que eu estou atrasada. Obrigada por se preocupar. Estou bem e fico feliz que esteja tudo bem com você também.
A mulher saiu andando, sem se despedir e sem deixar se despedir. Ele apenas deu de ombros e voltou a procurar um local.
XXX
Ele olhava para cima, passando os olhos por todo o teto. Maravilhado. Essa é a palavra para descrever o estado em que o homem se encontrava.
Não lembrava se algum dia ele tinha visitado algum planetário em todos os seus 29 anos de existência e isso explicaria sua reação.
Sentiu uma dor no pescoço e foi então que percebeu que não estava com o corpo encostado no estofado da poltrona. Encostou o corpo e o pescoço, tentando ficar confortável. Foi nesse momento que entraram algumas pessoas e percebeu que uma delas era a moça que ele havia esbarrado minutos atrás.
- Boa tarde. Bem vindos ao Planetário de Seul. Espero que vocês gostem da nossa pequena aula. - Um homem, que aparentava ser o mais velho, falou.
- Antes de começarmos, deixei o corpo relaxado e bem encostado na poltrona. Iremos deitá-la um pouco.
- Estão prontos? Vamos falar sobre como o mundo começou.
Flasback Off
O primeiro lugar e mais perto de seu apartamento era o da melhor amiga de , Kyung-lee. Então, seguiu em direção à casa da mulher, que ficava mais ao Sul.
Estacionou o carro de qualquer jeito e rapidamente caminhou até a porta da casa. Apertou a campainha, esperando encontrar alguém no local. Batia seu pé constantemente, totalmente impaciente. Alguns segundos se passaram e quando ele iria apertar novamente, a porta abriu.
- Olá, Kyung. Desculpe incomodar, mas eu queria saber se a Annie está aqui.
- Não. - O homem franziu o cenho, olhando fixamente para a mulher à frente. Ele estranhou o modo como ela respondeu, como olhou para ele e nem perguntou o motivo da pergunta.
- Onde ela está, Kyung?
- E por que eu saberia? A noiva é sua.
- Porque ela é sua melhor amiga e você está estranha. Só me fala onde ela está. - O homem suspirava pesadamente, a paciência já estava distante.
- Eu não sei. - A mulher disse, desviando o olhar dele e foi quando ele teve a certeza que ela estava mentindo.
- Kyung, pelo amor de Deus! Me fala! Eu passo três meses fora, todo santo dia me comunicando com e quando eu chego em casa nenhum sinal dela, até as coisas dela não estão lá! Você não entende meu desespero?
- , talvez ela só não queira ver você.
- E qual motivo teria? Eu pensei, pensei e pensei tentando encontrar qualquer resquício de motivo para ela ter me deixado sendo que estávamos muito bem.
- Dê um tempo a ela.
- Porque?
- , desculpa. Tenho que ir. - E sem esperar resposta, ela fechou a porta na cara de .
Novamente no carro, o homem agora ia em direção a casa dos pais de , que ficava em um bairro próximo.
Sua mente estava a mil. Ele tentava entender o que estava acontecendo, tentando buscar em sua mente qualquer coisa que ajudasse em sua busca. Porém, tudo era em vão.
Tirou uma de suas mãos do volante e puxou levemente os cabelos antes de dar tapas em sua testa, querendo clarear seus pensamentos que estavam em borrões.
estava sem paciência com o trânsito infernal que havia na avenida que ele pegara. Buzinava, xingava os motoristas, o semáforo, a faixa de pedestre, qualquer coisa que o fazia atrasar mais recebia ofensas da parte do homem.
Quando finalmente passou pelo congestionamento, pegou uma rua à esquerda, acelerando um pouco até parar em frente a casa dos seus sogros.
praticamente correu até a porta, esquecendo até de acionar o alarme do carro, fazendo isso logo em que apertou a campainha.
Bateu o pé repetidamente - como fez na casa de Kyung -, esperando que logo alguém atendesse. Porém, a impaciência já dominava seu corpo e ele apertou a campainha novamente. Nada. Apertou novamente e segundos depois, a porta foi aberta.
A irmã mais nova de estava diante dele, olhando-o fixamente.
- Olá, Cho. A está?
- A ? Não está, não. - A garota disse balançando várias vezes a cabeça.
- Você sabe onde ela está?
- Nã-não. Eu não sei onde ela está. - Ela disse gaguejando e de um jeito formal. Isso fez o homem achar a situação cada vez mais estranha.
- Cho, gosto muito de você e me deixa triste ver você mentindo para mim desse jeito. Eu sei que você sabe onde ela está. Por favor, me ajude. - Ele já não aguentava mais não ter notícias de . Quanto mais os minutos passavam, mais ele ficava angustiado.
- Desculpe, . Eu não posso.
- O que está acontecendo, Cho? Eu estou desesperado!
- Desculpe. - E pela segunda vez no dia, a porta foi fechada na sua cara.
XXX
Sem saber mais o que fazer, voltou para casa na esperança que tudo fosse apenas uma brincadeira de mal gosto e quando chegasse, estaria o esperando. Ele rezava para que isso acontecesse.
Antes de ir para casa, o homem ainda havia passado nos parques mais próximos, no planetário e na biblioteca que ficava no caminho para a casa dos pais da mulher, mas nenhum sinal dela.
O que o deixava mais frustrado é que ninguém queria ajudá-lo. Ele não entendia o motivo de ter sido abandonado e porque ninguém tentava explicar nada e para piorar tudo, não conseguia entrar em contato com .
Enquanto o homem tentava pensar em hipóteses, em qualquer coisa que o ajudasse, ele entrava na sala do apartamento, deixando as chaves na mesinha de centro e jogando seu corpo no sofá.
pegou os papéis que estavam ali - a maioria eram contas -, olhando um por um. Algo escapou de dentro do amontoado que estava em suas mãos. Pegou o pequeno quadrado, virando para ele e revelando uma foto dele e de no planetário onde ela trabalhava. Ele sorriu e começou a lembrar do dia em que a convidou para sair.
Flashback On
Fazia exatamente um mês que ele a vira pela primeira vez e todo final de semana dava um jeito de visitar o planetário com a intenção de vê-la.
Há duas semanas, teve a coragem de puxar assunto com ela, tentando demonstrar interesse sobre o universo. Isso fez com que os olhos da garota brilhassem e começassem a falar sem parar.
O homem subiu a rampa que dava acesso ao planetário e logo a viu, sentada em um banco em frente a porta. Provavelmente estava aguardando que todos saíssem para que pudesse organizar todo seu material.
Ele aproximou-se dela, chamando sua atenção. Ela apontou para o seu lado, fazendo-o sorrir. agradeceu antes de sentar.
- Olá, Annie. Como você está?
- Olá, . Estou muito bem e você?
- Estou bem também, obrigado por perguntar. - O rapaz endireitou o corpo e coçou a garganta. - Eu queria te perguntar algo.
- Pode perguntar. - disse docilmente.
- Eu gostaria de saber se você não quer sair comigo. - disse, pegando a mulher de surpresa. Ela piscava os olhos freneticamente, tentando pensar em alguma resposta. - Olha, vou entender se você não quiser. Eu te chamei porque uma vez você falou que…
- Eu aceito, . - A mulher disse interrompendo e foi a vez de ficar surpreso. Ele apenas a encarava, imaginando se tudo não era um sonho.
- Sério?
- Sim. Você sempre é bondoso comigo, sempre vem ao planetário. Eu gostaria de sair com você, sim.
Flashback Off
Quanto mais as lembranças vinham à tona, mais tinha certeza que algo não estava certo e que não o deixaria sem motivo. Um frio percorreu sua espinha. Ele estava mais determinado do que nunca a encontrar . Então, o homem começou a vasculhar a casa inteira.
Começou pela sala - onde estava -, procurando qualquer vestígio que pudesse encontrar na busca. Levantou os estofados dos sofás e poltronas, porém sem obter resultado.
Procurou nas gavetas do rack e nada de pistas. Andou em direção a cozinha, abrindo geladeira e armários. Sem êxito. Estava tão desesperado que ele olhou até dentro do forno do fogão.
Caminhou até o quarto, primeiro indo ao banheiro e vasculhando todos os locais possíveis. Mais uma vez, sem sucesso. Passou as mãos nos cabelos, puxando sem pudor. Voltou ao quarto e começou uma busca pelo guarda roupa, mexendo por suas roupas, abrindo gavetas, entretanto, tudo em vão.
Lágrimas grossas escorriam por suas bochechas e ele bufou irritado. Deixou com que suas costas escorregassem pelo guarda roupa, levando seu corpo ao chão.
Dobrou os joelhos e encostou a testa no local. Não conseguindo aguentar mais o que estava guardado, chorou compulsivamente. Gritos escapavam de sua garganta, intercalados com soluços fortes.
Afastou o corpo - que estava escorado no guarda roupa - e deitou no chão em que já estava. Deixou com que a tristeza o vencesse, não conseguindo pensar em soluções, ideias, absolutamente nada. Apenas chorava, encarando o teto. Virou-se de lado, limpando seus olhos, pois as lágrimas estavam deixando sua visão embaçada.
Seu olhar estava em direção a cama. Foi quando percebeu que havia uma caixa embaixo e o homem tinha certeza que aquela caixa não estava ali quando foi viajar.
Arrastou-se até a cama e levou uma de suas mãos debaixo, puxando a caixa para ele. Cruzou as pernas e abriu. Dentro havia dezenas de fotos, que percebeu ser dele e de . Havia também uma carta e uma caixa com um cadeado dentro. Pegou a caixa e observou que era um cadeado com código e não era aquele comum com três dígitos. Nesse havia seis.
Franziu o cenho, olhando a caixinha por alguns segundos, mas deixou de lado, agora pegando a carta.
Abriu lentamente o envelope, o coração batendo forte, quase saltando para fora. Suas mãos estavam trêmulas e ele respirou fundo antes de desdobrar a carta. Reconheceu a letra da mulher de imediato.
“Eu olho para o céu vendo nós dois
Torcendo para um dia te reencontrar
Eu sei que não agora, mas talvez depois
Imaginando quando vou te beijar
Nós somos como o sistema solar
Em um lado está você tão quente quanto o Sol
Do outro estou eu, tão fria quanto Plutão
Tão distante, mas cheia de paixão
Sabendo que é impossível te achar
Mas talvez essa não seja a palavra certa para usar
Quando existe tão grande amor nada impede
Nem mesmo a distância
Mesmo você sendo o Sol
Mesmo eu sendo Plutão
Mesmo que zilhões de quilômetros nos separe
Nada irá te tirar do meu coração.”
P.S: O poema irá levar até a chave.
Em meio a lágrimas, tentava pensar em como aquele poema iria levar a pequena caixa e consequentemente iria levá-lo até . Mesmo em todo desespero, ele sorriu. Sabia que ela adorava enigmas e mesmo em um momento como aquele, a mulher não perdia sua essência.
Algo iluminou na sua cabeça, fazendo uma lembrança surgir em sua mente. Foi então que ele soube onde estava a resposta.
Flashback On
estava sentado no sofá, tendo deitada com a cabeça em seu colo. Ele mexia no celular, resolvendo um problema do trabalho, enquanto ela assistia algum documentário na discovery channel, algo que ela fazia com frequência.
O homem deixou seu celular de lado, observando a namorada que estava com o olhar fixo na televisão. Isso o fez sorrir. Ele amava tudo naquela mulher, principalmente aquele lado nerd dela, que tanto amava o universo. Franziu o cenho ao perceber que sabia tudo sobre a amada, menos como a paixão por astronomia começou.
Percebeu que o final do documentário havia chegado e chamou a atenção de .
- Amor, eu estava pensando aqui. - Ele iniciou a conversa.
- O que? - Ela disse, virando a cabeça para olhá-lo.
- Eu nunca perguntei como sua paixão pela astronomia começou. - disse, fazendo-a sorrir.
- Ah, amor. Acho que desde criança, sabe? Sempre fui aquele tipo de criança que perguntava tudo e a maioria das perguntas eram relacionadas ao universo. Quando eu estava no colegial, em uma das feiras de ciências eu tive que fazer um projeto. Enquanto 90% da turma fazia vulcões, minha única ideia foi uma maquete do sistema solar.
- Que incrível, amor. E deu tudo certo?
- Não só deu certo como eu levei o primeiro lugar. - disse orgulhosa.
- Então, começou aí? - Ela balançou a cabeça afirmando. - Eu sei que você ama o universo, mas tem algo específico?
- Tem sim. Eu amo tudo mesmo, órbitas, estrelas, planetas. Porém, minha maior paixão é o Plutão. - A mulher disse sorrindo.
- Não é esse que foi desconsiderado planeta? - Ele perguntou colocando a mão no queixo.
- Não é bem assim. É considerado um planeta anão. - revirou os olhos.
- Ainda existe isso? - Ela balançou a cabeça. - Você poderia me dizer os motivos por amar esse planeta?
- Não sei se há motivos, porém posso falar um pouco sobre. Você gostaria de ouvir?
- Querida, tudo que sai da sua boca é música para os meus ouvidos. - Ele disse, fazendo a mulher rir.
- Pois bem. O nome original é 134340 Plutão, como eu disse é um planeta anão. É o maior membro conhecido do cinturão de Kuiper, que é nada mais que uma região de corpos além da órbita de Neturno. Pelo que se sabe, Plutão é composto de rocha e gelo, além de ser pequeno, sendo menor do que a Lua. Está prestando atenção? - Ela disse olhando para o homem à sua frente.
- Claro que sim. Estou totalmente maravilhado com você. Eu tenho a namorada mais incrível do mundo! - disse, fazendo a mulher tampar a boca e rir, totalmente envergonhada. - Não vou atrapalhar, continue.
- Foi descoberto na década de 30, e até 2006 era considerado o nono planeta do sistema solar. Como no decorrer dos anos foram descobertos vários objetos similares a ele, começaram a fazer questionamentos a respeito do planeta, especialmente e após a descoberta de Éris em 2005. Foi criado o termo planeta anão, o qual se enquadrou Plutão, Éris e Ceres.
Em Plutão existem cinco luas conhecidas, sendo que a maior delas tem metade do tamanho dele.
- Como você sabe tanto?
- Anos e mais anos de pesquisa. Existe muito mais sobre esse fabuloso, mas se eu fosse falar tudo que sei, iríamos ficar aqui até amanhã.
- Você é incrível, amor. Além de ser linda é inteligente.
- Eu sou linda? - Ela perguntou sorrindo. Pôs as mãos no pescoço dele e sentou no seu colo, aninhando o corpo ao dele.
- Sim. Linda, inteligente e claramente o amor da minha vida.
Flashback Off
- Isso! Annie é apaixonada por Plutão! Claro que o código seria relacionado a algo que ela ame. - Ele pegou a caixa e observou. - Seis dígitos e tem a ver com Plutão. - disse, olhando fixamente a caixa. - 134340! Annie falou que é o nome científico do planeta! Só pode ser! - Ele colocou os seis nomes e puxou o cadeado, que abriu.
Havia mais fotos, a maioria sendo de - que ele nem sabia que ela havia tirado - e no fundo havia uma outra carta.
Seu coração voltou a acelerar, batendo forte contra seu peito. Sua respiração estava pesada e ele levantou, indo até a cozinha beber um pouco de água.
Voltou, agora sentando na cama e rasgou um dos lados do envelope, tirando a folha de papel de dentro. Como na outra carta, ele desdobrou. Novamente a letra de .
“Olá, meu amor.
Se você encontrou e está lendo esta carta é porque está totalmente desesperado atrás de mim. Enquanto escrevo a carta, fico imaginando seus passos até chegar aqui. Indo em todos os lugares possíveis, tentando lembrar o que fez para que eu fosse embora, se culpando, se martirizando. Quero que saiba que você não fez nada, que não tem culpa de nada.
Peço perdão, mas foi necessário me afastar. Eu jamais poderia ver você se despedaçando ao me ver em um estado deplorável. Você merece ter felicidade e viver ao meu lado atualmente só traria sofrimento. Eu amo você demais, porém não quero te ver triste.
Você lembra que eu sempre fazia diversas dietas, tentando emagrecer? Antes mesmo da sua viagem, eu estava sentindo algumas dores, mas eu pensava que era devido a dieta, que meu corpo estava tentando acostumar.
Três dias após sua viagem, eu senti uma dor imensa no estômago, então liguei para minha mãe, pedindo para ela vir até em casa. Quando ela chegou, eu já estava desmaiada. Chamou uma ambulância e me levou para a emergência.
Foram feitos diversos exames até chegar um resultado: câncer no estômago. Se não bastasse, estava no estágio 4, o mais avançado.
Entende porque eu tive que te deixar? Não quero que você me veja definhando, me veja doente.
, eu amo você mais do que tudo. Amar você foi a coisa mais linda que eu já fiz na vida e ser amada por você foi a melhor sensação que eu pude ter. Você sempre fez meus dias mais alegres, sempre foi meu sol em dias chuvosos. Ter você foi um privilégio e até hoje não sei se merecia tanto.
em>Eu amo você. Para sempre sua Annie.”
abraçou a carta. O choro ainda mais forte depois de saber o que tinha acontecido com . Se sentiu culpado por não estar presente quando ela mais precisou, dor por saber que sua amada estava doente e medo de perdê-la para sempre.
Com muita dificuldade conseguiu controlar o choro. Guardou a caixa com cuidado, antes tirando uma das fotos da caixa. Era uma foto que eles haviam tirado em uma viagem à Paris no ano anterior, minutos após o homem fazer o pedido de casamento.
XXX
Havia apenas dois hospitais especializados em câncer em Seul e um deles era próximo a casa dos pais dela. Ele tinha certeza que estará lá.
Não pensou duas vezes e logo estava a caminho do hospital. Suas mãos estavam trêmulas e sua mente estava fora de foco. O homem não conseguia pensar direito e ele tinha que deixar sua mente limpa para poder dirigir e chegar ao hospital sem haver contratempos.
Felizmente encontrou uma vaga próxima a entrada e logo seguiu em direção à recepção do hospital.
- Boa tarde. Eu gostaria de pedir uma informação. - começou a falar, atrás de informações.
- Boa tarde. No que posso ajudar o senhor?
- Eu queria saber se tem uma paciente internada aqui. - Ele disse nervoso.
- Qual o nome? - A recepcionista perguntou.
- . - A mulher começou a digitar e logo voltou ao olhar para .
- Senhor, está sim.
- Você poderia me dizer onde ela está localizada?
- A paciente está no andar 6, ala B e quarto 23-D.
- Muito obrigado. - O homem agradeceu, curvando rapidamente o corpo e caminhou apressado ao elevador.
A subida parecia levar uma eternidade. Entravam e saíam diversas pessoas. O homem não parava de bater o pé, já sem paciência, e quando o elevador anunciou o sexto andar, ele saiu apressadamente. Olhava para os lados procurando a ala B, encontrando mais ao sul. Empurrou as portas brancas sem parar de andar. Continuou olhando para os lados, porém estava totalmente perdido.
- Olá. Por gentileza, poderia me dizer onde fica o quarto 23-D? - Ele perguntou a uma enfermeira que vinha em sua direção.
- O senhor continue andando reto, vire a primeira a esquerda. Continue andando e entre a segunda a esquerda. O quarto fica no lado direito desse corredor. - A moça explicou com calma, enquanto apenas acenava com a cabeça, tentando manter a mente sã para poder lembrar de todas as informações.
- Obrigado! - Ele curvou o corpo e virou para o lado indicado pela mulher.
andava rapidamente, porém atento às placas que haviam nos quartos e nas paredes. Em pouco tempo ele estava parado em frente ao quarto 23-D.
Bateu na porta levemente. Seu coração palpitou forte ao ouvir a voz de autorizando a entrada.
O homem abriu a porta, mas ficou paralisado no local. Seu olhar estava fixo na mulher e o dela estava fixo nele, ambos sem reação alguma. estava surpresa com a visita do homem, mesmo sabendo que seria naquele dia a sua chegada. Não achava que ele a encontraria tão cedo.
, por sua vez, estava com sua respiração alterada, o coração batendo forte contra o peito. Finalmente ele havia encontrado . Tanta busca e procura, sentimentos alterados em questão de segundos.
Quando finalmente conseguiu se recuperar um pouco, correu até a cama onde estava deitada e a abraçou suavemente.
Lágrimas escorriam nos rostos dos dois. O homem passava a mão pelos cabelos dela, tentando segurar o choro, porém em vão. Enquanto ela, matava a saudade do seu amor, abraçando com toda a força que tinha para ver que era real e não apenas mais um de seus sonhos.
Ficaram daquele jeito por um bom tempo, sentindo a presença do outro, matando a saudade que sentiam. Um abraço de saudade, de conforto e o mais importante: amor.
- Meu amor, cheguei em casa, te procurei e não te achei. Pensei que tivesse feito algo que você não gostasse. Fiquei tão desesperado! - disse quebrando o silêncio. - Meu Deus, como eu fiquei desesperado!
- Me desculpe, amor. Eu não queria te trazer mais problemas. - Ela disse, abaixando a cabeça.
- Annie, você jamais será um problema, entendeu? Você deveria ter me ligado, eu pegaria um avião imediatamente! Não era para passar por isso sozinha, eu era para estar ao seu lado! - puxava os cabelos e pegou nos seus braços para que ele parasse.
- Não se culpe, amor. Eu que pensei que seria melhor para você. Eu quero te ver feliz, .
- Vida, você é a minha felicidade. Você não entende? Não existe sem , o mundo não teria sentido. Você é tudo para mim, meu ar, meu chão, meu mundo. Tudo. - O homem declarou fazendo mais lágrimas escorrerem pelo rosto da mulher.
- Meu , meu amor, minha vida. Te amo tanto, meu bebê. - Ele deu um beijo na testa dela. Baixou um pouco a cabeça e suavemente beijou seus lábios. Porém, não durou muito, pois a porta foi aberta e um homem entrou.
- Boa tarde, .
- Boa tarde, doutor. Esse é , meu noivo. - apresentou e apertou a mão do médico.
- Doutor, passei muito tempo fora. Qual é o quadro clínico?
- A paciente está com câncer gástrico ou como é mais conhecido, câncer no estômago. As principais causas são por tabagismo, dietas à base de sal e comidas em conservas, a bactéria Helicobacter pylori. Na maioria dos casos não há sintomas no início e muitas vezes é confundido com dores abdominais, viroses. - O doutor falava devagar para que o homem entendesse tudo que estava sendo explicado. - me informou que comia bastante comidas em conservas, porém a bactéria foi detectada na região do esôfago.
- Doutor, como está o tratamento? - estava visivelmente preocupado.
- chegou ao hospital e descobrimos que o câncer estava no estágio 3. Nesse estágio, o câncer está bem desenvolvido, estando em todas as camadas do estômago. Fizemos radioterapia, porém não obtivemos resultados satisfatórios e iremos começar a quimioterapia. Ela está tomando remédios também. Vimos que a doença está avançando para o estágio 4, o último da doença. Nesse estágio, o câncer se espalha para outras partes do corpo. Notamos que está indo em direção ao fígado. - fechou os olhos e lágrimas escorreram. Ele não queria chorar. Queria demonstrar força para ajudar sua amada.
- Quando a quimioterapia irá começar?
- Próxima semana. Estamos preparando tudo, pois a quimio derruba a imunidade e ela precisa estar preparada.
- Obrigado pela explicação, doutor.
O doutor saiu, deixando-os a sós. Ele passou os braços novamente, envolvendo o corpo da mulher.
Era visível que ela estava doente. Estava muito mais magra, o rosto pálido, bolsas enormes embaixo dos olhos, mas para o homem, nem a doença a deixava menos bonita.
- Amor, você vai estar comigo?
- Claro, amor. Não vou sair do seu lado em nenhum momento. - Ele pegou suas mãos e deixou um beijo suave no local.
- e se eu…
- Não vamos pensar nisso, está bem? - a interrompeu, sabendo o que ela queria falar. Uma ideia surgiu em sua mente e ele deu um sorriso. - Amor, você aceita casar comigo?
- Que? Você já pediu para casar comigo, esqueceu? - A mulher riu, fazendo com que todo o corpo dele se aquecesse com aquele som.
- Você não está entendendo. Vamos casar agora!
- Está ficando louco? - Ela riu mais uma vez.
- Amor, já estamos noivos há um ano, moramos juntos. O que falta?
- Você está falando mesmo sério. - Ele balançou a cabeça afirmando. - Não posso sair do hospital.
- Só diga que aceita. Eu ajeito tudo.
- Sim, sim e sim!
XXX
Atrás do hospital havia um pequeno jardim. Havia uma campina, com gramas e pequenas flores do campo que deixava o local ainda mais belo. Havia uma espécie de tenda, com flores em todas as partes. Havia várias cadeiras espalhadas pelo local. Um tapete foi colocado e nas laterais havia mais flores.
puxava a gravata pela décima vez, em uma mistura de nervosismo e ansiedade. Estavam todos ali: seus pais, seu irmão, os pais de , pessoas que trabalhavam no hospital.
E . Ela estava deslumbrante em um vestido solto de cor creme, uma coroa de flores em sua cabeça, mas o que mais o encantava era o sorriso que saía dos seus lábios. O sorriso que ele conhecia tão bem, aquele que era para ele.
caminhava com os pais ao seu lado. Ela não aceitou cadeira de rodas e nem muletas, mesmo que já não houvesse forças para andar. Apoiava-se nos braços dos pais e em passos lentos andava até .
Recebeu a mulher com um beijo na testa e a sentou com calma em uma cadeira, pois ela não podia se desgastar. Sentou-se ao seu lado, um pedido dela e assim o fez.
- Estamos hoje aqui para celebrar a união de e . Dois corações, duas almas que desejam se unir para sempre. Em seus rostos podemos ver o amor. Esse que foi a grande ligação. - O juiz falava. - Mesmo diante de tantas lutas, vocês deixaram que o amor vencesse. - Ele parou e olhou para o lado. - As alianças, por favor.
- Eu, , recebo-te por minha esposa, prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe. - recitou os votos, colocando a aliança no dedo de .
- Eu, , recebo-te por meu esposo, prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe. - Como o homem, ela recitou os votos, colocando a aliança no dedo dele.
- Eu os declaro, marido e mulher. Pode beijar a noiva. - olhou para sorrindo e a beijou.
- Eu te amo. - Ela disse.
- Eu te amo. Para sempre.
Epílogo
Um ano depois…
estava ajoelhado na grama, com um buquê de flores nas mãos. Lágrimas finas escorriam, em um choro silencioso. Passou a mão onde estava gravado o nome de e depositou um beijo em cima.
Depois do casamento, começou a quimioterapia, porém um mês depois, não resistiu e partiu.
ficou com o coração despedaçado. Mesmo sabendo que ela não tinha chances, o homem ainda tinha esperança.
Esperança de ter vários filhos, de vê-los crescendo, amadurecendo. Esperando envelhecer ao lado dela, sentados em cadeiras de balanço depois de um almoço em família. As mãos enrugadas, entrelaçadas uma na outra.
Antes de partir, havia deixado uma carta com sua mãe, para entregar a ele, porém nunca havia tido coragem de ler. Não até aquele momento.
“ , grande amor da minha vida. Não foi fácil escrever esta carta. Eu não encontrava palavras certas para usar e talvez, as escritas aqui não sejam suficientes.
Aceitei seu pedido de casamento, porém eu tinha certeza que não aguentaria por muito tempo. Peço desculpas se não fui forte o suficiente, se não lutei o suficiente por mim, por você, por nós dois.
Ter você nos meus últimos momentos foi o momento mais feliz depois do nosso casamento.
Você é meu grande e único amor. Um amor assim ultrapassa todas as barreiras existentes no universo e mesmo que você seja como o Sol e eu como o Plutão, ainda assim nosso amor existiu e foi a coisa mais bela que eu já vi.
Amar você foi a melhor parte de mim e ser amada por você foi a melhor coisa que eu já tive.
Você foi tudo para mim. Minha vida, meu chão e meu último suspiro foi por você.
Eu sempre amarei você e nem a morte poderia nos separar.
Com amor, Annie.”